terça-feira, 14 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14876: Guiné, Ir e Voltar (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando) (VI Parte): A nossa causa é uma causa justa

1. Parte VI de "Guiné, Ir e Voltar", enviado no dia 10 de Julho de 2015, pelo nosso camarada Virgínio Briote, ex-Alf Mil da CCAV 489 (Cuntima), e Comando do 2.º curso de Comandos do CTIG (Brá), CMDT do Grupo Diabólicos (1965/67).


GUINÉ, IR E VOLTAR - VI

A nossa causa é uma causa justa

"Esta é a voz do comando, a voz que ireis ouvir ao longo do curso e durante a vossa permanência neste Centro de Instrução.
Numa guerra clássica, a moral tradicional militar defende a ideia de que a luta se trava exclusivamente entre os contendores, os que pegaram em armas para disputar a posse de um território, não sendo as populações envolvidas no combate. A guerra seria sobretudo uma luta entre os militares de ambas as partes.
A guerra que travamos é diferente. Em primeiro lugar, é uma luta pelo domínio das populações e estará em vantagem aquele que as tiver do seu lado.

A água e o lodo são os nossos campos de batalha. O terreno é plano e alagadiço, há muitos rios, pântanos e bolanhas, que são as terras alagadiças, que tu já conheces, e que servem para as populações cultivarem o arroz. Há grandes alterações das marés. Vais palmilhar matas e florestas densas.
Aqui, na Guiné, não existem mais de 60 quilómetros de estradas pavimentadas, o resto são cerca de 1500 quilómetros de terra batida. Os outros meios de comunicação são picadas e caminhos sujeitos às marés, às vezes intransitáveis.

A população é constituída por etnias das mais variadas origens. Têm hábitos próprios e cada uma tem as suas características, às vezes muito diferentes umas das outras.
Os mais numerosos são os Balantas, depois os Fulas, os Manjacos, os Mandingas e os Papéis. Depois há outros: os Brames, também chamados Mancanhas, os Beafadas, os Bijagós. Os outros, com menos gente, são os Felupes, os Baiotes, os Nalus e os Sossos.

Nem sempre tem sido fácil ganhar estas populações. Muita desta boa gente tem sofrido forte mentalização do IN e albergam guerrilheiros, a quem fornecem apoio alimentar.
Esta população mantém grande discrição sobre a presença da guerrilha, que a obriga a colaborar, escondendo as armas.
O IN tem-se aproveitado destas populações. Bem armado, tem um forte espírito guerrilheiro e exerce acção psicológica sobre elas, apoiado em emissões radiofónicas diárias, a partir de Conacri.

Relembremos o que aconteceu aqui, na Guiné. A vida decorria normalmente, o ambiente era de paz e só este é propício ao trabalho, ao bem-estar e à riqueza. Nem tudo estaria feito, nem tudo seria perfeito, mas existia bom ambiente social. O inimigo que hoje nos combate em Angola e aqui na Guiné, vem desde há muito procurando convencer os povos africanos portugueses de que só com a saída dos brancos a vida dos negros poderá melhorar. Seria essa a maneira mais eficaz e mais rápida de conseguir melhoria de nível para os africanos. O branco ao mar!
Deram início à luta armada, apoiados por potências com pretensões à posse destas terras com quem mantemos ligações há séculos. Foram elas que lhes forneceram armamento e foram elas ainda que treinaram os primeiros chefes guerrilheiros no combate. A guerra foi assim imposta por um IN comum, em Angola e aqui na Guiné, e obrigou-nos a pegar em armas para defender as nossas gentes, o nosso património.

Nem toda a população aderiu prontamente ao IN. Talvez que a grande maioria do povo preferisse a paz e dentro dela trabalhar para um futuro melhor. Isto não interessou ao IN que, aterrorizando as gentes, matando, levando-as a fugir e a fixar-se em novas zonas de mata onde facilmente as pudesse controlar e obrigar a trabalhar para si, ficou em posição de melhor poder resistir ao nosso esforço armado para restabelecer a ordem e a paz.
Todos conhecemos casos concretos aqui, exemplificativos do terror que o IN lançou nas populações. Foi este o sistema de mentalização adoptado por eles e do mesmo modo continuam. Quem lhe não obedece, sofre represálias, morre!

Como é sabido, o guerrilheiro não pode combater um exército sem o apoio da população. É ela que lhe dá o dinheiro, comida, informações a nosso respeito e o refúgio de que ele necessita. O guerrilheiro infiltra-se nas tabancas consideradas pacíficas. Abandonada e escondida a arma, ele aparece novamente aos nossos olhos como um elemento simpatizante e acolhedor porque saúda a tropa afavelmente e procura mostrar-se prestável. E mais, sabendo que como militares somos levados apenas a ver um terrorista no homem emboscado que contra nós dispara e, por conseguinte, a não desconfiar das mulheres, dos velhos, dos rapazes novos.
Utiliza precisamente estes como agentes de ligação, de informação e como cadeia de reabastecimento de víveres, medicamentos e munições. Esta é a situação actual. O que deveremos fazer?
Poderemos ver apenas o IN que contra nós dispara? Deveremos tratar como soldado prisioneiro um homem sem farda que não nos combate francamente e ataca sempre pelas costas? Ou tratá-lo como desordeiro e assassino, responsável por tantas desgraças? O que é que pensas? Qual a tua opinião?

É preciso controlar a população! Convencê-la a abandonar as áreas onde o ambiente é mais propício à guerrilha e fixá-la em zonas em que lhe possamos garantir protecção e segurança. Há que dar a possibilidade àqueles que não quiserem a guerra de se acolherem à paz. Assim o guerrilheiro ficará isolado, identificado e sem o apoio de que necessita. Quem não vier, é porque não quer! Pertence ao bloco IN que nos combate da mata.

A guerra é um mal, mas não fomos nós que a começámos. Uma vez começada, temos que a ganhar. Não viemos cá passar dois anos de comissão, viemos para ganhar a guerra. A nossa missão é conquistar a população e destruir o IN, para que em todo o mundo português se possa viver em paz, trabalhando para um futuro melhor. A nossa causa é uma causa justa!

Comando!

A tua guerra vai começar!
O resultado da acção do grupo depende de ti!
Finalmente estás pronto para combater!
O curso foi útil, violento e cansativo. Podes pensar que a tua tarefa terminou.
Não! Até agora nada fizeste, ainda nada provaste!
A ocasião está aí. O teu contributo vai ser notado!
Comando! Confia em ti, não esperes pela sorte!
Vai, cumpre a tua missão.”

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O Grupo

Ainda durante o curso de instrutores, os futuros comandantes dos grupos com alguns sargentos, reservaram uma semana para conhecerem os futuros instruendos, dispersaram-se pela Guiné, um para Bula, outro para Farim, outro para Tite, num ou noutro caso viram soldados e graduados em acção no mato, ouviram comandantes de companhia e de pelotão, falaram-lhes de uma forma diferente de fazer a guerra, puseram-nos a pensar no assunto, que se quisessem concorrer o podiam fazer, um ou outro comandante da companhia a empurrarem-lhes asmáticos e problemáticos, este gajo é que é bom para vocês, é rápido no gatilho, quando está de sentinela passa as noites aos tiros.
Juntaram-nos todos em Brá, recambiaram logo três ao fim de dois dias. Em Julho deram início ao Curso de Comandos para praças que durou até 3 de Setembro de 1965.

Bom atirador, ouvido e olhos apurados, pisteiro experiente, sentido de orientação, experiência de sapadores, desconfiado até de si próprio, há aqui alguém de cá, com estas condições? Para todo o lado, olha para o chão, para a frente, para a esquerda e para a direita. Quem é que havia de ser o primeiro homem da 1.ª equipa? Cabo Marcelino da Mata, claro, já vem com a experiência toda, tem sido sempre o primeiro homem da 1.ª equipa.
Quem é o amigo do Marcelino que é canhoto? És canhoto mas não és amigo dele, tu também és canhoto, não és amigo dele também? Para a direita, o teu espaço de visão é a direita, fazes parelha com o Marcelino, não podes ir para todo o lado com ele, porquê? Tem três mulheres? Melhor para os dois, primeira parelha arrumada.
O terceiro homem do grupo1 sou eu, comandante do grupo e da equipa, a esquerda está por minha conta também. Quem é o melhor em rádios, o melhor lançador de granadas, para mais longe e sobretudo mais certeiro nos lançamentos, afinal quem é o mais diferente de todos? Como sabes que não há cá disso? Para as árvores que estão lá em cima a olhar para ti, para quem haviam de olhar?
O quinto tem que ser o melhor especialista em primeiros socorros, estás a olhar para mim porquê, tu claro, olhas para a esquerda, nunca percas a ligação com a equipa de trás! És canhoto, essa agora? Mas és voluntário, ou não? Ah, o "Ligaduras" não é canhoto. Fechado! Ora bem, a 1.ª equipa do grupo, a equipa de comando está feita, prá frente!
A 2.ª, a 3.ª e a 4.ª são equipas de manobra. Bons atiradores e bons referenciadores de tiro, o quarto homem de cada uma delas tem que ser bom sapador, vamos para a frente que se está a fazer tarde. Furriel Azevedo, faça a 2.ª equipa!
3.ª Equipa. O número 4 é o Albino, apontador da MG-42, tu és a parelha dele, fazes também de municiador. Como fica a sua equipa então, sargento Valente?
Black com a 4.ª Equipa, o quarto homem protege...
5.ª equipa, a apoiar....

Cinco carregadores, granadas, os números 5 de cada equipa, excepto da última, levam duas incendiárias, rádios Nationals para os números 4 de cada equipa, toda gente leva punhal, os números 5 de cada equipa, excepto o maqueiro, são portadores de filtros individuais, o número 4 da 4.ª equipa leva o lança-roquetes Vacci2, os dois primeiros homens levam nylon, todos de mangas arregaçadas, excepto o primeiro, a lanterna eléctrica quem é que a deve levar, o maqueiro, claro! Duas bússolas, uma carta junto ao comandante do grupo, e pronto, alguma dúvida? Então, vamos lá ouvir!
Equipas lá para fora, para a fotografia enquanto está sol, em coluna por um como se fôssemos para o Oio.

Um grupo na fotografia

Click, click, formar o grupo agora, sentido, Caeeeirooo, mãos fechadas, que lindo, Albino endireita-me essa corcunda, peito para fora, direita volver, em frente marche, Silva para onde vais com os braços, à altura do ombro só, que não é preciso mais. O pé, porra, assenta pelo calcanhar, assim, todos a olhar para ver como é, perna estendida.

Comandante do grupo e chefes de equipa com o 1.º homem do grupo, 1.º Cabo Marcelino da Mata

“Nas conversas com os teus amigos nunca digas para onde vais, um comando é para ser admirado por toda a gente, o comando deve tratar a sua espingarda com todo o jeitinho, deve escrever semanalmente à sua família, à bajuda também, os comandos não choram os seus mortos, vingam-nos, para onde quer que olhe para lá tem virada a arma, comandos ao ataque, ó da guarda, vivam os comandos da Guiné, um comando não é melhor nem pior, é diferente, ó meu sargento, temos tão pouco que fazer, queremos mais instrução, estou mortinho para ir para a porrada, plano de refeições, ao pequeno-almoço, granadas fritas em trotil, um petardo P4 com molho de plástico, para o almoço, para o jantar cartuchos 12,7 salteados com pólvora de caril, uma ceia em Morés, meninas não saiam de casa, o Benfica e os comandos estão sempre na final, não há pai para eles, o Eusébio com a taça na mão, um comando com um morteiro 82 made in URSS.”
Viam-se dísticos por todo o lado, no edifício do comando, no refeitório, na sala de luta, nas camaratas. E durante a noite, também nos altifalantes ligados aos quartos e às camaratas.

“Repara em ti próprio, comando, faz um exame de consciência e diz francamente se já não te sentes outro, se já não estás tão diferente daquele maçarico que aqui entrou há 5 semanas? Nessa ocasião só tinhas vontade, só tinhas o querer de seres um comando, tudo o resto te faltava, a energia, a decisão, o espírito de sacrifício, a certeza de seres um bom combatente. E só passaram 4 semanas de instrução, 4 semanas em que aprendeste unicamente os princípios básicos de um bom combatente. Mas, nestas semanas aprendeste bastante e, muito especialmente, formaste sobre ti próprio uma ideia bem diferente daquela que inicialmente tinhas.
Ganhaste um apreciável espírito de sacrifício e a atestá-lo estão as noites mal dormidas, a fadiga física pronta a vencer-te, mas sempre a ser dobrada pela tua força de vontade. Depois destas semanas, já tens espírito de sacrifício. Mas tens mais, ganhaste decisão, tens energia e especialmente, tens o orgulho de vires a ser um comando! Atingiste metade do caminho, e se esta metade não for mais dura, mais leve não vai ser! Continuarão a pedir-te tudo, a tua vontade, o teu interesse, a tua atenção e a instrução continuará, quer chova impiedosamente quer faça um calor escaldante. Tudo com uma finalidade: fazer de ti um combatente decidido, consciente, sabedor e capaz de sozinho sobreviver às dificuldades. Mas tu nunca estarás sozinho, terás sempre o apoio da tua equipa. Por isso vive com a tua equipa e para a tua equipa, porque ela representa para ti a condição da tua sobrevivência.
Estás a viver perigosamente, mas todo o perigo, por maior que pareça, poderá ser reduzido se o enfrentares com consciência. E é essa consciência que neste Centro de Instrução, os teus instrutores procuram que tu obtenhas. Então sim, então serás um comando!
Dedica-te, corrige as tuas deficiências, repete cada exercício, tantas vezes quantas as necessárias, para atingires automatismos. Não te esqueças que muitos dos teus camaradas, por não terem as tuas qualidades, ficaram pelo caminho. Tu continuas e basta isso, para teres a certeza que virás a ser um bom comando. Ouviste a Voz do comando".
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Notas:
1 - Quando havia efectivos disponíveis, o que só aconteceu nas primeiras operações, os GrsCmds eram constituídos por 5 equipas com 5 homens cada: 1 equipa de Comando (Cmdt do GrCmds, 1 operador de rádio, 1 socorrista e 2 atiradores); 3 equipas de Manobra (cada uma constituída por 1 Sargento/Furriel/Cabo, 1 apontador de ML, 1 municiador de ML e 2 atiradores) e 1 Equipa de Apoio (1 Sargento/Furriel/Cabo, 1 apontador de LGF, normalmente o Lança-rockets "Dante Vacci", 1 municiador de LGF e 2 atiradores).
2 - Dante Vacchi, Jornalista e fotógrafo da revista francesa Paris-Match, que dizia ter experiência em conflitos militares, terá estado de alguma forma envolvido no modelo de treino das tropas Comandos, criadas nos princípios dos anos 1960, para combater a guerrilha, inicialmente em Angola. Cesare Dante Vacchi, antigo sargento da Legião Estrangeiro, "afirmava ter uma grande experiência de guerra, porque tinha vivido alguns conflitos. Nunca cheguei a perceber muito bem se todos como jornalista ou alguns como combatente. Ele também não era muito claro nisso", lembra o então tenente Caçorino Dias, instrutor dos dois grupos de operacionais que deram origem (em 1963/64) às tropas Comandos.

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Tambores, cornetas, caixão

A companhia de comandos estava pronta. Tinham vindo de todo o lado, até da banda de música do QG, dos cerca de 200 que começaram terminaram cerca de 100, entre sargentos e praças.
Com elementos dos grupos antigos, já bem experimentados, formaram quatro grupos a que deram os nomes Apaches, Centuriões, Diabólicos e Vampiros.
Os grupos eram constituídos por 5 equipas de 5 elementos, a primeira comandada pelo chefe do grupo, cada uma das outras por um furriel ou sargento, e as equipas eram formadas por duas parelhas, escolhidos entre eles, pelas afinidades. Durante o curso, sempre que um dos elementos da parelha se deslocava fosse para onde fosse, o outro teria que o acompanhar.
A arma que usavam era a G3, num caso ou noutro a FN. Nalgumas operações mais tarde, usaram Kalashs3 capturadas ao IN. Cada grupo levava um lança-rockets “Dante Vachi”4, com 10 rockets, as mesmas munições dos T6 e uma MG-42 de fita, a tal com que o Albino desenhava figuras com os impactos, uma cadência de tiro até aos 1300 por minuto, pena é que as culatras davam o estouro com alguma facilidade. Era a arma mais pesada que levavam, um pouco mais de 10 kg. O camuflado era a farda de trabalho, o uniforme de caqui amarelo esverdeado, pago por eles, reservavam-no para as saídas.

Os grupos a prepararam-se para a cerimónia da imposição dos crachás.


No final do curso, numa cerimónia em Brá, receberam em mão os crachás dos comandos, o escudo nacional sobressaindo com um punhal envolto numa ramo de oliveira e os dizeres “Audaces Fortuna Juvat”5 . No ombro esquerdo, a insígnia do grupo, bordada em pano, encimada por um dístico “comandos”.

Capitão Saraiva apresenta a Companhia de Comandos do CTIG ao Governador-Geral

General Schulz rodeado do Comandante Militar e de Chefes de Repartições do QG.

O único ronco que lhes era permitido era o lenço que usavam ao pescoço, cada grupo com cor diferente. Os Apaches punham lenço amarelo, os Centuriões lenço vermelho, os Diabólicos lenço negro e os Vampiros usavam um azul claro.

O General Arnaldo Schulz, passando revista à Companhia de “Comandos”

Desfile da Companhia Comandos do CTIG finaliza a cerimónia

Todos os grupos tinham chefes de equipa experimentados. Nos Diabólicos, a 2.ª equipa era chefiada pelo Furriel Mil. Azevedo, o Sargento Mil. Valente, casado com uma senhora libanesa da Guiné, e já na segunda comissão, comandava a 3.ª, o Furriel Mil. Marques de Matos a 4.ª e o Cabo Faria, conhecido por “Black”, que no recrutamento declarara a 4.ª classe como habilitações, a 5.ª e última.
Numa manhã apresentaram-se ao General Schulz, Governador e Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné.

Comandos fazem guarda de honra ao Palácio do Governador

Formaram na Praça do Império, frente ao Palácio. Cerimónia militar, tambores, Hino, bandeiras, populares e o inevitável desfile. Estavam oficialmente prontos os Grupos de Comandos totalmente formados no Centro de Instrução da Guiné, agora sob o comando do Capitão Rubim.
Depois almoçaram bacalhau à Brá6, a quantidade que quiseram, até os panelões ficarem rapados, e vinho tinto a acompanhar, com cheiro a cânfora, uma garrafa para cada parelha.

Durante os últimos dias do curso, os alferes comandantes dos grupos passaram a vida a correr para o QG, às vezes mais que uma vez por dia, para a 2.ª e 3.ª Rep, indagando sobre acampamentos referenciados, localização, número de guerrilheiros previstos, armamento, existência de guia, acessos. Estudaram as indicações da Repartição de Operações, escolheram os objectivos para o golpe de mão, que era o que mais os atraía, ouviram os guias recentemente capturados ao IN e começaram a tratar dos meios de transporte, aéreos nalguns casos, marítimos noutros.

Em Brá, J. Parreira, Cap. Saraiva, V. Briote e Marques de Matos. Setembro de 1965.

Os grupos arrancaram, um em cada semana. O Capitão Saraiva fez questão de participar em todas as saídas. Os Apaches foram para a zona de Bula, encontraram-se com o IN no mesmo trilho, houve ligeiro contacto que não passou disso, a guerrilha perseguida retirou. Na semana seguinte os Centuriões, os Diabólicos na outra.
Os Vampiros fecharam o primeiro mês de operações, com a primeira baixa dos novos Comandos. Um trilho na zona de Cutia, Oio, tinha uma bailarina preparada para dançar com o Soldado Florêncio.
Com a perna arrancada, foi-se em minutos, não sem antes se ter voltado para o Alferes Vilaça, comandante de Grupo que colaborava nos primeiros socorros, e lhe dizer com a voz já muito fraca, não há problemas, meu alferes, prá semana já devo estar operacional.

O Comandante Militar entrega os crachás ao 1.º Cabo Tudela e ao Soldado Florêncio Terêncio

Só tiveste uma oportunidade, Florêncio, disse um.
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Notas:
3 - Espingarda Automática AK 47 usada pela guerrilha.
4 - Nome de um jornalista estrangeiro dado a uma arma, depois desenvolvida pelas forças portuguesas. Leve e causando grande efeito psicológico no inimigo foi fabricada nas OGMA até 1975.
5 - Locução latina que significa "a sorte protege os audazes”. Fonte: Virgílio, Eneida, X, 284.
6 - Bacalhau à Brás

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Iusse, Oio

Final de tarde em Mansoa, o Grupo pronto para a estreia. Dentro das Mercedes tapadas com as lonas, aguardaram que o Capitão Saraiva e o comandante do Grupo acertassem os pormenores com o comandante e o oficial de operações do Batalhão. Para matar a espera, meteram-lhes lá dentro pão, queijo, marmelada e água. As viaturas da coluna para Bissorã já se tinham posto em movimento quando as deles arrancaram rápidas até se chegarem às outras.
Andaram uns quilómetros, poucos, até receberem a indicação para se aprontarem para saltar. Teria que ser muito rápido, as viaturas em que iam abrandariam só, as da frente continuariam no sentido de Bissorã.
Internados no mato esperaram o reagrupamento, a noite a fechar-se não lhes prometia tempo seco. Puseram-se em movimento, como lhes ensinaram.
O capitão, uma vez ou outra, saía do trilho, ficava-se a vê-los passar, surgia-lhes por trás, G3 apontada, era uma vez um comando, assim não vais longe, pá, vai antes para a manutenção. À frente o Marcelino segurava o guia, um guerrilheiro apanhado há mais de um mês, rédea curta nos pés, braços esticados nas costas, bem atados com uma corda preta de nylon, lenço preto entre os dentes, que todos os cuidados eram poucos.
O pelotão de apoio seguiu atrás até o trilho bifurcar, emboscou-se aí a aguardar o desenrolar dos acontecimentos. No caso de lhe ser pedido, veria a melhor maneira de os recolher. O grupo deveria progredir até Biambe, procurar as casas de mato, tentar apanhar uma sentinela, explorar rápido e retirar a seguir.
Noite escura, sempre a chover, progressão lenta, paragens e mais paragens, guia a dizer que é lá, onde, ali já, nunca mais era.

Dois tiros. Detectados num trilho, mesmo junto à tabanca de Iusse.
Responderam à voz do Saraiva, atiraram e atiraram-se lá para dentro. No meio da escuridão esbarraram com 2 barracas, ninguém lá dentro.
O capitão não queria sair da zona, nem a tiro. A primeira operação a seco, nem pensar. Vamos aguentar aqui, dentro da mata, até o dia clarear. Os gajos sabem que nós estamos cá, nós sabemos que eles estão na mata aqui à volta. Vão acabar por se mostrar.

Não foi preciso esperarem que fosse dia. De um momento para o outro, começaram a ser alvejados. Fogo alto, a bater nas copas das árvores.
Uns minutos depois, começaram a ser flagelados com fogo de morteiro, do lado de onde tinham vindo. Das matas em redor, flagelavam-nos com tiros de armas automáticas e, para "compensar", recebiam morteiradas, do lado da bolanha.
Ao AN PRC/107, o Capitão Saraiva queria saber o que era feito do pelotão de apoio, mas este não dava sinal.

Esquadrilha de T6. Imagem da net.

Chegou uma parelha de T68. Um espectáculo seguido com expectativa. Pelo AVF9 ficaram a saber que era verdade o que julgavam. Do pelotão de apoio subiam granadas, viam o fumo atrás, confirmava um dos pilotos, a trajectória delas quase a pique, o estardalhaço a cair-lhes quase em cima, com a chuva. Estavam bem abrigados, dali não sairiam tão cedo a não ser que o morteiro da tropa amiga se calasse. A parelha dos T6 despejava rockets e rajadas de metralhadora sempre que via fumos a sair da mata. O fogo IN abrandou e o morteiro do pelotão calou-se.
O apoio aéreo ajudou-os, pareceu-lhes mais demorado que o que deveria ser, mas, por fim, retiraram em ordem, com o fogo inimigo, disperso mas mais ajustado, a dar-lhes algum trabalho, obrigando-os a percorrer, bem colados à água, as duas centenas de metros da bolanha, largamente distanciados uns dos outros10.
Respiraram fundo quando alcançaram a mata. E depois, nem bom dia nem boa tarde, quando passaram pelo pelotão, deixado para trás como se tivesse lepra, que regressassem sozinhos, connosco não, que temos pressa. A esgalhar, no goss-goss11, como diziam os guineenses, pelas margens do trilho.
A paragem era para descansarem um pouco, recuperavam a respiração, sentados, costas com costas. Ouviram-se palavras em crioulo, ásperas de um, suaves as do guia, que afinal não fora grande camarada para a tropa. Amarrado com cordas a uma árvore, olhos misteriosos, indefinidos, uma frase, duas ou três palavras, sempre baixas e doces.
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Notas:
7 - Rádio normalmente usado para comunicações terra-terra. O AN/PRC-10 estreou-se, em Março de 1951, na guerra da Coreia, ao serviço do Exército Norte-Americano. Fez parte da família de rádios AN/PRC-8 e AN/PRC-9, diferindo apenas na frequência e dos componentes que a determinavam.
8 - Aviões monomotores de hélice utilizados pela FAP no ataque ao solo, dispondo de suportes debaixo das asas para bombas, metralhadoras e ninhos de foguetes.
9 - Rádio para comunicação terra-ar.
10 - Do relatório da acção: "8/09/65, sector O3, Op. 'Flecha', Oio. Objectivo: golpe de mão a um acampamento a oeste de Cambajo Dando, chefiado por Augusto Pequim, segundo informação de um guia capturado. Avistado um elemento IN em fuga. Encontradas 2 barracas. Ataque e reacção do IN com rajadas de armas automáticas. Escuridão completa, retirada do grupo para um local a cerca de 200 metros, aguardando o clarear do dia. Por volta das 5 da manhã, nova entrada no acampamento, com vista à limpeza das barracas. O IN abriu fogo para dentro do acampamento. Encontrado um cunhete com granadas de mão, guias de marcha, documentos e peças de roupa. Destruídas cerca de 15 casas de mato."
11 - Andar rápido, depressa.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14857: Guiné, Ir e Voltar (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando) (V Parte): Brá, SPM 0418

Guiné 63/74 - P14875: Agenda cultural (417): "De Freguês a Consumidor, 70 anos de sociedade de consumo". Venha cavaquear comigo, dia 16 de Julho pelas 19 horas, na Livraria Barata, Av. de Roma, n.º 11, em Lisboa (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), Técnico Superior Aposentado da Direcção Geral do Consumidor, com data de 13 de Julho de 2015:


De freguês a consumidor: venha cavaquear comigo

Mário Beja Santos

Escrevi o meu testamento cívico-profissional em forma de livro, na expetativa de poder debater com amigos, colegas da profissão, associativistas da mais diferente índole, sindicalistas, professores e alunos de muitas instâncias universitárias, e com provável e improvável público curioso sobre as andanças da sociedade de consumo e as inumeráveis questões que me acompanharam ao longo de quatro décadas. E mais não digo.

Tive a maior satisfação em aceitar o repto que me foi feito pela Livraria Barata (Avenida de Roma, 11) para em 16 de Julho, entre as 19 e as 20h, ali comparecer e me expor a quem se interessa por tudo o que aconteceu quando saímos do estatuto de freguês e cliente e nos tornámos consumidores.

São as histórias que escrevi no meu mais recente livro “De Freguês a Consumidor, 70 Anos de Sociedade de Consumo, História da Defesa do Consumidor em Portugal”, publicado pela Nexo Literário.

É igualmente com a maior satisfação que vos venho convidar para um debate franco sobre os termos dessa viagem que já dura há 70 anos, o extenso e penoso trânsito do industrial ao pós-industrial, pontuado pela voragem de paradigmas em que a comunicação e o digital se apresentam hoje como energias motrizes. Cavaquear à volta do triunfo do individualismo, da vertigem das modas, da ficção como segunda realidade, da permanência mitológica da crise, um espantalho devorador e intimidador que serve de chancela para a condução política dos mais variados matizes ideológicos.

Nesse cavaqueio, é bem possível que nos ponhamos de acordo de que as classes médias, tão sujeitas ultimamente ao processo centrifugador, ainda permanecem como o esteio das sociedades democráticas.

Porque é do senso-comum que a sociedade de consumo, em todas as suas vicissitudes, conta com um consumidor como um eleitor. Coisa curiosa, os partidos políticos já nem precisam de afagar os consumidores, têm-nos na mão ao preço de um estranhíssimo conceito de segurança, intimidam com a perspetiva de uma crise maior se o consumidor não aceitar, na plenitude, as regras do jogo que propõem. Não há mesmo salvação fora das beatitudes da austeridade?
Vamos então cavaquear.
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Nota do editor

Último poste da série de 11 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14862: Agenda cultural (414): "Dinossauros de Portugal & Friends", de Simão Mateus...Lançamento, hoje, sábado, dia 11, às 16h00, na Lourinhã... A ciência ao alcance de todos, do neto ao avô, dos oito aos oitenta anos... Uma boa sugestão de leitura para estas férias de verão, completada com a visita ao Museu da Lourinhã, a antiga "terra da loba", hoje a orgulhosa "capital dos dinossauros" (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P14874: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (3): Convívio da Tabanca de Porto Dinheiro, 12 de julho de 2015 (Parte II): João Crisóstomo e António Nunes Lopes, do mesmo pelotão, da CCAÇ 1439, encontram-se 50 anos depois e falam, com emoção e dramatismo, da violenta emboscada que uma vez sofreram em Darsalame (Baio), no subsetor do Xime



Vídeo (7' 31''). Alojado em You Tube > Luís Graça 

Lourinhã > Ribamar > Praia de Porto Dinheiro > Convívio da Tabanca de Porto Dinheiro > 12 de julho de 2015 > (*) O João Crisóstomo e o António Nunes Lopes encontram-se ao fim de 50 anos... Pertenceram à mesma companhia e ao mesmo pelotão... E evocam aqui, com uma espantosa precisão de detalhes, e grande emoção,  uma dos mais duros episódios de guerra por que passaram, em 1966, em Darsalame (Baio), na zona de Baio/Buruntoni, no Xime, que o PAIGC sempre "controlou" durante toda a guerra, e onde era inevitável haver "contacto" com as NT... Qual o nome verdadeiro do místico soldado, de alcunha "Penálti", de aqui se fala ? Pode ser que alguém saiba mais sobre este homem, que foi herói e desertor...

João Crisóstomo, que é natural de uma freguesia vizinha, A-dos-Cunhados, do concelho de Torres Vedras, fez-se à vida depois do regresso da guerra. Andou pela Europa e Brasil, até se fixar em 1975, nos EUA, onde hoje vive (em Nova Ioprque) e que é a sua segunda pátria.



Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Susetor do Xime > Carta do Xime  (1961) > Escala de 1/50 mil > Posição relativa do Xime e Darsalame (Baio) onde o pelotão do João Crisóstomo (alferes) e do António Nunes Lopes (furriel) sofreram uma violenta emboscada, em 1966, e tiveram um comportamento heroico... Na zona de Poindom / Ponta do Inglês, havia população que cultivava as bolanhas, na margem direita do R Corubal e que "apoiava" a guerrilha... Também eu ali conheci o inferno, três ou quatro anos mais tarde, em 1969/71... (LG).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2015).


Praia de Porto Dinheiro

por Luís Graça (*)


Finisterra,
pórtico do tempo,
és gare, 
és algar,
porto dos portos das Atlântidas perdidas!

Foste estaleiro de vasos de guerra,
galeões, naus e caravelas
por haver ou nunca havidas,
diz o livro antigo do almoxarife.

Hoje não se constroem mais catedrais,
nas tuas fossas submarinas,
nem moinhos de vento,
nos teus corais de recife,
nem traineiras de grosso cavername,
nas rampas das tuas arribas fósseis.

Dóceis
são as ondas do teu mar com que afagas
a pele 
e apagas
a púbis das raparigas.

Praia de  Porto Dinheiro:
o irresistível apelo das algas
que são as hormonas do mar,
espigas, valquírias, ninfas, najas, canibais,
que vêm do fundo dos tempos imemoriais
para seduzir os filhos dos homens,
inebriar as suas almas,
enlear os seus corpos.

Há olhos que perscrutam a linha do horizonte
e rasgam a colina de neblina, 
por detrás das Berlengas.
É de lá que vêm corsários,
monstros e mostrengas,
dinossauros,
loucos menestréis,
contadores de lendas,
mouras encantadas,
mercadores, invasores, conquistadores,
vikings, vírus,
e os bretões com o seu barco a vapor,
o Bateau ivre.

É de lá que vêm os portadores da peste, da fome e da guerra…
Mercator ergo pestiferus,
mercador logo portador da peste,
de que Deus nos livre!

Deste nomes de fêmeas
aos teus barcos
que são machos,
máquinas fálicas
de lavrar e violar
o vento, a água, o ar,
Jessica, Mafalda, Sofia,
Inês, Patrícia, Maria.

Formidáveis muralhas de palavras e moluscos
emparedam vivas as gentes, ribeirinhas,
na canícula desta tarde de verão
em que esperamos em vão
as hordas bárbaras,
ou tanto faz,
os soldadinhos de chumbo do Napoleão,
os mercadores fenícios,
ou as legiões romanas,
devidamente equipadas 
e alinhadinhas,
nas suas galeras feitas de legos.


Não sabemos quem devemos mais esperar,
se Drácula ou Drake, 
disfarçado da pérfida deusa Europa,
o deslizamento das placas tectónicas,
a erupção do teu gigantesco dinossauro,
o cobrador de impostos

em nome das tribos teutónicas, 
Moisés e a tábua dos dez mandamentos,
a bela e frágil deusa Atena,
o profeta Jesus Cristo 
ou o profeta Maomé,
o último guru do Vale da Sílica, 
ou simplesmente o carteiro 
que nos há-de trazer a carta a Garcia,
com a solução alquímica da vida,
o elixir da juventude,
o algoritmo da felicidade,

a chave do Euromilhões
ou a password do sítio
da gruta de Alibabá e os 40 ladrões.

Estou sentado na esplanada da tasca da Ti Augusta,
depois de saborear uma sopa de navalheiras,
e comer uma posta de arraia frita,
recuando ao tempo dos meus avoengos Maçaricos,
arrebanhados em terra 
para a demanda, por mar,  das Índias…
E aqui penso em como o mundo às vezes é tão simples,
se descartado das métricas todas
com que nos lixam a vida 
e nos roubam o sonho e a poesia: 
a econometria,
a sociometria,

a psicometria,
a biometria…

Dizem que aqui reinou o rei Midas,
o mesmo que transformava lagostas e algas
em barras de ouro.

Porto Dinheiro,
dos casais por detrás das tuas colinas,
até ao mar imenso,
por aqui andaram, labutaram, penaram, 
amaram, lutaram e naufragaram 
os nossos antepassados


Um dia há de desaparecer nas Américas
o teu último carpinteiro de naus, caravelas e traineiras.
Não sobreviveu à industrialização da construção naval,
nem à crise dos anos 30.
Morreu longe, na Califórnia,
longe, muito longe do teu porto de abrigo.

Maldita pátria,
mil vezes amada, 
e outras tantas odiada,
querida mátria
que tantos filhos pariste,

cruel frátria
que tantos irmãos rejeitaste!


Luís Graça

Lourinhã, Praia do Porto Dinheiro, 18/8/2011



(...) À memória dos meus antepassados Maçaricos,
marinheiros, mareantes, navegantes,
pescadores, mercadores, construtores navais... desde Quinhentos

Ao António Fernandes (Patas),
contrutor naval que morreu na Califórnia
E ao seu neto, e meu primo e camarada, Horácio Fernandes,
capelão militar em Catió e Bambadinca (1967/69). (...)

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14873: Notas de leitura (736): “Guerra d’África, 1961-1974, Estava a guerra perdida?”, por Humberto Nuno de Oliveira e João José Brandão Ferreira, Fronteira do Caos, 2015 (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Julho de 2015:

Queridos amigos,
O nacionalismo radical trata o fim do Império como um processo de traição, de abandono, o zénite da derrisão dos valores da nação. Neste livreco, feito de um amontoado de considerações sem consistência histórica e de respostas de valor muito desequilibrado, o leitor tem oportunidade de ver como se procura o sensacionalismo publicando textos que vêm em todos os blogues, nunca se consentindo no contraditório, nunca se confrontando o cenário internacional com os ideários do regime deposto.
Há para ali uma enorme saudade do tempo em que Henrique Galvão, a propósito da I Exposição Colonial, se realizou em 1934 no Porto, publicou o mapa "Portugal não é um país pequeno", em que se enchia a Europa com Angola, Moçambique e outros espaços coloniais. Enfim, a "questão fraturante" permanece mas já não se pode esconder o vazio ideológico de quem promove a sustentabilidade da guerra como a suprema nostalgia do império que desapareceu.

Um abraço do
Mário


Mitos e enganos sobre o fim do Império Colonial português (2)

Beja Santos

É preciso ler do princípio ao fim “Guerra d’África, 1961-1974, Estava a guerra perdida?”, com prefácio de Jaime Nogueira Pinto, por Humberto Nuno de Oliveira e João José Brandão Ferreira, Fronteira do Caos, 2015, para se perceber a orfandade ideológica destes expoentes do nacionalismo radical que brandem a argumentação de que a guerra de África estava ali para durar, não havia qualquer inevitabilidade de derrota, o que houve foi um certo desfalecimento de alguns oficiais a que se juntou o envenenamento ideológico trazido pelos oficiais milicianos, daí o desastre do fim do Império e as suas tremendas sequelas.

É um livro mal alinhavado, para dar um ar de seriedade resolveram lançar uma pergunta em mau português a uma série de oficiais e dois civis, nestes termos: “Na sua perspetiva, considera que as operações anti-subversivas e de contraguerrilha desenvolvidas em Angola, Guiné e Moçambique, em defesa da soberania portuguesa sobre aqueles territórios e populações que viviam há seculos debaixo da bandeira das Quinas, estava militarmente perdida?”.

Nas respostas há de tudo, como na botica. Não estava perdida nem estava ganha, o importante era que o poder político encontrasse uma solução política (não se diz qual, aduz-se que servisse para terminar o conflito, sabe-se lá se incorporando todo o corpo de guerrilha nas forças armadas locais…) dizem uns. Há respondentes que não confundiram a nuvem com a floresta, equacionaram a evolução da guerra com o contexto internacional e a mentalidade da sociedade portuguesa. O Coronel Moura Calheiros recorda que também havia um cenário interno e elenca as suas razões: o entusiasmo inicial da população pela defesa do Ultramar foi-se desvanecendo; esta falta de entusiasmo, mesmo de fadiga, teve consequências nos quadros das Forças Armadas; a preparação das tropas que partiam para África era cada vez mais deficiente; o caso mais influente era o que ocorria nas universidades, aqui o ambiente era de intensa e permanente propaganda contra a guerra em África e a favor da “independência para as colónias”. E conclui: “Não vejo como seria possível manter, a partir de 10 a 15 anos da nossa data de referência, a política relativa ao Ultramar seguida pelo governo de então. É que não haveria cidadãos com capacidade para a governação do país que não estivessem afetados e bem doutrinados pelas lutas estudantis. Toda ou, no mínimo, a esmagadora maioria da população portuguesa com formação académica estava doutrinada contra a guerra no Ultramar”.
Nesta mesma linha discorre Adriano Moreira quando diz: “Da minha observação, e não de escutar outros, a guerra, em 74, como tal não estava perdida: mas estava ultrapassado pela população o conhecimento histórico do Ultramar pelo conhecimento adquirido da realidade ultramarina, acrescendo o cansaço da juventude, a fadiga das tropas incluindo a articulação dos estatutos entre profissionais e milicianos; por isso, em relação ao Ultramar, o movimento que assumiu o controlo das forças militares, pôs um ponto final na guerra, porque o ambicionado e prometido tempo para encontrar soluções políticas, que foram desencadeadas e interrompidas, foi por ele dado por esgotado. Não teve programa de descolonização”.

Há respondentes que pretendem trazer originalidades históricas. É o caso do Tenente-General José Vizela Cardoso que nos vem falar das orientações acordadas no Pacto de Paris (subscrito por Álvaro Cunhal e Mário Soares, numa quinta-feira, a 27 de Setembro de 1973, e que não estavam preconizadas no programa do MFA. Fico absolutamente seguro que esta descoberta irá revolucionar toda a investigação sobre as origens do 25 de Abril e o processo de descolonização.
O Coronel Caçorino Dias também traz revelações que poderão levar a estudos edificantes. Por exemplo, quando diz: “A maioria dos cozinheiros das unidades militares eram autóctones, mas nunca se registou um caso de envenenamento; não há memória de um soldado ter sido assassinado, ou de ter ocorrido um rapto de um familiar de um militar. Os militares movimentavam-se por todo o lado, à vontade, mesmo nos bairros tidos por mais problemáticos. Nem lhes passava pela cabeça que se lhes fizessem mal”.
Um outro respondente, o Tenente-General José Francisco Nico, apresenta nas suas conclusões o seguinte: “Não se pode afirmar que a derrota de Portugal, concretizada internamente no 25 de Abril foi uma vitória dos movimentos de libertação como é voz da opinião pouco informada e esclarecida. Os movimentos de libertação sem todo o apoio político, militar, financeiro, de espaço e em material que foram recebendo dos outros subsistemas nunca teriam alcançado o seu objetivo. No entanto, é preciso reconhecer que o sistema adversário necessitava da ação dos movimentos de libertação para conferir dinâmica ao processo e dar-lhe visibilidade na opinião pública”. Branco é, galinha o põe.

O Coronel Raúl Folques, experimentado combatente, e que comandou o Batalhão de Comandos da Guiné, sobretudo na operação “Neve Gelada”, em que se capturou ao PAIGC uma bateria de morteiros 120, afirma o seguinte: “Considero que o PAIGC, em 1973/74, tinha muita dificuldade em recrutar combatentes, sendo certo que muitos dos guerrilheiro capturados ou abatidos eram já veteranos, homens calejados na guerra e muito experientes. Pelas razões apontadas, é minha opinião que a guerra estava longe de se poder considerar, em termos militares, perdida. O fator principal que jogava contra nós e que era significativo era a desmotivação que grassava nalguns quadros e o facto do poder executivo não ter conseguido revitalizar o esforço de guerra”.

Os ultranacionalistas continuam apegados a fórmulas fanatizadas, com especial relevo para a existência de um Império multisecular, para a agressão dos terroristas, etc. Louvam encomiasticamente o comportamento do soldado português como se alguma vez o seu denodo tivesse sido posto em causa. Nunca utilizam o contraditório, citam os seus autores de confiança, promovem a efabulação da sustentabilidade da guerra desviando o olhar de cruéis realidades como a própria crise económica que se instalara em Portugal e que se saldava numa inflação superior a 30% no primeiro trimestre de 1974. É possível que nunca venhamos a saber as motivações de fundo que levaram Caetano à mesa das negociações com o PAIGC e a incitar Santos e Castro e Jorge Jardim a promoverem independências brancas. É dentro desta indigência ideológica que os nacionalistas radicais se comprazem, exultantes, promovendo falsa História com o pretexto de que predomina a historiografia dos vitoriosos do 25 de Abril, o que eles chamam uma historiografia vesga que insiste em glorificar desertores…
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Nota do editor

Último poste da série de 10 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14859: Notas de leitura (735): “Guerra d’África, 1961-1974, Estava a guerra perdida?”, por Humberto Nuno de Oliveira e João José Brandão Ferreira, Fronteira do Caos, 2015 (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P14872: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (2): Convívio da Tabanca de Porto Dinheiro, 12 de julho de 2015 (Parte I): organização 'impex' do Eduardo Jorge Ferreira (ex-1º cabo inf, do exército luso-britânico que se cobriu de glória na batalha no Vimeiro, em 21/8/1808; ex-alf mil, PA, Bissau, Bissalanca, BA 12, 1973/74)


Lourinhã > Ribamar > Tabanca de Porto Dinheiro > 12 de julho de 2015 > Da esquerda para a direita, (i) primeira fila, António Nunes Lopes (ex-fur mil, CCAÇ 1439); João Crisóstomo (ex-alf mil, CCAÇ 1439); Vilma Crisóstomo; Luís Graça; Helena Carvalho (, filha do Pereira do Enxalé, que morreu em Bissau, em agosto de 1974); (ii) segunda fila, Maria Alice Carneiro, Dina (esposa do Jaime), e Álvaro Carvalho; (terceira fila, Eduardo Jorge Ferreira (ex-alf mil, PA, Bissalanca, 1973/74); Alexandre Rato, presidente da junta de freguesia de Ribamar (que, apanhado à boa fila,  teve a gentileza de se juntar a foto de grupo "para mais tarde recordar"; Jaime Bonifácio Marques da Silva (ex-alf mil PQ, BCP 21, Angola, 1970/72); Horácio Fernandes (ex-alf mil capelão, de rendição individual, Catió e Bambadinca, 1967/69) e esposa, Milita.


Lourinhã > Ribamar > Tabanca de Porto Dinheiro > 12 de julho de 2015 > Restaurante O Viveiro > João Crisóstomo e o "furriel" que ele não via quase há meio século, o António Nunes Lopes (que mora em Almada,se não erro, e que veio de propósito a este convívio)... Foi um encontro emocionante e emocionado... Além do João, havia mais 3 alferes na CCAÇ 1439, o Freitas (madeirense), o Sousa e o Luís Zagallo (1940-2010). Falou-se aqui destes e doutros camaradas... A madeirense CCAÇ 1439 teve como unidade mobilizadora o BII 19, partiu para o CTIG em 2/8/1965 e regressou a 18/4/1967, tendo passado por Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole, Missirá, Fá Mandinga. O comandante era o cap mil inf Amândio Manuel Pires.


Lourinhã > Ribamar > Tabanca de Porto Dinheiro > 12 de julho de 2015 > Restaurante O Viveiro >  O António Nunes Lopes.


Lourinhã > Ribamar > Tabanca de Porto Dinheiro > 12 de julho de 2015 > Restaurante O Viveiro >  A "bajuda do Enxalé", Maria Helena Carvalho (que adotou - e foi adotada por - o pessoal da CCAÇ 1439), e o Eduardo Jorge Ferreira, o organizador do convívio. O Eduardo anda tão entusiasmado com a reconstituição histórica da batalha do Vimeiro, de 17 a 19 deste mês, na sua terra, que até conseguiu convencer o Álvaro Carvalho a fazer a cobertura fotográfico do evento!...


Lourinhã > Ribamar > Tabanca de Porto Dinheiro > 12 de julho de 2015 > Restaurante O Viveiro >  O Álvaro Carvalho, marido da Maria Helena, e um apaixonado da fotografia... Fez a cobertura do nosso convívio. Gostei muito de conhecer este simpático casal, e vou "apadrinhar" a sua entrada, formal, na nossa Tabanca Grande. Ambos são apaixonados pela Guiné... Estavam os dois em Bissau aquando das festas da independência... O casal vive nas Caldas da Raínha... A Maria Helena fez questão de fazer uma surpresa ao casal Crisóstomo e ao António Nunes Lopes (ex-fur mil da CCAÇ 1439, Xime  e Enxalé, 1965/79) (que ainda ela ainda conhecia pessoalmente, uma vez que ele não tem vindo aos encontros da companhia).



Lourinhã > Ribamar > Tabanca de Porto Dinheiro > 12 de julho de 2015 > Restaurante O Viveiro >  Aspeto geral da mesa, em primeiro e segundo plano: a Dina e o Jaime, a Milita e o Horácio.



Lourinhã > Ribamar > Tabanca de Porto Dinheiro > 12 de julho de 2015 > Restaurante O Viveiro >  O Horácio Fernandes e, em segundo plano, o Jaime Bonifácio e a Alice.


Lourinhã > Ribamar > Tabanca de Porto Dinheiro > 12 de julho de 2015 > Restaurante O Viveiro > O Jaime e a Dina que, agora reformados, dividem o seu tempo entre a Lourinhã e Fafe.


Lourinhã > Ribamar > Tabanca de Porto Dinheiro > 12 de julho de 2015 > Restaurante O Viveiro >  A praia do Porto Dinheiro, velho e pistoresco porto de pescadores, com passado antiquíssimo que remonta aos romanos... Nas falésias fósseis, foi encontrado o Dinheirosaurus lourinhanensis do Jurásssico Superior (150 milhões de anos), descrito em 1999 por Bonaparte e Mateus. É provavelmente o dinossauro mais comprido até agora encontrado em Portugal.


Lourinhã > Ribamar > Tabanca de Porto Dinheiro > 12 de julho de 2015 >O  Dinheirosaurus lourinhanensis tem direito a rua... Parte do esqueleto axial deste grande  gigante  pode ser visto no Museu da Lourinhã.


Lourinhã > Ribamar > Tabanca de Porto Dinheiro > 12 de julho de 2015 > Restaurante O Viveiro >  Eramos doze à mesa (não veio o João, não veio a São...). Seis tachos de caldeirada dão para alimentar o estômago e a conversa... Com tudo incluido, deu pouco mais de 20 áereos per capita...


Lourinhã > Ribamar > Tabanca de Porto Dinheiro > 12 de julho de 2015 > Restaurante O Viveiro > A Maria Helena servindo a sua "ginginha de Óbidos", de fabrico próprio, no final da refeição... Com limão e gelo, é uma delícia...


Vídeo (0' 27'') > Alojado em You Tube > Luís Graça 


Fotos (e legendas): © Luís Graça  (2015). Todos os direitos reservados.
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Guiné 63/74 - P14871: Memória dos lugares (306): Sobre a tabanca de Caboiana, e sobre o chefe de posto de Cacheu, que era caboverdiano, o nosso camarada António Medina (,ex-fur mil CART 527, 1963/65, a viver nos EUA,) pode dar esclarecimentos adicionais (António Bastos, ex-1º cabo, Pel Caç Ind 953, 1964/66)


Guiné > Região do Cacheu > Cacheu > Outubro de 1964 > Tabanca de Caboiana [vd.carta de Teixeira Pinto e Pelundo] > > O chefe de posto do Cacheu, que era caboverdiano e amigo do António Medina, mais duas senhoras: (i) a esposa do chefe de posto; e (ii) a esposa do tenente, comandante do Pel Caç Ind 953, Nuno Maria Nest Arnaut Pombeiro (já falecido) (A sra. Dona Maria Luísa de Menezes Mendonça Frazão permaneceu sete meses em Cacheu e depois foi com o marido para Angola; hoje mora em Lisboa e é filha do ja falecido general Américo Mendonça Frazão).

Foto (e legenda): © António Bastos (2015). Todos os direitios reservados [Edição: LG]



1. Mensagem de António Paulo Bastos (ex-1.º cabo do Pel Caç Ind 953, Teixeira Pinto e Farim, 1964/66):

Data: 8 de julho de 2015 às 16:26
Assunto: Memória dos lugares.

Meus amigos e companheiros da Tabanca Grande, boa tarde.

Companheiro Luís não quero ser muito aborrecido mas tenho que rectificar uma gralha , no poste P14843, onde eu digo, algumas vezes, que  íamos de Pecixe e outras de Sintex da Engenharia, devo acrescentar que  também íamos de viaturas, a estrada era a de Cacheu - Teixeira Pinto, e ao chegar ao Churro é que apanhava a picada que ia para Caboiana ou Coboiana, e não a estrada de S. Domingos -Sedengal essa já fica do outro lado do Rio Cacheu.

Localizar a Tabanca de Caboiana na carta de S. Domingos Cacheu,  não consigo, sei que o percurso que fazíamos era Churro, íamos  passar a umas ruínas de tabanca já a muito abandonadas devia de ser Bamal (?), passavamos ao lado de uma bolanha e outra tabanca aonde que chegamos a ir lá muitas vezes,  Catão, e depois Catel  e então lá se chegava a Caboiana.

[Nota de LG: António, vê as. cartas de Cachungo / Teixeira Pinto  e Pelundo; pela tua descrição do percuirso, Churro - Bamal - Catão - Catel - Caboiana, esta última tabaca só podia ficar a  norte do Pelundo, na carta de Pelundo e nunca na carta de Cacaheu / São Domingos]

Eu no meu diário não tenho o caminho especificado, aqui estou de memória mas penso que não estou a errar.

Temos um colega que era furriel na Companhia Artilharia  527 e também da nossa tabanca, António Medina,talvez ele consiga esclarecer melhor.

[, foto à esquerda, o camarada Antonio C. Medina, ex-fur mil inf, CART 527, Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65; natural de Santo Antão, Cabo Verde, foi funcionário do BNU, Bissau, de 1967 a 1974; vive hoje nos EUA]


Sobre o Chefe de Posto...

Também não sei muito, sei que era de Cabo Verde e muito amigo do Medina, era homem que devia de andar nos quarentas e tais anos bem puxados,  na altura a esposa uma senhora que,  segundo diziam (as más línguas) tinha vintes e táis muito perto dos trintas, e era da Amadora, aí também o António Medina pode responder pois estava sempre lá em casa deles nos petiscos e nos copos.

Sobre a senhora de calças pretas...  É a esposa do nosso querido e saudoso comandante Nuno Pombeiro, (já jalecido),  D. Maria Luisa,  permaneceu sete meses em Cacheu e depois foi com o tenente para Angola, hoje mora em Lisboa e é filha do ja falecido general Américo Mendonça Frazão.

Companheiro Luís,  se tiveres dúvidas em alguma coisa é só dizeres, se eu souber estou desponivel, Sabes alguma coisa do nosso companheiro Medina ? Ainda falei ao telefone com ele algumas vezes,  sei que esta na América e que esteve doente mas já há muito que não diz nada.

Mão me alongo mais, um abraço para toda a tabanca, António Bastos.
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Nota do editor

(*) Vd. postes de 


(...) Comentário de L.G.;

António, como se chamava o chefe de posto do Cacheu ? E a esposa ? Eram donde ? Tens notícias deles ?

É uma pena que estes homens e mulheres não apareçam por aqui!... Este blogue também é deles / delas...

Podes dizer-lhes que não fazemos qualquer discriminação entre militares e civis, funcionários públicos e comerciantes, homens ou mulheres, sejam oriundos do continente sejam de Cabo Verde...

Há uma território (e uma população) que todos amaram, à sua maneira. E do qual têm recordações, fotografias, histórias...

Um dia destes, quando a nossa voz se calar para sempre (e já falta tão pouco!), ninguém mais vai falar destes tempos e destes lugares...

António, temos que fazer um esforço de memória para legendar melhor estas fotos!... Estas duas mulheres, com os típicos óculos de lentes fumadas que se usavam na época, merecem a nossa homenagem... O Cacheu, mesmo em 1964, não devia ser o paraíso na terra!... Havia já a guerra, havia as doenças tropicais, havia falta dos "confortos da civilização", a começar pela luz elétrica...

Estas mulheres merecem a nossa atenção, o nosso apreço!... Não estou a ser sentimental, melodramático, politicamente (in)correcto, muito simplesmente estou a constatar que havia mulheres, jovens, continentais ou caboverdianos, que iam para a Guiné, umas tinham profissões (professoras, enfermeiras paraquedistas, empregadas dos correios...), outras muito simplesmente acompanhavam os maridos, civis ou militares...

Precisamos de conhecer estas portuguesas! (...)

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Nota do editor

Último poste da série de 12 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14869: Memória dos lugares (303): A vida também corre como um rio (Juvenal Amado)

Guiné 63/74 - P14870: Parabéns a você (935): António Tavares, ex-Fur Mil SAM do BCAÇ 2912 (Guiné, 1970/72) e Rogério Ferreira, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2658 (Guiné, 1970/71)


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Nota do editor

Último poste da série de 12 de Julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14866: Parabéns a você (934): António Dâmaso, Sargento-Mor Paraquedista das CCP 122 e 123/BA 12 (Guiné)

domingo, 12 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14869: Memória dos lugares (305): A vida também corre como um rio (Juvenal Amado)

1. Em mensagem de 2 de Julho de 2015, o nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), fala-nos dos rios da sua vida:


RIOS HÁ MUITOS, MAS ALGUNS FICARAM MAIS NA NOSSA MEMÓRIA

Na minha terra existem dois rios que se juntam, um vindo de Nascente e outro vindo de Poente formando assim um só rio denominado Alcobaça. São rios dóceis quase inexistentes praticamente tapados por arbustos que crescem nos seu leitos e margens durante grande parte do ano, mas no entanto, não deixam de crescer avolumar-se quando as chuvas caiem nalguns anos com maior precipitação sobre toda zona de Alcobaça.


Local onde se juntam o Alcoa e o Baça

Nessas alturas as águas descem as encostas engrossam ribeiros que por sua vez descarregam no rio Baça ou no Alcoa provocando cheias, prejuízos, inundações em habitações, interrompem estradas e caminhos, inundam os campos de cultivo que vão desde Mendalvo até aos campos da Fervenç com as outrora famosas Termas da Piedade, aos do Valado dos Frades, Cela Nova e por fim à sua foz na Nazaré, onde o mar fica barrento durante o tempo em que duram as chuvas.

É uma atração ir à Cela Velha, e lá do alto, admirar os campos todos encharcados pelo então rio Alcobaça, onde desapareceram os canais de irrigação para a agricultura e por vezes só se vêm as árvores de fruto acima do nível das águas. Quando vivia na Av. Bernardino de Oliveira onde morei entre 1962 e 1980, o rio Baça, que nasce na localidade de Vimeiro, passava do lado de lá das casas e da estrada. Nessa altura inundava os terrenos e lembro-me bem da aflição dos moradores do pátio do Joaquim do Talho mesmo à entrada da minha rua, também popularmente conhecida por Portas de Fora, quando as águas o invadiam a ponto de pôr em risco as moradias ao nível térreo. Não podíamos ir à Fonte Nova, que para além de local de namoro para os/as alcobacenses, também tinha água corrente e servia de passeio no Verão ir buscar água numas bilhas de barro, que a mantinham fresca.

Dizia-se que quem bebesse água daquela fonte ficaria para sempre ligado à outrora vila de Pedro e Inês e daí o poema da canção que Tavares Belo escreveu e a cantora Maria de Lurdes Resende imortalizou, que diz “Quem passa por Alcobaça/ Não passa sem lá voltar”.

O rio atravessa grande parte da hoje cidade, por baixo de algumas ruas e acabava por galgar por cima da ponte, invadir a Av. João de Deus, arrastando alguns carros, pois os muros que o apertavam, acabavam por ceder. Também ali exercitei a pontaria com espingarda pressão-de-ar atirando às ratas, que eram quase do tamanho de coelhos bravos e quem sabe, se não devo a isso a boa nota que tive na carreira de tiro em Coimbra durante a recruta.

As águas do Baça também invadiam tumultuosas o próprio Mosteiro, onde os monges construíram no curso do rio uma extracção de água, apelidada de Mãe de Água. Este foi o ponto de partida de uma canalização de 3,2 km, na sua maior parte subterrânea, que abastecia o Mosteiro com água fresca e limpa.

O Rossio pagava a factura durante os Invernos mais rigorosos e ficava cheio de lama e pedras que desciam empurradas pelas águas desde a encosta da Vestiaria ou do Casal Pereiro galgando passeios e entrando nas lojas e acabando por engrossar caudal, que por vezes o rejeitava de tão espartilhado estar, que saía pelas grelhas dos biqueirões ou pelas pias de despejo das casas mais baixas .

Quanto ao rio Alcoa, nasce em Chiqueda, era também atracção quando o seu nascente rebentava nos Olhos de Água ou Poçoão e as rápidas cheias que provocava. No Verão tomava-se banho nalguns locais e as mulheres iam lavar a roupa disputando o sítio e enxotando a garotada. Aí rio tomava a alcunha do dono das terras por onde corria e passava a chamar-se rio Narciso, ou Aníbal, num local que fica perto da Junta Nacional dos Vinhos. Era à vontade do freguês.

Lavadinha

Rio Alcoa

Rio Alcoa

O rio Tejo também está para sempre ligado às minhas visitas aos meus tios na rua da Saudade, onde através da janela da cozinha eu via o rio e os barcos que lá navegavam. Saborosas foram também as travessias até Cacilhas no cacilheiro e a esperança de ver algum golfinho. Mais tarde este rio ficou associado a momentos dolorosos como a partida do meu irmão para Moçambique e mais tarde, a minha própria partida para a Guiné.

Mas como era de prever ao ir para a Guiné deixei para trás o rio da minha terra, mas os rios continuaram a fazer parte da minha experiência além Mar, embora não houvesse nenhum em Galomaro.

Naveguei cinco vezes no Geba, deliciei-me com abundância de água no pelo Corubal que banhava o Saltinho.

O Geba era uma artéria viva e indispensável ao reabastecimento da zona Leste e navegava-se até ao Xime ou até Bambadinca. Em Bafatá era majestoso e dava beleza à cidade.

Haviam porém, rios pequenos daqueles que nós nos esquecemos que existem, pois eram insignificantes durante quase todo o ano, até que chegavam as chuvas e se tornavam num bico de obra.

Havia um desses rios no caminho para Cancolim, que nos deu como se pode chamar água pelas barbas, quando tentávamos abastecer a Companhia 3489. Mal começava a chover, o malvado engrossava e corria rápido por baixo de uma pequena ponte, que tinha parte do tabuleiro danificado por uma mina com que o IN tentou destrui-la. Ora só tínhamos lugar para as rodas das viaturas passarem e quando a águas submergiam a ponte, nós deixávamos de ver o trilho.

Era então preciso que os camaradas que iam fazer a escolta, dessem as mãos uns aos outros e assim com água pelo o peito, indicarem-nos por onde podíamos passar. Não era fácil para eles nem para nós. Eu tirava as botas e as cartucheiras não fosse o diabos tece-las.

Depois de passarmos, mais atascanço menos atascanço, lá chegávamos a Cancolim e começávamos a fazer contas de cabeça a respeito do regresso, pois o problema do rio estava lá à nossa espera, a não ser que entretanto, as águas baixassem facilitando assim o nosso regresso.

Uma vez o rio encheu de tal forma que não houve nada a fazer e as mercadorias tiveram que ser passadas em botes e carregadas em viaturas do lado de lá.



Como se pode ver, os rios foram uma constante na minha vida, mas a melhor experiência com eles, foi a minha viagem do Xime para Bissau quando o 3872 em Março de 1974 foi rendido. Pudera, era a peluda que se aproximava à medida que nós embarcamos e descemos aquele rio barrento, de cor acinzentada, na direcção de Bissau.

Cantávamos então: Galomaro/Tem mais encanto / Na hora da despedida, com música de uma conhecida balada de Coimbra logo seguida de Cheira bem / Cheira a Lisboa...

Juvenal Amado
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14868: Memória dos lugares (302): Rio Grande de Buba, calmo e soberbo, de água salgada, que nasce no mar ao largo de Bolama e acaba em Buba (Francisco Baptista)

Guiné 63/74 - P14868: Memória dos lugares (304): Rio Grande de Buba, calmo e soberbo, de água salgada, que nasce no mar ao largo de Bolama e acaba em Buba (Francisco Baptista)

Rio Grande de Buba
Com a devida vénia a Biodiversity

1. Mensagem do nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), com data de 1 de Julho de 2015:

O Rio Grande Buba é um rio largo, calmo soberbo. Este grande rio de água salgada nasce no mar, ao largo de Bolama e acaba em Buba.

Só alguns dias depois de estar em Buba me apercebi da estranheza desse rio que de manhã estava cheio quase até ao limite do cais e à noite recuava as suas águas como quem vai dormir para longe, essa situação ia-se alterando, conforme as marés.

Sobretudo na maré-cheia, o Rio Grande de Buba, formava um grande espelho de água em toda a extensão que eu conseguia visionar em que se reflectiam as margens de Buba e as margens da floresta próxima ao longo de todo o rio.

Adorava ver os por-do-sois magníficos da Guiné, que pintavam todo o horizonte em redor, de tons vermelhos e cor-de-rosa, reflectidos nas águas calmas do Grande Buba.

Parece que o sol, o rio e as florestas da Guiné se erguiam num quadro enorme e maravilhoso para nos seduzir. Tenho saudades de tanta beleza. Gostava de ser poeta para a cantar, gostava de ser pintor para captar todos os tons que não sei descrever.


Tendo ido para Buba em rendição individual, nunca tive oportunidade de percorrer o rio de LDG. Porém um dia estava em Buba uma LDP, pedi ao capitão e fui nela até Bolama. Fui eu e a tripulação que eram 4 ou 5 marinheiros. A viagem demorou algumas horas, talvez cinco, verifiquei que o rio sendo largo em toda a sua extensão, tem ainda muitos braços, tal como um deus indiano. Tem alguns braços tão largos como o principal braço de mar a que se chama rio.

Empada, que tinha uma companhia, pertencente nesse tempo, tal como a minha companhia, ao comando de Aldeia Formosa, talvez a duas horas ou pouco mais de Buba, por rio, situava-se num desses braços, não muito longe do curso principal. Um dia, porque a avioneta que me transportava para Buba, vinda de Bissau, começou a perder óleo, o piloto aterrou em Empada por precaução. Por rádio expliquei a situação ao meu capitão e ele pediu aos fuzileiros do destacamento de Buba que patrulhavam o rio que me dessem boleia.

Sei que partimos já quase noite e não longe de Empada encontramos dois africanos num barquito, e por uma curta conversa eles deduziram que andariam à pesca. Prosseguimos viagem, com a noite a ficar muito escura e chuvosa tão escura que os fuzileiros perderam-se e foram dar a um braço largo do rio, onde tivemos que esperar pela manhã para reencontrarmos o caminho certo. Se foi assim ou se o sonhei, já passaram mais de 40 anos, nada garanto, se estou enganado peço desculpa aos fuzos, onde tive grandes amigos.

Na viagem que antes me tinha levado a Bissau, já tinha tido uma visão aérea de todo o rio, pois o piloto aviador, Pombo, que era um grande piloto, famoso em Buba e noutras terras, pela sua destreza na pilotagem, encaminhou a avioneta em voo baixo pelo curso do rio Grande Buba. À distancia de todos estes anos agradeço-lhe esta atenção que eu não me lembro de lhe ter pedido. Na verdade o rio percorrido de cima a pouca altitude ainda se torna mais belo do que a navegar, pois vê-se melhor a paisagem envolvente, e os seus braços.

O comandante Pombo diz-me o meu amigo Zamith Passos, que já morreu. Paz à sua alma, oxalá tenha voado mais alto.

No rio Grande Buba tivemos dois acidentes graves. Num deles morreu um camarada nosso e ficaram dois bastante feridos. No outro ficou ferido outro camarada também com bastante gravidade. Sobre estes acidentes já falei noutros postes pelo que não me vou repetir.

Éramos novos, culpas nossas, das armas e do meio e os rios tão belos nas suas margens e nos seus caudais, mas sempre à procura dos jovens incautos, como os deuses antigos que saciavam a sua ânsia de poder ou a sua loucura com o sacrifício de jovens.

Rio Grande Buba que não é tão falado, neste blogue, como outros rios da Guiné talvez porque nas suas margens só existia o quartel de Buba e um pouco afastado, já num dos seus ramais, o de Empada.

Rio Buba, Rio Grande de Buba, Rio Grande de Bolola , ou Rio Grande, como lhe chamaram os portugueses dos descobrimentos (nomes retirados da internete).

Ironia do destino, hoje, antes de remeter este texto ao amigo e camarada Carlos Vinhal, fui com uns amigos almoçar a casa dum produtor de vinho amigo, da margem norte do rio Douro. Da colina sobranceira ao rio onde estávamos, avistávamos um troço esplêndido do caudal do rio e das margens escarpadas e trabalhadas em socalcos sobre tudo do lado norte. Do lado sul sobressaía sobretudo a serra das Meadas, perto de Lamego, onde muitos dos nossos camaradas dos rangeres e dos comandos tiveram instrução.

Assamos carapaus frescos, comprados na praia de Angeiras, e febras de porco com bom vinho da casa e passamos uma tarde divertida em cantorias, com uma concertina do amigo da casa e canções um pouco brejeiras do Rui, um grande cantador.

Cada qual, de acordo com os gostos e a sensibilidade, deliciou-se, com a paisagem do Douro, a cintilar ao sol, no vale, e a paisagem de vinhas em socalco ou de monte de ambos os lados.

O rio Grande de Buba que eu conheci , não era como o Douro. Fiz tantas viagens de comboio pela linha do Douro. Conheço tão bem as suas curvas, as suas margens, os seus afluentes, os seus montes, o seu clima, as gentes que viajavam nos comboios da sua linha na minha adolescência.

O Rio da minha terra não é o Rio Grande Buba, não é o Rio Douro, o rio da minha terra é o Rio Sabor.

Rio Sabor
Com a devida vénia a Miguel Elói

Rios diferentes, de acordo com o seu caudal, as margens que os comprimem ou libertam e as gentes que os condicionam

Gosto muito do Rio Sabor e do Rio Douro mas a minha alma africana que marcou a minha vida para sempre, pelo calor e pelo cheiro da terra da Guiné, recordar-me-á sempre o meu amor e a minha saudade por esse Rio Grande de Buba.

Francisco Baptista
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14843: Memória dos lugares (301): Regulado, rio e tabanca de Caboiana (ou Coboiana ?) no Cacheu, em outubro de 1964 ( António Bastos, ex-1.º cabo do Pel Caç Ind 953, Cacheu, Farim, Canjambari, Jumbembem, 1964/66)

Guiné 63/74 - P14867: Libertando-me (Tony Borié) (25): Depois da guerra

Vigésimo quinto episódio da série "Libertando-me" do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66.



Depois da guerra, por algum tempo, ainda fui bravo, algumas vezes rude para as outras pessoas, ainda fumei e bebi álcool, ainda tive as minhas lutas, ainda fui selvagem, ainda tive experiências sexuais com raparigas estranhas, ainda mantive aquela raiva surda contra não sei quem, talvez contra a guerra, contra a morte de jovens companheiros, contra a polícia que me interrogou e perseguiu, coisas que não tinham explicações, mas que alguma audiência censurava, mas na altura, tinha a força da juventude, talvez “saúde a jorros”, nunca precisei, (nem havia naquele tempo, disponível, ali à mão, era preciso ir à cidade mais próxima), ir todas as semanas, ou cada outra semana ver o psiquiatra, para uma ajuda extra, do trauma que a maldita guerra em África me fez passar, nunca fui para a televisão, rádio ou outros meios de comunicação dizer que não tinha casa, emprego, comida ou roupa para vestir e o governo tinha que me dar todas essas coisas, continuei a ser eu, o aldeão, com aspirações a criar uma família que andava vestido conforme ganhava, como tal, andava sempre muito mal vestido.


Embora antes tivesse assinado um cheque em branco ao governo de Portugal, no montante de..., incluindo a minha própria vida, nunca esperei um subsídio do então governo, ou ser assistido por um daqueles programas que agora existem, procurei trabalho, qualquer trabalho, não queria saber quanto pagavam ou quais os benefícios, ou quantos dias de férias, o que queria era trabalhar, trazer ao fim do dia, ou ao fim da semana, algum dinheiro, fruto do meu trabalho e, para mim cinco tostões eram cinco tostões, que davam para comprar um “papo seco”, não como agora neste ano de 2015, pelo menos pelas notícias que vou tendo conhecimento pela comunicação social e por alguns companheiros combatentes, em que, este novo Portugal, país acolhedor, onde a nova geração tem muitos anos de escola, portanto tem formação superior, abriu as suas fronteiras, pelo menos na União Europeia, recebendo amavelmente qualquer estrangeiro, dos quais muitos vêm para ficar definitivamente, claro, sempre haverá excepções, mas eu entendo de que, se o tal candidato a emigrante, um dia desembarcar em Lisboa, ao encontrar a primeira pessoa na rua, que provavelmente não será um verdadeiro português, será uma pessoa oriunda da África, América, Oceania ou da Europa do Leste, mas deve dizer, depois de ter beijado o chão de Portugal:

- Obrigado senhor português, por me deixar entrar no seu País, dar-me casa, comida, ajuda médica e educação para os meus filhos.

Nós, antigos combatentes, fomos uma boa e trabalhadora geração e, neste caso, depois da guerra, vieram os outros.

Tony Borie, Julho de 2015
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Nota do editor

Último poste da série de 5 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14837: Libertando-me (Tony Borié) (24): Glória, a quem chamavam Lola e às vezes Ruça (5)

Guiné 63/74 - P14866: Parabéns a você (934): António Dâmaso, Sargento-Mor Paraquedista das CCP 122 e 123/BA 12 (Guiné)

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Nota do editor

Último poste da série de 9 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14852: Parabéns a você (933): Adriano Moreira, ex-Fur Mil Enf da CCAÇ 2412 (Guiné, 1968/70); Arménio Estorninho, ex-1.º Cabo Mec Auto da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70) e Joaquim Carlos Peixoto, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3414 (Guiné, 1971/73)