quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15096: (Ex)citações (292): Cruzei-me, por certo, com o José Matos, pai, entre março e maio de 1964, no RC 7, e depois no sul da Guiné... E aviões estranhos, só vi os das rotas aéreas internacionais (Manuel Lomba, ex-fur mil, CCAV 703 / BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66; autor do livro "Guerra da Guiné: a batalha de Cufar Nalu", Faria, Barcelos, 2012)

1. Mensagem de hoje que nos chega do Manuel Lomba e que reencaminhámos para o José Matos, com o seguinte comentário: "Zé: como vês o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca é Grande... Ab. Luis".

[Manuel Lomba, ex-fur mil da CCAV 703 / BCAV 705, Bissau, Cufare Buruntuma, 1964/66; autor do livro "Guerra da Guiné: a batalha de Cufar Nalu". Faria, Barcelos, Terras de Faria, Lda: 2012, 314 pp.]


O camarigo José Matos acaba de nos facultar um notável trabalho específico e histórico e aproveito para referir haver privado com um cabo miliciano Matos, na messe do acanhado RC 7 (mas que comportava o refeitório de rancho geral e três messes, de oficiais, sargentos e cabos milicianos...), entre Março e Maio de 1964.  Seguramente que me cruzei com o seu pai [, José Matos].

José Matos, filho
Em finais de 1964 fomos lançados, como força de intervenção, numa operação creio que à mata de Cafine, com a missão de "emboscar" um reabastecimento de armas e munições ao PAIGC por helicóptero.

Ao fim de dois dias e duas noites emboscados em torno de uma clareira, nem turras nem helicóptero compareceram e, no reconhecimento que precedeu a retirada, topámos vestígios dos seus patins e uma granada de RPG espoletada, que teria sido largada pelo seu carregador...

Em sequela da Operação Tridente, o general Schulz levou o ferro e o fogo ao sul da Guiné: fomos recorrentes nos matos de  Fulacunda, Buba, Cantanhez, Cafine e, depois, Cufar.

Na nomadização em Cufar, de Janeiro a Março de de 1965, víamos passar aviões e dizia-se que estávamos sob as rotas aéreas, nomeadamente de Angola. Tínhamos as aludidas metralhadoras ligeiras Dreyse e nunca lhe aplicamos as miras anti-aéreas.

No seu conhecido livro "Crónica da Libertação", Luís Cabral não só não refere a sua aviação turra como desdenha da eficácia da nossa, enquanto Nino Vieira dizia ter tido muito medo e muitas cautelas em relação à mesma.

Abraço
Manuel Luís Lomba
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Notas

Último poste da série > 9 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15095: (Ex)citações (291) Os célebres MiG russos que o PAIGG nunca teve mas que foram uma ameaça percebida no final da guerra... (José Matos / Luís Gonçalves Vaz / Manuel Lomba)

Guiné 63/74 - P15095: (Ex)citações (291): Os célebres MiG russos que o PAIGG nunca teve mas que foram uma ameaça percebida no final da guerra... (José Matos / Luís Gonçalves Vaz / Manuel Lomba)

1. Comentário de José Matos ao poste P15090 (*):

[José Matos, membro recente da nossa Tabanca Grande; investigador independente, especialista em história militar]


Olá Luís e restantes amigos

Agradeço os vossos comentários, que acrescentam sempre novos dados à discussão.

Começando pelo Augusto Silva Santos,  tem toda a razão no comentário que faz, de facto circularam informações entre a tropa quanto à possibilidade de um ataque aéreo a Bissalanca. Falava-se mesmo na possibilidade de esse ataque acontecer em janeiro de 1974. Como se viu, esses receios eram exagerados. O que descobri é que nem os cubanos, nem os guineanos, estavam interessados em atacar Bissalanca ou qualquer outro ponto na Guiné.

O comentário do Henrique Cerqueira também é interessante, pois as autoridades portuguesas pensavam mesmo que os guineanos tinham MiG 19 e até 21, quando na verdade não tinham nada disso, apenas o MiG 17. Também há alguma razão no comentário sobre a aselhice dos guineanos no uso dos MiG, basta dizer que praticamente só voavam com os cubanos e habitualmente a asa, tendo tudo o que dizia respeito à manutenção dos aviões numa lástima. Se não fossem os cubanos, os MiG nem levantavam.

O grau de operacionalidade dos MiG sempre foi baixo e só melhorou com os cubanos.

Quanto aos pilotos do PAIGC que o Luís refere, de facto estavam a ser treinados na URSS para pilotar MiG, mas com a independência voltaram à Guiné, sem aviões. Provavelmente a ideia, no tempo da guerra, seria usarem os MiG guineanos enquadrados pelos pilotos cubanos, no mesmo tipo de missões que os cubanos já faziam, ou seja, patrulha e vigilância da fronteira. Não estou a ver que os guineanos os deixassem usar os MiG para um ataque a posições na Guiné. Outra hipótese eram os russos forneceram dois ou três MiG para o PAIGC usar, mas não estou a ver isso a acontecer.

O relato do Marinho também é muito interessante, pois está de acordo com os avistamentos e mesmo detecções que a malta fazia na altura. O problema é que não sabemos se eram ou não helicópteros ao serviço do PAIGC, pelo menos não há informação nenhuma segura sobre isso. Quanto a incursão de um jacto também nada se sabe sobre a sua origem. Seria guineano? É possível, mas não me parece que tivesse intenções ofensivas.

Ab, José Matos

2. Comentário de Luís Gonçalves Vaz 
ao poste P15090 (*):

[Membro da nossa Tabanca Grande, filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG, 1973/74), e que tinha 13 anos e vivia em Bissau quando se deu o 25 de abril de 1974, que derrubou o regime do Estado Novo]


Caros Amigos:

Lembro-me muito bem que em finais do ano de 1973, eu próprio (com 13 anos) e um irmão mais velho com 15 anos,  construimos um "abrigo antiaéreo" em pleno quintal da casa onde vivíamos,  na Base Militar de Santa Luzia, com abastecimentos e tudo ....... 

Enfim era sem dúvida um entretimento de jovens adolescentes, mas fruto também do "clima psicológico" da altura e dos tais "boatos" sobre um eventual ataque aéreo a Bissau que se esperava a qualquer altura.

Em plenas férias escolares do Natal de 1973, os "boatos de um ataque aéreo" intensificaram-se ao ponto da minha mãe, que na altura era professora na Escola Comercial em Bissau, ter entrado em casa com uma colega professora, toda preocupada que se esperava o "dito ataque" a qualquer momento! 

Eu não altura não me preocupei muito, pois como já referi, tinha um abrigo antiaéreo (por mim construido e pelo meu mano mais velho) e nesse mesmo dia resolvi melhorá-lo. 

De facto nós sabíamos que se realmente houvesse "o dito ataque aéreo", as instalações do QG de Santa Luzia seriam logo dos primeiros alvos a atingir, para conseguirem comprometer todo o tipo de logística das diversas operações militares em curso na altura ...

Lembro-me muito bem que nesse Natal de 1973, o meu falecido Pai (CEM/CTIG) saiu cedo de casa (logo a seguir à ceia de Natal que foi realizada muito cedo) para se deslocar para o QG onde passou toda a noite a desempenhar as suas funções, já que nessa noite os militares estiveram de Pprevenção... Seria fruto desses "boatos" ou de "informações mais credíveis" dos Serviços de Inteligência Militar ? Não sei,  só me lembro destes factos!

Grande Abraço
Luís Gonçalves Vaz


Guiné > Arquipélago dos Bijagós > lha de Buibaque > "A esposa do coronel Henrique Gonçalves Vaz, os três filhos mais novos e o capitão Pombo, na pista de Bubaque na Páscoa de 1974... Fotografia de Henrique G. Vaz. [O Luís é o da esquerda].

Foto (e legenda): © Luís Gonçalves Vaz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]



3.  Comentário de Manuel Luís Lomba (*) [ex-fur mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66; autor do livro "Guerra da Guiné: a batalha de Cufar Nalu". Faria, Barcelos, Terras de Faria, Lda: 2012, 314 pp. [Capa, imagem à direita, em baixo]

Reitero as minhas saudações ao "mestre" José Matos, ora valioso activo corpóreo e incorpóreo da tertúlia Tabanca Grande.

Em 1981, com o B 707 Combi (passageiros e carga) da carreira TAP a percorrer a pista de Bissalanca, eu fixar-me nas metralhadoras enferrujadas jazidas nas valas ao longo dela e acabei a contemplar 4 MiG  negros na placa, qual palco de um Dakota, mais quatro ou cinco T 6 e DO, cobertos de pó e muito degradados, mas em que sobressaía a cruz de Cristo, tendo por pano de fundo um grande letreiro "Presas capturadas ao Inimigo".

Então "os meus olhos ficaram mar"...

Ao voltar ao aeroporto, no âmbito do exercício profissional, perguntei ao meu dedicado anfitrião, alto quadro do partido e do governo, esforçado em convocar o sentido de humor:
- Foram aqueles MiG que caçaram aqueles aviões tugas?
- Não, eles é que deixaram. Na guerra russos não deram aviões. Vieram depois da independência.(Para a generalidade dos guineenses, a independência era contada a partir da entrega das chaves de Bissau ao PAIGC, em 10 de Setembro de 1974 e não a independência do Boé, em Setembro de 1973).

Quanto à veracidade do corpo de pilotos guineenses, o testemunho do comandante Pombo constituirá suficiente meio de prova.

Com perguntas directas, em regra obtinha-se respostas líquidas ora de ardor revolucionário ora evasivas; mas a revelação pelos nossos interlocutores do seu verdadeiro conhecimento dos factos não resistia à "bebida gelado" franqueda - o verde branco Gatão ou Aveleda.

Relativamente à ameaça dos MiG  na guerra da Guiné, fiquei com a ideia e adquiri relativa certeza de que Sekou Touré não os aceitava "graciosamente" no seu território e a Rússia exigia parqueá-los em base nos dois terços do território libertado pelo PAIGC - Cufar ou Nova Lamego! - enquanto o ocupante, Portugal,  não desamparasse a sua loja, em  Bissau... Dialéctica interessante.

Como nossa inimiga, a Rússia não permitia que cooperante seu pusesse o pé por terra, mar ou ar na Guiné Portuguesa, sub-empreitava tal empresa aos seus dominados na Europa de Leste e a Cuba. 

Quanto aos nossos aliados, suecos, noruegueses, holandeses, filandeses, americanos - temos dito.
A Operação Mar Verde legou à História a coragem e valentia dos portugueses ao serviço da sua pátria e e a graduação da ousadia das suas elites investidas no mando. Se quem mandou fazer aquilo ousasse arriscar a cobertura de uma esquadrilha de F86 ou coisa parecida, poderia ter sido outra a História da catastrófica descolonização. (**)

Um abraço a todos os comentaristas.
Manuel Luís Lomba

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 8 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15086: Sondagem: "No meu tempo já se falava da existência de aviões inimigos sob os céus da Guiné"... Primeiro comentário: "Quando estive no Depósito de Adidos, em Brá, na secção de justiça, em finais de novembro de 1973, lembro-me de chegarmos a receber informação para estarmos preparados para a eventualidade de um ataque aéreo"... (Augusto Silva Santos, ex-fur mil, CCAÇ 3306 / BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971

Guiné 63/74 - P15094: Tabanca Grande (474): Joaquim dos Santos Ascenção, ex-Fur Mil AP Inf da CCAÇ 3460/BCAÇ 3863 (Cacheu, 1971/73)

1. Mensagem do nosso camarada, e novo tertuliano, Joaquim dos Santos Ascenção (ex-Fur Mil de Armas Pesadas de Infantaria da CCAÇ 3460/BCAÇ 3863, Cacheu, 1971/73), com data de 16 de Agosto de 2015:

Amigo Luís:
Tenho adiado este momento muitas vezes. Não me é fácil mexer na caixa de recordações, mas eis que chegou o dia.

Aqui partilho os meus dados para ser mais um elemento da tabanca.

Eu de nome Joaquim dos Santos Ascenção, nascido em 19 de outubro de 1949, natural da Freguesia de S. Pedro Fins, Concelho da Maia, também estive na Guiné.

Assentei tropa no dia 7 de outubro de 1970, embarquei para a Guiné em 16 de Setembro de 1971 e regressei a 22 de Dezembro de 1973.

Estive em Bolama a fazer o IAO e depois fui para Cacheu.
Pertenci ao Batalhão de Caçadores 3863 e Companhia de Caçadores 3460.
Fui Furriel Miliciano com a especialidade de Armas Pesadas de Infantaria.

Não vou falar do inferno que era a Guiné porque este assunto já está amplamente divulgado. Das melhores recordações que tenho são o grande espírito de solidariedade e amizade que tínhamos para ir vivendo um dia de cada vez e profundas amizades que perduram há mais de 40 anos nos 4 cantos do mundo.

Seguem em anexo 1 foto actual e 3 do tempo da Guiné.

Um abraço
Joaquim Ascenção




2. Comentário do editor

Amigo e camarada Ascenção, muito bem-vindo à nossa tertúlia.
É forçoso que comece por te pedir desculpa pela demora na tua apresentação, mas se pensarmos que em Agosto estamos todos a meio gás, Setembro até nem é pior mês para a apresentação de novos camaradas.

Pelo que pude constatar consultando o Blogue, não temos nenhum representante da 3460 na tertúlia, logo, ficas com a responsabilidade de nos dar a conhecer a actividade da tua Companhia no Cacheu. Foste, pela certa, operacional, pelo que terás participado em muitas operações, colunas e outras acções.
Quando nos mandares os teus textos acompanhados de fotos, por favor manda as legendas já que nem sempre as fotos são "falantes". Datas, locais e fotografados são importantes conhecer.

Ficamos desde já ao teu dispor para qualquer esclarecimento adicional.

Antes de terminar, não posso esquecer de te endereçar o tradicional abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores.

O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15082: Tabanca Grande (473): José Vargues, ex-1.º Cabo Escriturário da CCS/BART 733 (Bissau e Farim, 1964/66), tertuliano 702

Guiné 63/74 - P15093: Os nossos seres, saberes e lazeres (114): Un viaggio nel sud Italia (5): Em Tivoli, passeio alucinatório em Villa d’Este (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Agosto de 2015:

Queridos amigos,
As pessoas abonadas do século XVIII faziam o Grand Tour, e a Itália era visita obrigatória para quem vinha das Prússias, Polónias ou Inglaterras.
Tivoli era um pólo magnético, foi aqui que o imperador Adriano mandou construir uma vila luxuosa neste local de clima privilegiado e recantos panorâmicos dramáticos. Um cardeal filho de Lucrécia Bórgia mandou construir uma vila imponente, mas o turista vem fundamentalmente atraído pelos jogos de água, água é coisa que aqui não falta e as canalizações fazem o resto, a água jorra das fontes e bicas, é uma melodia orquestral permanente.
E temos a Villa Gregoriana, aqui a natureza transcende-se com o famoso Vale do Inferno e cascatas com uma envolvente romântica, quando por aqui passou Goethe escreveu nos seus apontamentos que ver esta paisagem enriquece-nos o mais profundo da alma. É melhor ver para crer.
Hoje falamos só de Villa d'Este, no seu todo Tivoli precisa de pelo menos dois dias inteiros só para ver o essencial.

Um abraço do
Mário


Un viaggio nel sud Italia (5)

Beja Santos

Em Tivoli, passeio alucinatório em Villa d’Este


Três monumentos espetaculares, reconhecidos pela UNESCO, trazem-me a Tivoli, o Palácio e os jardins de Villa d’Este, Villa Adriana e Villa Gregoriana. Tivoli fica a pouco mais de 30 quilómetros de Roma, nos Montes Tiburtinos, é famosa desde a antiguidade pela sua riqueza em águas e pelos locais idílicos graças ao clima e à posição estratégica. A água corre por toda a parte, atravessa-se uma ponte e apanha-se logo este espetáculo, vou com o estômago a dar horas, qualquer coisa me serve para trincar, desde um esparguete a uma boa salada, mas não resisto a ficar especado e agradecer à mãe natureza o idílio que proporciona.


É a procurar um sítio onde se coma que deparo com mais esta reciclagem, tudo o que veio do império romano se aproveita, e Tivoli subsistiu a várias decadências, teve a sua posição na Idade Média, voltou a impor-se no Renascimento e ressuscitou no século XIX. Já tem nome feito no século IV antes de Cristo e é hoje um sítio arqueológico de primeiríssimo nível graças a uma construção monumental que atrai o turista: a Villa Adriana, em primeiro lugar. Agora vou comer e depois parto para o Renascimento, quero ir até aos jogos de água de Villa d’Este.


Cá estamos, ainda não desembolsei 12 euros (aliás, não pagaram a compensação que por aí vem) e já estou a ver maravilhas, é um espantoso trabalho em pedra no átrio da esplêndida vila que o Cardeal Hipólito II d’Este, filho de Lucrécia Bórgia e de Alfonse d’Este, governador do Tivoli aqui construiu e que irá desencadear um desenvolvimento urbanístico e o aparecimento de palácios patrícios.


Primeiro, a visita à vila, debruçada sobre Tivoli e com os Abruzos ao fundo, peço desculpa pela neblina, mas o inacreditável aconteceu, levo estes dias a suar a cerca de 40 graus, o céu turvou-se, a seguir vai chuviscar e teremos depois uma carga de água aliviadora. Aproveito para ver alguns aspetos que muito me interessam.




Já caem grossas bátegas, mas não me importo. Visito primeiro uma exposição dedicada a esse génio que foi Franco Zeffirelli, fez tudo muito bem como encenador, realizador, decorador, figurinista, aderecista, tocou em todas estas teclas primorosamente, e assim deliciou os seus aficionados e alguns dos maiores cantores de ópera e do cinema de todos os tempos. Captei uma imagem na capela da família d´Este e depois este fresco num dos enormes corredores que atravessam a vila. O cardeal devia ter dinheiro a rodos, construiu a sua vila num antigo bairro medieval e aproveitou um mosteiro beneditino, tudo somado temos um edifício monumental a beijar o mais espantoso jardim que vi em toda a minha vida, tipicamente italiano, só visto, neste resumo não dá para acreditar.


Oh, capricho dos deuses, os céus revoltados vão sendo conquistados pela luz. Não resisti a este feitiço, tivesse aqui o pintor Turner e teríamos um dos seus magníficos quadros. Como é que eu me posso esquecer deste céu magnífico?


Antes de descer para os jardins, não resisto a este plano, todo o verde estabelece um diálogo permanente com a arquitetura, sejam fontes, grutas, bicas a escorrer, água não falta, como se pode ver.




Na receção de Villa d’Este entregam ao turista uma folhinha com rosto e verso, as salas que se vão visitar e identificam-se os lugares do jardim. Obediente procurei as fontes mais importantes, mas cedo consenti em deixar-me confundir quanto a estes nomes que se leem uma vez e só se rememoram a título excecional quando o turista volta a pegar nestes materiais. Estou triste, tirei algumas dezenas de imagens, importa selecionar, alguns destes recantos têm aparecido em filmes, depois da chuva veio imensa luz, eu estava extasiado.




Não digam que eu não falo verdade a propósito da esplêndida encenação que a arquitetura empresta a este jardim inesquecível. Faltam minutos para fechar Villa d’Este, toda a minha fadiga está bem compensada. À saída, não me surpreendeu esta lápide evocativa de Liszt, um dos compositores pianísticos de que mais gosto. Recomendo aliás ao leitor que vá ao Youtube e escreva “Jogos de água em Villa d’Este”, aparecerão nomes reputadíssimos do piano a interpretar esta peça de uma quase execução transcendente, permite pensar quanto Liszt gostou de por aqui deambular nos seus anos de peregrinação em Itália.

(Continua)

Texto e fotos: © Mário Beja Santos
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Nota do editor

Poste anterior da série de 1 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15063: Os nossos seres, saberes e lazeres (113): Un viaggio nel sud Italia (4): Ver Nápoles por um canudo (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P15092: FAP (87): a ameaça dos MiG na guerra da Guiné (José Matos, Revista Militar, nº 2559, abril de 2015) - IV (e última) parte




1. Continuação da publicação do artigo do José Matos, "A ameaça dos MiG na guerra da Guiné", Revista Militar, nº 2559, abril de 2015, pp. 327-352 > (*)

por José Matos

[, membro da nossa Tabanca Grande, nº 701; investigador independente em história militar,com particuolar interesse pela guerrano TO da Guiné]


(IV e última parte, com o nosso muito obrigado ao autor e editor por nos disponibilizarem o artigo. Fixação de texto: LG) 


Míssil antiaéreo Crotale que equipa a Força Aérea Francesa...
Cortesia de Wikipedia.

O Crotale

Em 1974, chegam informações ao comando militar em Bissau de voos de aeronaves a mais de 1000 km/h, o que aponta claramente para aviões do tipo caça, provavelmente, os MiG da FAG. Os relatórios periódicos de informação registam 32 voos de origem desconhecida nos primeiros quatro meses do ano, alguns com velocidades demasiado elevadas para serem aviões comerciais [91].

Entretanto, a DGS na Guiné produz vários relatórios, informando que o PAIGC está a construir uma base aérea em Kambera, na Guiné-Conakry. No entanto, um voo de reconhecimento fotográfico levado a cabo por um Fiat G-91, em meados de Fevereiro de 1974, não detecta qualquer base aérea em Kambera [92].

Nessa altura, o governo em Lisboa tinha já em curso a aquisição de dois pelotões de mísseis Crotale R440, um deles para a defesa de Bissau, ficando inicialmente prevista a entrega do primeiro para Maio de 1974 e a do segundo dezoito meses depois [93]. Cada pelotão de Crotale é formado por duas unidades de tiro e uma unidade de aquisição e vigilância, num total de três viaturas.

Em finais de Dezembro de 1973, o 2.º Comandante do Regimento de Artilharia Antiaérea Fixa (RAAF), Tenente-Coronel de Artilharia Luiz Corte Real, juntamente com o Major da FAP, Mário Silva, deslocam-se a Paris, à Thomson CSF, para uma reunião de trabalho, provavelmente para acertar os pormenores do contrato de aquisição [94].

Finalmente, a 24 de Janeiro de 1974, é firmado o contrato para a aquisição do Crotale pelo montante global de 134 milhões de francos franceses [95], um valor a ser coberto pelas verbas do empréstimo sul-africano. Entretanto, o Tenente-Coronel Corte Real cria um grupo de trabalho constituído por cinco oficiais e nove sargentos para frequentar o curso de preparação do Crotale, em França.

O grupo parte para Paris, em Maio de 1974, onde durante quatro meses toma contacto com este novo sistema de defesa antiaérea [96]. O sistema funciona com base na identificação de aeronaves por interrogação dos seus equipamentos IFF (Identificação Amiga ou Inimiga), em áreas de mínima actividade aérea amiga, o que não era o caso da Guiné, onde o Crotale exigia um dispositivo de defesa aérea mais complexo.

Míssil antiaéreo Crotale NG [Nova Geração], uma
versão mais avançada do originalo R440.
Paris, Air Show, 2007. Fonte: Cortesia de Wikipedia
Em resposta a esta necessidade, o CEMFA, General Correia Mera, informa, em Fevereiro de 1974, o CEMGFA, General Costa Gomes, de que a Força Aérea pretende equipar com IFF, numa primeira fase, “todos os aviões Fiat G-91, NORD, C-47 e B-26, com prioridade para os pertencentes à ZACVG, seguindo-se os das Regiões Aéreas”.

O CEMFA refere ainda que “os aviões T-6 e DO 27 só serão considerados numa segunda fase, pois exigem como condição de montagem do sistema IFF a substituição do gerador e inversor de corrente próprios (…) sendo a mudança demorada” [97].


Os radares de defesa aérea

No início de Fevereiro de 1974, o General Bethencourt Rodrigues escreve ao CEMGFA queixando-se que,“dos 4 radares AN/TPS-1D cedidos pelo Exército, só um poderá vir a ser colocado em funcionamento, mas em condições deficientes. Mesmo admitindo que este radar viesse a trabalhar em boas condições, as suas características técnicas não satisfazem as necessidades de cobertura de radar do T.O., porquanto não fornece dados altimétricos, necessários à Força Aérea, e tem fracas possibilidades de detecção a baixas alturas, característica essencial para a defesa antiaérea”.

Bethencourt Rodrigues refere ainda que teve conhecimento de “haver um estudo para a aquisição de meios electrónicos de detecção no SGDN, para finalidades antiaéreas, conjugado com um trabalho idêntico no EMFA” e pede que “o problema seja encarado com a urgência possível atendendo à situação crítica” que se vive na Guiné [98]. No quartel-general em Bissau existe o receio de uma intervenção aérea apoiada por países africanos, o que tornaria a situação militar no terreno muito complicada.

Nessa altura, o SGDN tinha já constituído um grupo de trabalho com o objectivo de estudar e recomendar um radar móvel para a Guiné. O radar escolhido tinha sido o AN/APR-41 (XE-2), da Dalmo Victor Division, de fabrico norte-americano, um sistema leve e compacto facilmente transportável em aviões e helicópteros, sendo possível adaptá-lo também a veículos e posições fixas [99].

Por seu turno, a Força Aérea tinha estudado o TRS 2200 (Picador), da Thomson-CSF, e o S600 (sistema 2), da Marconi, tendo preferência pelo radar da Marconi [100]. No entanto, quando este estudo comparativo chega ao conhecimento da 1ª Repartição do SGDN, são detectadas várias imprecisões no estudo da FAP, o que leva o SGDN a propor “a criação de uma comissão ao nível da Defesa Nacional a fim de equacionar devidamente o problema” [101].

A referida comissão é criada ainda durante o mês de Abril, mas com a mudança do regime a 25 de Abril e o fim da guerra colonial algum tempo depois, nenhuma destas aquisições se concretiza. Sabemos, no entanto, por uma nota da Direcção dos Assuntos Económicos e Financeiros (DAEF) do Ministério dos Estrangeiros francês, que, a 5 de Abril, Paris tinha autorizado a venda de cinco radares Picador pelo valor de 75 milhões de francos [102].

Mas, nessa altura, Portugal não tinha ainda tomado qualquer decisão sobre o assunto. Na mesma nota da DAEF é também referido que o Primeiro-Ministro francês tinha autorizado a venda a Portugal de 32 Mirage IIIE pelo valor de 750 milhões de francos, mas com a ressalva dos aviões não serem deslocados, nem para a Guiné-Bissau nem para as ilhas de Cabo Verde. O valor indicado ronda 4,2 milhões de contos, o que significa que 70% do empréstimo sul-africano seria para pagar os Mirage.

Apesar do fim da guerra, um pelotão de mísseis Crotale ainda chega a Lisboa, em Setembro de 1974, e segue para as instalações do Centro de Instrução de Artilharia Antiaérea e Costa (CIAAC), em Cascais [103]. Porém, em 1976, é vendido à África do Sul com a mediação da Thomson e as verbas já pagas são devolvidas a Portugal [104].

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O autor agradece aos arquivos do Exército, da Força Aérea e da Defesa Nacional, as facilidades concedidas para esta investigação. Igualmente, a Manuel Couto, Tenente-general José Nico, Coronel Pereira da Costa, Tenente-coronel Luís Barroso e Capitão Alberto Cruz, os comentários e informações transmitidas e ao Casimiro Serra a ajuda na pesquisa de informação cubana.

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 Notas do autor:

[91] Diversos PERINTREP da Guiné, ADN/F2/SSR.002


[92] Nota n.º 324 (folha de circulação) do Secretariado-Geral da Defesa Nacional, 2 de Março de 1974, ADN/SGDN 3556.1.


[93] Cunha, Silva, O Ultramar, a Nação e o 25 de Abril, Atlântida Editora, Coimbra, 1977, p. 318.


[94] Informação nº 36232/GC do Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, Assunto: Mísseis Crotale, Secretariado Geral da Defesa Nacional, Lisboa, 28 de Dezembro de 1973, ADN/F3/4/8/39.


[95] Protocolo para a negociação da devolução à firma Thomson CSF de um sistema de armas “Crotale”, 2 de Julho de 1975, ADN Fundo geral 833/7.


[96] Maurício, Henrique, Testemunho in Boletim da Artilharia Antiaérea Especial “60 anos da Artilharia Antiaérea em Portugal”, nº 3, II Série, Outubro de 2003, pp. 112-113.


[97] Nota n.º 78-P-4.1.5 do Chefe de Estado-Maior da Força Aérea para o Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, Assunto: Defesa aérea da Guiné (Bissalanca), 11 de Fevereiro de 1974, SDFA/AH, 1.ª Região Aérea, Cx. 102, Processo 430.201.


[98] Carta do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné para o Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, Assunto: Defesa Aérea, Bissau, 4 de Fevereiro de 1974, ADN/F3/17/37/51.


[99] Informação n.º 1/74 do Grupo de Trabalho para Adopção de Radares de Vigilância Próxima, Secretariado-Geral da Defesa Nacional, 9 de Janeiro de 1974, SDFA/AH, 1.ª Região Aérea, Cx. 102, Processo 430.201.


[100] Informação nº 4/74 da Secretaria de Estado da Aeronáutica, Assunto: Estudo comparativo dos radares de Defesa Aérea Picador e Marconi S600, 3 de Abril de 1974, ADN Fundo Geral SGDN 6836/1.


[101] Informação n.º 77/RA da 1ª Repartição do Secretariado-Geral da Defesa Nacional, Assunto: Estudo comparativo dos radares de Defesa Aérea Picador e Marconi S600, 9 de Abril de 1974, ADN Fundo Geral SGDN 6861/1.


[102] Nota da Direcção dos Assuntos Económicos e Financeiros, Assunto: Venda de armamento a Portugal, 31 de Maio de 1974, Archive du Ministère des Affaires Estrangères (AMAE), Europe 1971-1976 – Portugal – Caixa 3501.


[103] Maurício, op. cit., p. 113.


[104] Memorando sobre o Crotale, 31 de Dezembro de 1975, ADN Fundo Geral Cx. 833/7.

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Nota do editor:

Postes anteriores da série >

6 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15077: FAP (84): a ameaça dos MiG na guerra da Guiné (José Matos, Revista Militar, nº 2559, abril de 2015) - Parte I

Guiné 63/74 - P15091: Parabéns a você (961): Filomena Sampaio, Amiga Grã-Tabanqueira de Guimarães e Raul Azevedo, ex-Cap Mil, CMDT da 2.ª C.ª/BART 6522 (Guiné, 1972/74)


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Nota do editor

Último poste da série de 8 de Setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15083: Parabéns a você (960): Alberto Grácio, ex-Alf Mil Op Esp do BCAÇ 4615/73 (Guiné, 1973/74)

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15090: (Ex)citações (290): Que ele havia, no meu tempo, coisas estranhas no céu, havia... Se eram aeronaves inimigas ou ovnis, não sei... (Henrique Cerqueira, Bissorã, 1972/74; Alcídio Marinho, Xitole e Bafatá, 1963/65)



A metralhadora ligeira Dreyse 7,9 mm m/938, de fabrico alemão...

1. Dois comentários ao poste P15086 (*):

1.1. Henrique Cerqueira [, ex-fur mil,  3.ª CCAÇ/BCAÇ 4610/72, e CCAÇ 13, Biambe e Bissorã, 1972/74; vive no Porto]:

Já em determinada altura eu comentei aqui neste blogue a situação dos MiG na Guiné. Pois que em 1973,  perto do final do ano ( já não consigo precisar...), nós,  as tropas sediadas em Bissorã e na altura estando eu na CCAÇ 13, recebemos uma espécie de panfleto com imagens dos MiG 19 e 21 e junto dessas imagens umas instruções de como reagir ao avistar essas aeronaves...

Claro que o(s)mentor(es) desse papelinho achavam que talvez fossemos super-homens com os poderes de ouvirmos e vermos os aviões antes de passarem, visto que os ditos são supersónicos.

Mas o mais ridículo da informação contida no famigerado panfleto era que devíamos adaptar a mira antiaérea na metralhadora Dreyse [, metralhadora ligeira Dreyse 7.9mm m/938, ] e disparar para os ditos aviões.

Bom, a malta partiu a moca a rir e,  infelizmente,  rasgámos os ditos panfletos e assim hoje não tenho essa prova documental de tanta burrice que havia nas mentes de alguns dos nossos comandos superiores da altura. Poderá ainda haver alguém se lembre desta façanha, alguém que tenha passado por Bissorã nessa altura até 1974.

Já agora acrescento que em 1973/74 tivemos informações que os pilotos eram estrangeiros (cubanos, russos,  checos e afins...) e que pelos vistos os candidatos a pilotos naturais da Guiné em instrução de voo deram cabo de uma data de aeronaves e tiveram que adiar por uns tempos a utilização por pilotos guineenses (o que nunca veio a acontecer,  como se sabe não é?...).

Fui aqui contando do que me lembro da altura em relação a esse tema dos Aviões MiG. Alguma coisa pode ser só histórias de "caserna",  mas o dito panfleto é mesmo real.

Henrique Cerqueira
1.2. Alcídio Marinho [ ex-fur mil inf, CCAÇ 412 
(Bafatá, 1963/65); vive no Porto:

Amigos:

Nessa altura,  julho de 1963,  estava eu destacado no Xitole em reforço do Pelotão Independente, não me recordo o dia, fomos fazer uma incursão na região de Mina, quando ouvimos o troar dum F-16 (Sabre) e o alferes Cardoso Pires ordenou que precisavámos de nos deslocar rapidamente para uma clareira pois podíamos ser confundidos com turras. 

De facto, o piloto viu qualquer coisa em baixo e voltou a passar rente às árvores para verificar e fez a manobra de balouçar as asas, confirmando que nos tinha reconhecido. Passado pouco tempo ouvimos um troar doutro jacto,  vindo de sudeste, da direcção da Aldeia Formosa. Fizemos a manobra anterior, mas qual é o nosso espanto que o aparelho era totalmente diferente, dirigia-se na direcção do Fiofioli, mas de repente fez uma curva rápida e desapareceu para Sul.

Quando chegamos ao Xitole mandamos um rádio informando o sucedido.

Também no fim de maio desse ano,  num patrulhamento, com actividade diurna e nocturna, na região da Ponta do Inglês, eram cerca da 11 da noite e ouvimos o barulho dum heli, que pairava com uma potente luz apontada para baixo... De repente vimos que baixava, comunicámos rápido para Bafatá, informando o facto. Passada cerca de meia hora levantou e seguiu para Sul.

Mais tarde,  já em setembro ou outubro de 1964, estávmos em Catacunda-Norte, perto de Fajonquito, também perto das 11 da noite,  ouvimos um hélio,  vindo de norte (Senegal), vinha em nossa direção, de repente virou em direção oeste para a região de Cambaju Grande e Banjara. Dizíamos Cambaju Grande para distinguir da tabanca Cambaju que ficava na estrada entre Fajonquito e Colina do Norte, junto à fronteira do Senegal.

Claro que estes aparelhos não podiam ser nossos, pois a nossa Força Aérea não circulava de noite. A única vez que vi atividade aérea, foram um Dakota e uma Auster ou Dornier que vieram buscar uns feridos a Bafatá, já perto das 10 da noite, pois tivemos que fazer a segurança à pista e colocar garrafas de cerveja com mechas acesas.

Normal era actuarmos em sintonia com os T-6 em muitas operações.

Alcidio Marinho
ex-fur mil
CCAÇ 412 - 3º Pelotão
9 abr 1963 / 29 abr 1965
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Notas do editor:

(**) Último poste da série > 4 de setembro de  2015 > Guiné 63/74 - P15072: (Ex)citações (289): A propósito de Casamansa: a Guiné-Bissau não devia alimentar orgulhos caducos e tem a obrigação de respeitar as fronteiras coloniais existentes, se quiser continuar a existir como país.

Guiné 63/74 - P15089: Em busca de... (260): José Carlos, taxista em Vila do Conde, ex-Soldado Atirador do 2.º Pelotão da CCAÇ 4152, procura camaradas (Vasco Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Santos (ex-1º Cabo Op Cripto da CCAÇ 6 (Onças Negras), Bedanda, 1972/73), com data de 1 de Setembro de 2015:

Olá amigo Carlos,

Espero que esteja tudo de bem contigo e com a Família.

Estou a entrar em contacto a fim de te solicitar um favor, ou seja, a possibilidade de publicares uma foto de um conterrâneo nosso que esteve em Gadamael no ano de 1973/1974. Será possível?

Em caso afirmativo o que ele pretende é restabelecer contacto com algum amigo do Pelotão/Companhia dele. Para tal, anexo uma foto (ele é o ultimo na primeira fila à esquerda, com o prato na mão).

José Carlos, de pé, à direita da foto

José Carlos

Dados:
José Carlos (Taxista em Vila do Conde)
Ex-Soldado Atirador do 2.º Pelotão da CCAÇ 4152
Contacto: tlm 966 852 568

Desde já os meus agradecimentos e até uma nova oportunidade.
Abraço
Vasco Santos


2. Comentário do editor:

Caro Vasco, faz chegar ao camarada José Carlos que na nossa tertúlia há 2 camaradas da CCAÇ 4152/73, a saber: o ex-Alf Mil Carlos Milheirão e o ex-Alf Mil José Gonçalves, este radicado no Canadá.

Em tempos um outro camarada da 4152, de nome Manuel Joaquim Gonçalves, de Viana do Castelo, tentou também através do nosso Blogue  encontrar camaradas seus.

Se o José Carlos quiser os contactos destes 3 companheiros de Companhia, fá-los-ei chegar até ele por teu intermédio.

Fico ao dispôr
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14756: Em busca de... (259): Fotos do cinema de Bafatá, c. 1970 (António Martins, arquiteto, Bigarquitectura, Braga)

Guné 63/74 - P15088: Convívios (705): Encontro do pessoal do Hospital Militar 241 de Bissau (1966 a 1972), dia 3 de Outubro de 2015, na Covilhã (Manuel Freitas)

1. Em mensagem do dia 8 de Setembro de 2015, o nosso camarada Manuel Freitas (ex-1.º Cabo Escriturário do HM 241, Bissau, 1968/70), dá notícia do próximo Encontro Anual do Pessoal daquele Hospital.

Bom dia Luís Graça, 
Pedia-te o favor, a exemplo dos anos anteriores, que publicasses no blogue este anuncio.
Obrigado pela atenção.

Um abraço 
Manuel Freitas





COVILHÃ DIA 03 OUTUBRO DE 2015 

Convívio dos ex-militares do HM 241 dos anos de 1966 a 1972

Local: Hotel Turismo da Covilhã 
Contacto: Manuel Freitas - tlm. 964 498 832 
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Nota do editor

Último poste da série de 3 de setembro de 2015 > Guné 63/74 - P15069: Convívios (704): Convite da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira e do núcleo local da Liga dos Combatentes para a cerimónia de inauguração do Monumento aos Combatentes do concelho: sábado, 5 de setembro de 2015, pelas 9h30

Guiné 63/74 - P15087: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (19): De 26 de Julho a 4 de Agosto de 1973

1. Em mensagem do dia 5 de Setembro de 2015, o nosso camarada António Murta, ex-Alf Mil Inf.ª Minas e Armadilhas da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74), enviou-nos a 19.ª página do seu Caderno de Memórias.


CADERNO DE MEMÓRIAS
A. MURTA – GUINÉ, 1973-74 

19 - De 26 de Julho a 4 de Agosto de 1973


Da História da Unidade do BCAÇ 4513: 

JUL73/26 – Forças da 1.ª CCAÇ durante a acção “ORIENTE”, estenderam os patrulhamentos das NT mais para o interior, aproximando-se do R. BAPO. Na região (XITOLE 1 F 5-13) referenciaram rajadas e rebentamentos de AA. Segundo a direcção de SALANCAUR JATE (GUILEGE 3 G 3-23) aquando da passagem S/N (sul/norte) de um avião não identificado.

JUL73/27 – Forças da 3.ª CCAÇ durante a acção “ORDENAR” percorreram a antiga picada MAMPATÁ-BOLOLA fazendo C/PEN (contra penetração) na região do R. BAPO. Sem contacto.

JUL73/28 – (...)

JUL73/30 – GR IN não estimado flagelou durante dez minutos o Destacamento de Cumbijã com 20 granadas de canhão S/R 82, sem consequências. As NT reagiram com artilharia.

JUL73/31 – Inicia-se com forças da 1.ª, 2.ª e 3.ª CCAÇ e CCAV 8351 a acção “OUSADIA”, orientada para a região do UNAL. Neste dia é deslocada para a região do pontão destruído do R. HABI, a CCAV 8351 com a missão de o proteger na sua reconstrução. É reforçada com o PEL SAP, o PEL REC da CCS, encarregadas da sua reconstrução. 

[Vai começar a “festa”, digo eu. E sublinho o anúncio a negrito].

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[Ainda que possa interessar apenas a uns quantos e a mim próprio, a História da Unidade do BCAÇ 4513 e o Resumo dos Factos e Feitos, são documentos valiosos pelo registo conciso e sistemático de acontecimentos em que participámos e que marcaram as nossas vidas, mas dos quais a nossa memória apenas guardou o mais relevante, deixando que se esfumassem os detalhes. Há mesmo informações e situações datadas de que só agora tomo conhecimento. 
Por tudo isso transcrevo na íntegra a descrição da SITUAÇÃO GERAL referente ao mês de Agosto/73, período conturbado e de grandes alterações no sector (S 2), e a seguir transcreverei apenas as actividades mais relevantes que, no mês de Agosto é quase tudo. Continuarei a acrescentar as minhas notas, memórias e histórias, à frieza militar dos registos da H. da Unidade].


Da História da Unidade do BCAÇ 4513 – Período de 01AGO a 31AGO73: 

SITUAÇÃO GERAL 

Este período foi particularmente movimentado no que diz respeito às NT, pois que além da apresentação do novo Comandante do Batalhão, se processou a saída do Sector S-2 do BCAÇ 3852, que seguiu para BISSAU para regressar à Metrópole, sendo substituído na quadrícula desde 10AGO73 pelo BCAÇ 4513, e ainda a entrada no Sector do BCAÇ 4516 que substituiu na intervenção o BCAÇ 4513.

Operacionalmente, o período iniciou-se com a acção “OUSADIA” que, tendo como objectivo o UNAL, a 1.ª fase consistiu em reconstruir um pontão sobre o R. HABI, próximo de LENGUEL, recentemente destruído pelo IN, não se tendo atingido o objectivo por terem sido detectados os trabalhos no pontão havendo consequentemente do outro lado do rio uma forte resistência, sendo o pontão novamente destruído, durante o contacto.

Nesta acção o IN sofreu 3 mortos confirmados e mais baixas prováveis e as NT 5 feridos ligeiros. Insistindo numa acção sobre o UNAL foi montada a Op. “OUSADIA SATÂNICA”, segundo a direcção N/S a partir de BUBA, que não resultou por não haver guias para aquela região e por o terreno nesta época de chuvas intensas e contantes afectar extraordinariamente a possibilidade de progredir e mesmo de orientação.

Não obstante a quantidade enorme de colunas auto que houve que fazer a BUBA para levar o BCAÇ 3852 e trazer o BCAÇ 4516 com todos os seus materiais, e não obstante ainda o treino operacional do BCAÇ 4516 hipotecar efectivos apreciáveis deste BCAÇ, procurou-se estender os nossos patrulhamentos a quase todas as regiões do Sector e montar emboscadas nos locais propícios tendo no dia 12AGO, a 1.ª CCAÇ interceptado uma coluna de reabastecimentos e provocado baixas não estimadas, capturando 3 elementos da população.

Referem-se como actividades mais importantes:

AGO73/02 – Em 0208AGO73 GR IN estimado em 100 / 120 elementos flagelou as NT quando durante a acção “OUSADIA” pretendíamos atravessar um pontão sobre o R. HABI próximo de LENGUEL. Do contacto resultou que o IN sofreu 3 mortos confirmados e outros mortos e feridos prováveis, tendo as NT sofrido 5 feridos ligeiros. O pontão referido foi destruído pelo IN, impossibilitando a passagem do R. HABI.

[Sobre os nossos “feridos ligeiros” cabe dizer que, alguns, não eram assim tão ligeiros: houve um alferes – já não recordo de que Companhia -, que ficou bastante ferido num olho com a terra projectada pelas rajadas no chão e, um dos muitos adolescentes civis que fazia de carregador, mesmo ao meu lado, ficou com uma mão furada de um lado ao outro].

Mapa da região de Cumbijã com referências ligadas à operação “Ousadia”

Das minhas memórias:

2 de Agosto de 1973 - (quinta-feira) – Ousadia insana a caminho do Unal; O meu 5.º confronto.

Estava em marcha a operação de maior envergadura em que participei. O destino era o Unal, considerado por muitos como um “santuário” do PAIGC. Mas esta operação também era considerada por alguns como uma aventura condenada ao fracasso, desde logo pelo modo de deslocação das tropas para o Unal, apeada e em fila indiana pelo interior da mata, e pela época do ano em que se realizou. Todavia, estávamos ali homens e armamento, por certo, capazes de assaltar com sucesso aquela base, ainda que, certamente, à custa de muitas baixas.

Assim, mal passámos a ombreira da porta, e eis que nos fazem uma espera do outro lado rio barrando-nos o avanço. É certo que, para chegar ali, tínhamos andado metade do caminho para o Unal mas, em termos de dificuldades, ainda estávamos a sair de casa.

O início do confronto foi bastante desigual, pendendo para eles a vantagem de estarem à nossa espera do outro lado do Rio Habi, com todo o dispositivo apto a atacar, e tendo à sua frente o campo aberto da bolanha. E fizeram-no quando os nossos da frente atravessavam essa bolanha em direcção ao rio, após terem saído da mata, por onde se prolongava um cordão humano desmesurado mas sem condições para reagir. Até que conseguíssemos trazer para a orla da mata os morteiros e bazucas dos primeiros grupos, eles iam alvejando a frente da coluna e dispersando pela mata as suas granadas, que rebentavam um pouco por todo o lado de mistura com rajadas de armas automáticas. Quando abrandou o ataque e eles começaram a debandar, concentrámos na orla a maioria dos morteiros de 60 e 81 mm e as bazucas das nossas forças, batendo a retirada deles quase até ao esgotamento das munições.

Pela primeira vez senti que, por um triz, me vazavam o crânio, obrigando-me a assistir ao resto do confronto lá de cima, junto dos anjinhos... Estava de pé, espalmado numa árvore a cerca de uma dezena de metros da orla da mata, tentando descortinar movimentos e posições do outro lado do rio. A folhagem dessa árvore roçava-me a cabeça e quase me ocultava a cara. Num instante, o zunir de uma rajada cortou essa folhagem e fê-la cair por mim abaixo, e eu atirei-me instintivamente para o chão com a garganta numa secura. Outros tiveram menos sorte e saíram feridos, principalmente na bolanha.

A meio da manhã e quase sem munições para os morteiros e com feridos, é feito um contacto para o Comando dando conta das dificuldades. Mandaram-nos aguardar para avaliarem a situação. A demora na chegada de ordens pareceu-me um acto punitivo, mas talvez fosse só o tempo de conferenciarem com o Comando-Chefe... Finalmente mandaram-nos regressar mas, à chegada a Cumbijã, como um balde de água fria, recebemos a informação de que sairíamos cedo no dia seguinte para Buba em viaturas, a fim de relançar a operação a partir daí com o mesmo objectivo mas com o nome melhorado. No estado físico em que me encontrava, tal como a maioria -, perante essa perspectiva, senti-me desfalecer.

“Ousadia Satânica”: estava muito bem posto o nome da operação seguinte. Mas já não era para mim.


Da História da Unidade do BCAÇ 4513: 

AGO73/04 – Em 041710AGO73, forças da CCAV 8351, encontraram na região (GUILEGE 3 I 6-64) o seguinte material:
7 GR/RPG-7; 10 GR/RPG-2; 3 GR/LGF; 2 tambores/armas autom.; 7 cargas/RPG; 4 minas A/Pess; 5 disparadores MUV; 6 cargas de trotil para minas A/pess; 2 cartuchos/GR MORT; 1 espoleta M6 BIU 17-68.

 - Op. “OUSADIA SATÂNICA”

Depois de se concentrarem em BUBA as três CCAÇ/BCAÇ 4513 durante o dia 3AGO, no dia 4 deu-se início à operação que visou atingir o UNAL, progredindo na direcção N/S. Foi ainda empenhada nesta operação um agrupamento do BCAÇ 3852 constituído por 2 GR COMB/CCAÇ 3398 mais 1 GR/COMB/CCAÇ 3400, [estas tropas do BCAÇ 3852 com a comissão mais do que terminada, relembro eu], destinado a fazer base temporária em BOLOLA, para colaborar nas evacuações e nos reabastecimentos das nossas companhias.


Das minhas memórias:

4 de Agosto de 1973 – (sábado) – Estadia forçada em Buba; O caso do 1.º Cabo Artilheiro.

Excluindo o curto período em que estive em Nhala a comandar a Companhia, pela primeira vez não acompanhei o meu grupo numa saída para o mato, neste caso na famigerada operação Satânica. Não que tivesse paludismo, micoses ou matacanha, mas porque estava no limite das forças: astenia, somente... Aquilo não era para meninos, repito, e a meu favor só tinha a idade. Como eu ficaram muitos em Buba, com as maleitas mais diversas. E o meu grupo saiu muito desfalcado para a operação, comandado pelos meus dois furriéis, valorosos e sempre prontos, e a quem devo enorme gratidão para além do apreço e reconhecimento que sempre tive.

Chegados de véspera a Buba, deve ter sido enorme o reboliço para acomodamento de todas as companhias, para o rastreio dos inoperacionais, para os detalhes da logística, enfim..., não recordo nada disso, tão pouco a saída das tropas para a operação mas, estranhamente, a ansiedade pelo que poderia acontecer lá longe, a sensação de vazio após a saída das tropas e o sentimento desconfortável, a roçar o remorso de ter ficado, nunca mais esqueci. Um ou outro episódio menor, também ficou para sempre, como aquele incidente com o Major D. M., mais um, quando me cruzei com ele junto das camaratas dos graduados. Cruzámo-nos, cumprimentámo-nos, ainda demos uns passos mas depois ele parou e chamou-me para implicar com a minha barba de vários dias. Incrédulo, ainda me tentei justificar com a operação de anteontem, o ter vindo para Buba para nova operação, obviamente sem apetrechos de barba porque não vinha em lazer, enfim, já muito zangado rematei com uma exclamação agressiva e pouco ortodoxa que me coíbo de reproduzir aqui. Áspero, interrompeu-me o fluxo de atoardas:
- Faça a barba imediatamente e apresente-se no meu gabinete!

E eu não tive outro remédio, senão ainda me iam pôr lá onde decorria a operação... A verdade é que sempre fui avesso aos exageros dos regulamentos militares, embora me esmerasse no aprumo quando nada justificasse o contrário, assim como no zelo e no empenho da minha actividade. Mas fora da tropa nunca aceitaria uma ordem daquelas nem a maior parte do que vem expresso no RDM, onde existe matéria a rodos que é ofensiva da dignidade, sobretudo para quem integra as Forças Armadas por ser obrigado. Ainda assim, pela minha falta de correcção, renovo publicamente o meu pedido de desculpas ao Sr. Major.

Um outro episódio que nunca mais esqueci, passou-se em Bissau em Agosto de 1974, um ano depois destas operações, mas que sempre relacionei com Buba e com o fracasso destas e de outras operações. Então, começando por Buba: enquanto decorria a operação “Ousadia Satânica”, eu almoçava na messe com outros militares quando vieram interromper o almoço ao Major D. M. para que ele fosse ao posto de rádio com urgência. Se não me trai a memória, neste e noutros detalhes, tenho ideia que entrou em acção o obus 14 ainda no decorrer do almoço e todos perceberam a urgência do apelo e que algo estaria a correr mal lá para os lados da operação. Possivelmente pediram para ser batidos com obus pontos concretos da região.

Em Bissau, na data referida acima, eu encontrava-me a aguardar avião para as derradeiras férias na Metrópole. Quase noite, deambulava sozinho nos limites da cidade, na estrada que ia para o aeroporto, quando entrei num bar – ou café? -, para comprar tabaco ou beber uma cerveja, já não recordo. Só depois de ter entrado me apercebi do ambiente penumbroso e pouco acolhedor. Já um pouco incomodado encostei-me ao balcão para pedir qualquer coisa com a intenção de não demorar ali. A algazarra nos fundos escuros do estabelecimento fez-me virar o olhar e perceber que os clientes eram todos guineenses ainda jovens. Depois de os olhar fiquei com a sensação de que começaram a sussurrar e, de facto, logo a seguir, um levantou-se e disse de lá:
- Alferes Murta!

Olhei de novo mas meio perplexo, pois estava à civil e porque não reconheci ninguém naquela obscuridade. Então o indivíduo dirigiu-se para mim e, com ar de quem reencontra um amigo amnésico, perguntou:
- Então não me reconhece de Buba? Eu conhecia-o bem de Buba. Eu era 1.º Cabo do obus de lá, não se lembra de mim?

Claro que não lembrava. Disse-lhe que não era de Buba embora por lá passasse às vezes, mas aquela intimidade começou a deixar-me mal disposto. Mesmo assim, ainda encetámos uma conversa que eu queria que fosse breve, não lhe dando grande saída. Falou do aquartelamento, dos nomes de militares que ele referia como se fossem todos íntimos, lugares comuns sobre a tropa e, de súbito, orgulhoso e como se fizesse uma declaração que ia agradar aos dois, diz-me que era e que sempre fora membro do PAIGC. Tive um sobressalto e pus-me em guarda, ainda na dúvida de que fosse tudo bazófia. E se não fosse? Que acções teria executado em obediência ao PAIGC e em prejuízo das nossas tropas? Não cheguei a saber porque a conversa descambou: começou-se a falar das tropas especiais e dos pelotões de milícia que tinham combatido ao nosso lado e eu, conhecedor de que muitos destes se recusavam a entregar as armas, vergonhosamente abandonados pelas autoridades portuguesas, - militares e políticas -, quis saber o que pensava sobre a resolução deste problema que iria afectar milhares de combatentes guineenses. (Quando embarquei para Portugal o assunto estava longe de estar resolvido). Respondeu-me que os chefes dessas revoltas seriam todos fuzilados, mas que não iriam fazer mal a mais ninguém. Já fora de mim disse-lhe que a sorte desses combatentes era que a opinião dele não contaria para nada, era nula, revanchista e primária. Julgo que ainda lhe perguntei se o que acabara de dizer fazia parte da ética e dos princípios, dos lemas e das palavras de ordem do PAIGC, mas eu já só queria era virar-lhe as costas e sair dali. E foi isso que fiz.

Mas todos sabemos o que aconteceu. Este incidente, não tendo abalado em nada as minhas convicções, até por ter envolvido um actor insignificante, foi como que uma premonição. Mantenho as convicções, mas ficou definitivamente abalada a minha confiança nas causas aparentemente nobres, passando a considerar ao mesmo nível os responsáveis dessas causas e o indivíduo que se dizia 1.º Cabo de Buba.

Segue-se uma série de fotografias de Buba (reproduções de slides) provavelmente todas de 1974, e que podem agradar aos muitos camaradas que antes de mim por ali passaram.

Foto 1: Entardecer em Buba vendo-se o rio ao fundo. 

Foto 2: Entardecer em Buba: Vista do aquartelamento a partir do rio. 

Foto3: Passeantes ao fim da tarde. 

Foto 4: Idem. 

Foto 5: Menino de Buba e tabanca. 

Foto 6: Um aspecto da tabanca. 

Foto 7: Monumento do Pelotão de Morteiros 2138 – BC 10 / Jullho69 – Junho71. 

Foto 8: Instalações que me parecem ser o refeitório de oficiais e abrigo. 

Foto 9: Bar de oficiais e camaratas. 

Foto 10: O meu grupo de combate frente à capela numa desfocagem posterior ao 25 de Abril/74.

(continua)

Texto e fotos: © António Murta
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Nota do editor

Último poste da série de 1 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15062: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (18): De 8 a 21 de Julho de 1973