terça-feira, 8 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13376: Consultório militar, de José Martins (4): O 25 de abril no CTIG: uma questão de siglas e acrónimos: MFA (Movimento das Forças Armadas), MAOSP ( Movimento Alargado de Oficiais, Sargentos e Praças) e MAPOS (Movimento Alargado de Praças, Oficais e Sargentos)



Momento de “canto” durante uma reunião da Comissão Coordenadora do Movimento das Forças Armadas (Guiné), que era formada por oficiais, sargentos e praças. A actuar no Teatro de Bissau em 27/7/74.

Foto: © Arquivo de José Martins



Os Furriéis Enfermeiros Manuel Martins [1950-2013] e Óscar, autores do cartaz.

Foto: © Arquivo de José Martins



1. Mensaqgem do nosso colaborador permanente José Martins, com data de 6 do corrente:


Boa noite

Aqui vai um assunto que, há pouco, me surgiu na mente.
Teria havido uma dualidade de Movimentos Militares Portugueses, na Guiné?

Abraços

Zé Martins



2. MAOSP ou MAPOS?

Ao reorganizar os meus apontamentos de História de Portugal, na vertente militar e africana, e que é composto por várias notas “encontradas” nos mais diversos suportes – livros, jornais, revistas, borda d’água, etc - encontrei o seguinte:

(i) 4 de Maio de 1974 – Organização, em Bissau, do movimento alargado de Oficiais, Sargentos e Praças; e

(ii) 15 de Maio de 1974 – Reunião de militares em Bissau, donde sai uma directiva do MFA da Guiné sobre a integração no Movimento de todos os militares, incluindo os do movimento alargado de oficiais, sargentos e praças

Se a primeira “nota” nos leva a pensar que, na Guiné, teria havido um alargamento a sargentos e praças, do MFA, uma vez que, em 26 de Abril de 1974 terá havido um golpe na Guiné, para depor o Governador e Comandante Chefe.

Com base nos dados acima, há que procurar o que foi o “Movimento Alargado de Oficiais, Sargentos e Praças".

Ao colocar no motor de busca “movimento alargado Guiné” surgem referências ao assunto na página do Centro de Documentação 25 de Abril, alojado na página da Universidade de Coimbra, mencionando apenas as siglas que servem de título.

A página do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, muito sucintamente diz o seguinte:

«"relatório da reunião realizada entre a Comissão Coordenadora do Programa e o Secretariado do Movimento das Forças Armadas na Guiné nos dias 06 e 07 de Junho de 1974", redigido pelo Secretariado do Movimento das Forças Armadas na Guiné em 7 de Junho de 1974; número 1 do Boletim Informativo M.F.A. na Guiné, de Junho de 1974; documento "Aos militares portugueses em serviço na Guiné", subscrito pelos "militares que constituíram o extinto Movimento Alargado de Praças, Oficiais e Sargentos" (1974-06-05).»

Apesar do tempo que passou desde então, é de perguntar aos camarigos que estiveram na Guiné, em especial aos que estiveram em Bissau, o que se terá passado à volta deste assunto.

Há alguém que tenha elementos sobre este tema, que queiram partilhar?

José Marcelino Martins

6 de Junho de 2014

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Guiné 63/74 - P13375: Agenda cultural (332): Lançamento do livro "Wellington, Spínola e Petraeus: O Comando Holístico da Guerra", do Cor Nuno Correia Barrento de Lemos Pires, dia 16 de Julho de 2014, pelas 18h15, na Academia Militar em Lisboa

1. Mensagem do Cor Inf Nuno Correia Barrento de Lemos Pires, Director de Formação da Escola das Armas, com data de 1 de Julho de 2014:

Convite - Lançamento do Livro "Wellington, Spínola e Petraeus" de Nuno Lemos Pires

Estimados amigos,
No dia 16 de julho próximo, pelas 18h15, na Sala do Conselho Académico da Academia Militar, em Lisboa, será lançado o livro "Wellington, Spínola, Petraeus: O Comando Holístico da Guerra".

A obra decorre da adaptação da Tese efetuada no âmbito do Doutoramento em História, Defesa e Relações Internacionais, concluída no ISCTE-IUL, em 2013.

Seria uma honra poder contar com a sua presença, pelo que anexo o convite para o lançamento.

Com os melhores cumprimentos,
Nuno Correia Barrento de Lemos Pires
Coronel Infª, Diretor de Formação da Escola das Armas
Alameda da Escola Prática de Infantaria, 2640-492 Mafra, Portugal
Tel: 261 812 105; Tel Militar: 420509
Tm Serviço: 911 138 646
https://academiamilitar.academia.edu/NunoPires


C O N V I T E

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Nota do editor

Último poste da série de 4 de Julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13366: Agenda cultural (331): Lançamento do livro "Guiné-Bissau, um país adiado - Crónicas na pátria de Cabral", do jornalista Manuel Vitorino, dia 10 de Julho de 2014, pelas 18h00, na Fundação Calouste Gulbenkian

Guiné 63/74 - P13374: Blogpoesia (384): Recriação do mundo (J. L. Mendes Gomes, ex-alf mil, CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66)

Recriação do mundo…

por J. L. Mendes Gomes

E um dia, disse Deus:

Vou recriar o mundo.
Um grande lago sideral.
Sem estrelas nem astros reis.
Sem castelos de rocha
Nem aviões.
...
Sem minérios nem gasodutos.
Sem mistérios de religiões.
Nem ministérios de poderes.

Sem as selvas de avenidas.
Encharcadas de arranha-céus.

Sem casas brancas,
Nem praças vermelhas.
Nem basílicas de oiro
E vaticanos.

Nem um só urânio de ameaças.
Nem os dubais de plástico,
Em lego ou dominó.

Sem bandeiras.
Sem as seitas negras
Do capital.

Sem moeda. Bancos centrais.
Nem os enxames
Dos computadores.

Sem diabos,
E sem arcanjos.
Nem infernos ou caldeirões.

Sem epidemia de seitas.
Nem os pesadelos dos telejornais.

Sem mais cadernos
Nem alcorões.
Livros de missa
Ou ladainhas.

Desaparecem de vez as assembleias.
E todas as fábricas de gravatas.
Não há opas.
Não há fatos,
Não há vestes.


Um mundo de paz e sem fronteiras…

Berlim, 4 de Julho e 2014
8h57m


Joaquim Luís Mendes Gomes

[ J. L. Mendes Gomes foi alf mil da CCAÇ 728 (Cachil, Catió e Bissau, 1964/66)]

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Nota do editor:

Último poste da série > 1 de junho de 2014 >  Guiné 63/74 - P13220: Blogpoesia (383): Velhas crianças (Felismina Costa)

Guiné 63/74 - P13373: Parabéns a você (759): José Zeferino, ex-Alf Mil Inf do BCAÇ 4616 (Guiné, 1973/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 3 DE JULHO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13358: Parabéns a você (758): António Nobre, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2464 (Guiné, 1969/70)

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13372: Notas de leitura (609): "Às 5 da tarde", por António Loja; Âncora Editora, 2013 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Janeiro de 2014:

Queridos amigos,
O antigo capitão de Mejo ali bem ao pé do corredor de Guileje, autor de uma obra ímpar. As Ausências de Deus, recua até à Guerra Civil de Espanha. Deliberadamente ou não, socorre-se de uma escrita enxuta, uma envolvente emocional sóbria, e dá-nos um fulgurante retrato que tem como pano de fundo os alvores do conflito fratricida até ao triunfo nacionalista. O herói, como numa tragédia grega, toma posição no arrastar dos acontecimentos, vai de condenação em condenação, e assim chegará ao Tarrafal, um campo de concentração com que o salazarismo nos brindou.

Um abraço do
Mário


Às 5 da tarde, por António Loja

Beja Santos

O escritor António Loja volta aos temas da guerra. Se As Ausências de Deus (Âncora Editora, 2013) espelham as suas memórias como comandante de uma companhia num dos teatros de operações mais ásperos da Guiné, “Às 5 da tarde” impele-nos diretamente para a guerra civil de Espanha, desde as primícias até à derrocada republicana, em 1939 (O Liberal, 2013, email: comercial@oliberal.pt). Um poema icónico de Federico Garcia Lorca, “Llanto por Ignacio Sanchez Mejias” onde, recorrentemente, quase como um metrónomo, se escreve “A las cinco de la tarde. Eran las cinco en punto de la tarde”, serve de moldura para os acontecimentos da trama.

Em 1957, na Escola Prática de Infantaria, Carlos Magalhães faz amizade com Pedro Fonseca. Este vem do Norte, é minhoto, recorda saudosamente o seu tio António que combateu ao lado dos anarquistas numa brigada internacional na Guerra Civil de Espanha. Este tio António fora para Madrid, em 1935, pretendia fazer uma investigação sobre quem eram os rebeldes madrilenos fuzilados em 3 de maio de 1808 e imortalizados no quadro de Goya, com o mesmo título. Palavra puxa palavra, Pedro informa Carlos que em Madrid o tio António conhecera no Museu do Prado uma outra estudante de Goya, Clara, também portuguesa. Vários enigmas rodeiam a morte do tio António, em 1944. E veio à baila que na casa da aldeia havia umas caixas com papéis que pertenciam ao tio António. Os dois acordam em ir mexer no passado. E nas férias de Natal de 1957 rumam para Covas, no alto de Vila Nova de Cerveira.

Iniciam investigação, a primeira tarefa foi reunir o material encontrado e datá-lo. Descobriu-se um maço de cartas que parecia ser um diário, três cadernos de capa preta cuidadosamente manuscritos e datados a partir de outubro de 1935. E o leitor mergulha no diário de António Tomás, a viagem de Entroncamento para Madrid, a primeira visita ao Prado, o encontro ofuscante com a obra-prima “Os Fuzilamentos de 3 de Maio”. Sente-se altamente perturbado e justifica-se: “No quadro de Goya o realismo retratava a cruel violência sempre presente através dos séculos nas relações entre os homens. Perante os seus olhos, os soldados apontavam as armas aos lutadores da Liberdade violentados pela brutalidade dos invasores. Covardemente disfarçados nos seus uniformes, os soldados chacinavam sem piedade os miseráveis que emergiam, vindos de uma prisão-catacumba que se mostrava à superfície apenas como uma abertura negra rasgada no ventre da terra. Como pano de fundo, a imagem trágica da indiferença e da frieza: uma cidade entrevista apenas em silhueta, que aceitava passivamente a violência e a crueldade”.

As investigações não levam a nenhuma resposta, a documentação da época aparecia rasurada, as provas comprometedoras tinham sido destruídas. Dá-se o encontro com Clara Noronha, estudante de arte. A relação estreita-se. No início de 1936 visitam Aranjuez e amam-se. Madrid fervilha, perfila-se no horizonte uma cruzada dos nacionalistas contra socialistas, comunistas e anarquistas. A PVDE, a antecessora da PIDE, desconfia das razões da presença de António em Espanha, a família pede-lhe para voltar. António decide ficar, pretende alcançar Barcelona, uma rede de anarquistas amigos prepara-lhe um itinerário dissuasor. A guerra civil entra em cheio na trama do romance. António assiste a fuzilamentos na Andaluzia. A complexidade da trama cresce, Pedro e Carlos vão visitar Clara a Vilar de Monforte, Clara entrega-lhes mais um maço de cartas, as cartas que António passa a escrever nessa deambulação, autêntica fuga à PVDE e aos nacionalistas, os documentos concatenam-se, a viagem prossegue de Algeciras para Málaga onde António assiste ao rescalde de um bombardeamento aéreo, prossegue para Valência, e em Barcelona alista-se nas brigadas, começam, diante dos seus olhos, as disputas brutais entre comunistas e trotskistas.

Um ortodoxo soviético pretende catequizá-lo, António rejeita o fanatismo e marcha para a Frente do Ebro, estamos em 1937, entremeiam-se os relatos do diário e o desenvolvimento dos acontecimentos, os recontros, as cidades destruídas, a selvajaria dos assassinatos, António regressa a Madrid, escreve lancinantes cartas de amor e depois volta para Barcelona, já não tem ilusões, os grupos republicanos estão totalmente desentendidos, os nacionalistas possuem toda a classe de apoios, avançam imparavelmente. António atravessa os Pirenéus e refugia-se em França. E vem a guerra, as tropas de Hitler atravessam fulminantemente a França, depois de muitas peripécias António chega a Vilar de Monforte, traz indícios de tuberculose, é preso e envido para o Tarrafal. Estamos em 1942, a descrição do campo de concentração é, por si só, um libelo acusador do humanismo salazarista: alimentação indígena, condições de higiene abomináveis, o castigo da “frigideira”, onde são postos os presos punidos com isolamento. O médico do Tarrafal adverte que António é uma ameaça com a sua tuberculose, regressa e é conduzido a um sanatório no Caramulo. Os amantes reencontram-se, fazem planos, o afeto parece fazer ultrapassar todas as inquietações. E chega o desfecho fatal. Numa cadeira junto à cama, hirta, aparentemente ausente, lágrimas correndo silenciosamente pela face. Clara murmura como se fosse um autómato:
A las cinco de la tarde.
Eran las cinco en punto de la tarde.

E, depois de um breve silêncio:
Lo demás era muerte y solo muerte
A las cinco de la tarde.

O que há de profundamente tocante nesta incursão de António Loja pela Guerra Civil de Espanha é o seu tom de escritura em tempo antigo, cadenciado, uma mescla de arrebatamento entre aqueles dois seres humanos e a explosão sanguinolenta do conflito fratricida. É uma prosa cadenciada, bem mesurada, tornando plausíveis aquele diário, aquelas cartas. Os dois cadetes de Mafra, daquele ano de 1957, são um mero pretexto para a intermediação daquele enigma de uma paixão e de um compromisso com a solidariedade política. Num tempo em que o romance histórico arrebata as atenções dos leitores, tem-se aqui uma excelente oportunidade para descer aos infernos da Guerra Civil de Espanha, revisitar a insânia do fascismo, a truculência dos conflitos na esquerda e ver o funcionamento do campo de concentração do Tarrafal. O mote está dado: os fuzilamentos pintados por Goya fascinam e arrepiam. E alertam para a possibilidade da sua repetição.
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Nota do editor

Último poste da série de 4 de Julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13364: Notas de leitura (608): "África" - Literatura-Arte e Cultura - Os Djumbai (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P13371: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XIV: (i) a queda granada da bazuca; (ii) samba em Lisboa; e (iii) a caçada dos passarinhos (Armando Mota, ex-alf mil at inf, 1º pelotão)


Guiné > região do Oio > Canjambari > CCAÇ 2533 (Canjmab rai e Fraim, 1969/71) > Da esquerda para a direita, o 1º cabo cripto e o alf mil Armando Mota.


Foto: © Luís Nascimento (2014). Todos os direitos reservados







1. Histórias da CCAÇ 2533 > Parte XIIV (Armando Mota, alf mil at inf,  1º pelotão):

Continuamos a publicar as "histórias da CCAÇ 2533", a partir do livro editado pelo ex-1º cabo quarteleiro, Joaquim Lessa, e impresso na Tipografia Lessa, na Maia (115 pp. + 30 pp, inumeradas, de fotografias).

Registe-se, como facto digno de nota, que esta publicação é uma obra coletiva, feita com a participação de diversos ex-militares da companhia (oficiais, sargentos e praças).

A brochura chegou-nos às mãos, em suporte digital, através do Luís Nascimento, que vive em Viseu, e que também nos facultou um exemplar em papel. Até ao momento, é o único representante da CCAÇ 2533, na nossa Tabanca Grande, apesar dos convites, públicos, que temos feito aos autores cujas histórias vamos publicando.

Temos autorização do editor e autores para dar a conhecer, a um público mais vasto de amigos e camaradas da Guiné, as aventuras e desventuras vividas pelo pessoal da CCAÇ 2533, companhia independente que esteve sediada em Canjambari e Farim, região do Oio, ao serviço do BCAÇ 2879, o batalhão dos Cobras (Farim, 1969/71).(*)

Desta vez vamos publicar mais 3 histórias, contados pelo ex-alf mil Armando Mota, do 1º pelotão:  (i) a queda granada da bazuca (p. 63); (ii) samba em Lisboa (p. 64; e (iii) a caçada dos passarinhos (p. 68).

Guiné 63/74 - P13370: O(s) comandante(s) de batalhão que eu conheci (2): No COP 4, no meu tempo, houve duas exceções, major Carlos Fabião e ten cor Agostinho Ferreira (Mário Pinto, ex-fur mil at art, CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá", Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71)



Guiné > Região de Tombali  > Mampatá > Centro da aldeia e quartel de Mampatá. Foto do álbum de Carlos Farinha, ex-Alf Mil da CART 6250,Mampatá e Aldeia Formosa, 1972/74,


Foto (e legenda): © Carlos Farinha (2009). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


1. Comentário de Mário Pinto ao poste P 13368 (*)

Caros camarigos:

Como sabeis, já há muito que é conhecida a minha atitude crítica  em relação aos  nossos Oficiais Superiores porque o que vi pessoalmente leva-me a  um comentário  não abonatório aos mesmos, salvo raras excepções que,  infelizmente pelo que vamos conhecendo,  foram comuns a todos os períodos de comissão e sectores da Guiné.

Só conheci dois sectore:  de facto foi Buba e Aldeia Formosa. Pertenci a um Comando Operacional que era o COP4 comandado por outro grande militar na altura Major Carlos Fabião ele e o Ten Coronel Agostinho Ferreira. Foram as excepções no meu tempo e nestes sectores. 

Estiveram vários comandantes no sector,  alguns até com reputação, mas não deixaram de ser uma desilusão para todos com as suas decisões desconexas de falta de conhecimento logístico do terreno e mesmo desconhecendo as formas de actuação do PAIGC, por falta de sua presença no terreno e experiência em combate. 

Era gente que regulava-se por mapas e croquis absoletos  em gabinetes fora das realidades do mato e mal aconselhados por Capitães comandantes de Companhia que nem ao mato iam. Chefes operacionais que em vez de acompanharem pessoalmente os movimentos de quem estava destacado no terreno, preferia mandar vir uma DO para do ar e fora de perigo ver onde se posicionavam os Grupos de Combate, correndo o risco de  denunciar ao PAIGC as nossas posições,  como aconteceu por diversas vezes. 

Isto tudo se passou no meu tempo e no meu sector. por isso digo com conhecimento de causa que os nossos Oficiais  Superiores,  salvo algumas excepções,  não cumpriram as missões que lhe foram confiadas,  limitaram-se a deixar correr o tempo e a fazer uns relatórios baseados nas informações e nas acções de quem na verdade andava no terreno operacional.........

Posto isto meus caros, mais não posso dizer-vos que,  na verdade, já vocês não saibam (**)......

Um abraço

Mário Pinto

[ [ex-fur mil at art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá", Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71; está na nossa Tabanca Grande desde julho de 2009] (***)




A nova força africana... O major Fabião, na altura (1971/73) comandante do Comando Geral de Milícias... In: Afonso, A., e Matos Gomes, C. - Guerra colonial: Angol,a Guiné, Moçambique. Lisboa: Diário de Notícias, s/d. , pp. 332 e 335. Autores das fotos: desconhecidos. (Reproduzidas com a devida vénia).


(***) Vd. poste de 24 de julho de 2009 >  Guiné 63/74 - P4735: Tabanca Grande (164): Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil da CART 2519, Buba, Mampatá e Aldeia Formosa, 1969/71

domingo, 6 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13369: O(s) comandante(s) de batalhão que eu conheci (1): Mário Pinto (Buba, Aldeia Formosa, Mampatá, 1969/71), Luís Graça (Bambadinca, 1969/71), Jorge Teixeira (Portojo) (Catió, 1968/70), Francisco Baptista (Buba e Mansabá, 1970/72)

1. Comentários ao poste  P13368 (*)


(i) Mário Pinto

 [ex-fur mil at art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá", Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71]

O Ten Coronel Agostinho Ferreira, é dos poucos oficiais superiores a quem tiro o meu quico, pois não se remetia ao seu gabinete a dar ordens mas sim acompanhava os militares em todas as operações do seu sector e conhecia a sua ZO  pessoalmente como poucos a conheciam. 

Tive a honra de o acompanhar na Op Novo Rumo,  ao sul da Guiné,  onde pude apreciar a sua destreza de comando,.

O metro e oito,  como era conhecido,  era um homem muito grande e respeitado pelas tropas sob o seu comando, estou convicto que,  se mais houvesse oficiais da sua estirpe, o rumo dos acontecimentos por todos conhecido teria outro desfecho.

(ii) Luís Graça 

[editor, ex.-fur mil armas pesadas inf, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71]

Meu caro Mário, eu costumo dizer o mesmo em relação ao único oficial superior que saiu "uma vez" (!),  comigo no mato, o ten cor inf Polidoro Monteiro, comandante "imposto" por Spínola ao BART 2917, ainda  no decurso dos primeirso meses de comissão, em finais de 1970  ou princípios de 1971, se não erro,

E eu conheci dois batalhões (BCAÇ 2852 e BART 2917)...

Mas não gostaria de generalizar,  como tu generalizas... A nossa experiência foi muito limitada, eu conheci um ou dois setores na zona keste (L1, L2...), não mais. Há camaradas que nem isso, conheceram apenas o seu subsetor onde estiveram em quadrícula...

Entendo o teu elogio ao então ten cor Agostinho Ferreira, que de resto é partilhado por mais camaradas nossos...  Também partilho do teu ceticismo em relação à nossa "elite militar", mas não faço juízos de valor... A minha experiência é limitada e não gostaria de ser injusto em relação à generalidade dos nossos comandantes, operacionais ou não...

A guerra arrastou-se por demasiado tempo (1961/74) e, em boa verdade, havia pouco entusiasmo em morrer pela Pátria no ultramar...

Muitos destes homens já morreram ou estão na fase terminal das suas vidas... É verdade que nem todos mereceram o nosso respeito e admiração... Mas a guerra acabou há 40... E nós falamos, hoje, sobretudo de nós, das "cenas" em que fomos atores ou protagonistas... É verdade, é raro, no nosso blogue haver um elogio rasgado, sincero, a um comandante de batalhão... Porquê ?

Por outro lado, justa ou injustamente, Spínola será recordado, no meu tempo (1969/71) por ser um comandante "justiceiro" e até "populista", aparentemente implacável para com os seus subordinados, nomeadamente os oficiais superiores, tenentes coroneis e majores, que ele considerava laxistas, incompetentes, que mal tratavam os seus homens ou não se preocupavam com o seu bem-estar, que eram operacionalmente inaptos, etc.

Em que medida isto afectou o "moral" das tropas ? Ou subverteu a disciplina militar ? 

Acho que podemos abrir um nova série:  o que eu proponho é que se fale, aqui, dos comandantes de batalhão que cada um de nós conheceu no TO da Guiné, mal ou bem...

Ora aqui está um bom tema de dissertação e discussão... Já não falo do Com-chefe (Schulz, Spínola, Bettencourt Rodrigues)... Esse, era como um deus, ncessariamente longe e distante. Mas o "comandante de batalhão", esse, pelo menos viajou connosco no mesmo navio, esteve no mesmo setor (nem sempre) e uma vez ou outra visitou-nos (no nosso subsetor)...

Camaradas, procurando ser justos e objetivos, que lembranças têm do vosso "tenente coronel" ? Ainda se lembram, ao menos, do nome dele ? Nalguns casos, deu-nos um louvor ou uma "porrada"..
Vamos falar do conhecemos, não do que ouvimos dizer... Toda (ou quase toda) a gente teve um batalhão ou este adiada a um batalhão,,, Deixemos agora o Spínola em paz, lá no Olimpo dos guerreiros bem como o interminável debate sobre a guerra ganha/guerra perdida... Se puderem mandem fotos dos vossos comandantes, melhor ainda...


(iii) Jorge Teixeira (Portojo)

[ex-fur mil do Pelotão de Canhões
S/R 2054, Catió, 1968/70]

Dois pontos sobre os comentários do Luís: Quantos de nós conheceram oficiais superiores ? Mesmo os que foram incluindos em Batalhãos, provavelmente conheceream o seu comandante  apenas nas despedidas.

Pessoalmente, com o meu pelotão, estive adido às CCS de dois Batalhões, o 1913 e o 2865. A minha opinião sobre os dois comandantes está resumida em uma ou outra publicação no blogue. (Há um segundo comandante no 2865, e a minha opinião sobre ele também está referida. Infelizmente, já faleceu. Podem ler a sua biografia nor portal Ultramar Terraweb,.

Mas nada que tenha a ver com operacionalidade. Nunca tive acesso a "segredos". As minhas opiniões são sobre a parte humana. E,  tanto quanto me pareceu, e hoje ainda mantenho, ambos eram dominados pelos segundos comandantyes. Por várias razões.

O segundo ponto, tem a ver com o Spínola. Na realidade era comum ouvir-se na caserna, "faço queixa ao Spínola". Não sei se algum, alguma vez, o fez.

Pessoalmente assisti a uma cena degradante e patética do Senhor General, precisamente com o Senhor Comandante (o primeiro, Belo de Carvalho) do 2865, que lhe valeu um castigo. Era uma pessoa muito querida entre o pessoal. Sei que chegou a Comandante da EPA que exercia aquando do 25 de Abril.
Pelo comunicado dos militares "revolucionários" da EPA, que pode ser lido em 25 de Abril - Base de Dados Históricos, parece que o estigma da Guiné lhe ficou sempre preso no corpo.

O mito Spínola, para mim, nunca existiu. Nunca gostei dele como pessoa nem como militar. Muito menos como político.

Como seria a Guiné sem ele ? Não faço ideia nenhuma.

Como me comentou o Luís em tempos, oficiais de Cavalaria nunca gostaram de outras armas. Não terão sido estas as palavras, mas não ando longe.



[ex-alf mil inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72)]

Dos meus 17 meses em Buba na CCaç 2616, pertencente ao BCAÇ 2892, comandado pelo Tenente Coronel Agostinho Ferreira, recordo sobretudo as boas referências de todos os camaradas em relação às relações cordiais e ao tratamento correto que tinha com todos. 

Era também falado por ser um comandante que algumas vezes saia com os seus homens e por ser um bom estratega militar. Eu poucas vezes estive com ele, talvez duas vezes em Aldeia Formosa e não sei se alguma vez em Buba, pois não me lembro se deslocar lá. Mas sei que era um homem admirado e estimado por todo o batalhão e pelas companhias independentes que estavam sob o seu comando. 

Eu estou mais de acordo com o Luís Graça, do que com o Mário Pinto, acho que por muito bons que fossem os chefes militares, a guerra estava perdida no plano político internacional, pois tinhamos a ONU contra nós e grandes países do leste e ocidente a ajudar os movimentos de libertação.

Pela recordação que tenho do Tenente-Coronel Agostinho Ferreira, sendo um militar que não virava as costas ao perigo, não se dava ares de guerreiro como o major de operações Pezarat Correia, ou o próprio General Spinola, o homem do monóculo e do pingalim. Tenho duvidas se ele acreditaria numa vitória militar.
Foi um bom homem. Paz à sua alma!

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Nota do editor:

(*) 6 de juho de 2014 > Guiné 63/74 - P13368: Recordando o BCAÇ 2879 (Farim, 1969/71) comandado pelo ten cor Agostinho Ferreira, o "metro e oit" (Luís Nascimento, Viseu)

Guiné 63/74 - P13368: Recordando o BCAÇ 2879 (Farim, 1969/71) comandado pelo ten cor Agostinho Ferreira, o "metro e oito" (Luís Nascimento, Viseu)



Interessante composição do nosso camarada Luís Nascimento, tendo por base o galhardete do BCAÇ 2879. Um "recuerdo", diz ele.

Foto: © Luís Nascimento (2014). Todos os direitos reservados


1. Mensagem de Luís Nascimento, ex-1º cabo cripto da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71), que vive em Viseu, e é nosso grã-tabanqueiro:


Data: 10 de Maio de 2014 às 19:29
Assunto: Recuerdos

Amigo Luis Graça,

Junto envio um galhardete do Batalhão de Caçadores 2879, comandado pelo Tenente Coronel [Manuel] Agostinho Ferreira (o "metro e oito") (*), e cujas as companhias 2547, 2548 e 2549 estiveram em Cuntima do Norte, Jumbémbém e  Nema, respetivamente, e a CCS  em Farim. A CCAÇ 2549 era comandanda pelo cap inf Vasco Lourenço.

Em Canjambari, estva a minha companhia, a CCaç 2533, adida ao BCAÇ 2879.  Era comandada pelo Capitão Sidónio Ribeiro da Silva.

Abraço,

Luis Nascimento





Ten cor inf Manuel Agostinho Ferreira (*), comandante do BCAÇ 2879 (Farim, 1969/71) e do BCAÇ 2892 (Aldeia Formosa, 1969/71), popularmente conhecido como o "metro e oito". Faleceu em 2003, com o posto de  major general. Foto de Mário Pinto.

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Nota do editor:

(*) vd. poste de 18 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10399: As Nossas Tropas - Quem foi quem (10): Ten Cor Manuel Agostinho Ferreira, o "metro e oito", comandante do BCAÇ 2879 (Farim, 1969/71) e BCAÇ 2892 (Aldeia Formosa, 1969/71) (Paulo Santiago / Carlos Silva / Manuel Amaro)

(...) Distinto oficial, inteligente e corajoso, que, sendo comandante de batalhão, não se poupava a esforços nem a sacrifícios, assim como não hesitava em participar nas operações, a fim de poder apreciar in loco a justeza dos factores de planeamento, quantas vezes abstractos, que os manuais forneciam.

Esta postura do nosso comandante que, por um lado, era altamente louvável, por outro incutia na rapaziada uma confiança que fazia ultrapassar o medo que porventura existisse. Tal atitude granjeou-lhe da nossa parte uma grande simpatia e admiração que ainda hoje se faz sentir e há-de perdurar ao longo dos tempos até ao último sobrevivente do Batalhão. expressão de tal sentimento resulta bem claro nos almoços de confraternização do Batalhão" (...) (Carlos Silva)

sábado, 5 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13367: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte I: Distribuição da população e dispositivo das NT e do IN no setor L1


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > 1970 > Uma excelente foto aérea do quartel e posto adminidtrativo de Bambadinca, tirada de heli AL III, do lado da pista (e do campo de futebol)... Ao fundo, vê-se uma parte da extensa bolonha de Bambadinca.

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: L.G.]











1. O António Duarte, ex-fur mil da CART 3493 / BART 3873, Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972/74), esteve também na CCAÇ 12 (em 1973/74) [foto atual à esquerda,].

O António Duarte é um membro sénior da nossa Tabanca Grande, acompanha-nos, pelo menos, desde 11/5/2006,  mas sempre com grande discrição.  Economista, é quadro superior bancário, refoirmado, e tem participado ativamenmte, nos últimos tempos,  na formação de quadros bancários em Angola. Encontrámo-nos  em novembro passado no aeroporto de Lisboa a caminho de Luanda, onde fomos no mesmo avião da TAP.

Teve a gentileza de me mandar uma cópia, em pdf, da história do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74), que veio render o BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), o qual por sua vez substituiu o primeiro batalhão ao qual o pessoal da CCAÇ 12  esteve adido como subunidade de intervenção (BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70).

Temos trocado  impressões um com o outro  não só  sobre a "nossa" CCAÇ 12 (, ele pertenceu à 3ª geração de quadros da CCAÇ 12, de 1973/74, de rendição individual, e eu à primeira, 1969/71) como sobre o BART 3873.  O António Duarte participou em operações como a Op Trampolim Mágico. Comprometeu-se, há dias,  a escrever alguns apontamentos sobre esta dramática operação, logo que venha de Luanda para onde parte este sábado.

Da história desta unidade, o BART 3873,  vamos selecionar e publicar alguns excertos com informação relevante não só para os camaradas (e são muitos!) que estiveram no importante setor L1 (a porta de entrada da zona leste) como para os muitos mais que por lá passaram, vindos de LDG (de Bissau até ao Xime ou até Bambadinca) a caminho dos restantes setores do leste: L2 (Bafatá), L3 (Nova Lamego), L4 (Piche), L5 (Galomaro) e  L6 (Pirada).(LG)


2. BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) > História da Unidade > Cap II > pp. 1-7 + mapas 1, 2, 3 e 4