terça-feira, 11 de abril de 2017

Guiné 61/74 - P17234: "Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp) - Parte XI: trinta e nove anos depois, homenagem aos mortos, em 1981, em Setúbal





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1. Continuação da publicação da brochura "Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do capitão SGE ref José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp. inumeradas, il.) [, imagem da capa, à direita].(*)

José Rebelo, capitão SGE reformado, foi em plena II Guerra Mundial um dos jovens expedicionários do RI I1, que partiu para Cabo Verde, em missão de soberania, então com o posto de furriel (1º batalhão, RI 11, Ilha de São Vicente, ilha do Sal e ilha de Santo Antão, junho de 1941/ dezembro de 1943). Faria depois da Escola de Sargentos de Águeda. Promovido a alferes, comandou a GNR em Tavira, até 1968. Colaborava com regularidade, no jornal "Povo Algarvio", onde o nosso camarada Manuel Amaro o conheceu, pessoalmente. Em 1969, já capitão, sendo o Comandante da Companhia da Formação no Hospital Militar da Estrela, em Lisboa-

Não temos mais informações atualizadas sobre este nosso velho camarada (e nomeadamente, por onde andou depois do 25 de Abril). De qualquer modo, é credor de toda a nossa simpatia, apreço e gratidão. Se for ainda  vivo, e oxalá que sim, terá então a bonita idade de 96 ou 97 anos. Cabe-nos em,todo o caso honrar a sua memória e a dos seus camaradas, onde se incluiram os pais de alguns de nós, mobilizados para Cabo Verde, por este e por outros regimentos.

A brochura, de grande interesse documental, e que estamos a reproduzir, é uma cópia, digitalizada, em formato pdf, de um exemplar que fazia parte do espólio do Feliciano Delfim Santos (1922-1989), que foi 1.º cabo da 1.ª companhia do 1.º batalhão expedicionário do RI 11, pai do nosso camarada e grã-tabanqueiro Augusto Silva dos Santos (que reside em Almada e foi fur mil da CCAÇ 3306 / BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73).

[Foto, à direita, do então furriel José Rebelo, expedicionário do 1º batalhão do RI 11]

Trata-se de um conjunto de crónicas publicadas originalmente no jornal "O Distrito de Setúbal", e depois editadas em livro, por iniciativa da Assembleia Distrital de Setúbal, em 1983, ao tempo do Governador Civil Victor Manuel Quintão Caldeira. A brochura, ilustrada com diversas fotos, dos antigos expedicionários ainda vivos, tem 76 páginas, inumeradas. Por se tratar de zincogravuras, a qualidade das imagens que reproduzimos, infelizmente, é fraca ou muito fraca.

O batalhão expedicionário do RI 11, Setúbal, com pessoal basicamente originário do distrito, partiu de Lisboa em 16 de junho de 1941 e desembarcou na Praia, ilha de Santiago, no dia 23. Esteve em missão de soberania na ilha do Sal cerca de 20 meses (até 15 de março de 1943), cumprindo o resto da comissão de serviço (até dezembro de 1943) na ilha de Santo Antão.

As páginas que publicamos hoje [cap XIV, de 46 a 50, cap ] não vêm numeradas no livro.  
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Guiné 61/74 - P17233: XII Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 29 de Abril de 2017 (5): Listagem actualizada dos inscritos (115). Lotação máxima: 200. Atenção que só faltam duas semanas para fecharmos as inscrições


Infogravura: © Miguel Pessoa (2017)





Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné



XII ENCONTRO NACIONAL DA TABANCA GRANDE 

PALACE HOTEL DE MONTE REAL

29 DE ABRIL DE 2017


Caros camaradas e amigos

Não parece, mas estamos a duas semanas de fechar as inscrições. 

Relembramos que o prazo limite é o fim do dia 23 - domingo

Mais uma vez pedimos às pessoas que não se deixem para o fim, especialmente quem quiser reservar dormida no Palace. Como têm visto, há outros eventos em simultâneo no Hotel, o que poderá impedir de satisfazer a procura.

Camarada e amigo, verifica aqui o teu nome. Não está? Devia estar? Não te inscreveste pela certa. 

Conforme gráfico que reproduzimos acima, o sul do país (do Tejo para baixo...) ainda não está representado no encontro onde vamos comemorar os nossos 14 anos de existência!... 14 anos a blogar é obra, são pelo menos seis comissões na Guiné!,,, 

Nem muito menos as Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores... Da diáspora, e neste caso, dos EUA,  temos dois ilustres representantes... que já nos deram a honra da sua presença o ano passado.  Com o Zeca Macedo, que foi fuzileiro, temos as 3 armas representadas (Exército, Força Aérea e Marinha)... Ainda nos faltam 85 inscrições para atingir o pleno (200 lugares).


LISTA DOS 115 INSCRITOS ATÉ AO MOMENTO


Abel Santos - Leça da Palmeira / Matosinhos
Agnelo Macedo e Delfina - Lisboa
Agostinho Gaspar - Leiria
Albano Costa e Maria Eduarda - Guifões / Matosinhos
Almiro Gonçalves e Amélia - Vieira de Leiria
António Arcílio Azevedo e Maria Irene - Leça da Palmeira / Matosinhos
António Dias Pereira e Teresa Maria - Tomar
António Duarte e Conceição - Linda-A-Velha / Oeiras
António Fernando Marques e Gina - Cascais
António José P. da Costa e Maria Isabel - Lisboa
António Luís e Maria Luís - Lisboa
António M. Sucena Rodrigues e Rosa Maria - Oliveira do Bairro
António Maria Silva e Maria de Lurdes - Sintra
António Martins de Matos - Lisboa
António Vieira - Vagos
Armando Nunes Carvalho e Maria Deolinda - Sintra
Arménio Santos - Lisboa

Carlos Alberto Cruz, Irene e Paulo - Paço de Arcos / Oeiras
Carlos Cabral e Judite - Pampilhosa
Carlos Vinhal e Dina - Leça da Palmeira / Matosinhos
 
David Guimarães e Lígia - Espinho
Diamantino Ferreira e Emília - Leiria

Eduardo Campos - Maia
Eduardo Jorge Ferreira - Vimeiro / Lourinhã
Eduardo Magalhães Ribeiro e Carlos Eduardo - Porto
Ernestino Caniço - Tomar

Fernando Jesus Sousa e Emília Sérgio - Lisboa
Francisco José F. Oliveira - Lisboa
Francisco Palma - Cascais
Francisco Silva e Maria Elisabete - Porto Salvo / Oeiras

Hernâni Alves da Silva e Branca - V. N. Gaia 
Idálio Reis - Sete-Fontes / Cantanhede

Isolino Gomes e Júlia - Porto

Joaquim Carlos Peixoto e Margarida - Penafiel
Joaquim Gomes Soares, Maria Laura e Aurora Brito - Porto
Joaquim Mexia Alves, Catarina e André - Monte Real / Leiria
Jorge Cabral - Lisboa
Jorge Canhão e Maria de Lurdes - Oeiras
Jorge Ferreira - Lisboa
Jorge Picado - Ílhavo
Jorge Pinto e Ana Maria - Sintra
Jorge Rosales - Monte Estoril / Cascais
José Almeida e Antónia - Viana do Castelo
José Barros Rocha - Penafiel
José Casimiro Carvalho - Maia
José Eduardo R. Oliveira - Alcobaça
José Ferreira da Silva e Maria Vergilde - Crestuma / V. N. Gaia
José Francisco Macedo Neves e Rosa Maria - Guifões / Matosinhos
José Macedo e Goreti - Estados Unidos da América
José Manuel Cancela e Carminda - Penafiel
José Manuel Lopes e Maria Luísa - Régua
José Miguel Louro e Maria do Carmo - Lisboa

Luís Graça - Alfragide / Amadora
Luís Moreira e Irene - Sintra
Luís Paulino e Maria da Cruz - Algés / Oeiras

Manuel Augusto Reis - Aveiro
Manuel Gonçalves e Maria de Fátima - Lisboa
Manuel José Ribeiro Agostinho e Elisabete - Leça da Palmeira / Matosinhos
Manuel Lima Santos e Fátima - Viseu
Manuel Lopes e Hortense - Monte Real / Leiria
Mario Magalhães, Fernanda e Afonso - Sintra
Mario Vitorino Gaspar - Lisboa
Miguel Pessoa e Giselda - Lisboa
 
Ricardo Figueiredo - Porto
Rogé Guerreiro - Cascais
Rui Pedro Silva - Lisboa

Silvino Correia d'Oliveira - Leiria

Virgínio Briote e Maria Irene - Lisboa
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A Comissão organizadora

Carlos Vinhal
Joaquim Mexia Alves
Luís Graça
Miguel Pessoa
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Nota do editor

Poste anterior de 5 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17208: XII Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 29 de Abril de 2017 (4): Temos até hoje de manhã 93 inscrições... Ainda faltam 107 para fazermos o pleno... Vamos festejar os 13 anos de existência do blogue!

Guiné 61/74 - P17232: Convívios (793): XXII Encontro do pessoal do BCAÇ 2885, dia 20 de Maio de 2017, em Coimbra (César Dias, ex-Fur Mil Sapador)



1. Mensagem do nosso camarada César Dias (ex-Fur Mil Sapador da CCS/BCAÇ 2885, Mansoa, 1969/71) com data de 2 de Abril de 2017, anunciando o XXII Encontro do pessoal do seu Batalhão:

Boa noite Carlos, saudações camarigas 
Venho mais uma vez pedir-te, caso seja possível, que publiques mais este alerta ao BCAÇ2885. Reunir das tropas. 

Convocam-se todos os elementos do BCAÇ2885 para mais um almoço de confraternização que terá lugar no próximo dia 20 de Maio em Coimbra, conforme anexos com localização e ementa. 

Então? "NÓS SOMOS CAPAZES" vamos estar presentes. 

Um forte abraço do amigo
César Dias






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Nota do editor

Último poste da série de 4 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17206: Convívios (792): Encontros com e para a história - O caso do camarada Manuel José Janes - "O Violas" da CCAÇ 1427 (Jorge Araújo)

Guiné 61/74 - P17231: Parabéns a você (1237): Jorge Félix, ex-Alf Mil Pilav Alouett III da BA 12 (Guiné, 1968/70); Jorge Picado, ex-Cap Mil da CCAÇ 2589, CART 2732 e CAOP 1 (Guiné, 1970/72) e Manuel Marinho, ex-1.º Cabo At Inf do BCAÇ 4512 (Guiné, 1972/74)



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Nota do editor

Último poste da série de 9 de Abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17223: Parabéns a você (1236): Jorge Canhão, ex-Fur Mil Inf do BCAÇ 4612/72 (Guiné, 1972/74); Mário Vitorino Gaspar, ex-Fur Mil Art MA da CART 1659 (Guiné, 1967/68) e Coronel Pilav Ref Miguel Pessoa, ex-Tenente Pilav da BA 12 (Guiné, 1972/74)

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Guiné 61/74 - P17230: Agenda cultural (553): Convite para sessão de apresentação do livro "Exílios: testemunhos de exilados e desertores portugueses na Europa (1961-1974)". Lisboa, Museu do Aljube, 3ª feira, dia 11, às 18h00. Apresentação de Carlos Matos Gomes, e intervenções de 2 dos 21 autores. (Confirmar presença.para info@museudoaljube.pt)






1. Mensagem de Helena Pinto Janeiro, com data de hoje, às 20h15

Estimado Luís Graça e amigos do blogue «camaradas da Guiné»

O coronel Carlos Matos Gomes, um dos vossos ilustres camaradas na Guiné, vai amanhã apresentar um livro sobre deserção e exílio na guerra colonial. Aqui fica o convite para um evento que demonstra como, em democracia, mesmo os temas incómodos podem ser discutidos com a elevação que o nome dos intervenientes promete.


​ No Museu do Aljube, à Sé, pelas 18h de 11 de Abril.

Com os melhores cumprimentos,

Helena Pinto Janeiro, PhD 


Museu do Aljube - Resistência e Liberdade & Instituto de História Contemporânea, FCSH/ Universidade NOVA de Lisboa
helenajaneiro@egeac.pt
https://fcsh-unl.academia.edu/HelenaPintoJaneiro


[O livro é editado pela Associação de Exilados Políticos Portugueses (AEP61-74), com sede em Carcavelos. Vd aqui o respetivo sítio na Net bem como o índice da obra.]


["A AEP61-74, Associação de Exilados Políticos Portugueses reúne um conjunto de antigos desertores, refractários e exilados políticos portugueses na Europa. Tem por objectivos, publicar o livro Exílios, testemunhos de exilados portugueses na Europa (1961-74); recolher e divulgar memórias do exílio dos anos 60/70 do século XX; criar, produzir e apoiar comunicação multimédia sobre o mesmo período; apoiar e desenvolver iniciativas pela paz, pelos direitos humanos, contra a guerra. É uma organização sem fins lucrativos e está aberta a iniciativas, defensores e activistas destas causas." ]


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Nota do editor:

Último poste da série > 6 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17213: Agenda cultural (552): Lançamento do livro de Sérgio Neto, "Do Minho ao Mandovi: um estudo do pensamento colonial de Norton de Matos" (Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2016): 10 de abril, 2ª feira, às 17h., Casa Municipal da Cultura, Coimbra. Apresentação: professores doutores Luís Reis Torgal e Armando Malheiro da Silva

Guiné 61/74 - P17229: Notas de leitura (945): “La Guine Bissau D’Amilcar Cabral à la reconstrution nationale”, por J.-CL. Andréini e M.-L. Lambert, Éditions l’Harmattan, 1978 (1) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Janeiro de 2016:


A Guiné-Bissau três anos depois (1)

Beja Santos

A obra intitula-se “La Guine Bissau D’Amilcar Cabral à la reconstrution nationale”, por J.-CL. Andréini e M.-L. Lambert, Éditions l’Harmattan, 1978. É curioso como uma obra declaradamente apologética insere elementos pertinentes para a compreensão do novo país, ficamos a saber mais sobre o que motivava a liderança do PAIGC a partir de Outubro de 1974, como o país se pretendia organizar, quais as estratégias de desenvolvimento que se puseram desde a primeira hora. Os autores justificam o seu trabalho alegando que a experiência de Guiné-Bissau é de um grande interesse para aqueles que seguem as tentativas revolucionárias em África, justificam-se com a apresentação de elementos sobre as atividades socioeconómicas e políticas, o que parecia ir bem, o que inquietava o PAIGC naqueles primeiros anos.

Não vale a pena determo-nos na apresentação de Cabral, na história do PAIGC, na natureza da luta nacional, respetivas estruturas políticas e participação, composição do partido, o lugar do Estado, vamos dar voz ao que parecia ser o projeto político do PAIGC quando a Guiné ficou independente de facto. Segundo estes dois autores o movimento libertador reagrupava camadas sociais em torno do nacionalismo anticolonialista. Não havia nenhum projeto, quando chegaram a Bissau para motivar e dar confiança a toda a população que aguardava o vencedor na maior das expetativas. A direção política do PAIGC terá tido a ilusão de que podia adaptar mecanicamente a natureza da participação existente durante a luta armada, que seria simples instituir comités de bairro, nas cidades, e comités de tabanca, no meio rural. A divisa inicial era “paz e progresso para o povo”. Segundo os autores, Luís Cabral terá dado provas inequívocas de lutar contra a inércia e as tendências oportunistas. Veremos adiante que estes primeiros anos de reconstrução e de “reunificação” não foram particularmente felizes em explicar a todas as populações o que se entendia por etapas do desenvolvimento, como todos podiam vir a usufruir gradualmente de serviços públicos e se envolverem na modernização económica e social.

Os autores alegam que a herança colonial foi tremenda. Claro que foi, mas a liderança do PAIGC sabia o que vinha depois de ter contribuído para desmantelar o mundo da produção agrícola, fazer reduzir as exportações, etc. uma guerra daquela natureza teria que implicar importações de arroz na medida em que um número elevadíssimo de bolanhas ficaram improdutivas, a pequena indústria, sobretudo no campo das serrações, volatizou-se, ao tempo eram as exportações de amendoim que contribuíam para que a balança de transações estivesse menos desequilibrada. Havia os refugiados que estava nomeadamente no Senegal e na Guiné Conacri, como na Gâmbia, estimam-se em cerca de 150 mil. O alto comissariado para os refugiados das Nações Unidas desenvolveram um enorme esforço para trazer esses seres humanos, dando-lhes artefactos, sementes, etc. Amílcar Cabral agrónomo de profissão, conhecia profundamente a natureza dos problemas agrícolas que iriam surgir após a independência, fora ele que aprovara o plano de sabotagens económicas para inativar as relações coloniais existentes.

Os responsáveis guineenses diziam que o domínio prioritário do programa económico da reconstrução nacional era a agricultura. Como se compreenderá, não é fácil instalar 150 mil cidadãos, assegurando-lhe a terra para cultivar. Havia que recuperar as bolanhas, refazer as proteções contra as águas salgadas, erguendo diques e outras infraestruturas. Falava-se entusiasticamente que viriam técnicos cooperar na extensão rural, falou-se mesmo na participação dos jovens militares e dos militares das FARP. As granjas do Estado pareciam também destinadas a campos experimentais para encontrar novas explorações intensivas, por exemplos no campo dos hortícolas. Havia mesmo uma fatia importante da ajuda internacional que iria ser canalizada para o financiamento de projetos agrícolas, vieram técnicos de Cuba e da China para contribuir para o reflorestamento e para a melhoria das técnicas orizícolas, a Argélia contribuía com uma unidade avícola impressionante, a França prontificou-se a financiar um projeto de desenvolvimento agrícola em Bafatá, tomaram-se mesmo medidas para melhorar os preços à produção do amendoim, garantindo-se o escoamento, enviaram-se técnicos para debater com as populações novos hábitos alimentares, incitando os agricultores a diversidade das culturas, foi uma tentativa de mudar a alimentação guineense, subtraindo-a à monotonia do arroz. Os autores acham que era muito difícil avaliar a política agrícola dos três primeiros anos, limitaram-se a apresentar estatísticas alegando que se caminhava para o melhor dos mundos possíveis. Já se sabe que não foi assim que as coisas se passaram: baixou a produção, houve que importar mais arroz, baixaram as exportações, agravou-se o défice externo.

Apostando na coletivização do comércio, nacionalizaram-se os estabelecimentos da Casa Gouveia e da Ultramarina, parecia que tinha desparecido a base da exploração colonial, que os Armazéns do Povo iriam ter agora facilidade em organizar os circuitos de distribuição, tal como tinham feito nas chamadas zonas libertadas. Começaram as carestias, os produtos a faltar nas cidades e os Armazéns do Povo praticamente vazios, eram os djilas quem ganhavam com o caos instalado, comprovam o que podiam e iam vender às pequenas localidades a preços exorbitantes. Em 1977, face às continuadas roturas de stock, o governo decidiu normalizar a atividade dos djilas, mas não se resolveu o problema de fundo. Todo este sistema estatal desaparecerá nos anos 1980, revelara-se inoperante, houvera imensa corrupção, a população estava farta de procurar óleo e sabão e ele não aparecia.

Mas o investimento na agricultura foi mínimo, a liderança do PAIGC apostava forte no desenvolvimento industrial, acreditava-se piamente que o país enriqueceria com as suas indústrias extrativas, se o país era agrícola bem podia tornar-se agroindustrial, sonharam-se com complexos agroindustriais, com serviços de energia e de água, infraestruturas, etc. O país endividou-se mais, sobrevieram maus anos agrícolas, o descontentamento era enorme.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de Abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17218: Notas de leitura (944): “O país fantasma”, de Vasco Luís Curado, Publicações Dom Quixote, 2015 (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17228: (D)o outro lado do combate (Jorge Araújo) (7): as más notícias de Amílcar Cabral (1924-1973): a mina accionada pela viatura de Pedro Pires, em 17 de março de 1972, na estrada Sansalé-Boké, em território da Guiné-Conacri



Infogravura: Jorghe Araújo (2017)



Colaborador permanente do nosso blogue, Jorge Araújo (ex-Fur Mil Op Especiais da CART 3494. Xime e Mansambo, 1971/74) é professor universitário, doutorado em ciências do desporto.  Este texto foi nos  enviado a 17 de março último, com a seguinte nota: "passam hoje 45 anos em que o Pedro Pires caiu numa mina em território da Guiné-Conacri, conforme é referido por Amílcar Cabral", pretexto para maia um poste para a série "(D)o outro ladoc do combate (*).


Sobre o comandante Pedro Pires. recorde-se aqui o seguinte:


(i) de seu nome completo Pedro Verona Rodrigues Pires, nasceu na ilha do Fogo, Cabo Verde, em 29 de abril de 1934:

(ii) em Lisboa, a partir de 1956. frequenta a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e é membro da Casa de Estudantes do Império;

(iii) chamado a cumprir o serviço militar obrigatório, foi alferes miliciano na FAP - Força Aérea Portuguesa.

(iv) com o início da luta armada em Angola em 1961, saiu clandestinamente  de Portugal em junho desase anop no meio de uma leva de 8 dezenas de estudantes africanos que foi a salto para França (entre eles, estavam os angolanos Iko Carreira, Gentil Viana e Daniel Chipenda e os moçambicanos Joaquim Chissano e Pascoal Mocumbi):

(v) de França seguiu para Marrocos, onde colaborou com o dirigente da Frelimo, o moçambicano Marcelino dos Santos, na Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas:

(vi) em 1963, já está em Dacar, Senegal, de onde transita depois para Conacri, antes de seguir para Cuba e para a URSS, onde frequentou cursos de guerrilha;

(vii) sabe-se pouco sobre a sua vida como combatente; na sequência do assassinato  de Amílcar Cabral em janeiro de 1973. torna-se  um dos protagonistas do II Congresso do PAIGC, que criou uma Comissão Nacional para Cabo Verde;

(viii) foi depois escolhido para comissário adjunto (secretário de Estado) das Forças Armadas, quando o PAIGC proclamou a independência da Guiné-Bissau, em 24 de Setembro de 1973; nessa altura, Pires aparecia como n.º 2 de Nino Vieira, que acumulava as funções de comissário (ministro) com as de presidente da Assembleia Nacional Popular.

(ix) chefiou a delegação do PAIGC que negociou com o Governo português, o reconhecimento da independência da Guiné: assinou o Acordo de Argel, em agosto de 1974: dirigiu a delegação que assistiu ao acto de reconhecimento da independência da Guiné-Bissau, em Lisboa, a 10 de setembro de 1974:

(ix) depois da Declaração de Independência de Cabo Verde em 5 de julho de 1975, foi designado ministro-presidente, cargo que ocupou até 1991, quando — como resultado de sua iniciativa junto com outros — o sistema multipartidário foi introduzido no país e o MpD - Movimento pela Democracia, de Carlos Veiga, conseguiu a maioria.

(x) com o advento da democracia e do multipartidarismo, em 1991, o comandante Pedro Pires substituiu Aristides na liderança do partido (já designado por PAICV após a cisão de 'Nino' Vieira):

(xi) eleito Presidente da República em 2001 e reeleito em 2006:

Outras fontes: vd. também, Expressp das Ilhas e o arquivo Pedro Verona Pires no portal Casa Comum / Fundação Mário Soares.


1. INTRODUÇÃO

Antes de mais, cumpre-me referir que tinha intenção de adicionar o meu modesto contributo a um dos temas mais sensíveis desta semana no blogue, apresentado no P17138 pelo nosso camarada António Martins de Matos (ten gen pilav ref), em particular sobre o seu ponto 3. «O Strela, a arma que revolucionou a guerra». )*)

Porém, por ter em mãos a divulgação de uma ocorrência (efeméride) verificada há, precisamente, quarenta e cinco anos, em 17 de março de 1972, igualmente uma sexta-feira como a deste ano, esta acabou por se sobrepor à anterior, por opção, prometendo no entanto recuperá-la oportunamente.
A presente narrativa nasce, uma vez mais, de uma nova visita aos arquivos da Casa Comum, Fundação Mário Soares, onde encontrei uma outra má notícia divulgada por Amílcar Cabral (1924-1973), esta relacionada com o accionamento de uma mina, colocada em território da Guiné-Conacri, no itinerário entre Sansalé e Boké, por uma viatura (pesada?) onde seguiam entre outros dirigentes do PAIGC, Pedro Pires e Bacar Cassamá, que saíram ilesos, mas onde se registaram algumas perdas humanas que não foram identificadas/referidas nem quantificadas na sua carta.

[Vd, acima o mapa da região sul da Guiné, assinalando-se o local do acidente, no itinerário Sansalé-Boké, em território da Guiné-Conacri.]


2. AS MÁS NOTÍCIAS DE AMÍLCAR CABRAL

2.1. O episódio da mina accionada pela viatura de Pedro Pires

Este episódio ocorreu em 17 de março de 1972, uma sexta-feira, faz quarenta e cinco anos. Partindo do pressuposto de que serão poucos, certamente, os que dele têm conhecimento, tomei a iniciativa de o partilhar convosco.

Nessa sua missiva enviada a Pedro Pires (n. 1934-04-29), lamentando o sucedido, Amílcar Cabral refere que ele é (era) “fruto da traição dos nossos próprios irmãos”, situação que haveria de repetir-se consigo próprio, dez meses depois, em 20 de janeiro de 1973, ao ser assassinado em Conacri por membros do seu próprio partido, facto histórico amplamente divulgado nos mídia, e já do domínio público.

Quanto ao conteúdo transmitido, aqui vos deixo a sua totalidade, transcrevendo-o, e adicionando-lhe pequenos detalhes, colocados entre parênteses rectos.

O original está colocado no final, bem como referida a sua fonte.


2.2. A carta de Amílcar Cabral para Pedro Pires escrita em 18 de março de 1972

[Papel timbrado do PAIGC]

Conacri, 18 de Março de 1972


Meu caro Pires,


Algumas palavras apenas para te dizer que foi para mim uma grande surpresa saber, pela tua carta de 17 de Março [ontem], que tu estavas no carro [provavelmente uma viatura pesada] que caiu na mina na estrada de Sansalé [região de Boké, República da Guiné]. Vi bem que na mensagem [provavelmente telegrama] dizias caímos, mas pensei que fosse apenas maneira de exprimir nossa.

Temos ainda mais razões, portanto – e grandes, meu Deus – para sentir profundamente o que se passou, fruto da traição dos nossos próprios irmãos, ao serviço dos criminosos colonialistas tugas. Compreendo perfeitamente a tua tristeza ou indignação perante o acontecimento, e só agradeço a todos os deuses e irans [irãs] o não termos tido mais perdas [não quantificadas], a tua vida e a do Bacar [Cassamá], e a de outros camaradas terem sido preservadas.



Cortesia da Fundação Mário Soares > Casa Comum > Arquivos > Arquivo Amílcar Cabral

Citação:
Bruna Polimeni (Ago’1971), "Amílcar Cabral, Constantino Teixeira e Bacar Cassamá entre outros militares do PAIGC", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43310 (2017-3-16)

Dado a gravida do caso escrevi uma informação ao [Ahmed] Sekou Touré [1922-1984], da qual te envio uma cópia. Hoje, dentro de meia hora, vou falar com ele sobre este assunto, que é do nosso interesse comum e que devemos resolver com urgência.


Bem gostaria de estar contigo agora para falarmos sobre este assunto – e sobre esta condição própria às lutas como a nossa que é a traição daqueles por quem lutamos e sofremos. Espero no entanto ver-te o mais breve possível. Lamentando, é certo, os camaradas perdidos e feridos, cujos nomes espero me indiques, regozijo-me no entanto em saber-te bem, ileso e, como sempre, decidido a dar tudo pela vitória do nosso Partido, ao serviço do nosso povo.


Todos te cumprimentamos com saudade.

Fraternalmente, Amílcar Cabral.


Fonte: Portal: Casa Comum

Instituição: Fundação Mário Soares


Assunto: Manifesta a sua surpresa por Pedro Pires se encontrar no carro que caiu na mina na estrada de Sansalé, colocada pelos “irmãos ao serviço dos criminosos colonialistas”. Refere que escreveu uma informação ao Sekou Touré, dada a gravidade do caso.

Remetente: Amílcar Cabral.

Destinatário: Pedro Pires

Data: Sábado, 18 de Março de 1972

Fundo: Pedro Verona Pires

Tipo Documental: Correspondência
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Nota do editor:

Postes anteriores da série > 



domingo, 9 de abril de 2017

Guiné 61/74 - P17227: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (14); Uma horta em Missirá, no regulado do Cuor:


Foto nº 1 > Horta


 Foto nº 2 > Horta


Foto nº 3 > Horta 


Foto nº 4 > Horta


Foto nº 5 >  Mascote, um pequeno babuino (macaco-cão)


Foto nº 6 >  Ponto de cambança

Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 >  Missirá>  Pel Caç Nat 52 > c. 1973/74 >  A horta,

Fotos (e legendas): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].




1. Continuação da publicação do  álbum fotográfico do Luís Mourato Oliveira, nosso grã-tabanqueiro, que foi alf mil da CCAÇ 4740 (Cufar, 1972/73) e do Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, 1973/74). (*)

Foi o último comandante do Pel Caç Nat 52. Irá terminar a sua comissão em Missirá, depois de Mato Cão, e extinguir o pelotão em agosto de 1974.

Em Missirá fez um horta para poder ter legumes frescos, e onde toda a gente trabalhava... porque quem não labuta, não manduca... E havia alfaias agrícolas de todo o género, até um pulverizador... Bambadinca, sede do batalhão, ficava do outro lado do rio, na margem esquerda do Rio Geba Estreito. Como a formiguinha, armanzenava-se comida para a estação das chuvas (de maio a outubro).

Sobre Missrá, no regulado do Cuor,  tenos cerca de 160  referências.  Por lá passaram grã-tabanqueiros ilustres como o Mário Beja Santos "Tigre de Missirá" ou Jorge Cabral ("alfero Cabral"). este no comando do Pel Caç Nat 63 (1969/71), Sem esquecer o primeiro de todos os comandantes do Pel Caç Nat 52, que passou por Missirá, e que foi o Henrique Matos.

Guiné 61/74 - P17226: Fotos à procura de... uma legenda (82): Meninas de Zagora, no sudeste de Marrocos, às portas do deserto do Saara... (Luís Graça)










 Marrocos > Cordilheira do Atlas > Zagora > 27 de março de 2017 > Duas crianças bérberes que espreitam, de manhãzinha,  tímidas mas curiosas, a partida de um grupo de turistas portugueses, chegados na véspera ao hotel Palais Amaa, vindos de Ouarzazate. (Fotos tiradas à distância, com zoom, do interior do hotel, a primeira, e as restantes do interior do autocarro que seguia para Erfoud.)

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Canaradas da Guiné]

Guiné 61/74 - P17225: Blogpoesia (504): "Do zero ao infinito..."; "Milagre ou não..." e "Estilhaços de verniz...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728



1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Do zero ao infinito...

Aprendi a contar,
contando, uma a uma,
as estrelas do céu,
à luz do luar.

Aprendi a sonhar,
vendo as ondas cansadas
que vinham de longe,
dos longes do mar.

Aprendi a rezar,
nas horas mais tristes da vida,
quando me senti na solidão.

Aprendi a esperar,
oculto na sombra,
até ver o sol a nascer.

Apeteceu-me chorar,
quando vi o que a sorte me trouxe
escondida,
quando toda a minha alegria partiu...

ouvindo música clássica
Bar "Caracol" em Mafra, 9 de Abril de 2017
10h00m
Jlmg

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Milagre ou não...

Vai seco o rio.
Coitados dos peixes.
Ficaram todos na represa,
larga e funda.
Aqui vai o leito, seco e triste.
Deixaram de ver-se ao espelho,
as ramagens verdes e suas sombras.
Refulgem ao sol as pedras lisas
e areia branca.
Chegam aqui os bois enganados,
a morrer de sede.
Só uma grande enxurrada de aluvião
lhe poderá restituir
o encanto que vestia o rio.
E as gentes ribeirinhas,
chorando a secura de seus campos,
se juntaram já, em procissão,
clamando aos céus,
venha chuva tão abundante
lhe renove o rio.
Parece que os ouviu a divindade.
Milagre ou não,
O rio encheu...

ouvindo música de filmes

Bar "Castelão" em Mafra, 4 de Abril de 2017
10h19m
Jlmg

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Estilhaços de verniz...

Se cobrem os passeios e caminhos
de estilhaços de verniz.
Como de folhas secas....
Tanto reluziram ao sol.
Perderam cor. Mirraram.
Semearam ilusões,
figurando princesas,
príncipes.
Empertigados.
Afinal, mortalhas simples
de cabeças ocas.
Secou-lhes o céu da boca.
De tanta palavra vã.
Tantos gestos inúteis,
com ares de garbo.
Porque se pintam rostos,
para quê o charme,
se, por fim,
tudo é falso e fátuo?
Mais vale a ruga na pele ao sol
que reflita a alma
que a imagem rútila
que, no fundo, é máscara...

Bar-café Jardim, em Ovar,
5 de Abril de 2017
10h41m
JLMG
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Nota do editor

Último poste da série de 2 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17197: Blogpoesia (503): "O cabo das tormentas..."; "Pelo Alentejo verde..." e "Transparência da mulher...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P17224: Historiografia da presença portuguesa em África (73): Subsecretário de Estado das Colónias em visita triunfal à Guiné, de 27/1 a 24/2/1947 - Parte II: Prosseguem as inaugurações, em 29 e 30 de janeiro... Nessa época havia uma linha área, a Linha Imperial, entre Lisboa e Lourenço Marques....








Recorte da 1ª págima do Diário de Lisboa, nº 8683, ano 26, quarta-feira, 29 de janeiro de 1947, diretor: Joaquim Manso (Fonte: Fundação Mário Soares > Casa Comum > Arquivos > Diário de Lisboa / Rua Ramos > Pasta 05780.044.11034(  (com a devida vénia...)





Recortes da edição do "Diário de Lisboa, nº 8685, ano 26, sábado, 1 de fevereiro de 1947, diretor: Joaquim Manso (Fonte: Fundação Mário Soares > Casa Comum > Arquivos > Diário de Lisboa / Ruella Ramos >  Pasta: 05780.044.11036 (com a devida vénia...) .


1. Em 29 e 30 de janeiro de 1947, prosseguia a visita, à Guiné, do subsecretário de Estado das Colónias, engº  Sá Nogueira, sendo então governador-geral o futuro ministro das Colónias  (1950) e depois do Ultramar (em 1951) Manuel Sarmento Rodrigues. (Repare-se: só em 1950, os territórios ultramarinos têm um "ministro", até então eram representados por uma obscura subsecretaria de Estado...).

 Sublinhámos  em poste anterior a importância política de que se revestia esta  demorada visita, de  quae um mês, quer  para o governo de Salazar, na conjuntura do pós-guerra e no início do movimento de descolonização, como para o governador geral Sarmento Rodrigues, um prestigiado oficial da marinha, considerado com um "conservador liberal", com "ligações à Maçonaria" e que apoiava o Estado Novo... 

Natural de Freixo Espada à Cinta, era conotado como sendo um homem "à esquerda" do regime, com afinidades com o Marcelo Caetano, o então ministro das Colónias . Foi governadorgeral da Guioné entre 1945 e 1949. Será o preferido de Salazar para o lugar de Ministro das Colónias, em 1950, e depois do Ultramar, em 1951.  [Foto à direita, cortesia da Revista Militar].

É reconhecido o trabalho que Sarmento Rodrigues desenvolveu na modernização de Bissau e outras cidades, e na ganização do território. Destaque, no seu tempo,  para os estudos relacionados com a Guiné e a África Ocidental, ao criar, com a colaboração de Avelino Teixeira da Mota, o Centro de Estudos da Guiné. 

 O engº Sá Nogueira tinha chegado no dia 27. Dois depois,  fazia uma série de inaugurações, com destaque para o abastecimento de água a Bissau e para o bairro de Santa Luzia. O representante do governo da Metrópole e a sua comitiva visitava de manhá as obras do Museu,do Palácio do Governador e moradias dos funcionários "que transformarão radicalmente a fisionomia da cidade, dando-lhe o aspeto de um centro urbano moderno", lê-se na primeira página do "Diário de Lisboa" desse dia, segundo despacho da agência noticiosa Lusitânia... A residência do delegado do ministério público também foi objeto de visita, sendo considerada "a última palavra da nova arquitetura colonial" (sic).

Não faltaram os vivas e as aclamações dos "indígenas de diversas tribos, que tocaram o hino nacional em instrumentos gentílicos", bem como dos "colonos"... Houve ainda visita aos depósitos de construção do Alto Crim, bem como às obras do porto do Pigiguiti (sic) (era assim que o topónimo era grafado: hoje há variantes para todos os gostos!).

A 30, foi feita uma visita ao Asilo de Bor, uma obra de assistência às crianças abandondas, dirigida pelas irmãs franciscanas missionárias. E foi inaugurado o posto administrativo de Prábis. Na edição do "Diário de Lisboa", de 1 de fevereiro de 1947, dava-se também a notícia, do regresso a Lisboa, no "avião da Linha de África" (sic), do correspondente do jornal, o dr. Norberto Lopes. À chegada,o jornalista manifestou a sua "agradável impressão tanto pelo que viu na Guiné" (sic), como pela "regularidade e excelente funcionamento da carreira aérea entre Lisboa Lourenço Marques". O avião era um Douglas C-47, CS-TDD,  o 1º Dakota da TAP, pilotado pelo comandante Rodrigues Mano, e trazia 7 passageiros.



TAP - "Uniforme da linha imperial" (1946-1953). Era feito de caqui leve e fresco, Era usado exclusivamente nas linhas áreas para África. A inspiração eram as expedições e safarias em terras de África. (Foto e legenda: cortesia de Jornal TAP, edição nº 119, abril de 2015 > "Hangar da história: 70 anos de moda".)


Recorde-se que o  pretexto desta  visita ao territíório da "colónia", a primeira de um membro do governo de Salazar, foi o encerramento das comemorações do descobrimento da Guiné, em 1946 (uma data, de resto, polémica, para os historiadores, a da pretensa chegada de Nuno Tristão ao território). A iniciativa das comemorações locais foi do comandante Sarmento Rodrigues, tendo por trás  equipe dinâmica, criativa e entusíástica que se abalançou à tarefa hercúlea de conhecer, desenvolver e modernizar a Guiné, reforçando  a presença portuguesa no território, num conjuntura geopolítica, a do pós-guerra,   que se inicia o processo de descolonização.   Destaque, nessa equia, para o então 2º tenente da marinha, Avelino Teixeira da Mota, responsável pelo "Boletim Cultural da Guiné" Portuguesa" (que irá dedicar um nº especial, em outubro de 1947, a esta efeméride, o V Centenário).

Guiné 61/74 - P17223: Parabéns a você (1236): Jorge Canhão, ex-Fur Mil Inf do BCAÇ 4612/72 (Guiné, 1972/74); Mário Vitorino Gaspar, ex-Fur Mil Art MA da CART 1659 (Guiné, 1967/68) e Coronel Pilav Ref Miguel Pessoa, ex-Tenente Pilav da BA 12 (Guiné, 1972/74)



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Nota do editor

Último poste da série de 8 de Abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17221: Parabéns a você (1235): José Augusto Miranda Ribeiro, ex-Fur Mil Art da CART 566 (Guiné, 1963/65)