sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19394: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte V: ten cav Jorge Manuel Cabeleira Filipe (Marinha Grande, 1935 - Luanda, 1961)







1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um dos 47 Oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar que morreram em combate no período 1961-1975, na guerra do ultramar.

Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva, instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972. Foi cadete-aluno nº 45/63, do corpo de alunis da Academia Militar.




O ten cav Jorge Manuel Cabeleira Filipe foi o quarto oficial, oriundo da Escola do Exército, a morrer em combate em Angola, em 1961.

Lisboa > Academia Militar > Palácio da Bemposta ou Paço da Raínha, na Rua do Paço da Rainha > Festival Todos , 7ª edição, 2015 > 12 de setembro de 2015 > Visita guiada, pelo cor art ref Vitor Marçal Lourenço, professor da Academia Militar.


É aqui a sede da Academia Militar (, antiga Escola do Exército, fundada en 1837), que tem como patrono o general Bernardo de Sá Nogueira, Marquês de Sá da Bandeira. Há também um polo na Amadora.

O seu lema é: "Dulce et decorum est pro Patria mori" (em português: É doce e honroso morrer pela Pátria: o verso em latim é de uma ode do poeta romano Horácio, do séc. I a.C.; "patria", em latim, a cada dos pais - "patres" -  ou dos antepassados...).

Na escadaria de acesso ao piso superior (biblioteca. museu, galeria de comandantes...) estão inscritos os nomes dos antigos alunos mortos durante a guerra colonial (1961/74), nos vários teatros de operações. Neste excerto do mural, estão so nomes dos 4 primeiros.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].
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Nota do editor:

Último poste da série > 10 de janeiro de  2019 > Guiné 61/74 - P19390: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte IV: Manuel Jorge Mota Costa (Porto, 1937 - Bongo, Angola, 1961)

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19393: A presença portuguesa no mundo (1): Nyanmar e Bangladesh (Armando Tavares da Silva)



"Os olhos de um António, lisboeta birmanês"


"Uma Dona Maria da Piedade, beirã do Irrawady"


"Um Sr. José, algarvio do rio Mu"

Fotos (e legendas): do fotógrafo Joquim Magalhães de Castro (2009). Fonte: Blogue Combustões, de Miguel Castelo Branco



"James Swe quer que a comunidade de descendentes de portugueses no Myanmar conheça essa herança cultural. O seu livro sobre os portugueses que por lá passaram durante a primeira dinastia birmanesa vai ter lançamento em língua portuguesa no próximo ano". 

Foto e legenda: Jornal Tribuna de Macau, 18 de dezembro de 2017 (com a devida vénia...)



1. Mensagem do nosso amigo e membro da Tabanca Grande, Armando Tavares da Silva, engenheiro,  historiador, prof catedrático aposentado da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, "Prémio Fundação Calouste Gulbenkian, História da Presença de Portugal no Mundo" (, atribuído pelo seu livro “A Presença Portuguesa na Guiné — História Política e Militar — 1878-1926”), presidente da Secção Luís de Camões da Sociedade de Geografia de Lisboa.


Data: 24/12/2018, 14:24


Caro Luís,

Esta é talvez uma boa altura para se publicar o texto anexo, a que junto os meus votos de um Santo e Feliz Natal para todos os gran-tabanqueiros. Não fala da Guiné, nem de África, mas fala da Ásia e da presença portuguesa no Mundo. Talvez funcione de lenitivo para os cépticos e descrentes...

Fêz-me recordar o que ouvi dizer a um guineense com quem me cruzei, não há muito tempo, com grande orgulho e satisfação: “Eu sou português!”. E também o que escreveu em missiva para o governador, em 1891, o chefe beafada Mamadú D’jolá (ou Mamadú Jolá), a propósito de desinteligências com negociantes franceses: “Eu sou português e não francês, porque estou debaixo da bandeira portuguesa!”. Abraço, A.


2. A presença portuguesa no mundo: Nyanmar e Bangladesh

por Armando Tavares da Silva


Passou há pouco um ano sobre a visita do Papa Francisco a Myanmar e ao Bangladesh, o que deu origem a que surgissem na imprensa e outros media notícias de descendentes de portugueses que no século XVI se deslocaram para aquele país com intuitos comerciais. A existência destes descendentes é (era) desconhecida da maior parte dos portugueses. Apenas aqueles que se dedicaram a estudar a presença portuguesa na Ásia teriam dela conhecimento, como é o caso do historiador Miguel Castelo Branco.

A visita do Papa a Myanmar decorreu entre 26 e 30 de Novembro de 2017 e durante ela o Papa celebrou uma missa campal em Rangum na presença de cerca de 150 mil  católicos e uma outra para jovens na Catedral de Santa Maria.

As notícias que vieram a lume contam-nos que a chegada dos primeiros portugueses ao reino que é agora o Myanmar,  não foi fruto de um processo organizado. Como exemplo é referido o caso de Sebastião Tibau, um militar que depois de ter chegado à Índia desertou para procurar fortuna para os lados de Arracão, hoje o estado birmanês de Rakhine. Este é o estado onde tem ocorrido uma perseguição aos rohingya – minoria muçulmana –, e pelos quais o Papa procurou interceder junto das autoridades birmanêses durante a sua visita.

Segundo aquele historiador, Sebastião Tibau “tranformou-se lentamente num rei pirata da ilha de Sundiva, que depois de muitas traições e mudanças acabou por ser destruído pelos birmaneses”. Houve mais tarde o “famosíssimo Rei do Sirião, ou rei do Pegú, que é um Filipe Brito de Nicote, que era também um mercenário, e que ganhou tanto relevo que acabou por ser investido como Senhor do Sirião”.

Ainda segundo aquele historiador, os portugueses – que eram designados por “portugueses à solta” – geravam espontâneamente comunidades, casando com mulheres locais, e cujos filhos recebiam educação portuguesa, incluindo a sua religião. Estas comunidades originavam ”bandéis” inteiramente ocupados por esta população mista luso-birmanesa, a qual tinha uma função especializada no quadro das monarquias locais, sendo soldados e intérpretes.

Constituiam um grupo social estratégico, desempenhando, ao longo de 300 anos, funções administrativas relevantes no palácio, no comércio internacional e no exército.

Em Merguy, Tavoy e Dagon (hoje Rangum, capital histórica do Myanmar), principais portos de mar, a função de shabandar, ou seja, de capitão portuário, foi sempre desempenhada por estes católicos habilitados para o uso das duas línguas francas então usadas no Sudeste-Asiático, o malaio e o português. Depois, com a afirmação do poder britânico a partir de meados do século XVIII, passaram a dominar o inglês e ganharam uma nova competência; transformaram-se em tradutores e intermediários em todas as embaixadas enviadas pelos britânicos à corte birmanesa, assim como em agentes comerciais e diplomáticos dos governantes birmaneses. Não é, pois, de estranhar que a sua influência fosse crescendo, ao ponto de um dos últimos reis da dinastia Konbaung ter tomado como uma das suas mulheres uma rapariga luso-birmanesa.

Mas foi como comunidade marcial que os nossos luso-birmaneses ganharam notoriedade. Nas lutas com o Sião, com o império chinês e, finalmente, durante as três guerras com os ingleses – primeira guerra anglo-birmanesa (1824-1826), segunda guerra anglo-birmanesa (1852-1853) e terceira guerra anglo-birmanesa (1885) – as unidades católicas do exército real birmanês, armadas à europeia, transformaram-se na espinha dorsal do dispositivo birmanês. Para além de unidades de atiradores, constituíram-se unidades de artilharia de campanha cuja eficácia foi repetidamente

Mas não foi só em Ragum que o Papa Francisco celebrou missa perante descendentes de portugueses durante aquela viagem. Depois de visitar Myanmar, o Papa deslocou-se ao Bangladesh, onde permaneceu entre 30 de Novembro e 2 de Dezembro, país onde o cristianismo chegou através dos portugueses do século XVI, e onde existe igualmente uma pequena comunidade de católicos.

Igreja de Santo Rosário, Daca, Bangladesh

Papa no cemitério católico, em Daca


O Papa com estudantes da universidade católica de Daca

Viagem do Papa Francisco  ao Banglasdesh 
(30 de novembro a 2 de dezembro de 2017)

Fotos: recolha de Armando Tavares da Silva (2019)



E é de referir que uma das igrejas onde o Papa esteve presente foi a igreja do Santo Rosário em Daca, capital daquele país, construída pelos missionários agostinhos portugueses em 1677. Nesta igreja o Papa reuniu-se com sacerdotes, religiosos(as), seminaristas e noviças, tendo visitado o cemitério contíguo onde estão sepultados muitas dezenas de missionários e fiéis. De realçar que esta igreja foi objecto de reconstrução no ano 2000, patrocinada pela Fundação Calouste Gulbenkian, no âmbito de um notável esforço de recuperação dos traços da presença de Portugal no mundo, iniciado em 1995, e que mereceu a atenção prioritária da Fundação pela sua importância histórica e religiosa, pois se trata do único edifício do tempo dos portugueses existente na capital da antiga província de Bengala Oriental, que a partir de 1947 foi o Paquistão Oriental e, desde 1971, o Bangladesh independente.

A cerimónia de reabertura da igreja decorreu no dia 17 de Dezembro de 2000, na presença de cinco bispos, vinte padres e cinco mil e quinhentas pessoas, representando uma manifestação de fé cristã em país muçulmano, e que decoreu num ambiente de “alegria esfuziante e fervor religioso”.

Acrescente-se que, quer em Daca quer em Chittagong (duas das principais cidades do país), se notam traços visíveis da presença portuguesa, tanto nos nomes dos mortos gravados nas pedras tumulares dos cemitérios, como nos dos vivos (todos os sete bispos do Bangladesh têm nome de família Rozário, Gomes ou Costa…). Por outro lado, há igrejas dos tempos dos portugueses nos arredores da capital – uma delas, a capela de Santo António de Panjorá, tem bem à vista, no alto da fachada, uma legenda: «Missões Portuguesas de Bengala», a data de 1906 e o escudo da monarquia portuguesa.

Nesta procura do que resta da presença portuguesa no oriente é indispensável mencionar o trabalho do escritor, jornalista e fotógrafo Joaquim Magalhães de Castro, autor do livro ”Os Filhos Esquecidos do Império” (2014). Este, em 2002, percorreu a Birmânia (Myanmar) em busca dos vestígios da minoria portuguesa-católica bayingyi, que ainda sobrevive no vale do rio Mu, afluente do Irrawady. O resultado deste notável trabalho de campo foi, a todos os títulos, inesperado. A sensibilidade do artista captou com intensidade os rostos dessa gente que orgulhosamente ainda exibe os traços do sangue e herança portugueses. Quatrocentos anos de obstinada resistência, apego à memória, práticas gastronómicas, indumentária, farrapos de língua e uma profunda demarcação religiosa transformaram em relíquia antropológica a comunidade remanescente do trânsito de aventureiros, comerciantes e missionários vindos da Roma do Oriente (Goa) a caminho de Malaca e Macau.

Um livro onde se desvenda a presença portuguesa na Birmânia, mais de 500 anos depois, é o livro de James Myint Swe, "Cannon Soldiers of Burma", e aí se pretende divulgar o papel de exploradores, comerciantes e soldados vindos de Portugal a partir do século XVI na estrutura actual da Myanmar. Com primeira edição em inglês em 2014, deste livro espera-se uma versão portuguesa a ser lançada pela Gradiva.

Ouçamos este birmanês descendente de portugueses, formado em ciência política pela Universidade de Western Ontario, Canadá, onde vive desde 1976, em entrevista à Lusa, a propósito do seu livro:

"É extraordinário que, na mesma zona onde os portugueses se estabeleceram pelo ano de 1633, em Ye U, uma localidade situada entre os rios Chindwin e Mu [norte da Birmânia], as populações continuem a sentir-se portuguesas", sem qualquer contacto e a mais de nove mil quilómetros de distância.

"Não se sabe ao certo a dimensão destas populações... cerca de 200 a 300 pessoas por aldeia, o que nas localidades maiores poderá ir até às duas/três mil. As autoridades estão a tentar fazer um levantamento para saber quantas aldeias existem e quantas pessoas ali vivem", acrescentou James Swe, que nasceu Chan Tha Ywa, na zona de Ye U, em 1947.

As pessoas desta zona "parecem europeus, o cabelo e a pele são mais claros, alguns têm olhos verdes" e são maioritariamente católicos, disse, lembrando que, nos anos 1970, o Governo não reconhecia esta população como birmanesa, considerando-a estrangeira.

À medida que a aposta das autoridades no ensino cresce no país e que os acessos à zona melhoram, os elementos mais jovens destas comunidades deslocam-se para as cidades para entrar nas escolas e "esta relação com Portugal começa a perder-se", alertou.

Mas este afastamento já vem de longe e está retratado na declaração atribuída pelo investigador ao capitão António do Cabo que, em 1628, em Ava, no norte birmanês afirmou: "Muitos de nós nascemos em Portugal, ou pelo menos em Goa [Índia]. Passámos muitos anos aqui na Birmânia. Sempre nos sentimos como prisioneiros, ou hóspedes, ou visitantes. Agora chegou a altura de aceitar que a Birmânia é o nosso país. Ainda somos portugueses, mas nunca voltaremos a ver Portugal. Alguns de vós nunca viram".

"Com as armas que trouxeram e as alianças que cimentaram com os reinados Mon, Arakan [Rakhine, na actualidade] e Bama/Birmanês, os portugueses foram determinantes na construção da actual Birmânia", sublinhou James Swe.

Os 300 anos que medeiam entre a chegada dos portugueses (1500) e os ingleses (1800) foram quase eliminados da história oficial do país, acrescentou.

"Eu só conheci estas histórias porque, durante as férias do verão, os meus avós falavam da vida de Paulo Seixas ou Luísa de Brito", afirmou, referindo-se a alguns dos longuínquos protagonistas de guerras, alianças, traições e comércio no país, que faz fronteira com a China, o Bangladesh, o Laos e a Tailândia.

"Foi no Canadá que descobri que a História e aquilo que os meus familiares contavam coincidiam", disse, sublinhando as dificuldades de estender a pesquisa realizada ao longo de dez anos entre o Reino Unido, o Canadá e Portugal, aos arquivos birmaneses, fechados desde 1962 pelo regime militar. Impedido de entrar nos últimos 40 anos na Birmânia, Swe contou com a ajuda de amigos e familiares no país para investigar a história dos seus ancestrais. Neste período, voltou pela primeira vez a Myanmar, em 2012.

James Swe voltou novamente ao seu país natal para estar presente durante a visita do Papa Francisco, e em entrevista concedida na altura, depois de reconhecer o contentamento dos católicos birmaneses com aquela presença e de assegurar que as aldeias católicas do Myanmar estavam vazias por esses dias, comenta que se os bayingyi estivessem ainda nas suas aldeias, é muito possível que estivessem a fazer chouriço, iguaria que é uma das poucas heranças gastronómicas que sobrevive dos seus antepassados.

Sobre a sorte que teve em visitar Portugal, James Swe diz: “A primeira sensação que tive quando cheguei a Portugal foi de reunificação. Há 400 anos que os meus antepassados não sabiam se alguma vez voltariam a Portugal, mas passado este tempo todo, eu, enquanto herdeiro espiritual, estava a regressar a Portugal. Foi isso que senti. Posso não parecer português, mas sinto-me português, foi como regressar a casa”.

Guiné 61/74 - P19392: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LIX: O estado de coma... alcoólico no passagem de ano de 1968/69, e as crises de paludismo...


Foto nº 1 >  Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > 1 de janeiro de 1969 > O meu estado de coma, durante as primeiras horas do dia de Ano Novo de 1969. Furriéís da CART 1744, meus amigos e camaradas, "fazendo-se pensar por enfermeiros"...



Foto nº 2 >  Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > Messe de sargentos >  1 de janeiro de 1969 >  A farra ou a tainada  continua


Foto nº 3 >  Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > Messe de sargentos >  1 de janeiro de 1969 > Os mesmos da parelha anterior, agora com mais dois furriéis, o 1º Sargento Godinho, e o Alferes Gatinho, o careca.



Foto nº 11 >   Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > 26 de outubro de 1968,  na minha cama, no meu quarto,com um ataque de paludismo.


Foto nº 12 > Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > 27 de outubro de 1968 >  Na minha cama, no meu quarto, já e fase de recuperação do paludismo.


Foto nº 13 > Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > 28 de outubro de 1968 >  Na minha cama, já com evidentes melhoras, e já a ler uma revista.


Foto nº 14 > Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > 28 de outubro de 1968 >  Na  minha cama, a convalescer, lendo uma revista, pronto para o próximo combate. 


Foto nº 21 > Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > Janeiro de 1969 >  Já com a braçadeira de ‘oficial de dia’ num local a que chamavam ‘Casa do Anis’. 


Foto nº 22 >  Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > Fevereiro  de 1969 > Cserna dos soldados > Uma festa de aniversário de alguém, onde já se nota o cheiro a álcool.


Guiné > CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) >  São Domingos, 1968/69

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]






1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alfmil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) (*)


[Foto à acima , o Virgílio e a esposa Manuela, o grande amor da sua vida, na Tabanca de Matosinhos, Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei), 5 de setembro de 2018. O casal vive em Vila do Conde.  (Foto: LG, 2018)]



CTIG - Guiné 1967/69 - Álbum de Temas:
T091 – O ESTADO DE COMA ALCOÓLICO
UMA SITUAÇÃO REAL DA QUAL NÃO ME ORGULHO
- O COMA PROFUNDO, OS CONVIVIOS, AS FESTAS, OS COPOS E A PERDA DE CONSCIÊNCIA.
- OUTRO TEMA DA PERDA DA CONSCIÊNCIA:
AS DUAS TERRIVEIS CRISES DE PALUDISMO




I - Anotações e Introdução ao tema:


Deixo estas peças – coma, copos e malária – para este fim de ano de 2018.

NOTA PRÉVIA:

Para além de ressalvar os erros e omissões que remeto para final, este tema pode não ser tal como o descrevo, pela razão evidente que o vivi, sem ter consciência do mesmo. 

1 - O tema principal é o ‘estado de coma’ porque passei, na noite de 31 de Dezembro de 1968, para 1 de Janeiro de 1969. Não me agrada, mas nem por isso vou deixar de me lembrar deste episódio e partilhar com outros.

Estamos no final do ano de 1968, com jantar melhorado, antes e depois, muitos copos de bebidas variadas, começa na messe de oficiais, depois na messe de sargentos, acabando junto daqueles com quem mais convivi, os nossos soldados, em especial os condutores. Não sedi se foi esta a ordem mas vamos passando por todas as ‘capelinhas’ como é normal.

Sempre a beber, sempre a misturar, tudo o que tivesse álcool, e rapidamente a mente está toldada, com tantos aromas e tanta mistura, todos querem partilhar um pouco e os copos vão sucedendo uns atrás de outros.

Não sei bem contar esta história, porque na realidade e na prática eu ‘não a vivi’, foi algo que me toldou o cérebro, e já não era eu.

Por volta da meia-noite, os oficiais do Batalhão foram convidados para o fim de ano na Casa do Administrador local, que passa inevitavelmente à meia-noite, pelo champanhe, que não me lembro se era nacional, mas presumo que era Francês.

Esta é a machadada final, pois pouco depois já era o ‘Novo Ano de 1969’, e a partir daqui não posso contar mais nada, pois perdi natural e vergonhosamente todos os sentidos, e assim entrei em estado de ‘coma alcoólico’. Não é bonito, nem feio, foi assim, não fui o único, nem serei o último.

Acordei já a meio da manhã desse primeiro dia de Janeiro de 1969, na minha cama, vestido com um pijama, que quase nunca o vestia, era em Terylene, nylon ou polyester azul-escuro. 

Procurei saber onde estava e o que me tinha acontecido, lentamente acordo e tento procurar todos os meus bens pessoais, que não tinha – o meu relógio Omega, a minha Câmara Konica, os meus documentos, a minha carteira, o meu dinheiro, a minha lanterna, o meu cordão e medalha em ouro, enfim as minhas coisas pessoais. Nada vejo, nem tenho a quem perguntar. 

Levanto-me tomo o duche com o recurso habitual à lata e o bidão de água, visto-me e vou tomar águas da Perrier, nem pensava em comer. A nossa capacidade de sobrevivência é enorme, os nossos anos ainda de jovem têm uma grande vantagem, pois rápido recupero.

Sei que me observavam, muita gente sabia o que se tinha passado, mas eu não. 

Passaram-se muitas horas desde que perdi a consciência, não fazia a mínima ideia do que aconteceu, e nem hoje sei ao certo, talvez me ocultassem por razões de ética e camaradagem. Mas constou-me que estaria deitado numa berma, e já a ser rodeado por população local, Felupes e outros.

Acabo por saber que foi um grupo de Furriéis milicianos, da CART 1744, com os quais eu convivia numa constante camaradagem e brincadeira, nunca tinha vivido assim antes, foram eles que me conduziram para o meu quarto e a minha cama, despiram-me a roupa e vestiram aquele pijama que raramente usava. Devem ter preparado uma grande brincadeira com esta situação. Contaram-me, eles e outros do meu Batalhão, mais ou menos, não quis mais saber. Entregaram-me tudo, pois tiveram a preocupação que nada ficasse perdido ou fosse roubado.

Não almocei, bebi sempre águas, e à noite já estava novamente com eles, bem fresco e com aquela pedalada que hoje já não tenho, onde se fizeram algumas cenas hilariantes, era afinal dia de ano novo. Tudo na messe de sargentos, onde se juntaram praças e oficiais.

Mais tarde com a revelação do rolo que estava na minha máquina fotográfica, venho a encontrar, entre outras, esta que apresento – Foto Nº 1.

Eles, neste período de tempo, á vontade, durante a noite, vestiram-se como se fossem médicos e enfermeiros, simulando e bem, uma transfusão de sangue, acho que é isso que aparece na fotografia, que eles com a minha máquina me tiraram, e assim ficou na minha história, da qual muito se falou depois, mas já não me lembro de nada, porque não ‘assisti’ ao vivo a este momento único.

Não deixo de agradecer a todos por aquilo que me fizeram, se ninguém me socorresse, o que ara quase impossível, pois naquela meio tão pequeno ninguém passava despercebido, talvez as coisas levassem outro rumo, mas foi assim e tudo correu bem, talvez agora a figadeira se vai queixando de tanta barbaridade, que não me orgulho, mas também não me lamento de nada.

Faz agora – 1 de Janeiro de 2019 - 50 anos que tudo aconteceu, e continuo vivo, e nessa noite já estava em novas brincadeiras, com aqueles que eu mais apreciava, eram os operacionais da CART 1744, a Companhia de Intervenção. Sempre achei aquela Companhia do Capitão Serrão como um exemplo a seguir, levavam aquela vida como se fosse uma brincadeira, mas quando era para trabalhar e intervir, não faltaram nunca. 

Tudo começou mal mas acabou em bem, mas poderia ter tido outro desfecho.

2 – Meti aqui neste tema, mais umas fotos e passagens. Ou seja por que razões aconteciam estas coisas, esta a mais grave, começava tudo em festas de aniversários e petiscada, e depois acabava tudo com os copos. 

Tenho mais de uma centena de fotos que não tenciono publicar, pois não são cenas que me dignifiquem, são demasiado ultrajantes para o meu posto e para a minha função, como para qualquer um dos outros camaradas, pois estamos todos à molhada nas mesmas fotos.

3 – Aproveitei também para anexar algumas fotos daqueles terríveis momentos em que estamos a ferver a mais de 42º, com a Malária, a doença do mosquito, o Paludismo. 

Para muitos que sabem o que isto é, não preciso de explicar muito, mas entramos em delírio nos primeiros dois dias, até que a célebre ‘Terramicina’ comece a fazer o seu efeito e a temperatura comece a baixar. Numa situação de temperatura ambiente acima de 35º e mais, temos tanto frio como se estivéssemos na neve, as ajudas eram poucas, o Médico não sei bem o que fazia, mas o nosso Enfermeiro, o já falecido Furriel Veiga, estava ali para ajudar no que podia e era com certeza orientado pelo nosso Médico, posto que ele atingiu já na vida civil, acabou por cursar medicina.

Apanhei por duas vezes esta peste, uma vez em Nova Lamego, outra em São Domingos.

II – Legendagem das fotos:

F01 – O meu estado de coma, durante as primeiras horas do dia de Ano Novo de 1969.

A simulação bem-feita dos dois Furriéis, meus amigos e camaradas da CART 1744, que infelizmente não me recordo dos seus nomes, fazendo passar-se por enfermeiros, numa missão de transfusão de sangue, de soro, ou mais vinho e álcool...

Foto captada em São Domingos, na minha cama, no meu quarto, durante a madrugada do dia 1 de Janeiro de 1969.

F02 – Na messe de Sargentos a brincadeira continuou, com fantasias de ano novo. A mesma ‘parelha’ que me socorreu com a transfusão de ‘soro alcoólico’ agora com novas vestes e cenas que não era normal ver na classe e messe de oficiais. Só gostavam de jogar.

Foto captada em São Domingos, na messe de sargentos, na noite do dia 1 de Janeiro de 1969.


F03 – Na messe de Sargentos, em cima da mesa, uma cena qualquer que não distingo. Os mesmos da parelha anterior, agora com mais dois furriéis, o 1º Sargento Godinho, e o Alferes Gatinho, o careca.

Foto captada em São Domingos, na messe de sargentos, na noite do dia 1 de Janeiro de 1969.

F11 – Na minha cama, no início de um ataque de Paludismo, talvez a delirar.

As fotos podem ter sido tiradas por qualquer camarada meu no nosso quarto, mas não sei.

Pode ver-se um balde com água e talvez gelo, para molhar a toalha e colocar na cabeça, as dores eram terríveis, e afectavam-me bastante.

E lá estão os comprimidos – LM  [, Labortório Militar,] – para todos os males.

Foto captada em São Domingos, na minha cama, no meu quarto, no dia 26 de Outubro de 1968.

F12 – Na minha cama, na cura do Paludismo, já com evidentes melhoras.

As fotos podem ter sido tiradas por qualquer camarada meu no nosso quarto, mas não sei.

Pode ver-se já as garrafas de água Perrier, com as quais combatia a desidratação.

Foto captada em São Domingos, na minha cama, no meu quarto, no dia 27 de Outubro de 1968.


F13 – Na minha cama, já com evidentes melhoras, e já a ler uma revista.

As fotos foram tiradas por um camarada a meu pedido.

De salientar, agora que estou a apreciar, as paredes estavam repletas de fotos, de mulheres que faziam capas nas revistas internacionais da época. Sem entrar em cenas ousadas, uma simples figura feminina, com roupa interior ou de praia, era uma delícia para a malta toda.

Não sei se cá na metrópole desse tempo, existiam revistas destas, não me lembro. 

Apenas sabemos que não haveria ‘motorista’ de pesados, que não tivesse na sua cabina do camião, algumas capas destas revistas, mais tarde bem ousadas.

Foto captada em São Domingos, na minha cama, no meu quarto, no dia 28 de Outubro de 1968.


F14 – Na minha cama, a convalescer, lendo uma revista, pronto para o próximo combate. 

As fotos foram tiradas por um camarada a meu pedido.

Foto captada em São Domingos, na minha cama, no meu quarto, no dia 28 de Outubro de 1968.


F21 – Já com a braçadeira de ‘oficial de dia’ num local a que chamavam ‘Casa do Anis’. 

Esta e outras tantas fotos, representam a razão por que poderiam aparecer situações extremas, incluindo o Coma.

Na companhia de alguns soldados do meu Batalhão, uns à civil, outros fardados. E sempre com o copo na mão, que não era água de certeza. Não sei se a Casa do Anis, era o nome de alguém, ou se era um sítio onde se bebia ‘anis’!

Não percebo também os olhares arregalados de todos os presentes, mas sei que todos me respeitavam. Este era um serviço de 24 horas sempre presente e atento.

Foto captada em São Domingos, na Casa do Anis, tomando uma qualquer bebida em Janeiro de 1969.


F22 – Uma festa de aniversário de alguém, onde já se nota o cheiro a álcool.

Era neste ambiente que nasciam os exageros, aos quais nunca faltava à chamada.

Pode notar-se sempre de copo na mão, na maioria são soldados condutores, dois furriéis, o Carvalho, e o outro atrás de um copo que pode ser o Camolas. Lembro os nomes dos soldados condutores, o Ermesinde, o Bourbon, o Pita e outros.

Terá sido uma das últimas fotos e convívios com o meu pessoal em São Domingos, pois de seguida, antes do fim do mês, já estava em fuga para mais umas férias no Porto.

Foto captada em São Domingos, numa Caserna de Soldados, em meados de Fevereiro de 1969.

«Propriedade, Autoria, Reserva e Direitos, de Virgílio Teixeira, Ex-alferes Miliciano do SAM – Chefe do Conselho Administrativo do BATCAÇ1933/RI15/Tomar, Guiné 67/69, Nova Lamego, Bissau e São Domingos, de 21SET67 a 04AGO69».


NOTA FINAL DO AUTOR:


# As legendas das fotos em cada um dos Temas dos meus álbuns, não são factos cientificamente históricos, por isso podem conter inexactidões, omissões e erros, até grosseiros. Podem ocorrer datas não coincidentes com cada foto, motivos descritos não exactos, locais indicados diferentes do real, acontecimentos e factos não totalmente certos, e outros lapsos não premeditados. Os relatos estão a ser feitos, 50 anos depois dos acontecimentos, com material esquecido no baú das memórias passadas, e o autor baseia-se essencialmente na sua ainda razoável capacidade de memória, em especial a memória visual, mas também com recurso a outras ajudas como a História da Unidade do seu Batalhão, e demais documentos escritos em seu poder. Estas fotos são legendadas de acordo com aquilo que sei, ou julgo que sei, daquilo que presenciei com os meus olhos, e as minhas opiniões, longe de serem ‘Juízos de Valor’ são o meu olhar sobre os acontecimentos, e a forma peculiar de me exprimir. Nada mais. #


Acabadas de legendar, hoje,

Em, 2018-12-30
Virgílio Teixeira

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Guiné 61/74 - P19391: (Ex)citações (349) a minha faca de mato e o meu canivete de marinhagem (Patrício Ribeiro, ex-grumete fuzileiro, Fragata NRP Comandante João Belo, Angola, c. 1969)







Faca de mato e canivete de marinhagem

Fotos (e legenda): © Patrício Ribeiro (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Patrício Ribeiro, grumete fuzileiro (**),
na fragata NRP Comandante
João Belo
, c. 1969..[ O comandante João Belo
 foi avô do nosso Zé Belo, régulo da Tabanca da Lapónia]
1. Mensagem do Patrício Ribeiro em resposta a um pedido lançado no poste P19383 (`)

Date: quarta, 9/01/2019 à(s) 22:17
Subject: Re: faca de mato dos fuzos


Boa noite, Luís

As minhas facas ainda as utilizo.

Junto fotos das duas,  que nos eram distribuídas.

Por vezes tinha algumas guerras com os colegas de "aventura", porque elas ou desapareciam e eram negociadas e trocadas.

Esta minha faca do mato fez a minha comissão em Angola, assim como a  de um dos meus irmãos (mais novo 2 anos), no Sul de Angola.

Com tanta aventura, perdemos o interior do cabo, em Angola.

A navalha ainda hoje anda sempre comigo quando ando nos meus trabalhos, pelos campos do Baixo Vouga.

A faca é utilizada para cortar carnes difíceis, como o presunto,  etc.

Ao fim de 50 anos, ainda as guardo com muito carinho... recordando o que já fomos ... (***=


Abraço

Patricio Ribeiro

2. Comentário de Luís 'Saci' Pereira:

Muito obrigado, Luís!

Já troquei um mail com o Patrício sobre o assunto, porque ele tem uma.

Já estive também a ver as respostas ao inquérito, mas giram todas em torno das facas de mato de Icel ou das alemãs, fabricadas em Solingen.
De qualquer maneira disseram-me que foram distribuídas entre 1968 e 1973.


Muito obrigado por tido

Abraço

Luís Pereira
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Notas do  editor:

(***) Último poste da série > 18 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19302: (Ex)citações (348): O 'cinema Paraíso'... de Fajonquito e de Nova Lamego.. Recordações de nhô Manel Djoquim, o homem do cinema ambulante (Cherno Baldé / Vital Sauane)

Guiné 61/74 - P19390: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte IV: Manuel Jorge Mota Costa (Porto, 1937 - Bongo, Angola, 1961)


Lisboa > Academia Militar > Palácio da Bemposta ou Paço da Raínha, na Rua do Paço da Rainha > Festival Todos , 7ª edição, 2015 > 12 de setembro de 2015 > Visita guiada, pelo cor art ref Vitor Marçal Lourenço, professor da Academia Militar.

É aqui a sede da Academia Militar (, antiga Escola do Exército, fundada en 1837), que tem como patrono o general Bernardo de Sá Nogueira, Marquês de Sá da Bandeira. Há também um polo na Amadora.

O seu lema é: "Dulce et decorum est pro Patria mori" (É doce e honroso morrer pela Pátria). Na escadaria de acesso ao piso superior (biblioteca. museu, galeria de comandantes...) estão inscritos os nomes dos antigos alunos mortos durante a guerra colonial (1961/74), nos vários teatros de operações. Na lista, os 3 primeiros são:  (i) Cap Inf  Abílio Eurico Castelo da Silva; (ii) Ten  Inf. Jofre Ferreira dos Prazeres; (iii) Alf Pqd Manuel Jorge Mota da Costa.

Foto (e legendas): © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].

Guiné 61/74 - P19389: Ser solidário (221): A "ONGD - Afectos com Letras" precisa de material para tratamento de queimaduras para dar resposta a uma solicitação do Hospital Simão Mendes de Bissau



1 . Mensagem de Afectos com Letras - afectoscomletras@gmail.com

Data: 9/01/2019
Assunto: Apelo - angariação de material para tratamento de queimaduras - Bissau

Car@s Amig@s,

Antes de mais, votos de um excelente 2019.
Em fevereiro a ONGD Afectos com Letras organizará uma nova missão solidária à Guiné-Bissau e gostaríamos de contar com o vosso apoio para dar resposta a uma solicitação de material para tratamento de queimaduras que nos foi feita pelos serviços sociais / ONG AIDA do Hospital Nacional Simão Mendes, em Bissau.
 

O material abaixo listado, básico para tratamento de queimaduras, raramente se encontra à disposição no hospital e poderá fazer toda a diferença no tratamento dos doentes ali internados.
 

*Pensos gordos (vários tamanhos);
*Creme à base de Sulfadiazina prata 1% (ex: Silvederma; Flammazine);
*Iodopovidona Dérmica;
*Adesivos;
*Luvas;
*Ligaduras;

Caso queiram participar poderão deixar o vosso contributo num destes locais até ao dia 2 de Fevereiro:
- Lisboa: R. António Albino Machado, 35F - 1600-259 Lisboa
- Pombal: Rua Santa Luzia, 11 - 3100 Pombal
- Sintra: Estrada da Monservia, 45B - 2705-553 S. João das Lampas

A vossa ajuda é crucial pois a falta destes materiais para tratamento dos queimados no hospital tem criado situações de verdadeiro horror e sofrimento.

Com os nossos melhores cumprimentos,

Associação Afectos com Letras, ONGD
Rua Engº Guilherme Santos, 2
Escoural , 3100-336 Pombal
 

NIF 509301878
tel - 91 87 86 792
Venha estar connosco no www.facebook.com/afectoscomletras

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Nota do editor

Último poste da série de 30 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19148: Ser solidário (220): Festa para ajudar a Construir uma Escola em Candamã, Guiné-Bissau: Leiria, Teatro Miguel Franco, 3 de novembro, 21h00 ( Luís Branquinho Crespo, Associação Resgatar Sorrisos)

Guiné 61/74 - P19388: Pelotões Independentes em Gadamael: A Memória (Manuel Vaz, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 798) (3): 3 - Os Pelotões de Artilharia que estiveram em Gadamael




1. Terceira parte do trabalho sobre os Pelotões Independentes que estacionaram em Gadamael, da autoria do nosso camarada Manuel Vaz (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 798, Gadamael Porto, 1965/67).










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Nota do editor

Último poste da série de 20 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19309: Pelotões Independentes em Gadamael: A Memória (Manuel Vaz, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 798) (2): 2 - Os Pelotões de Reconhecimento que estiveram em Gadamael (continuação)

Guiné 61/74 - P19387: Parabéns a você (1558): Bernardino Parreira, ex-Fur Mil Inf da CCAV 3365 e CCAÇ 16 (Guiné, 1971/73)

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Nota do editor

Último poste da série de 9 de Janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19382: Parabéns a você (1557): Manuel Vaz, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 798 (Guiné, 1965/67)

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19386: Historiografia da presença portuguesa em África (144): Meu Corubal, meu amor (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Junho de 2018:

Queridos amigos,
Este relatório dos primeiros anos da I República é uma pequena pérola. O Capitão Castro Fernandes dá sobejas provas de que era administrador empenhado, conhecedor do terreno, dos rios e rias, das etnias, das culturas, dos usos e costumes. Vale a pena recordar que nesta época ainda não se tinham visto os resultados das campanhas de pacificação e ocupação, o capitão desloca-se livremente, pratica a justiça com enorme prudência, avalia recursos, está atentíssimo à produção de milho e de arroz e mais nos surpreenderá quando falar do trabalho indígena, dos usos e costumes, do comércio.
É uma grata surpresa, este relatório que foi datilografado em 1931 e está nos Reservados da Biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa.

Um abraço do
Mário


Meu Corubal, meu amor (3)

Beja Santos

Nos Reservados da Sociedade de Geografia de Lisboa consta um dossiê assim apresentado: Província da Guiné – Relatório de autor ignorado (mas que julgamos ter sido elaborado pelo antigo Administrador de Buba, Capitão José António de Castro Fernandes, natural da Índia, cujo filhos residem, ainda, na Guiné. O original existia em poder do falecido Capitão Alberto Soares, antigo Administrador do Concelho de Bolama, combatente das campanhas de pacificação). Quem datilografou em 1931 diz que faltam as primeiras páginas, o que reproduz inicialmente está cheio de tracejado, é manifestamente incompreensível. O manuscrito, como iremos ver, é da década de 1910.

O documento datilografado (presumivelmente em 1931) começa por dizer tratar-se de Cópia – Extraída de um relatório, feito por autor desconhecido. Quem terá datilografado foi António Pereira Cardoso, funcionário colonial vastamente referido em diferentes relatórios das décadas de 1930 e 1940. O Capitão Castro Fernandes já nos deu um retrato saboroso dos rios da circunscrição de Buba, com ênfase para o Corubal, elencou as etnias da região e fala agora de natalidade, morbilidade e mortalidade. Começa por dizer que é muito raro encontrarem-se indivíduos com mais de 60 anos. O temperamento linfático dos Fulas, acrescido com doenças venéreas, o excesso de bebidas alcoólicas e a insuficiência de alimentação contribui para lhes encurtar a existência, que em média não é superior a 50 anos. Nas crianças, é grande a mortalidade até aos 2 anos, só compensada pela grande natalidade. As doenças mais frequentes são as febres, a bronquite infeciosa, pneumonias, blenorragias e outras manifestações graves de sífilis, nas crianças a enterite é desanimadora. E diz mais, apesar de se encontrar na circunscrição a mosca tsé-tsé, não conhece nenhum caso de doença de sono, já havia um caso de lepra no Forreá e havia uma mulher com elefantíase no Corubal e vários casos nos Beafadas do Quínara.

Interpelado no inquérito acerca dos produtos naturais da região, responde que são a cera bruta e limpa, o coconote, a borracha e a goma copal. O indígena cultiva mancarra, arroz e milho. O arroz é de diversas qualidades. O melhor de entre as variedades de arroz plantado no terreno seco é o Popé e do plantado nas bolanhas é o Iacé. O arroz de sequeiro assegura um bom êxito da sua cultura, quando haja muita frequência de chuvas e calor acompanhado de orvalho, depois de espigar. Fala demoradamente sobre as qualidades de arroz e milho e faz uma exposição sobre o gado existente na circunscrição.

Respondendo ao número de casas comerciais existentes, bem quanto a comerciantes que negoceiam no interior, responde que são 80 as operações comerciais existentes na área da circunscrição, estabelecimentos em Bafatá de Buba, Nachon, Xitole, Cumbidjã, Empada e Fulacunda. Nenhuma dificuldade era posta na concessão de licenças. Fala igualmente de ensaios de culturas, caso de bananeiras, cafezeiros e cajueiros e depois expõe demoradamente o processo adotado pelos indígenas para extrair a borracha, dizendo que toda a borracha da circunscrição de Buba é de primeira qualidade. Adianta que a circunscrição é rica na produção de coconote, designadamente nas margens do rio Corubal e seus afluentes. Se algumas dúvidas ainda subsistissem sobre os largos conhecimentos do administrador acerca da região, tudo fica esclarecido com o que ele observa acerca das áreas cultivadas. Vale a pena citá-lo na íntegra:
“Para a cultura do milho, escolhem terrenos planos, leves e algo areentos. São preferidos os terrenos altos e desafrontados, geralmente no campo um pouco afastados das populações. Preparam o terreno fazendo uma queimada, o que é indispensável não só para adubar o solo como para afugentar a formiga ou a bagabaga. À primeira bátega de água, revolvem a terra à profundidade de 22 ou 25 centímetros, plantando as sementes distanciadas uns 50 centímetros. Durante o crescimento fazem algumas mondas.
Nas proximidades das habitações plantam: batata-doce, baguixe, cabaças e milho tubanho (milho da América ou de Cabo Verde).

A plantação de arroz fazem sempre em locais afastados das povoações, nas várzeas ou lalas.
Para o arroz de sequeiro preferem terrenos altos que pela sua inclinação permitam fácil escoamento da água. O terreno é previamente preparado com queimadas e estrume de curral e só depois revolvida a terra. Divide-se então em leiras, abrindo entre estas valas que estando mais ou menos cheias de água conservam a humidade necessária.
Para o arroz das bolanhas ou de lala, preferem os terrenos junto dos rios, dispostos em planícies, de forma a que possam conservar nelas toda a água das chuvas. O terreno para este arroz requer uma preparação especial. Os Balantas são os únicos que melhor preparam o terreno para este arroz, e são os que fazem importantes trabalhos de irrigação e que consistem no seguinte:
Primeiramente, procede-se à limpeza e ao arranque das raízes de qualquer vegetação e fazem a lavoura profunda. Em seguida forma-se a armação em plano perfeitamente horizontal, de forma que facilmente possam inundar o terreno; dividem-se em tabuleiros quadrados ou rectangulares, conforme a direcção das águas e disposição do terreno”.

Dificilmente se pode duvidar que este administrador era um grande conhecedor da realidade agrícola desta região Sul.

O assunto agora muda de direção, fala-se em justiça, é perguntado como pune os delitos que o indígena mais comumente pratica. É direto e parcimonioso na resposta, dizendo que o Fula geralmente comete poucos delitos. As suas principais e frequentes queixas são sobre vacas em dívida, divórcios e questões de família; todas estas questões são resolvidas ouvindo o régulo e os homens grandes, e nunca com punições. Por delitos, têm sido punidos vários Fulas, por emprego de facas curvas na extração da borracha; corte das plantas de borracha e ainda o das palmeiras de coconote; falta de cumprimento das ordens dos chefes e dos régulos; espancamentos com ou sem ferimentos; ameaças com armas de fogo, etc. Entre os Mancanhas são frequentes os delitos por espancamento e ferimentos. Entre os Balantas é mais frequente o delito por furtos. Qualquer que seja a justiça a resolver, seja por simples questão de família ou seja por delitos cometidos, são sempre resolvidas em pública audiência, com a presença do régulo e homens grandes, ouvindo as testemunhas, o queixoso e o acusado. Os régulos e os homens grandes também são ouvidos, e nunca multa alguma se aplicou sem previamente ouvir a opinião dos régulos e homens grandes, sobre qual ela deve ser, mas, em geral, as multas por mim aplicadas foram sempre reduzidas a metade das indicadas por eles.

Muito há ainda a dizer sobre este relatório, ir-se-á falar de trabalho indígena, população, o grau de civilização dos indígenas, usos e costumes e algo mais – o suficiente para olhar para este documento como prova etnográfica de grande valia. Recorde-se que estamos nos primeiros anos da República, ainda não se fala das grandes campanhas de ocupação e pacificação, este administrador percorria a circunscrição de Buba pelo seu próprio pé ou de canoa, em nenhuma página do relatório fala de riscos para a sua vida ou de tensões no seu relacionamento com os régulos do Forreá e do Quínara.

(Continua)

Não é a primeira vez que se põe esta imagem, faz parte da minha relação muitíssimo íntima com o rio Geba, em Mato de Cão, é aqui que a estação se posiciona, as colunas de cimento e o que resta da estação, mesmo com as marcações para a água existiam há 50 anos atrás, a passadeira em madeira já estava num escombro, tinham caído as guardas, mas eu podia ir até junto do marco da estação e pedir boleia aos barcos civis e militares que seguiam para Bambadinca. Na margem esquerda, segue-se me direção a Ponta Varela, local temível no tráfego fluvial, corria-se o risco de roquetadas.

Ambas estas imagens são extraídas do livro “As comunicações e os aproveitamentos hidráulicos da Guiné, Angola e Moçambique”, Agência-Geral do Ultramar, 1961.

Dançarinos numa festa em Formosa, num documento dedicado ao estuário do rio Buba. 
Imagem retirada do site http://gw.geoview.info/rio_grande_de_buba,2372291, com a devida vénia.
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Nota do editor

Último poste da série de 2 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19356: Historiografia da presença portuguesa em África (142): Meu Corubal, meu amor (2) (Mário Beja Santos)