quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Guiné 61/74 - P17016: Meu pai, meu velho, meu camarada (51): Feliciano Delfim dos Santos (1922-1989), ex-1º cabo, 1º Comp /1º Bat Exp do RI 11, Cabo Verde (Ilhas de Santiago, Santo Antão e Sal, 1941/43) (Augusto Silva Santos) - Parte III: Fotos de Pedra Lume, Morro Curral e Espargos, na ilha do Sal



Cabo Verde > Ilha do Sal > Pedra Lume > 1942 > O Feliciano é o segundo, sentado, da esquerda para a direita.[Foto 9] [Acrescenta o nosso camarada Benjamim Durães: "Na 1ª e na 3ª fotografias [foto 9B] está o meu tio António Joaquim Durães, soldado atirador: é  o 5º militar a contar da esquerda da última fila"].



Cabo Verde > Ilha do Sal > Pedra Lume > 1942 > O Feliciano é o segundo, sentado, da esquerda para a direita.[Foto 9A]


Cabo Verde > Ilha do Sal > Pedra Lume > 1942 > O Feliciano é o segundo, sentado, da esquerda para a direita.[Foto 9B] [Acrescenta o nosso camarada Benjamim Durães: "Na 1ª e na 3ª fotografias [foto 9B] está o meu tio António Joaquim Durães, soldado atirador  : é  o 5º militar a contar da esquerda da última fila"].



Cabo Verde > Ilha do Sal > Pedra Lume > 1942 > O Feliciano é o segundo, sentado na fila do meio, da direita para a esquerda.sentado, da esquerda para a direita.[Foto 10]




Cabo Verde > Ilha do Sal > Pedra Lume > 1942 > O Feliciano é  primeiro à esquerda [Foto 11A]



Cabo Verde > Ilha do Sal > Pedra Lume > 1942 > O Feliciano é  primeiro à esquerda [Foto 11]



Cabo Verde > Ilha do Sal > Pedra Lume > 1942 > O Feliciano, de pé, fardado. na fila de trás [Foto 12]


Cabo Verde > Ilha do Sal > Pedra Lume > 1942 > O Feliciano, de pé, fardado. na fila de trás [Foto 12A]


 Cabo Verde > Ilha do Sal > Pedra Lume > 1942 > O Feliciano é o segundo, sentado, da direita para a esquerda. [Foto 13]


 Cabo Verde > Ilha do Sal > Pedra Lume > 1942 > O Feliciano é o segundo, sentado, da direita para a esquerda. [Foto 13A], ao lado de um menino da ilha, que devia ser a mascote da 1ª companhia



 Cabo Verde > Ilha do Sal > Pedra Lume > 1942 > O Feliciano, de pé, na fila de trás, é o mais alto [Foto 14]


Cabo Verde > Ilha do Sal > Morro Curral > 1942 > O Feliciano, de pé,segundo, da esquerda para a direita, com criança ao colo [Foto 15]



 Cabo Verde > Ilha do Sal > Espargos > 1942 > O Feliciano é o primeiro, da direita [Foto 16A]

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Cabo Verde > Ilha do Sal > Espargos > 1942 > O Feliciano é o primeiro, da direita [Foto 16]


Fotos (e legendas): © Augusto Silva Santos (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Feliciano Delfim Santos (1922-1989)
1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do pai do nosso camarada e grã-tabanqueiro Augusto Silva dos Santos (que reside em Almada e foi fur mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73).


O Augusto disponibilizou-nos 33 fotos, digitalizadas, do seu pai, Feliciano Delfim Santos, e dos seus camaradas da 1ª companhia do 1º batalhão expedicionário do RI 11, que esteve na ilha do Sal, entre junho de 1941 e dezembro de 1943 [, foto à direita] (*).


Os "expedicionários do Onze" partiram do Cais da Rocha Conde de Óbidos, em Lisboa, no vapor "João Belo", a 16 de junho de 1941, com desembarque na Praia, ilha de Santiago, a 23 do mesmo mês. 

Estiveram praticamente todo o tempo na então inóspita e pouca habitada ilha do Sal, em missão de soberania, como se podem perceber por estas fotos. As instalações (barracas de madeira) eram em Pedra Lume, a nordeste da ilha. A capital era então Santa Maria, a sul. Espargos é hoje a capital, tendo-se desenvolvido à sombra do aeroporto internacional Amílcar Cabral, no centro da ilha.

Quem diria, em 1941, que a ilha do Sal viria a transformar-se na ilha mais turística do arquipélago, responsável por metade de todas as dormidas turísticas  em Cabo Verde ? De acordo com o censo de 2010, a ilha cerca de 25,8 mil habitantes. Em 2014, a revista "Visão" apresentava "dez razões para voar já para a ilha do Sal".

É em Pedra Lume (ou Pedra de Lume) que se localiza a mina de sal mineral que deu o nome à ilha descoberta em 1460 pelo navegador português António da Nola.

No final, o 1º batalhão do RI 11 ainda passou elas ilhas de Santo Antão e de São Vicente regressando a casa em dezembro de 1943. Duas dezenas de camaradas do batalhão morreram na ilha,  por doença,  e lá ficaram sepultados.
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Nota do editor:

(*) Vd. postes anteriores da série >

30 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17002: Meu pai, meu velho, meu camarada (51): Feliciano Delfim dos Santos (1922-1989), ex-1º cabo, 1º Comp /1º Bat Exp do RI 11, Cabo Verde (Ilhas de Santiago, Santo Antão e Sal, 1941/43) (Augusto Silva Santos) - Parte II: "Colá San Jon", na Ribeira de Julião, ilha de São Vicente, 1943

29 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17000: Meu pai, meu velho, meu camarada (50): Feliciano Delfim dos Santos (1922-1989), ex-1º cabo, 1º Comp /1º Bat Exp do RI 11, Cabo Verde (Ilhas de Santiago, Santo Antão e Sal, 1941/43) (Augusto Silva Santos) - Parte I: A caminho da ilha do Sal, com chegada, a 23/6/1941, à Ilha de Santiago, no vapor "João Belo"...

 27 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16996: Meu pai, meu velho, meu camarada (49): O que conseguimos saber, até agora, do ex-1º cabo Armindo da Cruz Ferreira, companhia de acompanhamento do 1º Batalhão Expedicionário do RI 11, Cabo Verde, Ilha do Sal (junho de 1941-dezembro de 1943) a pedido da sua neta, Albertina da Conceição Gomes, médica patologista na Noruega

Vd. também poste de:

29 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9674: Meu pai, meu velho, meu camarada (27): Feliciano Delfim dos Santos (1922-1989), ex-1º cabo, 1º Comp /1º Bat Exp do RI 11, Cabo Verde (Ilhas de Santiago, Santo Antão e Sal, 1941/43) (Augusto S. Santos)

Guiné 61//74 - P17015: Efemérides (244): 29 de janeiro de 1947, no dia em que nasci: Na Guiné era inaugurado o sistema de abastecimento de água a Bissau bem como o bairro de Santa Luzia... e em Paris fazia um frio de rachar:- 13º (e -30º nos Alpes franceses)!...



1ª págima do Diário de Lisboa, nº 8683, ano 26, quarta-feira, 29 de janeiro de 1947, diretor: Joaquim Manso (Fonte: Fuindação Mário Soares > Casa Comum > Arquivos > Diário de Lisboa / Rua Ramos > Pasta 05780.044.11034( (com a devida vénia...)


1. Mera curiosidade: sei que nasci, porque a minha mãe e o meu pai mo disseram, numa manhã fria de 4ª feira, do dia 29 de janeiro de 1947,  em casa dos meus avós maternos, no Nadrupe, Lourinhã... ainda o vespertino "Diário de Lisboa" não estava nas bancas...  Era rapaz e tinha a cabeça grande: o meu pai quando me viu profetizou logo o meu futuro: "só podia ser padre ou doutor"... Não fui padre, mas andei seis anos no seminário (em Santarém e Almada, entre 1958 e 1964),,, E depois da Guiné, licenciei-me em sociologia (, ISCTE-IUL, 1980) e doutorei-me em saúde pública (Universidade NOVA de Lisbboa, 2004):

Nesse dia, banal para o resto da humanidade, em Paris, as temperaturas chegavam aos 13 graus negativos, obrigando as autoridades municipais a encerrar metade das escolas, para manter as reservas de carvão (!)... Em Marselha, bloqueada pela neve, não aterravam aviões e os restantes portos de França os navios estavam paralisados pelo gelo. Nos Alpes franceses batiam-se recordes de temperaturas negativas: - 30 graus...

Sarmento Rodrigues (1899-1979).
 Cortesia da Revista Militar
Entretanto,  na nossa Guiné, e sendo  governador geral o futuro almirante Samento Rodrigues (Freixo de Espada à Cinta, 1899 - Lisboa, 1979) era dia de festa: o subsecretário de Estado das Colónias (só em 1951, é que se passa a chamara do Ultramar, com Sarmento Rodrigues a assumir a pasta), o engº Sá Nogueira,  prosseguia a sua visita àquele território, fazendo uma série de inaugurações, com destaque para o abastecimento de água a Bissau e o bairro de Santa Luzia.

O representante do governo da Metrópole e a sua comitiva visitava de manhá as obras do Museu,do Palácio do Governador e moradias dos funcionários "que transformarão radicalmente a fisionomia da cidade, dando-lhe o aspeto de um centro urbano moderno", lê-se na primeira página do "Diário de Lisboa" desse dia, segundo despacho da agência noticiosa Lusitânia... A residência do delegado do ministério público também foi objeto de visita, sendo considerada "a última palavra da nova arquitetura colonial" (sic).

Não faltaram os vivas e as  aclamações dos "indígenas de diversas tribos, que tocaram o hino nacioanal em instrumentos gentílicos", bem como dos "colonos"... Houve ainda visita aos depósitos de construção do Alto Crim, bem como às obras do porto do Pigiguiti (sic) (era assim que o topónimo era grafado: hoje há variantes para todos os gostos!),

Outro título de caixa alta era reservado para o feminismo, "avant la letrre": as mulheres do pós-guerra estavam a medir meças aos homens,  nomeadamente na América, donde vinham então todas as novidades e tendências  modernizadoras, das tecnologias aos costumes... O jornal publicava uma entrevista com Mrs. Crocker, a esposa do conselheiro da embaixada norte-americana em Lisboa, na sua casa no Lumiar...

É dado igualmente destaque à "entente cordiale" entre a França e a Inglaterra, duas grandes potências coloniais condenadas a entenderem-se,  ambas saídas vencedoras da trágica II Guerra Mundial... Por fim, dava-se a notícia da entrada, no dia seguinte, no Tejo, de um cruzador antiaéreo norte-americano...

Não foi preciso ir à bruxa para logo eu "pressentir", com escassas horas de vida, que o raio da Guiné iria atravessar-se, 22 anos depois, na vida minha... (LG).

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Nota do editor:

Último poste da série > 31 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17008: Efemérides (243): Acontecimentos no mês de Janeiro, entre 1963 e 1974, na Guiné (António Tavares, ex-Fur Mil SAM)

Guiné 61/74 - P17014: Parabéns a você (1203): Germano Santos, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 3305 (Guiné, 1970/73)

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Nota do editor

Último poste da série de 29 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16999: Parabéns a você (1202): O fundador e editor do nosso Blogue, Luís Graça, ex-Fur Mil Armas Pesadas de Infantaria da CCAÇ 12 (Guiné, 1969/71)

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Guiné 61/74 - P17013: Militares mortos na 1.ª Guerra Mundial e Guerra do Ultramar do concelho de Torre de Moncorvo (Armando Gonçalves) - Parte III: 1961, o "annus horribilis" de Salazar






Torre de Moncorvo: logo da câmara municipal (cortesia da página do município). 
O município erigiu, em 2013, um monumento aos combatentes da guerra do ultramar.





"O navio de passageiros português Santa Maria que largara do porto de Curaçao, nas Caraíbas, rumo a Miami, com 600 passageiros, foi tomado de assalto na madrugada de 22 de janeiro de 1961. Um punhado de 23 exilados políticos portugueses e espanhóis, comandados pelo famoso oposicionista capitão Henrique Galvão, pretendia um golpe político-militar (que no limite seria conquistar o poder em Angola). Falharam tudo, menos o golpe publicitário contra Salazar. (...) N
o tombadilho do Santa Maria uma faixa vai rebatizar o navio: Santa Liberdade, essa foto não será publicada em Portugal. "(...)

Cortesia de Diário de Notícias 150 anos > 13/9/2014


1. Continuação do trabalho de pesquisa do nosso amigo Armando Gonçalves, professor de História, do Agrupamento de Escolas Dr. Ramiro Salgado, em Torre de Moncorvo, e que aceitou integrar a nossa Tabanca Grande, passando a ser o nº 733 (*)


Parte III (pp. 12-15)










(Subtítulo da responsabilidade do editor. Continua)
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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16992: Militares mortos na 1.ª Guerra Mundial e Guerra do Ultramar do concelho de Torre de Moncorvo (Armando Gonçalves) - Parte II: Portugal e a 2ª Guerra Mundial

Guiné 61/74 - P17012: Facebook...ando (44): Quem não chora não mama e, para a tosse, um chazinho de cascas de cebola com limão, adoçado com um pouco de mel (Manuel Luís R. Sousa)

Vila do Conde
Com a devida vénia ao autor do desenho


1. Publicado no facebook pelo nosso camarada Manuel Luís R. Sousa, Sargento-Ajudante da GNR na situação de Reforma, (ex-Soldado da 2.ª CCAÇ / BCAÇ 4512/72, Jumbembem, 1972/74), este texto com delicioso humor, só não nos conta se o petiz levou a sua avante, já que o ditado diz que quem não chora não mama. Quanto à tosse do nosso camarada Manuel Luís, nem com chá de cascas de cebola com limão, adoçado com mel, passava. O remédio era mesmo rir.


Quem não chora não mama e, para a tosse, um chazinho de cascas de cebola com limão, adoçado com um pouco de mel

E eu tossia.., tossia..., tossia... E que tosse!...
Não se preocupem, amigos, não apanhei nenhum resfriado ou constipação. A minha tosse era outra.

Todos nós conhecemos aqueles vocábulos de uma só palavra começados por "c" de cão e por "f" de facebook, que todos nós, do leigo ao intelectual, uns mais do que outros, como expressão libertadora, nas mais diversas circunstâncias, somos forçados a utilizá-los. No fundo, eles traduzem o que nos vai na alma num dado momento:
- De dor, quando o martelo que utilizamos falha a cabeça do prego e nos vai fazer mossa na mão que o segura, deixando-nos ali, de cara feia, a sacudir as falanges, falanginhas e falangetas, a ensaiar uns bons acordes de cavaquinho ou bandolim;
- De impaciência, quando estamos com pressa e a fila de trânsito que está à nossa frente teima em continuar parada e, como se isso não bastasse, o que vem atrás ainda nos azucrina com umas buzinadelas;
- De admiração, quando damos conta de que à nossa frente segue um elegante e "taquetaqueante" par de sapatos, normalmente de salto alto, ou até um bom par te ténis, que transportam uma escultural obra d'arte da natureza, de contornos curvilíneos, provocante e tentadora;
- De nervos, quando com um monte de embrulhos encastelados num dos braços até ao queixo, procuramos as chaves com a outra mão e não as encontramos no bolso desse lado, confirmando-se a teoria da irritante lei de Murphy;
- De stress e angústia, quando abrimos uma carta das finanças a massacrar-nos o "seixo" de que temos de pagar o IMI ou o imposto do monte de sucata com rodas que utilizamos no nosso transporte, entre outros, ou deparamos com uns cortes no vencimento ou na reforma, à Passos Coelho, ou até, como a perseguir-nos, esta abominável figura, depois de tudo o que fez, teima em aparecer no ecrã da televisão.

Enfim, muitos outros casos poderia aqui enumerar em que utilizamos estas reparadoras palavras, que contribuem, tantas vezes, para porem o nosso ego em alta.
Há outros vocábulos, similares, com mais palavras, com a mesma função terapêutica, que, aliás, bem conheceis. Porém, nem sempre exteriorizamos estes desabafos, guardando-os só para nós, dependendo sempre do lugar em que estamos, como manda a boa educação, como, por exemplo, quando nos fixamos naquele elegante par de sapatos a que me referi, orgulhoso por aquela escultura que transporta. Aquela do martelo que falha o prego, é difícil, quase impossível, segurá-la. Sai espontaneamente e a alta velocidade.

Há uns anos, durante alguns dias seguidos, utilizava como transporte, em direcção ao Porto, e vice-versa, o comboio da linha da Póvoa, recentemente substituído pelo metro do Porto. Entrava todos os dias aqui na estação de Árvore, Vila do Conde, por volta das sete e meia, acabando por verificar, dia após dia, que, àquela hora, naquela carruagem, os passageiros eram quase sempre os mesmos. Naquela rotina diária, e durante cerca de uma hora, até chegar ao Porto, assistia àquele ambiente que me envolvia na carruagem: grupos de companheiros de trabalho, quatro a quatro a disputarem umas boas partidas de sueca para matarem o tempo; outros desfolhavam o jornal a actualizarem-se nas últimas notícias; os estudantes, de semblante ensonado, reviam a matéria, abrindo os "canhenhos"; outros, pura e simplesmente, passavam pelas brasas, e depois o grosso dos passageiros discutia os temas em voga da actualidade. Hoje, inevitavelmente, esses temas passariam pelos vistosos golos do Cristiano Ronaldo, de levantar o estádio, no país de nuestros hermanos, e das bolas de ouro que ele monopoliza e chuta para o museu da Madeira; o calvário de Jesus lá para os lados de Alvalade; os avanços do recém-eleito Donald Trump no país do "Tio Sam", em relação às mulheres; e, por último, entre tantos outros do quotidiano, ainda bem fresquinho, o caso da TSU, a bola que o governo e a oposição jogam lá para os lados de S. Bento, a verem quem é que chuta mais alto até bater na abóbada do hemiciclo, porventura a fazer estragos nos pendentes lustres de cristal da chamada casa da democracia.

Num desses dias, ali pela estação de Mindelo ou Vilar do Pinheiro, fora da rotina habitual das pessoas que ali tomavam o transporte àquela hora, entrou uma jovem mãe com duas crianças de tenra idade. Com uma ao colo, aparentemente, de meia dúzia de meses, e outra pela mão, mais crescidinha, mas, seguramente, com menos de dois anos de idade. Porque os lugares iam todos ocupados naquele ponto do trajecto, foi-lhe cedido então um deles. Acomodados mãe e filhos, a progenitora, naquele sublime gesto materno, expôs o peito, no busto desabotoado, para amamentar o rebento mais novinho, enquanto o outro, traquina, ia brincando ali entre outros passageiros e a encavalitar-se na janela do comboio.
Momentos depois, por entre aquela teia das conversas que se cruzavam no espaço da carruagem que me chegavam aos ouvidos, os meus sentidos centraram-se na voz meiga do petiz mais velho, com dificuldade ainda em articular as palavras, mas que eu percebi muito bem, que decidiu reclamar, de forma insistente, a sua parte da mama a que o mais novinho continuava colado:
- Mãe, quero mama..., mãe, quero mama..., mãe, quero mama...

Perante a persistência tenaz do petiz, que não estava disposto a desistir do seu quinhão do leite materno perante a aparente indiferença da mãe, esta "passou-se dos carretos", puxou a culatra atrás e disparou:
- Queres mamar?..., vai mamar ao caralho..., foooda-se, ainda há pouco mamaste...

Perante esta atitude, podemos ter o preconceito de que aquela mãe "não batia bem da bola", que "era passada dos carretos", que "tinha uns parafusos a menos". Quem sou eu para a criticar por utilizar as ditas palavras "libertadoras" de que eu falava no início ainda encriptadas, e que ela aqui, a facilitar-me a vida em escancará-las neste texto, descodificou muito bem, alto e bom som, num português bem claro, desconhecendo-se o que estava por detrás de tudo aquilo. Eventualmente muitas dificuldades económicas ou outras, atenta, pelo aspecto, a sua condição humilde, com aqueles dois filhos tão pequeninos, quiçá o motivo principal das suas preocupações, por não ter o que lhes dar de comer, além das escassas gotas de leite que lhe brotavam do peito. Foi isso o que deixou transparecer.

Estas palavras de tal modo fizeram eco pela carruagem que toda a gente interrompeu as suas conversas e os jogos das cartas, tocada por este pungente quadro, não fizessem parte dele aquelas duas inocentes crianças, ficando tudo, momentaneamente, em silêncio, sem tecer qualquer espécie de censura. Chocado também pelo sucedido, ali, no meu lugar, instantes depois, verifiquei que tudo voltou ao normal.

Volvidos alguns momentos, ao "rebobinar" todo aquele filme, relembrando como aquelas palavras foram disparadas e, à velocidade da luz, como elas fizeram ricochete ali por todo o interior da carruagem, que puseram todos os presentes em sentido, e como somos, muitas vezes, tentados a rir também de coisas más, fui acometido de um ataque de riso que mal me podia conter. Que mau!...
- Vá lá, Manel, aguenta-te, não te desmanches. Não me vais agora deixar mal perante esta gente. Reprimia-me a mim próprio, ciente de que iria ser censurado por todos, que se mantiveram sempre naquela postura séria. Quanto mais o fazia, mais a besta me atacava, acabando por não resistir e rir alarvemente, dissimulando esta minha fraqueza através de um ataque de tosse convulsa fingida.

Mais uma e outra vez, e eu, desesperado, só já queria sair dali.
- Isso está muito mau..., faz muito bem um chazinho com casca de cebola e limão, adoçado com mel... Fez a observação e aconselhou uma senhora que estava a meu lado, compadecida comigo, pela maldita "tosse" que me atormentava.

Palavras que ela disse!... Ainda mais esta agora..., lamentava eu cá para mim. A tosse piorou. E a sua cura já lá não ia nem com o antibiótico de dose cavalar, quanto mais com a mezinha do chá.

Felizmente o comboio chegou ao fim da linha, à estação da Trindade, a porta abriu-se e eu, depois de agradecer, como pude, à senhora pela dica do chá, irrompi gare adiante a tentar libertar-me daquele colete de forças, e por ali fora, eu tossia..., tossia..., tossia..., não fossem os transeuntes chamar-me maluquinho por rir desalmadamente sozinho.

Aqueles meninos hoje, de certeza, que já não mamam, se o fizerem já será noutro contexto.
Só para dizer que já lá vão uns bons vinte e cinco anos desde que fiz aquela inesquecível viagem, o que não abona em nada o profissionalismo de um agente de autoridade minimamente responsável que, só hoje, passado todo este tempo, produziu este auto daquela ocorrência, correndo até o risco de vir ser acusado por "negação de justiça".

Para terminar, e já agora, lamento se porventura vos contagiei com o vírus da minha tosse. Se for o caso, sigam a dica daquela senhora: chá com casca de cebola e limão, adoçado com mel, nesta altura do ano, Janeiro de 2017, faz muito beeeem...

Só a mim é que isto acontece!...
E para que não fiquem dúvidas, vou assinar:
Manuel Sousa

OBS:- Título do poste da responsabilidade do editor
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 Nota do editor

Último poste da série de 1 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16904: Facebook...ando (43): Brindando ao futuro (Paulo e Conceição Salgado)

Guiné 61/74 - P17011: Os nossos seres, saberes e lazeres (197): Pelos caminhos de Trancoso até chegar a Foz Côa (2) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 15 de Setembro de 2016:


Queridos amigos,
Tratava-se de sair de Pedrógão Pequeno e viajar até aos castelos históricos da Beira Alta, primeira paragem em Trancoso para rever um grande amigo, a etapa seguinte era Foz Côa. Tudo na última semana de Julho de 2016, com temperaturas elevadíssimas e uma criança de 5 anos e meio a bordo, por sinal bem conformada.
Inesquecíveis castelos, inesquecível museu de Foz Côa, inesquecíveis trilhos do Alto Douro vinhateiro, com uma passagem muito feliz por esse esplêndido museu do Douro. E lá se apontou para o Porto, uma velha amizade, um antigo comandante da Guiné, fazia 90 anos, a família fez-lhe uma linda festa, almoçamos os dois e rememoramos, mais divertidos que agastados, aquelas ásperas experiências que tudo mudaram nas nossas vidas.

Um abraço do
Mário


Pelos caminhos de Trancoso até chegar a Foz Côa (2)

Beja Santos

A estadia em Foz Côa previa um passeio local, incluindo o Parque Arqueológico do Vale do Côa, o Castelo de Numão e de Freixo de Numão, o deslumbramento daquelas paisagens de montes pintados ou livros abertos e depois o Museu do Côa, remate antes da viagem até à Régua, a travessia do Douro, depois a cidade do Porto. A meteorologia alterou tudo, era um calor incendiário que nem a uma garrafa de litro e meio de água na mão de cada um apaziguava. Havia que tomar decisões, escolheu-se o Museu do Côa, ganhámos todos.



Viaja-se por uma paisagem árida, aterra-se num parque de estacionamento em frente a uma construção monumental, um bloco de linhas puras com uma frecha por onde o viajante entra e sai, faz parte de uma inserção paisagística a todos os títulos impressionante. O que aqui viemos visitar é o cadinho museológico e museográfico da arte rupestre do paleolítico superior que uns senhores da UNESCO exararam em acta: “A arte do vale do Côa é uma ilustração excecional do desenvolvimento repentino do génio criador, na alvorada do desenvolvimento cultural humano”. Aqui estamos, para exultar esse primeiro antepassado da humanidade".



Tem o viajante sido cumulado de benefícios espirituais em diferentes museus onde assenta os pés. Para que conste, este é um assombro que enche de orgulho a alma portuguesa. Tudo bem organizado em salas, gigantes, cavernosas, como se andássemos nas ramificações do parque, talvez mesmo na Canada do Inferno. Na sala que funciona como apresentação, somos informados das principais localizações desta arte no Côa, temos aqui o itinerário de 25 mil anos de iniciação estética.



O viajante obtém imensa informação, às vezes pensa que entrou num romance de ficção científica, fala-se da evolução do planeta Terra e da especificidade destes vales protegidos do Côa onde habitaram grandes herbívoros, auroques e cavalos, dão-se explicações para esta arte paleolítica, depois mergulhamos num género de santuário, assistimos a projeções de conjuntos magníficos entre a Penascosa e a Quinta da Barca, fazem-se comentários e a gente apreende: a invenção do movimento numa única figura; a sobreposição intencional de figuras, temos à vista réplicas, caso da cabra pirenaica com duas cabeças, aqui e acolá vemos placas de pedra decoradas com finas incisões de animais e até temos possibilidade de vermos indicados na Península Ibérica outros lugares aparentados, mas nada com este volume e com tanta direções da inspiração deste senhor, o tal primeiro antepassado da humanidade.


Tudo isto é uma história interminável, se estamos no paleolítico superior com milhares de manifestações daqui caminhamos para a Arte Pós-paleolítica, é uma caminhada até à arte das sociedades guerreiras da Idade do Ferro


Nem tudo fica dilucidado, há mistérios que enxameiam tudo este período da pré-história. E assim se acaba numa sala onde se celebra uma arte sem tempo. Por convite do museu do Côa, Alberto Carneiro expõe aqui uma escultura que se desenvolve como uma mandala sobre um castanheiro e cujos quadrantes correspondem a relações entre Arte-Vida/Natureza-Cultura. Sai-se do museu do Côa não às arrecuas mas impantes de orgulho como fazemos bem a preservação deste património mundial. Inesquecível.



De Foz Côa desce-se ao Pocinho, vamos apanhar o comboio para Peso da Régua, viagem deslumbrante, em paralelo com as sinuosidades do Douro, não fosse este calor sem trambelho e até se captaria umas imagens, optou-se por guardar na retina os socalcos, as reentrâncias, as penedias e penhascos. Chegou-se a Peso da Régua e até o chão fervia, lá se encontrou um tasco com refrigério, deu gosto ver a Benedita a derrubar a vitela estufada. E seguimos para o museu do Douro, outro relicário com muitas perdas preciosas. Não conheço maior hino à alegria da saga vinhateira do que esta mostra, exibem-se usos e costumes, as fainas de todo o ano, há fotografias comoventes de trabalhos épicos para que aquele vinho viaje para todas as partidas do mundo. Abençoada a ideia de aqui vir. É museu moderno que conserva os diferentes materiais desta economia, desta sociedade, desta cultura. E a loja do museu satisfaz o curioso mais exigente, parece que convocaram tudo o que de essencial tem sido escrito e publicado sobre o Douro.
A viagem prossegue, é um regresso até ao Pocinho, depois há que acalmar a fome, descansar e amanhã retomar a viagem, ver mais montes pintados e avançar garbosamente para a Invicta. Depois o viajante separa-se da sua comitiva, vai participar na festa de um seu antigo comandante na Guiné que festeja 90 anos. Outro dia memorável, e à noite regressa-se a Lisboa.
Até à próxima!
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Nota do editor

Último poste da série de 25 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16985: Os nossos seres, saberes e lazeres (196): Pelos caminhos de Trancoso até chegar a Foz Côa (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17010: Manuscrito(s) (Luís Graça) (111): O editor do blogue, artesão da palavra e da imagem, autor desta série, jubilou-se no dia 29 de janeiro de 2017, de tudo, exceto da vida, do amor, da amizade, da camaradagem... (Parte II)



Obrigado, a todos/as



por  Luís Graça (texto e fotos)



Tirando os narcísicos,
ninguém gosta de falar de si,
mas eu tenho a obrigação de dizer duas palavrinhas,
a quem teve a gentileza de me dar os parabéns
ao passar ao km 70 da minha autoestrada da vida.
Não só por educação, 
como sobretudo por amor, amizade ou camaradagem.


Todos gostam e não gostam de fazer anos.
No dia dos anos,
somos alvo de atenções, mimados, apaparicados, infantilizados,
voltamos a ser meninos…
Em contrapartida, é mais uma folha do calendário da vida
que, física e simbolicamente, arrancamos…
Setenta anos não é só um número redondo,
tem implicações na vida dos  aniversariantes, ou dos passantes.
O mais vulgar comentário que se ouve,
ao passar ao quilómetro 70, é:
“Hoje é o primeiro dia do resto da minha vida”…





Diz a bioestatística 
que os felizardos, homens, com 70 anos,
a viver nesta parte do hemisfério norte,
têm ainda uns bons aninhos à sua frente…
Em Portugal, em 2014, a esperança média de vida, aos 65 anos,
era então de 17,3 e 20,7 anos,
para os homens e para as mulheres respetivamente…
Como a minha mulher, a "Chita",
é um pouco mais velha do que eu,
se as contas estiverem bem feitas,
podemos comprar o bilhete juntos,
para irmos juntos no barco de Caronte,
o tal que atravessa o rio na viagem sem regresso…
(Há uma exceção: os deuses e os heróis,
os tais que, não sendo deuses, são mais do que homens, 
podem comprar bilhete de ida e volta…)


A desvantagem de se fazer 70 anos 
é pensarmos mais vezes
no raio da viagem…
a que ninguém escapa.
Mas mais do que a morte física, é a "morte social"
que pode afligir quem faz 70 anos e se jubila…
A primeira vez que ouvi o termo, "morte social",
foi da boca de um saudoso amigo, psiquiatra,
meu companheiro da saúde pública, João Sennfelft.
A reforma é, para muitos, também a perda de estatuto,
de referências, de colegas de trabalho,
e sobretudo de trabalho. 
Em contrapartida, ganha-se a ilusão 
de se ser dono do tempo, 
das 24 hora do dia
a que se resume a nossa vida,
já que somos seres circadianos.
Na realidade, estamos a envelhecer
desde que nascemos: 
o relógio biológico está em nós, 
foi o que nos coube na lotaria genética,
já ao "relógio social", a esse, ainda lhe podemos dar alguma corda...








A minha querida Chita queixa-se 
de que está há 10 anos
à espera de mim…
para dar a volta ao mundo,
no tempo que nos resta.
Vamos lá a ver se o mundo, em contrapartida, 
não nos prega a partida
de fechar as portas aos “globetrotters”,
agora que os muros estão de volta,
para tentar travar, em vão, a globalização,
começada pelos portugueses há cerca de 600 anos…


Aos 70 anos os professores jubilam-se…
e vão para casa
(, tirando os heróis, que esses vão para o Olimpo).
Estranha ironia, a da origem etimológica da palavra:
Jubilar (-se) significa encher(-se) de júbilo ou de grande alegria.
Palavra que vem do latim “jubilaeus, jubilaei”, 
o ano do jubileu judaico...
E que era o jubileu entre os antigos hebreus ?
Era a remissão de servidão e e o perdão das dívidas,
que ocorria de 50 em 50 anos,
numa época em que a esperança média de vida deveria ser de 30,
na melhor das hipóteses.
Em suma, ao fim de 50 anos, eu deixava de ser escravo ou servo
e passava a ser um homem livre.
E, no caso de ainda estar endividado,
o usurário perdoava-me o resto da dívida e dos juros...
(Era bom que isto também se pudesse aplicar aos países, 
esmagados com a dívida pública...).


Por extensão, jubileu quer dizer: 
(i) quinquagésimo aniversário;
(ii) aniversário solene;
(iii) grande período de tempo;
e, entre os católicos, a (iv) indulgência plenária concedida pelo papa
em épocas fixas, e sob certas condições.



Querida Chita,
meus queridos filhos, 
meus irmãos, 
meus amigos, 
meus colegas,
meus camaradas:
reformado, jubilado, passo a estar perdoado,
de todos os meus pecados,
exceto do pecado original
de que carregarei a culpa, por toda a vida,
sendo também eu filho de Adão e Eva…
Jubilado, estou perdoado:
se fui mau pai ou amante, 
mau professor ou colega,
mau amigo ou camarada...
não me voltem, por favor, a relembrar o passado,
o meu cadastro hoje está limpo
e de certo modo posso pensar em começar
um outra vida, uma nova vida…
Por isso falamos hoje, na saúde pública,
no envelhecimento saudável,
e, mais do que ativo, proativo, produtivo…


Na véspera de fazer 70 anos,
podia dizer, com humor e propriedade,
que era o último dia da minha vida… profissional.
Hoje, jubilado, liberto do ónus da profissão,
posso descobrir que há mais vida
para além do que fazemos por obrigação
(e, nalguns casos, com satisfação)
que é trabalhar…
Se virmos a reforma por este prisma,
por esta janela larga (para outros, porta estreita),
então diremos que ela  é mais um tempo de oportunidade(s),
que não podemos desperdiçar…






Não basta dizer que passamos a ter mais tempo,
pelo contrário temos que aprender a saborear o tempo,
que é o único recurso que os seres humanos
não podem poupar, guardar, amealhar, mercantilizar…
Era bom que houvesse um disciplina de economia do tempo,
a par da economia da saúde,
para a gente, individual e socialmente, 
podermos dar mais valor ao único recurso que conta,
para quem, como nós, somos sermos finitos:
isto é, estamos aqui a prazo, 
e esta "terra da alegria", como diz o meu poeta Ruy Belo,
este planeta que habitamos,  não é nosso,
pertence aos nossos filhos e netos.


Aos 70 podemos acho que ganhamos o privilégio de poder dizer, 
como os velhos edonistas da antiguidade,
“carpe diem”, 
goza os dias…
Ora,  uma das coisas de que gosto, é, seguramente, escrever…
pois prometo escrever mais e melhor.
Gosto da vida... e das coisas boas da vida, 
pois prometo continuar a viver, e a gostar de viver,
e a transportar o fogo sagrado da vida...
Seguramente com outra filosofia de vida,
em que importa mais o ser do que o ter...
Prometo, enfim,  continuar a amar,
e a  tê-los/as, a vocês todos/as, no meu coração.



Não, não precisa, felizmente, 
de obras de remodelação e ampliação
este coração que ainda bate forte: 
tem assoalhadas para todos vocês,
meus amores, meus amigos, meus camaradas...
Está aberto para quem mais quiser entrar…


Last but not the least,
por fim e não menos importante,
deixem-me dizer-vos 
que a gratidão é das coisas mais belas no ser humano. 
E eu estou-vos grato,
comovidamente grato,
pelo amor, amizade, companheirismo 
que me têm manifestado
ao longo da minha vida,
nos bons e nos maus momentos da vida…








PS1 - Para os meus bravos camaradas de guerra,
permito-me acrescentar:
até ao fim da picada,
até ao quilómetro 100,
é sempre em frente,
só é preciso é ter  cuidado 
com as p... das minas e armadilhas da vida!


PS2 - Caros/as amigos/as da saúde pública:


No dia 29 de janeiro, atingi o km 70 km da minha autoestrada da vida...  Quiseram-me fazer uma festinha (a família e alguns amigos no próprio dia; uma boa parte de vocês, ontem, dia 31). Foi uma agradável surpresa, e eu fiquei feliz pela vossa manifestação de carinho e de amizade (, que é a melhor prenda que alguém me pode dar).


Do ponto de vista legal, deixo, a partir de agora, de ter um vínculo (laboral) à Escola, mas o mais importante é o património de memórias e de afetos que trago comigo (e que também fica convosco)... Sem nunca esquecer a missão principal dessa Escola, que é a de formar gente e produzir conhecimento no campo da arte e da ciência da saúde pública, permito-me chamar a atenção para aquilo que é (ou deve ser) o nosso traço de distinção na universidade: a educação (tal como a saúde) é uma coatividade relacional... E por isso que gostamos dizer: as pessoas, em primeiro lugar...


Um dia, um qualquer "Big Brother" vai ter a tentação (totalitária) de nos substituir por robôs, ou máquinas superinteligentes, a nós, professores, médicos, enfermeiros, e outros terapeutas... Quiçá mesmo, aos políticos, aos gestores, aos decisores, aos economistas... Nesse cenário (bastante verosímil), só restará fazer apelo à nossa condição de "homo sapiens sapiens" e lembrar-nos que só fomos bem sucedidos, enquanto espécie, porque tínhamos (temos tido) a enorme capacidade de aprender e sobretudo de aprender uns com os outros... Somos animais, primatas, terrivelmente territoriais e predadores, mas também, e sobretudo, sociais...

Não é um adeus, é um "até já"... Com um pé dentro e outro fora, continuaremos juntos a lutar para que a saúde pública não perca o "suplemento de alma" que faz toda a diferença.... Foi também a pensar em pessoas como vocês, mulheres e homens da saúde pública, generosos e talentosos, que me ajudaram a ser um melhor ser humano, que eu escrevi e publiquei, neste blogue, este texto singelo: "Obrigado, a todos/as". 

Luís Graça

Adapt. das palavras que disse em duas festinhas 
em que tive de apagar o bolo dos 70,
Hotel do Vimeiro, 29 de janeiro de 2017 / ENSP/NOVA, 31 de janeiro de 2017

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Nota do editor: