quarta-feira, 8 de março de 2017

Guiné 61/74 - P17115: "Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp) - Parte V: o grupo cénico-musical que atou nas ilhas de São Viicente, Sal e Santo Antão...

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"Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp. inumeradas, il.)


Parte IV (pp. 21-25)




Continuação da publicação da brochura "Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do Capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp. inumeradas, il.) [, imagem da capa, à esquerda].(*)

O autor é José Rebelo, Capitão SGE que foi em 1941/43 um dos jovens expedicionários do RI I1, então com o posto de furriel. Não sabemos se ainda hoje é vivo, mas oxalá que sim, tendo então a bonita idade de 96 ou 97 anos. Em qualquer dos casos, este nosso velho camarada é credor de toda a nossa simpatia, apreço e gratidão.

O nosso camarada Manuel Amaro diz-nos que o conheceu pessoalmente: (...) "Por volta de 1960, fez a Escola de Sargentos, em Águeda e após promoção a alferes, comandou a Guarda Nacional Republicana em Tavira, até 1968. Como homem de cultura, colaborava semanalmente, no jornal "Povo Algarvio", onde o conheci, pessoalmente. Em 1969, já capitão, era o Comandante da Companhia da Formação no Hospital Militar da Estrela, em Lisboa." (...)

A brochura que estamos a reproduzir é uma cópia, digitalizada, em formato pdf, de um exemplar que fazia parte do espólio do Feliciano Delfim Santos (1922-1989), que foi 1.º cabo da 1.ª companhia do 1.º batalhão expedicionário do RI 11, pai do nosso camarada e grã-tabanqueiro Augusto Silva dos Santos (que reside em Almada e foi fur mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73).

O então furriel José Rebelo,
expedicionário do 1º batalhão
do RI 11
Trata-se de um conjunto de crónicas publicadas originalmente no jornal "O Distrito de Setúbal", e depois editadas em livro, por iniciativa da Assembleia Distrital de Setúbal, em 1983, ao tempo do Governador Civil Victor Manuel Quintão Caldeira. A brochura, ilustrada com diversas fotos, tem 76 páginas, inumeradas.


O batalhão expedicionário do Onze [RI 11, Setúbal] partiu de Lisboa em 16 de junho de 1941 e desembarcou na Praia, ilha de Santigao, no dia 23. Esteve em missão de soberania na ilha do Sal cerca de 20 meses (até 15 de março de 1943), cumprindo o resto da comissão de serviço (até dezembro de 1943) na ilha de Santo Antão. A

Sabemos, por este cronista, que os "expedicionários do Onze" tinham um grupo cénico-musical que fez espectáculos nas ilhas por onde passou (São Vicente, Sal e Santo Antão), Na  ilha de São Vicente, atuaram uns dias depois da hegada, logo nos dias 6, 7,  9 e 10 de julho de 1941 (domingo, segunda-feira, quarta-feira e quinta-feira, respetivamente). No Mindelo, fizeram récitas, muito ao gosto da época, no Teatro "Eden-Park". O encenador era o tenente Manuel Bertrand Vila Nova, e o maestro da orquestra (15 elementos) era Jaime Gouveia, ele próprio compositor, O próprio José Rebelo era um dos atores do grupo.

As receitas destes espetáculos tinham fins de beneficiência.




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(Continua)
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Guiné 61/74 - P17114: Parabéns a você (1218): António Marques Lopes (DFA), Cor Art Ref, ex-Alf Mil Art da CART 1690 (Guiné, 1967/69)

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Nota do editor

Último poste da série de 1 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17093: Parabéns a você (1217): Vilma Kracun, esposa do nosso camarada da diáspora João Crisóstomo (Nova Iorque): Congratulations, happy birthday / Félicitations, joyeux anniversaire / Čestitke, vse najboljše

terça-feira, 7 de março de 2017

Guiné 61/74 - P17113: O nosso blogue em números (41): O Jorge Araújo registou ontem, dia 6, às 11h11, o nº 7777777 no nosso contador de visualizações: uma capicua perfeita e irrepetível... Na próxima (77777777), daqui a 7 décadas já estaremos todos/as a dormir o sono dos justos... Os heróis, poucos, esses terão um lugar especial no Olimpo...


Imagem do contador do nosso blogue, com a situaçãpo de ontem, às 11h11. 
Fonte: Jorge Araújo (2017)



I. Mensagem, com data de ontem, às 11h42, Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART  3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974), nosso grã-tabanqueiro e colaborador permanente:

Caro Luís,
Bom dia.

Acaso possa interessar, como elemento histórico e estatístico de visitas ao nosso blogue, anexo o registo obtido às 11h11 de hoje:

7777777.

Boa semana.
Um abraço,
Jorge Araújo.


II. Resposta do nosso editor:

Jorge, tens de jogar no Euromilhões!...

Essa, vou publicar... É uma capicua perfeita e absolutamente irrepetível... A próxima seria 77 milhões 777 mil e 777 visualizações... Ou seja, admitindo, na melhor das hipóteses que o número de visualizações cresce um milhão por ano, daqui a 7 décadas, lá para o final do séc. XXI... Nessa altura estaremos  todos a dormir o sono dos justos... e nalguns casos debaixo de água...

Agora a acrescenta mais 1,7 milhões, relativos ao período de 23/4/2004, início do blogue, a maio de 2010 (e não de 2014!, como por lapso  vinha indicado, uma "maldita gralha"  que "resistiu" ao nosso olho clínico)...  Temos assim 9,5 milhões de visualizações  no total... a caminho dos 10 milhões a atingir ainda este ano...

Como vais tu?... Eu há um mês como "jubiliado", mas a continuar a trabalhar para a Escola e a pensar que tenho todo o tempo do mundo... Uma treta, é uma ilusão... Continua a ser um bem precioso, único, o tempo!

Ab. fraterno.
Luis

PS - Passas, a partir de hoje, a ter o estatuto de colaborador permanente do nosso blogue....


Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné: evolução do número de visualizações de página de 6/2/2017 a 7/3/2017, às 14h00. 

Fonte: Blogger (2017)


Resumo do mês:

Visualizações de páginas de hoje (até às 14h00) > 693

Visualizações de página de ontem  > 1851

Visualizações de páginas no último mês  (de 6/2/2017 a 6/3/2017/ > 57 128

Histórico total de visualizações de páginas  (desde maio de 2010) > 7 779 729

Seguidores  > 560



 III. Definição de "capicua"

ca·pi·cu·a
(catalão capicua, de cap, cabeça + i, e + cua, cauda)

substantivo feminino

1. Número que se lê igualmente da direita para a esquerda ou vice-versa e ao qual se atribui boa sorte (ex.: 1467641 é uma capicua).

2. [Jogos] Pedra que, no jogo do dominó, pode fazer dominó ou ganhar a partida, deslocando-a para um e outro lado.

"capicua", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/dlpo/capicua [consultado em 07-03-2017].
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Nota do editor:

Vd. últimos postes da série:

9 de janeiro de  2017 > Guiné 61/74 - P16934: O nosso blogue em números (41): No final de 2016, atingíamos um total de 66 600 comentários (mais 5200 do que em 2015)... O número médio de comentários por poste é ligeiramente inferior a 4... Os nossos leitores continuam a vir ao blogue, a ler-nos e comentar-nos, não obstante o sistema, nada amigável, do Blogger, que filtra o SPAM

7 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16928: O nosso blogue em números (40): No final de 2016, atingimos um total de 9,3 milhões de visualizações... Quem nos visita, vem sobretudo de Portugal (41,9 %), EUA (24,9 %), Brasil (6,8 %), Alemanha (4,6 %) e França (4,3%)

5 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16922: O nosso blogue em números (39): Em 13 anos, de 23/4/2004 até ao final de 2016, publicámos 16890 postes, e a Tabanca Grande tem hoje 731 membros (51 dos quais falecidos)

Guiné 61/74 - P17112: XII Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 29 de Abril de 2017 (2): Abertura das inscrições que terminam: (i) a 23 de abril; ou (ii) ou quando se atingir a lotação da sala (200 lugares)



Palace Hotel Monte Real (Termas de Monte Real) > 16 de Abril de 2016 > XI Encontro Nacional da Tabanca Grande

Foto de família © Miguel Pessoa


XII ENCONTRO DA TERTÚLIA DA TABANCA GRANDE

DIA 29 DE ABRIL DE 2017

PALACE HOTEL DE MONTE REAL

ABERTURA DE INSCRIÇÕES


Caros amigos e camaradas:

Estamos hoje a abrir as 'hostilidades' para a Grande Operação a Monte Real, o XII Convívio da Tertúlia do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, a levar a efeito no dia 29 de Abril próximo.

Como devem estar lembrados, a sala comporta 200 lugares, pelo que os retardatários poderão perder a oportunidade de participar nesta salutar manifestação de amizade e camaradagem (que se realiza todos os anos desde 2006). 

Inscrevam-se, logo que tenham a certeza de que poderão estar presentes, preferencialmente para o email carlos.vinhal@gmail.com.  

Os pedidos de reserva de quartos devem ser encaminhados exclusivamente para o Carlos Vinhal e/ou para o Joaquim Mexia Alves.

Considerem, a partir de agora,  abertas as inscrições que são extensivas a todos os combatentes da Guiné, tertulianos ou não, seus familiares e amigos convidados; e ainda pessoas de algum modo ligados à Guiné-Bissau, naturais, cooperantes, etc.

As inscrições fecharão no dia 23 de Abril, domingo, ou quando se atingirem as 200.

Os camaradas e amigos que se inscreverem pela primeira vez irão receber um crachá, em formato Power Point, enviado atempadamente pelo nosso camarada Miguel Pessoa, que deverão imprimir e exibir durante o Convívio.

Aqueles que, sendo repetentes, extraviaram os crachás do ano passado, deverão solicitar uma segunda via.

Vamos então relembrar o essencial:


Preços


Aperitivos + almoço + lanche - 35,00€ (adultos)

Crianças até aos 12 anos - 18,00€


single - 50,00€

duplo - 60,00€


Ementa: Aperitivos + Almoço +  Lanche Ajantarado


Aperitivos – Terraço Sala D. Diniz - 13h00


(em caso de mau tempo será no Hall D. Diniz)



Saladinha de Polvo 
Salada de Bacalhau 
Salada de Atum 
Salada de feijão-frade com orelha grelhada 
Salada de Ovas 
Meia desfeita de bacalhau 
Salgadinhos variados 
Presunto fatiado 
Meia concha de mexilhão com vinagreta 
Tortilha de camarão 
Pezinhos de coentrada 
Choquinhos fritos à Algarvia 
Joaquinzinhos de escabeche 
Sonhos de bacalhau 
Coxas de frango fritas à nossa moda 
Cogumelos salteados c/ bacon 
Guisado de dobrada 

Almoço 
Sala D. Diniz
Menu Servido - 14H00


Sopa Rica de Carne 
Lombo Recheado com alheira 
 com batata no forno e legumes 
Pudim de Pão e maçã collis 
de caramelo e refresco de baunilha


Lanche Ajantarado
– Sala D. Diniz – Buffet – 17H30/19H00 

Roast Beef 
Carnes frias com molho tártaro 
Enchidos da região grelhados 
Queijos variados 
Charcutaria variada 
Azeitonas com laranja e orégãos 
Franguinho assado
Batata Chips 
Salada de tomate
Salada de alface Salada de cenoura
Salada de Pepino 
Mesa de sobremesas 


Bebidas nas refeições


Vinho branco e tinto 
‘Fontanário de Pegões’
Vinho Verde 
(Branco e Tinto) 
Água minera, 
sumos de laranja 
e cerveja 
Café e digestivo nacional


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Os organizadores do Convívio

Luís Graça

Joaquim Mexia Alves
Miguel Pessoa
Carlos Vinhal
(Inscrições: carlos.vinhal@gmail.com)
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Nota do editor

Estas e outras informações podem ser consultadas no poste de 16 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16959: XII Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 29 de Abril de 2017 (1): Primeiras informações

Guiné 61/74 - P17111: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (11): Enxalé, a outra margem do Geba


José Nascimento, um olhar sobre o Geba


1. Mensagem do nosso camarada José Nascimento (ex-Fur Mil Art, CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) com data de 27 de Fevereiro de 2017:


ENXALÉ, A OUTRA MARGEM DO GEBA


O Enxalé começou a fazer parte da zona operacional do Xime e da CART 2520 em outubro de 1969. O rio Geba separava estes dois aquartelamentos, assim como uma bolanha intransponível na época das chuvas, portanto com um elevado grau de dificuldade para se estabelecer a ligação entre as duas unidades.

A travessia do Geba era uma completa aventura e dependia sempre da maré cheia, podia-se fazer esta cambança a bordo do  Sintex ou pelas pirogas manobradas por um indígena, cujo remo situado na sua popa servia de força propulsora e simultaneamente de leme.

Ao 3.º pelotão da CART 2520 também  coube a missão de permanência no Enxalé. No segundo dia após a nossa chegada, o alferes Lapa que foi em substituição do comandante de pelotão, o alferes Marques, regressou ao Xime, ficando o pelotão apenas com dois graduados, os furriéis Nascimento e  [Rentao] Monteiro, passando o comando para o mais "velho" destes elementos, que era eu.

Este destacamento era constituído por um aglomerado de antigas casas, pertença de um fazendeiro que se refugiou em Bissau com o eclodir da guerra. Este fazendeiro era possuidor de uma destilaria de cana de açúcar, que foi totalmente destruída, restando apenas alguma sucata [, o Pereira do Enxalé, pai da nossa amiga, grã-tabanqueira Maria Helena Carvalho]. Havia uma tabanca com seis centenas de moradores, composto maioritariamente por balantas e mandingas, cabendo a nós,   militares,  fazer a sua protecção de possíveis ataques do PAIGC, o que chegou a acontecer no dia 10 de Fevereiro de 1970, dia de Carnaval.

Quando se ouviram os primeiros disparos, já a noite havia caído, também eu disparo numa corrida a sete pés para o abrigo mais próximo, só que assim que saio dos meus aposentos ouço o rebentamento de uma granada de RPG7, num mergulho à peixe atiro-me ao chão entre uns bidões cheios de terra, que eventualmente nos protegiam dos projécteis do IN. Um dos estilhaços ainda em brasa, caprichosamente veio estacionar a um palmo do meu nariz. Enceto nova corrida até ao abrigo da Breda, penso ter batido o recorde mundial dos 30 metros. Já agarrado à Breda, chega o "Espanhol" e berra:
- Deixe isso comigo,  meu furriel, fazendo de seguida umas rajadas que ajudaram o IN a ir jogar ao Carnaval para um outro lado.

Resultou deste ataque: ferimentos com alguma gravidade na perna de uma habitante, outro elemento da população perdeu uma mão e um rapaz sofreu ferimentos ligeiros. Todos foram evacuados de héli para Bissau no dia seguinte. Arderam também várias tabancas.



Enxalé após o ataque


No dia anterior a este ataque, decorreu na outra margem do Geba, a operação Boga Destemida [, em 9 de fevereiro de 1970,] na qual as nossas tropas sofreram uma brutal emboscada na zona de Gandagué Beafada por parte do inimigo, sendo perfeitamente audível à distância em que nos encontrávamos, o matraquear das armas de fogo e o rebentamento de granadas.

Sabendo via rádio da gravidade da situação, solicito para ser transportado para a margem esquerda do rio, a fim de poder dar a minha ajuda no que fosse possível. Na enfermaria presto a minha colaboração ao furriel enfermeiro Augusto Costa, o ferido que mais me impressionou e que seria evacuado para Bissau, juntamente com outros elementos, foi o furriel Pestana, as suas costas estavam rasgadas por estilhaços de granada, numa das feridas cabia perfeitamente um dos meus punhos fechados. Este camarada jamais regressaria para a CART 2520, recuperou, mas as mazelas ficaram para sempre a marcar o seu corpo e o seu espírito.

Quando passava uma guia de livre trânsito para um dos habitantes da tabanca se deslocar a Bissau, o chefe de tabanca dos mandingas falou em francês, fiquei surpreendido e perante a minha pergunta porque falava naquela língua respondeu-me que tinha estudado no Senegal antes da guerra começar, mais perplexo ainda fiquei.

Com uma frequência quase diária, um puto da tabanca com cerca de 10 anos, de uma tez muito clara, vinha conversar connosco e fazer-nos alguma companhia, nós em troca demos-lhe a nossa amizade. Para ti,   Dingue, se ainda pertenceres ao número dos vivos, aqui vai um fraterno abraço.


Com o amigo Dingue


Era normal os nossos militares darem uns tirinhos à caça das rolas, quando o faziam na zona frontal ao destacamento virada para bolanha, não havia qualquer problema,  mas nas traseiras da tabanca isso representava algum perigo e foi o que aconteceu com o nosso apontador de metralhadora, de caçador ia sendo caçado. Valeu-lhe o seu sangue frio e coragem, que ao aperceber-se de que alguns guerrilheiros se preparavam para lhe deitar a luva, sacou de uma granada de mão e lá vai disto, escapando-se de imediato para o quartel e desta maneira o Martins deixou de ser um possível prisioneiro de guerra nas mãos do PAIGC e de fazer um passeio turístico até Conakri.

De vez em quando chegavam mensagens codificadas vindas do Xime, que eu decifrava através do Codoper, com ordens para montar uma emboscada ou fazer um patrulhamento a determinado local. Eu falava baixinho com os meus botões, capitão Maltez cá tem cabeça. Temos que assegurar a protecção do destacamento e da população, como é que vamos montar uma emboscada com meia dúzia de gatos pingados? Na volta do correio eu respondia: "montada" emboscada ou  patrulhamento "efectuado".

E assim se passaram dois meses com relativa tranquilidade, mas com muitas dificuldades. Matar a fome às nossas barriguinhas não foi tarefa fácil. Receber e enviar correspondência por vezes demorava mais de uma semana. O isolamento era enorme, os nossos contactos com o mundo exterior só eram possíveis através do Xime e com o Xime foi muito difícil e arriscado devido à travessia do rio. Cada vez que passava de uma margem para outra, pensava sempre que algum dia poderia servir de pequeno almoço a um qualquer jacaré se na eventualidade acontecesse algum incidente e a nossa embarcação nos mandasse a banhos.  Neste espaço de tempo só eu e mais dois ou três elementos do pelotão é que saímos do Enxalé até à sede da Companhia.



Enxalé

Fotos: © José Nascimento (2017). Todos os direitos reservados

Para todos os nossos camaradas de armas um grande abraço.
José Nascimento
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Nota do editor

Último poste da série de 19 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16737: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (10): A música das nossas vidas: "Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle, mon amour"... ou o braço de ferro entre o fur mil Renato Monteiro e o nosso primeiro Vaz, cuja amada esposa se chamava Isabel e vivia a 5 mil km de distância, em Vila Real, Portugal...

segunda-feira, 6 de março de 2017

Guiné 61/74 - P17110: Agenda cultural (545): Apresentação do livro de fotografia, "Buruntuma", do nosso camarada Jorge Ferreira, em Oeiras, no passado sábado, dia 4 (Parte I) - As primeiras fotos


Foto nº 1 > Oeiras > Galeria-Livraria Municipal Verney > 4 de março de 2017 > 15h00 . 16h30 > Sessão de lançamento do livro de fotografia, da autoria de Jorge Ferreira, "Buruntuma: algum dia dia serás grande!... Guiné, Gabu, 1961-63" (edição de autor:  Oeiras, 2016; impressão: Jotagrafe - Artes Gráficas Lda)...  Na foto, o  "calmeirão" do Jorge Ferreira,  no uso da palavra...  A apresentação esteve a cargo do nosso editor Luís Graça.(*)


Foto nº 2 > Oeiras > Galeria-Livraria Municipal Verney > 4 de março de 2017 > 15h00-16h30 > O Manuel Barão da Cunha, fazendo as honras à casa... Esta é a 164ª tertúlia do Programa Fim do Império, da Liga dos Combatentes!... 

Presentes meia centena de camaradas e amigos, o que é um excelente nº para uma trade de sábado de fim de inverno... O convite foi foi feito  pelo autor, Jorge Ferreira, e teve o apoio de: (i)  Ptograma Fim do Império; (ii) Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné; (iii) Movimento de Expressão Fotográfica (MES); e (iv) Núcleo de Fotografia de Oeiras (NFO). (**)

O Programa Fim do Império celebrou no passado mês de janeiro o 8º aniversário da sua existência. O cor cav ref e escritor Manuel Barão da Cunha tem sido um dos rostos deste programa, que promove a publicação de obras literárias ligadas à temática da guerra do ultramar / guerra colonial (1961/75). A iniciativa é da Liga dos Combatentes, com apoio da Comissão Portuguesa de História Militar e a Câmara Municipal de Oeiras.


Foto nº 3  > Oeiras > Galeria-Livraria Municipal Verney > 4 de março de 2017 > 15h00-16h30 > Presidente do Núcleo de Oeiras-Cascais da Liga dos Combatentes, Isaías Fernando Ferreira Teles, superintendente reformado. Teve a gentileza de oferecer ao nosso blogue o livro "Olhares sobre a Guiné e Cabo Verde" (org., Manuel Barão da Cunha e José Castnho Paes) (Linda A Velha: DG Edições; e Porto; Caminhos Romanos, 2012, 389 pp. (Coleção Fim do Império, 9).

Oficial do exército, da arma de infantaria, Isaías Fernando Ferreira Teles  nasceu em Bragança em 1946, passou pelos TO de Guiné (esteve como alferes na região de Tombali), Angola e Moçambique. Em 1985 transitou para os quadros da PSP onde chegou ao posto de superintendente.



Foto nº 4  > Oeiras > Galeria-Livraria Municipal Verney > 4 de março de 2017 > 15h00-16h30 >  Além do Jorge Ferreira, do Luís Graça e do Manuel Barão da Cunha, estava na mesa o Manuel Rosas, do Núcleo de Expressão fotográfico, aqui em primeiro plano. O representante do  Núcleo de Fotografia de Oeiras, o fotógrafo Luís Rocha, não pôde comparecer motivo de agenda.



Foto nº 5 > Oeiras > Galeria-Livraria Municipal Verney > 4 de março de 2017 > 15h00 - 16h30 >   O mestre Braima Galissá mostrando o "mezinho" que, na melhor tradição mandinga, usa para proteger o seu korá... O instrumento que ele usa, nos seus concertos, já não é o que lhe deu o seu pai, mas uma versão moderna, ocidental, do instrumento original, misto de harpa e alaúde...  (Pode ser ligado a um amplificador, mas nesta ocasião o Braima Galissá tocou sem amplificação e encantou-nos!).



Foto nº 6 > Oeiras > Galeria-Livraria Municipal Verney > 4 de março de 2017 > 15h00 - 16h30  >   O Braima Galissá falando,  com saber e paixão, do "seu" korá... Além de tocador, é também "djidiu", cantor... E tem Portugal na sua alma. Nascido em 1964, no Gabu (NovaLamego), "sob a bandeira portuguesa" (sic), vive em Lisboa dese 1998  e aguarda, com ansiedade, o deferimento do seu pedido de naturalização como cidadão português.



Foto nº 7 > Oeiras > Galeria-Livraria Municipal Verney > 4 de março de 2017 > 15h00 - 16h30>   Atuação do mestre Braima Galissá  e aspeto da assistência. Infelizmente nãotenho fotos de todos os camaradas da Guiné que estavam presentes na sala: falei com alguns no fim...Um dos que esteve presente, por que o vi levantar-se da cadeira, a uma chamada do "comandante" Jorge Ferreira, foi o ex-fur mil cav Mário Magalhães, que comandava  secção da CCAV 252 (ou Esquadrão de Cavalaria 252), antes ainda de o Jorge Ferreira chegar a Buruntuma... 

Outro camarada que tive o prazer o conhecer foi o Domingos Pardal empresário de mármores (MP - Mármors Pardal, Lda, com sede em Terrugem Sintra) e grande colaborador do escultor Francisco Simões, com trabalhos representados no Parque dos Poetas, ali mesmo, em Oeiras. Esteve em Buruntuma 11 meses, tal como o seu camarada e nosso grã-tabanqueiro  Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703 / BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66). Fiquei com o seu contacto e espero poder conversar mais com ele... Estava em Cufar quando morrue o meu primo, da Lourimnhã,  José António  Canoa Nogueira.


Foto nº 8 > Oeiras > Galeria-Livraria Municipal Verney > 4 de março de 2017 > 15h00 - 16h30>   A antiga equipa que deu voz e alma ao PIFAS: o antigo primeiro sargento Silvério Dias (, nosso grã-tabanqueiro) e a famosa "senhora tenente", sua esposa... 

Outro  camarada e grã-tabaqnueiro que tive o prazer de encontrar aqui, e de conhecer pessoalmente, "ao vivo", foi  o Albano Mendes de Matos (hoje ten cor art ref; ex-tenente art, GA 7 e QG/CTIG, Bissau, 1972/74; "último soldado do império". natural de Castelo Branco, vive entre Oeiras e o Fundão; é poeta, romancista e antropólogo)... Recorde-se que um dos organizadores do célebre caderno de poesia Poilão, por muitos considerado uma primeira antologia de poesia guineense...




Foto nº 9 > Oeiras > Galeria-Livraria Municipal Verney > 4 de março de 2017 > 15h00 - 16h30>   Na assistência, mais dois dos nossos grã-tabanqueiros, o António Graça de Abreu (que acaba de dar a volta ao mundo em 100 dias...) e a Alice Carneiro


Foto nº 10 > Oeiras > Galeria-Livraria Municipal Verney > 4 de março de 2017 > 15h00 - 16h30 >  Avô (Jorge) e neto (Daniel)... O Daniel quer ser fotógrafo como o avô...





Foto nº 11 > Oeiras > Galeria-Livraria Municipal Verney > 4 de março de 2017 > 15h00 - 16h30 >  Aspeto parcial da assistência: na primeira fila o Daniel e e a Alice... Ao fundo, do lado direito, o Jorge Miguel, filho do Jorge Ferreira, com a sua filha Sofia... O Jorge dedicou o seu livro àqueles  quem mais ama: "Para o meu filho Jorge Miguel, meus netos Daniel e Sofia que, espero, irão recordar o pai e o avô Jorge, e privilegiar os valores que enalteci"... É uma belíssima passagem de testemunho.




Foto nº 12 > Oeiras > Paço de Arcos > Centro Náutico >  4 de março de 2017 > O Estuário do Tejo, visto de Paço de Arcos... Foi daqui que todos (ou quase todos) partimos para a Guiné...



Foto nº 13 >  Oeiras > Paço de Arcos > Centro Náutico > 4 de março de 2017 > O Braima Galissá descobriu, emocionado, uma foto do Jorge Ferreira onde está o seu avô, tocador de korá, num festa em Buruntuma... O Jorge Ferreira trouxe-o, a suas expensas, para tocar e (en)cantar nesta sessão de lançamento do seu livro.



Foto nº 14 >  Oeiras > Paço de Arcos > Centro Náutico > 4 de março de 2017 >  O Jorge Miguel (que seguiu as peugadas do pai, trabalhando em informática, na Microsoft, no estrangeiro) e um velho colega do Jorge Fereira, dos tempos do Liceu Gil Vicente, o capitão de mar e guerra, reformado, Eugénio Ramos.


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Guiné 61/74 - P17109: Notas de leitura (934): “O Adeus Ao Império, 40 anos de descolonização portuguesa”, organização de Fernando Rosas, Mário Machaqueiro e Pedro Aires Oliveira, Nova Veja, 2015 (Mário Beja Santos)



Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Dezembro de 2015:

Queridos amigos,
Procede-se a um balanço em torno dos 40 anos de descolonização portuguesa. Antes de se falar na Guiné-Bissau, Guiné e outras parcelas que foram do Império, diferentes investigadores pronunciam-se sobre questões colaterais: o antigo colonialismo tardio do antifascismo português; os partidos nacionalistas africanos no tempo da revolução; o balanço militar em 1974 nos três teatros de operações; visões das forças políticas portuguesas sobre o fim do Império.
Analisados os termos da descolonização, outros dois investigadores debruçam-se sobre retornos e começos: experiências construídas entre Moçambique e Portugal, bem assim como memórias em conflito ou o mal-estar da descolonização.
Para os organizadores é tempo de fazer não apenas um balanço crítico mas, sobretudo, de contribuir, para aumentar a compreensão do fenómeno complexo que foi a descolonização portuguesa.

Um abraço do
Mário


Quando a Guiné se separou do Império

Beja Santos

“O Adeus Ao Império, 40 anos de descolonização portuguesa”, organização de Fernando Rosas, Mário Machaqueiro e Pedro Aires Oliveira, Nova Veja, 2015, é uma leitura irrecusável pelos diferentes registos que acolhe, pela exploração de temas que têm andado ao sabor de polémicas e paixões, o fim do colonialismo que motivou um penoso e duradouro luto imperial. Para os organizadores, os constrangimentos que haviam obstado à criação de uma comunidade pós-colonial para o espaço lusófono – os traumas coloniais, foram caindo graças a três acontecimentos simbólicos, entre 1998 e 2002: a realização da Expo 98, um evento concebido para celebrar uma identidade pós-colonial que não enjeitava a memória dos Descobrimentos; a transferência pacífica e ordenada da administração portuguesa em Macau para a República Popular da China; e o advento da independência Timor-Leste, no termo de um longo processo que mobilizou segmentos significativos da sociedade portuguesa.

Dentre o conjunto de ensaios em que se aborda a descolonização, destaco o trabalho de António Duarte Silva intitulado: “Guiné-Bissau: libertação total e reconhecimento portugueses”. O investigador começa por referir que o MFA local controlava quase todo o aparelho militar e que confirmado o triunfo do 25 de Abril, o núcleo duro demitiu e enviou para Lisboa o Governador e Comandante-Chefe e tornou irreversível o golpe do dia anterior. São factos que muitas vezes descuramos pelo seu significado, e que permitem ver claramente como a Guiné estava madura para a viragem da descolonização. Enquanto o PAIGC se pronunciava a sugerir a abertura imediata de negociações, diferentes comandos de unidades no interior da Guiné apelavam ao pronto cessar-fogo, pediam mesmo autorização para abandonar as posições. A 7 de Maio, Carlos Fabião foi nomeado pela Junta de Salvação Nacional para os cargos de Encarregado de Governo e Comandante-Chefe da Guiné. Mas não se deu esta substituição de governadores, Fabião passará a ser o “delegado da JSN, a quem Spínola lhe deu claras indicações sobre a forma de diretivas: negociar com o PAIGC, mas continuar o esforço defensivo de guerra até a assinatura do acordo de cessar-fogo; dar continuidade ao processo político de autodeterminação e preparar a sua visita à Província. Mal chegado a Bissau, Fabião constatou que tudo mudara: o MFA era poder, constituíra-se como gabinete de Governo. Em Lisboa, preparavam-se as conversações com o PAIGC que começaram ainda à carga, compareceram a delegação portuguesa com Mário Soares à frente e o PAIGC representado por Aristides Pereira e Joaquim Pedro da Silva. Do encontro não resultou qualquer compromisso formal. Seguiram-se conversações em Londres, a argumentação do PAIGC subia de tom: “de potência colonial, Portugal passou a estar na situação de agressor contra o nosso Estado soberano, reconhecido por mais de 80 países no mundo”.

Entre 25 e 31 de Maio, realizaram-se 10 sessões, a meio, Soares e Almeida Bruno deslocaram-se a Lisboa para apresentar um primeiro “protocolo” ou tentativa de acordo. Spínola recusou a proposta de Soares que contemplava o imediato reconhecimento da Guiné-Bissau como república. É durante estas conversações que se verifica que o PAIGC parecia não ter pressa na partida dos portugueses, admitindo um “período de transição” até 6 anos, desde que satisfeitas algumas exigências, a começar pelo reconhecimento da independência. Em Junho reiniciaram-se as conversações com o PAIGC, em Argel, a primeira reunião saldou-se por um fracasso. A atmosfera internacional também era desfavorável às obstinações de Spínola. Em Bissau, o MFA local não desarmava, e numa assembleia, perante cerca de 800 militares, foi aprovada uma moção onde se propunha: o repúdio de qualquer solução local e unilateral; o reconhecimento inequívoco da República da Guiné-Bissau; e o imediato recomeço das negociações com o PAIGC. Ninguém queria já falar em guerra e, o MFA local apresentava o seu plano de descolonização. Reúnem-se o governo de Bissau e o PAIGC na mata do Cantanhês, entre 15 e 18 de Julho. O tema central foi a retração do dispositivo das tropas portuguesas, mas debateram-se outros temas prementes como o problema dos Comandos Africanos e a troca dos prisioneiros de guerra. Nesse mesmo mês de Julho, é aprovada a lei n.º 7/74, a chamada Lei da Descolonização, através da qual Portugal reconhecia o direito dos povos à autodeterminação. E no início de Agosto recomeçaram as conversações entre o governo português e o PAIGC, assim se chegou a um protocolo de acordo bem como foi aprovado um anexo destinado a regular a continuação da retração do dispositivo militar português, a saída progressiva das Forças Armadas e algumas obrigações portuguesas. Os acordos de Argel foram assinados em 26 de Agosto de 1974 e traduziam-se no reconhecimento da nova República, no cessar-fogo, na saída das Forças Armadas até 31 de Outubro. E definiam-se matérias concretas quanto ao anexo: as Forças Armadas portuguesas obrigavam-se a desarmar as forças africanas sob o seu controlo; o governo português pagaria as pensões de sangue, de invalidez e de reforma a que tinham direito quaisquer cidadãos por serviços prestados às Forças Armadas portuguesas; e o governo português participaria também num plano de reintegração na vida civil de tais cidadãos militares.

Em 19 de Outubro, os titulares dos órgãos dirigentes da República da Guiné-Bissau e do PAIGC entraram festivamente em Bissau. Oiçamos os cometários do investigador:
“À data, o PAIGC era uma organização sólida, embora com escassos ‘quadros’, dotada de um aparelho ‘para-estadual’ e de umas forças armadas poderosas. Encontrava-se perante uma conjuntura particularmente favorável, pois beneficiava de amplo apoio e entusiasmo popular e dispunha de ajuda e cooperação multilateral, quer dos partidos comunistas quer dos países ocidentais. Mas a Guiné-Bissau era um dos países mais pobres do mundo e com poucas condições para construir um Estado-Nação. Rapidamente surgiram várias manifestações de fragilidade e de perversão do poder, sobretudo múltiplas medidas repressivas e evidentes sinais de corrupção, a par de provas de incompetência técnica do PAIGC para governar o país. A mobilização dos camponeses e o desenvolvimento rural esvaziaram-se e os recursos concentraram-se em Bissau – que tudo devorou. Em 1980, um golpe semimilitar pôs termo ao projeto histórico da unidade Guiné-Cabo Verde”.
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Nota do editor

Último poste da série de 1 de Março de 2017 > Guiné 61/74 - P17094: Notas de leitura (933): “Baía dos Tigres”, por Pedro Rosa Mendes, Publicações Dom Quixote, 1999 (4) (Mário Beja Santos)

domingo, 5 de março de 2017

Guiné 61/74 - P17108: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral e outros / Casa Comum (21): O professor primário e o enfermeiro de Buruntuma, em 1961... Trabalhavam para o PAICG na cara da PIDE ?!...



Guiné > Região de Gabu > Buruntuma > c. 1961/62 > Destacamento deBuruntuma ( 1 Gr Com reforçado, 3ª CCAÇ e CCAV  252) > Uma ação de nomadização... À frente o alf mil Jorge Ferreira, de calões e FPB!... Atrás duas praças guineenses, com a velha mauser e capacete!...



Guiné > Região de Gabu > Buruntuma > c. 1961/62 >A escola de Buruntuma > O alf mil Jorge Ferreira e um dos seus dois gradudos, de chapéu colonial, que dava aulas aos militares... Não há nenhuma foto fo professor cabo-verdiano.  O Jorge Ferreira comandava uma guarnição miliatre de cerca de 40/45 homens, composta por ums seção do Esquadrão ou Companhia de Cavalaria 252 e por uma seção da 3ª CCAÇ. A seção de cavalaria era comandada pelo fur mil cav Mário Magalhães; a seçõa da 3ª CCAÇ era comandadapelo 2º sargento Moreira, depois substituido pelo 2º sargento Afonso (que aparece aqui nas duas fotos).



Fonte: vd. sítio do fotógrafo Jorge da Silva Ferreira e o seu livro "Buruntuma: algum, dia serás grande!... Guine, Gabu, 1961-63 (Lisboa, Programa Fim do Império, Liga dos Combatentes, 2016, p. 25).


Fotos: © Jorge Ferreira (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. No último trimestre de 1961, quando chegou a Buruntuma para comandar o destacamento, guarnecido por uma força cojunta (cerca de 40/45 homens) da 3ª CCAÇ e da CCAV 252, o alf mil Jorge Ferreira,  esta povoação fronteiriça era rua uma por onde passava a "estrada internacional" Bissau-República da Guiné (Conacri)... 

A fronteira (uma linha imaginária!) era a escassas centenas de metros... De um lado e do outro da rua, alinhavam-se "algumas casas de alvenaria", a saber:

(i) do lado direito, a casa do régulo Sene Sane, tenente de 2ª linha; o armazém de mancarra (que servia de aquartelamento); duas casas comerciais (uma da família Coelhoso, natural de Mirandea (?);

(ii) do lado esquerdo, a escola primária; as instalações da PIDE; duas casas comerciais, a Casa Gouveia e a Sociedade Ultramarina; e a enfermaria...

Por destrás da Buruntuma colonial, ficavam as moranças da população local (fulas e mandingas), estimada em um milhar de habitantes. 

Fonte: FERREIRA, Jorge - Buruntuma: algum dia serás grande!.. Guiné, Gabú, 1961-63. Lisboa: Programa Fim do Império [, Liga dos Combatentes,], 2016, p. 8.

Na página 25, há uma fotografia da escola de Buruntuma. O Jorge Ferreira aparece ao lado de uma figura que pode muito bem ser o professor. O autor da publicação citada diz-nos que em Buruntuma havia "!uam escola e uma enfermaria, aliás infraestruturas de qualidade que não era vulgar encontrar em povoações de igual dimensão na Metrópole" (p. 10)

Referindo-se ao "apoio social" prestado pela tropa, no seu tempo, acrescenta:

(...) " Em termos de escola, propôs-se ao professor de origem cabo-verdiana cujpo português muitas vezes era mescalado com termos de crioulo, dar-lhe apoio destacando para a escola militares habilitados" (p. 10). A proposta foi aceite, sendo "essa colaboração extremamente benéfica em termos de aproveitamento escolar"... A adesão foi "entusiástica" por parte dos nulitares, ajudando-os a ocupar os seus tempos libres e sair da rotina,

Quanto à "enfermaria". o comandante do destacamento propôs ao comando da companahia (a 3ª CCaç , sediada em Nova Lamego) que o médico se disponibilizasse para atender também a população local. Em geral, ele visitava regularmente o destacamento, ou seja, de quinze em quinze dias. O médico [, julgo que o ten mil médico António Sancho, mais tarde conhecido cirurgião plástico...] acolheu a ideia de bom grado e a extensão da cobertua médica à população contribuiu também para "o ótimo clima de relacionamento que a breve trecho se estabeleceu entre a população e os militares" (p. 10).

Jorge Ferreira não nos diz quem era o enfermeiro nem identifica o professor, que só sabemos que era, no final de 1961 / princípios de 1962, de origem cabo-verdiana. (Em Bambadinca, era uma professora, também de origem cabo-verdiana, a dona Violete da Silva Aires).

Pergunta:  o enfermeiro não deveria ser guineense, Cirilo de seu nome ? E o professor não seria o Timóteo Costa, autor da carta que a seguir se reproduz ? 

De acordo com o tratamento do documento, que faz parte do Arquivo Amílcar Cabral, Timóteo Costa, acabado de colocar em Buruntuma como professor [do ensino primário], escreve a um seu contacto [Marcelo de Almeida, membro do PAIGC, cabo-verdiano, próximo de Amílcar Cabral nesta época, 1961; era delegado do PAIGC em Koundara ], a quem trata afetuosamente por "amigo e irmão africano", e dando-lhe a seguinte informação:

(i) acaba de chegar a Buruntuma, vindo  de Bissau, há 12 dias;

(ii) dá notícias do seu "ilustre amigo Cirilo", enfermeiro;

(iii) incentiva [, o destinatário,] a "trabalha[r] que nós também estamos a fazer o mesmo para um bom futuro e feliz progresso do filho africano";

(iv) dá um recado do Cirilo, transmitido em linguagem algo hermética [, tudo indicando que o Cirilo faz trabalho político em Buruntuma, sendo por isso um militante do PAIGC];

E o Timóteo Costa termina dizendo, "cá me encontro como professor em Buruntuma, portanto podes contar comigo em todos os momentos"...

O que lhes terá acontecido, a um e a outro ? Não há mais rasto deles,,, no Arquivo Amílcar Cabral
e o Jorge Ferreira ceghou a conhecê-los e lideou com eles ? Trata-se de um documento interessante, que ilustra o trabalho de sapa que Amílcar Cabral e o seu partido estavam a fazer, a partir de Conacri, apesar da forte repressão exercida pela PIDE e demais autoridades portuguesas.

Não encontramos rasto deste Timóteo Costa. Ao telefone, o Jorge Ferreira diz que se lembra bem do enfemeiro Cirilo mas que o professor Timóteo Costa pode já não ser do seu tempo... Em todo o caso, prometeu tirar dúvidascom o ex-fur mil cav Mário Magalhães.

De acordo com as regras editoriais do nosso blogue, estas referências ao Cirilo e ao Timóteo Costa, pessoas que podem estar vivas, não implicam qualquer juízo de valor. Tanto a escola primária como o posto de enfermaria de Buruntuma eram mantidos pela administração da província. Os factos aqui relatados são hoje públicos. Mas a nossa interpretação pode estra enviesada por falta de "contraditório". O documento que reproduzidos, do Arquivo Amílcar Cabral, é único, não há mais mensagens eventualmente trocadas por Timóteo Costa com Marcelo de Almeida, representante do PAIGC em Koundara, envolvendo o nome do enfermeiro Ciriilo. Também sabemos que havia, no TO da Guiné, "agentes duplos", gente que tanto passava informações para a PIDE como para os movimentos nacionalistas, e em especail para o PAIGC (fundado em 1956, e até 1962, usando a sigla PAI - Partido Africano para a Independência).


2. Transcrição, revisão e fixação de texto (LG): 

Amigo e irmão africano Marcelo:

Tomo hoje a liberdade de lhe fazer [sic] duas linhas, informando que cheguei de Bissau, há já 12 dias, onde tenho notícias cujo termo lhe vou informar quando estiver [? ] dentro da minha normalidade. Isto é, quando tiver quem a levará. Pode ser dentro de já. Cá encontramos dia de eu e seu islustre [sic] amigo Cirilo, enfermeiro, com muito prazer de encontrar. Trabalha que nós também estamos a fazer o mesmo para um bom futuro e feliz progresso do filho africano,

Mudando de assunto, junto lhe dou o recado do senhor Cirilo:

Segue:
-  Enquanto a informação, isto do nosso combinado está correndo na medida do costume. Por hora (sic) não [há] nada de anormal, mas no entanto farei o possível de lhe enviar qualquer motivo dentro de breve. Pode estar sossegado que no sábado lhe enviarei algumas considerações sobre esta política africana.

Cá me encontro como professor em Buruntuma, portanto podes contar comigo em todos os momentos. Sou, Timóteo Costa. 



Documento, manuscrito, de 2 páginas. Transcrição, revisão e fixação de texto: LG





Portal Casa Comum /  Instituição:Fundação Mário Soares

Pasta: 04608.052.187

Assunto: Transmite um recado do enfermeiro Cirilo, que se encontra em Buruntuma como professor, sobre o trabalho em prol da luta de libertação.

Remetente: Timóteo Costa

Destinatário: Marcelo [de Almeida]

Data: 1961

Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Correspondência recebida 1961 (PAIGC, MPLA, FRELIMO, CONCP, UGEAN)
.

Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral

Tipo Documental: Correspondencia

Arquivo Amílcar Cabral > Correspondência  > 1961

Citação:(1961), Sem Título, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_38633 (2017-3-5)

(Transcrito com a devida vénia)

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Guiné 61/74 - P17107: Blogpoesia (496): "Sol envergonhado..."; "Chave à porta..." e "Tentativas falhadas...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Foto: Com a devida vénia a Diário Digital Castelo Branco


1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros durante a semana ao nosso blogue, que publicamos com prazer:



Sol envergonhado...

Este sol que se esconde
atrás da cortina de nevoeiro espesso,
dormiu mal a noite longa
Ou andou na farra,
pela madrugada.
Agora tarda
o mafarrico.
Vai ter a paga.

De secar a terra,
toda encharcada.
Se quer brilhar.

Até ele falha,
de vez em quando.
Para nosso mal.

Só ele é rei.
Abusa da força.
Ninguém o manda...

Tira-nos tempo
de passear nos campos,
e ver o mar.

Mas dá-nos vida,
mesmo a dormir!...

Mafra, 5 de Março de 2017
8h04m

Nevoeiro denso
Jlmg

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Chave à porta...

Como entrar no céu.
Depois de meses
sem dormir em casa.

Sabe tão bem!
O nosso cantinho,
com tudo à mão.

Foi bom partir.
Estar com os nossos.
Onde os pôs a vida...
Tão bom chegar.

Que bom sabor.
Pisar o chão,
Respirar a fundo,
Ao pé do mar.

Esperar o sol
com seu calor.
Ouvir falar
sem traduzir.

Saborear sabores
dos nossos frutos.

Do nosso azeite
e do nosso sal.
Foi bom partir.
É bom voltar...

Bar "Caracol" em Mafra
27 de Fevereiro de 2017
10h28m
Jlmg


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Tentativas falhadas...

Esforço inglório.
Quando se almejam as distâncias
onde se adivinha o sucesso.
Por onde giram os nossos sonhos.
E há promessas de vitórias.

Se organizam arquitecturas
e se traçam estratégias.
Se aplicam as energias
e, com denodo esforçado,
se avança destemido.

Para, ao resto e ao cabo,
desaguar na ilusão.

Tanto esforço.
Tanta riqueza, em vão, se consumiu.
No fim de tudo,
só a lição...

Bar "Sete momentos" em Mafra
28 de Fevereiro de 2017
10h26m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 26 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17085: Blogpoesia (495): "Bendita a sorte de viver..."; "Outra vez..." e "Em breve...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P17106: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (24): o alferes "periquito" que escoltei até Buruntuma num domingo de agosto de 1964 e que nesse mesmo dia atravessou a fronteira e desapareceu... (Alcídio Marinho, ex-fur mil, CCAÇ 412, Bafatá, 1963/65)


Guiné > Região de Gabu > Buruntuma > c. 1961/62 > Reunião de homens grandes para aplicação da justiça tribal. O cavalo era já raro na Guiné, devido à peste equina africana rndémica... Foto de Jorge Ferreira, com a devida vénia, vd. sítio do fotógrafo Jorge da Silva Ferreira e o seu  livro  "Buruntuma: algum, dia serás grande!... Guine, Gabu, 1961-63  (Lisboa, Programa Fim do Império, Liga dos Combatentes, 2016, p. 87).


1. Comentário de Alcídio [José Gonçalves] Marinho, ex-fur mil inf, CCAÇ 412 (Bafatá, 1963/65), ao poste P17104(*)


Fui duas vezes a Buruntuma.

A primeira vez foi com o nosso 3º pelotão na 1º ou 2ª semana de maio, cerca de um mês depois de chegarmos á Guiné (Bafatá). A área de Buruntuma ainda pertencia ao BCAÇ 238, comandado pelo sr. coronel Sá Cardoso.

A outra vez foi assim:

Era um domingo de agosto/1964, estava em Bafatá, pois no destacamento de Cantacunda tinha apanhado um ataque de paludismo, que levou à minha evacuação.

Cerca das 9 horas da manhã, o oficial de dia da 412, foi chamado ao Comandante do Batalhão 506, sr. tenente-coronel Liiz Nascimento de Matos. Informação do comando:
− Vai chegar uma Dornier com um sr. oficial, que é urgente fazer chegar a Nova Lamego, e depois a Buruntuma. Precisa-se duma escolta simples, basta um jeep, com um vosso oficial e dois soldados.

O oficial de dia, disse que não havia nenhum oficial disponível a não ser ele próprio. Resposta do sr. teneent-coronel:
− Então mande um sargento.

O alferes Baltazar chegou ao nosso quartel e toca a chamar-me:
- Marinho, manda preparar um jeep com respectivos condutor e operador rádio, mais dois soldados. Depois vais para a pista de aviação,  pois vai chegar um alferes "periquito" e vais levá-lo a Nova Lamego e depois a Buruntuma.

Requisitei um jeep, os militares necessários e ala para a pista de aviação, esperar o maçarico. Cerca das onze horas chegou o maçarico que cumprimentei e logo vi que o alferes era muito pouco comunicativo e taciturno. Vinha à civil, com uma malinha pequena.

Expliquei para onde íamos e como.  Não perguntou nada, nem disse nada. Nós olhamos uns para os outros, admirados e muito desconfiados. Lá seguimos para Nova Lamego. Aí chegados, o Alferes foi apresentar-se ao oficial dia  do BCAÇ 512.

Seguimos de seguida para Buruntuma. Chegamos, mesmo na hora do almoço. O destacamento era ao nível de pelotão. Fomos convidados para almoçar pelo furriel que substituía o alferes, agora chegado.
Conversa puxa conversa e lá ficamos cerca de três horas.

Entretanto, alguns militares do pelotão, deslocaram-se para o campo de futebol, para jogar. Nós, os da CCAÇ 412 também fomos ver o jogo. Decorria o jogo e alguns de nós,  furrieis,  trocavámos impressões do sr. alferes.

De repente, alguém começa berrar muito alto:
− Olha, o alferes vai para a fronteira!

A malta toda começa a gritar para chamar o alferes, que transporta a sua malinha. Ao ouvir os berros da malta, ele apressa o passo na estrada que segue para a fronteira. E desaparece.

Um furriel com alguns militares, foram de jipão, perseguir o alferes, mas dele já não havia
vestígios.

Então parti para Nova Lamego, onde comuniquei ao oficial de dia, os factos ocorridos. Claro que ele não acreditava, mas,  recebida a informação Rádio, comunicou ao sr. ten-cor Figueiredo Cardoso. Que ficou espantado.

O qlferes que no mesmo dia chega e parte. Mais tarde ouviram-o na Rádio Argel. Entretanto, dizia-se que ele em Bissau, havia afirmado que não ficaria muito tempo na Guiné. (**)

Alcidio Marinho

CCAC  412
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