quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19408: Historiografia da presença portuguesa em África (145): Meu Corubal, meu amor (4) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Junho de 2018:

Queridos amigos,
Não deixa de provocar assombro como neste período tão tumultuoso da I República, em que à Guiné arribaram por vezes governadores sem o mínimo de preparação, ter havido a preocupação de lançar inquéritos para toda a administração da colónia com questões minuciosas sobre a geografia, os recursos hídricos, as matas e florestas, a natureza das populações, a justiça, o produzir e o modo de produzir, o comércio, a cobrança dos impostos, e muito mais.
O Capitão Castro Fernandes, digo-o sem exagero, deixou-nos um documento de grande vivacidade, era conhecedor do território que administrava e quando se quiser fazer o estudo elaborado desta década de 1910 no Quínara e no Forreá este relatório é de consulta indispensável, sem margem para dúvidas.

Um abraço do
Mário


Meu Corubal, meu amor (4)

Beja Santos

Nos Reservados da Sociedade de Geografia de Lisboa consta um dossiê assim apresentado: Província da Guiné – Relatório de autor ignorado (mas que julgamos ter sido elaborado pelo antigo administrador de Buba, Capitão José António de Castro Fernandes, natural da Índia, cujo filhos residem, ainda, na Guiné. O original existia em poder do falecido Capitão Alberto Soares, antigo administrador do concelho de Bolama, combatente das campanhas de pacificação). Quem datilografou em 1931 diz que faltam as primeiras páginas, o que reproduz inicialmente está cheio de tracejado, é manifestamente incompreensível. O manuscrito, como iremos ver, é da década de 1910.

O documento datilografado (presumivelmente em 1931) começa por dizer tratar-se de Cópia – Extraída de um relatório, feito por autor desconhecido. Quem terá datilografado foi António Pereira Cardoso, funcionário colonial vastamente referido em diferentes relatórios das décadas de 1930 e 1940.

O mínimo que se pode dizer deste relatório é de que se trata de um valioso retrato de observação de alguém que, sem sombra de dúvida, percorreu todos os cantos da sua administração, fala com propriedade dos recursos hídricos, das etnias ali residentes, do que se produz e como se produz, das práticas de justiça, do trabalho indígena, do grau de civilização das populações.

Estamos agora no trabalho indígena, ele associa-o às obras dentro da circunscrição: capinação e limpeza dos caminhos, pranchas em todos os cursos de água – trabalho que não é remunerado por ser do interesse comum. E adianta que se faz capinação três vezes ao ano em Buba, o trabalho não é remunerado mas já foi, com ração e o pagamento de 10 centavos, quando executado por indígenas de povoações longínquas.
E elenca outras atividades:
“Construção das palhotas para os Postos do Corubal, Quínara e Cubisseco e renovação anual das suas coberturas. Remunerado com ração diária de arroz, regulada pelos chefes dos Postos e por minha ordem, à razão de 10 a 15 centavos por cada trabalhador.
Renovação anual da cobertura da palhota de Buba, para régulos e indígenas em trânsito. Não remunerado por ser de interesse comum.
Abertura de valetas em Buba. Trabalho exclusivamente executado por Papéis, assalariados a 24 centavos diários.
Demarcação de 20 mil hectares de terreno concedidos a Souza e Almeida, no Forreá e Corubal. Trabalho remunerado directamente pelo agrimensor, regulado a ração ou em dinheiro, uns a 15 outros a 20 centavos diários, conforme menor ou maior actividade demonstrada no trabalho.
Construção da linha telegráfica de Buba a Cacine. Remunerado a 15 centavos diários cada indígena.
Construção do cais-ponte em Buba e respectivo aterro. Trabalharam Papéis, pessoal menor da Administração, presos e Fulas.
Corte de lenha para as canhoneiras. Trabalho remunerado a um escudo a tonelada. Condução de malas do correio. Remunerado, regulado a 50 centavos diários. Condução de cargas de funcionários públicos em trânsito, e bem assim os transportes para estes. Não remunerados por ser não só da praxe nada pagar, como também por ser uma obrigação dos impostos nas cláusulas do tratado de submissão na guerra de 1895, quando batidos no Forreá”.

Esclarece que a população da circunscrição tem aumentado de uma forma progressiva, sobretudo nos regulados de Contabane, Quínara e Cubisseco. Tendo sido perguntado como faz o arrolamento, responde assim:
“Nos territórios do Forreá e Corubal o arrolamento é feito a cavalo, gastando-se 22 dias. Nos territórios do Quínara e Cubisseco é feito de lancha a vapor, gastando-se 25 dias. Não tendo a circunscrição um barco a vapor, e sendo este fornecido pela Capitania, com indicação dos dias em que pode ser utilizado, há a sujeitar-se a esta indicação.
Chegado a uma tabanca, a contagem das palhotas, sempre mandei que fosse feita pelo ‘grande’ do régulo que me acompanha, limitando-me eu a verificar a exactidão do arrolamento anterior: nomes dos indivíduos que passaram para outras povoações; nome dos que entraram de novo ou de outras povoações e nome dos falecidos no penúltimo ano. Estes esclarecimentos são fornecidos pelo régulo. Por esta forma não podem ser lesados os interesses do Estado, o que de contrário se sucederia, pois que o indígena quando se aproxima a época do arrolamento, reduz ao mínimo o número das palhotas, aproveitando para moradias as cozinhas, as palhotas destinadas aos cavalos na época pluviosa, as palhotas destinadas para a arrecadação do milho e do arroz, enchendo de palha e milho as que são habitadas, para fingirem que são arrecadações, e, finalmente, espalhando no solo estrume de cabras e carneiros, para fingirem que são palhotas destinadas a resguardo destes.
As palhotas habitadas por indigentes e bem assim as dos impossibilitados de trabalhar e que vivem da caridade pública, nunca deixei de dispensar de pagamento, desde que se reconheça que são dos próprios, o que facilmente se distingue pela construção e estado interior e exterior da palhota.
Num dos arrolamentos a que procedi, encontrei sucessivamente em três tabancas um indigente que tinha a mão com falta de dedos, por onde, se pode calcular, quanta ardileza emprega o indígena, como aliás todos os povos, para se esquivarem ao fisco.”

Questionado quanto ao grau de civilização em que se encontram os povos da sua jurisdição, responde deste modo:
“Os Fulas, Mandingas e mesmo os Beafadas, estão, em relação aos Balantas, Brames e Manjacos, num grau de civilização bastante adiantado. O seu vestuário, os seus usos, e a forma amável e hospitaleira como recebem demonstram o grau bastante elevado da sua civilização.
Os Balantas, Brames e Manjacos, algo atrasados, o que demonstram no seu vestuário, nos usos e costumes e nas suas questões de família, estão mergulhados num grosseiro feiticismo, prestando culto a diversas árvores, principalmente aos poilões, onde em todas as circunstâncias difíceis vão consultar para receber esclarecimentos sobre o futuro ou saber o significado de algum facto já realizado. Quem conhece estas raças nos seus territórios de Cacheu ou Mansoa, fica surpreendido de os ver no território do Quínara, com a mudança radical dos seus hábitos de selvajaria, produzida pela aproximação de raças mais adiantadas. Não é fácil nem rápida a transformação de hábitos inveterados numa raça. Toda a circunscrição está por completo pacificada, tendo para isso exercido uma grande influência não só à administração local directa, o êxito das últimas guerrilhas e a estada do régulo Cherno Kali e ‘grandes’ em Portugal, aquando do centenário da Descoberta da Índia, em 1898.
Pode-se avaliar o grau de pacificação completa pela docilidade e submissão com que todos, sejam Fulas, Brames ou Balantas, se apresentam na administração para fazer as suas queixas ou apresentar as questões de família; pela prontidão com que apresentam carregadores e sem relutância desempenham os serviços de limpeza dos caminhos; e, ainda, como no dia em que lhes for indicado, pagam o respectivo imposto de palhota, na maioria na sede da circunscrição em Buba.”

(Continua)




Estas três imagens foram retiradas do livro de Francisco Tenreiro, “Acerca da casa e do povoamento da Guiné (Estudos, Ensaios e Documentos) ”, Ministério das Colónias, 1950. Atenda-se à observação que o professor Orlando Ribeiro pôs nestes registos de grande pendor humanístico.
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19386: Historiografia da presença portuguesa em África (143): Meu Corubal, meu amor (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19407: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LX: A Casa Caeiro e os comerciantes libaneses de Nova Lamego


Foto nº 1


Foto nº 1 >  A Família Caeiro, na sala de cinema do Gabu, nas últimas filas.  Da direita para a esquerda: eu, o senhor Caeiro, a sua filha e uma amiga. Nova Lamego, na sala de cinema do Gabu, 21 Fevereiro de 68. Foto nº 1A - Detalhe: O sr. Caieiro e a filha (que ostenta, na foto, a capa de uma revista humorística brasileira, popular na época, "Vamos Rir!", de periodicidade mensal, da "Rádio Editora Lda...)



Foto nº 2 >  Uma das primeiras fotos tiradas naquela terra quando cheguei a Nova Lamego. Estou no 1º andar do edifício do Conselho Administrativo,  do BCAÇ 1933,  no terraço do mesmo, e por trás pode ver-se a loja da Casa Caeiro. Nova Lamego, Outubro de 1967.


Foto nº 3  > Vistas da Casa Caeiro, uma casa comercial que pensava ser de Libaneses, mas já alguém me disse que não eram Libaneses. Foto tirada do 1º andar das instalações do CA.  Nova Lamego, Set / Out 1967.


Foto nº 4 > Nova Fotografia das instalações da Casa Caeiro.  Foto tirada do 1º andar das instalações do CA.  Nova Lamego, Janeiro de 1968.



Foto nº 5 > Instalações fortificadas [, protegidas por bidões com areia, ao nível térreo... ]do CA – Conselho Administrativo. Em cima, no  1º andar do edifício do Comando do Batalhão,  o autor e mais 2 elementos do CA, Furriel Pinto Rebolo e o nosso 1º Cabo Seixas.  Nova  Lamego, c. Set / Out 1967.


Foto captada em Nova Lamego, a partir da Rua Principal, das instalações do CA, no mês de Janeiro de 68.

Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Nova Lamego

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





1. Continuação da publicação do álbum foto-
gráfico do nosso camarada Virgílio Teixeira, 


[Foto à esquerd , o Virgílio e a esposa Manuela, o grande amor da sua vida, na Tabanca de Matosinhos, Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei), 5 de setembro de 2018. O casal vive em Vila do Conde. (Foto: LG, 2018)]



CTIG - Guiné 1967/69 - Álbum de Temas:

T060 – A CASA CAEIRO

Comerciantes Libaneses em Nova Lamego


VISTAS DO EDIFICIO DO COMANDO


I - Anotações e Introdução ao tema:

1 - O Meu Batalhão – BCAÇ 1933 – instalou-se em Nova Lamego, Sector militar L3, no Leste da Guiné. O comando do Batalhão, ficou com um dispositivo de 18 unidades independentes, ao longo de 1/5 do território do CTIG.

Nova Lamego, também conhecida por Gabu, é uma cidade de porte médio, com varias infraestruturas locais, nomeadamente, correios, escola, cinema, café e bar, algumas casas de comidas e bebidas, bem como, algumas lojas de comércio.

O concelho do Gabu é governado por um Administrador de Circunscrição, com sede em NL, e um Administrador de Posto com sede em Piche.

De todas as lojas, a que mais se destacava era a famosa Casa Caeiro, mesmo no centro da cidade. Ali vendia-se de tudo o que precisávamos e mais o que não era preciso para nada.

O Senhor Caeiro, dono da referida casa comercial, tinha uma bela filha, branca,  libanesa, coisa a não desperdiçar, em terra de pouca mulher branca, a qual era acompanhada por várias vezes com outra rapariga branca, que não sei qual a relação com eles.

A Casa Caeiro localizava-se mesmo do outro lado da rua, frente a frente, onde estava o gabinete do Conselho Administrativo, e do respectivo Comando do Batalhão.

Era um edifício tipo colonial, e ficávamos no 1º andar desse edifício, e logo se poderia ver todo o andamento e movimento da loja, a Casa Caeiro, que não era nada pequena, e que era frequentada pelas variadas etnias locais.

De tal modo que era um passatempo, vir para o varandim, e ver as pessoas, locais e outras pessoas europeias ou não, com os seus negócios, e acima de tudo, quando a filha do Caeiro saia à rua, logo era alertado por alguém o grito do Ipiranga, para irmos todos ver a beldade de mulher a sair à rua, com o seu corpo formoso para aquelas paragens.

Posto isto, a Casa Caeiro era visitada quase diariamente pela ‘malta’ nem que fosse para comprar uma caixa de fósforos, ou um abano para o calor.

Era gente simpática, o que está escrito é que eles apenas se dedicavam ao comércio, não alinhavam a sua actuação nem de um lado nem de outro, eram independentes, o que já seria uma tarefa difícil numa zona de guerra, como era aquela.

Quanto à filha do Caeiro, apenas falei com ela na loja, cruzávamos na rua, no café ou no pequeno cinema semanal, não sei a vida que eles levavam fora das horas de serviço.

Resolvi tirar este Tema do grande tema de Nova Lamego, com cerca de 200 fotos, e fazer um pequeno Poste de 5 fotos, para dar um pouco de ar fresco àquela zona tórrida e seca.

Este Tema já havia sido enviado para postar num grande conjunto sobre Nova Lamego, e agora foi alterado para formato mais pequeno.

Já foi revisto e corrigido várias vezes, para melhor clarificar certas fotos e inseri-las do contexto do tema. Acho que agora já não há mais nada para corrigir.

Estas fotos não estão nada bem, por um lado por falta de prática, depois são outros a tirá-las, sendo eu a focar a máquina, mesmo assim não prestam.

Por outro lado, a qualidade inicial do rolo e do papel de revelação não era nada bom, e com 50 anos metidas numa caixa e em várias sítios e garagens, a humidade e o tempo fizeram o resto, o bolor foi-as comendo, apesar disso hoje já estão digitalizadas.



Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > c. 1966 > A rua principal de Nova Lamego... Do lado esquerdo vê a Casa Caeiro e o edifício que era o comando do batalhão do BCAÇ 1894... Do lado direito, um edifício não editificado e depois a estação dos CTT(Correios, Telégrafos e Telefones)...

Foto do álbum de Manuel Caldeira Coelho (ex- fur mil trms, CCAÇ 1589 / BCAÇ 1894, Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68)

Foto: © Manuel Caldeira Coelho (2011). Todos os direitos reservados, [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné ]


II - Legendas das fotos:

F01 – A Família Caeiro, na sala de cinema do Gabu, nas últimas filas.

Vemos junto a mim, o Senhor Caeiro, a sua bela e avantajada filha e outra rapariga que não parece filha, e nunca soube a sua relação. Não vejo a esposa do Sr. Caeiro. Pensava ser na casa dele, mas acredito mais ser na sala de cinema do Gabu, pela forma de estar e pelas cadeiras.

Foto captada em Nova Lamego, na sala de cinema do Gabu, em 21 Fevereiro de 68.

F02 – Uma das primeiras fotos tiradas naquela terra quando cheguei a Nova Lamego. Estou no 1º andar do edifício do Conselho Administrativo, no terraço do mesmo, e por trás pode ver-se a loja da Casa Caeiro, a mais conhecida do local, especialmente pela especialidade da sua filha. Mais atrás podem ver-se enormes árvores – poilões, mangueirais, ou outras espécies.

Foto captada em Nova Lamego, no 1º andar das instalações do Conselho Administrativo, em Outubro de 67.

F03 – Vistas da Casa Caeiro, uma casa comercial que pensava ser de Libaneses, mas já alguém me disse que não eram Libaneses. Os fulas e outros muçulmanos, sentados na sombra da casa, o calor aperta. A atravessar a rua, vou à frente e atrás vem o nosso Furriel Rocha – O Algarvio, com a sua boina e a sua sombra.

Foto captada em Nova Lamego, do 1º andar das instalações do CA, entre os meses de Set-Dez 67.

F04 – Nova Fotografia das instalações da Casa Caeiro, comerciante Libanês, é ainda muito cedo, pois as sombras são menores e o movimento não é grande.

Foto captada em Nova Lamego, do 1º andar das instalações do CA, no mês de Janeiro de 68.

F05 – Instalações fortificadas do CA – Conselho Administrativo, no 1º andar do edifício do Comando do Batalhão. Em cima, o autor e mais 2 elementos do CA, Furriel Pinto Rebolo e o nosso 1º Cabo Seixas. Outras das primeiras fotos captadas na Guiné e em Nova Lamego.

Foto captada em Nova Lamego, a partir da Rua Principal, das instalações do CA, no mês de Janeiro de 68.

NOTA FINAL DO AUTOR:

# As legendas das fotos em cada um dos Temas dos meus álbuns, não são factos cientificamente históricos, por isso podem conter inexactidões, omissões e erros, até grosseiros. Podem ocorrer datas não coincidentes com cada foto, motivos descritos não exactos, locais indicados diferentes do real, acontecimentos e factos não totalmente certos, e outros lapsos não premeditados. Os relatos estão a ser feitos, 50 anos depois dos acontecimentos, com material esquecido no baú das memórias passadas, e o autor baseia-se essencialmente na sua ainda razoável capacidade de memória, em especial a memória visual, mas também com recurso a outras ajudas como a História da Unidade do seu Batalhão, e demais documentos escritos em seu poder. Estas fotos são legendadas de acordo com aquilo que sei, ou julgo que sei, daquilo que presenciei com os meus olhos, e as minhas opiniões, longe de serem ‘Juízos de Valor’ são o meu olhar sobre os acontecimentos, e a forma peculiar de me exprimir. Nada mais. #


«Propriedade, Autoria, Reserva e Direitos, de Virgílio Teixeira, Ex-alferes Miliciano do SAM – Chefe do Conselho Administrativo do BCAÇ1933 / RI15 / Tomar, Guiné 67/69, Nova Lamego, Bissau e São Domingos, de 21Set67 a 04Ago69».

Em, 2019-01-14.

Corrigido o texto e as legendas das fotos, hoje.

Guiné 61/74 - P19406: Agenda cultural (668): Absolutamente a não perder: RTP1, todas as 2ªs feiras, às 23h45, a partir de 14/1/2019, "As Rotas da Escravatura", em 4 episódios de 53 m cada... Do séc. VII até hoje, a África foi o epicentro de um gigantesco tráfico global de seres humanos: mais de 20 milhões de africanos foram deportados, vendidos e submetidos à escravatura: Núbios, Fulas, Mandingas, Songais, Sossos, Akans, Iorubás, Igbos, Bacongos, Ajauas, Somalis...



Fotograma do vídeo de apresentação do documentação (1º episódio, RTP1, 14/1/2019) (com a devida  vénia...)


A história da escravatura do séc. VII até aos dias de hoje: documentário em 4 episódios, na RTP1




Esta é a história de um mundo onde o comércio de escravos desenhou os seus territórios e as suas próprias fronteiras. Um mundo onde a violência, a opressão e o lucro impuseram as suas rotas.
A história da escravatura não começou nos campos de algodão. É uma tragédia muito mais antiga que se desenrola desde os primórdios da Humanidade.

A partir do séc. VII e durante mais de mil anos, a África foi o epicentro de um gigantesco tráfico global. Este sistema criminal moldou o nosso mundo e a nossa história. A amplitude deste tráfico é tal que, durante muito tempo, foi impossível explicar todos os seus mecanismos.

Nesta série documental volta-se a percorrer as rotas da escravatura, abordando as suas consequências na sociedade contemporânea.

Segundas, às 23h45, na RTP1, a partir de 14/1/2019

As Rotas da Escravatura

1º episódio > 476-1375: Para Além do Deserto,  14 jan 2019 [Pode ser revisto aqui no prazo de 7 dias]

Sinopse:

A partir do séc. VII e durante mais de mil anos, a África foi o epicentro de um gigantesco tráfico global. Núbios, Fulas, Mandingas, Songais, Sossos, Akans, Iorubás, Igbos, Bacongos, Ajauas, Somalis... Mais de 20 milhões de africanos foram deportados, vendidos e submetidos à escravatura. Este sistema criminal moldou o nosso mundo e a nossa história. A amplitude deste tráfico é tal, que durante muito tempo foi impossível explicar todos os seus mecanismos.

2º episódio: 1375-1620: Por Todo o Ouro do Mundo, 22 jan 2019

Sinopse:

No século XIV, a Europa abre-se ao mundo e apercebe-se de que se encontra à margem da mais importante zona de trocas comerciais do planeta.

Este mapa, o "Atlas catalão", aguça o apetite de conquistas dos europeus. Mapa dos ventos, o Atlas guia os marinheiros como viajantes por terra firme. Mapa político faculta informações sobre as forças em presença. Por fim, como mapa económico, indica as rotas comerciais com destino a África e aos seus recursos.

Um pequeno reino é o primeiro a lançar-se ao assalto das costas africanas: Portugal. Na sua esteira, desenha-se uma nova rota da escravatura.

Sinopses dos próximos episódios (nº 3 e 4) ainda não disponível

Ficha Técnica

Título Original:  Les Routes de l´esclavage
Realização:  Daniel Cattier, Juan Gelas, Fanny Glissant
Produção: Compagnie des Phares et Balises, ARTE France, Kwassa Films, RTBF, LX Filmes, RTP, Inrap
Música: Jérôme Rebotier
Ano: 2017
Duração de cada episódio: 53 minutos

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19405: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte VII: ten inf Alberto Santiago de Carvalho (Unhais da Serra, Covilhã, 1935 - Damão, Índia, 1961)






1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um dos 47 Oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar que morreram em combate no período 1961-1975, na guerra do ultramar ou guerra colonial (em África e na Ásia).

Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva, instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972. Foi cadete-aluno nº 45/63, do corpo de alunos da Academia Militar.

2. A história da Academia Militar remonta ao tempo de D. João IV, e ao ano de 1641, ou seja, ao início da guerra da restauração: a "Lição de Artilharia e Esquadria" é considerada a primeira escola de formação de oficiais do nosso exército. Mas em 1790, ao tempo da D. Maria, com a designação de "Academia Real de Fortificação, Artilharia e Desenho", é que passa a ser uma instituição de ensino superior das ciências e técnicas militares. 

Em 1837, passa a designar-se por Escola do Exército, por iniciativa de Bernardo de Sá Nogueira de Figueiredo, Marquês de Sá da Bandeira. (Será o seu mais ilustre comandante, entre 1851 e 1876).

Depois teve diversas desinações: (i) Escola do Exército (1837-1910);  (ii) Escola de Guerra (1911-1919); (iii) Escola Militar (1919-1938); (iv) de novo Escola do Exército  (1938-1959); e (v) e por fim Academia Militar (desde 1959 até hoje), com sede no Rua Gomes Freira, em Lisboa, e um polo na Amadora.
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Nota do editor:

Último poste da série 13 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19399: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte VI: ten pilav António Seabra Dias (Mealhada, 1932 - Serra da Cananga, Angola, 1961)

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19404: Notas de leitura (1141): Um grande arquivo do nacionalismo emergente na África Portuguesa por Ronald H. Chilcote (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Dezembro de 2018:

Queridos amigos,
É obra, pôr no grande ecrã todos os figurantes envolvidos na chamada guerra de África ou guerra de libertação ou guerra colonial. As tomadas de posição, os programas, os documentos que passaram para a História, estão nesta obra os vencedores e os vencidos, os movimentos de libertação que se extinguiram e os que vingaram, uma recolha surpreendente, a moeda corrente do tempo eram os documentos a favor ou contra, de modo algum era usual expor todas as posições, todos os atores, sem interjeições nem quaisquer subtilezas de simpatia ou camaradagem. Talvez por isso mesmo este acervo documental gigantesco de Ronald H. Chilcote jaz hoje na penumbra, mesmo na historiografia portuguesa contemporânea.

Um abraço do
Mário


Um grande arquivo do nacionalismo emergente na África Portuguesa

Beja Santos

Ronald H. Chilcote é hoje um octogenário que levou uma carreira de prestígio na ciência política, ao nível da Universidade da Califórnia, no que toca aos estudos da África Portuguesa, do Brasil e da América do Sul. Para saber mais sobre o seu currículo profissional, as suas investigações e os livros publicados recomenda-se o site:

https://en.wikipedia.org/wiki/Ronald_H._Chilcote

O terceiro importante trabalho deste investigador foi edição documental referente ao nacionalismo emergente na África Portuguesa, edição da Hoover Institution Press, Stanford University, 1972. Projeto ambicioso e muitíssimo bem-sucedido, reconheça-se que estão aqui as peças documentais essenciais para analisar as posições do Estado Novo, da oposição interna ao regime, a evolução dos movimentos de libertação nas colónias portuguesas, uma análise da liderança dentro desses movimentos, tendo no seu termo uma impressionante lista de abreviaturas de todas estas organizações, mais um glossário de termos portugueses.

Em sequência, de modo a que os leitores interessados conheçam elementarmente os grandes tópicos, Ronald Chilcote começa por contextualizar a posição oficial do Estado Novo, dando uma sequência de discursos de Salazar e Castro Fernandes, procede à leitura de Gilberto Freire, mostra a Lei Orgânica do Ultramar, a posição de Cunha Leal e Manuel Homem de Mello, Henrique Galvão e Humberto Delgado; temos depois o itinerário dos movimentos revolucionários de Angola, com destaque para discursos e tomadas de posição da UPA/FNLA de Holden Roberto, do GRAE (Governo Revolucionário de Angola no Exílio), as resoluções da FLEC, os documentos ideológicos de Mário de Andrade e Viriato da Cruz, Agostinho Neto, a documentação básica referente ao MPLA, as resoluções das suas conferências, o acervo de documentos que o Movimento enviou a instituições internacionais; temos, logo a seguir, o nacionalismo da Guiné Portuguesa e no arquipélago de Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, Ronald Chilcote agendou um texto sobre os massacres em São Tomé, em 1953, as intervenções de Amílcar Cabral, de Henri Labéry, François Mendy, Miguel Trovoada, são inseridos os estatutos do PAIGC, da União Geral dos Trabalhadores da Guiné, isto a par da documentação da FLING, o memorando do PAIGC para o Governo Português (1/12/1960), bem como o memorando que Cabral remeteu para a Assembleia das Nações Unidas, em 1961, excertos de diferentes intervenções, por vezes com exageros colossais propagandísticos, como dizer que as tropas portuguesas tinham tido elevadas centenas de mortos na batalha do Como; segue-se o nacionalismo em Moçambique, é um acervo igualmente rico, com dados históricos de Moçambique, o desenvolvimento do seu nacionalismo apresentado por Eduardo Mondlane, a momentosa situação dos refugiados exposta pela sua mulher, Janet Rae Mondlane, as diferentes forças envolvidas na criação da Frelimo e de outros movimentos posteriormente desaparecidos também têm aqui lugar, como certas regras de liderança, houve quem tentasse afastar Eduardo Mondlane acusando-o de que estava ao serviço dos americanos, os programas da Frelimo, da UDENAMO (União Democrática Nacional de Moçambique, do Comité Secreto da Restauração da UDENAMO, da FUNIPAMO (Frente União Anti-Imperialista Popular Africana de Moçambique), do COREMO (Comité Revolucionário de Moçambique), e não faltam artigos como o de Marcelino dos Santos no contexto da Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas (CONCP), em Casablanca, em abril de 1961, onde também tomaram a palavra Viriato da Cruz, Adelino Gwambe, Miguel Trovoada, são feitas referências à declaração geral produzida na II Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas que se realizou em Dar es Salaam, em outubro de 1965. No termo da obra, o cientista norte-americano apensa um conjunto de documentos que se prendem com tomadas de posição da ONU sobre o modo de resoluções, discussão até sobre a possibilidade de expulsar Portugal de várias agências. Em apêndice, o autor inclui notas da oposição, pré nacionalista e nacionalista com interesses na África Portuguesa, de diferente índole.

Um acervo documental único, mais de 600 páginas, estávamos em 1972, tanto quanto se sabe era a primeira vez que um estudioso congregava nas águas do mesmo rio a posição portuguesa, a oposição ao Estado Novo, de vários matizes, e a ascensão e consolidação dos movimentos de libertação da África Portuguesa. Documento incontornável para a história comparada de todos estes nacionalismos emergentes. Estranhamente, esta preciosa documentação é escassamente citada na bibliografia da especialidade.

Holden Roberto
Eduardo Mondlane
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Nota do editor

Último poste da série de 11 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19395: Notas de leitura (1140): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (68) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19403: (Ex)citações (350): Ponto e contraponto: calão, crioulo, linguagem obscena, racismo, colonialismo e nacionalismo... (Cherno Baldé / António Rosinha)


Guiné- Bissau > Bissau > Maio de 1997 > "Eu e a minha mãe"

Foto (e legenda): © Cherno Baldé (2011). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Comentários ao poste P19396 (*)


(I) Cherno Baldé [, n. c. 1960 em Fajonquito, setor de Contuboel, região de Bafatá, estudou na Ucrânia e em Portugal, quadro superior na GB, gestor de projetos, vive em Bissau, nosso colaborador permanente, especialista em questões etnolinguísticas]

[...] Convém ter em conta que parte das expressões apresentadas [, no Pequeno Dicionário da Tabanca Grande,]  como sendo "crioulo",  podem ser invenções da tropa metropolitana e seus soldados indígenas,  e que os guineenses dito crioulos nunca ou quase nunca utilizavam por representar caricaturas de crioulo. 

Por exemplo,  "Partir mantenha, partir catota, cabaço, mama-firme", entre outras expressões, podiam representar formas impróprias e pouco respeitosas para com os nativos, vistos como inferiores e pouco dignos do respeito devido às pessoas civilizadas, nesse caso aos portugueses da metrópole.[...] 

O uso do calão ou do baixo calão pode ser normal e existe em todas as sociedades humanas. O que pode chocar é a sua utilização com caracter racista e/xenófobo como era o caso na Guiné durante a guerra. No inicio, até 1970, pareciam-nos expressões normais no convivência com a tropa, sobretudo porque a maioria era originária do Norte de Portugal, mas quando começaram a chegar as mulheres (as senhoras) brancas, esposas de alguns oficiais, constatamos com desagrado que todo o arsenal de obscenidades era só e unicamente reservado a nossa gente e de forma especial as nossas mulheres, sem distinção entre casadas e mulheres grandes. Isto não era só calão, era racismo e abuso do poder sobre os dominados, portanto, inaceitável. Se os militares não tivessem posto um ponto final na guerra em 74, com a nossa geração de jovens escolarizados e nacionalistas, certamente que não seria a mesma coisa. E penso que é isso que explica, entre outras coisas, a adesão do grupo de Domingos


(II) António Rosinha:

(i) beirão, tem mais de 115 referência no nosso blogue;

(ii) é um dos nossos 'mais velhos' e continua, ativo, a participar, com maior ou menor regularidade, no nosso blogue, como autor e comentador;

(iii) andou por Angola, nas décadas de 50/60/70, do século passado;

(iv) fez o serviço militar em Angola,  em 1959, sendo fur mil, em 1961/62;

(v) diz que foi 'colon' até 1974 e continua a considerar-se um impenitente 'reacionário' (sic);

(vi) 'retornado', andou por aí (, com passagem pelo Brasil, já sem ouro, nem pedras preciosas...), até ir conhecer a 'pátria de Cabral', a Guiné-Bissau, onde foi 'cooperante', tendo trabalhado largos anos (1987/93) como topógrafo da TECNIL, a empresa que abriu todas ou quase todas as estradas que conhecemos na Guiné, antes e depois da 'independência';

(vii) o seu patrão, o dono da TECNIL, era o velho africanista Ramiro Sobral;

(viii) é colunista do nosso blogue com a série 'Caderno de notas de um mais velho'';

(ix) pelo seu bom senso, sabedoria, sensibilidade, perspicácia, cultura e memória africanistas, é merecedor do apreço e elogio de muitos camaradas nossos, é profundamente estimado e respeitado na nossa Tabanca Grande, fazendo gala de ser 'politicamente incorreto' e de 'chamar os bois pelos cornos';

(x) ao Antº Rosinha poderá aplicar-se o provérbio africano, há tempos aqui sabiamente citado pelo Cherno Baldé, o "menino e moço de Fajonquito": "Aquilo que uma criança consegue ver de longe, empoleirado em cima de um poilão, o velho já o sabia, sentado em baixo da árvore a fumar o seu cachimbo". ]



Não concordo com a ideia do Cherno sobre os motivos de adesão à luta e ao nacionalismo de figuras como Domingos Ramos e Amílcar Cabral, coisas como a falta de respeito pelas mulheres grandes e as mulheres africanas.

A juventude de Domingos Ramos e de Amílcar nunca foi semelhante à vida de "quartel" que o Cherno foi obrigado a conhecer e a viver, não só porque só havia quartéis nas capitais, e a tropa europeia era praticamente reduzida a alguns sargentos e oficiais, e alguns cabos, isto, antes da guerra (1961).

Essa realidade que Cherno conheceu, não existia em 1959, quando Domingos Ramos fez a sua recruta, frequentando o 1º CSM - Curso de Sargentos Milicianos.

Nesse tempo, os mestiços ou brancos de 2ª ou pretos escolarizados (Domingos Ramos), já tinham outros motivos para as suas independências que iam muito além de qualquer descriminação racial, ou complexos de superioridade da parte do branco.

No caso das colónias portuguesas já havia uma convicção absolutamente formada na cabeça dos estudantes da simples 4ªa classe, preto ou branco de 2ª  que eles estavam muito mais preparados para tomar conta da sua terra, do que os «atrasadinhos» que vinham da metrópole. 

Cherno, no minha recruta e CSM (Huambo 1959),  éramos 30 no meu pelotão, dividamos, 10, como eu da metrópole, 10 eram "Domingos Ramos", e outros 10 Amílcares à mistura com dois ou três brancos de 2ª

Cherno, aí já eramos nós,  os dez da metrópole,  as grandes vítimas discriminadas, que nem sabíamos jogar à bola, que vínhamos abanar a árvore das patacas, minhotas com pernas peludas, ainda se fôssemos ingleses ou franceses...e outro mimos  que nem menciono, porque seria uma ladainha que nunca mais acabava.

Até que veio o 15 de Março de 1961, "para Angola e em força" do Salazar, e dos "Ramos" e dos "Amílcares", muito pouquinhos se passaram, e foi ao lado de muitos que eu fiz a minha guerra de 13 anos em Angola.

Embora a realidade de Angola e Guiné fosse diferente, sabemos que o MPLA e PAIGC foram irmãos, de maneira que facilmente encontro semelhanças.

Cherno, a vida que conheceste (tropa e guerra) não tem a mínima semelhança com o sonolência que se passava com os velhos chefes de posto, velhos comerciantes, velhos régulos, a rotina dos fanados e cultura do arroz, tudo ao ritmo de travessias de jangada, passa quando passa,  uma morte lenta, em que além do chefe de posto e do isolado comerciante, muitas tabancas não viam mais qualquer branco ou qualquer alteração da rotina, durante meses, e na própria capital da "colónia" era ao domingo o Benfica x Sporting a maior movimentação de massas.

Claro que houve e há "doutrinações" que podem ser aproveitadas para vários fins, mas não no caso de Domingos Ramos ou  do  Amílcar, creio eu.  (**)

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Nota do editor:


Guiné 61/74 - P19402: Guerra colonial - cronologia(s) - Parte II: A nova "união sagrada": "A Pátria deve estar, em todas as circunstâncias, acima do regime"... mas "o regime [também] deve estar, em todas as circunstâncias, à altura da Pátria" (Diário de Lisboa, 18 de março de 1961)



[Fundação Mário Soares > Portal Casa Comum > Pasta: 06541.079.17211 > Título: Diário de Lisboa > Número: 13743 > Ano: 40 > Data: Sábado, 18 de Março de 1961 > Directores: Director: Norberto Lopes; Director Adjunto: Mário Neves > Edição: 2ª edição > Observações: Inclui supl. "Diário de Lisboa Magazine", "Diário de Lisboa Juvenil" > .Fundo: DRR - Documentos Ruella Ramos. (Com a devida vénia...)


Citação:
(1961), "Diário de Lisboa", nº 13743, Ano 40, Sábado, 18 de Março de 1961, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_16336 (2019-1-9)



1. Uma espécie de  "união sagrada", 45 anos depois do 13º governo da I Primeira República, liderado por António José de Almeida para fazer face à declaração de guerra da Alemanha em 1916 contra Portugal...

"A Pátria deve estar, em todas as circunstâncias, acima do regime"... mas "o regime [também] deve estar, em todas as circunstâncias, à altura da Pátria" (Diário de Lisboa, 18 de março de 1961). A nota do dia ("O mal e a caramunha"), do "Diário de Lisboa", de 19 de março de 1961, deve ser entendida como "uma no cravo e outra na... censura". O jornalista Norberto Lopes, desassombrado, transmontano, conhecedor de África (, contrariamente ao Salazar...), não pode deixar de ser o autor desta espécie de "editorial", disfarçada de "nota do dia"...

Jornal independente, conotado com as correntes ditas moderadas da chamada oposição democrática ao Regime do Estado Novo, o "Diário de Lisboa" era um dos jornais mais vigiados pelos coronéis da censura... Daí não surpreender este apelo, subliminar, não já a uma "nova união sagrada", impensável com Salazar, mas a um pacto (provisório) de regime para o país, em uníssono, dar uma resposta firme e imediata à insurreição desencadeada pela UPA  - União dos Povos de Angola (mais tarde, FNLA - Frente Nacional de Libertação de Angola] no norte de Angola...

Salazar teve de resolver alguns "problemas domésticos" (e nomeadamente a tentativa de golpe de Estado palaciano do seu ministro da defesa, o gen Botelho Moniz, que ingenuamente esperava o apoio dos americanos...),  antes de tentar galvanizar e mobilizar a Nação para a resposta, já tardia, que as populações angolanas exigiam: a frase histórica, "Para Angola, rapidamente e em força" é  de... 13 de abril de 1961... E o primeiro continente para reforço da guarnição militar de Angola só lá vai chegar em 1 de maio de 1961: "Chegada a Luanda dos primeiros contingentes transportados por via marítima [BCAÇ 88, BCAÇ 92, CART 85, CART 86, CART 87, CART 100]." (1)

O seu primeiro biógrafo, académico,  historiador encartado, mas "estangeirado", diz  seguinte sobre ele, Salazar:

"Sobre o prisma da retórica do regime, o maior fracasso de Salazar ao longo das suas quatro décadas no poder terá sido a sua incapacidade de proteger a população branca e os seus trabalhadores no Norte de Angola em 1961". 

(In; Menezes, Filipe Ribeiro de  -  Salazar : uma biografia política ; trad. do ingl.,  Teresa Casal. Alfragide : Dom Quixote,  D.L. 2014, [Expresso], vol . 6, p. 13.)

De qualquer modo, parece que ninguém estava preparado para a guerra que se seguiu, guerra colonial para uns, guerra do ultramar para outros.. Não apenas o exército português, como os movimentos nacionalistas que reivindicam hoje o protagonismo da história da luta pela independência de Angola: o MPLA em 4 de fevereiro, a UPA em 15 de março de 1961, sem esquecer a Unita (que surgirá mais tarde)...

Por outro lado, em 1961, o regime beneficiou do "efeito de choque" que foram as notícias, trágicas, que chegavam de Angola, com algum atraso, à metrópole, e que alguns tiveram mais "liberdade" do que outros para publicar... (A censura tinha vários pesos e medidos, conforme os jornais diários, a maioria "afeta" ao poder vigente: O Século, o Diário de Notícias, etc. Apesar de 1961 ser o "annus horribilis" de Salazar, terá havido um certo  cerrar de fileiras das elites políticas, incluindo as do "reviralho", à volta do "para Angola, rapidamente e em força"... E o tema tornou-se "tabu"... A malta do "reviralho" bem quis levantar, timidamente, o "problema do ultramar" nas eleições de 1965 para a Assembleia Nacional, mas levou logo nas orelhas, e enfiou a viola no saco, deixando a União Nacional a falar a uma só voz... Até outubro de 1969...

Nessa época, em março de 1961,  muitos de nós, ainda usavam o bibe da escola e jogavam ao pião... Acabou também para sobrar, "aquela guerra",  para nós que nem sequer sabíamos onde ficava o "ultramar", Nambuangongo ou Guileje, Pedra Verde ou Fiofioli ... LG
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Nota do editor:

Último poste da série > 9  de janeiro de  2019 > Guiné 61/74 - P19385: Guerra colonial - cronologia(s) - Parte I: 1961, Angola

domingo, 13 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19401: Blogues da nossa blogosfera (108): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (25): Palavras e poesia


Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.

PARAÍSO

ADÃO CRUZ

© ADÃO CRUZ


Não há portas do paraíso
Nem caminhos para lá chegar
Mas entre lágrimas e riso
Ninguém quer acreditar.
No fim sobram os passos
Sem mais caminho para andar.
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Nota do editor

Último poste da série de6 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19372: Blogues da nossa blogosfera (107): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (24): Palavras e poesia

Guiné 61/74 - P19400: Blogpoesia (603): "Revolução dos cravos", "Sementes de lusitanidade" e "O Arco do Triunfo", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Revolução dos cravos

Numa madrugada de Abril,
deflagrou em Lisboa uma revolução.
Em vez de sangue, uma núvem de perfume encheu todas as ruas.
Foram cravos rubros que cobriram o chão, as lapelas e os canos das espingardas.

Para trás ficaram sepultados todos ódios e vexames.
Uma nova aurora boreal banhou de esperança a noite negra em que se vivia.
Enormes vagas de entusiasmo varreram as almas dos lisboetas.
Pouco a pouco se espalharam por todos os campos e aldeias.

Uma era nova se abriu.
Ficou mais perto o mundo inteiro.
Um sonho lindo.
Um sonho apenas que não mais esqueceu...

Ouvindo Carlos Paredes

Berlim, 6 de Janeiro de 2019
7h3m
Jlmg

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Sementes de lusitanidade

Caíram, há séculos, as sementes de lusitanidade nas ruas de Lisboa.
Cresceram, floriram, frutificaram e se expandiram por todo Portugal.
Cobriram as encostas e os vales, desde a montanha até ao mar.

Um país laborioso e destemido, de operários, lavradores e marinheiros
se fixou e afirmou.
Adoptou a cruz de Cristo como bandeira branca e azul.
Se abalançou aos mares e, pioneiro, devassou os continentes, se cobrindo de glória.

Assimilou povos tão diferentes na cor e nos falares.
Se caldeou tão profundamente que, ainda hoje, se ouve o falar de Camões por essas paragens tão longínquas
e todos nos querem bem.

Quando a história os recolheu a casa, mesmo assim, seus talentos se espalham por todo o mundo,
sendo reconhecidos como os melhores dos melhores,
no campo das artes e das ciências.

Ouvindo Carlos Paredes

Berlim, 7 de Janeiro de 2019
7h18m
Jlmg

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O Arco do Triunfo

Porta larga e alta sempre aberta.
Passa por ele o mundo
na busca curiosa de Lisboa.
Tem um arco de volta inteira.
Duas colunas fortes o sustentam.
Tem a força da paz e liberdade.
Sua sombra não chega ao chão.

Recebe o sol logo ao nascer.
Se despede dele ao cair da tarde.
Saúda o Tejo seu forasteiro desde outrora.
O convida a ver o mar.

Ponto de chegada e de partida para quem vem e vai.
Se banha de alegria vendo as gentes que o contemplam.
Seu gesto é sempre o mesmo:
- Voltem sempre!

Ouvindo Carlos Paredes

Berlim, 10 de Janeiro de 2019
7h8m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de Janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19371: Blogpoesia (602): "Desespero das flores", "Olhares enviezados" e "Pontes de Lisboa", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P19399: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte VI: ten pilav António Seabra Dias (Mealhada, 1932 - Serra da Cananga, Angola, 1961)








1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um dos 47 Oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar que morreram em combate no período 1961-1975, na guerra do ultramar.

Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva, instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972.

Guiné 61/74 - P19398: Parabéns a você (1559): Maria Ivone Reis, ex-Capitão Enfermeira Paraquedista (1961/1974)

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Nota do editor:

Último poste da série de 10 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19387: Parabéns a você (1558): Bernardino Parreira, ex-Fur Mil Inf da CCAV 3365 e CCAÇ 16 (Guiné, 1971/73)

sábado, 12 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19397: Os nossos seres, saberes e lazeres (302): Viagem à Holanda acima das águas (7) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Outubro de 2018:

Queridos amigos,
Ir à Holanda e não passear nos canais é como ir a Roma e não ver o Papa. Tratava-se de canais especiais, dedos do Reno, o tal rio que vem da Suíça e atravessa seis países, desaguando perto de Roterdão, foi neste braço do rio que se foi avistando terra, casario, reservas naturais, a perfeita sintonia que o holandês estabeleceu entre terra e água.
E começou o dia de Amesterdão, no Rijks, onde está a melhor coleção de pintura holandesa de todo o mundo. Embora o Rijks não se confine à pintura holandesa, aqui se pode encontrar Goya ou Van Gogh, loiças, joias, arte oriental, um pedaço do mundo.
Começou-se cedo porque o programa da tarde era também promissor: conhecer finalmente a Sinagoga Portuguesa de Amesterdão, uma outra dimensão da portugalidade; e calcorrear Amesterdão, passeio obrigatório.

Um abraço do
Mário


Viagem à Holanda acima das águas (7)

Beja Santos

O polo irradiante destas viagens situa-se na Holanda do Sul, uma povoação em cujo nome se diz “sobre o Reno”. Quando se desenhava a viagem, o viandante foi ver os mapas, o Reno, a sua corrente principal, desagua perto de Roterdão, juntou-se ao Mosa; mas há um braço que anda por aqui perto, naturalmente que gerou vida, os holandeses, que têm uma densidade populacional fora de série, não iriam fazer do Reno um estorvo. Até serve para passear. É isso que o viandante vai fazer, mete-se numa embarcação turística e vai ver pólderes, estradas campestres, muito arvoredo, área habitacional junto às águas, passa-se por reservas naturais, e algo mais.




O viandante já entabulou conversa com um português aqui residente, imagine-se que veio do concelho das Caldas da Rainha e já não imagina viver fora deste mundo, justifica que os patrões holandeses trabalham no duro, não falham na segurança social e têm um trato afável. Esta viagem parece uma insignificância, assume uma grande importância para o viandante, é uma outra dimensão da vida quotidiana deste país de alta tecnologia, de agricultura próspera, país plano com arquitetura de caráter e muitas bicicletas. É caudaloso este braço do Reno, manso, cheio de tráfego doméstico. O dia começou ensolarado, agora não tanto, é um céu com tons cinza, a deslavar-se, mas a viagem é magnífica.




Numa das primeiras viagens que fez ao país, ainda na década de 1970, o viandante adquiriu um desses livros de apresentação geral, polícromo, a mostrar as gentes, os canais, a estreita comunhão entre a cidade e o campo, a preservação e a limpeza. São aspetos que não se diluíram, o que neste momento o mais entusiasma é este viver à beira-rio, o saber extrair todas as vantagens, e mesmo nas áreas de grande densidade há algo que nos assombra: as casas têm janelas que parecem montras, talvez seja a ânsia do aproveitamento da luz e a quase certeza de que a bisbilhotice, a existir, é uma tolice dos outros, nós por cá todos bem.




Foi uma bela passeata, e moinhos não faltaram. O viandante viaja em companha e perguntou a quem de direito se se podia agora fazer por terra um outro tipo de digressão, os tais diques, os pólderes, os caminhos conquistados ao mar, moinhos a funcionar. Houve pronta aquiescência, não há holandês que não se orgulhe da obra feita na permanente tensão do homem entre a terra e o mar. Vamos lá, consola-te porque esta é a Holanda profunda, a dos cereais, a que dá flores, pastos úberes, laticínios de excelência, sempre com a trade mark de um mundo antigo, aperfeiçoado pelo moderno.


Hoje começa o quarto dia de viagem, sobrecarregado de manhã ao fim da tarde. Pelas oito da alva, autocarro para Amesterdão, é o tão auspiciado regresso ao Rijksmuseum, e hoje há uma importante surpresa a acompanhar a visita: encontro com o escritor Laurens Van Krevel, de quem recentemente se editou a correspondência recebida de Mário Cesariny, o viandante vem entregar-lhe uns bons quilos de catálogos de um amigo comum, o pintor Raúl Pérez, é certo e seguro que hoje se vai falar do surrealismo, Van Krevel foi editor da mais importante publicação holandesa do surrealismo à escala internacional.


O que atrai, que íman tem este edifício? Está aqui a melhor coleção do mundo das pinturas dos mestres holandeses, o seu ponto culminante é o século XVII. O Rijks esteve uns anos fechado para requalificação, não se destruiu o que ele tem de essencial, criou-se conforto, alterou-se a luminosidade, embelezou-se a galeria de honra, a “Ronda da Noite” tem agora outro realce. Se Rembrandt é o grande patrono, não podemos descurar Frans Hals, Ruysdael, Paulus Potter, Jan Steen e Vermeer, o da leiteira, da mulher a ler uma carta. Vamos entrar!




Aqui se faz um alto, esta é a suprema iconografia da casa, o viandante anda à procura da melhor posição, aglomeram-se estudantes, desenhadores, turistas, guias falam em diferentes línguas, dá para perceber que para muitos não é o que há de mais genial em Rembrandt, mas não se esconde tratar-se de uma cenografia ímpar, um movimento de gente da milícia, e aquela luz esplendorosa, um quase holofote que impulsiona a dinâmica visual. Por aqui começou a visita, dentro em pouco o viandante vai encontrar-se com um grande amigo holandês de Mário Cesariny, um dos grandes poetas portugueses entre os maiores, do século XX.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 5 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19368: Os nossos seres, saberes e lazeres (301): Viagem à Holanda acima das águas (6) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19396: Pequeno Dicionário da Tabanca Grande, de A a Z (1): em construção. para rever, aumentar, melhorar, divulgar, comentar...


Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Jufunco ou Djufunco > 9 de maio de 2013 > Os dois régulos locais com as suas "turpeças" que nunca largam por nada deste mundo... Dois tipos agarrados ao poder, deve ter pensado o régulo da Tabanca de Matosinhos, Zé Teixeira... Sentar-se no banquinho,. tipo tripé,  do régulo é punível com a pena... capital!... Os felupes não fazem a coisa por menos... Mas há um provérbio (dos tugas) que diz: "Quem tropeça, também cai!"... Os senhores dicionaristas do Priberam e outros não nos ligam nenhuma... Ainda não grafaram o termo, nem sabem da sua existência... Enfim, tal como ainda não descobriram que "abibe" não é uma ave pernalta, mas um novato que entra(ava) nos anos 60/70 no "ninho dos Falcões" (a BA 5, em Monte Real).

Foto (e legenda): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. São cerca de meio milhar de:

(i) abreviaturas, siglas, acrónimos e termos técnico-militares usadas pelas NT (Nossas Tropas) / Forças Armadas Portuguesas:

(ii) abreviaturas, siglas e acrónimos e termos técnico-miliatres usadas pelo IN (inimigo) (guerrilha / PAIGC):

(iii) topónimos da Guiné, vocábulos e expressões etnográficas e/ou em crioulo e línguas gentílicas

(iv) vocábulos e expressões da gíria ou calão tanto do IN como das NT...

É um pequeno património linguístico que já não nos pertence... Alguns destes vocábulos já estão grafado pelos dicionaristas... Outros poderão vir a sê-lo, se não caírem em desuso.. São quinze anos a blogar, o que dá sete comissões no TO da Guiné... Pequeno dicionário, de A a Z, em construção, com o contributo de todos os amigos e camaradas da Guiné (*) que se sentam aqui à sombra do nosso poilão, e que até até têm um livro de estilo (**)... Mas falta-nos "a gíria e o calão" de outras armas como as da Marinha...Infelizmente temos poucos marinheiros e fuzileiros na Tabanca Grande.

Quanto ao resto (e nomeadamente ao uso de um "calão" mais grosseiro), é bom lembrar que o nosso blogue não é politicamente correto, justamente porque é plural, é um rio com muitos afluentes... Aos nossos amigos e camaradas mais "sensíveis", incluindo os nossos  amigos guineenses, pedimos desculpa de "qualquer coisinha"... LG


Pequeno Dicionário da Tabanca Grande,   de  A a Z... Em construção, desde 2007:


1º Cabo Aux Enf – 1º cabo auxiliar de enfermagem

2TEN FZE RN - 2º Tenente Fuzileiro Especial da Reserva Naval (Marinha)

5ª Rep - Café Bento, o ‘mentidero’ de Bissau

A/C - Mina anticarro

A/D - Autodefesa (tabanca em)

A/P - Mina antipessoal

AB - Alfa Bravo ou alfabravo, abraço (alfabeto fonético internacional, usado pelos nossos Op Trms)

Abibe - Novato na BA 5 (Monte Real) (FAP)

Abo - Você, tu (crioulo)

ACAP - Assuntos Civis e Acção Psicológica (REP / ACAP) 

AD - Acção para o Desenvolvimento - ONGD guineense que teve a marca histórica da liderança do Pepito (1949-2014)

ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas (posterior ao 25 de Abril)

Aero - Aerograma, carta, bate-estrada, corta-capim

Afilhado - Militar que tinha uma madrinha de guerra

Água de Lisboa – Vinho (da intendência) (gíria)

Água do Geba (Beber a) - Apaixonar-se pela Guiné

Agr - Agrupamento

AKA - Kalash, Espingarda Automática Kalashnikov (AK) Cal. 7,62 mm (PAIGC)

AL II - Alouette II, helicóptero, de origem francesa (FAP)

AL III - Helicóptero Alouette III, de origem francesa (FAP)

Alf - Alferes

Alf Mil - Alferes Miliciano

Alf Mil Med - Alferes miliciano médico

Alfa Bravo - Abraço

Alfero - Alferes (crioulo)

AM - Academia Militar (antecessora: Escola do Exército)

Amura - Velha fortaleza militar colonial, em Bissau; sede do Com-Chefe; hoje Panteão Nacional da Guiné-Bissau

AN/GRC-9 - Rádio, equipamento de transmissões

AN/PCR-10 - Rádio transmissor-receptor

Animistas - Povos (balantas, manjacos e outros) que praticam o culto dos irãs

Anti-Aérea ZPU-4 - Anti-aérea  quádrupla, de 14,5 mm (PAIGC)[Também tinham peças AA de 37 mm e, depois, o Strela, em 1973]


Anti-G - Fato que ajudar a suportar os Gês (FAP)

AOE - Associação de Operações Especiais

Ap - Apontador

Ap Arm Pes Inf - Apontador de Armas Pesadas de Infantaria (morteiro, canhão s/r, metralhadora 12.7...)

Ap Dil - Apontador de Dilagrama

Ap LGFog - Apontador de Lança-granadas-foguete

Ap Met - Apontador de Metralhadora

Apanhado - Diz-se do combatente afectado pela guerra e pelo clima; cacimbado (em Angola)

Arre-macho - Tropa de infantaria, tropa-macaca (termo depreciativo, usado pelas tropas especiais)

Arv - Arvorado (Soldado)

ASCO - Aly Souleiman & Ca - Casa comercial, de origem sírio-libanesa, com sede em Bissau e filiais no interior, incluindo Gadamael.

Asp Of Mil - Aspirante a Oficial Miliciano

At Art - Atirador de Artilharia

At Cav - Atirador de Cavalaria

At Inf - Atirador de Infantaria

ATAP - Missão resultante de um pedido de fogo imediato, com a saída da parelha de alerta; ataque em alerta (FAP)

ATIP - Missão de apoio de fogo, pré-planeada; ataque independente (FAP)

ATIR - Ataque e reconhecimento (FAP)

BA12 - Base Aérea nº 12 (Bissau, Bissalanca)

BAC1 – Bataria de Artilharia de Campanha nº 1, mais tarde GA7

Bacalhau - Aperto de mão

Badora – Regulado da região de Bafatá; morteiro 120 mm (PAIGC)

Baga baga – Termiteira (crioulo)

Baguera - Abelha (crioulo); ‘Baguera, baguera’!!!, era a expressão de aflição dos africanos quando atacados por abelhas, no mato

Bailarina – Mina A/P que rebentavam acima do solo, a meia altura.

Bajuda - Rapariga, donzela, moça virgem (crioulo; lê-se badjuda)

Balafon - Instrumento da música afro-mandinga, antecedor do xilofone (crioulo)

Balaio - Cesto grande (crioulo)

Balanta Mané - Balanta islamizado

Banana - Rádio, equipamento de transmissões, AVP-1

Bandalho – Membro do “Bando do Café Progresso”, do Porto, tertúlia de ex-combatentes da Guiné

Bandim - Mercado de Bissau

Bandoleira - Correia permitindo o transporte de uma espingarda ao ombro ou a posição de tiro a tiracolo

Barraca - Acampamento temporário no mato (PAIGC)

BART - Batalhão de Artilharia

Básico - Soldado dos serviços auxiliares (afeto sobretudo à cozinha)
Batata - Nome de guerra do ten pilav António Martins de Matos (BA12, Bissalanca, 1972/74), autor de "Voando sobre um ninho de Strelas" (Lisboa: 2018)

Bate-estrada - Aerograma, carta, corta-capim

Bazuca (i)- LGFog (lança-granadas foguete, 8,7 cm); cerveja de 0,6 l (gíria)

Bazuca (ii) - Alcunha, na Academia Militar, do cap cav Fernando José Salgueiro Maia



Guiné > Região de Bafatá > Galomaro > CCS/BCAÇ 3872 (Galomaro, 171/74)

Binta, a bajuda mais bonita de Galomaro e arredores. Foto da coleção de Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), autor do livro "A Tropa Vai Fazer de ti um Homem".

Foto (e legenda): © Juvenal Amado (2014). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Bazuca China - Lança Granadas-Foguete RPG-2 (PAIGC, gíria)

BCAÇ - Batalhão de Caçadores

BCAV - Batalhão de Cavalaria

BCP - Batalhão de Caçadores Paraquedistas (o BCP nº 12 esteve na Guiné, o nº 21 em Angola e os nºs 31 e 32 em Moçambique)


Bêbeda - Alcunha dada à viatura Fox MG-36-24, que pertenceu aos Pipas, foi sendo sucessivamente rebaptizada: Bêbeda, Diabos do Texas; esteve em Guileje desde 1965 a 1973.
BENG - Batalhão de Engenharia

BENG 447 – Batalhão de Engenharia nº 447, Bissau

Bentém - Banco, baixo, onde os homens grandes se sentam, a conversar, em geral, sob um poilão (crioulo)

Biafra - Clube de Oficiais, no Quartel General, em Santa Luzia, Bissau; Bar dos pilotos, na BA12, Bissalanca (gíria)

Bianda - Comida; arroz, base da alimentação da população na época (crioulo)

Bicha de pirilau - Progressão, em fila, no mato, mantendo cada homem uma distância regulamentar (gíria)

Bideiras - As vendedeiras ambulantes, que andam nas ruas Bissau (crioulo)

Bigrupo - Força IN equivalente a c. 40 homens (PAIGC)

BINT - Batalhão de Intendência

Bioxene – Álcool; estar com os copos (gíria)

Blufo - Rapaz balanta não circuncidado; rapaz inexperiente (crioulo)

Boinas Negras - Fuzileiros

Boinas Verdes - Paraquedistas

Boinas Vermelhas - Comandos (depois de 1974); na Guiné, usavam a boina castanha do exército

Bolanha - Terreno alagadiço, próprio para a cultura do arroz (cioulo)

Bombolom - Intrumento musical, feito a partir do tronco de uma árvore; instrumento tradicional de comunicação entre aldeias balantas e manjacas (crioulo)

Bonifácio - Obus 11,4 cm, TR m/917, da I Guerra Mundial (termo da gíria dos artilheiros)

BOP - Bombardeameno a picar (FAP)

BOR - Embarcação civil, que navegava no Geba, com umas estranhas pás na popa

Brandão - Família da região de Tombali (Catió), mas também de Bambadinca (região de Bafatá)

Bué - Muito, manga de (Não vem de Boé; termo do quimbundo de Angola; não se usava no nosso tempo) (gíria)

Bunda - Cú, traseiro (crioulo)

Burmedjus - Mulatos, mestiços, crioulos, cabo-verdianos (crioulo)

Burrinho - Viatura automóvel Unimog 411, a gasolina (mais pequena que o 404, a gasóleo) (NT) 





Guiné > Região de Tombali > Guileje > A Fox MG-36-24, que pertenceu aos Pipas, foi sendo sucessivamente rebaptizada: Bêbeda, Diabos do Texas... (Bêbeda, porque possivelmente gastava... "cem aos cem"!)...

Segundo Nuno Rubim, "a matrícula da Fox é a mesma que consta numa fotografia tirada por elementos do PAIGC em 25 de maio de 1973, quando ocuparam o quartel, três depois depois do seu abandono por ordem do comandante do COP 7. Portanto a Bêbeda ( que  fica para a história, representada com essa mesma inscrição no diorama de Guileje, que foi construído por Nuno Rubim para o Núcleo Museológico Memória de Guiledje ....) terá servido desde 1965 até 1973, integrada nos sucessivos Pel Rec Fox que por lá passaram"... A foto de baixo  foi gentilmente cedida pelo Teco (Alberto Pires), da CCAÇ 726.

Fotos (e legendas): © Nuno Rubim (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís GRça & Camaradas da Guiné]



Cá bai - Não vai (crioulo)

Cabaceira - Árvore e fruto do embondeiro (não confundir com Poilão) (crioulo)

Cabaço - Hímen, virgindade (crioulo)

Cabeça Grande - Bebedeira (crioulo)

Cabo Aux Enf - 1º Cabo Auxiliar de Enfermeiro

Cabo Enf - 1º Cabo Enfermeiro

Caco / Caco Baldé - Alcunha do Gen Spínola (mas também 'Homem Grande de Bissau', 'O Velho', 'O Bispo'; caco, de monóculo; Baldé, apelido frequente entre os fulas)

Cães Grandes - Oficiais superiores

Chabéu – Dendê (fruto); prato típico da GB, de peixe ou carne, feito com óleo de palma (etimologia: do crioulo "tche bém")

Cal - Calibre

Camarigo - Camarada e Amigo (por contracção); criada na Tabanca Grande

Cambar - Atravessar um rio (crioulo)

Candongas - Transporte colectivo privado, usado hoje no interior da Guiné Bissau

Canhão s/r - Canhão Sem Recuo

Canhota - A espingarda automática G3

CAOP - Comando de Agrupamento Operacional

CAOP1 - Comando de Agrupamento Operacional nº 1

Cap - Capitão

Cap Mil - Capitão Miliciano

Cap QEO - Capitão do Quadro Especial de Oficiais

Cap QP - Capitão do Quadro Permanente

Capim - Nome comum de planta gramínea, típica da savana arbustiva; graveto, dinheiro (gíria)

Capitão-proveta - Cap QEO (gíria),  que  passava a poder transitar para os quadro permanente das armas combatentes (infantaria, artilharia e cavalaria), depois de frequentar o "curso intensivo", previsto pelo D.L. nº 353/73, de 13 de julho.
 
Carecada - Castigo disciplinar, imposto pelo superior hierárquico, e que consistia no corte de cabelo à máquina zero (gíria)

CART - Companhia de Artilharia

Casa Gouveia - Principal empresa colonial, fundada por António da Silva Gouveia em finais do Séc. XIX: em 1927 é adquirida pela CUF.

Catota - Orgão sexual feminino; partir catota = ter relações sexuais (crioulo, calão)

Cavalos duros - Feridas no pénis e órgãos genitais e até na boca e no ânus, sintomas de doença venérea (calão)

Cavalos moles - Sintomas de sífilis, doença venérea (fendas no pénis) (calão)

CCAÇ - Companhia de Caçadores

CCAÇ I - Companhia de Caçadores Indígenas

CCAV - Companhia de Cavalaria

CCM - Curso de Capitães Milicianos

CCmds - Companhia de Comandos

CCP - Companhia de Caçadores Paraquedistas

CCS - Companhia de Comando e Serviços

CEME - Chefe do Estado Maior do Exército

CEMGFA - Chefe do Estado Maior General da Força Aérea

Cento e vinte - Morteiro pesado, de 120 mm

Cesca - Pistola de 7,65 mm, de origem checoslovaca (PAIGC)

CFA - Franco da Communauté Francofone Africaine, moeda actual da GB (1 Euro = 655,597 CFAA)

CFORN - Curso de Formação de Oficiais da Reserva Naval (Marinha)

Chão - Território étnico (vg, chão fula)

CHASE - Em formação, atrás de (FAP)

Checa - Pira, periquito (em Moçambique), maçarico (Angola)

Checklist - Livro de notas do piloto (FAP)

Chipmunk - Avião de treino, de dois lugares, monomotor, de origem canadiana (FAP)

Choro - Conjunto de rituais celebrados por ocasião do falecimento de uma pessoa, parente ou vizinho (sobretudo entre os animistas) (crioulo)

Cibe - Palmeira; utilizam-se rachas de cibe como barrotes na construção; é resistente à formiga baga-baga (crioulo)

Cilinha - Nome de guerra de Cecília Supico Pinto, a fundador e líder histórica do MNF – Movimento Nacional Feminino

Cipaio - Elemento nativo da polícia

Circuncisão - Vd. Fanado. Havia/há a circuncisação masculina e a feminina. Vd. MGF.

CISMI - Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria (Tavira)

CM - Cabo de Manobra (Marinha)

Cmd - Comando

Cmdt - Comandante

COE - Curso de Operações Especiais

COM - Curso de Oficiais Milicianos

Com-Chefe - Comando-Chefe

Conversa giro - Fazer amor, ter relações sexuais (crioulo)

COP - Comando Operacional

COP7 - Comando Operacional 7

Cor - Coronel

Corpinho - Sutiã, soutien (crioulo)

Corpo di bó - Como estás ? (crioulo)


Corta-capim - Aerograma, carta, bate-estrada (gíria)

Costureirinha - Pistola metralhadora PPSH (PAIGC) (gíria)

CPC - Curso de Promoção a Capitão do Quadro Complementar

CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa

CSM - Curso de Sargentos Milicianos

CTIG - Comando Territorial Independente da Guiné

CUF - Companhia União Fabril (representada, na Guiné,  pela Casa Gouveia)

Cupilom - Pilão, bairro popular atravessado pela estrada para o aeroporto; Cupelon, Cupilão

Dari - Chimpanzé (da mata do Cantanhez) (crioulo)

DC 3 - Avião de trasporte (FAP)

DC 6 - Avião de transporte (FAP)

DCON - Missão de acompanhamento (FAP)

Degtyarev - Metralhadora ligeira 7,62 mm, de origem soviética (PAIGC)

Degtyarev-Shpagim - Metralhadora pesada 12,7 mm, de origem soviética (PAIGC)

Desenfianço - Escapadela (por ex., até Bissau) (gíria)

Dest - Destacamento

Dest A - Destacamento A

DFA - Deficiente das Forças Armadas

DFE - Destacamento de Fuzileiros Especiais

Diorama - Maqueta a 3 dimensões (v.g., aquartelamento de Guileje)

Djídio (ou gigio) - Cantor ambulante que ia de tabanca em tabanca, transmitindo as notícias (crioulo)

Djila - Vd. Gila

Djubi - Olha! (crioulo), mas também criança, menino

DO 27 - Dornier 27 (Avioneta), avião ligeiro de transporte (Fap

Drone - Máquina voadora não tripulada (não existia no nosso tempo) (FAP)

Drop Tanks - Depósitos de combustível (FAP)

ECS - Escola Central de Sargentos (Águeda)


EE - Escola do Exército (antecessora da AM - Academia Militar)


Embondeiro - Cabaceira, baobá (Senegal)

Embrulhanço - Contacto pelo fogo com o IN, ataque, emboscada (gíria)

Embrulhar - Ser atacado (pelo IN) (gíria)

Enf - Enfermeiro

Enf Para - Enfermeira paraquedista

Engine Master - Botão principal de uma aeronave (FAP)

EP - Exército Popular (PAIGC)


EPA - Escola Prática de Artilharia (Vendas Novas)

EPC - Escola Prática de Cavalaria (Santarém) 

EPI - Escola Prática de Infantaria (Mafra), também conhecida por Máfrica
EREC - Esquadrão de Reconhecimento [de Cavalaria]

Esp - Espingarda

Esp Aut - Espingarda Automática

Esp MMA - Especialista Mecânico de Manutenção Aeronáutica (FAP)

Esq - Esquadrão

Esq Mort - Esquadrão de Morteiro

Esquadra - Organização militar de aeronaves (FAP)

Esquadra 121 Tigres - Constituída por Fiat-G 91, T-6 e DO-27 (BA 12, Bissalanca) (FAP)

Esquadra 122 - Heli AL III (BA12, Bissalanca) (FAP)

Esquadra 123 - Nord Atlas e DC-3 (BA12, Bissalanca) (FAP)

Esquentamento - Blenorragia, doença venérea (corrimento de pus pela uretra) (calão)

Estilhaços de frango - Pouca comida (gíria)

F86 Sabre  - Avião a jato, supersónico, que chegou a operar na Guiné, entre 1961 e 1965. Foi retirado por pressão dos norte-americanos. Foi substituído em 1966 pelo Fiat G-91.


Fala mantenha - Partir mantenha, cumprimentar, saudar (crioulo)

Fanado - Festa da circuncisão, ritual de passagem da puberdade para a vida adulta (crioulo)

Fanateca - Mulher que pratica a MGF – Mutilação Genital Feminina (crioulo)

FARP - Forças Armadas Revolucionárias do Povo, a elite combatente do PAIGC

FBP - Fábrica Braço de Prata; também nome dado a uma pistola metralhadora portuguesa, usada no início da guerra, feita na FBP

Ferrugem - Serviço de Material; termo depreciativo, para o pessoal não-operacional, ligado ao SM) (gíria)

Festa, festival - Ataque aparatoso, ou flagelação, do PAIGC a aquartelamento ou destacamento das NT (gíria)

Fiju (lê-se: fidju) - Filho (crioulo)


Fiju di tuga - Filho de português (crioulo)(Há uma associação, em Bissau, com este nome)

Filhos do Vento - Filhos de militares portugueses, sem reconhecimento da paternidade nem da nacionalidade  


Firma - Estar, ficar, morar (crioulo)

Firminga - Formiga (crioulo)

Fogo de artifício - Flageações ou ataques, a aquartelamentos ou destacamentos vizinhos, vistos de longe (gíria)

Fornilho - Armadilha com cordão de tropeçar

Fotocine - Operador de imagem (fotografia e cinema); destacamento


Fur - Furriel

Fur Enf - Furriel Enfermeiro

Fur Mil - Furriel Miliciano

Fuzos - Fuzileiros especiais

FZE - Fuzileiro Especial (Marinha)

G3 - Espingarda Automática G-3

Gaita à bandoleira (Andar de) - Ter uma doença sexualmente transmissível, em geral blenorragia (ou 'esquentamento') (calão)

GB - Guiné-Bissau

Gen - General

Genti di mato - Turras, população sob controlo do IN (crioulo)

Gês - Força da gravidade (FAP)

Gila (lê-se djila) - Comerciante, vendedor ambulante, contrabandista (que circula pela Guiné e países vizinhos)

GMC - Viatura automóvel pesada, de rodado duplo atrás, de fabrico americano

GMD - Granada de Mão Defensiva

GMO - Granada de Mão Ofensiva

Gorro Novo - Metralhadora Pesada Goryounov, Cal 7,62 mm M-943 SG (PAIGC, gíria)

Gosse, gosse - Depressa (vg, retirar no gosse, gosse) (crioulo)

Gouveia - Casa comercial ligada ao grupo CUF

Gr Comb - Grupo de Combate; pelotão

Gr Comb (-) - Grupo de Combate desfalcado

Gr Comb (+) - Grupo de Combate reforçado

Gr M Of - Granada de mão ofensiva

Grã-tabanqueiro - Membro da Tabanca Grande (blogue)

Heli - Helicóptero

Helicanhão - Helicóptero armado com canhão de 20 mm (vd. Lobo Mau)(FAP)

HK 21 - Metralhadora Ligeira

HM 241 - Hospital Militar nº 241, Bissau

HMP - Hospital Militar Principal (Estrela, Lisboa)

Homem Grande - Chefe de Família (crioulo)

IAO - Instrução de Aperfeiçoamento Operacional

IN - Inimigo; guerrilheiros e população sob o seu controlo

INT - Intendência

Ir no mato - Fugir (ou ser levado) para uma zona controlada pelo PAIGC (crioulo)

Irã - Ser sobrenatural que, para os animistas (balantas, papéis, manjacos, etc.) habita as florestas (e em especial os poilões) (crioulo)

Jacto do Povo - Foguetão 122 mm; Graad (PAIGC, gíria)

Jagudi - Abutre (crioulo)


Jamara (lê-se:djarama) - Obrigado (fula)

Jambé (lê-se djambé) - Instrumento de percussão africano, em forma de cálice invertido (crioulo)

Kacur - Cachorro (crioulo)


Guiné > Região do Boé > Madina do Boé > CCAÇ 1589/BCAÇ 1894 (Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68). > Uma Kalash, ou Aka, capturada ao PAIGC...

Foto do álbum fotográfico do nosso camarada Manuel Caldeira Coelho, ex-fur mil trms, CCAÇ 1589 (Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68).

Foto (e legenda): © Manuel Coelho (2011). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Kalash - Espingarda Automática AK 47 (PAIGC)

Kasumai - Saudação em dialecto felupe

Kora - Instrumento musical mandinga, de cordas, tipo cítara, inventado pelos antepassados do mestre Braima Galissá (músico do Gabu, a viver em Portugal) (crioulo)

Lassas - Abelhas selvagens; alcunha por que era conhecido, pelo PAIGC, o pessoal da CCAÇ 763 (Cufar, 1965/66)

LDG - Lancha de Desembarque Grande (Marinha)

LDM - Lancha de Desembarque Média (Marinha)

LDP - Lancha de Desembarque Pequena (Marinha)

Lerpa - Jogo de cartas, geralmente a dinheiro (gíria)

Lerpar - Perder (à lerpa), apanhar um castigo, morrer (gíria)

LFG - Lancha de Fiscalização Grande (Marinha)

LGFog - Lança-granadas-foguete, bazuca

Lifanti - Elefante (crioulo)

Lion Brand - Conhecida marca de repelente de mosquitos

Lobo Mau - Helicanhão (FAP) (gíria)

Lubu - Hiena (crioulo)

MA - Minas e Armadilhas

Macacada - Tropa, forças do Exército, tropa-macaca (gíria)

Macaco-cão - Babuíno (Macaco Kom, em crioulo)

Macaréu - Vaga impetuosa que, no Rio Geba, precede o começo da praia-mar. É mais sentida no Geba Estreito, a partir da foz do Rio Corubal.

Maçarico - Pira, periquito (Guiné); checa (Moçambique); termo mais usado em Angola

Mach - Velocidade do som (FAP)

Madrinha - Madrinha de guerra, jovem do sexo feminino, maior de 16 anos, que se correspondia com um militar no Ultramar

Mafé - Acompanhamento da bianda, conduto (muitas vezes, peixe, peixe seco, kasseké) (crioulo)

Máfrica - Escola Prática de Infantaria, em Mafra (gíria)

Maj - Major

Maj gen - Major general [antes equivalia o posto de brigadeiro, desde 1999, o primeiro posto permamente de oficial general, imediatamente inferior a tenente-general; tem 2 estrelas]
 

Mama firme - Peito direito (bajuda) (crioulo)

Mancarra - Amendoím (crioulo)

Manga de ronco – Grande festa; sucesso militar (crioulo e gíria)

Manga de sakalata - Muita confusão, muitos sarilhos (crioulo e gíria)

Manga di chocolate - Barulho, grande ataque, com muito fogachal, embrulhanço; corruptela de Manga di sakalata (gíria)

Mantenha(s) - Saudades, lembranças, cumprimentos (crioulo); fala mantenha, partir mantenhas = saudar.
[Da locução portuguesa (que Deus te) mantenha)]

"mantenha", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/mantenha [consultado em 12-01-2019].


Marabu - Sacerdote muçulmano, de vida ascética, considerado sábio e venerado como santo, tanto em vida como depois da morte

Mário Soares - Famoso comerciante de Pirada, de quem se dizia que trabalhava para os "dois lados"


Marmita - Mina A/C (Moçambique, Cancioneiro do Niassa)

Matador - Veículo automóvel pesado usado como reboque do obus (e transporte de tropas)

Mato (i) - Muito, grande quantidade, manga de (expressão comum, ´É mato') (gíria)

Mato (ii) - Zona de guerra, zona de controlo do PAIGC

Mec Aut - Mecânico de viaturas automóveis

Med - Médico (vg, Alf Mil Med)

Meta - Bar e salão de jogos, em Bissau, no tempo colonial

Metro e oito - Alcunha do Ten Cor Manuel Agostinho Ferreira (BCAÇ 2879, 1969/71)

MG 42 - Espingarda-metralhadora, de origem alemã (usada por páras e fuzos)

MGF - Mutilação Genital Feminina; excisão do clitóris e grandes lábios; fanado

MiG 17 - Avião de combate de origem russa, supersónico (que o PAIGC nunca chegou a ter)

Mil - Miliciano; milícias [vd. Pel Mil]

Mindjer - Mulher (crioulo) 


Mindjer Garandi - Mulher grande (crioulo)
Minino - Menino, rapaz (crioulo). Vd. também djubi ou jubi. 

Misti - Querer, queres (bo misti) (crioulo)

ML - Met Lig / Metralhadora Ligeira

MNF - Movimento Nacional Feminino (fundado em 1961 por Cecília Supico Pinto, a Cilinha)

Morança - Casa, núcleo habitacional de uma família, alargada, com o respectivo chefe (de morança) e em geral com uma cercadura (crioula) 




Guiné> Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 726 (1964/64 >  O temível morteiro 81, o "botabaixo" (, em manobrado, fazia razias entre o pessoal atacante, num raio até 6 km).

Foto (e legenda): © Alberto Pires (Teco) (2007). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Mort - Morteiro

Mort 81 - Morteiro 81 mm; alguns tinham 'nomes de guerra' como o 'Bota Abaixo'

Mort 82 - Morteiro 82 mm (PAIGC)

Morteirete - Morteiro ligeiro, de calibre 60 (mm), podendo ser usado sem prato

MP - Met Pes / Metralhadora Pesada

MSG - Mensagem

Mudar o óleo - Ir às... putas (calão)

Mulas - Sintomas de sífilis, doença venérea (inchaços nas virilhas) (calão)

Mun - Municiador

Mun Mort - Municiador de morteiro

N/M - Navio da Marinha

Nharro - Africano; preto (crioulo, calão, na altura com sentido pejorativo, racista)



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém> Simpósio Internacional de Guileje > 1 de Março de 2008 > Grafito com o desenho nalú do irã protector da tabanca, o Nhinte-Camatchol, e que foi o logótipo do Simpósio, organizado pela AD -Acção para o Desenvolvimento, o INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesqusias, e UCB - Universidade Colinas do Boé. 

"O Nhinhe Camatchol é uma escultura dos nalus do Cantanhez usado na festa do fanado. Representa uma cbeça de pássaro com rosto humano, sendo a mensagem aos participantes deste ritual de iniciação à vida adulta a seguinte: que todos eles passam a considerar-se como verdadeiros irmãos, mais verdadeiros que os próprios irmãos biológicos. O que deve ser entendido como a afirmação do interessse colectivo, comunitário, acima do interesse dos indivíduos e das famílias. Orginalmente esta máscara não poderia ser vista pelos não iniciados, sob pena de morte" (Campredon, Pierre – Cantanhez, forêts sacrées de Guinée-Bissau. Bissau,Tiguena. 1997, pp. 32-33). 


Foto (e legenda): © Luís Graça  (2008). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Nhinte-Camatchol - O grande irã dos nalus na Floresta do Cantanhez

Ninhos - Entrada gastronómica com camarão, ovo e tomate, servida no Pelicano (gíria)

NM - Número mecanográfico (do militar)

NNAPU - Normas de Nomeação e de Apoio às Províncias Ultramarinas



Nord Atlas - Avião de Transporte (FAP)

NRP - Navio da República Portuguesa

NT - Nossas Tropa

OB - Oscar Bravo, obrigado (gíria)

Obus 14 - Obus, de calibre 14 cm

Oitenta - Morteiro de calbibre 81 (o PAIGC tinha o 82)

ONG - Organização não-governamental

Onze quatro - Peça de artilharia, de calibre 11,4 cm

Op - Operação (vg., Op Lança Afiada); operador)

Op Cripto - Operador Cripto

Op Esp - Operações especiais ou ranger

P2V5 - Avião de luta anti-sumarina, também usado no Guiné, no início da guerra, para ataque ao solo

Pachanga - Pistola-Metralhadora SHPAGIN Cal 7,62 mm M-941 (PPSH) (PAIGC);  costureirinha (gíria)

PAI - Partido Africano para a Independência, fundado em 1956

PAIGC - Partido Africano Para a Indepência da Guiné e Cabo Verde

Panga bariga - Caganeira (crioulo)

Parafusos - Familiares, amigos ou vizinhos de paraquedistas ou de fuzileiros, convivendo com ambos

Páras - Paraquedistas

Parte peso - Dá-me dinheiro (crioulo)

Partir catota - 'Dar o pito' (expressão nortenha); ter relações sexuais (a mulher com o homem) (calão)

Partir punho - Ser masturbado por outrem, à mão (crioulo, calão)

Pastilhas - Enfermeiro (em geral, Fur Enf) (gíria)

Patacão - Dinheiro, pesos (crioulo)

Pau de Pila - Lança Granadas-Foguete Pancerovka P-27 (PAIGC, gíria)

PC - Posto de Comando

PCV - Posto de Comando Volante 


Peça 11,4 - Peça de artilharia, de calibre 11,4 cm

Peça M-130 - Peça de artilharia de longo alcance, da Guiné-Conacri, usada em ataques fronteiriços pelo PAIGC-

Pel Caç Nat - Pelotão de Caçadores Nativos

Pel Can s/r - Pelotãod e Canhão sem recuo

Pel Mil - Pelotão de Milícias

Pel Mort - Pelotão de Morteiros

Pel Rec Daimler - Pelotão de Reconhecimento Daimler (Cavalaria)

Pel Rec Fox - Pelotão de Reconhecimento Fox (Cavalaria)

Pel Rec Info - Pelotão de Reconhecimento e Informação

Pelicano – Café. restaurante e esplanada de Bissau, junto ao estuário do Geba, na marginal do tempo colonial

Peluda - Vida civil (depois da tropa)(gíria) 


Perintrep - Periodic Intelligence Report

O Perintrep era uma documento classificado, elaborado pela 2ª Rep/QG/ComChefe/Guiné (, chefiada, no final da guerra, por Artur Baptista Beirão, ten cor inf) (1925-2014). Era elaborado a partir de notícias recebidas (Relim) durante um período semanal, indicando-se sempre a origem ou o órgão da fonte da notícia. O documento, classificado, chegava até aos comandantes operacionais (nível de companhia), que o tinham de incinerar no prazo de 72 horas... As informações nele contidas, devidamente selecionadas, podiam ser (ou não) partilhadas depois com os subordinados, individualmente ou em grupo.







Reprodução (parcial) do Perintrep nº 12/74, relativo ao período de 17 a 24 de março de 1974. Documento (digitalizado) por Nuno Rubim (2016) / Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2016)

Periquito - Militar novato; pira, piriquito (sic)

Peso - Unidade da moeda local; escudo guineense (no tempo colonial) (crioulo)

PG - Prisioneiro(s) de Guerra

Piçada - Repreensão de um superior (gíria)

Picador - Soldado ou milícia que faz a picagem

Picagem - Deteção de minas e armadilhas num trilho ou picada

PIDE/DGS - Polícia política portuguesa

PIFAS - Programa de Informação das Forças Armadas

Pil - Piloto (miliciano)

Pilão - Bairro popular de Bissau, muito frequentado pelas NT nas horas de lazer

Pilav - Piloto aviador, saído da Academia Militar (Os milicianos são apenas Pil) (FAP)

PINT - Pelotão de Intendência

Pira - Periquito, militar recém-chegado à Guiné; maçarico (Angola); checa (Moçambique)

Piurso - Pior que um urso, zangado (gíria)

Poilão - Designação comum a algumas árvores da família das bombacáceas. Ceiba Pentandra (crioulo)

Ponta - Herdade, exploração agrícola (crioulo)

Pop - População

Porrada - Contacto com o IN; punição disciplinar (gíria)
PPSH - Metralhadora ligeira, 7,72 mm (PAIGC; a famigerada 'costureirinha' (gíria)

Psico - Acção psicológica e social das NT junto da população (também Psique)

QG - Quartel General

QG/CCFAG - Quartel General do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné), na Amura

QG/CTIG – Quartel General do Comando Territorial Independente da Guiné, em Santa Luzia 


QEO - Quadro Especial de Oficiais

QP - Quadro Permanente (Pessoal)

Quarteleiro – 1º cabo de manutenção de material

Quebra-costelas - Abraço, AB, Alfa Bravo (gíria, de origem alentejana)

Quico - Boné especial da tropa

Rabecada - Vd. piçada (gíria)

Racal - Equipamento portátil, de origem americana, podendo ser usado em viaturas e aviões, transmitindo em fonia entre as frequências de 38 a 54,9 Mc/s.

RAL - Regimento de Artilharia Ligeira

RCacheu - Rio Cacheu

RCorubal - Rio Corubal

RCumbijã - Rio Cumbijã

RDM - Regulamento de Disciplina Militar

Ref - Militar na Reforma

Reforço - Aumento das medidas de segurança dos nossos aquartelamentos

Reordenamento - Aldeia estratégica, construída pelas NT, reagrupando uma ou mais tabancas

Rep - Repartição (do Quartel-General)

REP / ACAP - Repartição do QC / Assuntos Civis e Acção Psicológica

Res - Militar na Reserva

RFOTO - Reconhecimento fotográfico (FAP)

RGeba - Rio Geba

RI - Regimento de Infantaria

RN - Reserva Naval (Marinha)

Rockets - Granadas lançadas pelo RGP 2 ou RPG 7 (PAIGC)

Rôz kuntango - (ou simplesmente Kuntango) Arroz cozinhado (bianda) sem máfé (crioulo)

RPG - Lança-granadas-foguete (PAIGC): havia o 2 e o 7

RVIS - Voo de reconhecimento aéreo (FAP)

SA-7 - Míssil Sam-7, Strela, de origem russa (PAIGC)

Sabe sabe - Gostoso (crioulo)

Sakalata - Confusão, conflito, chatice (crioulo)

Salgadeira - Urna funerária, caixão (gíria)

SAM - Serviço de Administração Militar

Sancu - Macaco (crioulo)

Sec - Secção; equipa (Um Gr Comb ou pelotão era composto por 3 Sec)

Setor L1 - Setor 1 da Zona Leste (Bambadinca, Região de Bafatá)

Sexa - Sua Excelência, mas também Sexagenário

SGE - Serviço Geral do Exército; oficiais oriundos da classe de sargentos

Siga a Marinha - Embora, vamos a isto! (gíria)

Sintex - Pequena embarcação, de fibra, com mortor fora de bordo, de 50 cavalos, usado para cambar um rio; parecia uma banheira (NT)

SM - Serviço de Material (vd. Ferrugem)

SNEB - Rocket antipessoal, de calibre 37 mm, que equipava o T-6 e que também era usado pelos paraquedistas e demais tropas como LGFog

Sold - Soldado

Sold Arv - Soldado Arvorado

Solmar - Cervejaria de Bissau, do tempo colonial

SPM - Serviço Postal Militar

Srgt - Sargento

STM - Serviço de Transmissões Militares

Strela - Flecha, em russo (стрела); míssil russo terra-ar SAM 7

Suma - Como, igual (crioulo)
Supintrep - Relatório de informação suplementar (Vd. Perintrep)

Supositório - Granada de obus (gíria) 





Guiné > Bissau > Bissalanca > BA 12 > Fiat G-91 R4: linha da frente da esquadra 121, "Os Tigres"


Foto (e legenda): © Mário Santos (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


T/T - Navio de Transporte de Tropas (v.g., T/T Niassa, T/T Uíge)

T6 - Avião bombardeiro, monomotor; equipado c/ lança-roquetes e metralhadora (NT)

Tabanca - Aldeia (crioulo); mas também morança, cubata, casa: mas também tertúlia (v.g., Tabanca de Matosinhos)

Tabanca Grande – A mãe de todas as tabancas ou tertúlias de antigos combatentes da Guiné (v.g., Tabanca de Matosinhos, Tabanca do Centro, Tabanca da Linha, Tabanca dos Melros, Tabanca da Maia, Tabanca do Algarve, Tabanca da Lapónia, etc.) 

Tarrafe - Vegetação aquática, típica das zonas ribeirinha

Taufik Saad - Casa comercial, de origem libanesa, em Bissau


Taxy Way - Caminho de rolagem (FAP)

Tchora - Chorar (crioulo)

Tem manga di sabe sabe - Muito gostoso (crioulo)

Ten - Tenente

Ten Cor - Tenente-Coronel

Ten Gen - Tenente General, antigo general de 
3 estrelas [Posto reintroduzido no Exército Português em 1999, em substituição do posto de general de 3 estrelas; é a mais alta patente de oficial general no ativo, já que os postos superiores são apenas funcionais ou honoríficos: por exemplo, chefe do estado maior general].

Tertúlia – Tabanca Grande

TEVS - Transporte em evacução (FAP)

Tigre de Missirá - Nome de guerra (Alf Mil Beja Santos, Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70)

Tigres - Esquadra de Fiat G-91, na BA 12

TN - Território nacional

TO - Teatro de Operações

Toca-toca - Transporte colectivo, privado, nas zonas urbans da Guiné-Bissau (carrinha tipo Hyace, de cores azul e amarela) (crioulo)


Guiné > Regoão de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) + CART 2520 (1969/70) > Op Safira Única, 21 de janeiro de 1970, no subsetor do Xime, nas proximidades da Ponta do Inglês

Uma pistola de origem soviética, Tokarev, de 7,62, igual ou parecida à que que foi apreendida ao guerrilheiro Festa Na Lona, na Ponta do Inglês, no decurso da Op Safira Única ... Pelo que me recordo, esta pistola ficou à guarda do alf mil Abel Maria Rodrigues, comandante do 3º Grupo de Combate da CCAÇ 12 (onde eu muitas vezes me integrei, conforme as faltas de pessoal...) , que a tomou como ronco... Não sei se a conseguiu trazer para a Metrópole e legalizá-la... Ao que parece, esta arma teve a sua estreia na Guerra Civil de Espanha, em 1936, nas fileiras do exército republicano, estando distribuída a pilotos e tripulações de tanques, entre outros... (LG). 

Fonte: Kentaur, República Checa (2006) [página já não disponível]

(...) Por volta das 15. 30h, já nas proximidades do objectivo, foram notados indícios de presença humana: trilhos batidos, moringas nas palmeiras para recolha de vinho e um cesto de arroz.

Seguindo um dos trilhos, avistou-se um homem desarmado que seguia em direcção contrárias às NT. Capturado, informou que ia recolher vinho de palma, que a tabanca ficava próxima, que não havia elementos armados e que a maior parte da população estava àquela hora a trabalhar na bolanha.

Feita a aproximação com envolvimento, capturaram-se mais 2 homens, 5 mulheres e 6 crianças. Um dos homens capturados disse chamar-se Festa Na Lona, de etnia Balanta, estar alí a passar férias e pertencer a uma unidade combatente do Gabu. Foi-lhe apreendido uma pistola Tokarev (7,62, m/ 1933) e vários documentos.

Havia 2 tabancas, cada uma com 4-5 casas, afastadas umas das outras cerca de 200 metros. Cada casa era revestida de chapa de bidão e coberta de capim. Para o efeito foram aproveitados os bidões existentes no antigo aquartelamento da Ponta do Inglês que as NT haviam retirarado  em novembro de 1968.

Foram destruídos todos os meios de vida encontrados e incendiadas casas, a excepção das que ficaram armadilhadas. Os 2 Dest executaram toda a acção sem disparar um único tiro. A  retirada fez-se igualmente a corta-mato em direcção de Gundagué Beafada, tendo-se chegado ao Xime pelas 18.30h. Durante a noite, a Artilharia fez fogo de concentração sobre os acampamentos IN do Baio/Buruntoni e Ponta Varela/Poindon. (...)

Fonte: Extractos de: História da CCAÇ. 12: Guiné 1969/71. Bambadinca: Companhia de Caçadores 12. 1971. Capítulo II. 24-26.


Tokarev - Pistola de calibre 7,62 mm, de origem soviética (PAIGC)

TPF - Transmissões Por Fios

Trms - Transmissões

Tropa-macaca - Por oposição a tropa especial (páras, comandos, fuzos)

TSF - Transmissões Sem Fios

Tuga - Português, branco, colonialista (termo na altura depreciativo) (crioulo)

Turpeça - Banquinho, de três pés, onde se sentam em exclusivo os régulos felupes

Turra - Terrorista, guerrilheiro, combatente do PAIGC (termo n a altura depreciativo)

Ultramarina - Sociedade Comercial Ultramarina, ligada ao grupo BNU; rival da Casa Gouveia.

Uma larga e dois estreitos - Galões de tenente-coronel

UXO - Unexploded (Explosive) Ordenance (em inglês); Engenhos Explosivos Não Explodidos (em português)

Velhice - Militares em fim de comissão (gíria)

Vietname - Guiné, para lá de Bissau; mato

ZA - Zona de Acção

Zebro - Barco de borracha com motor fora de borda, usado pelos fuzileiros

ZI - Zona de Intervenção (do Com-Chefe)

ZLIFA - Zona Livre de Intervenção da Força Aérea

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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:


30 de dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2389: Abreviaturas, siglas, acrónimos, gíria, calão, expressões idiomáticas, crioulo (6): Racal (José Martins)

29 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2388: Abreviaturas, siglas, acrónimos, gíria, calão, expressões idiomáticas, crioulo (5): Periquito (Joaquim Almeida)

26 de junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1887: Abreviaturas, siglas, acrónimos, gíria, calão, expressões idiomáticas, crioulo (3)... (Zé Teixeira)