terça-feira, 10 de julho de 2018

Guiné 61/74 - P18833: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XXXVII: História e imagens de São Domingos: fotos de 9 a 21



Foto nº 10 > São Domingos > 1969 > Vista da Ilha Maldita



 Foto nº 13 > São Domingos > 3º trimestre de 1968 >  Vista aérea: serração e cais


 Foto nº 14 > São Domingos > 2º semestre de 1968 >  Vista aérea: avenida para o cais


 Foto nº 15 > São Domingos > ´Janeiro de 1969 >  Vista aérea:  pista e quartel



 Foto nº 16 > São Domingos > 1969 >  Vista aérea: parte da povoação



 Foto nº 17 > São Domingos > 1º trimestre de 1969 >  Vista aérea: avenida e rio


 Foto nº 18 > São Domingos > Fevereiro de 1969 >  Vista aérea: quartel, pista e rio


Foto nº 9 > São Domingos > Meados de 1968 > Armazém de géneros



Foto nº 11 > São Domingos > 2º semestre de 1968 > Construção de abrigo


Foto nº 12 > São Domingos > Janeiro de 1969 > Cerimónia com a Mocidade Portuguesa


Foto nº 19 > São Domingos > finais de 1968 ou primncípios de 1969 > Posto administrativo e centro da povoação


 Foto nº 20 > São Domingos > 1969 > Do centro ao rio



 Foto nº 21 > São Domingos > 1969 > Moranças e rua

Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 > 1969 >


Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Virgílio Teixeira (*), ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69); natural do Porto, vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado; tem já perto de 7 dezenas de referências no nosso blogue. (*)


Recorde-se que o Sector O1B – São Domingos, que esteve sob o comando e ordens do BCAÇ 1933, durante o período de 2 de Abril de 68 até 3 Agosto de 69.Era u ma faixa de 120 km por 15 km o que perfazia uma superfície aproximada de 1800 km2, com uma configuração geral quase rectangular, compreendida entre a fronteira Norte com O Senegal, a Sul com o Rio Cacheu, a Oeste com o Oceano Atlântico até Cabo Roxo, e a Leste por uma linha de povoações, designadamente ‘Faranjato-Quissir-Rio Cacheu’ .

O BCAÇ 1933 vem substituir o BCAÇ 1894. (**)


2. Fotos do tema T037 – Imagens de São Domingos – «Forte Álamo da Guiné» (Continuação)

Legendas e numeradas de f9 a f21 (de um total de 59):


F9 – O armazém de géneros alimentícios, em frente à messe de oficiais, que servia de caixa de correio, no estado em que ficou após o rebentamento de uma granada de Morteiro 82 ao fim da tarde do dia anterior. São Domingos,  talvez em meados de 1968.

F10 – Vista da ilha maldita ou ilha dos felupes ou ilha Bolol, com alguns membros da população Felupe nas margens do rio São Domingos, na maré vaza, utilizando as suas canoas construídos com troncos de árvore, escavadas nas entranhas até ficarem navegáveis, foto capturada já no primeiro trimestre. São Domingos,  1969.

F11 – Construção de um abrigo com poço, com duas camadas de troncos de palmeiras, outra camada de bidões vazios de 500 litros, cheios de terra vermelha, casca de ostra e cimento. É um forte abrigo protegendo um edifício militar que não identifico com clareza. O fotógrafo estava lá. Captada nos primeiros tempos que chegamos a esta terra. São Domingos,  1968, 2º semestre. 

F12 – Parte da cerimónia de posse do novo administrador de posto, com elementos da população e os soldados da paz da Mocidade Portuguesa. São Domingos, em Janeiro 69.

F13 – Vista aérea de avião a aterrar, vendo-se em primeiro plano a serração de madeiras, ao fundo da avenida o cais, um pequeno barco de pesca, o rio em maré cheia, e do lado direito das margens do rio, a tal ilha maldita dos Felupes. O resto é paisagem geral do quartel, foto tirada talvez em São Domingos, no 3º trimestre de 1968.

F14 – Outra vista aérea mais alto, vendo-se ainda em primeiro plano uma parte da serração, casas de pedra e telha de alguma população, e ao fundo a mata densa que se desenvolve ao longo do rio e das redondezas da povoação. Foto talvez tirada em São Domingos, 2º semestre de 1968.

F15 – Vista aérea mais alta, vendo-se a pista de 1200 metros, edifícios do aquartelamento, caminho através da pista na direcção da fronteira – 5 km, uma parte do rio mais a montante, uma panorâmica geral da localização da povoação de São Domimngos, em Janeiro de 69.

F16 – Vista aérea do centro de SD, distingue-se o posto do administrador local, a avenida para o cais e rio, edifício do comando em primeiro plano, vários edifícios de casernas, refeitórios, cantinas, do gerador, dos combustíveis, do edifício da Pide, entre outros. Lado esquerdo no topo a nossa pista de 1200 metros, bem visível, mais abaixo uma via de terra batida, que dá acesso às instalações da CART1744, a companhia de intervenção, desde o início da nossa chegada a este sector. São Domingos,  1969.

F17 – Vista aérea virada para o rio, vendo-se a avenida principal com separador, casas, moranças e tabancas da população local. Ao fundo da avenida o cais com 2 barcos pequenos, e sempre o Rio como fonte de inspiração, em São Domingos,  1º trimestre de 1969.

F18 – Vista aérea, com o rio em primeiro plano, depois a povoação, vendo-se do lado esquerdo da avenida as instalações militares e do lado direito as tabancas, moranças e casas da população. Ao alto a pista de São Domingos com 1200 metros, e em transversal um caminho que leva à fronteira com o Senegal, foi ao fundo desse caminho que se deu a emboscada e rebentamento de minas que originaram os ferimentos no Comandante Saraiva, e outros. Na junção do caminho com a pista, uma zona em quadrado, lado esquerdo ao fundo, com 3 a 4 edifícios, era nesse local que se situavam as instalações das Companhias de Intervenção, neste caso do nosso tempo, a CART 1744. São Domingos, fev69.

F19 – Edifício do Posto do Administrador, a bandeira nacional, alguns militares e uma viatura. Porque não se vê quase ninguém, presumo que se trata de fotos que tirava nas horas da sesta, da canícula em que não se podia andar no exterior devido aos extremos de calor e sol. Pode ser datada de São Domingos,  finais de 68 ou inícios de 69. 

F20 – Imagem capturada do Posto Administrativo,  com a haste e a bandeira nacional, virada para a Avenida Principal, e única, com o fundo sempre do rio omnipresente. A data dia e hora igual à foto anterior f19, de lado inverso. SD, 68/69.

F21 – Rua paralela à Avenida e virada para o rio, em terra batida, com casas e palhotas, umas de zinco e outras de colmo de palmeira. Dia e hora igual aos das fotos f19 e f20, pelas mesmas razões de tempo de canícula. SD 68/69.

Guiné 61/74 - P18832: Efemérides (289): Romagem ao Cemitério de Lavra em homenagem aos combatentes da guerra do ultramar das freguesias de Lavra, Perafita e Sta. Cruz do Bispo, Concelho de Matosinhos, caídos em Campanha

Hastear das Bandeiras: Nacional, Liga dos Combatentes, Cidade de Matosinhos e Junta de Freguesia, no edifício do Polo de Lavra.


Realizou-se em Matosinhos, Lavra, no passado dia 30 de Junho, a tradicional romagem anual ao cemitério em homenagem aos combatentes mortos na Guerra do Ultramar, da União de Freguesias.

A cerimónia foi promovida pelo Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes, em colaboração com a Junta da União das Freguesias de Perafita, Lavra e Santa Cruz do Bispo – Pólo de Lavra.

Pelas 10h30 iniciou-se a comemoração com a concentração dos participantes em frente ao edifício da Junta, sendo de seguida içada a Bandeira Nacional pelo Presidente da Direção do Núcleo ao mesmo tempo que o Grupo Coral do Núcleo entoava o Hino Nacional e a Guarda de Honra, constituída por um clarim dos Bombeiros de Matosinhos-Leça da Palmeira, pelo Porta Guião do Núcleo e por alguns sócios combatentes, prestava as honras militares à Bandeira Nacional.

Guarda de Honra composta por antigos Combatentes. Ao fundo o Grupo Coral do Núcleo de Matosinhos da LC, que interpretou o Hino Nacional

Procedeu-se à deposição de uma coroa de flores no memorial em frente ao edifício daquela Junta pela Presidente da Junta, Dra. Lurdes Queirós e pelo Presidente da Direção do Núcleo Tenente Coronel Armando Costa.

Posteriormente, os participantes seguiram em romagem ao cemitério local, acompanhando o Porta Guião do Núcleo.

Pelas 10h45, já no cemitério junto ao Panteão onde se encontram os lavrenses que tombaram pela Pátria, realizou-se a cerimónia militar onde o sócio combatente Rodolfo Mesquita começou por fazer a chamada de todos os combatentes mortos na Guerra do Ultramar da União das Freguesias de Perafita, Lavra e Santa Cruz do Bispo, seguindo-se a deposição de uma coroa de flores, no referido Panteão, pela Presidente da Junta e pelo Presidente da Direção do Núcleo.

O Combatente Rodolfo Mesquita evoca o nome dos Combatentes de Lavra, Perafita e Sta. Cruz do Bispo caídos em Campanha

Momento da deposição da Coroa de Flores no Panteão ao Combatentes da guerra do ultramar de Lavra, caídos em Campanha

A cerimónia prosseguiu com os respetivos toques de homenagem aos mortos e, na altura do minuto de silêncio, foi cantado um salmo pelo Grupo Coral do Núcleo e lida a prece do Exército pelo Secretário do Núcleo.

Dando continuidade ao programa traçado, foram proferidas alocuções alusivas ao ato pelo Presidente da Direção do Núcleo e pela Presidente da Junta da União das Freguesias de Perafita, Lavra e Santa Cruz do Bispo.

Alocução do Presidente do Núcleo de Matosinhos da LC, Ten-Cor Armando Costa

Intervenção da Presidente da União de Freguesias de Lavra, Perafita e Sta. Cruz do Bispo, Dra. Lurdes Queirós

Por último, o Grupo Coral do Núcleo cantou o Hino da Liga dos Combatentes. Terminada a cerimónia, e pelas 11H30 na Sede da União de Freguesias, o Grupo Coral do Núcleo fez a sua atuação, perante combatentes, familiares e amigos presentes, e público em geral cantando alguns temas populares.

Actuação do Grupo Coral do Núcleo de Matosinhos da LC no Cemitério de Lavra

A finalizar, foi servido um porto de honra a todos os participantes que, num ambiente de franco convívio e camaradagem, fortaleceram o ideal patriótico e humanista que a Liga dos Combatentes proclama como um dos seus grandes objetivos, aproveitando-se ainda este momento para cimentar a excelente parceria entre as duas instituições.

Foi muito aplaudida a actuação do Grupo Coral do Núcleo, no Salão Nobre do Polo de Lavra, que contagiou os presentes com a sua interpretação de algumas canções populares portuguesas.

Vista parcial do Salão Nobre

Porto de Honra
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Texto e fotos: Núcleo de Matosinhos da LC
Fixação do texto, edição e legendagem das fotos: Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18824: Efemérides (288): Homenagem aos Combatentes do Ultramar do Concelho de Viana do Castelo, levado a efeito no passado dia 30 de Junho de 2018, em Barroselas (Sousa de Castro)

segunda-feira, 9 de julho de 2018

Guiné 61/74 - P18831: (In)citações (121): SOS, Língua Portuguesa: a propósito do editorial do "Novo Jornal", semanário luandense, de 6 do corrente: "Quando a língua se torna uma questão de Estado" (São e Paulo Salgado, ex-cooperantes)


Cabeçalho do semanário luandense Novo Jornal, 6 de julho de 2018, com a devida vénia...



1. Mensagem de ontem, da Conceição e Paulo Cordeiro Salgado, nossos grã-tabanqueiros, com uma larga experiência de cooperação na Guiné-Bissau e em Angola, em particular na área da gestão e da formação em saúde.

O Paulo, além de gestor e consultor em gestão de saúde, foi alf mil op esp da CAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72), e tem 85 referências no nosso blogue.   A São é economista. Ambos são transmontanos de Torre de Moncorvo, e vivem em Vila Nova de Gaia.

Assunto - SOS, Língua Portuguesa

Caros Editores,
Camaradas,

Em anexo, um outro contributo sobre o assunto epigrafado. Decerto que é uma matéria interessante que deve interessar-nos enquanto cidadãos.

Um abraço dos tabanqueiros.
Maria da Conceição Salgado e Paulo Salgado



2. (In)citações > SOS – Língua Portuguesa

Ainda a propósito deste tema que tem sido abordado ultimamente (*), deixamos um outro contributo.

Do Novo Jornal – de Angola, sua edição de 6 de Julho, respigamos um parágrafo do Editorial, que preconiza a defesa, hoje, repetimos hoje, da difusão da língua portuguesa, porque é a língua oficial:

«Se é preciso que venham professores de fora do país para que aprendamos a falar a nossa língua oficial, que venham. Mas chega de sermos obrigados a ouvir disparates aos mais variados níveis.»

Vem esta transcrição a propósito do que defendíamos no nosso contributo passado sobre SOS – Língua Portuguesa, e que os editores postaram no nosso blogue. Reiteramos o que então dizíamos: é urgente, imperioso e eticamente responsabilizante ajudar a criar estruturas duradouras e consistentes de ensino da língua nos PALOP.

Além do mais, enfatizamos, é um compromisso histórico, mesmo que alguns não acreditem no processo histórico. Não como metodologia colonizante, mas como riqueza solidária que urge recriar de forma definitiva.

Já o pensador seareiro Augusto Casimiro escrevia em 1958 na obra Angola e o Futuro (Alguns Problemas Fundamentais) que o ensino do português era essencial para o conhecimento universal; mas, reparai bem, caros leitores, acrescentava, de resto com outros pensadores, que «o desenvolvimento de um povo se sustenta, prima facie, nas línguas nativas africanas, doces e maleáveis e que os seus princípios gramaticais assentam numa base sistemática e filosófica».

Afirmava o ilustre seareiro que as línguas maternas (nativas) devem ser mantidas porque são o veículo do bem senso natural para alimentar a clareza do pensamento. E acrescentava, embora com contraditores por essa altura, e decerto também agora os haverá), no final da década de cinquenta do século passado (já os ventos de autodeterminação e de independência sopravam fortes), que a educação colectiva deveria ser feita por meio da língua nativa (higiene, saúde, agricultura…), mas que a língua portuguesa deveria preencher progressivamente todos os níveis de ensino.

E é interessante notar que o editorial atrás referido menciona que alguns altos dirigentes de Angola que não haviam feito estudos, se compenetraram da aprendizagem em disciplinas diversas. Transcrevemos:

«…pelo menos dois dirigentes do então Bureau Político do MPLA que, em razão das inúmeras responsabilidades que foram tendo no processo da luta de libertação, não foram bafejados pela sorte de ir estudar para os países que apoiavam então os movimentos de libertação. No entanto, esses logo se apressaram a procurar professores que já viviam em Luanda, gente intelectual e bem preparada, com quem tiveram durante dois ou três anos aulas de Português, de História e até de Filosofia. Acabavam o seu trabalho e, em casa, tinham ao longo de toda a semana um horário estabelecido para explicações de três matérias que consideravam essenciais». [Vd. o editorial completo mais a baixo]

No mínimo, um notável sentido de responsabilidade.

Ora, foi isso que Amílcar Cabral procurou fazer: o ensino do português aos meninos e meninas que estavam no mato em zonas libertadas, ou em território da Guiné-Conakri, mas falando-se o crioulo na transmissão das mensagens entre os protagonistas da luta contra o domínio colonial – afinal a língua congregadora.

Não estaria Cabral a favorecer o bilinguismo? Não será a prática de duas línguas uma melhor aproximação entre duas culturas? Eis duas questões com que encerramos este contributo. Não temos respostas acabadas, temos dúvidas, sobretudo as que resultam da persistência de um niilismo – que alguns conservam – que não tem em conta o valor humano e social de duas línguas e respectivas culturas que não podem ignorar-se. A História não se pode destruir nem se pode vilipendiar e os povos seguem o seu percurso.

Maria da Conceição Salgado

Paulo Salgado

8.7. 2018

PS - Reproduz-se, com a devida vénia, o supracitado editorial do Novo Jornal:




Excertos do Editorial do Novo Jornal, 6 de julho de 2018, com a devida vénia...  
[Os sublinhados são da responsabilidade dos editores do blogue]
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Nota do editor;

Último poste da série > 6 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18817: (In)citações (120): SOS, Língua Portuguesa: a situação na Guiné-Bissau e em Angola (São e Paulo Salgado, ex-cooperantes)

Guiné 61/74 - P18830: Convívios (867): 38º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha, dia 19 de julho, 5ª feira, no sítio do costume, Restaurante "Caravela de Ouro", Algés, Oeiras... Inscrições até às 24h00 do dia 16, 2ª feira (Manuel Resende / Jorge Rosales)

Manuel Resende
1. Mensagem do Manuel Resende, com data de 6 do corrente, em seu nome e em nome do régulo Jorge Rosales:

Amigos e camaradas, verifico que muitos membros do nosso grupo não vêem ou não querem ir ao Facebook, por isso publico por e-mail a mensagem já enviada pela nossa página. 

Não levem a mal a repetição pois vou enviar a todos, mas assim sei que recebem o convite. Abraço e inscrevam-se.

Manuel Resende
Jorge Rosales



A MAGNÍFICA TABANCA DA LINHA - 38º CONVÍVIO


Vai realizar-se no próximo dia 19 de Julho, quinta-feira, com início às 12 horas, mais um convívio da Magnífica Tabanca da Linha, no Restaurante "Caravela de Ouro" em Algés. Esperamos que mais uma vez seja do vosso agrado.

O Almoço será servido às 13 horas

+ + + E M E N T A + + +

APERITIVOS

Bolinhos de bacalhau - Croquetes de vitela - Rissóis de camarão - Tapas de queijo e presunto. Martini tinto e branco - Porto seco - Moscatel.

SOPAS

Creme de legumes - Creme de marisco

PRATO DE CARNE

Nacos à Minhota
(com esparregado, batata assada e salada)

SOBREMESA
Salada de fruta ou Pudim

CAFÉ

BEBIDAS
Vinho branco e tinto (Ladeiras de Santa Comba-vinho da casa)
Águas - Sumos - Cerveja

PREÇO POR PESSOA - - - - - 20.00€
(Crianças dos 5 aos 10 anos pagam metade)

Morada: Alameda Hermano Patrone, 1495 Algés (Jardim de Algés, junto à marginal)

Inscrições até às 24 horas do dia 16, 2ª feira,  para: (tel ou e-mail)

Jorge Rosales  > 914 421 882 |  jorge.v.rosales@gmail.com

Manuel Resende >  919 458 210 |  manuel.resende8@gmail.com

ou dizendo "vou" ao convite no nosso grupo no Facebook.

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Guiné 61/74 - P18829: Notas de leitura (1082): História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema; Editorial Franciscana, Braga, 1982 (8) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Outubro de 2016:

Queridos amigos,
O padre Henrique Pinto Rema descreve o período turbulento que acompanhou a independência da Guiné-Bissau, a fúria nacionalizadora levou à degradação das instituições missionárias e ao desperdício desses missionários ativos na ação educativa e sanitária.
Segue-se um relato pormenorizado do reerguer destas atividades, relato que finda com a descrição do trabalho das missões até 1981.
A história destes franciscanos que aqui chegaram em 1955 já veio contada aqui no blogue, em recensão de outra obra. Fica a confirmação de que o trabalho de Pinto Rema continua a ser inultrapassável e bem merecia continuidade até ao nosso tempo.

Um abraço do
Mário


História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema (8)

Beja Santos

Estamos chegados à investigação quanto ao trabalho das missões católicas na República da Guiné-Bissau, derradeiro capítulo do indispensável livro “História das Missões Católicas na Guiné”, por Henrique Pinto Rema, Editorial Franciscana, 1982. O autor recorda como sempre foi limitado o domínio português na Guiné e recorda a existência de feitorias comerciais sempre transformadas em fortalezas, praças ou presídios. O território ocupado na chamada Senegâmbia foi reduzidíssimo. O capitão de Marinha Ernesto J. D. C. e Vasconcelos em As Colónias Portuguesas, Lisboa, 1903, refere a superfície da Guiné em 11.384 quilómetros quadrados. Lopes de Lima avaliava em 1844 a superfície da Guiné em 16 a 18 milhas quadradas e a sua população em 2500 livres ou libertos (incluindo a tropa) e 2000 escravos. Em 1891, o Capitão Viriato Zeferino Passalagua, Secretário-Geral interino, ao entregar o governo da Guiné a Luís Augusto de Vasconcelos e Sá, disse em discurso público:  
“Tem esta colónia seis pontos definitivamente ocupados: a ilha de Bolama, as praças de Bissau, Cacheu e Buba e os presídios de Farim e Geba. A área da província da Guiné é grande; porém, a esfera de acção do nosso domínio e especialmente da nossa autoridade é limitada aos pontos por nós ocupados, que, na nossa área são quase nada em relação à da província”.

Pinto Rema refere os primórdios do nacionalismo, o aparecimento do MING e depois o PAIGC, realça as greves de 6/7/8 de Março de 1956, em que houve agressão dos marítimos e estivadores à força policial, a polícia prendeu cinco cabecilhas grevistas e levou-os para a esquadra. O Governador Melo e Alvim veio pessoalmente à esquadra libertar os cinco presos. Os polícias sentiram-se vexados. Seguiram-se dois dias de greve e protesto. Serão os mesmos grevistas que em Março de 1956 irão desencadear novo protesto em 3 de Agosto de 1959. Pinto Rema descreve o chamado massacre do Pidjiquiti detalhando que os insubordinados dispõem de remos, barras de ferro, pedras e arpões. No primeiro recontro, os dois chefes da polícia serão selvaticamente agredidos, depois de terem disparado para o ar. Na continuação das tensões, a polícia perdeu o autodomínio e começou a atirar a matar. Havia 13 a 15 mortos espalhados no cais do Pidjiquiti mais os cadáveres de marítimos e estivadores arrastados pelas águas do Geba, estes dados foram fornecidos ao autor pelo guarda Francisco Valoura, mais tarde funcionário colonial. Acendera-se o rastilho para futuras contestações. Segue-se o ataque a S. Domingos em 21 de Julho de 1961 e depois as destruições em Suzana e Varela.

Finda a descrição sobre a luta armada, chegamos ao 26 de Abril em Bissau. A 1 de Maio de 1974 chega à Prefeitura Apostólica da Guiné um extenso telegrama onde se diz em dado momento: “A Santa Sé acompanha atentamente o evoluir da situação para ponderar quais as novas indicações que possam eventualmente vir a ser dadas para a vida da Igreja nesse território". O diretor do trissemanário A Voz da Guiné, padre Cruz Amaral, foi substituído por um militar marxista e no jornal os portugueses começaram a ser postos em cheque. Inicia-se a debandada. O êxodo atingiu proporções tais que no dia da declaração da independência por Portugal, 10 de Setembro de 1974, havia em toda a Guiné menos de 100 civis brancos. As Irmãs Franciscanas Hospitaleiras que trabalhavam no Hospital Central de Bissau foram forçadas a abandonar o seu mister acusadas essencialmente pelas suas exigências com o pessoal menor, foram acusadas de prepotência por quererem correção, presença nos serviço e trabalho. Em finais de Setembro, o padre Lino Bicari, filiado no PAIGC e com credências de Luís Cabral, expõe aos missionários a linha do PAIGC em matéria de religião e ensino. A liberdade religiosa seria salvaguardada mas as escolas passariam a ser património nacional, a escola passaria a ser absolutamente laica. Progressivamente, a vida das missões entrou num descalabro e subiram de tom as acusações anónimas. O Prefeito Apostólico é prevenido por um missionário de Catió que seria expulso por ter colaborado com a PIDE/DGS. Monsenhor Amândio Neto entende não dever estar presente na hora da transmissão de poderes, então prevista para o dia 12 de Setembro, marcou passagem de avião para 9. O Núncio Apostólico escreveu-lhe: “Esta é a hora menos oportuna para Vossa Reverência se ausentar”. Os missionários vivem solidários com o Prefeito Apostólico e este em 10 de Setembro envia um telegrama ao presidente Luís Cabral saudando no momento histórico, saudação que abraçava todo o pessoal missionário e o povo cristão, augurando futuro glorioso, pacífico e progressivo para a República da Guiné-Bissau.

Após o golpe de Estado de 14 de Novembro, Nino Vieira deu sinais claros que pretendia que as Missões Católicas estendessem a sua ação educativa nas escolas e levassem a sua ação sanitárias aos hospitais.

A nova diocese de Bissau é criada em Março de 1977 pela Bula Rerum Catholicaram. O autor é minucioso a descrever a dinâmica apostólica na diocese de Bissau, o novo bispo sai prontamente em visita às missões. Pinto Rema descreve o trabalho do Movimento de Grupos de Jovens, do Centro Artístico Juvenil e Seminário de Bissau e faz um relato minucioso do diálogo ecuménico travado com protestantes e muçulmanos.

No termo do seu trabalho, Pinto Rema analisa as missões atuantes em 1981. Depois de 960 páginas despede-se assim: “As últimas centenas de páginas foram escritas por quem viveu de muito perto os acontecimentos que relata mas só minimamente interferiu neles. Pôde, assim, ser o mais possível imparcial. Abriu um leque bastante vasto de perspectivas para a visão de conjunto surgir mais nítida. Teme, porém, que tenha escondido a floresta para mostrar a árvore. Eu ficaria muito satisfeito se este meu trabalho despertasse a curiosidade de verdadeiros historiadores para uma pesquisa do fenómeno religioso na actual República da Guiné-Bissau, a partir do ponto de vista católico”.
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Nota do editor:

Postes anteriores de:

21 de maio de 2018 Guiné 61/74 - P18659: Notas de leitura (1068): História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema; Editorial Franciscana, Braga, 1982 (1) (Mário Beja Santos)

28 de maio de 2018 Guiné 61/74 - P18688: Notas de leitura (1070): História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema; Editorial Franciscana, Braga, 1982 (2) (Mário Beja Santos)

4 de junho de 2018 Guiné 61/74 - P18707: Notas de leitura (1072): História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema; Editorial Franciscana, Braga, 1982 (3) (Mário Beja Santos)

11 de junho de 2018 Guiné 61/74 - P18733: Notas de leitura (1074): História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema; Editorial Franciscana, Braga, 1982 (4) (Mário Beja Santos)

18 de junho de 2018 Guiné 61/74 - P18752: Notas de leitura (1076): História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema; Editorial Franciscana, Braga, 1982 (5) (Mário Beja Santos)
e
25 de junho de 2018 Guiné 61/74 - P18776: Notas de leitura (1078): História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema; Editorial Franciscana, Braga, 1982 (6) (Mário Beja Santos)
e
2 de julho de 2018 Guiné 61/74 - P18800: Notas de leitura (1080): História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema; Editorial Franciscana, Braga, 1982 (7) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 6 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18816: Notas de leitura (1081): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (42) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18828: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capítulos 61 e 62: "tenho muito amor para te dar e não é um sacana dum capitão que o vai impedir"


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Cerimónia do içar a Bandeira Nacional.

Foto (e legenda): © Jorge Pinto (2014). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da pré-publicação do próximo livro (na versão manuscrita, "Em Nome da Pátria") do nosso camarada José Claudino Silva [foto atual à esquerda] (*):

(i) nasceu em Penafiel, em 1950, "de pai incógnito" (como se dizia na época e infelizmente se continua a dizer, nos dias de hoje), tendo sido criado pela avó materna;

(ii) trabalhou e viveu em Amarante, residindo hoje na Lixa, Felgueiras, onde é vizinho do nosso grã-tabanqueiro, o padre Mário da Lixa, ex-capelão em Mansoa (1967/68), com quem, de resto, tem colaborado em iniciativas culturais, no Barracão da Cultura;

(iii) tem orgulho na sua profissão: bate-chapas, agora reformado; completou o 12.º ano de escolaridade; foi um "homem que se fez a si próprio", sendo já autor de dois livros, publicados (um de poesia e outro de ficção);


(iv) tem página no Facebook; é avô e está a animar o projeto "Bosque dos Avós", na Serra do Marão, em Amarante;

(ix) é membro n.º 756 da nossa Tabanca Grande.

2. Sinopse dos postes anteriores:

(i) foi à inspeção em 27 de junho de 1970, e começou a fazer a recruta, no dia 3 de janeiro de 1972, no CICA 1 [Centro de Instrução de Condutores Auto-rodas], no Porto, junto ao palácio de Cristal;

(ii) escreveu a sua primeira carta em 4 de janeiro de 1972, na recruta, no Porto; foi guia ocasional, para os camaradas que vinham de fora e queriam conhecer a cidade, da dos percursos de "turismo sexual"... da Via Norte à Rua Escura;

(iii) passou pelo Regimento de Cavalaria 6, depois da recruta; promovido a 1.º cabo condutor autorrodas, será colocado em Penafiel, e daqui é mobilizado para a Guiné, fazendo parte da 3.ª CART / BART 6250 (Fulacunda, 1972/74);

(iv) chegada à Bissalanca, em 26/6/1972, a bordo de um Boeing dos TAM - Transportes Aéreos Militares; faz a IAO no quartel do Cumeré;

(v) no dia 2 de julho de 1972, domingo, tem licença para ir visitar Bissau, e fica lá mais uns tempos para um tirar um curso de especialista em Berliet;

(vi) um mês depois, parte para Bolama onde se junta aos seus camaradas companhia; partida em duas LDM para Fulacunda; são "praxados" pelos 'velhinhos' (ou vê-cê-cês), os 'Capicuas", da CART 2772;

(vii) faz a primeira coluna auto até à foz do Rio Fulacunda, onde de 15 em 15 dias a companhia era abastecida por LDM ou LDP; escreve e lê as cartas e os aerogramas de muitos dos seus camaradas analfabetos;

(viii) é "promovido" pelo 1.º sargento a cabo dos reabastecimentos, o que lhe dá alguns pequenos privilégio como o de aprender a datilografar... e a "ter jipe";

(ix) a 'herança' dos 'velhinhos' da CART 2772, "Os Capicuas", que deixam Fulacunda; o Dino partilha um quarto de 3 x 2 m, com mais 3 camaradas, "Os Mórmones de Fulacunda";

(x) Dino, o "cabo de reabastecimentos", o "dono da loja", tem que aprender a lidar com as "diferenças de estatuto", resultantes da hierarquia militar: todos eram clientes da "loja", e todos eram iguais, mas uns mais iguais do que outros, por causa das "divisas"... e dos "galões"...

(xi) faz contas à vida e ao "patacão", de modo a poder casar-se logo que passe à peluda; e ao fim de três meses, está a escrever 30/40 cartas e aerograma as por mês; inicialmente eram 80/100; e descobre o sentido (e a importância) da camaradagem em tempo de guerra.

(xii) como "responsável" pelo reabastecimento não quer que falte a cerveja ao pessoal: em outubro de 1972, o consumo (quinzenal) era já de 6 mil garrafas; ouve dizer, pela primeira vez, na rádio clandestina, que éramos todos colonialistas e que o governo português era fascista; sente-se chocado;

(xiii) fica revoltado por o seu camarada responsável pela cantina, e como ele 1.º cabo condutor auto, ter apanhado 10 dias de detenção por uma questão de "lana caprina": é o primeiro castigo no mato...; por outro lado, apanha o paludismo, perde 7 quilos, tem 41 graus de febre, conhece a solidariedade dos camaradas e está grato à competência e desvelo do pessoal de saúde da companhia.

(xiv) em 8/11/1972 festejava-se o Ramadão em Fulacunda e no resto do mundo muçulmano; entretanto, a companhia apanha a primeira arma ao IN, uma PPSH, a famosa "costureirinha" (, o seu matraquear fazia lembrar uma máquina de costura);

(xv) começa a colaborar no jornal da unidade, os "Serrotes" (dirigido pelo alf mil Jorge Pinto, nosso grã-tabanqueiro), e é incentivado a prosseguir os seus estudos; surgem as primeiras dúvidas sobre o amor da sua Mely [Maria Amélia], com quem faz, no entanto, as pazes antes do Natal; confidencia-nos, através das cartas à Mely as pequenas besteiras que ele e os seus amigos (como o Zé Leal de Vila das Aves) vão fazendo;

(xvi) chega ao fim o ano de 1972; mas antes disso houve a festa do Natal (vd. cap.º 34.º, já publicado noutro poste); como responsável pelos reabastecimentos, a sua preocupação é ter bebidas frescas, em quantidade, para a malta que regressa do mato, mas o "patacão", ontem como hoje, era sempre pouco;

(xvii) dá a notícia à namorada da morte de Amílcar Cabral (que foi em 20 de janeiro de 1973 na Guiné-Conacri e não no Senegal); passa a haver cinema em Fulacunda: manda uma encomenda postal de 6,5 kg à namorada;

(xviii) em 24 de fevereiro de 1973, dois dias antes do Festival da Canção da RTP, a companhia faz uma operação de 16 horas, capturando três homens e duas Kalashnikov, na tabanca de Farnan.

(xix) é-lhe diagnosticada uma úlcera no estômago que, só muito mais tarde, será devidamente tratada; e escreve sobre a população local, tendo dificuldade em distinguir os balantas dos biafadas;
(xx) em 20/3/1973, escreve à namorada sobre o Fanado feminino, mas mistura este ritual de passagem com a religião muçulmana, o que é incorreto; de resto, a festa do fanado era um mistério, para a grande maioria dos "tugas" e na época as autoridades portuguesas não se metiam neste domínio da esfera privada; só hoje a Mutilação Genital Feminina passou a a ser uma "prática cultural" criminalizada.

(xxi) depois das primeiras aeronaves abatidas pelos Strela, o autor começa a constatar que as avionetas com o correio começam a ser mais espaçadas;

(xxii) o primeiro ferido em combate, um furriel que levou um tiro nas costas, e que foi helievacuado, em 13 de abril de 1973, o que prova que a nossa aviação continuou a voar depois de 25 de março de 1973, em que foi abatido o primeiro Fiat G-91 por um Strela;

(xxiii) vai haver uma estrada alcatroada de Fulacunda a Gampará; e Fulacunda passa a ter artilharia (obus 14); e o autor faz 23 anos em 19 de maio de 1973; a 21, sai para Bissau, para ir de férias à Metrópole; um grupo de 10 camaradas alugam uma avioneta, civil, que fica por um conto e oitocentos escudos [equivalente hoje a 375,20 €];

(xxiv) considerações sobre o clima, as chuvas; em 19/5/1973, faz 23 anos... e vem de férias à Metrópole, com regresso marcado para o início de julho de 1973: regista com agrado o facto de o pai, biológico, ter trazido a sua tia e a sua avó ao aeroporto de Pedras Rubras para se despedirem dele;

(xxv) vê, pela primeira vez. enfermeiras, brancas, paraquedistas; apercebe-se igualmente guerra psicológica; queixa-se de a namorada não receber o correio; mada um texto para o jornal "O Século" que decide fazer circular pelo quartel e onde apela a uma maior união do pessoal da companhia, com críticas implícitas ao capitão Serrote por quem não morre de amores: na sequência disso, sente-se "perseguido" pelo seu comandante...


3. Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capºs 71 e 62

[O autor faz questão de não corrigir os excertos que transcreve, das cartas e aerogramas que começou a escrever na tropa e depois no CTIG à sua futura esposa. E muito menos fazer autocensura 'a posterior', de acordo com o 'politicamente correto'... Esses excertos vêm a negrito. O livro, que tinha originalmente como título "Em Nome da Pátria", passa a chamar-se "Ai, Dino, o que te fizeram!", frase dita pela avó materna do autor, quando o viu fardado pela primeira vez. Foi ela, de resto, quem o criou. ]


61º Capítulo > A DISCIPLINA EM TEMPO DE GUERRA


Se em mais de dois meses pouco divulguei, pois não tenho dados para tal e só de memória não quero escrever com o receio de errar, já no dia 31 de Outubro quase podia copiar integralmente um aerograma.

“Desejo informar-te da maneira como actualmente estamos a ser dirigidos. Já te tinha dito que o meu capitão era um homem horrível de aturar mas agora atingiu o cúmulo no que diz respeito à disciplina. Admito que não podemos andar à balda, mas depois que divulguei a merda do texto que mandei para o jornal, estamos fodidos, se a culpa é minha, quando os meus colegas souberam, vão cair-me em cima. Repara!

Somos obrigados a andar mais bem uniformizados do que se estivéssemos aí na Metrópole. Proibiu-nos de andar de calções e eles são do próprio exército, portanto fazem parte do equipamento. O cabelo tem de estar curtinho como na recruta e temos de fazer a barba todos os dias. Os sapatos ou botas tem de estar devidamente engraxados e como aqui só há caminhos de terra torna-se difícil. Passamos a ter formatura diária debaixo dum sol horrível e até passou a fazer revista às camas e às nossas coisas privadas. Nota que nem em Bissau são tão severos quanto mais aqui no mato cercados de arame farpado onde nunca vem ninguém.

Conclusão: dão-nos uma fome horrível, pois deixamos de receber abastecimentos como recebíamos, e querem que andemos todos muito bonitinhos.

Não devia mas quero frisar e digo isto, para como em muitas outras coisas mais tarde recordar, que o capitão que é detestado praticamente por todos, ordenou que a partir de agora que a formação também tem de participar nas operações de combate.

Como já te disse as operações são sempre bastante perigosas e agora, cozinheiros, mecânicos, condutores, e todos os especialistas passam a integrar os pelotões de combate. Acho que só vamos três ou quatro de cada vez.


Afirmou na parada durante a formatura que se alguém recusa-se lhe dava um tiro.

Abro aqui um parêntesis para, mais uma vez, informar os meus leitores que cedo me apercebi que, eventualmente, teria cometido um erro, divulgando o artigo do jornal. Precisamente numa reunião em que eu, como cabo condutor, lhe solicitava que assinasse o requerimento para mudar a minha carta de condução, de militar para civil, um direito que as forças armadas facultavam a todos os condutores, ele não só não o recusou, como me informou que eu iria participar na próxima operação de combate. Fiquei certo de que o caldo estava entornado.

Este tipo na verdade merecia que alguém lhe aquecesse o pelo, mas o que nós queremos é ir embora e já que o suportamos quase há dezassete meses também suportamos o resto do tempo.
Andamos aqui oprimidos por causa dele mas pode ser que a mão divina o castigue pela maneira como nos trata, podes crer que se os “turras” nos atacassem e ele lerpa-se seria um dia de festa para os Serrotes de Fulacunda.

Eu sei que não te devia dizer isto e lamento fazê-lo mas quero que fique escrito na tua correspondência se ela chegar até ti e neste aerograma envio-te algo sobre um indivíduo que fez da nossa comissão já por si dolorosa, uma comissão infernal. O capitão Serrote.

Desculpa os incómodos que te dou, vou tentar no futuro não ser tão dramático, tenho muito amor para te dar e não é um sacana dum capitão que o vai impedir.

Um beijo com a esperança que o futuro seja radioso para nós”.

Este aerograma de onde extraio o que acabo de dizer chegou normalmente.

No dia seguinte, era dia de São Martinho e eu, sendo natural de Penafiel e até porque era domingo, escrevi uma carta a falar do vinho novo e das castanhas assadas que as minhas tias e a minha avó normalmente vendiam na feira. Falei também que era a favor das reivindicações feministas. Também digo nessa carta que 90% das mulheres portuguesas eram quase escravas dos maridos.

Não o devia ter dito à minha namorada. Não percebeu a ideia e ainda hoje uma parte significativa da população portuguesa se mantém sem o perceber. Ou se é 8 ou 80. Ou subjugas ou és subjugado e não me venham cá com as merdas da igualdade de direitos. Ou manda ele ou manda ela. Muito raramente um casal avança lado a lado. Um ou outro vai na frente.


62º Capítulo > A OPERAÇAO E OS PÁSSAROS


Em caso de combate, teria de me deslocar para o abrigo dos “Lagartos” onde pertencia a uma equipa de Dilagramas. Não sabia dispará-los. A minha função era transportá-los e fornecê-los ao especialista nessa arma. Era uma G3, cujo carregador tinha balas de salva, (pelo menos foi isso que mencionei no dia em que fiz a tal operação que descrevi como um passeio pelo mato).

Não escrevi o que a seguir vou dizer, mas é das poucas coisas em que a minha memória de certeza absoluta não me trai: Junto à saída da porta de armas, o senhor capitão Serrote disse-me estas palavras que jamais esquecerei:
–  O nosso cabo teve azar. Logo na primeira vez vai para um lugar dos mais perigosos que existem aqui à volta.

Também sei qual foi a minha resposta:
– Não sou mais que os meus camaradas, meu capitão.

“Vou contar-te um passeio que dei hoje pelo mato. Pela primeira vez saí do quartel no sentido contrário ao do rio. Fui com muitos colegas meus e como eles iam para longe saímos daqui era meia-noite. Inicialmente foi chato, porque estava tão escuro, mas tão escuro que para não nos perdermos tínhamos de ir agarrados uns aos outros. Eu ia mais ou menos no meio da coluna e andávamos muito devagar porque iam batedores à frente a abrir caminho por entre a floresta. Não sei quantos km andamos mas quando paramos estava a amanhecer e era muito linda a paisagem. Pude ver de perto uma bolanha que iríamos atravessar. O capim não estava muito alto dava-me um pouco acima da cintura e ao contrário do que eu pensava não tinha agua. Para a atravessarmos tínhamos de ir a uma distância considerável uns dos outros. Quando estávamos sensivelmente a meio vi um enorme bando de pássaros que quase tapavam o sol foi uma imagem maravilhosa mas que me podia ser fatal. Enquanto olhava para os pássaros os meus colegas desapareceram. De repente vejo uma mão entre o capim a mandar-me deitar ao chão. Os meus colegas da dianteira tinham avistado dois inimigos na orla da bolanha e eu como um autêntico nabo a olhar para os pássaros mesmo na linha de tiro.

Olha querida estou aqui no quartel são e salvo e não quero falar mais nisto. Amanhã se me apetecer conto-te o resto”.



Não tenho mais nenhuma referência a esta operação em que fiquei a olhar para a paisagem e, embora me recorde de muitos detalhes, prefiro não os recordar. Aproveito somente para agradecer ao soldado que me avisou para me baixar e a um outro que repartiu comigo a sua água quando a minha acabou. Confesso que não me lembro quais foram.

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Guiné 61/74 - P18827: Parabéns a você (1468): Adriano Moreira, ex-Fur Mil Enf.º da CCAÇ 2412 (Guiné, 1968/70); Arménio Estorninho, ex-1.º Cabo Mec Auto da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70) e Joaquim Carlos Peixoto, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3414 (Guiné, 1971/73)



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Nota do editor

Último poste da série de 8 de Julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18822: Parabéns a você (1467): José Zeferino, ex-Alf Mil Inf do BCAÇ 4616 (Guiné, 1973/74)

domingo, 8 de julho de 2018

Guiné 61/74 - P18826: In Memoriam (316): João Alfredo Teixeira da Rocha, ex-Alf Mil Rec Inf do BCAÇ 2852, falecido no dia 8 de Julho de 2018 na cidade do Porto (Fernando Gouveia)

IN MEMORIAM

João Alfredo Teixeira da Rocha
Ex-Alf Mil Rec Inf do BCAÇ 2852


1. Em mensagem de hoje, dia 8 de Julho de 2018, o nosso camarada Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec Inf, Bafatá, 1968/70), traz-nos a triste notícia de mais um camarada que nos deixa.

Agora foi o João Alfredo Teixeira da Rocha, ex-Alf Mil Rec Inf do BCAÇ 2852 que esteve sediado em Bambadinca entre 1968 e 1970.

Era natural da Ilha de Moçambique.

Fazia parte de um grupo que se juntava regularmente para almoçar, onde "militavam", o António Pimentel, o Xico Allen, o Rego e o Fernando Gouveia, entre outros.

O seu corpo está em Câmara Ardente na Igreja do Foco, à Boavista, de onde sairá amanhã, dia 9, pelas 16 horas, o seu funeral.

Mais um camarada que nos deixa, mais uma família destroçada pela perda de um ente querido.

Aos seus familiares e amigos, a tertúlia deste Blogue endereça os mais sentidos pêsames.
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18725: In Memoriam (315): Arquitecto e Urbanista Luís Vassalo Rosa (1935-2018), ex-Cap Mil. CMDT da CART 1661 (Guiné, 1967)

Guiné 61/74 - P18825: (Ex)citações (341): Cânfora no vinho para tirar a "tusa"?... É um mito, diz o "intendente" João Lourenço, ex-alf mil, cmdt, PINT 9288 (Cufar, 1973/74)


Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 > Novembro de 1968 > O alf mil SAM Virgílio Teixeira (o segundo a contar da esquerda), a ajudar a descarregar garrafões de vinho, alguns dos quais têm o rótulo do Cartaxo (presumivelmente, da Adega Cooperativa do Cartaxo).

Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018) / Blogue Luís Graça & Caramadas da Guiné (2013). Todos os direitos reservados

1. Pedimos aos nossos camaradas do Batalhão de Intendência ( BINT), o Fernando Franco, o António Baia, o João Lourenço, para esclarecer esta "momentosa" questão do vinho e da cânfora... E já agora acrescentei questões que estavam associadas ao vinho:

(i) qual era a ração diária de um soldado na Guiné? Um decilitro, um copo, ou dois, à refeição? (Dois decilitros por dia dava, a multiplicar por 160 homens=1 companhia,  dava 32 litros por companhia, ou sejam, 6 garrafões de vinho de 5 litros... Ao fim do mês eram 180 garrafões, o que obrigava a uma logística complicada... transporte, armazenamento...

(ii) como é que o vinho era transportado desde Bissau? Em garrafões, de 5 litros, 20 litros? Em meias pipas? Ou outro vasilhame?

(iii) o vinho levava aditivos? Cânfora, por exemplo? Era batizado, com "água do Geba"?

(iv) lembram-se de alguma marca de vinhos, como por exemplo, o "Cartaxo"?

Obrigado, em nome da Tabanca Grande e em honra da memória dos nossos valorosos "intendentes". LG


2. Primeirsa resposta de um "intendente", a do João Lourenço, que foi alf mil int, cmdt do trágico PINT 9288, Cufar, 1973/74 (*):

Bom dia, Luís .

A cânfora é, quanto a mim, e fui responsável pelo tacho, fui comandante de um PINT, um mito.

O vinho era fornecido pela MM [Manutenção Militar] em bidões de 215 lts, salvo erro, e usado assim mesmo, devido ao calor havia por vezes o hábito de usar um bidão sem a tampa onde eram colocadas barras de gelo feitas com água tratada e potável claro, o que dava sobras....

Havia algum controle para evitar grandes "bubas". Em especial em Bissau, no mato... dependia.
Um alfa bravo  (**)

João Lourenço
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(...) Meu caro Luís,


"Tropecei" no teu blogue e gostava não só de me encontrar com o pessoal das nossas "férias tropicais" como de pertencer ao grupo e ir ao almoço de dia 20.

Fui o 1º Comandante do PINT 9288, estive lá em Cufar até ao terrível dia da morte do meu Furriel Pita e do Jeová no mesmo Jipe que eu próprio tinha conduzido na estrada para o porto interior nesse dia de manhã cedo, antes de ir em serviço a Bissau chamado pelo Cap Manuel Duran Clemente, meu 2º Comandante.

Estive no Hospital com o Pita o pouco tempo em que o coração dele resistiu ao destino que era inevitável. Hoje resta apenas a memória gravada no monumento em Belém de homenagem a todos os que deram a vida. Tal como a maioria, nunca soube o nome do Jeová, penso que estará homenageado no mesmo monumento.

Convivi com a CCaç 4740, o CAOP 1, ainda me lembro de alguns, poucos, bons momentos, como a célebre recepção aos piras em que lhes demos arroz com marmelada..., antes de vir a nossa janta reforçada, etc.

Lembro-me bem do Baía e de mais alguns, havia o Furriel Cardoso, um moço do Norte que era Bate-chapas... um 1º Cabo que ficou no BINT de Bissau, que era aqui da Figueira onde habito agora e que gostava de voltar a encontrar,etc." (...)

Guiné 61/74 - P18824: Efemérides (288): Homenagem aos Combatentes do Ultramar do Concelho de Viana do Castelo, levado a efeito no passado dia 30 de Junho de 2018, em Barroselas (Sousa de Castro)

1. Em mensagem do dia 3 de Julho de 2018, o nosso camarada Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74) enviou-nos para publicação a notícia da Homenagem aos Combatentes do Ultramar do Concelho de Viana do Castelo, levada a efeito no passado dia 30 de Junho de 2018, em Barroselas.

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Nota do editor

Último poste da série de 5 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18814: Efemérides (287): O 10 de junho em Ponte de Lima: vibrante homenagem aos Limianos mortos na Grande Guerra e na Guerra Colonial (Mário Leitão)

Guiné 61/74 - P18823: Blogpoesia (574): "Os desafios de viver", "Ao nascer do dia..." e "Um outro piano negro...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Os desafios de viver

Largar o cordão umbilical e começar a respirar, sorver da mãe o pão de leite sem ter de o ferver.
Olhar sorrindo quem nos dá tudo, até as mãos, para não cair ao aprender a andar.
Saber a usar a boca para dizer olá aos pais em cada manhã.
Descobrir que só usando os pés se chega a todo o lado, custe lá o que custar.
Ver que na vida nem tudo é bom e saber ultrapassar sem se deixar vencer.
Voltar atrás para tomar o bom caminho e aprender bem a lição de cada erro.
Saber calar para ouvir quem sabe mais do que nós sobre aquele assunto.
Perdoar quem nos fez mal sem lhe guardar rancor.
Acudir a quem não tem mais ninguém para o salvar.
Saber pedir quando chegar a nossa vez e nunca o esquecer…

Ouvindo "Sinfonia n.º 3 de Brahms"
Mafra, 7 de Julho de 2018
7h00m
Jlmg

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Ao nascer do dia…

É a vida que se renova.
O descanso regenerou-nos as forças e energias.
A majestade solene do nascer do dia, com sol ou não, assombra a nossa mente e nos impele para a beleza.
Despertam em nós as boas tendências, por bem, inscritas pela natureza.
Conforme o talento de cada um.
Escrever, pintar, musicar ou operar na oficina.
Tudo artes da nossa forja.
Neste momento, um grande clarão de luz decora a tapada à minha frente.
Apontando a imensidão dos céus.
Como o limite da nossa existência.
Uma dezena de cavalos viçosos já se entrega à sua sorte de mesa posta, em plena liberdade.
Eu, aqui, oiço as notas veementes dum piano habilidoso, pelas mãos duma pianista, quebrando em cacos toda a minha indiferença…

Ouvindo “Fantasias de Mendelsson”
Mafra, 6 de Julho de 2018
7h6m
Jlmg

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Um outro piano negro…

Um outro piano negro começou a tocar.
Suas teclas desfecham flechas com matizes de luar e a pujança forte dum mar enfurecido contra a praia faminta à sua espera.
Tem artes nunca vistas. Outras eras.
Outras luzes.
Se apagaram como mestras perante o brilho dos novos talentos que ajudaram a surgir.
Como soam bem as teclas negras deste piano velho adormecido…

Ouvindo Maria Grinberg plays Grieg Holberg Suite Op. 40
Mafra, 6 de Julho de 2018
7h16m
Jlmg
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 Nota do editor

Último poste da série de 29 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18791: Blogpoesia (573): Mulher (ou lembranças da minha terra), de Júlio Corredeira (Mário Santos, ex-1.º Cabo Especialista MMA da BA 12)

Guiné 61/74 - P18822: Parabéns a você (1467): José Zeferino, ex-Alf Mil Inf do BCAÇ 4616 (Guiné, 1973/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 4 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18808: Parabéns a você (1466): Jorge Ferreira, ex-Alf Mil Inf da 3.ª CCAÇ (Guiné, 1961/63)