quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Guiné 63/74 - P16417: Álbum fotográfico de Adelaide Barata Carrêlo, a filha do ten SGE Barata (CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego, 1969/71): um regresso emocionado - Parte VI: Bafatá, parte velha


Foto nº 1 > O supermercado das libanesas (à esquerda) eo edifício da antiga Casa Gouveia


Foto nº 1 A > O supermercado das libanesas, em primeiro plano


Foto nº 1 B > O  edifício da antiga Casa Gouveia: está para alugar ou vender...



Foto nº 2 >  A antiga rua principal com destaque, à esquerda, para o edifício da antiga Casa Gouveia... Deduz-se, pelos postes de iluminação pública, que a cidade já não se deita às escuras... E parece estar mais "limpinha": há contentores para o lixo!... E na rua das libaneses há 3 viaturas automóveis com ar de novas... Durante anos, o que se via nas ruas da parte velha de Bafatá eram viaturas abandonadas... Algo está a mudar, na nossa "querida princesa do Geba"...



 Fotop nº 3 - O velho mercado da cidade


Foto nº 4 >  A estátua de Amílcar Cabral, filho de Bafatá e pai da nacionalidade


Foto nº 5 > Restos da bomba de gasolina da SACOR


Foto nº 6 > O hospital regional, ao cimo da rua principal, do lado direito... É outra herança colonial

Guiné-Bissau > Região de Bafatá >  Outubro de 2015 >  Bafatá > Parte velha


Fotos (e texto): © Adelaide Carrêlo (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Nota do editor:

Último poste da série > 23 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16413: Álbum fotográfico de Adelaide Barata Carrêlo, a filha do ten SGE Barata (CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego, 1969/71): um regresso emocionado - Parte V: Em Bafatá, reencontrando o sr. Dinis, da Escola de Condução Automóvel

Guiné 63/74 - P16416: Os nossos seres, saberes e lazeres (170): Eu fui ao Faial e não vi os Capelinhos (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Março de 2016:

Queridos amigos,
Sim, foi visita meteórica no âmbito das comemorações do Dia Mundial dos Direitos do Consumidor, em Março, ainda se lembram deste reformado para palestrar sobre o consumo no presente.
Apanhei mau tempo no canal, numa nesga de luz apanhei um recorte do Pico, tive a sorte em visitar uma exposição de truz sobre baleeiros e a baleação, não saí da Horta mas vi o suficiente para querer voltar.
Umas viagens atrás meti-me num autocarro e fiz metade da ilha visitando Pedro Miguel, Ribeirinha, Salão e Cedros, depois regressámos e entrou-se na Horta pelos Flamengos (há flamengos em várias ilhas, terão sido povoadores que deixaram boa memória para além da obra).
A viagem nunca acaba, é este o sonho que nos embala.

Um abraço do
Mário


Eu fui ao Faial e não vi os Capelinhos (2)

Beja Santos


Ir à Horta e não pôr os pés no Peter Café Sport e como ir a Roma e não ver o Papa. O Peter, penso que ninguém desconhece, é o lendário café de todos aqueles que frequentam aquele que é considerado o melhor porto de abrigo do Atlântico Norte, a Horta. Aqui cheguei com o anfitrião, pedi abrótea frita e enquanto esperava voltei a bisbilhotar este espantoso interior marcado pelas lembranças dos navegadores. Um pitéu de abrótea frita demora algum tempo a preparar, anuncia-se para esta noite muito mau tempo, venho até à avenida, o tempo está ligeiramente descoberto, não sei o que me reserva o dia de amanhã, e pumba apanho a montanha do Pico com um pouco de forro no cume, mas confesso que quando revi a imagem me agradou a ligação entre porto, o canal e a sublime montanha. Do coração, espero que gostem.


Luta-se contra o tempo, o anfitrião mal me viu despachar a abrótea avisou-me que até à noite escura há muito mais a calcorrear, o Monte da Guia de onde se deslumbra um belo panorama sobre Porto Pim, pelo jantar irei vaguear pelo portão fortificado, tal como na Igreja Matriz de S. Salvador, verei ao longe as lembranças dos Dabney, uma família norte-americana que marcou o Faial, tudo encravado entre o Monte da Guia e o Monte Queimado, e a viagem continua, o anfitrião diz que é uma exposição que não se pode perder até porque o fotógrafo é Jorge Barros.



Dou o maior apreço a estas mostras da calçada portuguesa e de como se lavrava com rendilhados de pedra a simbologia dos serviços públicos. Não me recordo de outra marca dos CTT como esta, vai do tempo em que a carta e a encomenda tinham um peso desmesurado nas ligações com o continente e a América do Norte, havia também o telegrama para anunciar o nascimento e a morte e a cabine telefónica, naquele tempo era o veículo mais próximo inter-ilhas e a toda a distância. O serviço público mudou de natureza e de rosto, mas, por favor, não desfaçam esta lembrança lavrada na pedra.




A exposição chama-se “Baleeiro, o rochedo do mar” é uma homenagem num dos grandes fotógrafos portugueses, Jorge Barros, à coragem daqueles homens que viviam todos os riscos da baleação.
Passaram por inúmeras atribulações, enfrentaram o majestoso cetáceo com o arpão. E um dia, esta pesca foi proibida, os heróis do mar deixaram de lutar com monstros, grandes como montanhas, vão envelhecendo, têm histórias para contar. O artista da imagem captou-os isoladamente ou em grupo, e enquanto percorremos a exposição recorda-se um trecho de Raul Brandão em Ilhas Desconhecidas (1924) e o sopro épico perpassa todas as imagens:
“Baleia! Baleia!
Parece um penedo escuro à flor das águas…
Mas o homem impressiona-me ainda mais que a baleia: é tremendo, de pé, minúsculo, com a vida no olhar e nas mãos. No barco está tudo calado e ansioso, ninguém diz palavra inútil: homens, barco, arpoador e arpão, tudo tem o mesmo corpo e a mesma alma. São sete, dominados pela ação, trespassados pelo ar e por este cheiro que penetra pela boca e pelos poros, gerador de energia – é um ser único, só nervos e vontade, à caça do monstro que seduz”.




Dormi num local encantador, uma pousada dentro do forte de Santa Cruz, construído em 1967 para proteção da Horta contra os ataques de piratas e corsários. É monumento nacional e estalagem desde 1969. Aqui há uns anos realizou-se um colóquio internacional para debater a batalha naval mais importante na história da independência dos EUA, fiquei a saber que a batalha aconteceu à beira do forte. Teve um estalajadeiro célebre, o ator Raymond Burr, que me lembro de ter visto na série Perry Mason. Estes louvores não obstam a que diga a verdade: dormi mal e porcamente com o mau tempo no canal, o vento a sibilar, as bátegas de chuva a açoitar os vidros, a vegetação vergada com a ventania, era espetáculo mas cheguei a uma idade em que preciso de pelo menos umas cinco horas bem dormidas, o que não aconteceu. Paciência, ao menos malhei com os ossos em monumento nacional.


Trata-se de um monumento expectante, faz parte do Convento do Carmo, a última utilidade conhecida foi a de aquartelamento de tropas, está devoluto, sabe-se lá se um dia não aparece um projeto para hotel de charme. Olho sem nostalgia, as coisas são o que são, já dispusemos de fortes e fortins, castelos e mansardas, quartéis para batalhões e batarias, seguramente que se reconhecia importância ao tempo para esta posição estratégica, vivemos em acalmia e com tropa reduzida, a verdade é que nunca vivemos tantas décadas em paz e dentro da contabilidade de se viver na União Europeia também temos esta vantagem, não é possível imaginar agressor para as nossas costas.
E aqui se finda a viagem, trabalhou-se de manhã e de tarde, o dia abriu e era possível viajar de avião, o que aconteceu. Não deu para ir aos Capelinhos, o que sempre me maravilha, fica para a próxima deleitar as cinzas expelidas pelo vulcão, paisagem surreal e que maravilha. Adeus e até à próxima.
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Nota do editor

Poste anterior de 17 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16395: Os nossos seres, saberes e lazeres (169): Eu fui ao Faial e não vi os Capelinhos (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P16415: Convívios (765): Encontro dos Falcões de Sare Bacar, pessoal da CCAÇ 3414, levado a efeito entre os dias 5 e 8 de Agosto passado, na cidade do Porto (Joaquim Carlos Peixoto, ex-Fur Mil Inf MA)

1. Em mensagem de ontem, 23 de Agosto de 2016, o nosso camarada Joaquim Carlos Peixoto (ex-Fur Mil Inf MA, CCAÇ 3414, Bafatá e Sare Bacar, 1971/73) enviou-nos para publicação a reportagem do Convívio deste ano dos Falcões de Sare Bacar, levado a efeito na Antiga, Mui Nobre, Sempre Leal e Invicta Cidade do Porto, nos dias 5 a 8 de Agosto último.



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Nota do editor

Último poste da série de 28 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16343: Convívios (764): Moledo, Lourinhã, 14 de agosto de 2016: encontro de combatentes, 5º aniversário da AVECO - Associação dos Veteranos Combatentes do Oeste... Estamos todos convidados!

Guiné 63/74 - P16414: Parabéns a você (1125): António Fernando Marques, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 12 (Guiné, 1969/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 22 de Agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16411: Parabéns a você (1124): Carlos Cordeiro, ex-Fur Mil Inf do CIC (Angola, 1969/71) e José Luís Vacas de Carvalho, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2206 (Guiné, 1969/71)

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Guiné 63/74 - P16413: Álbum fotográfico de Adelaide Barata Carrêlo, a filha do ten SGE Barata (CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego, 1969/71): um regresso emocionado - Parte V: Em Bafatá, reencontrando o sr. Dinis, da Escola de Condução Automóvel



Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bafatá > Outubro de 2015 >

Fotos (e texto): © Adelaide Carrêlo (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Adelaide Carrelo | 10/08/2016

Assunto - A viagem pela minha Guiné

 Bom dia,  Luís,

Adorei ver o meu BU (*), hoje logo de manhã!!!

Seguem 2 fotos minhas (agora que já me conheces), uma com 8 anos e a
outra actual.

Um beijinho

PS - Vou fazer mais uma selecção das fotos da minha viagem, para te enviar. As próximas são de Bafatá.

2. Continuação da publicação do álbum fotográfico e das notas de viagem de Adelaide Barata Carrelo, à Guiné-Bissau, em outubro-novembro  de 2015 (*):


A viagem continua de Buba até Bafatá por estradas de terra molhada pelas chuvas que caem sem pejo, escondendo o alcatrão de outrora [fotos nºs 3 e 4].

Tudo começou quando o meu filho nos disse que tinha sido selecionado para trabalhar na TESE em Bafatá. Foi como um relembrar daquilo que nunca vi mas sabia que não poderia ser muito diferente de Nova Lamego há quarenta e quatro anos atrás. Muito estranho este sentimento, não tive medo de o deixar partir. Claro que em condições diferentes de quem partiu para lá durante a Guerra.

Senti Bafatá como uma “mãe” que me iria substituir por um tempo que parecia infindável.

A esperança de voltar a pisar esta terra renasce. Durante este tempo as lembranças começam a tornar-se cada vez mais frequentes e o filme “Bafatá Filme Clube” foi a melhor estrada para entrar nesta cidade (**).

Ao seguir na estrada vermelha, vieram-me ao pensamento os militares que cruzarem esta floresta, sem saber para onde iam mas com a certeza do regresso. Pensamentos perdidos no verde da paisagem, atentos a cada passo que podia ser fatal.

Em Bafatá revi o sr. Dinis [, foto nº 2], que conheci em Nova Lamego, na altura tinha uma escola de condução que permanece ainda hoje em Bafatá [, foto nº 1]. Ele lembrava-se muito bem dos meus pais, e de nós os três ainda meninos.

Foi com as lágrimas nos olhos que abracei este senhor que tem pela Guiné um amor incondicional, fez tropa na Guiné,  veio à Metrópole casar e voltou com a esposa, D. Célia, até hoje. Habituaram-se e ter e a perder, como todos os Guineenses.

Neste sítio também não há pressas. Os dias sucedem-se às noites e o tempo passa devagar. Realmente a adaptação do ser humano é impressionante. Quando a noite cai e a escuridão nos envolve, os nossos olhos passam a ver como os felinos. Só a partir das 20h00 quando a luz mortiça nos ilumina, bebemos um café no “Ponto de Encontro”, na companhia da D. Célia (sempre a sorrir) e do sr. Dinis, mas inexplicavelmente durante o dia não sentes a falta desta cafeína que pensas não poder passar sem ela.

Cá tudo nos falta, até aquilo que não existe. Quando observo as atitudes de muita gente que reclama por tudo e por nada, só penso “uma semaninha na Guiné, fazia-te bem ao corpo e à alma”.

Continuamos a viagem...

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17 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12595: Roteiro de Bafatá, a doce, tranquila e bela princesa do Geba (Fernando Gouveia) (15): O cinema local e a figura lendária do seu guardião, o Canjajá Mané... E, a propósito, relembre-se o documentário, já em DVD, "Bafatá Filme Clube", do realizador Silas Tiny, com fotografia de Marta Pessoa (Lisboa, Real Ficção, 2012, 78')

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Guiné 63/74 - P16412: Notas de leitura (873): "O que a Censura cortou": notícias da Guiné, por José Pedro Castanheira (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Setembro de 2015:

Queridos amigos,
Este livro de José Pedro Castanheira, que ainda é possível adquirir a um preço próximo de 11 euros, comprando três números do Expresso de 2013, permite-nos dimensionar quem eram os grandes alvos do exame prévio, a natureza dos corpos arbitrários, tantas vezes improcedentes e inconsequentes. É ridículo o que se cortou da biografia de Amílcar Cabral, até partir para a clandestinidade. O que Augusto de Carvalho escreveu sobre Spínola foi considerado incendiário, atirado para o balde; o abate e aviões nos céus da Guiné, assunto altamente controlado e nem a fotografia do capitão Peralta em julgamento escapou ao lápis azul.
Hoje são simples curiosidades de um mundo execrável que os mais novos não conhecem. É bom rever as imagens. Foi assim.

Um abraço do
Mário


Jornal Expresso, o que a censura cortou: notícias da Guiné

Beja Santos

O jornalista José Pedro Castanheira apresentou assim a génese deste livro surgido em 2009 e republicado pelo Expresso em forma de três cadernos em 2013:  
“Em Janeiro de 2008, comecei a escrever no Expresso uma coluna chamada ‘O que a Censura cortou’. A ideia era registar, semana após semana, os cortes efetuados pela Censura 35 anos antes. Foi uma das iniciativas tomadas para assinalar os 35 anos do semanário. O objetivo era não apenas revelar os efeitos da Censura no Expresso, mas tentar mostrar, a partir de um caso concreto e exemplar, o que ele significara no jornalismo português e na própria vida de uma nação. Uma compilação dos textos viria a ser editada em livro em Abril de 2009. Esta é uma reedição desse livro, que se julgou oportuna no âmbito das muitas iniciativas que serão realizadas ao longo de 2013 para comemorar os 40 anos do Expresso. Diferentemente do livro de 2009, este será dividido em três partes, oferecidas aos leitores juntamente com as edições do jornal de 19 e 26 de Janeiro e 2 de Fevereiro de 2013”.

Esclareço o leitor que adquiri recentemente estes três números do Expresso, que ainda não estão esgotados, com o custo aproximado de 11 euros. Não vamos falar da Censura, vamos só exemplificar o que foi censurado no Expresso entre a sua data de lançamento, em 6 de Janeiro de 1973 e 25 de Abril de 1974, com notícias referentes à Guiné. Em 27 de Janeiro de 1973, o Expresso pretende abordar o assassinato de Amílcar Cabral. A Censura cortou na íntegra a biografia de Amílcar Cabral, o jornal protestou e a notícia veria a ser parcialmente autorizada. Na notícia davam-se informações totalmente inócuas, como é o caso de: “Praticando diversos desportos, pertenceu à equipa de futebol da Casa dos Estudantes do Império, que chegou a ganhar o campeonato popular de Lisboa. A sua habilidade mereceu-lhe dos colegas o cognome de ‘cabecinha de ouro’". Augusto Carvalho, a pretexto deste assassinato, vai a Bissau, traça um perfil do governador da Guiné, a Censura corta que se farta: “Foi geral a ideia que conseguimos escolher em meios muito próximos do general: que os governadores-gerais ser campeões dos movimentos de africanização enquadrada num contexto federativo do todo nacional, onde a língua seria o cimento a unir a diversidade de culturas que enriqueceriam uma pátria comum, espalhada pelos quatros cantos do universo” e a Censura revela-se inclemente quando o jornalista escreve: “Spínola é um demagogo (…) disse-nos um representante do PAIGC com quem conseguimos contactar em Bissau. Como é natural, Bissau está cheia de elementos da organização guerrilheira. Espiões e espiados ao mesmo tempo” e escrevia-se mais adiante a propósito de Aristides Pereira como o sucessor de Cabral à frente do PAIGC: “A formação portuguesa é comum a todos eles e todos insistem num ensino do português nas escolas do PAIGC como idioma de entendimento entre as diversas etnias”.


Em 6 de Outubro o Expresso pretende falar dos primeiros aviões abatidos na Guiné-Bissau, e cita a France Presse onde se dizia que o número de perdas em aeronaves ascendia a 25, desde Março. A notícia fora proibida pela Censura. E vem a seguir uma curiosidade: “Um atraso ou uma qualquer deficiência de comunicação levou a que fosse posta em página. Quando os responsáveis do semanário souberam da inclusão de uma notícia proibida, mandaram para a impressora e substituíram-na por uma breve acerca da visita a Bona do primeiro-ministro do Japão, Tanaka. A infração quase passaria despercebida não fosse a denúncia do matutino de ultradireita Época”.


Falando por mim, foi a ler o livro de José Pedro Castanheira que vi a fotografia do capitão Peralta, capturado na operação Jove. Peralta foi condenado a dez anos e um mês de prisão. O Expresso quis publicar na capa uma foto sua, a censura só autorizou a legenda.


Para Balsemão, se não fosse o 25 de Abril, o Expresso seria forçado a fechar, era totalmente impossível continuar a publicar num jornal que a Censura mutilava nos sucessivos exames. No final do ano de 1973, Marcello Rebelo de Sousa fazia o balanço do ano, levou 24 cortes, o que se dizia sobre o Ultramar era impensável, não se podia falar do Congresso dos Combatentes, nem dos oficiais que apoiavam Spínola, nem das homilias do Padre Mário, de Macieira de Lixa. Entrara-se num período tormentoso onde era totalmente proibido falar em aumentos de preços, greves, uma entrevista a Álvaro Cunhal, por exemplo. À guisa de conclusão escreve-se que das 58 edições o número de artigos que vieram da Censura pelo menos com uma mancha azul foi de 1584. Não deixa de ser revelador que em todas as edições do Expresso tenha havido pelo menos um texto cortado na íntegra. O recorde deu-se a 3 de Fevereiro de 1973, quando o carimbo ‘proibido’ foi usado 18 vezes. A grande história da semana era uma reportagem com o General Spínola em Bissau.

E uma última nota, digna de ponderação: “Nos seus primeiros 16 meses de vida – e pese embora a Censura – o jornal acompanhou, nos locais, tudo quanto demais importante se passava de interesse para Portugal e para os portugueses. Foi à Guiné quando Amílcar Cabral foi assassinado e acompanhou o comando sui generis de António de Spínola; esteve na zona de Wiriamu, para tentar fazer o rescaldo do famoso massacre; acompanhou Caetano na sua importante deslocação a Londres; trouxe reportagens de Angola e revelou a até então desconhecida e misteriosa Macau. Assistiu às grandes pelejas parlamentares dos deputados liberais, foi ao Congresso da Oposição em Aveiro, cobriu de forma exemplar as eleições para a Assembleia Nacional. No plano externo, assistiu às importantes eleições em França, enviou repórteres à África do Sul, Suazilândia e Japão, testemunhou o importante Consistório de cardeais no Vaticano, cobriu os primeiros dias da ditadura de Pinochet no Chile bem como o golpe dos coronéis na Grécia, acompanhou a instabilidade do franquismo. Muitas dessas grandes reportagens tiveram a mesma assinatura: Augusto de Carvalho, o grande repórter dos primeiros anos do Expresso e seguramente um dos grandes repórteres portugueses”.
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Nota do editor

Último poste da série de 19 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16401: Notas de leitura (872): “Subsídios para o estudo da circuncisão entre os Balantas”, por James Pinto Bull (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P16411: Parabéns a você (1124): Carlos Cordeiro, ex-Fur Mil Inf do CIC (Angola, 1969/71) e José Luís Vacas de Carvalho, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2206 (Guiné, 1969/71)


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Nota do editor

Último poste da série de 21 de Agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16406: Parabéns a você (1123): Vasco Santos, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 6 (Guiné, 1972/73)

domingo, 21 de agosto de 2016

Guiné 63/74 - P16410: Blogpoesia (466): "De negro a noite", "A revolta dos fragmentos" e "A Natureza", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Belíssimos poemas do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66), dos que nos vai enviando ao longo da semana, e que nós publicamos com prazer:


De negro a noite

De negro se veste a noite.
Será tristeza, será luto?
Um manto de silêncio a envolve
Como se fosse a sepultar.

Nenhum sinal de vida.
A quietude a cala.
Parece.
Jamais irá nascer outro dia.

Não suporto vê-la.
Fecho minha janela.
De luz acesa, minha alma,
Quase exausta, ressuscita.

Crepita em mim o fogo da esperança.
Minha alma exulta.
À hora certa,
Voltará o sol com seu dia
De presente...

Tapada de Mafra, 20 de Agosto de 2016
6h30m

clareando tímidamente

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

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A revolta dos fragmentos

Eram majestosas estátuas.
Imponentes obeliscos.
Com tanta história.
Nas praças ao centro.

O mundo passava.
Ali impávidas.
Cumprindo a sorte.

Fazia sol.
Fazia vento.
Caía a neve.
Ninguém ligava.
Tanta indiferença.

Chegou o dia.
Tudo ruiu.
Melhor a morte,
Voltar ao chão,
Em fragmentos!...

Tapada de Mafra, 20 de Agosto de 2016
16h9m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

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A Natureza

É cozinheira a Natureza.
Trabalha noite e dia na cozinha.
Que beleza de tempêros ela põe
Em cada prato.
Nos vicia...

Tem segredos. Não revela.
Só quer servir bem.
Igual para todo o mundo.

Nada cobra.
Enche o prato até esbordar.
Ninguém sai com fome,
É seu timbre.

A praia e serra é o refeitório.
De dia o sol é candelabro.
De noite um painel de estrelas
Com a lua a cirandar.

O vento silva afoito e certo
Ao ritmo das ondas
Que o mar rege
Como um maestro.

E a sala sempre cheia
Nunca fecha.
Tão belas são as sinfonias!...

Tapada de Mafra, 20 de Agosto de 2016
7h10m

depois de ouvir Maria Betânia

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de Agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16387: Blogpoesia (465): "Pianista mágica" e "Vou para a minha janela falar com a lua", por J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 63/74 - P16409: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral e outros / Casa Comum (20): A fábula do lobo, do boi e do elefante, contada aos pioneiros do PAIGC (Blufo, nº 7, jun-dez 1966, p. 3)




A Escola-Piloto, localizada em Conacri, foi criada na sequência do I Congresso do  PAIGC, realizado em Cassacá, na península de Quitafine, de 13 a 17 de fevereiro de 1964. Foi essencialmente um escola dos filhos da elite dirigente do PAIGC (quadros e militantes no exterior da Guiné).

"Os seus primeiros alunos foram, precisamente, muitas das crianças que aí tinham acorrido, acompanhando os dirigentes das diferentes regiões e que, de acordo com as orientações de Amílcar Cabral, foram levadas para Conakry, a fim de aí poderem receber instrução". 

"Luís Cabral foi o principal impulsionador da criação do Blufo, orgão dos pioneiros do PAIGC - o que lhe advinha das suas responsabilidades no Secretariado Permanente do Conselho Executivo da Luta em matéria de informação e propaganda". 

O Arquivo & Biblioteca da Fundação Mário Soares disponibiliza um CD-ROM com a série completa  do jornal "Blufo".  Esssa coleção de originais foi, por sua, disponibilizada por Luís Cabral.

 O "Blufo" publicou-se ao longo de cinco anos, de aneiro de 1966 a dezembro de 1970). Tinha pequena tiragem,  e a sua edição irregular. mas foi uma iniciativa meritória  da Escola-Piloto. Era escrito em bom português e ilistrado com algumas fotografias, Não sabemos em rigor qual o seu impacto na formação político-ideológica dos jovens do PAIGC.  Recorde.se que “Blufo”, em balanta, significa o jovem  ainda não circunsisado,  que transporta em si o passado, o presente e o futuro.





Portal Casa Comum > Arquivo Amílcar Cabral > Fábula africana, "A história do lobo, do boi e do elefante" > Blufo, nº 7, junho-dezembro de 1966, p. 7 (Reproduzido com a devida vénia...)


Fonte:

Portal Casa Comum
Instituição > Fundação Mário Soares
Pasta: 04693.007 [Disponível aqui]
Título: Blufo - Orgão dos Pioneiros do PAIGC
Número: 07
Data: Junho de 1966 - Dezembro de 1966
Observações: Publicação da Escola-Piloto
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral - Luís Cabral
Tipo Documental: IMPRENSA
Direitos:
A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora.

Arquivo Amílcar Cabral > 06. Organização Civil > Ensino > Escola-Piloto > Blufo
Citar Documento

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Guiné 63/74 - P16408: Memórias de Gabú (José Saúde) (64): “Mansões” na densidade de um mato que acolhia combatentes exaustos. A palhota.


1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.

As minhas memórias de Gabu

“Mansões” na densidade de um mato que acolhia combatentes exaustos.

A palhota

As palhotas, vulgarmente conhecidas por cabana de negros, eram simplesmente silhuetas reais que o combatente visualizava em pleno mato. Serviam, por vezes, para um precioso descanso a militares exaustos pelas agruras de um matagal que não dava tréguas e de uma imprevisibilidade constante.

O calor intenso, o cansaço da jornada, a falta de um abençoado sossego e um momento de pausa para retemperar as forças inevitavelmente já esgotadas, a palhota era um pressuposto paraíso de uma guerrilha que teimava em manter ativa a sua persistência num terreno que nos era adverso.

Conheci, aliás conhecemos, essa indesmentível realidade em território da Guiné. Em chão fula, Gabu, deparei-me com essa inequívoca veracidade. Tratava-se de um “trono” onde se retemperavam malazengas físicas que entretanto se apoderavam de um corpo que aparentava alguma debilidade.

A palhota era normalmente construída de forma simples e pelo pessoal anfitrião que bem conhecia as técnicas artesanais utilizadas na sua feitura. Um pequeno círculo, uns paus em madeira que sustentavam o material utilizado em cima, normalmente capim, julgo, ou outro semelhante, e eis uma “mansão” que acolhia combatentes fatigados.

Não entro em pormenores sobre a sua razão de ser. As causas dos usos e costumes das palhotas terão obviamente explicações plausíveis. Sei que muitas foram as vezes que por lá passei e descansei.

Na época das chuvas as palhotas eram símbolos maiores para fugir à tempestade. Resguardávamo-nos, quanto possível, da intempérie. Sendo o espaço exíguo, a malta acomodava-se e lá deixava o tempo diluir-se num tempo sem tempo. Ah, chovesse ou não a cântaros nem uma pinga de água passava por aquele arcaico “manto”.

Creio que o tema sobre as palhotas é motivo para os camaradas dissecarem conteúdos reais sobre as nossas comissões na Guiné. Na minha perspetiva raro será certamente aquele camarada que não se obsequiou pela sombra, ou resguardo, de uma palhota no mato.

A palhota nas minhas costas (foto) situava-se numa zona onde a malta fazia uma proteção avançada que visava proteger os aviões que aterravam e levantavam voo da pista de Nova Lamego.

O tempo era de guerra, razão pela qual o meu grupo se encarregava dessa missão. Lembro que foram horas imensas que passámos nessa incumbência. Não há registos de escaramuças ao largo da minha comissão. Mas, o tempo que passei naquele chão fula faz parte absoluta das minhas memórias de Gabu e as palhotas tema de interesse. 


Um abraço, camaradas
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BRT 6523

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 

8 DE JUNHO DE 2016 > Guiné 63/74 - P16177: Memórias de Gabú (José Saúde) (63): O “ventre” de um espólio raramente conhecido. Passagem de bens alimentícios em armazém.

Guiné 63/74 - P16407: Álbum fotográfico de Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089, ao tempo do BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto, 1971/73) - Parte X: A faixa litoral, de Teixeira Pinto a Bissau, vista "by air", em fevereiro de 1972


Foto nº 42


Foto nº 41


Foto nº 43


Foto nº 44



Guiné > Região do Cacheu > Fevereiro de 1972 > Vistas aéreas da faixa litoral entre Teixeira Pinto e Bissau. Fotos, n~s de 41 a 44).


Fotos (e legenda): © Francisco Gamelas (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089 (Teixeira Pinto, 1971/73), adido ao BCAÇ 3863 (1971/73) (*).

Francisco Gamelas, que é engenheiro eletrotécnico de formação, quadro superior da PT Inovação reformado, vive em Aveiro, e publicou recentemente "Outro olhar - Guiné 1971-1973" (Aveiro, 2016, ed. de autor, 127 pp. + ilust; preço de capa 12,50 €). Os interessados podem encomendá-lo ao autor através do seu email pessoalfranciscogamelas@sapo.pt. O design é da arquiteta Beatriz Ribau Pimenta, a partir da foto. nº 29. Tiragem: 150 exemplares. Impressão e acabamento: Grafigamelas, Lda, Esgueira, Aveiro.


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Guiné 63/74 - P16406: Parabéns a você (1123): Vasco Santos, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 6 (Guiné, 1972/73)

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Nota do editor

Último poste da série de 20 DE AGOSTO DE 2016 > Guiné 63/74 - P16403: Parabéns a você (1122): Manuel Amaro, ex-Fur Mil Enf da CCAÇ 2615 (Guiné, 1969/71)