terça-feira, 20 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17490: Convívios (812): Encontro do pessoal da CCAV 2539/BCAV 2876, levado a efeito no passado dia 3 de Junho de 2017 em Lisboa (António Rocha Costa, ex-Alf Mil Op Esp))





1. Em mensagem do dia 14 de Junho de 2017, o nosso camarada António Rocha Costa, (ex-Alf Mil Op Especiais da CCAV 2539/BCAV 2876, S. Domingos, Antotinha e Bissau, 1969/71), enviou-nos algumas fotos referentes ao Encontro do pessoal da sua Unidade, levado a efeito no passado dia 3 deste mesmo mês, em Lisboa.
























Selecção e edição das fotos: Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17472: Convívios (811): Operação na cidade de Tondela pela CART 3494 (Sousa de Castro)

Guiné 61/74 - P17489: (De) Caras (78): o testemunho de Manuel Amante da Rosa, embaixador plenipotenciário de Cabo Verde em Itália, sobre o Fausto Teixeira: "era uma figura distinta, opositor ao regime de Salazar, vigiado pela PIDE/DGS, amigo do meu pai que lhe comprou, no início dos anos 70, o último navio que ele levou para a Guiné, um antigo cacilheiro que fazia carreiras regulares para o Xime e para os Bijagós ...Morreu depois do 25 de Abril em Portugal".

1. Duas mensagens, a primeira do nosso editor Luís Graça, com data de 13 do corrente; e outra, a resposta, enviada a 16 do corrente pelo  nosso amigo, camarada e grã-tabanqueiro,  ex-fur mil, QG/CTIG, Bissau,1973/74, Manuel Amante da Rosa, embaixador plenipotenciário da República de Cabo Verde em Itália desde 16/1/2013, e agora também em Malta [foto, acima, de 2013; cortesia da RTC - Radiotelevisão Caboverdiana].

(i) Mensagem do nosso editor LG, com data de 13 do corrente, enviada a Manuel Amante da Rosa:

Assunto - Madeireiro "amgo" do PAIGC? Fausto Teixeira, deportado para a Guiné em 1925... Um barco dele é atacado no Rio Geba c. 1970.

Manuel: Como vais tu na "Roma eterna"? Com muitas saudades da "nossa terra, Cabo Verde", imagino!,,,

Preciso de um favor teu, mais um esforço de memória... Este homem, Fausto Teixeira,  foi contemporâneo do teu pai, era madeireiro, tinha barco(s) que fazia(m) o Geba... Ajudou o Luís Cabral a fugir para o Senegal...

Se achares conveniente, não te cito... Em todo o caso, não me parece que haja qualquer inconveniente... Era um "tuga", e possivelmente teria duas famílias, uma em Palmela e outra em Bafatá... No final dos anos 60, hospedava-se no Hotel Portugal e tinha uma companheira cabo-verdiana, muito mais nova do que ele, de nome Agostinha...

Esta história diz-te alguma coisa? Um xicoração... Luís

PS - Andamos a ajudar na exposição sobre o escritor Manuel Ferreira (1917-1998), autor de "Hora di Bai", contemporâneo do meu pai, Luís Henriques (1920-2012), em São Vicente, na II Guerra Mundial... Casou com a Orlanda Amarílis (1924-2014). Eram colegas do Liceu Gil Eanes, no Mindelo, em 1944. O Amílcar Cabral foi da turma da Orlanda...

(ii) Resposta do Manuel Amante da Rosa:

Data: 19 de junho de 2017 às 09:48

Assunto: Re: Madeireiro "amigo" do PAIGC? Fausto Teixeira, deportado para a Guiné em 1925... Um barco dele é atacado no Rio Geba c. 1970...

Meu caro Luís, estou numa reunião sobre as secas e desertificação. Novas abordagens!

Aproveito um "break" para te dizer o que ainda a minha memória não apagou.

Este Senhor, Fausto Teixeira, era uma figura distinta na Guiné. Um empedernido opositor ao regime de Salazar, por vezes incómodo, e permanentemente seguido pela PIDE/DGS.

Conheci-o através do meu Pai, de quem era amigo. De baixa estatura, conversador, rijo apesar da idade e pertinaz em todas as opiniões que proferia.

Era originário de Setúbal e teria sido deportado para Bissau em finais de 40 ou inícios de 50 do século passado.


Fonte: Anúncio comercial. In: "Revista de Turismo", jan-fev 1956, número especial dedicado à então província portuguesa da Guiné






O meu Pai [, António Amante Rosa, que em 1956 era comerciante, em Belim, Fulacunda, e mais tarde armador] comprou-lhe o último navio que ele levou para a Guiné nos inícios dos anos 70.

Registou o navio, um antigo "cacilheiro", com o nome de "O Amanhã". Nessa altura, [o Fausto Teixeira] estaria já nos seus 70 anos e denotava esperanças em tudo o que fazia ou dizia.

O meu Pai conservou o nome e ele fazia carreiras regulares para o Xime diariamente. Eu fiz muitas viagens nele, não só para o Xime como para os Bijagós.

Julgo que o Sr. Fausto terá vivido o seu amanhã com o 25 de Abril ainda na Guiné e terá morrido anos depois na sua terra natal. Aqui não estou bem precisado.

O meu abraço de sempre.
Manuel Amante da Rosa


2. Comentário de LG:

Caro dr. Manuel Amante da Rosa, meu caro Manuel: estou-te muito grato pela rápida resposta e pela tua partilha de memórias sobre a terra que te vou nascer e crescer... Afinal, o Fausto Teixeira era teu conhecido e era amigo do teu pai, com quem teve negócios....

Só um detalhe biográfico, se me permites: o Fausto Teixeira já estava na Guiné desde o final da I República, mais concretamente desde julho de 1925. Foi deportado, não pela Ditadura Militar / Estado Novo (1926-1974), mas pela República (1910-1926), sem julgamento, por suspeita de pertencer à temível "Legião Vermelha".

Esta organização revolucionária (para outros meramente terrorista...) era, ao que parece, de inspiração bolchevique (e não anarcossindicalista, que era então a corrente dominante no movimento operário português,  e na Confederação Geral do Trabalho, de vida curta: 1919-1927)... 

O fantasma da "rede bombista" da Legião Vermelha seria usado como arma de arremesso da propaganda salazarista, anos mais tarde...  [Vd. documentário da RTP disponível no You Tube].




"Parte da retórica estado-novista foi construída e mantida capitalizando o fantasma da Legião Vermelha, concentrando em si toda a ideia de desordem política e social da I República, como se vê n[este] cartaz, presumivelmente, saído do Secretariado de Propaganda Nacional nos anos 40".

Fonte: Pinto, Ana Catarina Simões Mendonça - A luta de classes em Portugal (1919:1926) : a esquerda republicana e o bloco radical. Lisboa:  RUN [Repositório da Universidade NOVA de Lisboá. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH). Departamento de HistóriaTeses de Doutoramento, 2015, p. 339 (Com a devida vénia...).
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Nota do editor:

Últmo poste da série > 18 de junho de  2017 > Guiné 61/74 - P17482: (De) Caras (84): Fausto Teixeira, deportado político em 1925, empresário em Bafatá, de quem o 2º tenente Teixeira da Mota, ajudante de campo do governador Sarmento Rodrigues dizia, em 1947, ser um "incansável pioneiro da exploração de madeiras da Guiné"... Mais três contributos para o conhecimento desta figura singular (José Manuel Cancela / Jorge Cabral / Armando Tavares da Silva)

Guiné 61/74 - P17488: Parabéns a você (1274): Engenheiro Cherno Baldé, Amigo Grã-Tabanqueiro, natural da Guiné-Bissau

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Nota do editor

Último poste da série de 19 de Junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17485: Parabéns a você (1273): Henrique Cerqueira, ex-Fur Mil Inf do BCAÇ 4610/72 (Guiné, 1972/74) e Professor Leopoldo Amado, Amigo Grã-Tabanqueiro natural da Guiné-Bissau

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17487: Notas de leitura (970): “A Colonização Portuguesa da Guiné 1880-1960”, por João Freire, 2016, edição da Comissão Cultural da Marinha (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Junho de 2017:

Queridos amigos,
A investigação de João Freire introduz olhares refrescados sobre uma ocupação colonial em que a Marinha aparece no seu desempenho determinante, ao lado do Exército. Acresce que os oficiais da Marinha tiveram desde a primeira hora, a partir de 1879, papéis relevantíssimos na governação, nas chefias militares, na ciência e na cultura. Basta recordar o nome de Avelino Teixeira da Mota associado ao Boletim Cultural da Guiné Portuguesa e de Manuel Pereira Crespo indissociável da missão geoidrográfica que revolucionou os conhecimentos, de tal sorte que as melhores cartas geográficas têm por base o seu trabalho.
João Freire investigou 80 anos e deixa um comentário final que merece ser refletido: "A colonização portuguesa na Guiné pouco podia vangloriar-se do papel que desempenhara na modernização do território, em comparação com colónias vizinhas. Mas os governos de Portugal também não podiam ser acusados de ter lucrado diretamente da exploração colonial, cujo benefício se terá distribuído e disseminado ao longo do tempo entre os maiores agentes de negócio e os pequenos beneficiários locais da soberania portuguesa. Aos portugueses sobrava-lhes o resultado de terem contribuído poderosamente para a construção de uma identidade nacional guineense. Contudo, a estratégia oficial de "cabo-verdianização" da administração pública e as "táticas de africanização" das guerras que os portugueses travaram também contribuíram para cavar mais fundo as clivagens interétnicas existentes nos povos da Guiné".

Um abraço do
Mário


A colonização portuguesa da Guiné, 1880-1960, por João Freire (2)

Beja Santos

“A Colonização Portuguesa da Guiné 1880-1960”, por João Freire, 2016, edição da Comissão Cultural da Marinha, foi uma das edições preeminentes do ano transato, no que tange à investigação guineense no período colonial. João Freire manipula expeditamente a heurística e a hermenêutica, por cada capítulo abordado tece conclusões, assume responsabilidades interpretativas, nunca deixa o leitor à deriva ou no território das especulações. É uma viagem cronológica onde os assuntos da Marinha colonial têm peso preponderante.

Falando sobre o contexto das sistemáticas revoltas nativas e a questão da imposição da soberania, João Freire não deixa de sublinhar que na generalidade a máquina administrativa na Guiné era de péssima qualidade, em que os deportados punham as suas competências ao serviço do que o governador lhes quisesse oferecer; a Guiné foi uma colónia “sem colonizadores”, se se referirem portugueses pobres que ali tivessem ido tentar a sua sorte e se tivessem espalhado e fixado em diversas áreas do território. A presença dos brancos limitou-se quase sempre aos comerciantes instalados nas povoações mais antigas e consumidoras. Abreviando, o estado das relações entre portugueses e guineenses por meados do século XIX encontrava-se mais nas mãos de alguns poucos negociantes de que propriamente nas mãos do Estado. Recorde-se que a partir de 1842 a Inglaterra interditou o tráfico e o transporte de escravos nos mares, mas este continuou por mais umas décadas.

Tem interesse em reproduzir a argumentação aduzida pelo autor:  
“A aceitação pelos povos indígenas do comércio de brancos forneciam uma base comum de interesses que aqueles cabo-verdianos lusitanos aproveitaram para arrematar terras e aí plantar, se não a soberania, pelo menos a influência determinante de um arremedo de administração portuguesa. E ela fixou-se simbolicamente através de instrumentos para-diplomáticos talvez mais diversos do que em qualquer outra colonização portuguesa em África. Em lugar dos tratados de vassalagem, habituais em Angola e Moçambique, documentos pelos quais o chefe tribal se comprometia a içar a bandeira portuguesa, deixar cobrar o imposto de palhota, permitir o comércio dos brancos e o seu trânsito de pagamento de portagens, recrutar ‘homens de guerra’ e ‘homens de trabalho’ por troca com uns presentes simbólicos com o rei de Portugal e a manutenção do essencial das suas funções de líder tradicional da sua comunidade, encontramos na Guiné uma maior variedade de termos e de conteúdos destes vínculos de regulação internacional”.

A força do Exército foi sempre escassa e, no essencial, recrutada fora do território. O que não surpreende, havia manifesta relutância em praticamente todas as etnias em deixarem-se disciplinar militarmente, e à cautela os governantes portugueses usavam-nas na manutenção da ordem, contingentes constituídos por soldados africanos expatriados, mestiços cabo-verdianos e até expedicionários vindos da metrópole. As forças da polícia local só surgiram muito tardiamente.

João Freire repertoria as revoltas antes de 1880 e enfatiza o trauma em que depois da rebelião nortenha no Jufunco, em 1878, acarretou o chamado Massacre de Bolor, que levou à separação da Guiné da província de Cabo Verde. Entre 1842 e 1878 ocorreram três grandes levantamentos com operações que envolveram forças expedicionárias. De um modo geral, tudo acabava em soluções de compromisso, de uma enorme precariedade. Passando para o período de 1880 a 1891, refere a intervenção dos primeiros governadores que tiveram de intervir nos Bijagós, junto dos Papéis de Antula, em Buba, no Forreá, este acontecimento levou René Pélissier à consideração de que foi a partir daqui que se deu o arranque real da conquista portuguesa da Guiné; mas também se combateu em Jabadá, por terras dos Fulas-Forros situadas entre os rios Cumbijã e Corubal, etc. O autor não perde a oportunidade para relevar a estreita cooperação entre a Marinha e as tropas no terreno. Regista situações de insubordinação ou descontrolo, detalha os acontecimentos à volta do chamado “desastre de Bissau”, 1891, elenca as intervenções navais estrangeiras. No período entre 1891 até à república, tendo em conta os acontecimentos do Ultimato e as mudanças que abalaram o então Ministério da Marinha Ultramar, toma-se a decisão da “ocupação efetiva” dos territórios coloniais. Logo em 1892, o Capitão Sousa Lage lança-se no concelho de Geba contra os Fulas Pretos do régulo Mali Boiá, e no ano seguinte terá lugar a terceira guerra de Bissau, a paz é sempre precária, há governadores (caso de Júdice Bicker) que vão à frente das tropas (Bicker desembarca em Farim e, entre Março e Maio de 1902) resolve com sucesso a segunda campanha do Oio, na qual ele próprio é ferido e que lhe valeu a medalha de ouro do Valor Militar.

É um longo capítulo em que o leitor acompanha sistematicamente as diferentes campanhas, caso daquelas em que Oliveira Muzanty desenvolveu nas regiões do Cuor e Badora contra os Beafadas sublevados, entre 1907 e 1908. A República deu continuidade a este tipo de campanhas que tiveram o seu ponto mais alto mas que foram desenvolvidas pelo Capitão João Teixeira Pinto que se socorreu de um aventureiro Jalofo, Abdul Indjai, que virá a ser profundamente contestado com régulo do Oio e deportado. Em 1925 terá lugar a nova campanha em Canhabaque, aí dá-se a curiosidade de ter intervindo um avião que veio bombardear vários pontos de concentração dos rebeldes Bijagós. A título de observações conclusivas, João Freire sintetiza as resistências opostas pelas diferentes etnias: na zona costeira entre as embocaduras dos rios Casamansa e Cacheu, pelos Felupes; entre os estuários dos rios Cacheu e Mansoa pelos Manjacos; na ilha de Bissau pelos Papéis, sempre em choque com as autoridades da cidade de S. José de Bissau; no arquipélago dos Bijagós, sobretudo em Canhabaque e nas explorações agrícolas que bordejavam o estuário do Rio Grande (de Buba) onde laboravam Balantas e Beafadas; em profundidade no território, a vila de Geba constituiu durante muito tempo o ponto avançado dos europeus que faziam face a Balantas e Mandingas; mais a Sul, a vila de Buba era simultaneamente o topo da “Guiné agrícola” do Rio Grande e a porta de entrada para o Forreá e mais além para o Boé.

João Freire tece minuciosas considerações sobre esta síntese refere ao detalhe as relações conflituais da governação portuguesa com os povos guineenses, pormenoriza as caraterísticas técnicas das operações militares.

A obra prossegue com o enquadramento da Guiné Portuguesa como província autónoma e dá-nos a moldura da administração colonial republicana, até 1930.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17478: Notas de leitura (969): “A Colonização Portuguesa da Guiné 1880-1960”, por João Freire, 2016, edição da Comissão Cultural da Marinha (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17486: Meu pai, meu velho, meu camarada (57): um roteiro da cidade do Mindelo: parte II [álbum fotográfico de Luís Henriques (1920-2012), natural da Lourinhã, ex-1º cabo inf, nº 188/41 da 3ª Companhia do 1º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria nº 5 [, Caldas da Rainha], que esteve em Cabo Verde, Ilha de São Vicente, entre julho de 1941 e setembro de 1943]


Foto nº 1 > Cabo Verde > S. Vicente > Mindelo > Agosto de 1941 > "Dias depois da nossa chegada. O regresso do banho da linda praia da Matiota". [Luís Henrique está assinaldo na foto, é o primeiro do lado esquerdo, da 3ª fila]



Foto nº 2 > Cabo Verde > S. Vicente > Mindelo > Praia da Matiota > Maio de 1943 > "Matiota e a sua baía que é a melhor de S. Vicente, aonde se passa um bocado divertido".

Foto nº 3 > Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Lazareto  > 1 de dezembro de 1941 > "Parada do Batalhão expedicionário do R. I. nº 5. Ao fundo a linda baía com o seu belo porto de mar". [Na época, o Lazareto ficava fora da malha urbana do Mindelo, embora dentro da baía do Mindelo, tal como a praia da Matiota]


Foto nº 4 > Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 19942 > "Outro funeral da 2ª Companhia do [Batalhão Expedicionário do] RI 5, saindo há pouco da igreja de S. Vicente [, igreja deN. Sra. da Luz]"


Foto nº 5 > Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Maio de 1943 > "O pôr do sol em S. Vicente. O célebre Monte da Cara,,, e o lindo porto de mar que parece adormecido"


Foto nº 56> Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo >  Matiota [? ]  > Julho de 1942> "Todas as manhãs depois do trabalho é o banho a nossa alegria [, apesar dos tubarões...]. Nesta altura pouco sabia nadar." [Luís Henriques, ao centro,  é o terceiro, à frente, a contar da esquerda]


Foto nº 6 > Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Cemitério de Mindelo > 1943 > "Justa homenagem àqueles que dormem o sono eterno na terra fria. Companheiros de expedição os quais Deus chamou ao Juízo Final. Pessoal da A[nti] Aérea depois das cerimónias desfila fazendo continência às sepulturas dos companheiros. Oferecido pelo meu amigo Boaventura [Horta, conterrâneo, da Lourinhã,] no dia 17-8-1943, dia em que fiquei livre da junta (hospitalar)."


Fotos (e legendas): © Luís Henriques (1920-2012) / Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.



1. Fotos do álbum de Luís Henriques (1920-2012), ex-1º Cabo nº 188/41 da 3ª Companhia do 1º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria nº 5 [, Caldas da Rainha]. Esteve 26 meses em Cabo Verde, no Lazareto, na Ilha de São Vicente, entre julho de 1941 e setembro de 43, em missão de soberania; este e outros batalhões (do RI 7, RI 15 e RI 2) , num total de mais de 3300 homens, foram entretanto integrados mais tarde no RI 23]. (*)

[Foto à direita, Luís Henriques > 19 de agosto de 1942 > "No dia em que fiz 22 anos, em S. Vicente, C. Verde. 19/8/1942. Luís Henriques ".]

Estas e outras fotos do álbum de Cabo Verde, de Luís Henriques, foram disponibilizadas ao João B. Serra que está escrever a biografia [e a montar, em Leiria, uma exposição comemorativa do 1º centenário do escritor Manuel Ferreira  (1917-1998)] (**), que também foi expedicionário, em São Vicente na mesma altura, ou seja durante a II Guerra Mundial, com o posto de furriel miliciano, embora pertencesse a outra unidade mobilizadora, o RI 7 (Leiria) (o respetivo batalhão estava aquartelado em Chão de Alecrim).

Outros camaradas nossos, cujos pais estiveram em Cabo Verde (casos  do Hélder Sousa e Augusto Silva Santos, por exemplo),  também já disponibilizaram as fotos dos seus álbuns, para esta nobre missão que é, para além da comemoração da vida e obra de Manuel Ferreira, homenagear os valorosos portugueses e cabo-verdianos desta época. [O blogue Praia de Bote, craiado e editado pelo prof Joaquim Saial, também está a colaborar com o João B. Serra nesta louvável iniciativa].

O nosso blogue faz um "dramático apelo", a filhos, netos, e bisnetos (!), para que os álbuns desta geração, a  dos "nossos pais, nossos velhos e nossos camaradas", não desapareçam pura e simplesmente na voragem do tempo!...

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Guiné 61/74 - P17485: Parabéns a você (1273): Henrique Cerqueira, ex-Fur Mil Inf do BCAÇ 4610/72 (Guiné, 1972/74) e Professor Leopoldo Amado, Amigo Grã-Tabanqueiro natural da Guiné-Bissau


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Nota do editor

Último poste da série de 17 de Junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17479: Parabéns a você (1272): Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas do BART 3872 (Guiné, 1971/73)

domingo, 18 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17484: Tabanca Grande (439): João Cerina, ex-Fur Mil da CCAV 1615/BCAV 1897, passou à disponibilidade em 1972 como Segundo-Sargento Miliciano, vive na Guiné-Bissau e é o 746.º Grã-Tabanqueiro da nossa tertúlia

1. Mensagem do nosso camarada João Correia Cerina, ex-Fur Mil da CCAV 1615/BCAV 1897, Olossato, 1967/68, com data de 4 de Fevereiro de 2017:

Sou João Correia Cerina, ex-furriel miliciano da CCAV 1615 - BCAV 1897 (Olossato) chegado à Guiné em 25.07.1967 (rendição individual).
Após regresso do batalhão a Portugal fiquei em Bissau na Chefia de Intendência.

Por razões de ordem sentimental (falecimento da minha mãe em Janeiro de 1969) continuei no serviço militar até Dezembro de 1972, data em que passei à disponibilidade com o posto de segundo-sargento.

Até á presente data encontro-me na Guiné-Bissau.

Envio algumas fotografias que consegui guardar pois a minha companheira, aquando do 25 de Abril, queimou tudo que eu tinha, fardas militares, fotos etc., com receio de represálias por parte do PAIGC.
João Cerina

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2. Mensagem do co-editor CV enviada ao camarada Cerina em 19 de Fevereiro

Caro camarada e amigo João

Desculpa só agora estar a responder.

Julgo ser tua intenção aderires à tertúlia do nosso Blogue. Para seres apresentado devidamente, precisava que me enviasses uma foto actual. Pode ser?

As tuas fotos estão uma lástima. Vou tentar recuperar minimamente algumas delas, mas outras nem as publicarei. Queria que na 30004, onde estais à mesa com a farda número 2, me dissesses qual deles és tu.

Aquela viatura (foto 239) quase destruída, em que situação ficou assim e em que estrada?

Se puderes acrescentar algo mais ao facto de teres ficado em Bissau, seria bom para satisfazeres a nossa curiosidade. Que fazes (ou fizeste aí) e se tencionas voltar a Portugal.

Ficamos a aguardar ansiosamente as tuas notícias mais pormenorizadas.

Abraço em nome dos editores e da tertúlia do nosso Blogue.

O amigo e camarada
Carlos Vinhal

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3. Mensagem  de João Cerina com data de 5 de Junho de 2017:

- Foto 30004 - eu sou o primeiro à esquerda.

- Foto 239 - a viatura sofreu o impacto do rebentamento (fornilho) à frente do lado directo. O pessoal que seguia em cima do carregamento (géneros) foi projectado havendo a registar um soldado morto por esmagamento (roda da frente do lado esquerdo). Eu seguia na primeira viatura Unimog com a minha secção. A viatura atingida foi a segunda.

A coluna seguia de Bissau para o Olossato, e o rebentamento deu-se a seguir ao aquartelamento de Nhacra, a caminho de Mansoa.

Após falecimento da minha mãe, decidi ficar em Bissau, só passei à disponibilidade em Dezembro de 1972. Em 1973 arranjei colocação na sucursal das Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento, em Bissau, onde trabalhei até Abril 1974 (fui pago até Outubro), data em que procurei novo emprego, tendo começado a trabalhar no Grande Hotel em Bissau, no dia 01 de Novembro de 1974, até 31 de Maio de 1979.

No dia 01 de Junho de 1979 comecei a trabalhar na TAP (Aeroporto) até Maio de 2006 (data em que fui despedido com a invocação de justa causa, acusado dum crime que não cometi, tendo posteriormente ganho a questão em tribunal local e recebido indemnização, que não cobriu os danos morais a que fui sujeito.)

Em principio, não tenciono voltar em Portugal pois nada tenho (nem família próxima, nem bens de qualquer espécie).´

Tinha uma hipótese remota de partilhas em Vila Real de Santo António, de onde sou natural, mas por falta de acordo duma cunhada, tudo foi por água abaixo! Azares da vida!

Abraco para a tertúlia
João Cerina.

P.S.- Não sei se será possível obter contacto do General na Reserva Carlos Azeredo - ex. CMDT da CCAV 1616?!

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4. Comentário do editor

Caríssimo João

Muito obrigado por te juntares a nós, és o primeiro camarada da CCAV 1615 a apresentar-se à tertúlia.

Vê se gostas das fotos, tive que rejeitar duas delas que estavam mesmo em mau estado, o que não admira pela idade delas e por estarem sujeitas a esse clima húmido.

Pelo que nos dizes, és um dos resistentes que ficaram na Guiné-Bissau e apostam em ajudar o país que já é vosso. As tuas raízes aqui serão já ténues, aí terás a tua vida familiar e profissional organizadas pelo que não é de estranhar a tua opção. Com certeza conhecerás imensos portugueses que fizeram da Guiné-Bissau a sua primeira pátria.

Poderás, se quiseres, falar-nos das tuas memórias enquanto militar e da tua actividade enquanto civil, experiências únicas, tanto mais que até prolongaste a tua vida militar até Dezembro de 1972. Acabei por ser teu contemporâneo, já que estive na Guiné entre Abril de 1970 e Março de 1972, 23 meses portanto, dos quais 22 passados em Mansabá, que conhecerás muito bem.

Foste tu e muitos camaradas do teu tempo que fizeram segurança aos trabalhos de asfaltagem do troço final da estrada Mansoa-Mansabá, que mesmo assim não evitou que se continuasse a morrer por ali, principalmente na zona de Mamboncó.

Quanto ao contacto do senhor General Carlos Azeredo, não acho que o devas contactar porque ele está com muita idade e já bastante debilitado. Costumava aparecer aos convívios dos Combatentes do Concelho de Matosinhos, mas há muito declinou os nossos convites. [Tem meia dúzia de referências no nosso blogue; nascido em Marco de Canaveses, vai fazer,  em outubro,  87 anos; não temos o seu contacto].

João, fico ao teu dispor para qualquer esclarecimento. Vai dando notícias e envia-nos material escrito ou outras fotos para publicação. Por falar em fotos, se quiseres acrescentar legendas às agora publicadas manda que eu acrescento. Podes identificar os camaradas, os locais, datas, etc.

Por agora deixo-te o abraço de boas-vindas em meu nome pessoal, dos restantes editores e da tertúlia.
CV
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Nota do editor

Último poste da série de 5 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17432: Tabanca Grande (438): Ernesto Marques, leiriense de Ancião, vive no Cartaxo, foi Soldado TRMS Inf, CCAÇ 3306 / BCAÇ 3833 (Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73)... Novo grã-tabanqueiro n.º 745

Guiné 61/74 - P17483: Blogpoesia (515): "Coro dos pardais"; "Mergulho no passado" e "Não são precisas asas...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728



1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Coro dos pardais

Manhã serena e fresca.
Vou pelo bosque dentro
Como quem atravessa uma numerosa orquestra.

Vibrantes trinados,
De verde coloridos,
Ressoam entre os ramos.
É a festa da alegria e liberdade.

Arrulham as pombas em longas ladainhas.
Gorgolejam os pássaros
Em apressadas correrias.

Enquanto os corvos matreiros,
Devassam o chão
Com bicadas insistentes
E devoram as minhocas,
Uma à uma.

Pela tona do lago,
Deslizam felizes
Os patos esverdeados,
Que grasnam
Chamando suas ninhadas.

No silêncio dos caminhos,
Presos à sua trela,
Passeiam os cães e os donos,
Em ternurenta cumplicidade.

É a hora da paz e da harmonia…
Berlim, 12 de Junho de 2017
7h28m
Jlmg

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Mergulho no passado

Mergulho no passado
Como quem regressa duma viagem
Pela galáxia.

Busco os pós que deixei de mim
Por esses caminhos todos
Onde passei, desde menino.

Talvez reencontre o pó perfumado
Dos meus avós
Que tanto me amaram
E ajudaram a crescer.

O dos meus pais,
Aqueles seres sublimes,
Joaquim e Leonor,
De quem me veio o ser,
Nos anos quarenta.
Quando a guerra dizimava a Europa.

Daqueles serões tão quentes,
Pelas noites frias de Inverno,
Na sua oficina de alfaiate.
Aquele cheiro a giz.
Aqueles riscos certos na fazenda
Que, horas depois, davam um lindo fato feito.

Aqueles pães quentinhos
Que vinham na canastra de minha Mãe,
Desde a padaria longínqua de Margaride,
No dealbar agreste das madrugadas.

Tanta coisa linda que fez o meu passado
Eu queria reencontrar nesta viagem…

Berlim, 13 de Junho de 2017
19h44m
Jlmg

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Nem são precisas asas…

Como um passarinho livre
Passeio cada manhã.
Vou tão leve e tão feliz,
Sorvendo a frescura do ar.
Olhando as folhas lá ao cimo.

Só às vezes vejo um esquilo
Correndo de árvore em árvore,
Sem poisar os pés no chão.

Já conheço, só de ver,
Os companheiros da mesma hora.
Até as pombas, até os melros.
Cada qual no seu afã.
A todos falo de mim para mim.
Mas há um cão branco
Ainda jovem,
Um são bernardo,
Sei lá porquê,
Desata aos pulos quando me vê…

Berlim, 15 de Junho de 2017
8h30m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 11 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17455: Blogpoesia (514): "Ponte do silêncio"; "Sarilhado de fios" e "Leitura das almas", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P17482: (De) Caras (77): Fausto Teixeira, deportado político em 1925, empresário em Bafatá, de quem o 2º tenente Teixeira da Mota, ajudante de campo do governador Sarmento Rodrigues dizia, em 1947, ser um "incansável pioneiro da exploração de madeiras da Guiné"... Mais três contributos para o conhecimento desta figura singular (José Manuel Cancela / Jorge Cabral / Armando Tavares da Silva)


Guiné > Bissau > s/d [.c 1969] > À esquerda, o José Manuel Cancela. O terceiro é o António Teixeira, filho do Fausto Teixeira, que irá depois, em 1971, como furriel miliciano para Angola. "É curioso. O António Teixeira nunca me falou de um sobrinho nascido em Bafatá. Falava-me de um irmão mais velho que vivia em Palmela, tal como ele e o pai, o sr. Fausto".

Foto (e legenda): © José Manuel Cancela (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Bafatá > Fá > Serração mecânica de Fausto Teixeira > 7 de fevereiro de 1947 > Visita do Secretário de Estado das Colónias, eng. Rui Sá Carneiro, e comitiva, no regresso a Bissau, vindo de Bafatá.

Segundo a "nossa leitura", do lado esquerdo, teríamos o eng. Rui Sá Carneiro, o prefeito apostólico José Ribeiro de Magalhães e o governador Sarmento Rodrigues; em segundo plano, rodeado dos seus empregados, parece ser o dono da empresa, observando (e possivelmente dando explicações sobre) o corte de um grande toro de madeira (à direita). O administrador da circunscrição de Bafatá, Carlos Costa, também terá integrado a visita, tal como o 2º ten Teixeira da Mota, ajudante de campo do governador. Não sabemos quem é o autor desta fotos e das restantes que acompanham o extenso e altamente detalhado relatório da "visita ministerial", que é assinado por Teixeira da Mota. Não temos até agora nenhuma foto do empresário Fausto [da Silva] Teixeira,

Fonte: Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, vol II - Número Especial, [Comemorativo do V Centenário da Descoberta da Guiné], 1947, p. 370 . [O número completo está disponível "on line" aqui]

[Imagem digitalizada a partir de cópia pessoal pertencente ao prof Armando Tavares da Silva,  historiador, membro da nossa Tabanca Grande]


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Fá (Mandinga) > 1968 > CART 2339 (1968/69) > O Grupo de combate do Alf Mil Torcato Mendonça (que hoje vive no Fundão e é um dos nossos colaboradores permanentes), antes de a CART 2339 ser colocada em Mansambo, cujo aquartelamento iria construir de raíz. O arriar da bandeira ... 

Tirando as patrulhas ao mato Cão, para montar segurança aos barcos civis que atravessavam o Geba Estreito (Xime-Bambadinca-Bafata), Fá Mandinga era uma "verdadeira colónia de férias", beneficiando de "instalações ótimas"... Já aqui se escreveu, erradamente, que tinha sido uma "antiga estação agronómica por onde passara, nos anos 50, o engº Agrónomo Amílcar Cabral, licenciado pelo ISA - Instituto Superior de Agronomia, de Lisboa"... o que parece ser falso. O engº agrónomo Amílcar Cabral trabalhou e viveu, isso, sim, em Pessubé, perto de Bissau, com a sua esposa e colega portuguesa, Maria Helena Rodrigues.  

Segundo o Torcato Mendonça, as "instalações civis" estavam, na altura, à guarda de um civil, mandinga, o Marinho, que deveria ser pago pela administração [circunscrição de Bafatá ?] (Veja-se a deliciosa história do bode que foi roubado ao Marinho, quando o grupo de combate do alf mil Torcato Mendonça recebeu ordem para deixar Fá...].

Foto: © Torcato Mendonça (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mais 3 contributos para o conhecimento desta história singular, a de um deportado político que se torna um importante empresário na época colonial, exportador de madeiras tropicais:


(i) José Manuel Cancela, natural de (e residente em) Penafiel (ex-sold ap metr pesada, CCAÇ 2382, Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1968/70):

Amigo Luís.
Vou tentar responder às tuas perguntas, a partir do que ainda lembro.
O meu conterrâneo, que também se chamava Teixeira, sem ter traços familiares com o patrão [, o madeireiro Fausto Teixeira],  veio embora após o 25 de Abril. Estava muito revoltado por ter perdido o emprego, e culpava o exército por não ter acabado com a guerra. Enfim!!!

Infelizmente não me pode ajudar no que toca a este tema. Faleceu ainda nos anos oitenta, não tinha cinquenta anos.

Recordo-me que, nos princípios de 71, estava ele de férias, perguntei-lhe pelo António. Disse-me que passou por Bissau, com destino a Angola, como furriel miliciano. Junto uma das minhas fotos, onde estamos juntos, em Bissau, eu e o António.


(ii) Jorge Cabral, ex-alf mil art, Pel Caç Nat 63 (Fá e Missirá, 1969/71] [o segundo, na segunda fila, na foto à esquerda]

Obrigado Luís!
Fá estava dividido, em duas partes, a de cima e a de baixo. Esta foto parece-me ser na parte de baixo.

Como te disse ao telefone, existia um guarda civil, o Marinho do qual tanto eu como o Torcato Mendonça [ex-alf mil, CART 2239, Fá e Mansambo, 1968/69], já falámos. Terá sido contratado, por via do fim da serração? 

Penso que a tropa só lá se instalou, em Fá,  a partir de 1965. Foi sede de Batalhão e de muitas Companhias. Em Julho de 1969 e pela primeira vez, foi entregue a um Pelotão, o meu. 

Era na parte de cima que se encontravam as melhores instalações. Uma casa óptima com vários quartos e duas vivendas, além de mais dois edifícios. Teria tido água canalizada e com certeza um potente gerador, que ocuparia uma casa própria, que o meu soldado Dairo aproveitou para a sua residência. 

Entre Julho de 1969 e Fevereiro de 1970, data da chegada da 1.ª Companhia de Comandos Africanos, as mulheres e os filhos dos meus soldados viveram no Quartel. Não ocupámos nem a parte de baixo, nem a "casa grande" e as duas vivendas. 

Quem pagaria o ordenado do Marinho, que até fazia rondas nocturnas, munido apenas de uma lanterna e que uma vez foi alvejado pelo meu soldado Mamadú que, estando de sentinela, ao ver uma luz,  disparou ?... 

Abraço,   J. Cabral.


(iii) Armando Tavares da Silva, membro da nossa Tabanca Grande, autor de “A Presença Portuguesa na Guiné, História Política e Militar (1878-1926)” (Porto: Caminhos Romanos, 2016, 972 pp.).  

Luís,
O Fausto Teixeira faria parte de um grupo de 26 membros da Legião Vermelha que, a bordo do cruzador Carvalho Araújo,  foram deportados para a Guiné, onde chegaram em Junho de 1925.

A Legião Vermelha era um grupo anarcossindicalista que varreu o país com uma onda de atentados bombistas contra figuras de destaque no campo do comércio, indústria, etc.,  supostamente conservadoras. A 15 de Maio de 1925 atentam contra a vida do comandante da polícia, coronel João Maria Ferreira do Amaral, que fica ferido. É na sequência deste atentado que um grupo destes anarquistas é deportado para a Guiné [entre eles, Gabriel Pedro, pai de Edmundo Pedro]. Era presidente do ministério Victorino Máximo de Carvalho Guimarães.

Foi o mesmo grupo que, em 1937, atenta contra a vida de Salazar.


Gabriel Pedro, pai de Edmundo Pedro, com outros deportados para a Guiné, em 1925, alegados membros da misteriosa "Legião Vermelha". Neste grupo, é provável que conste o Fausto Teixeira. O Gabriel Pedro é o terceiro da segunda fila, a contar da direita.

[Fonte do fotograma:  You Tube > A Legião Vermelha - Portugal 1920/1925]




Excerto do Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, nº especial, dezembro de 1947, pp. 368-370, a partir de cópia pessoal do nosso amigo Armando Tavares da Silva
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Nota do editor:

Vd. poste de 16 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17477: (De) Caras (83): Ainda o madeireiro Fausto da Silva Teixeira, com residência familiar em Palmela, amigo do "tarrafalista" Edmundo Pedro... Apesar da "amizade" com Amílcar Cabral e Luís Cabral, teve um barco, carregado de madeiras, atacado e incendiado no Geba, a caminho de Bissau...