quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16675: Inquérito 'on line' (80): a avaliar pelas 80 respostas até às 19h00 de hoje, só uma minoria (15%) refere a existência de casos de deserção (13) na sua unidade (companhia ou equivalente), no TO da Guiné. O prazo de resposta termina amanhã às 15h34. Vamos tentar chegar à centena de respostas...



Guiné > Região do Cacheu  > COP 3 > Base de Canturé > CF (Companhia de Fuzileiros] 10  (1969/71) >  O grumete José Sentieiro é o quarto a contar da esquerda.  

Foto da  página do José Sentieiro no Facebook. (Com a devida vénia...)


O José Sentieiro é um dos três fuzileiros que desertou da base de Canturé em 1970.  E é o único que está vivo:  natural de Torres Novas, é empresário no Brasil. vive em Eusébio, Ceará, e tem página no Facebook [José Sentieiro].  Já nos contactou e já o contactámos, mas ainda não temos a sua versão dos factos, relacionados com a sua deserção.



Senegal > PAIGC> Panfleto do PAIGC > s/d > Três fuzileiros portugueses que desertaram da base naval de Ganturé, COP 3, na região do Cacheu.  Legenda: "A satisfação dos fuzileiros navais Pinto, Alfaiate e Sentieiro, fotografados em lugar seguro, após terem abandonado a base fluvial de Ganturé".

Documento digitalizado que nos chegou, em 2007,  por mão do Fernando Barata, ex-alf mil da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (*).

Na imagem, de péssima qualidade , o alentejano António José Vieira  Pinto é o do meio, identificado por  um amigo (no blogue Água Lisa, do João Tunes).  O Alberto Costa Alfaiate seria o da esquerda e o José Armindo, o da direita.  

Foto: © Fernando Barata (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]


I. INQUÉRITO 'ON LINE':

"NA MINHA UNIDADE (COMPANHIA OU EQUIVALENTE) NÃO HÁ CASOS DE DESERÇÃO"


Os 80 primeiros resultados (às 19h00 de hoje) 




1. Nenhum, na metrópole > 40 (50%)

2. Nenhum, no TO da Guiné  > 51 (63%)


3. Um, na metrópole  > 15 (18%)



4. Dois, na metrópole  > 4 (5%)


5. Três ou mais, na metrópole  > 3 (3%)

6. Um, no TO da Guiné  > 11 (13%)

7. Dois, no TO da Guiné  > 1 (1%)

8. Três ou mais, no TO da Guiné  > 0 (0%)




O prazo de resposta termina 5ª feira, dia 3, às 15h34 (**).

_____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 4 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1496: PAIGC - Propaganda (2): Notícia da deserção de três fuzileiros navais (Fernando Barata)

Vd. também postes de:

3 de março de 2007 > Guiné 63/74 - P1560: Questões politicamente (in)correctas (25): O ex-fuzileiro naval António Pinto, meu camarada desertor (João Tunes)

12 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2097: Em busca de... (11): José Armindo Sentieiro, ex-fuzileiro, o único sobrevivente dos três desertores de Ganturé (Fernando Barata)

9 de novembro de  2009 > Guiné 63/74 - P5241: Controvérsias (50): O estranho caso dos três desertores da base naval de Ganturé (Serafim Lobato)

(...) Chamo-me Serafim Lobato. Fui jornalista, hoje reformado, e, na altura da deserção dos grumetes era oficial fuzileiro especial e estava sedeado em Ganturé, tal como eles.

A sua deserção deu-se meia dúzia dias da minha chegada àquela base naval, situada nas margens do rio Cacheu, dois quilómetros para sul da sede do Comando Operacional 3  [COP 3] que, então, era comandado pelo capitão-tenente Alpoim Calvão, que veio a ser o comandante da citada operação [ Op Mar Verde, invasão de Conacri, 22 de novembro de 1970].

Fui uma testemunha. (...) Os desertores pertenciam a um pelotão independente de fuzileiros navais, que faziam as tarefas logísticas naquela base. Tinham sido punidos pelo comando do COP 3 e estavam a capinar o exterior da mesma, por delitos cometidos. Não eram meninos de coro que debitavam slogans contra a guerra. Aliás, na ocasião, o comandante Calvão não ficou preocupado com a deserção. (...) 

O panfleto do PAIGC, que ele [, Fernando Barata,] vos entregou, eu tive, na minha posse, um idêntico. Dias depois da deserção, umas largas dezenas foram deixadas em Ganturé. Acrescento uma informação: eu ouvi-os depois na rádio do movimento guerrilheiro [ a Rádio Libertação, em Conacri,] dissertando [sobre] a sua deserção. (...)

 Só que a razão da deserção desses homens - que diziam estar contra a guerra, Alfaiate reafirmou-o na rádio PAIGC em Conacri - não se coadunam com o facto descrito pelo comandante Calvão no seu livro 'De Conakry ao MDLP', no qual assinala que o citado Alfaiate (um dos desertores), libertado pelo PAIGC e colocado em Paris, fora capturado, mas que "ao mesmo tempo se entregou voluntariamente às nossas autoridades, vindo de Conakry há três semanas" (p. 70).

Ora, eu sei por fontes que participaram na Op Mar Verde, que a bordo dos navios que zarparam para a capital guineense em 1970 não ia somente o Alfaiate, mas, pelo menos, um outro. Eu pensei que era o Pinto, mas podia ter sido o Sentieiro. (A notícia de que o Pinto apareceu ligado à LUAR e, posteriormente, à segurança do Vasco Gonçalves,  não me convence, à priori, do seu antifascismo. Os partidos de esquerda estavam cheios de infiltrados.)

O Calvão, no livro, chama a Alfaiate "colaborador de valor". Ou seja, sabia coisas. (...)

(**) Último poste da série > 1 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16665: Inquérito 'on line' (79): Com 60 respostas, até ontem às 18h, e a dois dias de "fecharem as urnas", temos apenas 11 casos de deserção no CTIG... Precisamos de chegar às 100 respostas... e nomear a(s) companhia(s), no CTIG, em que tenha havido um ou mais casos de desertores, antes do embarque e/ou depois do embarque: depoimentos, precisam-se!

Guiné 63/74 - P16674: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (105): As tábuas do cor inf ref Carlos Graciano de Oliveira Gordalina: o desfecho da história... (Rui Ribolhos Filipe, historiador e arqueólogo, filho de José Filipe, antigo fuzileiro, DFE 12, 1971/73)


Foto nº 1 > Da esquerda para a direita, o cor inf ref Carlos Gordalina e o antigo fuzileiro, do DFE 12, José Filipe


Foto nº 2 > José Filipe e o filho  Rui Ribolhos Filipe, com as tábuas do cor inf ref Carlos Gordalina



Fotos: © Rui Ribolhos Filipe  (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do Rui Ribolhos Filipe, nosso leitor, filho de um camarada nosso, José Filipe, do DFE 12 [Guiné,  1971/73]


Data: 16 de outubro de 2016 às 15:32
Assunto: As Tábuas do Coronel Gordalina - O Desfecho


Caro Luís e camaradas da Tabanca Grande,

Após a nossa busca pelo coronel Carlos Gordalina, com a preciosa ajuda da Tabanca Grande (*), eis o desfecho.

No passado sábado dia 15 [de outubro] encontramo-nos (eu e o meu pai) com o sr. coronel Gordalina na sua casa em Lisboa. O motivo,  como sabemos, era entrega de duas tábuas que pertenceram a uma caixa de transporte do tempo da Guerra do Ultramar.

Foi com grande surpresa e alegria que,  ao abrir o embrulho, o sr. coronel deparou-se com algo que havia preparado há  mais de 40 anos: duas belas pranchas de madeira exótica com nº de transporte (929) / nº de caixa (3 de X) / Posto / Nome / Nº Mec. e  DGA (Depósito Geral de Adidos),
pintados a branco.

Como vieram parar a um sitio ermo como a estrada militar Carnide-Lumiar, perto do desaparecido paiol de Vale do Forno,  é um mistério. Em todo o caso ficamos a saber que o sr. coronel esteve nas
três frentes, Moçambique, Angola e Guiné. Nas mudanças entre colónias e metrópole, acompanhado da esposa, era usual preparar caixas de madeira para fazer transportar os bens pessoais.

A má experiencia quando não havia cuidado no manuseamento das caixas mnos portos, despachante ou navios, levou o nosso coronel a adquirir boas madeiras exóticas (abundantes nas colónias) de boa espessura para construir "caixas-fortes" bem resistentes.

Durante a nossa conversa [, na sua casa, em Lisboa,]  chegou-se à conclusão de que as caixas vinham de camioneta até à residência do sr. coronel. Depois de tirados os pertences, e visto serem demasiado grandes para serem guardadas em casa, as caixas ficavam para a transportadora. O coronel também disse que em ocasião alguma deitaria fora algo com o seu nome tão visível.

É muito possível que a caixa de onde as nossas tábuas vieram, ter estado guardada em algum armazém e em alguma limpeza ter sido despejada no local onde foi encontrada.

O sr. coronel Gordalina agradece a todos os quantos tornaram possível o retorno destas memórias!

Em anexo as famosas tábuas com os dois achadores e no momento da entrega com o coronel de infantaria Carlos Gordalina e José Filipe,  antigo fuzileiro,  DFE 12 [,Guiné, 1971/73].

Grande abraço,
Rui Filipe


2. Comentário do editor LG

Rui (e José Filipe, nosso camarada):

Tudo está bem acaba bem... Obrigado, ao Rui e ao pai, nosso camarada, pelo empenho que puseram nesta história...

Tive também "feedback", pela minha prima Maria da Glória Gordalina, da Gândara dos Olivais, Leiria, de que o nosso coronel (e  primo dela)  ficou muito sensibilizado pelo vosso gesto (e o nosso apoio).

Tínhamos prometido publicar  a história e o seu desfecho. Aqui está.

Aproveito para convidar o Rui a integrar a nossa Tabanca Grande: afinal, descubro agora, por pesquisa na Net, que ele é historiador e arqueólogo, e tem-se particularmente interessado por  história militar e pela batalha do Vimerio. Trabalhou inclusive, na minha terra Lourinhã, como responsável pelo Centro de Interpretação da Batalha do Vimeiro (entre 2008 e 2013). Nasceu em Lisboa, em 1978.

Diga-se de passagem que só uma pessoa com a dupla formação (e sensibilidade) em história e arqueologia, como o Rui,  é que se daria ao cuidado de nos contactar por causa de duas tábuas de um caixote que pertenciam a um oficial do exército português do tempo da já tão esquecida guerra do ultramar. Afinal, Rui, e camaradas, constatamos, mais uma vez, que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!...

Abraço. LG

PS - Obrigado a todos,  pelos contributos dados para a localização do cor inf ref Carlos Graciano de Oliveira Gortalina, a começar pelo nosso colaborador permanente, o José Martins. O nosso camarada ex-alf mil, Vasco Ferreira, também nos indicou ter estado em Cadique, na Região de Tombali, em 1973, na CCAÇ 4540 (Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74) , quando fazia parte do comando [do batalhão] o major Gordalina. Mas tarde, após o 25 Abril, o Vasco encontrou o major Gordalina no Porto, na altura era o 2º comandante da região militar do Porto no quartel situado, na Praça da República.

Guiné 63/74 - P16673: In Memoriam (269): Tabanca Grande: lista dos/as amigos/as e camaradas que "da lei da morte se foram libertando" (Total: 50, em 2/11/2016)










Lisboa > Estufa Fria e 2ª Exposição Internacional de Orquídeas de Lisboa > 16 de outubro de 2016


Fotos: © Luís Graça (2016). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Tabanca Grande > Lista dos/as amigos/as e camaradas 
que "da lei da morte se foram libertando"
(n=50):


Alfredo Dinis Tapado (1949-2010)
Amadu Bailo Jaló (1940-2015)
António da Silva Batista (1950-2016)
António Dias das Neves (1947-2001)
António Domingos Rodrigues (1947-2010)
António Manuel Martins Branquinho (1947-2013)

António Rebelo (1950-2014)
António Teixeira (1948-2013)
António Vaz (1936-2015)
Armandino Alves (1944-2014)
Augusto Lenine Gonçalves Abreu (1933-2012)

Carlos Geraldes (1941-2012)
Carlos Rebelo (1948-2009)
Carlos Schwarz da Silva, 'Pepito' (1949-2014)

Daniel Matos (1949-2011)

Fernando Brito (1932-2014)
Fernando [de Sousa] Henriques (1949-2011)
Fernando Rodrigues (1933-2013)
Francisco Parreira (1948-2012)
França Soares (1949-2009)

Humberto Duarte (1951-2010)

João Barge (1945-2010)
João Caramba (1950-2013)
João Henrique Pinho dos Santos (1941-2014)
Joaquim Cardoso Veríssimo (1949-2010)
Joaquim Vicente Silva (1951-2011)
Joaquim Vidal Saraiva (1936-2015)
José António Almeida Rodrigues (1950-2016)
José Eduardo Alves (1950-2016)
José Fernando de Andrade Rodrigues (1947-2014)
José Manuel P. Quadrado (1947-2016)
José Marques Alves (1947-2013)
José Moreira (1943-2016)
José (ou Zé) Neto (1929-2007)

Luís Borrega (1948-2013
Luís Faria (1948-2013)
Luís F. Moreira (1948-2013)
Luís Henriques (1920-2012)

Manuel Castro Sampaio (1949-2006)
Manuel Martins (1950-2013)
Manuel Moreira (1945-2014)
Manuel Moreira de Castro (1946-2015)
Manuel Varanda Lucas (1942-2010)
Maria da Piedade Gouveia (1939-2011)
Maria Manuela Pinheiro (1950-2014)

Rogério da Silva Leitão (1935-2010)

Teresa Reis (1947-2011)

Umaru Baldé (1953-2004)

Vasco Pires (1948-2016)
Victor Condeço (1943-2010)




Lisboa, Tabanca Grande, 2 de novembro de 2016

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Nota do editor

Último poste da série > 31 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16663: In Memoriam (268): Vasco Pires, ex-alf mil art, cmdt do 23º Pel Art (Gadamael, 1970/72), acaba de morrer, em Porto Seguro, Brasil (Pedro Araújo, seu afilhado)

Guiné 63/74 - P16672: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (16): o caso do soldado básico auxiliar de cozinheiro Miranda (Tino Neves, ex- 1º cabo escriturário da CCS / BCAÇ 2893, Nova Lamego, 1969/71)



Guiné > Região do Gabu > Nova Lamego > CSS/BCAÇ 2893 (1969/71) > O 1º cabo escriturário Constantino (Tino) Neves e o sold básico auxiliar de cozinheiro Miranda, em missão de PU - Polícia de Unidade. "A foto foi tirada no salão do cinema de Nova Lamego, numa festa de variedades, em que actuava uma cantora vinda da Metrópole, do Seixal, e eu estava de cabo de dia. Como o furriel destinado à Polícia da Unidade (PU) se tinha baldado, o oficial de dia, o capitão, comandante da CCS, mandou-me substituir o furriel, e assim aproveitei para ir assistir às variedades".  O Miranda, acusado justa ou injustamente de ser "amigo do alheio", acabou por "fugir" para o PAIGC...

Foto (e legenda): © Tino Neves (2007). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

 


1. Este texto, que se segue,  esteve para ser publicado em abril de 2007, chegou mesmo a ser editado sob o nº 1645, e depois retirado; devia inaugurar a série "Estórias do Gabu" (*)...

Por razões editoriais, ficou em "stand by": considerava-se, na época. que o tema da "dcserção" era delicado, polémico  e até fracturante; por outro lado, havia algum pudor em identificar o militar em causa, pertencente à CCS/BCAÇ 2893 (Nova Lamego, 1969/71).

 Acabámos por publicá-lo em 10/11/2012, com pequenas alterações (*).  Afinal, é a história (pública) de um "desertor" (, "fujão", era o termo ainda cru e cruel, que vinha no título da "estória do Gabu"), contada por um camarada, o Constantino Neves,  que com ele privou e conviveu...

Toda a gente da CCS/BCAÇ 2893 sabia da história e muita gente inclusive terá acabado,    sem o querer,  por empurrar o Miranda, para os braços do inimigo de ontem... Não vemos hoje razões para esconder o seu rosto, mais de 45 anos passados sobre o acontecimento.

De resto, este militar, que foi nosso camarada,  é apenas identificado pelo apelido, como era prática comum na tropa.  Não sabemos nada sobre o seu paradeiro atual, nem sequer sabemos se ainda estará vivo.  Mais: não sabemos pormenhores sobre a sua saída do quartel (velho) de Nova Lamego nem sobre a sua eventual colaboração com o IN.

Convém lembrar que este caso se passou em 1970 por volta de março/abril de 1970. Em 15 de novembro desse ano, Nova Lamego é atacado em força, brutalmente,  pelo PAIGC,  originando 3 mortos entre as NT, 4 feridos graves, 8 ligeiros, 8 mortos entre a população, 50 feridos graves, 30 ligeiros (**)...

Não sabemos se a traição do Miranda foi ao ponto de fornecer informações preciosas, ao PAIGC, sobre o quartel (velho) e a vila de Nova Lamego. A verdade é que esta flagelação  a instalações militares e civis nossas foi das mais graves e "cegas" de que eu tive conhecimento, no leste, no meu tempo (maio de 1969/março de 1971). Também não sabemos se o Miranda nesta altura ainda estava nas fileiras do PAIGC, se é que alguma vez esteve... Entre o mito e a realidade, é sempre difícil descobrir a verdade (***)...

A  ter sido um caso de deserção (e tecnica e juridicamente foi), parece-nos um caso "atípico"... [Ou talvez não, veja-se o que esteve na origem de outra "deserção", já aqui relatada, a do fuzileiro António Trindade Tavares, o célebre G3 (**), Ambas  são histórias que, antes de provocarem a nossa indignaçãoo, devem merecer a nossa compaixão.]

Sobre o Miranda não encontrámos qualquer registo no Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum / Fundação Mário Soares. De resto, sobre os "nossos desertores" o Arquivo Amílcar Cabral é pobrezinhho... (LG)


2. O texto a seguir é da autoria  do nosso camarada Constantino (ou Tino) Neves, ex- 1º cabo escriturário da CCS / BCAÇ 2893 (Nova Lamego, 1969/71) (*)


Conheci em tempos um camarada nosso que, em Nova Lamego, desertou para o PAIGC. Não me compete fazer juízos de valor sobre o seu comportamento.

Trata-se do soldado auxiliar de cozinheiro [, de apelido Miranda], de que mando foto, em que está marcado com uma seta a branco...

A foto foi tirada no salão do cinema de Nova Lamego, numa festa de variedades, em que actuava uma cantora vinda da Metrópole, do Seixal, e eu estava de cabo de dia. Como o furriel destinado à Polícia da Unidade (PU) se tinha baldado, o oficial de dia, o capitão, comandante da CCS, mandou-me substituir o furriel, e assim aproveitei para ir assistir às variedades.

O soldado Miranda,  já era velhinho (de 1966), e fora mobilizado para a Guiné, por castigo, pelo vício que tinha,  dizia-se, de se "apropriar do alheio", vício de que não se curou, tendo assaltado um dia, aliás uma noite, a Sala do Soldado,  e roubado 20.000$00 [, vinte contos], o que era bastante dinheiro na altura. [Equivaleria hoje a 5.698,45 €. (LG)]

Em fevereiro de 1970, o Miranda  foi punido com 10 dias de prisão disciplinar agravada e em março de 1970 novamente com mais 10 dias de prisão disciplinar agravada, referente ao mesmo delito, dados por Bafatá [Comando de Agrupamento 2957].

E, em face disso, nós dizíamos-lhe que ele iria apanhar 20 anos, 1 ano por cada conto roubado, quando a Ordem de Serviço (O.S.) chegasse ao general Spínola. O pobre coitado acreditou, de tal maneira que pediu a um elemento civil, a trabalhar no quartel (velho), nas limpezas, para que o ajudasse a fugir e que o levasse para junto do PAIGC. O pedido foi aceite, e ele fugiu.

Mais tarde, em alguns ataques, foram deixados nos locais de onde nos atacavam, vários papéis supostamente escritos pela mão do soldado Miranda, a solicitar para que fizéssemos o mesmo, que seríamos bem recebidos, como ele, que estava muito satisfeito, porque agora ele era o cozinheiro de serviço dos guerrilheiros.

Também havia relatos de que, em várias emboscadas, chegaram a ouvir ex-militares portugueses a gritar do outro lado, dizendo o seu nome, posto e nº mecanográfico, e que se entregassem, porque estávamos do lado errado.

Portanto, o soldado básico Miranda. não fugiu por motivos políticos, mas sim por medo à prisão. Isto é o que eu presumo. De qualquer modo, era uma situação diferente da de outros, desertores ou refractários, que, na metropóle, arriscaram a fuga nos Altos Pirinéus e a possibilidade de serem capturados ou mesmo alvejados pela polícia.

Um Abraço
Tino Neves


3. Comentários do editor, do autor e de Rogério Cardoso (*)

(i) Editor:

Tino: O teu camarada Miranda, soldado básico, auxiliar de cozinheiro (como outros soldados básicos que eu conheci, já com antecedentes "disciplinares"...), seria apenas um "pobre diabo", como se  pode deduzir da tua versão dos acontecimentos.

 Não sei se ele ainda é vivo e tem família, amigos, vizinhos, se vive algures em Portugal, e até se poderá vir a ter conhecimento deste poste... Espero bem que sim, que esteja vivo e de boa saúde, e que inclusive nos possa ler.

Como sabes, o nosso blogue não é nenhum tribunal (muito menos militar). E não fazemos  justiça, muito menos por nossas próprias mãos. Como qualquer um de nós que passou pelo TO da Guiné, o teu camarada Miranda  tem o direito ao bom nome e reputação,  tem direito a defender-se, se for caso disso, das acusações que lhe foram feitas.

Hesitámos em identicá-lo, mesmo através do apelido:  mas hoje já não faz qualquer sentido, a punição dele vem na Ordem de Serviço do batalhão, e na história da unidade, possivelmente disponível no Arquivo Histórico Militar para consulta de qualquer um de nós. E depois a deserção é um ato tão público como os demais que aqui relatamos e relembramos todos os dias: os ataque,  flagelações ou emboscadas no dia tal e  tal, as baixas que tivemos, os louvores, etc...

Já tinhamos publicado esta estória, sem a identificação clara do militar em causa... Mas afinal  o caso é público e notório, podendo toda a gente da tua CCS corroborar, confirmar ou infirmar a tua versão dos factos. Sabes disso, e por isso também não podem ser postas em causa a tua palavra e a tua boa fé... Já a memória pode ser mais traiçoeira..,

Como tive ocasião de te dizer,  esta história teve uma vida atribulada no blogue. Deveria ter sido a estória do Gabu nº 1. Não o foi. Hoje, que voltamos a abrir o dossiê dos "desertores", achamos que ela ser publicada, apenas com um título diferente daquele que tinhas sugerido, em que chamavas "fujão" ao teu cmarada... "Desertor" é uma palavra feia para a maior de nós, ex-combatentes, mas "fujão" ainda é mais...

Tino, quero que saibas que tens jeito e talento para contar estas histórias de caserna, passadas na "tua" Nova Lamega, de que tambéns boas recordações. Obrigado pela tua colaboração. E continuamos sempre à espera de mais. De resto, és um membro da nossa Tabanca Grande, de longa data,  sempre solícto e prestável. Boa saúde, longa vida e excelente memória.


(ii) Tino Neves

Uns anos atrás, um camarada da minha companhia contou-me que ele, o "fugitivo", quando regressou à sua terra natal, foi recebido como um herói, com recepção e tudo.

Tentei contactá-lo mas não consegui. Desconheço o seu paradeiro.

(iii) Rogério Cardoso

Eu também concordo, que a fuga teve a ver com o medo à provável quantidade de anos de prisão   que iria ter pelo furto e antecedentes, e que no fim era um pobre diabo, que a sua deserção não era por motivos politicos, o que na altura era o mais grave.

Pois se outros fugiram, individuos com grandes responsabilidades de comando, como oficiais, e foram desculpados e até candidatos a altos cargos da Nação, porque não este moço?

__________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 10 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10645: Estórias do Gabu (7): O soldado básico que um dia se passou para o lado do inimigo...

(**) 15 de julho de 2016 >  Guiné 63/74 - P16305: Efemérides (233): 15 de novembro de 1970, às 11 da noite, o quartel e a vila de Nova Lamego são violentamente flagelados com fogo de 4 morteiros 82, durante 35 minutos... 3 mortos entre as NT, 4 feridos graves, 8 ligeiros; 8 mortos entre a população, 50 feridos graves, 30 ligeiros... Valeram-nos os Fiat G-91 estacionados em Bafatá... Spínola mandou construir um quartel novo, fora da vila, inaugurado em 31/1/1971 (Tino Neves, ex-1º cabo escriturário, CCS/BCAÇ 2893, 1969/71)

(***) Vd. último poste da série > 27 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16647: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (15): Desertor era o militar que (i) foi incorporado, (ii) estava nas fileiras e (iii) as abandonava ao fim de algum tempo... Desconfio um bocado do número de desertores que foi avançado pelos historiadores Miguel Cardina e Susana Martins, se for aplicada a definição exacta dos regulamentos da época (António J. Pereira da Costa, cor art ref)

Guiné 63/74 - P16671: Os nossos seres, saberes e lazeres (183): Uma viagem em diagonal pelos países dos eslavos do Sul (7) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Junho de 2016:

Queridos amigos,
Tendo um pouco mais de paciência, aqui se regista o final de viagem na Croácia[1], logo a seguir é uma incursão brevíssima pelo Triste e Veneza.
Abono que Rijeka é não só uma beldade como tem todos os predicados para ser a última estação desta corrida em diagonal deste lado do Adriático. Com sentido ou falta dele, não me saía do espírito um esplêndido livro de Stefan Zweig "O mundo de ontem", um assombroso relicário de recordações de um império austro-húngaro que desapareceu do mapa com tais consequências que também contribuiu para o novo caldeirão balcânico. Mais isso é outra história, o que aqui se recorda é que Rijeka é uma preciosidade desse tempo imperial, está bem marcada pela presença veneziana.
E a viagem continua.

Um abraço do
Mário


Uma viagem em diagonal pelos países dos eslavos do Sul (7)

Beja Santos

Saio do Parque Nacional dos Lagos de Plitvice contrafeito, sentia-me aqui muito bem, mais a mais uma chuva miudinha persistente acompanha-nos até à estação de autocarro e aqui desaba uma chuvada a sério, uma trintena de indivíduos de várias nacionalidades tentam o prodígio de resguardar as malas na paragem, operação insana. Felizmente que o autocarro chega a horas, o nosso destino é Karlovac, haverá depois uma mudança para o nosso destino Rijeka, no golfo do mesmo nome, ligado à península de Pula, aqui se sediava a armada militar do Império Austro-Húngaro. Não se escolheu Rijeka à toa, andou-se a namoriscar imagens surpreendentes, que a máquina fotográfica confirma. Rijeka foi o maior porto da Jugoslávia, é uma das principais cidades da Croácia, um lugar de trânsito turístico muito animado, algumas das maiores estâncias da Croácia situam-se à volta de Rijeka. Como vem sendo o hábito, temos aqui as chancelas presença austro-húngaro e italiana no seu melhor. O céu estava nublado, foi o melhor que se conseguiu.



Retenho estas imagens de imponência no centro histórico de Rijeka, uma cidade que a partir da Idade Média pertenceu a príncipes croatas, no princípio do século XIX era propriedade do Vice-Marechal austríaco Laval Nugent, Veneza está do outro lado do Adriático, a navegação é uma permanente riqueza de todas estas cidades. Indicadores de prosperidade não faltam. A despeito do que se mostra, Rijeka é uma cidade moderna, de manhã e à tarde chegam autocarros com italianos, sobretudo do Trieste, bem como eslovenos, vizinhos próximos, a cidade acolhe clínicas dentárias e de implantologia topo de gama, dizem que os preços são imbatíveis e os serviços ultrapassam todas as expetativas.




Não é qualquer cidade que se pode gabar de ter uma entrada tão bonita, uma casa de ópera tão faiscante, uma arquitetura de gosto tão requintadamente ocidental. Inventara-se uma Jugoslávia na Cortina de Ferro, uma coisa de otomanos, ciganos, folclore e tapetes orientais, pura mentira, essa Jugoslávia era um compósito de eslovenos que estudavam na Alemanha e falavam alemão, desta costa croata aberta à presença italiana, de uma monarquia sérvia que seguia os ditames da moda em Viena e Budapeste, e muito mais se podia acrescentar. Rijeka fala por si, de um passado que emparceira religiões, estilos artísticos arrojados, uma Jugoslávia encostada a leste com a Bulgária e a Roménia e uma Albânia a escassos quilómetros do Montenegro. Dou comigo a pensar num escrito extraordinário de Stefan Zweig “O mundo de ontem”, o mundo da sua infância, multilingue, multicultural, de fronteiras periclitantes e tendo como centro nervoso Viena e o sonho imperial dos Habsburgo. Aqui sente-se esse mundo de ontem.


Rijeka era um município romano, dava pelo nome de Tharsaticum. É uma bela surpresa, a de entrarmos neste recanto bem preservado. Naturalmente que o império romano construía habitações portuárias nestes recantos privilegiados, caso do golfe de Rijeka.



Isto de não falar croata, de entrar numa igreja sumptuosa e confrontar um altar esplendoroso onde há uma legenda que conta uma história bizarra de um alcoólico que desafiou Deus, e quando a justiça divina se consumou deixou aquela marca que se fez junto ao Cristo crucificado, será a relíquia mais valiosa de Rijeka. O importante é o vigor da composição barroca, há quem considere este estilo uma profunda vulgaridade, o oposto da espiritualidade. Para a minha sensibilidade, estou confrontado com algo que é muito belo, um convite à oração, uma projeção do sublime. E chega-me.



Está na hora da abalada, a olhar para o relógio e com a mão no trólei, lá vou passarinhado onde a vida pulsa, é hora das compras e os locais procuram legumes e fruta, eu procuro cor, sinto-me correspondido por este vermelho fosforescente à volta de um velho mercado Arte Nova recuperado a preceito. E encontrei a mais linda porta desta viagem, não me importava nada que fosse a porta do meu prédio, mesmo ciente da despesa que deve acarretar a sua conservação. E chega de considerações, aqui arribei num entardecer enevoado e pluvioso, parto num fim de manhã cheio de sol, levo uns pedacinhos de piza, daqui ao Triste ainda são duas horas. Mal sabia eu que ia encontrar uma cidade parente gémea de onde agora parto. Afinal, o mundo ocidental é mais amplo do que a gente pensa.

(Continua)
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Notas do editor

[1] - Poste anterior de 26 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16640: Os nossos seres, saberes e lazeres (181): Uma viagem em diagonal pelos países dos eslavos do Sul (6) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 30 de outubro de 2016 > Guiné 83/74 - P16657: Os nossos seres, saberes e lazeres (182): O Pedro Milanos, vinho tinto, DOC Douro, da Quinta da Graça... Hoje, até às 21h30, no Mercados Vinhos, no Campo Pequeno, em Lisboa, com o Zé Manel Lopes ("Josema") e a Luísa Valente...

Guiné 63/74 - P16670: Blogpoesia (478): Neste Dia de Finados - "Campo Santo", da autoria de Domingos Gonçalves, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 1546

Cemitério de Omaha, Costa da Normandia


1. Mensagem do nosso camarada Domingos Gonçalves, (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 1546 / BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68) com data de 31 de Outubro de 2016, trazendo até nós um poema alusivo ao Dia de Finados que hoje se celebra:

Prezado Luis graça.
Tomo a liberdade de enviar mais um pequeno poema, que poderá ser publicado.

Com um abraço amigo,
Domingos Gonçalves


CAMPO SANTO

I


Da vida resta amorfo pó.
Terra
Barro
Nada.

As flores na tumba são engano.
Ilusão de ser.
Mágoa
Dó.

Cemitério...
Pó humano
Verdade feita espada
Fim de tudo
Humilhação
Passagem.

Ai! Vida! Tu és só
Calor de uma ilusão,
Folha caída,
Nuvem de pó
Miragem


II

É lá que a aldeia
Adormece
No sono eterno
De cada filho
Seu.

É lá que a aldeia descansa
Da labuta e da dor
De cada vida que passa.

Cemitério...
Terra humilde
De barro humano
Em tantos anos feita.

Cemitério...
Último refúgio
Da vida
Que aguarda serena,
Simulando ser pó,
O som das trombetas.
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Nota do editor

Último poste da série de 30 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16659: Blogpoesia (477): "Um banho de cor..."; "Pedras ao lago..." e "Eclipse quase total...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 63/74 - P16669: Parabéns a você (1155): Abílio Magro, ex-Fur Mil Amanuense - CSJD/QG/CTIG (Guiné, 1973/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 1 de Novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16664: Parabéns a você (1154): José Carlos Gabriel, ex-1.º Cabo Op Cripto do BCAÇ 4513 (Guiné, 1973/74)

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16668: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (104): reencontro, através do blogue, ao fim de quase meio século, de 4 amigos bairradinos e antigos alunos do CNA - Colégio Nacional de Anadia, e que estiveram nos TO da Guiné (Vasco Pires, Paulo Santiago e Manuel Reis) e de Angola (Acácio Conde)... Um deles, Vasco Pires (1948-2016), acaba de nos deixar... Entrou para a nossa Tabanca Grande em 27/9/2012, vivia no Brasil desde 1972


Portugal > s/l > s/d >  O Vasco Pires (1948-2016), fardado, já possivelmente aspirante a oficial miliciano, talvez em 1970, ano em que foi mobilizado para o TO da Guiné, em rendição individual. O pai, a seu lado, era o professor José Martins Pires, licenciado pela Universidade de Coimbra,


Universidade de Coimbra >Faculdade de Letras > 19 de dezembro de 1930 > Cartão de estudante do futuro professor do ensino secundário José Martins Pires, e pai do Vasco Pires (1948-2016).



Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 23º Pel Art (1970/72) > A partir da esquerda: fur mil art Oliveira, um graduado da Companhia de Comandos Africana (?), o alf mil art Vasco Pires, cmdt do 23º Pel Art, e o fur mil art Kruz, os seus "furriéis operacionais", que o Vasco estimava muito mas de quem infelizmente perdeu o rasto.

Fotos: © Vasco Pires (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Os primeiros contactos do Vasco Pires (1948-2016) com o nosso blogue datam de 5 e 7/2/2012 (*). A apresentação oficial à Tabanca Grande ocorreria mais tarde,  em 27/9/2012 (**). 

Natural da Anadia, aluno do CNA - Colégio Nacional da Anadia, filho do professor José Martins Pires, rapidamente reencontraria, através do blogue, ao fim de quase meio século,  três colegas do tempo do Colégio, que também passaram pelo ultramar, durante a guerra: o Paulo Santiago e o Manuel Reis (Guiné) e o Acácio Conde (Angola). Os dois primeiros são membros da nossa Tabanca Grande.

Eis aqui os seus comentários originais (2012), que voltamos a reproduzir neste poste de homenagem a um grande bairradino do Brasil e nosso camarada da Guiné, que acabamos de perder (****).

De qualquer modo, estes reencontros vieram comprovar a nossa velha máxima: o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (*****).


(i) Paulo Santiago [ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72]

Foi um "clic" ao ler Vasco Pires. Há muitos anos, alguém me disse que estavas no estrangeiro, e que estiveras na Guiné, não imaginava que tinha coincidido com a minha estadia.

Tu eras filho do professor Pires que era colega do meu pai, viemos de bicicleta desde Anadia a uma festa aqui em Aguada [, Águeda,] estás lembrado?

Este blogue, criado pelo Luís Graça é, na verdade, um grande ponto de encontro.

Não tenho ideia de te ter encontrado após a minha saída do Colégio e ida para a ERA [, Escola de Regentes Agrícolas,] de Coimbra, e, sendo assim, não trocávamos palavras há quase cinquenta (50)
anos... Impressionante!!!

Continuo a andar lá para os lados de Anadia... Estou velho (estamos) mas vou à Moita treinar rugby com os Veteranos do Moita-Rugby Clube da Bairrada... Há quem diga que tenho uma "pancada" mas vou-me sentindo bem.

Não imaginas o bem que foi ter-te encontrado aqui, neste blogue, ao fim de tantos anos... Gostei e fiquei sensibilizado pelo "encontro". Nesta fase da vida, as velhas recordações são um bálsamo.

Vasco, recebe um grande abraço,
Paulo Santiago


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > CCAÇ 2769 (Gadamael e Quinhamel, de janeiro de 1971 a outubro de 1972) > Vista aérea de Gadamael Porto nos finais do ano de 1971. Foto do cor art ref António Carlos Morais da Silva, e por ele gentilmente cedida ao nosso camarada Manuel Vaz.

Foto: © Morais da Silva (2012) Todos os direitos reservados.[Edição: LG].


(ii) Manuel Reis [ex-Alf Mil da CCAV 8350, (Guileje, Gadamael, Cumeré, Quinhamel, Cumbijã e Colibuia, 1972/74]:

Amigo Vasco.

Já deixei o meu comentário no poste do Paulo Santiago, mais à frente. Fiquei surpreendido por te ver neste Blogue. Sabia, no entanto, que estavas no Brasil.

Não fazia a mínima ideia que tinhas passado pela Guiné e muito menos em Gadamael, julgava-te no Brasil no início da Guerra Colonial e os nossos amigos comuns como o Acácio [Conde], nunca a se referiram a tal, quando te recordávamos nos convívios dos antigos alunos do Colégio de Anadia.

Lembras-te do Coronel Beirão (hoje General), nosso Professor de Educação Física e irmão da Drª Maria de Lurdes, nossa digníssima professora de Matemática? Pois bem, encontrei-o lá na Guiné, procurou-me para sacar dados sobre Guileje. Tive de me furtar a almoçar com ele, não estava disposto a abrir-lhe o jogo, sabendo de antemão que pertencia no Serviço de Informações.


 (iii) Acácio Conde [, Aveiro]

Malhas que o acaso tece... Viajando pelas páginas da internete um pouco ao Deus dará, acabo de descobrir contactos de três amigos contemporâneos de juventude que a vida se encarregou de separar. 

A marca comum que nos juntou no Colégio Nacional em Anadia e vos juntou na guerra colonial da Guiné-Bissau sem saberem uns dos outros,  a mim mandou-me para Angola... Tenho-vos encontrado esporadicamente mas desconhecendo no concreto esse elo de ligação das vossas vidas. 

Afinal o mundo continua pequeno e redondo: o Vasco Pires, o Paulo Santiago e o Manuel Reis são os amigos a que me refiro e de quem guardo memórias de juventude. Este blogue que por vezes tenho visitado,  pela sua qualidade e capacidade de mobilização que consegue junto de muitos dos ex-militares que nas décadas de 60 e 70 estiveram em África e que continuam a partilhar entre si memórias e momentos de vida em comum...

A estes amigos em particular envio um forte abraço, com desejo de boa saúde, esperando que nos possamos juntar um dia aqui por Aveiro, onde vivo vai para 40 anos. Seria uma grande alegria que se concretizasse esse encontro. 

Cordialmente,
Acácio Conde
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:



(...) Comentários (posteriores) dos leitores a este poste:

(i) Vasco Pires (ex-comandante do 23º Pel Art, Gadamael, 1970/72, a quem saudamos e convidamos a integrar a nossa Tabanca Grande)

Prezados, com as devidas ressalvas de mais de quarenta anos de distância, não posso afirmar se essas fotos são de Gadamael Porto. O que posso afirmar, é que quando cheguei em Gadamael, penso que em finais de 1970, para assumir o comando do 23° Pelart, os espaldões já estavam prontos, bem como as casas do reordenamento (com teto de zinco), que foram ocupadas pelo pessoal da artilharia, inclusive a primeira casa, junto à cerca do quartel, foi ocupada por mim e pelos valorosos e esforçados Furriéis [Oliveira e Kruz]. Cordiais saudações.

Domingo, fevereiro 05, 2012 7:45:00 PM


(...) vascopires@yahoo.com disse...

Prezado Luis Graça, 

Fico muito grato pela cordial acolhida bem como pelo convite. Sou um desses milhões da multicentenária diáspora lusitana, que em 1972 saiu de Portugal, e por aí ando até esta data.  Há talvez um ano, tive o primeiro contacto com o blogue; quero te parabenizar como a toda a equipe pelo extraordinário trabalho, bem como pelo alto nível da edição do blogue, em assuntos tão polémicos e carregados de emoção, com décadas de distância. Cordiais saudações. (...)




Guiné 63/74 - P16667: (Ex)citações (321): Os Refractários, os Objectores de Consciência e os Desertores (António Carvalho, ex-Fur Mil Enf da CART 6250/72)

1. Mensagem do nosso camarada António Carvalho (ex-Fur Mil Enf da CART 6250/72, Mampatá, 1972/74), com o seu ponto de vista em relação a quem de algum modo se furtou à ida para a guerra do ultramar:


Os Refractários, os Objectores de Consciência e os Desertores 


A guerra que Portugal enfrentou nos territórios ultramarinos, durante quase toda a década de sessenta e metade da década seguinte, condicionou a vida de largas centenas de milhares de jovens portugueses que tiveram que interromper o curso normal das suas vidas para, ao serviço da Pátria ou de uma doutrina forjada pelos donos da Pátria, combaterem as insubmissões dos povos das nossas colónias africanas.

Não foi uma tarefa fácil, nem de efeitos inócuos esta guerra imposta aos jovens desses tempos, hoje alquebrados sob o peso dos sacrifícios físicos e pelas feridas do corpo e da alma que de lá trouxeram. Não admira, por isso, que muitos fossem os que, atempadamente, (fala-se em 200.000) ainda antes de darem o nome ou antes da inspecção, tivessem atravessado fronteiras para se evadirem ao cumprimento do serviço militar que, quase sempre, correspondia ao embarque para uma das três frentes de guerra. Eram os chamados refractários.

Outros, (talvez 8000) já no decurso do serviço militar, antes do embarque ou já depois de provarem alguns meses de guerra, repudiavam aquela vida e, na primeira oportunidade, lá iam eles, para qualquer país onde encontrassem guarida. Eram os desertores.

Havia ainda os objectores de consciência cujas ideias religiosas ou filosóficas os impediam de combater.

Numa malha mais fina, havia também os que, com a protecção de gente poderosa, “arranjaram” doenças para sair do mato e ficar internados durante mais ou menos meses até à desmobilização definitiva.

 O meu propósito não é julgar nenhum deles. Não devo nem posso fazê-lo. Porquê? Julgar os outros não é tarefa fácil, muito menos quando eles não estão presentes para se defenderem. Menos ainda quando eu, se tivesse tido oportunidade, também me teria eximido ao cumprimento da minha comissão na Guiné. 

Na hora da última formatura, no quartel de V. N. de Gaia, antes da partida para Lisboa, faltava um alferes que nunca mais apareceu, mais tarde, ainda antes de meio ano de comissão, outro alferes aproveitou a vinda de férias para não mais voltar ao mato. Não os nomeio por uma questão de respeitar o seu bom nome, porque eles fizeram o que entenderam ser a melhor opção e eu bem gostava de os reencontrar para lhes dar um abraço.

Esta minha confissão perante os meus camaradas do Blogue Luís Graça servirá para ajudar a sair do limbo aqueles camaradas que têm algum rebuço em aparecer no nosso meio. Eles tomaram a atitude que julgaram correcta para se libertarem daquele ambiente de sofrimento. Eu só não o fiz porque não pude.

MEDAS: 2016/10/30
Carvalho de Mampatá
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Nota do editor

Último poste da série de 20 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16620: (Ex)citações (320): Fiquei triste e revoltado com a imagem da piscina do QG de Bissau, parecia um SPA!... Era uma afronta para estava no mato (Armandino Oliveira, ex-fur mil, CCS / BCAV 1897, Mansoa, Mansabá e Olossato (1966/68; vive no Brasil há 40 anos)

Guiné 63/74 - P16666: Memória dos lugares (351): Canquelifá, a minha primeira estadia no mato. Permaneci lá durante o terceiro trimestre de 1966. Muitas coisas boas e más aconteceram durante esse tempo (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547)

1. Mensagem do nosso camarada Adão Pinho da Cruz, Médico Cardiologista, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), dirigida ao nosso amigo tertuliano Cherno Baldé, trazendo ainda algumas fotos de Canquelifá:

Caro Cherno Baldé,
Gostei muito da tua explicação. Estive em Canquelifá durante 3 meses, em 1966, talvez de meados de Junho a meados de Setembro, com a Companhia do então Capitão Pita Alves, um porreiraço.
Foi a minha primeira experiência no mato. Fiz boas amizades com militares e civis. Aí conheci o Régulo do Pachisse e o filho, de quem era amigo.
Conheci também o Anso, chefe da milícia, que, segundo me disseram mais tarde, foi executado após a independência.
Ainda tenho a foto dos seus dois filhitos, bebés.

Um abraço
Adão Cruz

************

Ainda Canquelifá, a minha primeira estadia no mato. Permaneci em Canquelifá durante o terceiro trimestre de 1966.
Muitas coisas boas e más aconteceram durante esse tempo.
Relatá-las levava um livro.


Canquelifá (à direita e em cima o nosso aquartelamento)

Na consulta

Gabinete de consulta

Novamente Fátima Demba, a companheirinha de todos os dias.

De novo os filhos do Anso

O Anso (que foi fuzilado após a independência, segundo me contaram), o alferes Duarte, o filho do Régulo e eu.

O Régulo do Pachisse (de óculos). Convidava-me muitas vezes para um wisky na sua palhota.

A Mesquita

O sino da Sé

A Sé Catedral

No mato, travessia de um charco
Fotos: © Adão Cruz
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Nota do editor

Último poste da série de 31 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16661: Memória dos lugares (350): Poucas terras fazem jus ao seu nome como Canquelifá, localidade guineense situada no seu extremo nordeste, e que em língua mandinga quer dizer "campo de batalha e de morte" (Cherno Baldé, Bissau)

Guiné 63/74 - P16665: Inquérito 'on line' (79): Com 60 respostas, até ontem às 18h, e a dois dias de "fecharem as urnas", temos apenas 11 casos de deserção no CTIG... Precisamos de chegar às 100 respostas... e nomear a(s) companhia(s), no CTIG, em que tenha havido um ou mais casos de desertores, antes do embarque e/ou depois do embarque: depoimentos, precisam-se!


Foto nº 1


Foto nº 2

"O Homem a Quem Chamaram G3"... O fuzileiro António Trindade Tavares,  o célebre G3, que desertou em 1968... Acabou por apanhar cinco anos de prisão pelo crime de deserção... Aqui no forte de Elvas, s/d (foto nº 1). Nasceu em Lisboa (em 1944) (foto nº2).

Fotos da página do Facebook, do seu livro, com a devida vénia. Sobre o autor e o livro, clicar aqui para saber mais:

"A história de António teria tudo para ser igual a tantas outras. Nascido em Lisboa durante os tempos de racionamento da Segunda Guerra Mundial e pobreza do Estado Novo, criou-se e cresceu pelas ruas de Alcântara e do bairro do Alvito, entre cowboiadas, tiro aos pardais, pancadarias, gazeta à escola e trabalho infantil até ser chamado para a Guerra Colonial. 

"Como tantos outros Fuzileiros, viu-se na Guiné tentando chegar vivo até ao fim do seu tempo de tropa, mas umas rodadas de cerveja com as pessoas erradas desviaram-lhe a vida do curso previsto. A partir deste momento ficou para sempre conhecido como G3, um nome que jamais o largaria, a personificação da resistência anti-fascista, traições à pátria de Salazar e terrorismo militar. Hoje, meio século depois, a sua história é finalmente contada." (Fonte: Sítio do Livro).

Vd. também a qui a nota de leitura que o  Mário Beja Santos fez sobre o livro.


1. INQUÉRITO 'ON LINE':

"NA MINHA UNIDADE (COMPANHIA OU EQUIVALENTE) NÃO HÁ CASOS DE DESERÇÃO"



Os 60 primeiros resultados (às 18h00 de ontem)


1. Nenhum, na metrópole  > 31 (51%)

2. Nenhum, no TO da Guiné  > 41 (68%)

3. Um, na metrópole  > 11 (18%)

4. Dois, na metrópole  > 3 (5%)

5. Três ou mais, na metrópole  > 2 (3%)

6. Um, no TO da Guiné  > 8 (13%)

7. Dois, no TO da Guiné  > 1 (1%)

8. Três ou mais, no TO da Guiné > 0 (0%


O prazo de resposta ao inquérito termina na 5ª feira, dia 3/112016, às 15h34.


2. Comentários dos nossos camaradas no poste P16655 (*)

(i) Vasco Pires [, falecido ontem, em Porto Seguro, Brasil]

Na minha unidade, o 23° Pel Art, não teve deserção, e continuo achando muito pouco provável havê-la, pois os soldados, que tinham até três mulheres, tinham um poder aquisitivo muito superior à maioria da população. Lamento não ter números concretos para apresentar.


(ii) Luís Graça

Vasco, não tens que "pedir desculpa"... Na minha guineense CCAÇ 12, também não houve deserções...  Primeiro, eles eram todos fulas e tinham um ódio de morte ao PAIGC...  E depois recebiam todos o equivalente a um pré de um 1º cabo metropolitano: 600 pesos (soldados de 2ª classe, do recrutamento local) + 24,5 pesos por dia por serem desarranchados)... O 1º cabo José Carlos Suleimane Baldé, que tinha a 4ª classe, ganhava mais (em patacão) do que o colega metropolitano, por ser desarranchado...

Ao fim do mês, eram cerca de 1.350 pesos, para um simples soldado de 2ª classe (!), "português da Guiné"... Na Guiné na época, era muito dinheiro...  Em escudos da metrópole, e aplicando a taxa de desvalorização de 10% em relação ao peso, eram 1.215 escudos!...  Em 1969, 1.215 escudos equivaleriam hoje a 361,21 € ...

O PAIGC não pagava pré, nem em pesos, nem escudos, nem rublos, nem em dólares, nem coroas suecas... Só prometia, para os vencedores e os sobreviventes, a glória da independência!... O problema é que o heroísmo não enche barriga nem dá para alimentar duas mulheres, no mínimo, e um rancho de filhos...

Os nossos soldados guineenses ganhavam mais do que os médicos cubanos, essa é que é a verdade!... A terem desertado (, o que não me parece que tenha acontecido com companhias africanas como a CCAÇ 12, no final da guerra no TO da Guiné; pode ter acontecido em Angola e em Moçambique...), só poderia ter sido pela clara perceção de que nós, os tugas, os estávamos prontos para os abandonar...

Felizmente, eu não estava lá, no pós 25 de abril, nem assisti a esse momento doloroso da passagem de testemunho da história... Acredito que tenha sido dilacerante para os "últimos soldados do império"... E foi seguramente mais trágico para os nossos camaradas guineenses que apostaram no cavalo errado...


(iii) António Silva

Também estive na Guiné,  na CCaç 2790. Tivemos um desertor, um alferes, que segundo diziam foi de férias de mobilização e nunca mais voltou.


(iv) Joaquim Ruivo

Enquanto estive na Guiné (de outubro de 61 a fevereiro de 64), tive conhecimento de 2 casos de deserção: um alferes miliciano da minha unidade (cabo-verdiano) e um 1ª cabo cripto. Este último, segundo consta,  falava aos microfones duma emissora dum país africano, que não me lembro qual. O 1º cabo cripto deu muitos problemas no sector das transmissões porque tiveram que alterar todos os códigos...


(v) José Cruz

Na minha companhia, CCAÇ 3306,  em Jolmete, houve um desertor, um furriel. Ah! mas conheço um desertor do exército que, depois do 25 de Abril, veio para o país e arranjou colocação como funcionário público. Professor. Eu tive de emigrar.


(vi) [Joaquim ?] Mendes

Correndo o risco de estar a ver mal o inquérito, pergunto-me sobre a sua validade,  dado permitir que vários militares da mesma companhia assinalem o mesmo desertor dando origem a erro grosseiro.
Sugiro que o voto implique referenciar a unidade em causa para assim reduzir a multiplicação dos desertores (que não serão muitos).


(vii) Tabanca Grande (editor)

Camarada Mendes, tens razão... Mas o objetivo da "sondagem" é permitir-nos falar justamente destes casos... Não temos a veleidade de fazer um "estudo científico" sobre o fenómeno da deserção na Guiné... A nossa amostra será sempre "enviesada"... Este não é o instrumento apropriado...

Além disso, esta funcionalidade do Blogger, o nosso servidor, tem muitas limitações técnicas.... Não posso fazer duas perguntas ao mesmo tempo, nem muito menos perguntas abertas: por exemplo, qual foi o nº da companhia?

De qualquer modo, temos em média um membro da Tabanca Grande por companhia... Não haverá grandes riscos de sobreposição... E há companhias que nem sequer estão aqui representadas...

É importante que a malta responda e diga o que respondeu ... Eu já o fiz, na minha CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 não houve desertores, nem antes nem depois do embarque... E aqui não contam os boatos de caserna, o que se ouviu dizer, etc. Queremos factos, casos concretos (se é que os houve, em cada uma das nossas companhias)...


(viii) Luís Graça

Até 1965, haveria "apenas" 9 desertores tugas, que se passaram para o "outro lado"... A fonte (insuspeita) é o 'Nino' Vieira... Será também razoável considerar como desertores uma série de rapaziada, que deixou as nossas forças armadas para se juntar ao movimento liderado por Amílcar Cabral... Estou a lembrar-me de diversos guineenses que frequentaram, com aproveitamento, o 1º Curso de Sargentos Milicianos, em Bissau, em 1959... O caso mais conhecido é o Domingos Ramos, um dos "generais" do PAIGC...

Um dos 3 desertores de Fulacunda, em 1965, era, de seu nome completo, o António Manuel Marques Barracosa [e não Barricosa...], de 23 anos, com o posto de 1º cabo miliciano...

Seria mais tarde, dois anos depois, em maio de 1967, um dos 4 implicados na assalto à agência do Banco de Portugal na Figueira da Foz, liderado por Hermínio da Palma Inácio, 46 anos, fundador e dirigente da LUAR, com a colaboração de Camilo Tavares Mortágua, 34 anos, e Luís Benvindo, 25 anos.  O assalto, no valor de mais de 29 mil contos na época (c. 146 mil euros, na moeda de hoje), teria sido até então o maior roubo de sempre em Portugal. Julgado à revelia, o Barracosa foi condenado a 13 anos. Perdeu-se aqui o seu rasto...

Os casos de deserção, não na metrópole, mas já no TO da Guiné, são, de facto, poucos ao longo da guerra, de tal modo que os nomes dos desertores são sobejamente conhecidos: Aqui vão mais três:

Manuel Alberto Costa Alfaiate, antigo fuzileiro naval; desertou em fevereiro de 1970; Manuel Fernando Almeida Matos, 1º cabo, chegou à Guiné em janeiro de 1969, participou em várias operações, sobretudo na região de Bula, e desertou em abril; Manuel Veríssimo Viseu, natural de Mértola, nascido em 1946, pertenceu à 15ª Companhia de Comandos, combateu em Jabadá, chegou à Guiné em Maio de 1968; quando a 15ª Companhia de Comandos estava em Cuntima, atravessou a fronteira e apresentou-se ao PAIGC.


(viii) Acácio Jesus Nunes

Na CCaç 2312, apareceu lá um tipo em rendição individual, esteve poucos meses e em Bula pirou-se com a arma. Foi o único e por onde andámos não me constou caso idêntico.  Este meliante foi acusar na rádio Conakry um alferes e o capitão de crimes que nunca se cometeram contra a população. Além de cobarde,  foi aldrabão.


(ix) José Colaço

A maior fuga à guerra não eram os desertores, mas, creio eu e até prova em contrário,  foram os refractários que a partir,  dos 13 anos, mais ou menos,  até serem chamados à inspecção e incorporação nas forças militares,  preparavam a fuga não se apresentando quando eram chamados.

Havia vários estratagemas: muitos dos filhos dos senhores de então eram admitidos como trabalhadores por influências, cunhas na OGMA em Alverca,  e assim se safavam de ir à guerra.
Por isso esta sondagem fica muito carente das fugas da ida à Guerra do Ultramar.


(x) António J. Pereira da Costa

As técnicas de "fuga" de que o Colaço fala eram legais e algumas até tinham reversos, como é o caso da ida para a pesca do bacalhau.

Creio que estamos a falar dos que não foram de todo e não aproveitaram, talvez por não saberem, os diferentes, mas poucos furos da lei.

Ao Jesus Nunes lembro que a propaganda é isto mesmo. O uso de depoimentos e testemunhos "prestados" por desertores faz parte dela. Recordo o depoimento do ten comando graduado  Januário, que desertou em Conakry com o respectivo Gr Comb. Cmds [no decurso da Op Mar Verde, em 22 de novembro de 1970, 1ª Companhia de Comandos Africana / Cmds Africana],  antes de serem todos fuzilados, que está nesta linha. Não temos ideia nenhuma das informações que prestaram ao In e como é que elas lhes foram sacadas.

Não sei se o desertor, isto é, o que foge para o In ou para outras regiões, depois de incorporado, não terá de ter uma boa dose de coragem. É cortar com tudo e recomeçar, sem poder voltar atrás... Houve camaradas nossos que foram recambiados da Suécia, por não terem aceitado colaborar, mesmo indirectamente, com os guerrilheiros.

Estes são pontos a considerar na apreciação do problemas. De qualquer modo, parece-me que já avançámos ao fixarmos a diferencia entre desertor, faltoso e refractário.


(xi) Vasco da Gama

Também o nosso capitão Vasco da Gama teve o seu desertor.... Convite para revisitar um dos seus postes, da série "Banalidades da Foz do Mondego", de 15/6/2009:

 (...) "Temos os que embarcaram connosco e que deram o salto quando vieram de férias à metrópole. Aconteceu a um furriel da minha companhia, o Pereira, a quem os Tigres designam por furriel fugitivo ou fugitivo, tout court. O seu não regresso à minha Companhia ainda me levou a ser ouvido pelo Pide de Aldeia Formosa que achou estranho o facto de eu não ter desconfiado de nada…

"O fugitivo foi a um dos primeiros convívios da nossa Companhia, alguns anos após o 25 de Abril. Acreditem que nenhum de nós lhe cobrou o que quer que fosse, muito embora nunca mais tivesse aparecido. Conversámos e ele apenas referiu que não conseguia aguentar a situação que a nossa Companhia estava a viver e que tinha tido a oportunidade de se pirar. Eu sei que apenas pensou nele e os outros que se lixem, mas para quê fazê-lo sofrer mais com o nosso julgamento?

"Cada um é como cada qual e quão diferente foi a atitude do nosso José Brás que, de férias em Portugal, recebeu a notícia da morte dos seus camaradas, o Dias e o Oliveira que morreram sem ele em Xinxi-Dari. Nem o pai o convenceu a dar o salto e o Mejo iria continuar a ser a sua pátria por mais algum tempo…. “E sem precisar de dizer-lhe que me sentia miserável por ter deixado morrer aqueles amigos sem a minha presença de arma na mão…” (...)

(xii) Mário Pinto

O fuzileiro António Trindade Tavares,  o célebre G3, que desertou em 1968 do seu destacamento em Bissau... Por acaso já contei a sua história aqui no Blogue. Era meu vizinho aqui no Lavradio.


Guiné > Bissau > 1959 > 1º Curso de Sargentos Milicianos, aberto a "assimilados" > 1ºs cabos milicianos Mário Dias (à direita, na segunda fila, de pé), Domingos Ramos (à esquerda, na primeira fila) e outros... De entre os militares que frequentaram o 1º Curso de Sargentos Milicianos (CSM), em Bissau, em 1959, houve vários casos de deserção para o PAIG

"De cócoras, a partir da esquerda: Domingos Ramos; um outro cujo nome não me lembro mas que também foi para a guerrilha; e depois o Laurentino Pedro Gomes. De pé: não me recordo o nome mas também foi para a guerrilha; Garcia, filho do administrador Garcia, muito conhecido e estimado em Bissau; mais um de cujo nome não me recordo; eu [, Mário Dias]; e mais outro futuro guerrilheiro."

Foto (e legenda): © Mário Dias (2006). Todos os direitos reservados
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