terça-feira, 22 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15141: Ao fim de 40 anos foi-me imposta a Medalha Comemorativa das Campanhas, dia 17 de Setembro de 2015, no Regimento de Transportes (António Branco)

 
 1. Mensagem do nosso camarada António Branco (ex-1.º Cabo Reab Mat da CCAÇ 16, Bachile, 1972/74), com data de 18 de Setembro de 2015:

Após quarenta anos do regresso da comissão cumprida na Guiné, na CCAÇ 16, foi-me atribuída a Medalha Comemorativa das Campanhas, numa breve mas simbólica cerimónia realizada ontem no Regimento de Transportes.




Descrição:
Anverso: emblema nacional rodeado de um listel circular com a legenda «CAMPANHAS E COMISSÕES ESPECIAIS DAS FORÇAS ARMADAS PORTUGUESAS», em letras de tipo elzevir, maiúsculas, a legenda cercada de duas vergônteas de louro, frutadas e atadas nos topos proximais com um laço largo; encimando este conjunto, uma coroa mural de cinco torres.
Reverso: disco tendo, na parte superior, uma Bandeira Nacional; sobrepostas a ela, e medindo quase todo o diâmetro, as figuras de um soldado do Exército, à dextra, um soldado da Força Aérea, ao centro, e um marinheiro da Armada, à sinistra, de pé e firmados num pedestal; o disco rodeado da legenda «ESTE REINO É OBRA DE SOLDADOS», em letras de tipo elzevir, maiúsculas, num listel circular, rematado inferiormente por um laço largo; encimando este conjunto, uma coroa mural idêntica à do anverso.

António Branco
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Guiné 63/74 - P15140: O nosso livro de visitas (185): O nosso leitor Lourenço Silveira Moreno Lemos Gomes sobrevoou Moçambique para honrar a memória de seu tio, Piloto-Aviador de Alloette 3, abatido em 24 de Setembro de 1972 perto de Mueda

1. Mensagem do nosso leitor Lourenço Silveira Moreno Lemos Gomes, com data de 10 de Setembro de 2015:

Caro Luís Graça
Tenho por vezes feito algumas buscas na internete sobre o meu falecido Tio. Era alferes piloto de Aloutte 3 em Mueda, tendo sido alvejado o seu aparelho e posteriormente despenhado já próximo do Aeródromo de Manobra 51 no dia 24 de Setembro de 1972.

Sendo eu também aviador, em 2007 aluguei um avião Cessna 172 em J'burg e pilotei por todo Moçambique até Mueda.
Durante essa viagem fui deixando crescer o bigode em memória do meu Tio (alcunha bigode de milho) acabando por cortar o mesmo já em Mueda (usando a água da chuva que pairava sob o capot do meu avião ) simbolizando o seu desaparecimento.

Junto algumas fotos do P1 1971 e dos seus colegas de armas.

Cumprimentos e parabéns pelo seu blog e esforço.
Lourenço Silveira Moreno Lemos Gomes








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 Nota do editor

Último poste da série de 26 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P15042: O nosso livro de visitas (184): António Mário Leitão, natural de Ponte de Lima, ex-fur mil, Farmácia Militar de Luanda, delegação nº 11 do LMPQF - Laboratório Militar de Produtos Químicos e Farmacêuticos, Angola, 1971/73

Guiné 63/74 - P15139: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (21): De 2 a 25 de Setembro de 1973

1. Em mensagem do dia 19 de Setembro de 2015, o nosso camarada António Murta, ex-Alf Mil Inf.ª Minas e Armadilhas da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74), enviou-nos a 21.ª página do seu Caderno de Memórias.


CADERNO DE MEMÓRIAS
A. MURTA – GUINÉ, 1973-74

21 - De 02-09 a 25-09-1973

Das minhas memórias:

2 de Setembro de 1973 – (domingo) – Notas de Nhala; Nova incursão ao Unal; Estou “apanhado”

“Ontem à noite, desde as 22h30 e até hoje às 7 da manhã, ouviram-se ao longe rebentamentos poderosos de que não conseguimos saber a origem”.

Pelo leio agora na História da Unidade do BCAÇ 4513, calculo que esses rebentamentos fossem provenientes dos nossos obuses a partir de Buba ou Cumbijã ou de ambos, a bater a zona da nova operação para o Unal. A História da Unidade não refere batimentos de zona, mas refere o movimento de tropas para Buba no dia 1, à semelhança dos preparativos da operação falhada “Ousadia Satânica”. Esta chamar-se-ia “Lance Pertinente” e tinha o mesmo objectivo: chegar ao Unal, (e dar treino operacional às tropas do BCAÇ 4516). Tal como a operação anterior, envolveu grande número de tropas, quer do BCAÇ 4516, 4513, CART 6250, CCAV 8351, enfim, tal como a anterior fracassou pelos mesmos motivos: tudo inundado, rios intransponíveis, chuvas constantes e intensas, falta de trilhos e de guias, fora a grande distância a percorrer, como refere a H. da U.

Desta vez não fui chamado a participar e, ainda que fosse, certamente não estaria em condições. A verdade é que o aconchego do “lar” só por si não resolve tudo e, ainda não refeito de toda a actividade anterior ao regresso a Nhala, e eis que nos defrontámos com patrulhamentos, contra penetrações, protecção a uma infinidade de colunas auto – com as cansativas picagens – e, ainda, desfalcados de um grupo de combate da nossa Companhia envolvido na referida operação.

*** 

Estava a ficar “apanhado”. Numa nota de 05-09-73, dou conta de situações anormais no meu comportamento, fruto de grande abatimento e tensão nervosa que, parece, não afectava só a mim: deu-me para matar macacos-cães. A primeira vez, no regresso apeado de um patrulhamento na picada de Mampatá-Nhala imitei os macacos, chamando um grande grupo que se ouvia à distância, até os ter na mira. Depois matei um casal de adultos. Como se não bastasse, serviram para, como se fossem vivos, fazer de manequins com armas, rádios, etc., para depois fotografar. Todos acharam muita graça e participaram. De outra vez, em andamento e de pé no Unimog da frente como era meu hábito, disparei uma rajada para uma família inteira que apareceu ao longe numa recta. Felizmente não matei nenhum. Só mais tarde me dei conta da estupidez e, hoje, à luz da razão e da cultura que tanto prezo de preservação das espécies e da natureza em geral, acho quase inacreditável que tenha sido eu a fazer aquilo. Eu, que até sou contra as touradas...

Contudo, acho que o fazia para descarregar tensões que, no limite, podiam propiciar consequências piores. Foi por isso também que, por duas vezes pelo menos, pedi autorização ao Comandante de Companhia para rebentar uns petardos de trotil, de maneira a aliviar essa tensão. Habituado que estava a rebentamentos, desde o curso de minas e armadilhas, passando pelo aperfeiçoamento em Bolama (onde abundava o material que nos faltou no curso em Tancos e em que, no final, tivemos de rebentar grande quantidade de material sobrante), e passando pelos episódios dos últimos meses nas regiões de Cumbijã e Nhacobá, sempre que faltavam rebentamentos começava a acumular tensão, como os drogados privados de droga: ninguém me aturava. Então, autorizado, ia ao paiol e colhia a dose conforme o estado de ansiedade. Ia à tardinha para o lado da fonte de Nhala, já deserta, e colocava um petardo de trotil atrás de uma grande árvore. Lançava fogo ao rastilho do detonador, passava para o outro lado da árvore e, de frente para ela e de costas para o aquartelamento, começava a recuar enquanto aguardava a explosão. Uma vez a pancada de ar no peito foi tão violenta que recuei, talvez três metros, sem pôr os pés no chão. Depois regressava como se não fosse nada. Era de malucos..., mas também já ninguém ligava. O que podia significar estarem tão malucos como eu.

Tenho a noção do ridículo e acho que não devia contar isto. Mas passou-se assim e, se não contasse, pareceriam sempre exageradas as alusões aos estados de espírito depressivos, de ansiedade e tensão.

Seguem-se duas fotografias comigo e com os meus camaradas de Nhala.

Foto 1: Nhala, fins de 1973 ou 74 - Alferes Tibério Barros (com a minha bengala); Alferes Carlos Lopes; Capitão Braga da Cruz e eu. 

Foto 2: Nhala, 23 de Abril de 1974, dia da visita do General Bettencourt Rodrigues a Nhala. Eu com a minha bengala; Capitão Braga da Cruz e Alferes Campos Pereira. (Atente-se na data).


Da História da Unidade do BCAÇ 4513: 

(...)

SET73/07 – Forças da 2.ª CCAÇ/4513 durante a acção “OGIVAL” entraram em contacto com um GR IN ESTM em 20/50 elementos. O IN reagiu com RPG e armas automáticas retirando-se de seguida. No reconhecimento efectuado capturou-se uma granada de RPG-2 e verificou-se a existência de extensas manchas de sangue. As NT sofreram um ferido ligeiro. Forças da 3.ª CCAÇ/4513 e CCAÇ 18 patrulharam a região do R. BALANA.

SET73/08 – Forças da 1.ª CCAÇ/4513 detectaram em região XITOLE 2 F 0-30 passagem de um GR IN estimado em 40/50 elementos no sentido N/S na madrugada deste dia.

(...)

SET73/11 – Morreu em BISSAU o CHERNO RACHID, homem de uma influência enorme sobre todo o povo FULA. Religioso e poeta gozando de enorme prestígio, mesmo para além fronteiras. (dos Factos e Feitos do BCAÇ 4513). [Sublinhado meu a negrito]

[CHERNO RACHID: Fez há dias 42 anos que morreu essa figura eminente do Povo Fula. HOMEM GRANDE entre os maiores, era uma sumidade e uma autoridade em várias áreas do conhecimento e da sensibilidade humana. Tudo acolhido na sua grande humildade. Não preciso de mais laudatórios porque, com mais conhecimento de causa, o fizeram já aqui no nosso Blogue, camaradas como o Vasco da Gama, Arménio Estorninho, Luís Graça, o saudoso Pepito e o Beja Santos, entre outros por certo. São quase uma dezena de “postes”. Mas não quis deixar passar em claro esta data, talvez pela mágoa de nunca ter tido oportunidade de o conhecer pessoalmente. Ao menos, mesmo sem ser crente, direi hoje: Alláhu Akbar - 18 de Setembro de 2015].

SET73/13 – Forças da 2.ª CCAÇ/4513 executam patrulhamento conjugado com C/PEN (contra penetração) na região de PONTE R. CORUBAL sem contacto.

- Forças da 3.ª CCAÇ/4513 executam patrulhamento conjugado com C/PEN na região do R. BALANA sem contacto.

- Forças da CART 6250 executam C/PEN na região de MISSIRÁ sem contacto.

(...)

SET73/22 – O Comandante do Batalhão acompanhou uma patrulha à região de CHICAMBILO. - Forças da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 durante a acção “ORTIGA” excutam patrulhamento conjugado com C/PEN na região da confluências do R. CORUBAL-R. UUGUIUOL sem contacto.

 - Forças da CART 6250 durante a acção “OÁSIS” executam patrulhamento conjugado com C/PEN na região de BOLOLA sem contacto.

(...)

SET73/25 – Forças da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 durante a acção “OUSADIA” executam patrulhamento e C/PEN no R. UUGUIUOL sem contacto.

 - Forças da CART 6250 durante a acção “ORIENTE” executam patrulhamento e C/PEN em MISSIRÃ sem contacto.

(...)

Das minhas memórias: 

25 de Setembro de 1973 – (terça-feira) 

Histórias marginais (2) – A acústica da mata. 

A acústica da mata, e não os sons da floresta que nos encantavam mas faziam estremecer e ficar de alerta quando, subitamente, se suspendiam.

Por diversas vezes fiquei surpreendido e confuso, quando no interior da mata ouvi tiros ou outros sons não naturais, que eu sabia – ou vinha a saber -, haviam sido produzidos exactamente na direcção oposta. Mas havia outros, para os quais não encontrava explicação. Se o fenómeno não fosse testemunhado por todos os que me acompanhavam, caso andasse sozinho à caça, por exemplo, ficaria com dúvidas sobre a minha sanidade mental. Ou se não teria problemas de orientação e percepção. Acontece que, os dois casos mais flagrantes e problemáticos, ocorreram quando saímos para o mato em bigrupo, portanto, com cerca de quarenta homens a reconhecer o mesmo fenómeno.

Nesta data, num patrulhamento conjunto do meu grupo com o 1.º GComb do Alf. Campos Pereira para a região do Rio Uuguiuol, fomos surpreendidos por uma situação insólita: em plena mata começámos a ouvir bater chapa. Sons muito fortes e nítidos, que nos indicavam um sítio a não mais de cem metros à nossa frente. A primeira reacção foi mandar parar todo o pessoal e depois dialogarmos, eu e o outro alferes, tentando encontrar uma explicação lógica para a origem dos sons, face à nossa posição no terreno. Mas não encontrámos explicação nenhuma: estávamos de frente para o Rio Corubal mas a muitos, muitos quilómetros dele e tínhamos caminhado, de certo modo, paralelamente ao Rio Uuguiuol, mas também muito afastados. À nossa frente não havia nada a não ser mata. Então, admitimos que ao fundo da rampa que a mata ali fazia, coisa rara na região, estivessem elementos da guerrilha a montar - ou desmontar -, qualquer coisa em chapa. Decidimos fazer uma batida.

Rapidamente dispusemos os dois grupos, que até ali tinham caminhado em fila indiana, numa frente linear com mais de quarenta homens. Ocupámos os nossos lugares nos grupos e avançámos como para um golpe de mão, com as cautelas que a situação impunha. A mata era propícia, quase limpa como num eucaliptal, e as árvores intervaladas mas com bom porte para nos proteger. Como disse, o terreno tinha uma inclinação acentuada e a visibilidade era para vinte ou trinta metros.

Quando julgámos ter já ultrapassado em muito a distância que apontávamos como o local dos batimentos, parámos para avaliar a situação. É que, à medida que avançávamos, parecia sempre que era já ali adiante, sempre mais adiante. Por vezes cessavam os sons, mas logo recomeçavam com uma nitidez incrível. Vozes não se ouviam, mas jurávamos que estava ali gente. Como não havia sequer uma aragem, excluímos a hipótese de sons trazidos de longe, algures. Mas se fossem, de onde poderia ser? Resolvemos flectir para um dos lados a descida da mata e continuámos, sempre em linha, por mais umas centenas de metros. Parámos de novo e mandámos uma mensagem para Nhala para que chamassem o capitão ao rádio. Expusemos a situação e demos as coordenadas da nossa localização aproximada. Queríamos indicações do que estava à nossa frente, já que a carta que levávamos era curta. “Pelas vossas indicações, podem ser os sons da oficina auto do Xitole”, “Qual Xitole?! O Xitole é quase do outro lado do Mundo!”, “Não há mais nada na vossa frente”. Ponto final.

Ainda meio incrédulos, desistimos da batida e encetámos o regresso a Nhala. Mas com a certeza de estarmos muito longe do Corubal. Não havia o risco de cairmos ao rio inadvertidamente. E os sons ficaram lá.

*** 

Um outro caso, mais sério, e que podia ter acabado em tragédia

Destacados ainda em Cumbijã, saímos um dia com o grupo do Alf. Campos Pereira - por mero acaso outra vez com ele -, para os lados de Lenguel (ou Sabasó?). Fizemos um longo patrulhamento para a região que nos fora indicada, sem nenhuma anormalidade. Isto teria ocorrido antes de se iniciarem as chuvas, já que, no regresso e muito exaustos, resolvemos descansar ao longo do leito de um rio seco, por onde esticámos os dois grupos. A tarde já caminhava para o fim e preparávamo-nos para abandonar o local, de regresso a Cumbijã quando, inesperadamente, se deu um potente rebentamento numa das extremidades do longo cordão de homens. Surgiram dois ou três a correr em pânico, sem arma nem equipamentos, direitos a mim e ao outro alferes e, quase sem fala, apontavam para lá tentando explicar que fora quase em cima deles. Tudo se passou num ápice: como nos tinha parecido o rebentamento de uma granada de obus 14, mesmo se, a escassos quilómetros de Cumbijã não tivéssemos ouvido a “saída”, logo contactámos via rádio o Comando, não fosse a próxima cair em cima de nós. Se ainda fôssemos a tempo. Dissemos para suspenderem imediatamente os tiros de obus para a zona e demos a nossa posição. Para nossa estupefacção disseram-nos que se estavam a defender de um ataque turra com canhão S/R que, estava precisamente nas nossas costas...

Virámo-nos para trás, ainda no leito do rio e, sem querer acreditar, percebemos que eles estavam mesmo ali a disparar o canhão a não mais de duzentos ou trezentos metros, numa zona mais aberta e com uma estreita faixa de mata a separar-nos. Há quanto tempo estariam ali sem que nos ouvíssemos mutuamente? Como foi possível não ouvir os disparos do canhão mesmo ali? Parece inverosímil mas foi assim. Felizmente que éramos muitos a testemunhar, caso contrário pensaríamos que estávamos malucos. Felizmente também o obus 14 parou para evitar uma tragédia. Por pouquíssimo tempo, diga-se, pois assim que lhes demos a posição correcta do canhão S/R, com uns poucos disparos calaram-no definitivamente, enquanto nós, em passo de corrida, já fazíamos o caminho para o Cumbijã.

Penso agora, e todos podem pensar: então, estando ali, não aproveitaram para atacar o grupo dos guerrilheiros? Não. Decerto porque ignorávamos quantos eram, que armas tinham para além do canhão e também porque começava a fazer-se noite e ainda tínhamos muito para andar e, se até ali tínhamos passado despercebidos, não era a melhor altura para nos denunciarmos.

*** 

Seguem-se duas fotografias com as minhas queridas lavadeiras.

Foto 3: Nhala, 1973 – Rosa, a minha primeira lavadeira. Gostava dela porque era uma mulher serena e simpática. Excepto a lavar roupa: despedi-a com justa causa quando percebi que quase já não tinha botões na roupa.

Foto 4: Nhala, 1973 – Fátima com a sua bajudinha. Foi a lavadeira seguinte e até ao fim da minha comissão. Era uma doçura de mulher, sempre com um sorriso, afável e delicada. O seu marido era o meu guia preferido nas saídas mais complicadas: soldado milícia, guia competente, homem de muito aprumo e poucas falas, talvez porque não falasse quase nada de português. Na foto, sentado no chão, está o Brás, soldado do meu pelotão.

(continua)

Texto, fotos e legendas: © António Murta
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Nota do editor

Últimos dez postes da série de:

14 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14877: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (11): 23 e 24 de Maio de 1973

21 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14910: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (12): 26 de Maio a 8 de Junho de 1973

28 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14940: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (13): 9 a 14 de Junho de 1973, com baptismo de fogo a 13

4 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P14971: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (14): 15 a 18 de Junho de 1973

11 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P14993: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (15): 19 a 22 de Junho de 1973

18 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P15016: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (16): De 23 de Junho a 6 de Julho de 1973

28 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P15050: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (17): De 8 a 21 de Julho de 1973

1 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15062: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (18): De 8 a 21 de Julho de 1973

8 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15087: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (19): De 26 de Julho a 4 de Agosto de 1973
e
15 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15116: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (20): De 5 a 21 de Agosto de 1973

Guiné 63/74 - P15138: O nosso querido mês de férias (1): Maio de 1969: nessa altura o bilhete de ida e volta, na TAP, custava 4 mil escudos (Paulo Raposo, ex-alf mil Inf, MA, CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852, Galomaro e Dulombi, 1968/70)

1. Testemunho de Paulo Raposo (ex-alf mil inf, com a especialidade de minas e armadilhas, da CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852, Galomaro e Dulombi, 1968/70) (*)

Extractos de: Raposo, P. E. L. (1997) - O meu testemunho e visão da guerra de África.[Montemor-o-Novo, Herdade da Ameira]. Documento policopiado. Dezembro de 1997, pp. 31-35.(*)

[O Paulo Raposo com o pai, no Grande Hotel, em Bissau, numas miniférias; em maio de 1969, foi a vez do filho ir a Lisboa gozar sua licença de 30 dias]



FÉRIAS EM MAIO DE 1969

por Paulo Raposo


E chegou a altura das minhas férias. Eu recebia ao todo 6.600$00, dos quais ficava na Guiné com 2.200$00, e ainda me sobrava dinheiro pois não havia onde gastar. Os restantes 4.400$00 ficavam em Lisboa e o meu pai ia levantá-los à Estefânia. Nessa altura, o bilhete de ida e volta a Lisboa, na TAP custava 4.000$00 (**).

Pedi dinheiro ao meu pai, fiz a marcação das passagens, no Sr. Palma, o representante da TAP, em Bissau. De Bafatá para Lisboa fui na TAG [Transportes Aéreos da Guiné]. Ainda na pista e antes de embarcarmos no Heron, diz-me um rapaz que também seguia para Bissau, que aquele avião embora de alta segurança e usado para transporte do Eisenhower durante a guerra, tinha grande turbulência, mesmo com céu limpo. Julguei que ele brincava. Disse-me depois que era da PIDE. Mas era verdade. De Bafatá para Bissau, aquele avião parecia um canguru.

Chegado a Bissau, instalei-me no Grande Hotel para no dia seguinte, de madrugada, apanhar o avião para Lisboa. Com a excitação das férias, nada dormi naquela noite. De madrugada, levantei-me e tomei um táxi para o aeroporto de Biassalanca.

Conforme disse atrás, a TAP só ia a Bissau duas vezes por semana. Quando ia, era o dia do São Boeing. Toda a gente que prestava serviço em Bissau ia ver o avião, para ver quem chegava e quem partia, e encher os olhos com as meninas da TAP.

Já sentadinhos no Boeing 727, voámos para Lisboa. O voo durou 4 horas que nunca mais passavam. A alegria e a excitação eram tantas, que a bordo fechavam o bar. Vim a saber depois que isto era hábito especialmente nos voos da Guiné.

Curiosamente, depois do bar ter fechado, nós que já estávamos um bocado apanhados pelo clima, continuávamos a tocar nas campainhas do avião, mas sem sucesso.

Nesta altura dirijo-me ao que eu julgava ser um comissário, e digo-lhe que não são formas de tratar o pessoal que estava no buraco. Era o co-piloto, o Ricardo Silva Pires, e caímos nos braços um do outro. Hoje é um prestigiado comandante da TAP. Eu vivi até aos meus 10 anos na Rua João Penha, em Lisboa, e ele vivia mesmo do outro lado da rua. Chegava-se a casa dele através de umas escadinhas, onde julgo que hoje há um bar. Todos os dias o pai dele, que trabalhava na Papelaria Fernandes, nos levava para o Liceu Pedro Nunes.

Depois de dormitar um pouco para pôr em ordem o equilíbrio, chegámos por fim a Lisboa. Passada a alfândega, depois de termos escondido as garrafas de whisky, que custavam 75$00 na Guiné, lá estava toda a família e os amigos. Naquele tempo era assim. Menciono apenas alguns, a família Albarraque, Cardoso de Oliveira, Campos Rodrigues e Palma Carlos.

Meu pai mostrou-me o relógio dele. Desde a sua estada na Guiné ainda não tinha mudado as horas do relógio. Ainda não se tinha desligado da sua estadia em Bissau. Foi uma grande alegria ir para casa, tomar banho, dormir na minha cama, comprar o jornal, que subira de preço, para 1$50, e poder sair à rua sem perigo. Foram quatro semanas estupendas passadas no mês de Maio.

A 5.ª e última semana já não sabia ao mesmo. Comecei a contar os dias e novamente recomeçava a ansiedade. No princípio de Junho, à 1 da manhã, regressei no mesmo avião da TAP.

Durante estas férias morre a minha avó Ana, que vivia connosco. Parece que esteve à minha espera. Era uma Senhora muito especial, não sabia dizer mal de ninguém. Embora tivesse ficado privada de sair por efeito de uma trombose que tinha tido, tinha o quarto sempre repleto de visitas. Sempre foi assim toda a vida.

No aeroporto outra vez as despedidas, mas já não íamos para o desconhecido, já sabíamos o que nos esperava. De novo a família e os amigos de sempre a despedirem-se de nós. Vim a saber que depois de eu entrar para o avião, pois naquela altura assistia-se a tudo do varandim do 1.º andar do aeroporto, o meu pai ficou agarrado a uma coluna, a chorar como uma criança.

A viagem de regresso nada tinha de alegre. Dormi até chegarmos a Cabo Verde, de madrugada, para uma escala do avião. Comandava o avião o comandante Simões, visita de sempre da família amiga Simões de Almeida e Palma Carlos, relações que já vinham do tempo dos meus avós.
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Notas do editor:

(*) Excerto do poste de 21 de junho de 2006 > Guiné 63/74 - P889: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (11): Férias em Portugal

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15137: Inquérito online: "Durante a comissão nunca vim de férias à metrópole"... A responder até ao dia 28


Guiné-Bissau > Bissau > 2008 > Foto do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


A. Mensagem enviada hoje pelo correio interno da Tabanca Grande:

Assunto - Sondagem: "Férias na metrópole"

O nosso camarada Jaime Machado deu-nos o mote (*) para mais uma sondagem que vai decorrer até 28 deste mês... Ele veio de férias à metrópole duas vezes: chegou à Guiné em fevereiro de 1968, foi a casa matar saudades em novembro desse ano e depois voltou, segunda vez, em 1969, no "querido mês de agosto", o das festas, romarias e foguetes...

Houve quem conseguisse a proeza de vir 3 (três) vezes de férias à metrópole... A grande maioria dos camaradas da Guiné por certo nunca fez férias na metrópole... Quando muito (e mesmo assim era preciso ter-se "capim", "patacão"...,) ia-se uns dias até Bissau, para ver a "civilização", excecionalmente a Bubaque, Bijagós... Ou então ficava-se pelo quartel e pela tabanca...

Teoricamente toda a gente tinha direito a uma licença anual, para gozo de férias, de 30 dias (?)...Mas a viagem, "by TAP", até à metrópole,  custava uma pipa de massa (6 contos e tal, ida e volta?)...

Há, por certo, a este respeito,  muitas histórias por contar... Da ida para férias, das férias propriamente dias, do regresso.... bem como das férias... na tabanca. E até, seguramente a maioria, as histórias daqueles camaradas que não puderam dar-se ao luxo de fazer férias.... Terá havido de tudo:  gente que se casou, gente que não queria voltar, gente que não voltou...

Para já, camaradas, respondam, "on line", no canto superior esquerdo do blogue, à nossa sondagem... E depois mandem fotos e histórias alusivas ao tema... Prometemos abrir uma série nova...



Abraço grande. Luís Graça e demais editores


B. SONDAGEM: "DURANTE A COMISSÃO, NUNCA VIM DE FÉRIAS À METRÓPOLE"


1. Vim uma vez

2. Vim duas vezes

3. Vim três vezes

4. Fiz férias em Bissau

5. Fiz férias nos Bijagós

6. Fiz férias no interior

7. Nunca tive férias
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Nota do editor:

Vd. poste de 21 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15135: Álbum fotográfico de Jaime Machado (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70) - Parte XIV: a segunda vez que vim de férias, em agosto de 1969

Guiné 63/74 - P15136: Notas de leitura (759): "A Educação na República Democrática da Guiné-Bissau, Análise Setorial", editado, em 1986, pela Fundação Calouste Gulbenkian (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Outubro de 2014:

Queridos amigos,
Um relatório sobre a educação na Guiné-Bissau datada de 1985 vale pelo que vale. Há que reconhecer que os quatro autores, um deles que foi Primeiro-Ministro e é hoje figura proeminente das Nações Unidas, dois deles que foram ministros da educação, fizeram trabalho escorreito, não douraram a pílula, detetaram os principais estrangulamentos do sistema educativo e foram pragmáticos nas suas propostas quanto a linhas de orientação e estratégia.
Visitei escolas em Bissau reduzidas a escombros, os alunos levavam os bancos, as ardósias tinham que ser guardadas a sete-chaves no armazém para não conhecerem descaminho; e vi em Belel uma cubata modelo, com material elementar e um professor aprimorado, não com divas lágrimas com aquele quadro de dedicação, tirámos fotografia, é hoje património do blogue.
Se alguém, por motivos de estudo ou profissionais, precisar deste livro é só pedir.

Um abraço do
Mário


A Educação na República da Guiné-Bissau, 1985

Beja Santos

Editado em 1986 pela Fundação Calouste Gulbenkian, A Educação na República Democrática da Guiné-Bissau, Análise Setorial, é um relatório com conclusões de uma missão de estudo que se deslocou a este país em Março/Abril de 1985, constituída por António Guterres, Eduardo Marçal Grilo, Luís Lamas e Roberto Carneiro.

Os autores dão-nos o contexto socioeconómico da Guiné-Bissau, os dados referidos não andam distantes daqueles que aqui têm sido referidos para o período em apreço: desorganização de rede comercial, dramática falta de quadros capazes de enquadrarem uma política de desenvolvimento, falta de rigor, cujo exemplo mais gritante era o complexo Agroindustrial do Cumeré. Até à chegada do FMI, assistiu-se a uma degradação da situação financeira e cambial e a explosão do mercado paralelo. O desequilíbrio comercial conduziu a elevado défice da balança de transações correntes. A inversão no investimento deu-se a partir de 1982, passou a privilegiar a agricultura e as pescas e os setores sociais, como a educação, a saúde e a cultura. A partir de 1983 foi implementado um Programa de Estabilização Económica com forte desvalorização do peso, diminuição do poder de compra da população urbana e um significativo aumento dos preços ao produtor. Os resultados desta política foram considerados insatisfatórios e foram exigidos financiamentos adicionais para garantir as importações, vitais para o bem-estar da população.

Analisando os principais estrangulamentos do sistema educativo, os autores verificam uma baixa qualidade generalizada do sistema de ensino no país, destacando os fracos resultados obtidos em testes de português e matemática, as notórias dificuldades sentidas por bolseiros guineenses aquando da prossecução de estudos médios ou superiores no estrangeiro e baixa produtividade do sistema educativo. É notória a deficiente preparação do pessoal docente, alta concentração de professores profissionalizados na região de Bissau e as infraestruturas de formação de professores são reconhecidamente deficitárias. Apenas 11% da população fala português enquanto 44% se exprime em crioulo. O total de alunos no sistema de educação/formação não atinge 100 mil, a taxa de escolarização estava a degradar-se. A componente estratégica, ou a sua ausência, foi reconhecida pelos relatores: falta de perspetiva global de estudos quantitativos quanto às previsões das necessidades de mão-de-obra; inexistência de dados sobre situação e carreira dos diplomados do ensino técnico, etc. E comenta-se claramente: “Num país como a República da Guiné-Bissau onde a maioria da população exerce a sua atividade profissional no setor primário (agricultura, pecuária e pescas), a inexistências de esquemas de formação no domínio agrário particularmente ao nível dos 7.º, 8.º e 9.º anos de escolaridade, bem como a falta de componentes vocacionais nos 5.º e 6.º anos, constituem lacunas que no futuro poderão originar graves constrangimentos no processo de relançamento e desenvolvimento agropecuário”.

É abordado o parque das instalações educativas, refere-se que o equipamento no ensino básico elementar é caraterizado pela quase inexistência de material didático e quanto a mobiliário estima-se que mais de 85% não dispõem de lugar sentado, encontrando-se ainda o mobiliário existente em situação muito degradada. É também praticamente inexistente a manutenção e reparação dos edifícios.

Os relatores estudam o financiamento da educação e mostram-se favoráveis que se contenha a expansão do sistema em favor das melhorias de qualidade e produtividade. É após esta identificação de estrangulamentos que lançam uma perspetiva de médio prazo e a hierarquização de prioridades, com destaque para a racionalização dos meios, promoção da melhoria qualitativa do ensino básico e aumento de projeção do sistema de formação. Quanto à racionalização dos meios, enfatizam uma política de valorização dos recursos docentes, com total apoio da cooperação externa já que é esta que faz funcionar o sistema educativo. No tocante à melhoria qualitativa do ensino básico, consideram que tem um lugar nuclear a formação de professores, havendo que criar um mecanismo de seleção dos melhores e mais motivados, estabelecendo ações de superação e reciclagem orientando-as para a formação contínua. São observações que conjugam os manuais escolares, a revisão dos planos de estudo e conteúdos programáticos, etc. Passando para a maior projeção do sistema formativo, recomendam ações de formação destinadas a dotar o país dos quadros e da mão-de-obra qualificada necessárias ao processo de estabilização e desenvolvimento da economia guineense, o que pressupõe interação entre o plano, a educação e o emprego e recordam fatores críticos e apresentam medidas que possam substantivar a estratégia. Os fatores críticos quanto à racionalização dos meios prendem-se às restrições orçamentais, à falta de técnicos, à falta de operários especializados e de materiais de construção e as medidas passam por contenção orçamental nos anos seguintes, também com o objetivo de promover a formação de técnicos, a realização de estágios de pessoal nas empresas estrangeiras a construir no país, na construção de salas de aulas para substituir barracas, etc.

Os fatores críticos e as medidas propostas para a melhoria qualitativa do ensino básico atendem à deficiente preparação do pessoal docente, à degradação de instalações, inadequação dos programas e deficiências metodológicas, carência de materiais escolares, que deverão ter na sua contrapartida na elevação do nível de formação profissional, na reformulação dos programas, no aperfeiçoamento dos manuais escolares, entre outras. Por último quanto à projeção ou relevância do sistema da formação, os relatores recordam os fatores críticos com destaque para a falta de previsões das necessidades de mão-de-obra, fraco nível de ensino ministrado nos cursos de formação, inexistência de cursos no domínio agrário, etc., e sugerem medidas como sejam o reapetrechamento das oficinas do ensino técnico, elaboração de manuais, criação do ensino técnico agrário, definição de um plano e criação de condições para o lançamento de hortas escolares, lançamento de novos cursos (na primeira fase seria a construção civil, a eletromecânica e a administração), havendo que impulsionar uma comissão nacional de recursos humanos.

Este relatório aparece recheado de anexos com indicadores sociais, económicos e educativos, bem como um documento de trabalho sobre o sistema de formação técnico-profissional, planos de estudo dos cursos de aprendizagem e cursos de formação de professores de educação física e desporto. Igualmente importante se revelava o documento de trabalho sobre financiamento da educação e o documento de trabalho sobre custos de recuperação e expansão da rede escolar.

A qualquer confrade que gostar desta temática, em termos de história de educação, ou estiver ligado ao sistema educativo da Guiné-Bissau na atualidade, terei muito gosto em ceder este relatório, hoje uma peça rara.
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Nota do editor

Último poste da série de 18 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15124: Notas de leitura (758): “Organização económica e social dos Bijagós”, por Augusto J. Santos Lima e prefácio de Avelino Teixeira da Mota (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P15135: Álbum fotográfico de Jaime Machado (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70) - Parte XIV: a segunda vez que vim de férias, em agosto de 1969


Foto nº 3 > Jullho ou agosto de 1969:: Portugal, estuário do rio Sado, copm Setúbal ao fundo


Foto nº 4 > Jullho ou agosto de 1969:: Portugal, pemnsínsula de Setúbal, cabo Espichel


Portugal continental > 1969 > Vistas aéreas do território... Fotos tiradas do avião da TAP, Bissau-Lisboa... Permito-me discordar da legenda atribuída pelo autor à foto nº 4: para mim, trata-se do cabo Espichee e não da ponta de Sagres:  identifico o  o farol (1) e o santuário de nossa senhora do cabo Espichel (2)... (LG)


Fotos: © Jaime Machado (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: LG]


1. Mensagem de Jaime Machado, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, maio de 1968 / fevereiro de 1970, ao tempo dos BART 1904 e BCAÇ 2852) (*):

Data: 18 de setembro de 2015 às 18:51

Assunto: Álbum: férias 1969


[foto atual à direita; o Jaime Machado reside em Senhora da Hora, Matosinhos; mantém com a Guiné-Bissau uma forte relação afetiva e de solidariedade, através do Lions Clube; voltou à Guine-Bissau em 2010]



Caro Luis:

Peço desculpa pela demora na resposta [ao teu pedido de legendagem das fotos doo meu álbum relativas às férias de 1969] (*)..

De facto vim de férias à "metrópole" duas vezes.

Uma a que está retratada em algumas fotos em novembro de 68 e no ano seguinte voltei, talvez em julho ou agosto, não sei ao certo.

Sei que era verão,  tempo de romarias.

Recordo a impressão que me causavam os foguetes,  pois creio que tinha presente o único ataque que sofri em Bambadinca [, em 28 de maio de 1969].

Os foguetes causavam-me algum pânico de que os meus familiares se apercebiam.

Legendas:

Na foto 1 e 2 temos Lisboa
Foto 3 - Setubal
Foto 4 - Ponta de Sagres
Foto 5 - alem da asa do avão,  não sei precisar o local.

Um grande abraço

Guiné 63/74 - P15134: Parabéns a você (964): Coutinho e Lima, Coronel Art Reformado (Guiné, 1963/65; 1968/70 e 1972/73); Maria Teresa Almeida, Amiga Grã-Tabanqueira (Liga dos Combatentes) e Raul Albino, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2402 (Guiné, 1968/70)



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Nota do editor

Último poste da série de 15 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15113: Parabéns a você (963): Ribeiro Agostinho, ex-Soldado TRMS da CCS/QG/CTIG (Guiné, 1968/70)

domingo, 20 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15133: Fotos à procura de... uma legenda (61): uma negra entre a nobreza, o clero e o povo de Lisboa...


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4 > O Portugal do "antigo regime":  no altar-mor, o quadro com a família real, D. Maria I e o seu filho D. João VI entre a corte (do lado direito), e com  apresentação iconográfica de Lisboa e o seu povo (lado direito), vendo-se ao longe o Castelo de São Jorge.  Só uma dica: aqui viveu o D. João VI (1767-1826), depois do seu regresso do Brasil, e aqui morreu.

Na foto nº 3, chama-se a atenção  para o detalhe das três mulheres do povo,  um das quais uma espantosa negra, de olhar postado nas figuras régias... Um dos mais belos quadros da nossa pintura... Quem seria esta mulher de origem africana? Talvez uma guineense, descendente de escravos... Na realidade, Lisboa é e sempre foi , desde o séc. XV, uma cidade "africana"... [Henriques, Isabel de Castro; Leite, Pedro Pereira; e Fantasia, Ana (fotos) - Lisboa cidade africana:Percursos de Lugares de Memória. Lisboa: Marca d’ Água: Publicações e Projetos 1ª edição, Junho 2013  ISBN- 978-972-8750-17-6].  (*)


Lisboa > 12 de setembro de 2015  > Festival Todos 2015


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados.


1. É um dos mais belos palácios de Lisboa... E a sua capela, particular, é monumento nacional... Muita da nossa história, dos séc. XVIII e XIX, passou por aqui.

Quem andou na Academia Militar tem obrigação de conhecer o paço e a capela...  E quem gosta de Lisboa, tem o dever de a conhecer e divulgar... 

Fui lá há dias, numa visita guiada, no âmbito do Festival Todos 2015. Quis partilhar com os nossos leitores a surpresa, que foi para mim, a visão deste quadro... de que só conhecia os retratos da nossa realeza...  Digam lá de que paço e capela estou a falar ? (**) (LG)

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Notas do editor

(*) Vd. também RIJO, Delminda - Os Escravos na Lisboa Joanina. [Em Linha]. Investigação desenvolvida no âmbito do projecto “Espaços urbanos: dinâmicas demográficas e sociais (séculos XVII-XX)”, com referência PTDC/HIS-HIS/099228/2008, co-financiado pelo orçamento do programa COMPETE – Programa Operacional Factores de Competitividade na sua componente FEDER e pelo orçamento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia na sua componente OE. [Consult 20 de setembro de 2015]. Disponível em
http://www.ghp.ics.uminho.pt/eu/ficheiros%20de%20publica%C3%A7%C3%B5es/OS%20Escravos%20na%20Lisboa%20Joanina%20-%20Delminda%20Rijo.pdf


(...)  O escravo foi uma figura incontornável da Lisboa joanina. A amostragem utilizada, rica e vasta em informação, revelou-nos uma cidade com grande concentração de escravos, assimilados num intrincado de redes sociais com outros escravos, mas também com alforriados, livres e proprietários e seus familiares. 

Foram sobretudo negros e mulatos, nascidos em Lisboa em resultado da reprodução natural e da continuidade de Lisboa na rota dos navios negreiros, a maioria vindos da região de Angola e da Costa da Mina, muito embora os encontremos provenientes dos 4 cantos do mundo. Lisboa era ainda um mercado de grande absorção de escravos, mas já se avizinhavam grandes mudanças que levariam à abolição deste trato, pois em 1761 o Marquês de Pombal assinou a proibição de importação de escravos para o continente português e em 1773 a proibição de escravatura em Portugal Continental, só se extinguindo efectivamente em 1856. 

Sujeitos a muitas restrições e constrangimentos, encontramo-los enquadrados nas vivências de poderosos, na partilha do quotidiano alheio e a sofrer as vicissitudes dos mais desfavorecidos, nas ocupações, frequentemente as mais duras, com quem moravam paredes meias, a casar e a fundar por vezes extensas famílias, a baptizar os filhos, procurando neste acto estabelecer ou reforçar redes de solidariedade. Muito contribuiram para a ilegitimidade, sobretudo as mulheres. Perante a morte, procuraram a realização de qualquer bom cristão, com assistência e sacramentos e uma sepultura condigna, não obstante a sua cultura reprimida tenha ressurgido com exotismo e alegria sempre que a ocasião o propiciou, quer fosse num peditório, num círio ou na solenidade de uma procissão. Exímios na música e na dança, também o foram nas artes do oculto e adivinhação. 

A lealdade e os bons serviços puderam realizar o sonho da alforria e liberdade de muitos, nem sempre sinónimo de realização pessoal, significando por vezes o agravamento das condições de vida, sobretudo para os mais velhos. (...)


Guiné 63/74 - P15132: Memória dos lugares (319): Cais do Xime no tempo da CART 2520 (José Nascimento, ex-Fur Mil)

Cais do Xime - Adeus Xime


1. Mensagem do nosso camarada José Nascimento (ex-Fur Mil Art da CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) com data de 7 de Setembro de 2015:

Caro camarada Carlos Vinhal
O pessoal da Cart 2520, praticamente acompanhou toda a construção do cais do Xime, já não a tenho a certeza se desde o seu início, se já estava em construção quando lá chegámos.
O seu construtor foi um senhor que se dava pelo nome de Mendes e tinha a seu cargo uma equipa de nativos. Os seus aposentos eram junto aos dos oficiais e dizia-se que bebia uma garrafa de whisky por dia.
Lembro-me perfeitamente do ruído das máquinas a trabalhar, principalmente do bate-estacas a "enterrar" as estacas pelo lodo do rio abaixo e que formaram o suporte de toda aquela estrutura em madeira.
Recorri ao meu álbum de recordações fotográficas para enviar algumas fotos tiradas nesta estrutura, que nos foi muito útil para a descarga de víveres, bem como de munições. Este cais do Xime também serviu de ponto de passagem das nossas tropas que iam para outros pontos da Guiné ou que viajavam para Bissau, alguns para consultas externas, como foi o caso do nosso amigo Joaquim João Pina da CCAÇ 12, de outros que regressavam à Metrópole, ou que mudavam para outras zonas operacionais, como foi o nosso caso.

Entretanto recebe um grande abraço deste amigo,
José Nascimento

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Cais do Xime - A descarregar uma barcaça

Cais do Xime - A descarregar uma barcaça

Cais do Xime - A descarregar uma barcaça

Cais do Xime - A descarregar uma barcaça

Cais do Xime - Fase de Construção

Cais do Xime - Bate-estacas

Cais do Xime - Com o Fur Mil Enf.º Costa, à esquerda

Xime - Estrada entre o quartel e o cais

Cais do Xime - Fase de construção

Cais do Xime - Passagem de tropas e descarregamento de víveres

Cais do Xime e camaradagem

Cais do Xime - Pôr-do-sol

Cais do Xime - Salta periquito

Cais do Xime
Fotos e legendas: © José Nascimento
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Nota do editor

Último poste da série de 2 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15065: Memória dos lugares (318): em terra dos felupes: Bolor, Rio Cacheu, Djufunco, Varela... (Patrício Ribeiro)

Guiné 63/74 - P15131: Libertando-me (Tony Borié) (35): ...voltaremos a encontrar-nos talvez no além!

Trigésimo quinto episódio da série "Libertando-me" do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66, enviado ao nosso blogue em mensagem do dia 14 de Setembro de 2015.




...voltaremos a encontrar-nos, talvez no além! 

Subimos as escadas de ferro, em zig-zag, eram quatro andares. Chegámos ao telhado, andámos, com as mãos sobre os olhos, tropeçando em algumas peças de equipamento que por lá havia, olhávamos o horizonte para os lados de Nova Iorque. Um dos mais mortíferos ataques de que há memória atingiu o coração da capital do Mundo, não era um cenário de pôr do sol, pintado pelo pincel de um artista, era um cenário horrível, escuro, onde se definiam as nuvens de um fumo negro, vindo dum grande telhado de fogo que cobria a cidade, que se espalhava sobre a terra, lembrando-nos que estávamos debaixo de um fogo maldito. Tal cenário de guerra, onde havia milhares, talvez milhões de pessoas, pessoas inocentes. Os pássaros fugiam das árvores, voavam em qualquer direcção, talvez para sul, sem destino, tal com nós naquele preciso momento, também queríamos fugir, mas não sabíamos para onde.

Setembro, outono, o verão já tinha passado, era tempo das colheitas, as horas marcadas nos sinos da igreja de Águeda entoavam pelo vale do rio Águeda, a época da escola começava, a nossa sala de aula, no segundo andar da Escola do Adro, com duas janelas pequenas, mas que aos nossos olhos nos pareciam grandes, mostravam-nos um pouco desse vale. Um certo dia, para os lados da aldeia da Borralha, que fica ao fundo do vale do rio Águeda, houve um fogo numa habitação, ouviu-se o som dos sinos da igreja a chamar os bombeiros, logo seguido pelo som típico da sirene do carro dos soldados da paz, esse cenário ficou gravado na nossa memória de criança, que foi reanimado naquele angustioso momento no telhado do quarto andar, daquela multinacional em Nova Jersey. Ali sentimos a presença de alguns companheiros de classe, descalços, que tal como nós, usavam calções de ganga azul, já coçados, com as duas “alças” apertadas no botão da frente do lado esquerdo, pois o do lado direito tinha sido arrancado para “jogar ao botão”, cheguei mesmo a ver aquele ar de pessoa rude, que era o nosso professor Silvério.

É Setembro, passados 14 anos, lembramos, com dor e emoção, os ataques que o solo americano estava a sofrer naquele momento, onde o nosso companheiro de trabalho, o “Mississippi”, nos olhou e abraçou, vendo-nos limpar algumas lágrimas, lágrimas de medo, e nos diz com os seus olhos bondosos:
- Tony, the war begins in the world today, everything will be different from now on!

Tomando a liberdade de traduzir, ele dizia mais ou menos isto:
- Tony, a guerra no mundo começa hoje, vai ser tudo diferente a partir de agora!


Os seus bisavós eram escravos, tinham vindo da costa de África, ele sabia do que falava. No bairro de Staten Island, do lado sul do rio Hudson, logo à entrada da barra, em frente à ilha de Manhattan, no Estado de Nova Iorque, também existe um pequeno museu, com objectos trazidos pelos soldados da paz, que por aquela altura se esforçaram no resgate, trabalhando nos escombros das torres gémeas. Há algum tempo, numa nossa ida ao norte, foi por aqui que começámos uma visita ao “Ground Zero”, a zona de impacto dos aviões contra o antigo World Trade Center, naquilo que eram os escombros, hoje está lá um Memorial, onde entre outras coisas, existem dois lagos com quedas de água que ocupam o local onde se erguiam as antigas torres gémeas, onde se gravou na pedra o nome de todas as vítimas mortais do atentado, pois só lembrando o passado se constrói o futuro.

Os habitantes de Nova Iorque não simpatizam com os grupos que as agências de viajem para lá mandam, com roupas coloridas, numa algazarra própria de pessoas em passeio, alguns habitantes da cidade estão lá, recomendam silêncio e respeito, as pessoas ficam silenciosas, descobrem-se, existe um silêncio só quebrado pelo pequeno sussurro do cair das quedas de água, não é mais um qualquer local, hoje é um local de peregrinação, foi palco de uma grande tragédia, a que o Mundo assistiu quase em directo pelos mais modernos meios de comunicação. Entre outras coisas, existe uma estrutura subterrânea, com um Museu, onde o ataque que os USA sofreram no seu território, está retratado, com um completo conjunto das mais variadas peças, restos de vestuário, partes de ferro, cimento, vidro, fotos, objectos pessoais das vítimas, tudo relacionado com aquele ataque, que nos fazem meditar, assim como algumas histórias sobre as vidas dos homens e das mulheres inocentes que ali perderam a vida. Dizem que foi um milagre e hoje também é um local de peregrinação, é na avenida Broadway, onde fica a Igreja de São Paulo, pois apesar de se localizar próxima do lugar onde os aviões embateram nas torres, foi um dos edifícios da zona que permaneceu intacto, guardando-se no seu interior muitas recordações daquele dia e lembram-se as vítimas, assim como na rua Liberty, onde se situa o Quartel dos Bombeiros N.º 10, engolido pelos destroços das torres gémeas, onde alguns bombeiros perderam a vida, hoje, ali existe um mural de homenagem aos soldados da paz, que por aqui são muito respeitados, pois é frequente assistir a manifestação de carinho para com estes homens e mulheres que foram, talvez, umas das vítimas mais martirizadas daquele traiçoeiro ataque.

Sabemos que as flores não podem proferir nenhum som, não se pode ouvir uma violeta sussurrando, uma madressilva murmurando, isso seria um milagre, mas é quase um milagre o aspecto, passados 14 anos dos atentados de 11 de Setembro de 2001, que tiraram a vida a milhares de pessoas, a cidade voltou a viver, às vezes parece-nos uma aldeia muito grande, as pessoas são mais humanas, neste momento, na área das antigas torres gémeas em Nova Iorque, quase tudo nos indica que a lembrança continua lá, numa simples coluna de ferro, um simples bocado de granito, fazendo-nos lembrar a dor e o sentimento dos mortos inocentes, mas o aspeto do lugar que agora chamamos “Ground Zero”, é bastante diferente, os novos edifícios dão-nos esperança, passámos a mão por cima de alguns nomes gravados nas pedras de granito que compõem as paredes dos lagos, lembrando os irmãos inocentes que lá morreram, ficou quase como uma promessa de que nunca se deve dizer adeus, continuamos abraçados, pela mão, pelo braço, juntos, pulando através de tudo, montanhas, vales, rios, oceanos ou continentes, com a certeza de que nos voltaremos a encontrar, talvez num qualquer Setembro, talvez no além.

Tony Borie, Setembro de 2015.
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Nota do editor

Último poste da série de 13 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15108: Libertando-me (Tony Borié) (34): Oh pá, empresta-me aí três pesos

Guiné 63/74 - P15130: Convívios (709): XX Encontro de ex-Combatentes na Guiné, da Vila de Guifões, dia 11 de Outubro de 2015, em Baião (Albano Costa)



1. Em mensagem, com data de 16 de Setembro de 2015, o nosso camarada Albano Costa (ex-1.º Cabo da CCAÇ 4150, Bigene e Guidaje, 1973/74), dá-nos conta do próximo Convívio dos ex-Combatentes da Guiné, da Vila de Guifões, o XX Encontro, a levar a efeito no próximo dia 11 de Outubro na Quinta das Susandas - Loivos da Ribeira - Baião. 
As inscrições devem ser feitas até ao dia 30 de Setembro.




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Nota do editor

Último poste da série de 19 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15129: Convívios (708): 6º almoço/convivio da CCS do B.CAÇ. 2834 (Flavio Ribeiro)