quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Guiné 61/74 - P18886: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (9): Bolama e a Fonte Nova de São João (1945)



Foto nº 1A >  Guiné-Bissau > Bolama: Fonte Nova São João, 1945 (painel em azulejo). 28 de janeiro de 2018.



Foto nº 2 A  >  Guiné-Bissau > 28 de janeiro de 2018 > Bolama, vista de barco (I), em viagem a partir de São João


Foto nº 2 B > Guiné-Bissau > 28 de janeiro de 2018 > Bolama, vista de barco (II), em viagem a partir de São João


Foto nº 2  > Guiné-Bissau > 28 de janeiro de 2018 > Bolama, vista de barco (III), em viagem a partir de São João


Foto nº  3A > Guiné-Bissau > Bolama > 28 de janeiro de 2018 >Sede da AMI -  




 Foto nº 2 B > Guiné-Bissau > 28 de janeiro de 2018 > Bolama > Pedesral da estátua de Ulisses Grant, desparecida; ao fundo, a sede a da AMI.


Foto nº 1 >  Guiné-Bissau > Bolama > 28 de janeiro de 2018 > Fonte Nova São João, 1945.


Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro (2018) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem do nosso amaigo e camarada Patrício Ribeiro, empresário (IMPAR Lda,. Bissau)

Data . 27/07/2018
Assunto - Fonte de São João de Bolama


Bom dia, Luís

Já que estamos com fontes... aqui vai mais uma... a de S. João de Bolama (foto nº 1), tirada este ano.

Junto fotos da viagem para Bolama a partir de S. João (Foto nº 2), assim local da estátua do Ulisses Grant,  em frente á casa da Fundação AMI [, Assistência Médica Internacional], em Bolama (foto nº 3),

Os passeios pela Guiné, "enquanto temos pernas", ajuda-nos a libertar os nossos fantasmas, e a sentirmos-nos jovens.

Os comentários às fotos, são os vossos.

Abraço

Patricio Ribeiro

[ Patrício Ribeiro é um português, natural de Águeda, criado e casado em Angola, Huambo, ex-fuzileiro em Angola durante a guerra colonial, a viver na Guiné-Bissau desde meados dos anos 80 do séc. passado, fundador, sócio-gerente e director técnico da firma Impar, Lda.]

Nota do editor:

Último poste da série > 21 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18863: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (8): Os meus passeios pelo Boé - Parte II: 1 de julho de 2018: Béli (e a Fundação Chimbo Daribó), Dandum, Madina do Boé, Canjadude...

terça-feira, 31 de julho de 2018

Guiné 61/74 - P18885: Álbum fotográfico de António Ramalho, ex-fur mil at cav, CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71) - Parte VII: As chaimites chegam a Bissau em 1971


Foto nº 42 > Chegada das Chaimites a Bissau [, as primeiras, V-200, para teste,  chegam em finais de 1970 e depois a partir de 1971 vão substitundo algumas das nossas obsoletas viaturas blindadas, mas revelam alguns problemas, a nível da blindagem e do armamento


Foto nº 43.>  Chaimites em Parada.


Foto nº 44 >  Chaimites evoluindo no estuário  Geba em Bissau. À esquerda, o edifício das Alfãndegas.


Foto nº 55 > AM [autometralhadora] Panhard, companheira insubstituível nas nossas colunas.

Fotos (e legendas): © António Ramalho (2018) . Todos os direitos reservados (Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)

1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do António Ramalho, ex-fur mil at cav, CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71), natural da Vila de Fernando, Elvas,  membro da Tabanca Grande, com o nº 757.

Sobre a construção e a operação deste veículo blindado nacional (,nomeadamente nos últimos anos da guerra do ultramar / guerra colonial), há um trabalho de referência, do investigador português Pedro Manuel Monteiro ("Berliet, Chaimite e UMM - Os Grandes Veículos Militares Nacionais",
 edição: Contra a Corrente, abril de 2018, 168 pp.).

Sobre as Chaimites no TO da Guiné, ver também o testemunho do ex-major de cavalaria João Luíz Mendes Paulo, autor de "Elefante Dundum – Missão, testemunho e reconhecimento” (edição de autor, 2006).
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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P18884: Estórias do Juvenal Amado (60): O azar das margaridas



1. Em mensagem de 13 de Julho de 2018, o nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), autor do livro "A Tropa Vai Fazer de ti um Homem", enviou-nos mais uma das suas estórias.


ESTÓRIAS DO JUVENAL AMADO


59 - O AZAR DAS MARGARIDAS

Juvenal Amado

Costumo dar umas voltas a pé aqui pelo sítio onde moro. Umas vezes aproveito para ir à farmácia, ou supermercado, levar ou trazer coisas da costureira. Umas vezes vou sozinho de auscultadores para ouvir a Antena 1, outras com a minha mulher porque é sempre bom fazer estes passeios acompanhado.

Gaivotas e pombos cruzam os céus, em comparação não vi andorinhas por aqui este ano.

À medida que passo pelas ruas da primeira cidade de Abril vou apreciando como é diferente dos sítios onde morei. A falta de limpeza das ruas motivado pelo excesso populacional, a falta de civilidade que raia o incompreensível com papeis, plásticos, que redopiam ao vento e se espalham pelas ruas e caneiros.

Mas a riqueza étnica com que nos cruzamos a cada passo, dá-nos a ideia que é viver a par com África. Ao envelhecimento da população branca respondem a quantidade de crianças e jovens negros, ciganos de origem romena, brasileiros, etc.

No trabalho de jardinagem são as mulheres negras bem como nas limpezas, nos cafés, restaurantes são brasileiros e os chineses tomaram conta do comércio de bairro, indianos pequenas mercearias, quanto aos romenos para além de terem filhos com fartura não sei o que fazem na verdade, mas são felizes nas suas vidas pouco sujeitas a imposições sociais.

Nota-se pelos costumes que há populações oriundas da Guiné, de Cabo Verde e Angola. A par de velhos com olhar perdido talvez de melancolia, é engraçado ver passar crianças com o cabelo às trancinhas, com contas coloridas nas pontas e algumas mães com os filhos nas costas tipo Racal, hábito bem conhecido das Fulas. Nos adolescentes imperam os hábitos importados dos states, com roupas e bonés tipo rappers, que publicitam clubes futebol americano ou mesmo de basebol, coisa que por cá é um “ignoro”, mas modas são assim e não vale a pena pôr mais na escrita.

No meu prédio, uma moradora queixava-se do barulho que a vizinha de cima fazia logo de manhã a batucar. Dizia a queixosa para a outra, que não sabia o que ela fazia para provocar aquele barulho. Pensei para mim, que talvez a tal vizinha confeccionasse alguma coisa no pilão ou estivesse a fazer “funge” (acompanhamento típico angolano) para o marido e filhos.

Aos Sábados de Sol coisa que tem andado arredada, é ver a criançada a jogar à bola aqui no pátio na linha de prédios, que noutros tempos foi resguardado, para que hoje haja um local onde os carros não entram. Mas não há bela sem senão, pois no resto-chão mora uma velha, que de bengala em punho, qual condestável, entende que ali não é sítio para jogar a bola e passa a vida a ameaçar a garotada com a policia e com a bengala. Bem, o policiamento da velhota não é bem encarado por todos e já resultou em troca de galhardetes entre aos prós e os contra sem Fátima Campos a moderar os debates.

Estes lugares vulgo florestas de cimentos, que há quase cinquenta anos afastaram muitos lisboetas da sua cidade com promessas de melhores condições de alojamento na periferia, onde puderam comprar apartamento, onde criaram os filhos e hoje alguns cuidam dos netos, bem felizes uns e outros. Na verdade há um tempo para tudo mas não deixam de ser efectivamente cimento e mais cimento, não é fácil viver em especial para os mais velhos que vivem sozinhos, por vezes em equilíbrio instável.

Mesmo assim é visível o esforço da Câmara Municipal no cuidar dos poucos espaços com relva.

Hoje, quando passava, vi que com a relva brotam milhares de margaridas com as suas cabecitas amarelas e pétalas brancas. Se lhes dessem tempo também algumas papoilas tingiriam o verde de vermelho empoleirado nos seus delicados caules pretos.
Mas as cidades são normalmente desprovidas destes pruridos e à mediada, que também não se condoem com as necessidades individuais de cada um, também as flores, que teimam nascer livres e selvagens, têm os dias contados. Quando regressei a casa e passei pelo jardim, vi que tinham andado a cortar a relva. Pensei como era diferente ver, como ainda se vê, nas pequenas cidades e vilas os terrenos baldios polvilhadas de flores silvestres, como quando íamos para a escola e apanhávamos e sugávamos a sua seiva avinagrada.

A relva tinha sido aparada e as margaridas tinham sido erradicadas no “holocausto” jardineiro e só se viam os caules em pé misturados com a relva aparada.

O tempo é severo, vai e não volta e também passou o tempo das “margaridas “ só que elas renascem sempre, quanto a nós há várias opiniões não condicentes.

Um abraço
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18300: Estórias do Juvenal Amado (58): Histórias com Pharmácias

Guiné 61/74 - P18883: Parabéns a você (1474): Manuel Augusto Reis, ex-Alf Mil Cav da CCAV 8350 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 30 de Julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18879: Parabéns a você (1473): Amaral Bernardo, ex-Alf Mil Médico do BCAÇ 2930 (Guiné, 1970/72); Jaime Mendes, ex-Soldado At Art da CART 1742 (Guiné, 1967/69); Júlio Costa Abreu, ex-1.º Cabo Comando do Grupo Centuriões (Guiné, 1964/66) e Victor Tavares, 1.º Cabo Caçador Paraquedista da CCP 121 (Guiné, 1972/74)

segunda-feira, 30 de julho de 2018

Guiné 61/74 - P18882: Fotos à procura de... uma legenda (107): uma imagem que vale 1000 palavras... (Virgílio Teixeira)



Lisboa > Belém > Forte do Bom Sucesso > Monumento aos Combatentes do Ultramar > 2014 > À esquerda, o Virgílio Teixeira, à direita o José Lapa, camaradas da CCS/ BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)

[Obra do escultor João Antero de Almeida e de um conjunto de arquitectos, Francisco José Ferreira Guedes de Carvalho, Helena Albuquerque e Sidónio Costa Cabral, este memorial "Aos Combatentes do Ultramar" viu lançada a sua primeira pedra em 12 de Maio de 1993, tendo sido inaugurado em 15 de Janeiro de 1994. "Realizar um acto de justiça aos Combatentes que serviram a Pátria no Ultramar", "exercer uma acção cultural, patriótica e pedagógica na defesa de Portugal", "favorecer uma função nacional, de prestação de honras solenes à memória dos Combatentes, em datas históricas consagradas ou na ocasião de visitas de Estado ao nosso País" são os objectivos patentes na sua memória descritiva e que presidiram à construção deste elemento. 

Bem integrado no Forte do Bom Sucesso, a sua concepção abstracta, de grande sobriedade e fortemente geométrica, baseada numa ideia de grande pureza formal e simbólica, é traduzida através de um pórtico monumental, cuja forma triangular de linhas simples, exibe uma verticalidade acentuada. Trata-se de uma escultura de pedra, incluindo metal e uma zona espelhada, inserida num lago, cuja água simboliza o afastamento ou a distância a que os combatentes se encontravam, exibindo no centro do monumento a "Chama da Pátria".] [Fonte:  Câmara Municipal de Lisboa > Equipamentos > Lago do Monumento aos Combatentes do Ultramar]

Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2014).  Todos os direitos reservados [Edição e legendagem compçlementar: Blogue Luís Graça & Caramadas da Guiné]


1. Mensagem, com data de 20 do correntem,  do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) [natural do Porto, vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado; tem já cerca de 7 dezenas de referências no nosso blogue]:


Luis, só mais esta foto,  do meu álbum, tenho tantas, andam por aí espalhadas sem ter um tema para as meter. (*)

No dia em que estive com o Batalhão na Moita [, almoço-convívio da CCS&BCQAÇ 1933, em 2014, na Baixa da Banheira]  (**), este camarada, o Lapa, era condutor auto do grupo dos meus amigos, e também estofador.

Montou em Lisboa uma empresa de sucesso de decorações e ainda continua com o negócio, e vive bem.

Foi ele que me foi buscar ao comboio, levou-nos e trouxe-nos para Lisboa, e antes de embarcar em Santa Apolónia fez o favor de me ir mostrar este Monumento que parece uma tumba, gélida, arrepia os cabelos da cara e dos braços.

Devo-lhe muito este favor, e aqui ficou a imagem de novos tempos. Infelizmente está um pouco abandonada. Ainda consegui ver alguns nomes conhecidos, gravados naquelas paredes, por exemplo o Gamboa.

O José Lapa disse que só por amizade me fez isto, porque normalmente não vai lá, porque também fica transtornado, como eu fiquei. Até a minha mulher não ficou indiferente.

É para quando houver lugar.

Mais um abraço e bom fim de semana.

Virgilio

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 7 de julho de  2018 > Guiné 61/74 - P18820: Fotos à procura de...uma legenda (106): O milagre do vinho, ontem, do Cartaxo (que chegava ao Cacheu...), hoje de... Pias, que entope as prateleiras das nossas superfícies comerciais, em caixas de cartão... (Virgílio Teixeira / Luís Graça)

Guiné 61/74 - P18881: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capítulos 63 e 64: que grande burro!, aposto que nenhuma mulher acreditava nesta treta [, o meu voto de castidade]...





Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Aerograma do Natal de 1973


Foto (e legenda): © José Claudino da Silva (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da pré-publicação do próximo livro (na versão manuscrita, "Em Nome da Pátria") do nosso camarada José Claudino Silva [foto atual à esquerda] (*):

(i) nasceu em Penafiel, em 1950, "de pai incógnito" (como se dizia na época e infelizmente se continua a dizer, nos dias de hoje), tendo sido criado pela avó materna;


(ii) trabalhou e viveu em Amarante, residindo hoje na Lixa, Felgueiras, onde é vizinho do nosso grã-tabanqueiro, o padre Mário da Lixa, ex-capelão em Mansoa (1967/68), com quem, de resto, tem colaborado em iniciativas culturais, no Barracão da Cultura;

(iii) tem orgulho na sua profissão: bate-chapas, agora reformado; completou o 12.º ano de escolaridade; foi um "homem que se fez a si próprio", sendo já autor de dois livros, publicados (um de poesia e outro de ficção);

(iv) tem página no Facebook;  é membro n.º 756 da nossa Tabanca Grande.


2. Sinopse dos postes anteriores:

(i) foi à inspeção em 27 de junho de 1970, e começou a fazer a recruta, no dia 3 de janeiro de 1972, no CICA 1 [Centro de Instrução de Condutores Auto-rodas], no Porto, junto ao palácio de Cristal;

(ii) escreveu a sua primeira carta em 4 de janeiro de 1972, na recruta, no Porto; foi guia ocasional, para os camaradas que vinham de fora e queriam conhecer a cidade, da dos percursos de "turismo sexual"... da Via Norte à Rua Escura;

(iii) passou pelo Regimento de Cavalaria 6, depois da recruta; promovido a 1.º cabo condutor autorrodas, será colocado em Penafiel, e daqui é mobilizado para a Guiné, fazendo parte da 3.ª CART / BART 6250 (Fulacunda, 1972/74);

(iv) chegada à Bissalanca, em 26/6/1972, a bordo de um Boeing dos TAM - Transportes Aéreos Militares; faz a IAO no quartel do Cumeré;

(v) no dia 2 de julho de 1972, domingo, tem licença para ir visitar Bissau, e fica lá mais uns tempos para um tirar um curso de especialista em Berliet;

(vi) um mês depois, parte para Bolama onde se junta aos seus camaradas companhia; partida em duas LDM para Fulacunda; são "praxados" pelos 'velhinhos' (ou vê-cê-cês), os 'Capicuas", da CART 2772;

(vii) faz a primeira coluna auto até à foz do Rio Fulacunda, onde de 15 em 15 dias a companhia era abastecida por LDM ou LDP; escreve e lê as cartas e os aerogramas de muitos dos seus camaradas analfabetos;

(viii) é "promovido" pelo 1.º sargento a cabo dos reabastecimentos, o que lhe dá alguns pequenos privilégio como o de aprender a datilografar... e a "ter jipe";

(ix) a 'herança' dos 'velhinhos' da CART 2772, "Os Capicuas", que deixam Fulacunda; o Dino partilha um quarto de 3 x 2 m, com mais 3 camaradas, "Os Mórmones de Fulacunda";

(x) Dino, o "cabo de reabastecimentos", o "dono da loja", tem que aprender a lidar com as "diferenças de estatuto", resultantes da hierarquia militar: todos eram clientes da "loja", e todos eram iguais, mas uns mais iguais do que outros, por causa das "divisas"... e dos "galões"...

(xi) faz contas à vida e ao "patacão", de modo a poder casar-se logo que passe à peluda; e ao fim de três meses, está a escrever 30/40 cartas e aerograma as por mês; inicialmente eram 80/100; e descobre o sentido (e a importância) da camaradagem em tempo de guerra.

(xii) como "responsável" pelo reabastecimento não quer que falte a cerveja ao pessoal: em outubro de 1972, o consumo (quinzenal) era já de 6 mil garrafas; ouve dizer, pela primeira vez, na rádio clandestina, que éramos todos colonialistas e que o governo português era fascista; sente-se chocado;

(xiii) fica revoltado por o seu camarada responsável pela cantina, e como ele 1.º cabo condutor auto, ter apanhado 10 dias de detenção por uma questão de "lana caprina": é o primeiro castigo no mato...; por outro lado, apanha o paludismo, perde 7 quilos, tem 41 graus de febre, conhece a solidariedade dos camaradas e está grato à competência e desvelo do pessoal de saúde da companhia.

(xiv) em 8/11/1972 festejava-se o Ramadão em Fulacunda e no resto do mundo muçulmano; entretanto, a companhia apanha a primeira arma ao IN, uma PPSH, a famosa "costureirinha" (, o seu matraquear fazia lembrar uma máquina de costura);

(xv) começa a colaborar no jornal da unidade, os "Serrotes" (dirigido pelo alf mil Jorge Pinto, nosso grã-tabanqueiro), e é incentivado a prosseguir os seus estudos; surgem as primeiras dúvidas sobre o amor da sua Mely [Maria Amélia], com quem faz, no entanto, as pazes antes do Natal; confidencia-nos, através das cartas à Mely as pequenas besteiras que ele e os seus amigos (como o Zé Leal de Vila das Aves) vão fazendo;

(xvi) chega ao fim o ano de 1972; mas antes disso houve a festa do Natal (vd. cap.º 34.º, já publicado noutro poste); como responsável pelos reabastecimentos, a sua preocupação é ter bebidas frescas, em quantidade, para a malta que regressa do mato, mas o "patacão", ontem como hoje, era sempre pouco;

(xvii) dá a notícia à namorada da morte de Amílcar Cabral (que foi em 20 de janeiro de 1973 na Guiné-Conacri e não no Senegal); passa a haver cinema em Fulacunda: manda uma encomenda postal de 6,5 kg à namorada;

(xviii) em 24 de fevereiro de 1973, dois dias antes do Festival da Canção da RTP, a companhia faz uma operação de 16 horas, capturando três homens e duas Kalashnikov, na tabanca de Farnan.

(xix) é-lhe diagnosticada uma úlcera no estômago que, só muito mais tarde, será devidamente tratada; e escreve sobre a população local, tendo dificuldade em distinguir os balantas dos biafadas;

(xx) em 20/3/1973, escreve à namorada sobre o Fanado feminino, mas mistura este ritual de passagem com a religião muçulmana, o que é incorreto; de resto, a festa do fanado era um mistério, para a grande maioria dos "tugas" e na época as autoridades portuguesas não se metiam neste domínio da esfera privada; só hoje a Mutilação Genital Feminina passou a a ser uma "prática cultural" criminalizada.

(xxi) depois das primeiras aeronaves abatidas pelos Strela, o autor começa a constatar que as avionetas com o correio começam a ser mais espaçadas;

(xxii) o primeiro ferido em combate, um furriel que levou um tiro nas costas, e que foi helievacuado, em 13 de abril de 1973, o que prova que a nossa aviação continuou a voar depois de 25 de março de 1973, em que foi abatido o primeiro Fiat G-91 por um Strela;

(xxiii) vai haver uma estrada alcatroada de Fulacunda a Gampará; e Fulacunda passa a ter artilharia (obus 14); e o autor faz 23 anos em 19 de maio de 1973; a 21, sai para Bissau, para ir de férias à Metrópole; um grupo de 10 camaradas alugam uma avioneta, civil, que fica por um conto e oitocentos escudos [equivalente hoje a 375,20 €];

(xxiv) considerações sobre o clima, as chuvas; em 19/5/1973, faz 23 anos... e vem de férias à Metrópole, com regresso marcado para o início de julho de 1973: regista com agrado o facto de o pai, biológico, ter trazido a sua tia e a sua avó ao aeroporto de Pedras Rubras para se despedirem dele;

(xxv) vê, pela primeira vez. enfermeiras, brancas, paraquedistas; apercebe-se igualmente guerra psicológica; queixa-se de a namorada não receber o correio; mada um texto para o jornal "O Século" que decide fazer circular pelo quartel e onde apela a uma maior união do pessoal da companhia, com críticas implícitas ao capitão Serrote por quem não morre de amores: na sequência disso, sente-se "perseguido" pelo seu comandante...

(xxvi) vai de baixa médica para Bissau, mas não tem lugar no HM 241; passa o Natal de 73 e o Ano Novo de 1974 nos Adidos; conhece a "boite" Chez Toi onde vê atuar alguns elementos do grupo musical Pop Five Music Incoporated, a cumprir o serviço militar na Guiné.


3. Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capºs 63 e 64

[O autor faz questão de não corrigir os excertos que transcreve, das cartas e aerogramas que começou a escrever na tropa e depois no CTIG à sua futura esposa. E muito menos fazer autocensura 'a posterior', de acordo com o 'politicamente correto'... Esses excertos vêm a negrito. O livro, que tinha originalmente como título "Em Nome da Pátria", passa a chamar-se "Ai, Dino, o que te fizeram!", frase dita pela avó materna do autor, quando o viu fardado pela primeira vez. Foi ela, de resto, quem o criou. ]


63º Capítulo  > Natal e  Passagem de Ano 1973 


Adoeci e fui evacuado para o hospital, em Bissau. Não havia camas vagas na enfermaria e fui parar ao quartel dos Adidos, medicado com meia dúzia de comprimidos e um xarope. Não informei nenhum familiar, nem escrevi a ninguém sobre o meu estado de saúde. O meu mapa ficou em branco durante três semanas.

Apenas tenho comigo uma foto da noite de Natal de 1973 para provar que a passei nesse local. Embora não goste, vou contar de memória, e muito resumidamente, o que se passou na noite de Natal.

Os únicos soldados estranhos à unidade que estavam nos Adidos eram eu e mais cinco colegas. Falhara o nosso regresso a Fulacunda que devia acontecer antes do Natal, por falta de transporte. Não sabendo que não iríamos regressar ao quartel, eu e os meus colegas gastámos o dinheiro quase todo na boémia, em Bissau.

Orgulho-me do que fiz nessa época, juntamente com um sargento que nunca conhecera antes. Alugámos um táxi e fomos ao quartel-general, onde o cabo cozinheiro que ficou a substituir o meu amigo Castro nos arranjou batatas, bacalhau, grão-de-bico, ovos e me emprestou mil escudos. 

Dividindo os gastos com o senhor sargento, comprámos bebidas e vários produtos ligados ao Natal, que conseguimos encontrar nas lojas de Bissau. Com autorização do oficial de dia nos Adidos, pudemos usar a cozinha e recordo que cozinhámos em terrinas e não em panelas. O certo foi que mais uma vez festejei a ceia de Natal em franco convívio e, podem acreditar, também nessa noite as bebidas chegaram para mais de cem soldados dessa unidade que eu e o sargento andámos a distribuir por quem estava de serviço.

Acordei de manhã na cama do sr. oficial de dia com uma garrafa de whisky ao lado. Foi ele que mandou o ordenança deitar-me completamente embriagado.

Obrigado, sargento.

Na noite de passagem de ano de 1973 para 74, ainda pior estávamos. Tinham-nos dito que regressaríamos antes do fim do ano sem falta e isso não aconteceu. O dinheiro que ainda restava do empréstimo teve de chegar para todos. Comemos o rancho do quartel.

No dia 3 de Janeiro de 74 já estava em Fulacunda e no dia seguinte voltava ao normal. Se é que conto a seguir pode entrar nos padrões da normalidade!


64º Capítulo  > A boite Shá Tuá [Chez Toi]


“Deves estranhar só teres recebido dois aerogramas meus neste tempo todo e um apenas dizendo que ia para Bissau e outro com desenhos alusivos à quadra natalícia”.

A realidade é esta: durante um tempo achei que não me safava e decidi cortar com tudo.

- Penso que não devo andar a ficar muito bom da tola -disse eu ao 1º sargento Santos.

“Estive doente e devo voltar para o hospital outra vez em breve parece que será logo no inicio de Fevereiro. Ninguém me diz o que tenho, ou não sabem, ou não querem dizer. Sei que estou a ficar outra vez com pouco peso, se morrer que se foda estou farto disto.

Agora temos de viajar de barco porque derrubam os aviões. Disseram-me que os “turras” tem uma arma nova que se chama RPG 7, decerto é com essa arma que derrubam os nossos aviões. Ou decerto até tem mísseis. Até o Zé Leal que foi passar uns dias a Bissau em gozo de férias, foi no barco que eu vim. Tive pena dele não ir quando eu estava lá.

Ao menos tenho aqui aquele chato do Zé Alves e os outros amigos do costume, mais o tal que conheceu a namorada por carta que também tem nome. É outro Silva.

Durante os dias que estive em Bissau fui a um local frequentado pelas chamadas mulheres da vida fácil é uma boite (diz-se buáte) que se chama Shá Tuá mas fui lá só para ouvir música. Está lá um conjunto formidável cujo baterista é um rapaz chamado Álvaro Azevedo que ainda é primo dos meus familiares de Amarante e que era o baterista dos Pop Five Music Incorporated. Só estive lá mais ou menos duas horas mas nem dancei contentei-me apenas em ouvir musica e em tomar umas bebidas.

Não posso de maneira alguma dizer que naquele ambiente não senti desejo de ter relações sexuais, senti sim até porque as boites existem mesmo para isso, simplesmente sempre que se trate de mulheres que não sejas tu eu não levo ao fim os meus desejos, contigo custa-me resistir mas se não estás a meu lado está a tua imagem e pelo muito que te amo não posso de maneira alguma trair-te. Confesso que nunca fui assim e até era bastante mais volúvel, mas agora sou teu e apenas vivo para ti, portanto podes ter confiança em mim, eu amo-te e apenas os teus braços é que me abrigam pois só envolto neles tenho a certeza dum amor cheio de pureza”.


Que grande burro! Aposto que nenhuma mulher acreditava nesta treta. Então a Amélia é que nem pensar!

Guiné 61/74 - P18880: Notas de leitura (1087): “Máscaras de Marte”, por Nuno Mira Vaz; Fronteira do Caos Editores, 2018 (2) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Maio de 2018:

Queridos amigos,

É um romance invulgar, inegavelmente com suporte histórico. Assistimos ao evoluir de mentalidades de homens formados para o dever e para o cumprimento estrito na fidelidade militar. Eles vão evoluindo num cenário de guerra, móvel, caprichoso, cobrindo-se de glória e ruminando a dor de perdas, assistiremos ao fragor das operações e aos gritos dos sinistrados. E da fé inabalável chegaremos à compreensão de que aqueles combates tinham chegado a um beco sem saída e que depois do fim da guerra houvera dispersão, desistência e silêncios, muitos silêncios.

Oxalá que Nuno Mira Vaz não perca este filão do romance com paraquedistas, esta operação ganhou-a bem.

Um abraço do
Mário


Um romance sobre os paraquedistas no declínio do Império (2)

Beja Santos

“Máscaras de Marte”, de Nuno Mira Vaz, Fronteira do Caos Editores, 2018, é um romance histórico, com uma arquitetura bem escudada numa memória que vem do Colégio Militar, grandes amigos de armas encontram-se na Guiné no período de 1972 a 1974, a narrativa percorre as lides e andanças desses Oficiais Paraquedistas e suas tropas, há a crueza das operações, a brutalidade dos sinistros, a farronca daqueles que querem ser heróis à força, a mudança de mentalidades daqueles que acreditaram piamente no dever e na fidelidade aos princípios e que se apercebem que está ali um mundo vulcânico, um parturejar de país, que nenhum espírito combatente já pode obstar.

A roda da fortuna deu uma guinada para os acontecimentos que ocorreram a partir de 25 de março de 1973, um míssil terra-ar Strela marca a sua presença no teatro de operações, de forma sucinta o autor relata tais factos e descreve o que está a mudar, em tal onda de perplexidade, o PAIGC concentra efetivos nas fronteiras Norte e Sul, vai começar o inferno em Guidage, Guilege e Gadamael.
Escreve Nuno Mira Vaz:

“O deslocamento do esforço militar português para Sul acabou por ser aproveitado pelo PAIGC junto à fronteira Norte. Sem que tivesse transpirado pitada para os Serviços de Informações Militares ou para a DGS, o PAIGC concentrou seis centenas de guerrilheiros em redor de Guidage, mantendo como ponto de apoio principal para a manobra de cerco a base de Cumbamory, em território senegalês. Aqui, à ordem do Comandante Francisco Mendes (Chico Té) e tendo como comissário político Manuel dos Santos (Manecas), permaneciam o Grupo de Foguetões do Norte, um grupo de artilharia e um grupo de reconhecimento. Na zona de Cufeu, barrando a estrada entre Binta e Guidage, instalou-se o Corpo de Exército 199/B/70; na região de Facar, a Oeste, posicionou-se o Corpo de Exército 199/A/70; e o Corpo de Exército 199/E/70 dividiu-se em dois segmentos: um em reforço do Corpo de Exército 199/B/70 na zona de Cufeu e outro na defesa da base de Cumbamory”.

Em Guidage estão a CCAÇ 19 e um pelotão de artilharia, são 200 elementos. A partir de 8 de maio, irá apertar-se o cerco com minas anticarro, colunas de reabastecimento que são obrigadas a regressar, emboscadas inclementes, bombardeamentos sobre o destacamento, impede-se o abandono com enérgica intervenção de um destacamento de fuzileiros e graças à energia indómita do Tenente-Coronel Correia de Campos. A 17 de maio, vai uma Companhia de Paraquedistas que sai de Binta e que se desloca a corta-mato, mas o inimigo está à espreita, é dia de luto para a Companhia, mas entram em Guidage.

Há igualmente a retirada de Guilege e os tempos de provação que se irão viver em Gadamael, no meio de um fogo infernal desembarca ali, vinda expressamente de Caboxanque, outra Companhia de Paraquedistas. Neste ínterim, a artimanha montada pelo Capitão Rosado, que acumulara armas do PAIGC que seriam depois referenciadas em sucessivos relatórios eivados dos seus autoproclamados feitos heróicos e com apreensão de armamento do PAIGC é descoberta pelo Major Alves, o aldrabão de feira e pesporrente Rosado pretende vingar-se do Cabo Quarteleiro Azinheirinha, o autor deixa-nos aqui páginas expressivas, assim:

“Percebeu então que Azinheirinha, produto das planícies e amante da quietude e do silêncio, era um falso lento: ao mesmo tempo que recuava um passo, fazia voar a mão esquerda ao encontro do braço do capitão. Só quem teve o pulso agarrado por uma manápula de cavador é que pode compreender a sensação de estar aprisionado numa tenaz de aço. Com a incredulidade estampada no rosto, Rosado demorou menos de um segundo a reagir com o outro punho, mas não obteve melhor resultado, porque a mão livre do Azinheirinha procedeu exatamente como a sua irmã. Durante um espaço de tempo que pareceu desmesurado a ambos, ficaram frente a frente, separados por centímetros, o capitão com as feições desfiguradas e vermelhas de raiva e o soldado sem pinga de sangue, lívido de inquietação”.

Sucedem-se episódios que fazem parte da História dos últimos atos da guerra colonial, caso do Congresso dos Combatentes, que mereceu um vigoroso abaixo-assinado de protesto, militares altamente condecorados diziam não reconhecer aos organizadores a necessária representatividade e não admitiam que pela sua não participação fossem definidas posições ou atitudes que pudessem ser imputadas à generalidade dos combatentes.

Spínola regressa à Metrópole, começa a contestação da legislação que permitia oficiais milicianos a ingressar num quadro especial de oficiais, foi enorme a reação, aqui germina a formação do MFA. A guerra prossegue, Mira Vaz descreve uma operação destinada a destruir um quartel do PAIGC nas imediações de Bedanda, são páginas muito sentidas.

E assim se chegou ao fim da guerra, aqueles militares briosos, as máscaras de Marte, entram num ocaso:

“Um deles desligou-se rapidamente do serviço ativo e regressou à terra natal para colaborar na gestão do património familiar. Não foi uma única vez a Tancos para festejar o Dia dos Paraquedistas. Aquele que fora um dos mais genuínos apoiantes do MFA foi preso no 11 de março. Reabilitado no 25 de novembro, foi promovido paulatinamente até ao posto de tenente-coronel, tendo então passado à reserva. No dia 23 de maio de cada ano vai em peregrinação a Tancos, para um convívio sempre estimulante com os seus antigos camaradas. Lê cada vez menos e tem-se aproximado de Deus, na mesma medida em que se tem afastado dos homens.

O capitão que não assinou o documento esteve quase a ser saneado na sequência do golpe militar. Subiu sem entusiasmo todos os degraus da hierarquia até coronel. Vai com frequência a Tancos, mas a alegria que sente na companhia dos antigos camaradas é sempre ensombrada por certas lembranças infaustas. Há dias em que se arrepende de não se ter oposto pelas armas ao abandono do património português de além-mar.

Aquele em relação ao qual nunca se conseguiu apurar, sem margem para dúvida, se assinara ou não os documentos mais importantes do MFA, esteve quase a chegar a general. Quando a promoção parecia iminente, alguém foi aos arquivos desenterrar um certo documento, foi decidido que ele não tinha condições para a promoção. Quando passou à reforma, fez questão de comparecer aos festejos do dia 23 de maio. Mas, fosse por causa do seco acolhimento dos camaradas, ou porque não aguentava ser figura secundária, passado dois anos deixou de ir a Tancos”.

Um imprevisto romance envolvendo capitães paraquedistas na Guiné, importa saudá-lo pelo conteúdo e a forma. E pedir ao seu autor que prossiga na senda da ficção.
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Notas do editor

Poste anterior de 16 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18850: Notas de leitura (1084): “Máscaras de Marte”, por Nuno Mira Vaz; Fronteira do Caos Editores, 2018 (1) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 27 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18872: Notas de leitura (1086): "Heróis limianos da Guerra do Ultramar", de Mário Leitão, ed. autor, Ponte de Lima, 2018, 272 pp. Um ato de pedagogia cívica e patriótica, que devia ser replicado em todas as nossas terras

Guiné 61/74 - P18879: Parabéns a você (1473): Amaral Bernardo, ex-Alf Mil Médico do BCAÇ 2930 (Guiné, 1970/72); Jaime Mendes, ex-Soldado At Art da CART 1742 (Guiné, 1967/69); Júlio Costa Abreu, ex-1.º Cabo Comando do Grupo Centuriões (Guiné, 1964/66) e Victor Tavares, 1.º Cabo Caçador Paraquedista da CCP 121 (Guiné, 1972/74)




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Nota do editor

Último poste da série de 19 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18857: Parabéns a você (1472): Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616 e CART 2732 (Guiné, 1970/72) e João Santos, ex-Alf Mil Rec Inf do BCAÇ 2852 (Guiné, 1968/70)

domingo, 29 de julho de 2018

Guiné 61/74 - P18878: (D)o outro lado do combate (35): a doutrina do PAIGC no recrutamento de jovens combatentes para as suas fileiras (Jorge Araújo)



Citação: (1963-1973), "Jovens recrutados pelo PAIGC durante a instrução militar", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43870 (2018-7-20), com a devida vénia.


Citação: (1963-1973), "Jovens recrutados pelo PAIGC durante instrução militar", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43874 (2018-7-20), com a devida vénia.


Citação: (1963-1973), "Jovens da Milícia Popular do PAIGC", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43128 (2018-7-20), com a devida vénia.




Jorge Alves Araújo, ex-Furriel Mil. Op. Esp./RANGER, CART 3494 
(Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do nosso blogue


GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE > A DOUTRINA DO PAIGC NO RECRUTAMENTO DE [JOVENS] COMBATENTES PARA AS SUAS FILEIRAS



1. INTRODUÇÃO


A propósito da existência de crianças/meninos-soldados, tema apresentado nos últimos dois postes - P18855 e P18858 - (*), não acredito que haja alguém neste nosso planeta, mesmo que se considere pouco informado, que possa afirmar desconhecer este fenómeno, tantos são os exemplos [imagens] que frequentemente nos chegam dos países, ou das regiões, onde se desenvolvem conflitos armados.

Com outras palavras, mas com igual sentido do parágrafo anterior, partilho convosco a reflexão do Doutor Fernando Nobre, autor do prefácio do livro «Meninos Soldados», do jornalista e professor americano Jimmie Briggs, editado pela Caleidoscópio em 2008, pp. 224 [obra que se encontra esgotada]. Diz ele: 


"Este livro tenta aprofundar a nossa compreensão para este terrível fenómeno que tem aumentado dramaticamente nas últimas décadas. Retrata o uso de crianças como soldados nos conflitos armados, tanto pelos governos como por guerrilhas militares em diversos lugares do mundo: Ruanda, Colômbia, Sri Lanka, Uganda e Afeganistão. As crianças são vítimas das maiores atrocidades e contam, na primeira pessoa, o que são obrigadas a fazer e o sofrimento por que passam às mãos destes grupos. A grande força do livro recai na forma como histórias das crianças são usadas para ilustrar o problema das meninos-soldados: como são recrutadas – incluindo recrutamento voluntário, rapto, coerção, etc. Expõe também as deficiências no sistema das Nações Unidas para evitar situações como estas.


"Falar das crianças-soldados é falar de uma das novas formas de escravatura e de um dos maiores insultos à consciência e ética humanas. É falar também do profundo sentimento de horror e de medo em que vivem estas crianças – os rapazes como carne picada para as metralhadoras e as minas; as meninas como carne para sexo em permanente disposição – quase sempre raptadas às suas pobres e indefesas famílias ou fugidas da sua miséria, da sua falta de esperança, da sua orfandade de pais e de humanidade". (Dr. Fernando Nobre).


De referir, como nota biográfica, que Fernando Nobre nasceu em Luanda em 1951. aí permanecendo até 1964, ano em que foi viver para o Congo Belga. Em 1967 mudou-se para a Bélgica onde se licenciou e doutorou em Medicina como especialista em Cirurgia-Geral e Urologia na Universidade Livre de Bruxelas. Iniciou a sua vida profissional no Serviço de Cirurgia-Geral e Urologia do Hospital Universitário de Bruxelas, tendo lecionado, como assistente, as disciplinas de Anatomia e Embriologia.

Também na Bélgica iniciou a sua colaboração com os Médicos Sem Fronteiras, de que foi membro e administrador. Regressado a Portugal, fundou em 1984 a Assistência Médica Internacional (AMI), organização não-governamental. Através da AMI participou como cirurgião em mais de duzentas e cinquenta missões de estudo, coordenação e assistência humanitária em cerca de setenta países. É professor catedrático convidado da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, e noutras universidades privadas [Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Nobre, com a devida vénia].


Fonte: https://www.emaze.com/@ATCZQIR, com a devida vénia


2. A DOUTRINA DO PAIGC NO RECRUTAMENTO DOS SEUS [JOVENS] COMBATENTES


Recordo, neste ponto, que utilizei uma imagem (com mais de quatro décadas) de um menino-soldado-menino, do álbum do médico holandês Dr. Roel Coutinho, para enquadrar "A logística nas evacuações dos feridos do PAIGC na Frente Norte: um itinerário até ao hospital de Ziguinchor (Senegal)", título dado à narrativa do P18848. Para melhor conhecer este processo, ou a filosofia que o suporta, segui em frente na busca de novos elementos. (**)

A fonte privilegiada continuou a ser a «Casa Comum – Fundação Mário Soares» e o vasto espólio existente nos arquivos de Amílcar Cabral (1924-1973). A consulta foi, com efeito, bem-sucedida, pois aí encontrámos, escrito em francês, um questionário (ultra secreto) estruturado com 17 (dezassete) perguntas [e um outro com as respostas], em que a primeira é: «modo de recrutamento dos combatentes», com a seguinte classificação:

"Pasta: 07069.111.003. Título: Questionário destinado ao PAIGC sobre o modo de recrutamento dos seus combatentes. Assunto: Questionário destinado ao PAIGC sobre o modo de recrutamento dos seus combatentes. Data: s.d. Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Relações com a Guiné-Conacri / Senegal 1960-1970. Fundo: DAC – Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Documentos". 

2.1. RESPOSTAS AO QUESTIONÁRIO (ULTRA SECRETO) DESTINADO AOS GOVERNOS DA GUINÉ-CONACRI E SENEGAL

[com tradução do francês da nossa responsabilidade]


1. - Modo de recrutamento dos Combatentes?

R. – Os combatentes são recrutados nas diferentes zonas constantes na organização territorial do nosso Partido. "Tomamos o pulso" [sinalizamos], no seio da maioria do campesinato, militantes do Partido.

2. – Qual é a idade mínima dos Combatentes?

R. – 17 a 35 anos.

3. – Eles são militantes ou simpatizantes do PAIGC?

R. – Militantes.

4. – Qual é o nível de formação política dos Combatentes?

R. – O nível político é variado. Mas a quase totalidade dos combatentes-militantes devem conhecer muito bem os objectivos do nosso Partido, preocupados com o Partido e com África, e estarem conscientes quanto à natureza particularmente difícil da nossa luta de libertação nacional. Um grande Partido de militantes, camponeses e operários, recebem uma preparação política nas bases do Partido.

5. – Qual é o nível de formação física dos Combatentes?

R. – Habituados ao trabalho do campo, os combatentes são no geral muito bem constituídos. Aqueles que frequentam regularmente as bases militares do Partido recebem uma preparação física para a luta.

6. – Qual é o nível intelectual mínimo dos Combatentes?

R. – O nosso país herdou do colonialismo uma percentagem de 99% de analfabetos e a maioria que teve a oportunidade de aprender a ler está concentrada nas cidades. Esta situação está presente no seio dos nossos combatentes.

7. – Que nível é preciso dar aos Combatentes?

R. – O nível de um combatente de base, poderá utilizar armas ligeiras. 

8. – Que especialidades é preciso ensinar?

R. – Armamento pesado, anti-aéreas, reparação de armas, mecânico militar, telecomunicações e de outras consideradas necessárias.

9. – No final do estágio pretendem utilizar os Combatentes numa Unidade existente ou isoladamente?

R. – Os combatentes serão preparados de modo a serem incorporados no nosso Exército Popular que, com os guerrilheiros e as milícias populares, formam as Forças Armadas Revolucionárias do Povo (FARP). O exército regular utilizará, no entanto, as tácticas da guerrilha, em coordenação com os outros elementos das FARP.

10. – Efectivos a formar em cada estágio?

R. – 500 homens, correspondente a uma secção do nosso exército popular.

11. – Número de estágios por ano?

R. – No mínimo dois estágios, se o efectivo for de 500, ou três estágios se for de 250.

12. – Gostariam de propor um programa de instrução de base e de especialidade?

R. – Nós gostaríamos de discutir oportunamente este assunto com os nossos irmãos guineenses [Guiné Conacri]. Tendo em conta a experiência referente às lutas de libertação nacional, bem conhecidas dos nossos irmãos guineenses, estamos contudo convencidos que os problemas não encontrarão dificuldades.

13. – Gostariam de separar os quadros militares e políticos nos Centros (Professores, Intérpretes)?

R. – Nós preferimos não dividir os quadros da luta pelos centros. Em caso de necessidade, nós o faríamos por um número reduzido de centros. Mas estamos convencidos que os professores guineenses são suficientes para preparar os nossos combatentes, porque eles estão sempre em contacto com a direcção do Partido.

14. – Qual é a base da alimentação dos Combatentes?

R. – Arroz, peixe, carne, óleo de palma e amendoim.

15. – Em zona operacional, o Combatente recebe uma remuneração? Quanto?

R. – Não. 

16. – No centro de instrução deve receber uma remuneração?

R. – Não. Poder-lhe-ia ser, eventualmente, atribuído um subsídio para o tabaco [em folha] ou cigarros. 

17. – Como encaram a participação das mulheres na luta?

R. – A mulher pode assumir as funções que estejam ao nível da sua capacidade em cada caso concreto. As mulheres já participaram várias vezes nos nossos combates. Elas estão, na maioria das vezes, incluídas nas milícias populares, na polícia, nas tarefas de combatentes-enfermeiras, etc.


2.2. DOCUMENTOS ORIGINAIS


.Citação: (s.d.), "Questionário destinado ao PAIGC sobre o modo de recrutamento dos seus combatentes", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_41566 (2018-7-20), com a devida vénia.



Citação: (s.d.), "Respostas ao questionário sobre o modo de recrutamento dos combatentes do PAIGC", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_41571 (2018-7-20), com a devida vénia.

Obrigado pela atenção.

Um forte abraço de amizade com votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

21JUL2018.
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

Guiné 61/74 - P18877: Blogues da nossa blogosfera (97): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (16): Palavras e poesia


Do Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.


AO REDOR DO NEVOEIRO

ADÃO CRUZ

© ADÃO CRUZ


Hoje sou eu que vou ao teu encontro
por dentro deste nevoeiro denso que tudo esconde.
Mas não sei onde estás
nem sinto os teus cabelos de incenso.
Sei que moras para lá do tempo
entre dálias e gerânios
entre memórias e sonhos de um segredo.
Mas o coração diz-me para seguir em frente e não ter medo.
Sem saber ao certo quem sou
levo comigo a razão
único caminho que rasga o nevoeiro e rompe as algemas
e me deixa ver a luminosa transparência do teu corpo
para lá das algas e dos peixes verdes dos poemas.
Tu estás do outro lado de um beijo
e eu quero abraçar-te pela cintura
neste apagado incêndio dos sentidos
ainda que seja demasiado tarde
para a verde ternura de um desejo.
Hoje sou eu que vou ao teu encontro
em meu corpo de terra antiga que já não seduz.
Vou dar um passo em falso
para lá dos olhos sem luz
assim o decidi ao ver-te perdida
na altura em que o nevoeiro sem sentido
caía pesadamente sobre a rua.
Mas não eras tu…
era uma chama de lábios e lume
ardendo em estranho leito nupcial
de um qualquer tempo já perdido.
Foi então
que no ventre do nevoeiro
inventei a noite entre lençóis de neve
mordidos de uma luz oblíqua que não era minha nem tua
e se perdia na pele branca
de um qualquer corpo que eu não sentia.
Era como se um rio cantasse
entre a lua e as águas e o nada…
e fosse demasiado tarde
para ser música no violino da madrugada
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Nota do editor

Último poste da série de 15 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18847: Blogues da nossa blogosfera (96): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (15): Palavras e poesia

Guiné 61/74 - P18876: Blogpoesia (577): "Os sintomas", "Minh'alma leve..." e "Minhas ideias...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Os sintomas

A natureza é pródiga em dar sinais.
Nunca acomete sem avisar.
Cobre de negro o céu antes da tempestade.
Manda o vento atiçar o mar.
Espalha estrondos com trovoada.
Na hora exacta, ali está em majestade.
Leva tudo à frente.
O tsunami. O fogo na floresta.
Connosco é igual.
Uma dor de cabeça.
Um arrepio frio.
Um espirro abrupto.
É o aviso.
- Presta atenção!
Ela é leal.
Mas vingativa.
Ninguém a despreze.
Perdão não há...

Bar dos Sete Momentos, arredores de Mafra,
26 de Julho de 2018
9h19m
Jlmg

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Minh'alma leve...

Minh'alma leve,
batendo as asas
como um passarinho,
Aspira ao vento, a soluçar.
Bendiz a vida e
reclama paz.
O sol lhe bate.
Reluz ardente.
Seara verde,
Semeia versos,
sem poder parar.
Se dependesse dela,
que regalo era.
Não havia penas,
não havia dores,
seria bom viver,
seria bom voar.
Minh'alma leve,
como caravela ao vento,
dá a volta ao mundo,
semeando cor.
Só regressa a casa,
quando toda a gente dorme,
com a alma cheia,
a sonhar serena,
com a poesia bela
que lhes caiu do céu...

Bar Sete Momentos, arredores de Mafra,
28 de Julho, 9h54m
Jlmg

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Minhas ideias...

Sinto empastadas minhas ideias.
Se apagaram as estrelas.
Está escuro o céu.
Espero ansioso a luz da lua.
Para desfazer este negrume.
O silêncio é negro.
Como nuvem ao cair da noite.
O ar é baço.
Só o sorriso breve duma criança
Me poderia desfazer o peso.
Quem me dera de novo o sol a brilhar ao vento.
Preciso das cores floridas do meu jardim.
Elas me sorriem sempre ao abrir da janela.
Lhes agradeço religiosamente seu ar de cor.
Coitados dos sete cavalos na Mata à frente.
Passam sozinhos ali a noite...

Mafra, 27 de Julho de 2018
11h23m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 15 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18846: Blogpoesia (576): "O que se diz das omoplatas...", "As flores da minha mente" e "Os males da alma", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728