terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18290: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (1): Em Setúbal, o restaurante "Baluarte do Sado", peixinho grelhado, pois claro!...(Hélder Sousa / Luís Graça)


Setúbal > Mercado do Livramento > 3 de fevereiro de 2018 > É uma festa"... Inaugurado em 1930, e construído em estilo "art déco", é um dos ex-libris da cidade... O mercado do peixe, ao sábado, em especial, é uma espectáculo ao vivo!... Em primeiro plano, uma das esculturas de Augusto Cid, a vendedeira de criação (aves e ovos).


Setúbal > Mercado do Livramento > 3 de fevereiro de 2018 >  Um dos painéis de azulejos da entrada principal.


Setúbal > Mercado do Livramento > 3 de fevereiro de 2018 >  Painel de azulejos, da parede do fundo, junto às bancas de peixe. Cenas do mar, do estuário do Sado e dos campos...



Setúbal > Mercado do Livramento > 3 de fevereiro de 2018 >  Percebes do alto mar... Ao sábado os preços inflacionam-se, devido à procura externa... Aqui há de tudo, do camarão de rabo azul à lagosta e ao lavagante, mas o que ainda mais enche o olho é o peixe fresco, dos salmonetes às cabeças de cherne!...



Setúbal > Mercado do Livramento > 3 de fevereiro de 2018 >  Sapateiras  vivinhas da costa...



Setúbal > Mercado do Livramento > 3 de fevereiro de 2018 >  O espadarte...


Setúbal > Mercado do Livramento > 3 de fevereiro de 2018 >  As mangas sem fios... que não são seguramente de Setúbal nem da Guiné...

Foto (e legenda): © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Vamos inaugurar uma nova série: "No céu não há disto...Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande"...

A ideia ocorreu-me há dias, quando me convidaram para ir a Setúbal para um almoço de aniversário... Fazia anos (, vinte e seis, ) o filho de um casal nosso amigo, meu e da Alice. Setúbal é peixe e marisco, pois claro, mesmo que o rapaz seja da geração do "fast food", das batatas fritas e dos hambúrgueres (sic) (assim é que se escreve, em bom português)... 

O rapaz é aquariano, como eu, tem a sorte de não fazer anos no píncaro do verão, altura em que eu fujo da ponte 25 de Abril, da Caparica, de Setúbal, da canícula e de tudo o que aponta para o sul, o sal, o sol... (A2, A12...). 

Foi no sábado passado, não era de prever uma enchente, mesmo com sol de inverno,  mas, pelo sim, pelo não, era conveniente reservar mesa para sete. Em que restaurante, Zé António ? Os meus amigos ainda estavam em Lisboa, quando eu e a Alice chegávamos à terra do Bocage. Pois que escolham à vontade, queremos é peixinho do bom, a saber a mar, e não a aquário... 

Os meus amigos acabavam de me passar a bola, e eu não os queria dececionar. Ainda por cima gente da Costa Nova... Falo do Zé António Paradela, meu amigo, meu "mano" e nosso grã-tabanqueiro. Mas eu não tinha sequer feito o trabalho de casa, o TPC, como costumo fazer antes de ir almoçar ou jantar fora: ver na Net os sítios mais convenientes para se comer, as comidinhas, a relação preço/qualidade, o que fazer depois do almoço, os percursos, etc. 

E para mais não tinha trazido comigo o meu PC!...  Não gosto de fazer consultas à Net através do telemóvel... Sou um tosco com o telemóvel... detesto o telemóvel... Bem, a solução, ali à mão de semear, era chatear o meu amigo, camarada e ilustre régulo da Tabanca de Setúbal, o Hélder Sousa...

Por azar, não tinha o número dele no meu telemóvel, tinha havido,  há uns tempos atrás,  uma troca de cartões entre mim e a Alice. Eu fiquei com a lista dela, e ela com a minha!... O telélé da Alice tinha, felizmente,  na lista o número do Hélder... Fizemos então uma chamada, ainda  dentro do carro... E nada, silêncio do outro lado da linha. Às 11 e picos já são horas de estar de pé, para mais em terra de gente laboriosa, mesmo ao sábado que é o dia de descanso do Senhor... Podia, o senhor engenheiro estar a tomar o seu duche de sábado de manhã... Ter ido ao SPA... Estar a dar formação... Ir à missa era menos provável... Bem, volta a ligar-se dentro de minutos...

E desta vez ele atendeu mesmo,  mas com a voz baixa: eh!, pá, estou em Lisboa, num reunião da secção regional sul da Ordem dos Engenheiros Técnicos...Já me esquecia que ele pertencia a uma lista candidata aos órgãos sociais da sua Ordem... Eh!, pá desculpa lá, não estou a reconhecer este número!... Como já estou meio surdo, gritei-lhe: é o número da Alice, do Luís Graça, da Tabanca Grande, desculpa tu o mau jeito... Tá-se mesmo a ver que o nosso camarada Hélder estava longe de me imaginar, a mim e à Alice,  por aquelas bandas e àquela hora...

E lá fomos trocando uns mimos, até eu chegar à questão central: onde é que se come à maneira na tua terra ?...E onde é que tu e a Alice estão? Eh,pá, aqui parados, estacionados, por detrás do mercado do Livramento e do Pingo Doce...Não precisas de ir mais longe, tens já aí o "Baluarte do Sado"... Peixinho  fresco, grelhadinhos, sardinha assada no verão...Boa relação qualidade / preço... Pronto, não digas mais, não te maces, vou já lá marcar uma mesa para a 1 da tarde, redonda, 7 pessoas... E desculpa lá qualquer coisinha... Talvez a gente ainda se veja logo à tarde, quando regressar de Lisboa... Obrigado, mas não precisas, estou numa festa de anos, fica para a próxima...

Como havia tempo de sobra, fomos visitar o mercado do Livramento que é um regalo para os cinco sentidos... É um dos pontos obrigatórias de qualquer visita a Setúbal, exceto à segunda feira que está fechado, como todos os mercados tradicionais...De preferência, venham ao sábado, e cedo... Ao meio dia já começam a desmontar a tenda, os vendedores de peixe, feito o negócio...

Fui ver as bancas do peixe e marisco, fotografei os azulejos todos, apreciei o vaivém de gente que entra e sai, procurei não perder pitada da "idiossincrasia" dos/as setubalenses que ali ganham a vida...Mas, ó querida, essas mangas sem fios não serão transgénicas ?... Ó cavalheiro, vê-se mesmo que é turista!... Não me venha cá estragar o negócio!... Qual transgénicas, qual carapuça, chupe-me aqui este mel... e deu-me um bocado de manga sem fios na ponta de um palito...Enfim, gente autêntica, que tem sempre a resposta pronta na ponta da língua, afiada, com todos os ss e rr... E diz a filha ao lado: Ainda tenho muito que aprender com a minha mãe...(que a punha a filha a um canto, medida de alto a baixo...).

Mas vamos ao almocinho, que já são horas, depois de algumas comprinhas feitas... O que é vamos pedir ? Para entrada uns camarões à guilho (num molhinho com pão frito) e depois uma cataplana de peixe para 3 pessoas, um sargo grelhado para mim e uma posta de cherne também grelhadinha para a Alice, que está meio adoentada... E para os nossos jovens (o aniversariante e um amigo), o costume, umas "febras" de porco com arroz e batatas fritas e uma saladinha... No fim, temos um bolinho de anos, que é para cantar os parabéns a você, que o rapaz faz 26 primaveras e é do Benfica...

Ó queridos, mas a gente aqui faz tudo na hora!... Podiam ter pedido a cataplana na altura em que reservaram a mesa,,, É coisa para demorar 40 a 45 minutos... Venha a cataplana, até lá, vamos petiscando. E, oiça, mande-nos um "Terras do Pó", branco, fresquinho, da Ermelinda Freitas, que é cá da terra, isto é, da península...

E pronto, a cataplana chegou "just in time", eu e a Alice fomos para os grelhadinhos... A banca de peixe do restaurante é um regalo para a vista, variada e colorida, como não se vê em muitos restauarantes XPTO do "Boa Coma e Boa Mesa" do Expresso, rapaziada que come com garfo e faca, nunca lhe passou seguramemte  pelos dentes a "bianda" da Guiné nem conheceu os "petiscos" dos nossos "vagomestres"... 

O serviço é simpatiquíssimo e eficiente, a casa estava cheia (2 salas, uma delas para fumadores), o ambiente é familiar,  ruidoso como convém, onde há povo, onde há "tugas"... As moças andam todas numa fona, mas a cozinha despacha bem e depressa... Nada de requintes, as próprias instalações têm o ar típico de muitos restaurantes à beira mar, de "design" popular(ucho)... O peixe do dia anda na casa dos 40 euros /quilo (com exceção do cherne que ontem estava no "super" do Corte Inglês a 60 e tal, e chega aos restaurantes dos ricos a centos e tais...).

Não sei quanto é que o meu amigo Paradela pagou mas não deve a extravagância do rebento aniversariante ter ultrapassado os 20 euros por cabeça, sem sobremesa... ( A sobremesa foi o bolo de anos, revestido com o emblema do Benfica, coitada da Helena, que nos serviu, e que é ferrenha do Setúbal, nunca lhe tinha acontecido fazer um frete daqueles, atravessar a sala com a "águia nas mãos"!...O que uma mulher faz para ganhar a vida!).

O "Baluarte do Sado" (com cerca de duas dezenas de anos de existência)  está provado e aprovado, camarada e amigo Hélder, engenheiro de energia e sistemas de potência, cistagano de nascimento, transtagano por casamento...  Sei que não há conflito de interesses, gostas de lá ir e recomendas aos teus amigos, com o único senão do verão, em que o povo faz bicha à porta do "Baluarte do Sado"...

Para os nossos leitores aqui ficam as coordenadas do "Baluarte do Sado":

O que se recomenda: cataplana de peixe / caldeiradas, choco frito, peixe grelhado (, afinal, a comida mais primitiva do mundo, mas o "grelhar peixe"  tem os seus segredos...);
Horário: das 10h00 às 17h00 (isto quer dizer, que não há jantares!);
Localização: Praça da República, 1, Setúbal 2900-587, Portugal;
Parque de estacionamento: público;
Multibanco: tem;
Telefone +351 265 238 780;
Tem página no Facebook.

PS - Uma chamada de atenção para o incauto turista que vem do Norte:  o "choco frito" é uma das especialidades da terra, mas o choco que aqui se frita e come não é de cá, é da... África do Sul e de Marrocos... Duro que nem cornos, servido em pedaços industriais... No "Baluarte do Sado" não sei como é... Prefiro o "choquinho frito" do meu amigo Vitor, do Peraltabar, na praia da Peralta, Lourinhã (108 km a norte), a quem, de resto,  já dediquei em tempos uns versinhos (*)... Mas nisto de comes & bebes, as paixões não se discutem: eu detesto peixe cru, outros lambem-se por lampreia, outros ainda dão a volta ao bilhar grande só para comer peixe seco... Os fãs do "Choco Frito" de Setúbal também direito à mesa... Logo, nossos companheiros e confrades são, que no céu não há disto... (dizem que há outras "iguarias", eu não sei, afinal nunca ninguém lá foi e voltou)...


2. Quanto aos nossos "vagomestres", aqui chamados à colação... Deixem-me recordá-los: tínhamos com eles uma relação de amor & ódio... 

Dar de comer a milhares e milhares de homens em guerra, no TO da Guiné, entre 1961 e 1974, não era tarefa fácil... Eram escassos os frescos, a carne era um luxo, e o peixe... resumia-se ao bacalhau, seco e feio, que nos chegava, de vez em quando, pela Intendência... Não havia câmaras frigoríficas, só coisas em lata e pó...

Em suma, passava-se fome na Guiné, nos nossos aquartelamentos e destacamentos, já não falo nas tabancas em autodefesa para onde éramos mandados às vezes, uma secção ou duas para reforçar o seu dispositivo de defesa... Os nossos soldados raparam fome, os graduados, esses, tinham um pouco mais de privilégios e de alternativas

Coitados dos nossos "vagomestres", entalados entre o "nosso primeiro" que era uma espécie de ministro das finanças da  companhia, e o batalhão de intendência que, de Bissau, nos fazia chegar os víveres, da cerveja ao chispe de porco, das batatas (um luxo!) às salsichas, da farinha para cozer o pão à massa, dos grelos em pó às conservas... 

A indústria conserveira deve ter ganho rios de dinheiro com a p... da guerra. Além dos mixordeiros do vinho a martelo que nos impingiram muito falso vinho verde... gaseificado à pressão, e vendido a peso de ouro!

Ainda me interrogo: como é que a minha/nossa geração suportou aquela maldita guerra ?!

Coitados dos nossos "vagomestres", obrigados a dar-nos massa com "estilhaços de frango", ou, invariavelmente arroz com filetes de cavala ou ainda arroz com salsichas... Hoje, voltei a comer conservas, sobretudo das boas, das nossas, mas durante anos e anos a fio não podia sequer suportar o seu cheiro... Conservas, salsichas, macarrão, chispe de porco... Como foi possível fazer uma guerra com a "barriga a dar horas" ?... 

No mato, em operações, muitos de nós estavam dois ou mais dias sem comer, porque eram incapazes de tragar as horríveis rações que nos davam... Eu pessoalmente nem sequer as levava para o mato!... Levei uma vez: ia ficando louco com a sede, provocada pelos "enlatados" e os "açucarados" (marmelada, fruta cristalizada)... Nunca mais quis a m... da ração de combate. 

Alguém fez fortuna com as rações de combate, intragáveis, que nos impingiam no TO da Guiné!... E nunca houve "levantamento de rancho" contra as malditas rações... O povo era manso...e tinha boa boca!

Claro que havia dias de festa!... Claro que havia dias em que se tirava a barriga de misérias!... Quando se arranjava um cabritinho ou um leitão, ou uns quilos de camarão ou lagostim do rio Geba...Ou quando o pai do Tony Levezinho lhe mandava, pelo barco da Sacor, a sua encomendida, em geral "bacalhau do especial" da Terra Nova...

É por estas e por outras que a gente tem o direito de, nesta caserna virtual,  mandar uns "bitaites" bem humorados e desabafar, sem risco de ser acusado de blasfémia: "Come, camarada, que no céu não há disto"...

Esperamos doravante que haja mais gente ("vagomestres da Tabanca Grande")  a ajudar a escrever roteiro gastronómico do país & arredores, respondendo ao nosso desafio: "diz-me lá, camarada, onde é que se come bem... e barato, na tua terra ?!"... De Ponta de Lima a Bissau, de Olhão ao Mindelo, todas as sugestões dos nossos "vagomestres", serão bem vindas... De resto, em matéria de comes & bebes, o "império" continua de pé, do Minho a Timor, o mesmo é dizer, o "império à mesa", da cachupa ao arroz de lampreia, das ameijoas à Bulhão Pato ao chabéu de galinha...

PS - A expressão "coma, que no céu não há disto", usava-a eu, muitas vezes, com o meu pai, mesmo na fase terminal da sua doença (,morreu de cancro no estômago, perto dos 92 anos)... A maior alegria, nessa altura, em que ele estava já num lar (entre 2008 e 2012), era levá-lo a almoçar fora, ao sábado (, peixinho, pois claro!, nunca vi aquele homem a comer um bife!), e depois beber um café e um cheirinho à beira mar... onde íamos os dois "lavar a vista"... 

Que saudades, meu pai, meu velho, meu camarada!...

3. Mais restaurantes em Setúbal

No "cartanito" que me deram, verifiquei que há mais dois restaurantes, do mesmo grupo, proprietário ou gerência... Tomem boa nota:

Baluarte da Avenida - Peixe grelhado | Av Luisa Todi 524, 2900-456 Setúbal | telef  265 573 470

Estuário do Sado - Choco frito e caldeiradas | R Guilherme Gomes Fernandes, 47 , 290-395 Setúbal | telef  265 573 068 (Aberto todos os dias da semana).
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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 3 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13459: Manuscrito(s) (Luís Graça) (38): Que viva la (mo)vida... e o choco frito do Bar da Peralta!

Guiné 61/74 - P18289: Parabéns a você (1387): Ana Duarte, Amiga Grã-Tabanqueira; Fernando Franco, ex-1.º Cabo Caixeiro do PINT 9288; Hugo Moura Ferreira, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 1621 (Guiné, 1966/68) e José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70)




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Nota do editor

Último poste da série de 4 de Fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18282: Parabéns a você (1386): Cap Inf Ref José Belo, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70) e Mário Silva Bravo, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 6 (Guiné, 1971/72)

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18288: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (48): pedido de ajuda aos antigos antigos e atuais moradores de Lisboa: quem se lembra dos prédios dos nºs 36 da Rua de Santa Marta, e 50 da Rua Rodrigo da Fonseca, as duas últimas morada da "mindjer grandi" Maria Graça de Pina (Ludmila A. Ferreira, Cabo Verde)

1. Mensagem da nossa já conhecida leitora Ludmila A. Ferreira, que vive em Cabo Verde, filha de mãe cabo-verdiana e pai guineense, e que anda em busca de informações sobre o passado da "mindjer grandi" Maria da Graça de Pina [Monteiro]  (*)

Data: 15 de janeiro de 2018 às 18:16

Assunto: Pedido de ajuda aos antigos antigos e atuais moradores de Lisboa

Maria Graça de Pina (n. 1900)
Caros Amigos

A minha questão vai para os antigos moradores de Lisboa e não só.

Depois de uma longa pesquisa consegui encontrar dois endereço em Lisboa onde, segundo a Torre do Tombo, foram a ultima morada da Maria Graça de Pina e um familiar e gostaria de saber se alguém conhecia essas ruas em 1976 e que tipo de habitação estavam nesses endereços.

Tudo que consegui foi que na rua Santa Marta nº 56 seria  o convento Santa Joana.

Rua Rodrigo da Fonseca nº 50 (hoje segundo a minha pesquisa no Google esta lá um hotel).

Rua da Santa Marta nº 56 (Convento Santa Joana?).

Agradeceria qualquer informação.

Mantenhas,
Ludmila Ferreira


2. Nota do editor Luís Graça:
Palácio dos Condes de Redondo. Foto: cortesia de SIPA 

O atual nº 56 da Rua de Santa Marta corresponde hoje à UAL - Universidade Autónoma de Lisboa.  Esta universidade privada, a mais antiga do país, foi criada em 1985. Está instalada, a sede, no antigo Palácio dos Condes do Redondo (e não convento de Santa Joana...).

É um edifício do séc. XVII, de resto classificado, desde 1974, como imóvel de interesse público. É possível que em 1976 estivesse ocupado por pessoas que tenham vindo das antigas colónias portuguesas (os "retornados"). Não tenho informação precisa a esse respeito... O palácio tem acessos através da Rua de Santa Marta e da Rua do Conde Redondo.

Sobreviveu ao terramoto de 1755 e em meados do séc. XX, "sendo proprietária a condessa de Arnoso, o palácio chegou a albergar instituições de assistência social, 2 escolas primárias e vários estabelecimentos comerciais, além de funcionar como habitação para famílias pobres". (Fonte:  SIPA - Sistema de Informação para o Património Arquitetónico)

Quanto à Rua Rodrigo da Fonseca, nº 50, não tenho nenhuma pista. Posso só confirmar que nos nºs 44-50 está lá o Hotel Clarion Suites Lisboa. Pode ser que algum dos nossos leitores possam ajudar a nossa leitora e amiga Ludmila Ferreira. Infelizmente o "camartelo camarário" mal dá tempo para se escrever a história das ruas das nossas cidades... Talvez pesquisando em imagens da "Lisboa antiga", se consiga obter mais informação sobre este nº (50) da Rua Rodrigo da Fonseca de há 40 anos atrás... Ponha como hipótese que esse bloco da Rua Rodrigo da Fonseca estivesse já degradado em 1976 e fosse ocupado por famílias pobres. Sabemos que nessa rua ocorreu, em 16 de março de 1973,  um explosão de uma bomba, numa dependência do exército, como protesto contra a guerra colonial...

Matenhas.
Luís Graça
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Nota do editor:

(*) Vd. postes de:

11 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17755: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (46): A "mindjer grandi" Maria da Graça de Pina Monteiro, nascida em 1900, e que viveu em Bissau e em Bafatá (Ludmila Ferreira, Cabo Verde)

13 de setembro de 2017 >  Guiné 61/74 - P17764: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (47): A "mindjer grandi" Maria da Graça de Pina Monteiro, nascida em 1900, e que viveu em Bissau e em Bafatá... Notícias de Edmond Malaval, empregado da "Maison Garnier", em Bafatá, c. 1918, e de sua filha Ana Malaval (Ludmila Ferreira, Cabo Verde)

uiné 61/74 - P18287: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XIV: o dia em que eu queria ir de motorizada, de Bissau a Mansoa... e a Mansabá!



Foto nº 3 A > Guiné 61/74  > Região de Bissau > Bissau >  CCS/BCAÇ 1933 ( Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > O alf mil SAM Virgílio Teixeira,  de motorizada às portas de Bissau, na estrada para o aeroporo de Bissalanca


Foto nº 3 > Guiné 61/74  > Região de Bissau > Bissau >  CCS/BCAÇ 1933 ( Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > O alf mil SAM Virgíluio Teixeira,  de motorizada às portas de Bissau, na estrada para o aeroporo de Bissalanca


Foto nº 1 A > Guiné 61/74  > Região de Bissau >  CCS/BCAÇ 1933 ( Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > 11 de março de 1968 > Safim > O alf mil SAM Virgílio Teixeira de motorizada, em Safim, a caminmho de Nhracra e Mansoa.


Foto nº 1  > Guiné 61/74  > Região de Bissau >  CCS/BCAÇ 1933 ( Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > 11 de março de 1968 > Safim >  O alf mil SAM Virgílio Teixeira de motorizada, em Safim, a caminmho de Nhracra e Mansoa.



 Foto nº 2 A   > Guiné 61/74  > Região de Bissau >  CCS/BCAÇ 1933 ( Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > 11 de março de 1968 > Safim > O alf mil SAM Virgílio Teixeira, na esplanada.


Foto nº 2  > Guiné 61/74  > Região de Bissau > CCS/BCAÇ 1933 ( Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > 11 de março de 1968 > Safim > O alf mil SAM Virgílio Teixeira na esplanada.


 Foto nº 21  > Guiné 61/74  > Região de Bissau > CCS/BCAÇ 1933 ( Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > 11 de março de 1968 > O alf mil SAM Virgílio Teixeira de motorizada, em Safim, a caminho de Nhacra.


Foto nº 21 A  > Guiné 61/74  > Região de Bissau > Bissau >  CCS/BCAÇ 1933 ( Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > 11 de março de 1968 > O alf mil SAM Virgílio, Teixeira de motorizada, em Safim, a caminmho de Nhacra.


 Foto nº 4  > Guiné 61/74  > Região de Bissau > CCS/BCAÇ 1933 ( Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > 11 de março de 1968 >  Safim > O alf mil SAM Virgílio, Teixeira de motorizada,  na estrada de Safim-Nhacra-Bula.



Foto nº 4A>  > Guiné 61/74  > Região de Bissau > CCS/BCAÇ 1933 ( Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > 11 de março de 1968 > Safim > O alf mil SAM Virgílio, Teixeira de motorizada,  na estrada de Nhacra-Bula. Placas à esquerda indicando: (i) Bula; e (ii) Poto João Landim.

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Carta geral da província (1961) > Escala 1/500 mil > Bissau e povoaçõs a norte: Safim, Landinm, Bula; Nhacra, Mansoa, Mansabá...

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2018)



I. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69), e que vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado [, foto atual à direita].


Mensagem de 29 de janeiro último:

Caros amigos Luís Graça e Carlos Vinhal:

Agora lembrei-me, após ver que vocês andaram por Mansabá {, io Carlos Vinhal,] e Bambadinca ], o Luís Graça,] , e aproveitando este dia de sol, fui pesquisar nas muitas fotos que tenho já digitalizadas, mas faltam a maioria delas ainda. Saquei algumas das viagens que queria fazer até Mansoa e Mansabá, que são estas o objectivo destes postes, e vou enviar já algumas, para recordar essas datas.

Vou ver se consigo ainda enviar as viagens, ou seja, 'os cruzeiros azuis do Douro' , uma no Rio Geba acima em 4 de outubro de 1967 quando fomos para Nova Lamego e fizemos o transbordo dos barcos para os camiões da coluna militar que nos levou até ao destino, depois tenho outras em 26 de fevereiro de 1968 no regresso e pelos mesmos caminhos, e mais tarde, finais de março de 68, Rio Cacheu acima até São Domingos. Foram também o meu Baptismo de andar de barco fluvial, depois nunca mais parei.

Vai junto a este email uma descrição sintética, e algumas fotos, falta a maioria que a seu tempo enviarei para publicação.

Um abraço,

Ab,

Virgilio


Guiné > Região do Òio > Mansoa > 1968 > CCAÇ 2405 (1968/70) > O Alf Mil Inf Paulo Raposo, membro sénior da nossa Tabanca Grande, junto à placa toponímica que indicava as localidades mais próximas: para oeste e sudoeste, Encheia (a 18 km), Nhacra (a 28 km), Bissau (a 49 km)...; para leste sudeste e nordeste:  Porto Gole ( a 28 km), Enxalé (a 50 km), Bambadinca (a 65 km), Bafatá (a 93 km)...

Foto (e legenda): © Paulo Raposo (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


II. Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira >  O dia em que queria ir a Mansoa e Mansabá de motorizada

Anotações:

Um dia de Domingo estava em Bissau, e como muitas vezes fazia era ir até Safim, havia lá uma esplanada que servia bom camarão e ostras, depois seguia para Nhacra para ir até à Piscina, tinha lá uma Companhia de Cavalaria, não me lembro o número.

Umas vezes ia acompanhado na mesma motorizada, outras vezes fomos dois, cada um na sua motorizada, ambas minhas, mas em geral ia sozinho, quando não havia mais ninguém.

Assim foi um dia, talvez em 11-03-68, tinha uma obsessão por Mansoa e Mansaba, então vou feito tolo sozinho, depósito cheio, na minha motorizada, ou Honda ou Peugeot, ambas só de dar gás, não havia mudanças.

Saia de Bissau, em direcção a Bissalanca, depois continuava até Safim, ainda se viam alguns veículos civis ou militares, mas poucos, a estrada era asfaltada, mas só Tabanca de um lado e de outro. Após o petisco em Safim, lá fui em direcção a Nhacra, dei uns saltos, tenho imensas fotos destas aventuras, mas estão no lote de mais umas 500 fotos a digitalizar, mais tarde faço essa reportagem, depois de as numerar e legendar, para já tenho apenas estas disponíveis.

Mas como devia estar com níveis alcoólicos elevados, resolvi que tinha de ir até Mansoa, o meu objectivo era Mansaba, tinha isso na mente, era o nome que me chamava a atenção.

Meti-me à estrada até à Ponte sobre o Rio Mansoa, João Landim salvo erro. Para passar na jangada, porque a ponte estava inoperacional, tive de dizer à tropa para onde ia, quem era e o que ia fazer. Expliquei-lhes, estava à civil e sem documentação, não valeu nada explicar, porque me mandaram para trás, dali para a frente só com segurança ou em coluna militar.

Ainda tentei mais tarde, mas só após voltar a ver as fotos vou saber ao certo, por agora não me lembro, e não vou inventar.

Mas nunca cheguei até Mansabá, nem Mansoa, fiquei perto, porque fui interceptado na estrada e mandado regressar a Bissau.

Diziam,  e com razão, que eu devia estar pirado da cabeça.

As fotos, poucas, não dizem muito. Umas em Safim, outras em Nhacra e outra em Bissau.

Virgílio Teixeira

Em, 29-01-2018

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Guiné 61/74 - P18286: Notas de leitura (1038): “Modelo Político Unificador, Novo Paradigma de Governação na Guiné-Bissau”, por Livonildo Francisco Mendes; Chiado Editora, 2015 (3) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Janeiro de 2018:

Queridos amigos,
Não duvido que todos os acontecimentos inerentes à luta armada e as décadas de vida atribulada da República da Guiné-Bissau suscitem forte atração para os estudos da ciência política. O Dr. Livonildo tem sobejas reticências sobre a prática do Partido-Estado, o PAIGC, imputa-lhe graves responsabilidades nos desastres do país. Reflete sobre a liderança que ocorreu desde a luta armada, passando pelo afastamento dos cabo-verdianos, passando pelo período cesarista de Nino Vieira que uniu o que Amílcar Cabral separara, a subordinação do poder militar ao poder político passou, depois do golpe de Estado de 14 de Novembro de 1980 por um longo ciclo de equívocos, ainda não completamente dissipados depois das eleições de 2014.
Não se pode dizer que o autor não investigou, resta deixar para último texto o que ele nos vai propor como novo paradigma de governação na Guiné-Bissau. Desconfio que poucos considerarão úteis tais propostas, do modo como ele as formula.

Um abraço do
Mário


Uma proposta para novo modelo de governação na Guiné-Bissau (3)

Beja Santos

A obra intitula-se “Modelo Político Unificador, Novo Paradigma de Governação na Guiné-Bissau”, por Livonildo Francisco Mendes, Chiado Editora, 2015. O autor concluiu a licenciatura e o mestrado em Sociologia pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e em 2014 terminou o doutoramento em Ciência Política, Cidadania e Relações Internacionais pela Universidade Lusófona do Porto. A dissertação e a tese serviram de base a este livro, que é prefaciado por António José Fernandes, professor catedrático de Ciência Política.

O autor tenta interpretar a crise de liderança em que vive permanentemente a Guiné-Bissau, analisa o conceito de Estado falhado, e dá a palavra ao investigador guineense Kafft Kosta, doutor pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, a ele se deverá uma teoria jurídico-política que pode ser designada ideologicamente por kafftianismo. O que é? Advoga que não são ignorados os riscos de instabilidade política e social. Este potencial risco deverá ser tido em conta na construção do sistema, a tradição política profunda e estruturada do povo é fundamental para que o Estado goze de governabilidade. E afirma que a proposta de Kafft Kosta é uma das mais inovadoras que surgiu nos últimos tempos em relação à reforma das estruturas sociais, culturais, económicas, políticas e militares da Guiné-Bissau. Kafft Kosta defende a criação de uma instituição, uma espécie de segunda câmara parlamentar composta pelos antigos Presidentes da República e pelas autoridades indígenas que teria um número reduzido de membros na sua composição. Em caso de crise, esta “segunda câmara” poderia fundar-se com a Assembleia Nacional. Kafft Kosta estudara o poder no “Chão Manjaco”, uma sociedade estratificada de acordo com os estatutos profissionais de cada família, tem castas e classes. Para este autor, o caminho preferencial passa por desdramatizar a realidade étnica, aceitando-a frontalmente, é necessário um equilíbrio inteligente entre o poder e a etnicidade. Ao que parece os políticos guineenses ficaram profundamente céticos face a estas propostas, não houve consenso para a criação de uma segunda câmara, o doutor Livonildo pretende fazer um ponto de situação:
“A proposta kafftiana tem um acolhimento sintonizado entre um certo Setor Intelectual Português Europeu (SIPE) e uma parte da Classe Intelectual Guineense Africana (CIGA). É pena que não nos explique quem é este setor e quem é esta classe intelectual. O SIPE persiste em tentar convencer a CIGA de que o regime político democrático não é um regime típico para a Guiné-Bissau, com os seus muitos grupos étnicos. Para este SIPE, o conveniente seria que esta SIGA optasse por um modelo de enquadramento de régulos/chefes tradicionais que correspondesse à sua realidade, em que a diáspora guineense constituiria um campo de recrutamento importante. O SIPE defende que as sucessivas lutas, por vezes violentas, entre lideranças políticas demonstra também a inadaptação da aplicação do modelo político ocidentalizado a uma realidade cultural muito específica”.
A CIGA estará premiável ao modelo kafftiano. Para que o cenário fique ainda mais complexo, entrou em cena com outras propostas, como as de Julião Soares Sousa e a de Alfredo Handem, são ouvidos vários régulos, desvela-se a política do Botswana e estabelecem-se as diferenças com a Guiné-Bissau.

O Dr. Livonildo teima em chamar a Cacheu a primeira capital da Guiné Portuguesa, um dia terá a bondade de nos explicar como desencantou este facto que toda a historiografia até agora desconhecia. Indo de conjetura em conjetura, ocorre-lhe dizer o seguinte:  
“Se alguns indivíduos guineenses que usufruíram da socialização europeia e que tenham mais habilitações podem encontrar no cenário da ressurreição étnica/tribal uma oportunidade para se assumir como elementos-chave dos órgãos do Poder, tal como acontecia com os cabo-verdianos residentes na Guiné-Bissau nas épocas anteriores à independência nacional, então este fenómeno legitimaria na Guiné-Bissau o velho sonho de Portugal antes das independências que consistia em conceder as antigas colónias aos mestiços de portugueses que serviriam de representantes dos interesses de Portugal”.
Toda esta deambulação serve para quê? Para que o autor venha provar com o seu novo modelo de governação que é possível estabilizar e desenvolver a Guiné-Bissau com a inclusão dos aspetos positivos das diferentes tradições que compõem a Babel guineense.

E muito antes que o modelo venha à tona, é-nos contada a história da democracia da Guiné-Bissau, com o concurso da ciência política, como se chega ao Estado, o território, o aparelho do poder, as categorias de Estados modernos, os Estados federais e as respetivas teorias, o Estado unitário, centralizado e descentralizado, a função legislativa, o que distingue o regime do sistema político, são referidas as grandes revoluções dos séculos XVI e XVIII, fala-se de John Locke, Montesquieu, Jean-Jacques Rousseau, Alexis de Tocqueville, diz-se mais adiante que muitos dos países africanos deram provas de terem democracias saudáveis e com reformas surpreendentes, caso do Senegal, Cabo Verde e Botswana.

Após tão culta deambulação é feita a pergunta: qual é o sistema político do governo guineense? Então fala-se dos sistemas políticos do governo, como funcionam os parlamentos, se existe só uma ou duas câmaras, se há câmaras altas, se os senadores são eleitos por sufrágio direto ou indireto, o que são sistemas legislativos unicamerais, como funciona o sistema presidencialista, de novo é interpelado o Kafft Kosta que terá disto que todas as violações das leis da Guiné-Bissau incitaram-no a fazer a seguinte pergunta: por que não a opção clara por um sistema presidencialista? Segue-se uma prolonga viagem sobre benefícios e desvantagens do presidencialismo e semipresidencialismo, vem à baila referir o sistema político português, que terá servido de referência para o modelo constitucional guineense.

Entende o autor, de seguida, questionar quais são os principais sistemas de partidos políticos que existem do ponto de vista da ciência política, fala das respetivas classificações, são citados inúmeros especialistas, descrita a história da abertura democrática na Guiné-Bissau, que ocorreu em 1991, a Carta dos 121, quando surgiram os partidos políticos que vieram concorrer com o PAIGC, sempre aqui tratado como o Partido-Estado. A essas 40 forças política partidárias o Dr. Livonildo chama partidos-clones, fabricados pelo PAIGC, na sua esmagadora maioria os políticos eram provenientes do PAIGC. E ficamos a saber mais:  
“Estes indivíduos têm como objetivo principal a execução de sabotagens e fornecimento de informações, acabando, na melhor das hipóteses por funcionar como cláusula-travão para a não existência de uma verdadeira oposição política na Guiné-Bissau. O facto de existirem mais de 40 partidos políticos num cenário em que o PAIGC se torna imprescindível à governação, num país com mais de 30 grupos étnicos e 100 subgrupos étnicos, leva-nos a admitir a existência de um fenómeno do tipo de multipartidarismo de partido dominante na Guiné-Bissau".
Segue-se a análise dos contenciosos eleitorais, devido à natureza dos sufrágios que a constituição dispõe, casos de primeira e segunda volta, reflete-se sobre o defeito da representação proporcional segundo o método de Hondt, o que é voto sincero e voto estratégico, e para além dos grupos políticos os parapolíticos, e tece as seguintes considerações:
“Face ao contexto político da Guiné-Bissau, os grupos de pressão/interesse e os grupos parapolíticos funcionam quase da mesma maneira. Isto porque a política é o principal canal de sobrevivência para a esmagadora maioria dos guineenses. Existem muitos partidos políticos que têm características típicas de atuações dos grupos de pressão. Tudo porque há um Partido-Estado cujo monopólio político faz com que todos os guineenses sejam do PAIGC. É por estas razões que não se pode, do ponto de vista da ciência política, falar verdadeiramente da sociedade civil, da imparcialidade, da independência de muitos intelectuais guineenses, devido à falta de honestidade naquilo que eles transparecem”.
E para remate destas centenas de páginas sobre a história, a guerra colonial, a caracterização política e social da Guiné, a liderança e a tradição, profere o autor:  
“A implementação da democracia na Guiné-Bissau não resolveu os problemas do passado. Por isso, é necessário organizar o país em prol de todos os guineenses e criar um modelo de governação que é um conjunto de instrumentos que integram os principais órgãos do aparelho de poder do Estado”.
É a reflexão que se segue, em que o autor apresenta o seu modelo de governação.

(Continua)
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Nota do editor

Poste anterior de 29 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18266: Notas de leitura (1036): “Modelo Político Unificador, Novo Paradigma de Governação na Guiné-Bissau”, por Livonildo Francisco Mendes; Chiado Editora, 2015 (2) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 2 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18279: Notas de leitura (1037): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (20) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18285: Um conto de Natal (24): Zé, o soldado de barro (Mário Gaspar, ex-fur mil at art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)

1. Mensagem do nosso camarada e grã-tabanqueiro Mário Gaspar, com data de 31 de janeiro último:

[foto atual à esquerda; ex-fur mil at art, minas e armadilhas, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68; e, como ele gosta de lembrar, Lapidador Principal de Primeira de Diamantes, reformado; e ainda cofundador e dirigente da associação APOIAR; tem tem c. 100 referências no nosso blogue]

Caros Camaradas:

Depois de me reiniciar na escrita, escrevi muitos textos, todos publicados. Encontrei este “Soldado de Barro” que provocou críticas em alguns combatentes.

Inicialmente pensei escrever um texto para crianças, mas em cima da hora surgiu a dificuldade de publicar no jornal APOIAR no fim de ano, um texto de Natal, estando com o “Soldado de Barro” entre os dedos dei uma volta de 360% e saiu este conto de Natal.

Tenho andado às voltas no computador e vou encontrando imensos textos, alguns nem foram publicados.

Tive conhecimento que o Grande Soldado da minha Companhia (CART 1659),  António Pais Cabral n.º 06653066 e Apontador de Metralhadora.  faleceu. Estivemos muitas vezes em Operações, nunca quis ajuda de ninguém, era um jovem com menos de 40 quilos, transportava não só a MG como fitas para a mesma e pelo menos duas granadas de morteiro. No Almoço de Confraternização compareceu, tinha 110/120 quilos e o ano passado faltou, estava num Lar.

Em 2010 este “Soldado de Barro” saiu no jornal da ADFA: – “ELO”. Assinado: Mário Vitorino Gaspar, associado nº 15159.

Podem publicar no Blogue. A minha saúde é péssima.

Um abraço para o Blogue

Mário Vitorino Gaspar



2. Um conto de Natal (23) > Zé, o Soldado de Barro 

por Mário Vitorino Gaspar, associado nº 15159


Era uma vez um velhinho, muito velhinho, de nome Pinheiro. Morava naquela olaria, também ela muito velha, herdada de seu pai, feita de pedra já carcomida pelos anos. Situava­‑se numa zona muito isolada, onde só se ouvia o chilrear dos passarinhos e o sussurro do vento, murmurando nas paredes da casa, também ela velha, longe da povoação mais próxima.

O velhinho Pinheiro vivia muito só. Perdera a mulher há uns anos. Para ele, uma eternidade. Não tinha ninguém. A sua fortuna era as mãos queimadas pelo barro quente. Fazia com elas uns pífaros, muitos bonecos e outras peças que serviam para ornamentar os presépios – jumentos, o Menino Jesus nas palhinhas, José e Maria. Vendia pouco, porque só há um Natal no ano. Assim ele vivia também de alguma coisa que retirava da terra. Pois o amigo de toda a gente boa da terra principiou a sua obra, talvez a mais grandiosa: um soldado em barro.

Os traços do rosto eram belos e os olhos grandes, saltavam daquela imponente imagem de barro. Terminada a obra, depois de noites consecutivas sem se deitar, o velhinho oleiro sentou­‑se junto daquele monumento em barro. Teria por volta de um metro e oitenta. Era um grande homem, mas estava nu.
– Ti Pinheiro, que faz? – perguntou o seu vizinho e amigo Manel, que o visitava com frequência. O sonhador Pinheiro, porque a vida também é um sonho, com ar altivo, retorquiu:
– Mane! Este é o meu soldado!
– Mas ele não está fardado, Ó Ti Pinheiro! – respondeu prontamente, com uma certa angústia no olhar.

Mirava de alto a baixo a grandiosa está­tua, que mais parecia sorrir­‑lhes com um ar inocente. O velhinho Pinheiro algo comovido, respondeu, depois de passar a sua mão direita, acostumada a moldar o barro, pela cabeça do recém­‑nascido Zezinho:
– O Chico, o filho do João da Burra, regressou há bem pouco dessa guerra em África. Quero pedir­‑lhe que me dê uma daquelas fardas manchadas de verde que eles vestem.
– Não percebo para que servem as guerras!

Apontando para o telhado com o indicador direito, baixou o braço repentinamente:
– As guerras só servem para matar os nossos rapazitos, porque aquela terra não é nossa. Olha que quem te fala sabe bem o que diz. Sou muito velho, já passei as passas do Algarve. Foram também a 1.ª e 2.ª Guerra Mundial. Nem sei às vezes quantos anos tenho. A nossa terra é aqui, esta é que é a nossa terra. O filho do João da Burra parece que vem inteiro. Agora os outros!?  Vê bem quantos desta terriola vieram na madeira dos caixões? Olha que o filho do Ti Jaquim da Ponte desapareceu lá em Angola. Coitada da mãe. Parece que morreu com o filho. E o nosso João da Burra?  Como ele andava!
– Mas se pensa desse modo, porque fez isto que diz que é um sol­dado?
– O pacato do boneco até parece ter vida – respondeu o Ti Manel algo confuso.

Sentindo­‑se questionado, sabendo ser extremamente difícil com­preender as razões que ele próprio não percebia, o oleiro levantou­‑se com certa dificuldade do banco de madeira e abraçou o imenso monte de barro moldado pelas suas mãos, também enormes:
– Sei que ninguém nesta terra me compreende. Vão saber desta minha criação, mas eu nunca tive um filho. 

Após um momento de reflexão, continuou:
– Pois este é o meu filho, é o José...

Via­‑se no olhar daquele velho oleiro uma alegria mágica, algo de inexplicável, parecendo ter retornado aos seus vinte, trinta anos. Era um homem novo e com sonhos.  A verdade era que aquele grandalhão boneco, como por artes mági­cas, começou a andar e sorriu. O sorriso ainda gaiato. Ti Manel, assustado, dirigiu­‑se para a porta daquela casa de pedra já muito velha.

Olhando para trás já sem medo, disse:
– O seu filho, o Zezinho, já anda e tem movimentos como gente.

O velho Pinheiro agarrou­‑se ao seu filho chorando. Era a sua criação, com a ajuda divina, transformado num ser humano.  Ninguém por momentos falou. Instalou­‑se um silêncio, interrompido por uma voz desconhecida, uma voz forte de quem sabe o que quer da vida:
– Ó pai! – deslocando­‑se junto do espelho velho, continuou: – mas eu estou nu, sou um soldado sem farda! 

Envergonhado, tapou o sexo com as suas mãos enormes cruzadas. A vida renascia daquele barro esculpido. Era o Zé, o Zezinho que falava. 

Aquele barro falava. Com uma incontida emoção o pai Pinheiro, não deixando de abraçar o filho que continuava com as duas mãos sobre o sexo, diz:
– Dá­‑nos essa manta que está sobre a arca!

Depois de receber aquela manta de retalhos das mãos do Manel, cobriu as costas do filho, aquela sua criação feita verdade.  O tempo foi passando e o Zé já era soldado, nascera soldado. É que ninguém deveria negá­‑lo, era um soldado de corpo e alma, e ainda por cima. Toda a gente da povoação sabia serem os moços da terra e vizinhança, na grande maioria, analfabetos.

Naquele momento era um português, igualzinho a qualquer outro só com uma pequena diferença: – fora moldado pelas mãos de artista do Ti Pinheiro e transformado em ser humano, mas soldado. Não o soldadinho de chumbo ou o Pinóquio das histórias de encantar, mas o soldado de barro do oleiro. Era de tal modo igual a um soldado, que conhecia tudo sobre os mili­tares. Marchava, tinha uma ótima preparação física, não se notando sequer o cansaço quando fazia quilómetros, e bastantes, em volta do povoado.  Falava de armas, deixando as pessoas à sua volta admiradas. É que nascera soldado. Até tinha um camuflado. 

 Gostava muito do pai e falava da mãe que não tinha. A mãe Gertrudes, esposa já falecida do oleiro Pinheiro. O velhinho Pinheiro sentia­‑se alegre e mais novo, mas por vezes punha­‑se a pensar com os seus botões:
– O meu Zé é militar, vai deixar de ser meu. Vou ter de o registar, dar­‑lhe um nome.  Tem que ir “às sortes” porque nasceu soldado. E ainda para tristeza minha, os moços daqui ficam todos apurados para o serviço militar. Quando lhe toco é realmente um ser humano. Mas há qualquer coisa que não com­preendo. Ao mesmo tempo ele é de barro. Não é como nós e, ainda por cima, nasceu soldado.

Um dia, há sempre um dia, o Zé partiu para a tropa. Fez a recruta, a espe­cialidade. Era o melhor soldado entre os soldados. Mas sempre soldado.  Só que, semelhante a outro qualquer ser vivo, não se cansava, não chorava e era disciplinado. O velhinho Pinheiro quando o via em casa, nas dispensas de fins-de-semana, questionava­‑se:
– Terei sido castigado por desejar ter um filho? Queria um filho, que a minha Gertrudes, Deus tenha a sua alma em descanso, nunca me deu. Tenho um filho que nasceu militar. Tenho um filho que é soldado.

O velhote, por um instante ficou como que paralisado.  O Zé é mobilizado para a Guiné. O velhinho Pinheiro chorou. As lágrimas caiam pelo rosto gretado, para cima do barro que amassava. Não tinha interesse pelo trabalho. O momento era péssimo, porque se aproximava o Natal e tinha muitas encomendas.

Estando em casa de licença, o Zé acompanhava o pai e tentava convencê­‑lo que tudo correria bem. Mas o velho oleiro não se conformava. Aquele rapaz não era como os outros. Era de barro, o seu amado filho. Corria o risco de se quebrar.

Foram uns dias amargos, bem amargos. O pai ficou mais ligado ao filho do que nunca. Era o seu filho, não carne da sua carne, mas também da sua carne.  Chegou o dia do embarque e o velho oleiro lá partiu para o cais de Alcântara, em Lisboa.  Esteve uns breves momentos com o seu Zé, soldado de barro. O seu filho afastou­‑se lentamente, olhando­‑o profundamente. Não chorava. Come­çaram a formar­‑se os Batalhões e as Companhias. Alinhados. Lá estava o seu Zé na formatura. Era o mais belo dos soldados, pensou o velho oleiro.

Apetecia­‑lhe gritar:
– Este é o meu filho!

Depois de algum tempo todos começam a embarcar. O barulho, um imenso barulho, instala­‑se no cais, pequeno para tanta gente:
– Meu filho!? – diz alguém repleto de angústia.

Foi o toque mágico. Os gritos não chegavam para sarar as feridas. Era um quadro difícil de explicar. Os lenços seguros nas mãos e içados nos braços, pareciam exigir misericórdia. Uma nuvem trágica de cores pintava aquele cais de medo. O velho oleiro parava no tempo olhando o barco que começava a progredir nas águas sujas, tentando ver ainda o seu Zé.

Aquela amálgama de barulho ensurdecedor partia­‑se. Ouvia­‑se dis­tintamente o grito do cais e do barco que desaparecia quase na linha do mar, bem ao fundo. O tempo passou. A ligação era o aerograma. Mas o Zé não escrevia, não sabia ler nem escrever. Era um outro soldado, também José de seu nome, quem escrevia as letras para o velhinho muito velhinho:
– Estou bem, meu pai!

Aproximava­‑se o Natal e nem uma carta. Nem sequer um aerograma. Véspera de Natal, Natal, e o José não dava notícias.

Um dia o velho oleiro, enquanto trabalhava, vê pela janela aproximar­‑se o carteiro da terra. Vinha de bicicleta na mão:
– É um telegrama! – diz o homem do correio daquela terriola:
– Dá cá! – responde o velho Pinheiro, limpando as mãos às calças sujas e segurando de imediato aquele papel branco com ambas as mãos:
– O meu Zé morreu! – diz chorando.

O muito velho oleiro morreu passados dias. Não tivera Natal. O Zé morrera na noite de Natal.

O Zé era de barro, como os outros Zés soldados, e partiu­‑se, nem os cacos se aproveitaram. O soldado de barro é sempre de barro. E o barro parte­‑se.  Por tal motivo é que existem por esse mundo fora ruas com os nomes de soldados de barro, feitos heróis esquecidos.  É de barro o soldado. Os soldados de barro dessa guerra, que ainda sobrevivem. Andam por aí feitos em cacos. Fisicamente e psiquicamente.
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Nota do editor:

domingo, 4 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18284: Blogpoesia (551): "Ter quem pense em nós...", "Sabor da melancolia", e "É branda e suave...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Ter quem pense em nós…

Ter quem, perto ou longe,
Pense em nós,
Se preocupe connosco,
É caminhar de dia ao sol.
Ver as cores do mar e céu.
Sentir sabor e o perfume que a terra exala.
Afastar o preço amargo da solidão.
Ter alguém para quem vá nosso pensamento nas horas mais sofridas.
Receber, de vez em quando, umas letras pelo correio, dos ctt ou digital.
Alguém que, um dia, se cruzou no nosso caminho e nos deixou marcado.
Com gestos de amizade.
Nos fez sorrir ou aliviou o fardo de cada momento,
No resvalar dos dias.
É ser rico, mesmo que o dinheiro falte no nosso bolso.
Um amigo que nos visite na cama dum hospital, ou, sei lá, na cela duma prisão.
Quem reze uma Avé Maria pela nossa alma…

Ouvindo Ernest Cortazar – “Best of…” piano e orquestra
Berlim, 4 de Fevereiro de Fevereiro de 2018
8h1m
Jlmg

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Sabor da melancolia

Quando as cores desmaiam porque o sol se despediu,
Um vaga de melancolia tolda as encostas e os vales.
Os rebanhos ficam parados e só pensam no seu curral.
Os pastores e seus cães fiéis os tangem serenamente.
Eles descem num bando unido,
Remoendo o que lhes tocou.
É a hora das trindades.
E das almas em peregrinação.
Pelos lares da aldeia, as panelas fervem,
Cheias de couves e batatas boas.
Sob as ramadas, se lavam as mãos nos lavatórios.
A água é limpa e fresca.
A toalha branca, corada ao sol, cobre a mesa longa, com as tigelas de barro.
O pai já foi à pipa buscar uma canada de tinto puro.
A pequena que só quer brincar faz ouvidos moucos à mãe já farta de os chamar.
Só o berro do pai os faz pensar…

Berlim, 28 de Janeiro de 2018
19h6m
Jlmg

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É branda e suave…

Como é brando e suave aquele pedaço inerte que me abre a porta.
Tem a forma certa e a medida justa.
Foi feito assim.
Procura um dono
No futuro incerto.
Nem ela sabe onde irá entrar.
Tem um dom condão
Na mão do dono.
Só ele no seu jeito certo,
Agarra e puxa o que trava a porta
E lhe abre o mundo.
Por isso, ele a guarda com cuidado infindo.
Parece que o mundo acaba se ele lhe perde o rasto.
Se desfaz em rezas.
Até que o susto acabe e a festa venha…

Berlim, 28 de Janeiro de 2018
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 28 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18262: Blogpoesia (550): "As sombras dormem ao sol", "O despertar da toupeira", e "Os astros", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P18283: Buba e os pelotões de morteiro 81 no período entre 1964 e 1974: um espaldão com história (Jorge Araújo)

Figura 1

Infografia: Jorge Araújo (2018)



Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494 
(Xime-Mansambo, 1972/1974): nosso colaborador permanente


BUBA E OS SEUS PELOTÕES DE MORTEIRO 81 NO PERÍODO ENTRE 1964 E 1974: UM ESPALDÃO COM HISTÓRIA

por Jorge Araújo


1. INTRODUÇÃO

Têm sido particularmente interessantes os comentários produzidos no fórum sobre a foto de um espaldão localizada na Casa Comum – Fundação Mário Soares – na pasta: 05360.000.325, com o título: “Ponto de tiro de morteiros, do pelotão de morteiros 2139, do exército português”. O assunto é: “Estrutura militar portuguesa à beira de um rio [?]: ponto de tiro de morteiros, do pelotão de morteiros 2139 [2138].

E a principal interrogação/incógnita é, agora, saber quem foi o seu autor, em que época e como foi ela parar às mãos da guerrilha e/ou ao Arquivo Amílcar Cabral, já que a sua localização deixou de ser objecto de investigação quando o camarada Fernando Oliveira (Brasinha), do Pel Mort 2138 (1969/71), fez questão de provar que estávamos perante o espaldão construído na embocadura do rio Grande de Buba, junto ao arame farpado do Aquartelamento de Buba [poste P18231]. (*)

Terá ela sido tirada antes ou depois do «25 de Abril de 1974», ou seja, antes ou depois de ter terminado o conflito?

Não dando este assunto por encerrado, conseguimos reunir novos dados, certamente não definitivos, pois acreditamos que algo mais pode surgir a qualquer momento, nomeadamente daqueles que ainda têm presente muitas memórias de Buba.


Foto nº 1 > Guiné > Região de > Buba > Esapaldão de morteiro 81
Citação:
(1963-1973), "Ponto de tiro de morteiros, do pelotão de morteiros 2139 [2138], do exército português.", CasaComum.org, Disponível HTTP:http://hdl.handle.net/11002/fms _dc_44169 (2017-1-20)


2. BUBA E OS SEUS PELOTÕES DE MORTEIRO 81 NO PERÍODO ENTRE 1964 E 1974

Como elemento facilitador da análise sobre a presença dos diferentes pelotões de morteiros que passaram pelo aquartelamento de Buba, sentimos necessidade de elaborar um quadro cronológico onde constassem as datas do início (chegada a Bissau) e do final da comissão (embarque para a metrópole), para identificar e seleccionar as fontes de informação e/ou consulta.

Acresce esclarecer que o período entre as datas indicadas no quadro abaixo não pode, em todos os casos apresentados, corresponder ao período em que as diferentes Unidades aí estiveram aquarteladas, uma vez que, em quase todas as épocas, as Unidades circulavam por diversos locais do território e daí essa questão não ser relevante para a presente problemática.

Outra nota importante, esta talvez decisiva para identificar a data ou o período da foto do espaldão, está relacionada com a total ausência de informações sobre a última Unidade indicada – Pel Mort 4277/72 – mas que presumimos ter estado lá pela simples razão de termos encontrado uma mensagem de um elemento desse pelotão, identificado por Joaquim Francisco Gonçalves, com data de 06Abr2013, nos seguintes termos:

“O6Abr[2013] – Procura: Joaquim Francisco Gonçalves procura pelos seus camaradas-de-armas do Pelotão de Morteiros 4277 «OS CASTIÇOS», que prestaram serviço na Guiné (Aldeia Formosa, Empada, Buba, Nhala, Mampatá, Calibuia, Cobijé, Chamarra, Pate Embaló, Chugué, Corumbá, Bedanda e Nhacubá), no período de 1973 a 1974”. [In http://ultramar.terraweb.biz/ActMensais201304Abr.htm (com a devida vénia)].

Eis, então, a ordem da permanência dos Pelotões de Morteiros 81 em Buba (Vd. figura 1, acima)

De seguida, seleccionámos um conjunto de fotos, apresentadas também por ordem cronológica, com o objectivo de poder encontrar resposta sobre o período em que ocorreu a construção do espaldão [Foto nº  1].


Foto 2 >  LDG no rio Grande Buba, com maré cheia (período 1968/71 – BCAÇ 2892). Foto do ex-alf, mil Joaquim Rodrigues, in: http://guine6871.blogspot.pt/ (com a devida vénia).

Será que a foto foi tirada do espaldão? E os bidões velhos da imagem, será que foram substituídos pelos do espaldão da “nossa” foto inicial?


Foto 3 >  Buba, Dezembro de 1968. Aprendendo a trabalhar com o morteiro 81 (elementos do Pel Mort 1242, 1967/69). Foto do camarada e grã-tabanqueiro Francisco Gomes, 1.º Cabo Escriturário da CCS/BCAÇ 2834 (Buba, Aldeia Formosa, Guileje, Cacine, Gadamael (1968/69), com a devida vénia. In: http://inforgom.pt/guine6869/?p=400.


Foto 4 > Rio Grande Buba (período 1968/71 – BCAÇ 2892). Foto do ex-alf mil Joaquim Rodrigues, in: http://guine6871.blogspot.pt/ (com a devida vénia).

Será que o espaldão está situado na parte de trás da casa ao centro da imagem?


Foto 5 > Espaldão de morteiro 81, junto ao arame farpado (o mesmo da foto 1), virado para o rio, ao tempo do Pel Mort 2138 (Buba, 1969/71). Foto de Fernando Oliveira [poste P18231].(*)

Quanto ao período em que ocorreu a construção do espaldão, consideramos apenas duas hipóteses:

(i) ou foi construído durante a permanência do Pel Mort 1242 (1967/69):

(ii) ou foi no período anterior ao tempo do Pel Mort 1086 (1966/67), do qual não temos qualquer referência no blogue.

Obrigado pela atenção.

Com forte abraço de amizade,
Jorge Araújo.
24JAN2018.
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Notas do editor:

(*) 20 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18231: Memória dos lugares (370): Buba e os bravos do Pel Mort 2138... Mais fotos (Fernando Oliveira, "Brasinha", ex-sol apont Arm Pes Inf, Pel Mort 2138, Buba, Aldeia Formosa, Nhala, Mampatá e Empada, 1969/71)


Vd. também postes de:

30 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11653: Em busca de... (223): Pessoal do Pel Mort 1242 (Buba, outubro de 1967/ agosto de 1969) cujos nomes ficaram gravados na "pedra de Buba"... O que é feito de ti, camarada Clemente, ex-alf mil e comandante? E de ti, Simão? E de ti, Laginha?... E de vocês todos, 44 anos anos depois de terem regressado no T/T Uíge, em 23/8/1969?

15 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18214: Pelotões de Morteiros mobilizados para o CTIG: elementos históricos e estatísticos (Jorge Araújo)

18 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18223: Pelotão de Morteiros 2138 (Buba, Nhala, Mampatá, Aldeia Formosa e Empada, 1969/71): espaldão com história (Jorge Araújo)

19 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18226: Memória dos lugares (370): Buba e o espaldão do morteiro 81 onde eu dormia... (Fernando Oliveira, "Brasinha", ex-sol apont Arm Pes Inf, Pel Mort 2138, Buba, Aldeia Formosa, NHala, Mampatá e Empada, 1969/71)

23 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18244: (D)o outro lado do combate (17): ataque a Buba em 12 de outubro de 1969, ao tempo da CCAÇ 2382 e Pel Mort 2138: os fracassos assumidos pelo PAIGC (Jorge Araújo)

23 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18245: Memória dos lugares (371): Buba, o espaldão do morteiro 81 e os Pel Mort [1086, 1242, 2138, 3020...] que por lá passaram

Guiné 61/74 - P18282: Parabéns a você (1386): Cap Inf Ref José Belo, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70) e Mário Silva Bravo, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 6 (Guiné, 1971/72)


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Nota do editor

Último poste da série de 2 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18276: Parabéns a você (1385): Germano Santos, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 3305 (Guiné, 1970/73)