terça-feira, 19 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19602: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LXV: Memórias do Gabu (V)


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Janeiro / fevereiro de 1968 > Foto nº 13A > A Escola Primária do Gabu. o professor e os alunos. Uma imagem que vale por mil palavras, num sítio daqueles também se ensinava a ler a Língua de Camões.



Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) >  Janeiro / fevereiro de 1968 >  Foto nº 13


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) >  Janeiro de 1968 >  Foto nº10 >  Mulher guineense de etnia Fula com o seu filho.  Na porta da sua tabanca esta mulher deixou-se fotografar com o seu filho todo nu, como já era hábito nas gentes locais.  


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) >  4º  trimestre de 1967 >  Foto nº 7 > Junto a um ribeiro, ou a Fonte de Nova Lamego, local das lavadeiras.  Alguns miúdos, mas já crescidos, estão a tomar banho de sabão num local que me parece ser o sítio onde as lavadeiras trabalhavam. Junto a mim, o então ainda Aspirante Mesquita, das Transmissões. 


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) >  1º  trimestre de 1968 >  Foto nº 1 > Bajudas Mandingas com vestes de passeio dominical.  São 3 raparigas solteiras – bajudas – com os seus vestidos de domingo ou de festas.  Fico com uma falsa sensação, pois a do meio não tem sequer chinelos, está descalça.  Não se pode identificar as cores, mas serão certamente cores fortes e garridas. 


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Outubro de  1967 >  Foto nº 2 >  Um grupo de camaradas junto às sombras das Palmeiras.  Foto tirada possivelmente numa tarde de Sábado ou Domingo, com alguns militares à civil, dos quais não consigo identificar nenhum pelo nome. É uma das primeiras fotos do Gabu. 

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Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > 4º trimestre de  1967 >  Foto nº 5 > Vista geral de algumas ‘Tabancas’ no mato nos arredores do Gabu. Uma das primeiras rondas pela zona, e uma das primeiras fotos pelas tabancas do Gabu e da nossa Guiné. Tudo era novo para os ‘periquitos’.


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Outubro de  1967 >  Foto nº 14 > Momento de repouso à sombra do nosso fotógrafao de uma bananeira. Numa deslocação de Nova Lamego a Bafatá, foi preciso parar no caminho, e assim se aproveitou o momento para descansar na sombra de uma bananeira, pertencente a este homem, fula, dono da plantação. Não me lembro se ele nos ofereceu uma banana ou não, mas elas parecem ainda um pouco verdes.


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Outubro de  1967 >  Foto nº 17 > Edifício do Posto de Comando e Conselho Administrativo  do Batalhão. Localizado no centro da Vila, este edifício tipo colonial era a sede e instalações do Comando do Batalhão e do Conselho Administrativo, onde eu exercia funções. Daquele varandim do 1º piso, poderia apreciar-se grande parte do povoado, a Casa Caeiro em frente, os CTT da outra esquina e outro estabelecimento que não sei o que era. Junto a mim, debruçados, estou eu, o Furriel Pinto e o 1º cabo Seixas


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Dezembro de  1967 >  Foto nº 12 >  Chegada e recepção da esposa do 2º comandante, Major Américo Correia. Por alturas do mês de Natal de 67, a esposa do nosso 2º Comandante e Presidente do Conselho Administrativo foi visitar o marido a Nova Lamego. A sua chegada a terras de Gabu foi muito acompanhada, e foi bem recebida. Chegou num avião militar DAKOTA da FAP, vinda de Bissau, onde chegou da metrópole num avião, civil ou militar, não sei. Estas visitas não eram normais, por razões de segurança. Junto a ela, está o marido fardado e de boné, estou eu de quico, e o militar de camuflado pertencia aos quadros da Força Aérea.


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Janeiro / fevereiro de   1968 >  Foto nº 15 > Numa Tabanca dos arredores, com uma criança mestiça. Como andava muitas vezes pelas tabancas, tinha muitas amizades com a população, dava alguma coisa, tirava fotos com as bajudas e mulheres, depois levava uma cópia para eles, eu dava-me bem naquele ambiente sem medo, sem stress. Esta criança logo se vê que é filho de mãe preta e pai branco, não sei os pormenores, eram assuntos naquela altura muito tabus, perguntar estas coisas. Deve estar um homem, espero que não tenha ido para a guerrilha!

 Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, chefe do conselho administrativo, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69); é economista e gestor, reformado; é natural do Porto; vive em Vila do Conde. (*)

CTIG/Guiné 1967/69 - Álbum de Temas:

T063 – MEMÓRIAS DO GABU – PARTE V

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Guiné 61/74 - P19601: Voluntário em Bissau, na Escola Privada Humberto Braima Sambu - Crónicas de Luís Oliveira (6): o contentor do Abubacar


Guiné-Bissau > Bissau > Março de 2019 > O Contentor do Abubacar > Fotografias do contentor e parte da tertúlia. O Abubacar está ao centro.  Eu, à sua direita, de óculos esuros, chapéu e um criança ao colo.



Guiné-Bissau > Bissau > Março de 2019 > O contentor do Abubacar >  O Abubacar e um vizinho



Guiné-Bissau > Bissau >  Março de 2019 >  O contentor do Abubacar >Miúdos



Guiné-Bissau > Bissau >  Março de 2019 >  O contentor do Abubacar > Manteiga de amendoim: Jura mesmo!










Guiné-Bissau > Bissau > Março de 2019 > O contentor do Abubacar > Mensagens ecológicas destinadas às crianças

Fotos (e legendas): © Luís Oliveira (2019) . Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné).



Luís Oliveira, na praia da Areia Branca, Lourinhã
1. Sexta crónica do Luís Mourato Oliveira, nosso grã-tabanqueiro nº 730, que foi alf mil inf, de rendição individual, na açoriana CCAÇ 4740 (Cufar, 1973, até agosto) e, no resto da comissão, o último comandante do Pel Caç Nat 52 (Setor L1 , Bambadinca, Mato Cão e Missirá, 1973/74): é bancário reformado, foi praticante e treinador de andebol; lisboeta, tem fortes ligações à Lourinhã, Oeste, Estremadura...

Chegou a Bissau, a 2 de março, e aqui vai estar 3 meses como voluntário na Escola Privada Humberto Braima Sambu, no âmbito de um projeto da associação sem fins lucrativos ParaOnde, que promove o voluntariado em Portugal e no resto do Mundo. (*)






O Contentor de Abubacar


por Luís Oliveira



Conheci a loja do Abubacar através das minhas companheiras de voluntariado. Trata-se de um contentor marítimo de pequenas dimensões, talvez cinco por dois metros que, à custa de rebarbadora, ferro de soldar, alguns materiais reciclados e sobretudo muita imaginação, foi transformado num estabelecimento comercial quase em frente da escola Humberto Braima Sambu e do Estádio Bom Fim.



É um local incontornável quando me dirijo todas as manhãs para a escola e aproveito para reconfortar o estômago, meio pão tipo baguete com manteiga e leite. O Abubacar, ou o alguém que o substitui, após cortar a baguette ao meio, rapa com uma colher a manteiga com origem numa lata de cinco quilos daquele produto e parte do “mata bicho” está preparado, só faltando uma latinha de leite de duzentos ml que os holandeses vendem para a Guiné e que até sabe bem.


Para além deste serviço, a loja do Abubacar vende água de Penacova, rebuçados, óleo avulso em saquinhos de plástico, conservas e muitas mais mercadorias de natureza alimentar. Também fornece serviços tecnológicos e, quando necessito de carregar dados ou chamadas no meu cartão SIM, o

Abubacar, não sei com que artes mágicas, carrega-me o telefone do que preciso.


Mas o que mais me atrai na loja são os momentos de convívio com p Abubacar e os seus amigos que aí aparecem para disfrutar de uma boa cavaqueira que abrange desde o tema político ao desportivo, e com o Abubacar estou sempre de acordo porque é um ser humano de qualidades inquestionáveis. Tem ideias claras e críticas sobre a gestão recente da Guiné-Bissau, do estado de pobreza material e a outros níveis em que se encontram os seus irmãos guineenses. Faz propostas, discute com moderação e siso os problemas partidários e tem sempre uma mensagem ecológica para os mais novos, sempre distraídos na forma como tratam o lixo, e sobre a higiene urbana e, além disso, é do Sporting.


O Abubacar deve ter, talvez, pouco mais de vinte anos, tem o curso de professor, mas, como esta categoria profissional não recebe ordenado desde Outubro, prudentemente orientou a sua vida por outra via, e é pena porque os seus ensinamentos seriam bem úteis aos mais novos.


Hoje, sábado, não houve escola e lá fui tomar o pequeno almoço, comprar dados para o cartão SIM e conviver. Uma manhã muito agradável com vários jovens, entre eles um de Missirá, onde o seu pai foi milícia da força portuguesa, e outros que me questionam do período colonial que, segundo eles, não faz parte do curriculum de história do ensino guineense:


“Luís, como é que convivias com a população?” 
“Na tabanca não tinham medo de vocês?” 
“Para onde iam detidos os elementos do PAIGC que eram capturados?”... 

E a conversa continua com serenidade, entusiasmo e curiosidade. As lembranças de um conflito que existiu e que apenas tem registo nas nossas memórias, são um ponto de encontro e de reflexão sobre os erros cometidos, sobre as malhas que o império tece(u) e que nos torna mais próximos.



P.S. No meio da conversa desta confraria ocasional, surge uma mulher transportando uma lata de tinta, abeira-se de mim;

– A bó miste?


Nem sabia o que a senhora transportava e até pensei que queria que lhe fosse pintar a casa como as vezes faço colaborando com os meus amigos que têm menos tempo ou jeito!


Como fiz um ar surpreendido, tirou a tampa e lá dentro estava uma massa castanha de cor pouco atrativa e também não era massa consistente porque eu até não tenho jeito para a mecânica. Mancarra, insistiu ela.


Pois, era manteiga de amendoim. Não pude negar e, com a ASAE ausente e sob investigação, não iria

haver problema.

– Um quilo?


Um quilo era demais, e o aspecto e cor tão pouco atrativos que só pedi duzentos e cinquenta gramas para ver o que dava e não deixar a senhora com a lata na mão após tanta insistência.


Nesta lata não há colher e ela vai rapando com a mão e fazendo bolinhas até juntar o que lhe pareceu serem os duzentos e cinquenta gramas. O Abubacar forneceu um saquinho plástico onde ficou o produto pelo preço de duzentos e cinquenta francos CFA (cerca de quarenta cêntimos de Euro) e que não resisti a provar depois do meu almoço.


Nunca comi manteiga de amendoim tão saborosa e, se amanhã os efeitos desta iguaria não me afectarem demasiado, irei à procura da mulher e comprar um quilo. Talvez seja suficiente até partir para Lisboa.


Bissau, 16/03/2019

Guiné 61/74 - P19600: Memória dos lugares (387): Jemberém, no Cantanhez (António Castro, ex-fur mil inf, CCAÇ 4942/72, 1972/74)



Foto nº  3 > Um “cruzeiro” numa LDM pelo rio Cacine,  entre Cacine e Jemberém



Foto nº 4 > Aqui estou eu junto do abrigo, tipo “bunker”, que foi construído a pensar em defesa do comandante e das comunicações em caso de ataque em força.


Foto nº 2 > Um quarto duplo onde morei esses 11 meses que partilhava com outro Furriel.






Foto nº 1 > Esta era a cozinha de campanha, onde se faziam maravilhas quando havia comida fresca.


Foto nº 1A > Esta era a cozinha de campanha, onde se faziam maravilhas quando havia comida fresca.




Foto nº 6 > Este era o meu grup de combate, o 3º, o Zigue-Zague, [O alferes Lima era o meu comandante de pelotão - o 3.º; o alferes Vítor Negrais o comandante do 2.º pelotão, o alferes Pires, o comandante do 4.º pelotão e o do 1.º era um "Operação Especiais" ["ranger" cujo nome já me falha. A CCAÇ 4942, os "Galos de Jemberém", foram os "pioneiros e construtores de Jemberém" [, hoje, Iemberém]

Guiné > Região de Tombali > Jemberém > CCAÇ 4942/72 (1972/74) 

Fotos (e legendas): © António Castro  (2019) . Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné).


Guiné-Bissau  > Região de Tombali >  Iemberém > Visita dos participantes do Simpósio Internacional de Guileje > 2 de Março de 2008 > Monumento, em bom estado,  assinalando a passagem, por aqui, da CCAÇ 4942/72, de origem madeirense, conhecida por "Os Galos do Cantanhez". Estiveram em Jemberém (os guineenses hoje dizem Iemberém) entre Março de 1973 e Fevereiro de 1974.

Foto (e legenda): © Luís Graça  (2008) . Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné).


1. Mensagem do António [Clodomiro Silva] Castro, ex-fur mil inf,  CCAÇ 4942/72  (Jemberém e Barro 1973/74. É membro nº 753.º da nossa Tabanca Grande (*)

Data: sábado, 16/03, 23:02
Assunto: CCAÇ 4942/72

Olá Luís,

Peço desculpa porque já passou muito tempo (*)  e parece que estou “desaparecido em combate” mas este é o combate da vida.

Depois das vossas boas vindas,  é de facto tempo de relembrar um pouco da “história” pelo que vou fazer um pequeno texto que segue abaixo e anexar 5 fotos, para publicação, se entenderam que tem interesse neste contexto.

Formamos uma Companhia Independente na Madeira, nos fins do ano de 1972. Foi denominada CCAÇ 4942. A nossa mobilização indicou - Guiné. (**)

A Companhia já completa foi para Lisboa aguardar embarque. No dia 26 de Dezembro do mesmo ano embarcamos no Uige rumo à nossa aventura.

 As notícias davam conta que o nosso destino era Bafatá. Sendo a segunda cidade da Guiné até
parecia que estávamos a caminhar para umas “férias”. Mas a apenas dois dias da nossa chegada, a notícia foi a morte de Amilcar Cabral [, em 20 de Janeirode 1973], o que nos fez logo esperar o pior. 

Depois do IAO no Cuméré, fomos para Mansoa,  a norte de Bissau,  aguardar transporte para Cadique no sul de onde passado pouco tempo fomos abrir destacamento no meio do mato, numa localidade já sem população que se chamava Jemberém e que distanciava cerca de 10 km de Cadique. (***)

Juntos com outra Companhia Independente e com o reforço de alguns fuzileiros, montamos um destacamento em círculo onde a alguns metros do “arame” escavamos valas para defesa em todo o perímetro e valas mais largas onde montamos camas de campanha para dormir, onde ficaram todos os praças e furriéis, para maior operacionalidade. Apenas os oficiais e especialistas não atiradores ficaram no centro. 

Pouco tempo depois os fuzileiros foram substituídos por um grupo de Artilharia com 3 obuses 10,5. E nestas condições ficamos durante 11 longos meses com saídas para o mato quase dia sim, dia não, em bigrupo ou com saídas de 2 dias quando era a Companhia com os seus 4 grupos operacionais a sair. Dos ataques ficaram certamente muitas recordações, mas não vou falar delas agora. Ficam algumas imagens que mostram um pouco do ambiente.

Final da história: depois deste período fomos para Barro, onde nunca mais tivemos ataques, passamos o 25 de Abril, fizemos, salvo erro, o “30 de Maio” que foi a expulsão do comandante e acabamos por regressar a Lisboa em Setembro por antecipação do nosso tempo de mobilização, em que TODOS os que integraram a nossa Companhia regressaram a casa. Sim, a nossa Companhia não teve nenhuma baixa, e teve apenas um ferido que ficou a mancar, mas mesmo assim ficou até ao fim.

Com os melhores cumprimentos,
António Castro
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Notas do editor:


segunda-feira, 18 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19599: Notas de leitura (1160): “Bijagós, Património Arquitetónico", por Duarte Pape e Rodrigo Rebelo de Andrade, Fotografia de Francisco Nogueira (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Novembro de 2016:

Queridos amigos,

O livro é irresistível, pelo rigor do conteúdo e pela preciosidade das imagens. Os Bijagós sempre provocaram um grande fascínio tanto pelos dons naturais, pela cultura, pela identidade do povo que durante séculos viveu em contenda com o continente, nomeadamente com os Beafadas, os vizinhos mais próximos.

Não se pode ficar indiferente com estes cadastros do legado colonial, impressiona o que se construiu e o que ainda está a tempo de ser conservado. Felizmente que alguma cooperação garante restauros e trava o aniquilamento de edifícios emblemáticos do que fora concebido com capital com contornos imperais.

Quem perdura o seu amor pela Guiné não pode deixar de olhar esta obra primorosa sem orgulho e indignação.

Um abraço
do Mário



Bijagós e o seu património arquitetónico: que beleza de livro!

Beja Santos

O património arquitetónico dos Bijagós é uma edição da Tinta-da-China, tem por autores Duarte Pape e Rodrigo Rebelo de Andrade e fotografias de altíssima qualidade de Francisco Nogueira. Tem história, enquadramento urbanístico, análise do espaço tradicional Bijagó e do espaço colonial e desvela os mais significativos edifícios coloniais. 

Na base do empreendimento está o projeto “Bijagós, Bemba di Vida! Ação cívica para o resgate e valorização de um património da humanidade”, uma parceria do Instituto Marquês de Valle Flôr e da organização não-governamental Tiniguena. Trata-se de um estudo que se insere no projeto de conservação dos recursos naturais e de desenvolvimento socioeconómico numa das zonas centrais da Reserva da Biosfera do Arquipélago de Bolama-Bijagós: as ilhas Urok.

Os autores preparam-se bem e o resultado está à vista, nesta edição cuidada, edição para guardar pelo cuidado posto no grafismo e na riqueza das imagens, fala-se dos Bijagós e de um património colonial que ameaça ruína, as imagens são tão impressivas que ninguém pode deixar de indignar-se com o descalabro que por ali vai.

A herança arquitetónica bijagó compreende o passado, através da compreensão dos textos, dos enquadramentos e das suas influências em comparação com outros patrimónios guineenses e coloniais; está o registo fotográfico do património existente e indaga-se o futuro, alguém tem que responder pela salvaguarda de um património comum de uma região com 88 ilhas e ilhéus, num total de 10 mil quilómetros quadrados. 

Há menção dos Bijagós em documentos dos descobridores a partir de 1457, são da maior importância as narrativas do navegador veneziano Luís de Cadamosto e do navegador genovês Uso de Mare. Os primeiros registos cartográficos surgiram em 1468 quando o navegador alemão Valentim Fernandes terá chegado às imediações de Canhabaque.

O processo de crescimento de Bolama está relacionado com a história e a cultural mercantil na região de Quínara e no rio Grande de Buba. O povo Bijagó vivia em permanente tensão com os Beafadas que se espraiavam entre Tombali e Fulacunda. A presença portuguesa era episódica e a hostilidade Bijagó indisfarçável aos colonos. Bolama foi fundada em 1752, muito depois de outras vilas e cidades da Guiné, quando o governo português ordenou ao Coronel Francisco Roque de Sotto-Mayor, Governador de Bissau, que tomasse posse da ilha, erguendo um padrão esculpido com as armas dos reis de Portugal. Recorde-se que a ilha de Bolama só pertenceu oficialmente a Portugal em 1870, após a arbitragem pelo presidente norte-americano Ulysses Grant do conflito luso-britânico.

A estrutura urbana baseia-se em modelos europeus: grelha ortogonal, reticulada, implantada a nordeste da ilha, e em contracto direto com o mar. Impuseram-se inicialmente os edifícios da Alfândega, o Palácio do Governador e Casa Comercial Gouveia. Surgiram depois outros edifícios-chave: o Banco Nacional Ultramarino, a Escola, o Arsenal e o Hospital, a Câmara Municipal e os Paços de Concelho. A escala da cidade de Bolama, observam os autores, é definida por um grande número de edificações térreas, pontualmente marcada por construções com dois ou mais pisos. Nos anos 20 do século XX, surgem planos da autoria do engenheiro Guedes Quinhones inspirados nos modelos humanos ingleses do final do século XIX, da Garden City, de Sir Ebenezer Howard e dos ideais norte-americanos da City Beatiful Movement.

Quando Bolama deixou de ser capital, em 1941, tentou-se torná-la um destino turístico muito apetecível, daí as piscinas municipais, o cineteatro e o complexo balnear da praia de Ofir. Hoje, os seus largos e praças perderam grande parte do caráter, em virtude do abandono dos serviços públicos. Era tal a beleza e a graciosidade da cidade que muitos a tratavam por Nova Mindelo e nos meios intelectuais dizia-se que aqui se tinha radicado o berço do crioulo.

Folheia-se o álbum fotográfico e sentimos o coração pequenino com as ruínas do antigo Palácio do Governador, as ruínas de Bubaque, estão entregues às ervas a casa de férias de Luís Cabral e as casas inacabadas para generais. De premeio, os autores mostram-nos a organização das tabancas Bijagós, construídas em clareiras, têm um ar delicado na envolvente paisagística.

Uma imagem muito bela pode potenciar no leitor um cruel sofrimento, ele tem que perguntar porquê a decomposição daquele edifício da central elétrica, como ainda guarda majestade a Câmara Municipal em ruínas, como é grotesco o belo exótico das ruínas do Hospital Militar e Civil, e como ainda resiste o Palácio do Governador e o Quartel Militar. Há uma Bolama que nasce e renasce. Por exemplo, o edifício da Alfândega foi totalmente recuperado pela cooperação espanhola, AICCID. O cineteatro de Bolama resiste, é um assombro de Arte Deco já tardio. A Escola Superior de Educação é um dos equipamentos de maior interesse da Bolama atual. Ficamos sem fôlego a ver a notável Imprensa Nacional, os autores advertem para o seu enorme potencial turístico e museológico.

A análise patrimonial não se circunscreve à ilha de Bolama, já se falou de Bubaque, Canhabaque tem património em decadência, aqui se mantém de pé o monumento comemorativo das operações de pacificação de 1935-1936.

Os autores concluem que é muito grande a qualidade patrimonial deste arquipélago e que é iniludível a importância do legado patrimonial do colonialismo português, ainda há muita recuperação, conservação e restauro que podiam tornar esta região muitíssimo apetecível pelos dons que a natureza que lhe ofereceu.

Enquanto lia com sentimentos contraditórios este álbum de indiscutível interesse, procurando conhecer as linhas da presença colonial, tanto na fase de consolidação de Bolama como capital da província da Guiné e o período posterior, até ao momento da independência, sempre de coração contrito com o património em ruínas, lembrava da visita que aqui fiz em 1991, a embarcação a chegar ao cais de onde se avista aquele espantoso monumento em pedra que Mussolini ofereceu à cidade de Bolama em homenagem aos aviadores italianos mortos, procurava as placas esmaltadas com os nomes insignes dos políticos da I República que aqui ficaram consagrados, passeara-me neste mar de ruínas perplexo como era possível dois povos espezinharem esta esplendorosa memória de uma vida em comum.

Pescadores bijagós
Imagem retirada do blogue LusONDA, com a devida vénia
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Nota do editor

Último poste da série de 15 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19588: Notas de leitura (1159): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (77) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19598: Convívios (888): 42º almoço-convívio da Magnífica Tabanca Grande: Algés, 5ª feira, dia 21 de março de 2019: homenagem ao nosso querido Jorge Rosales (1939-2019)



Jorge Rosales (1939-2019): Presente!


Lista provisória dos inscritos (n=33) até ao fim de semana... A que se deve juntar o Luís Graça,  editor do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.





 Lista atualizada dos inscritos (n=47) ao princípio da tarde de hoje


1. Vai realizar-se no próximo dia 21 de Março, quinta-feira, com início às 13 horas, mais um convívio da Magnífica Tabanca da Linha, no Restaurante "Caravela de Ouro", em Algés. O Almoço será servido às 13 horas, no entanto podem começar a aparecer a partir do meio dia, como já é costume.

+ + + E M E N T A + + +

APERITIVOS
Martini tinto e branco - Porto seco - Moscatel - Bolinhos de bacalhau
Croquetes de vitela - Rissóis de camarão - Tapas de queijo e presunto

SOPAS
Creme de legumes - Creme de marisco

PRATO PRINCIPAL
Lombinhos de pescada com arroz de marisco

SOBREMESA
Salada de fruta ou Pudim
Café

BEBIDAS
Vinho branco e tinto (Ladeiras de Santa Comba), Águas - Sumos - Cerveja

PREÇO POR PESSOA - - - - - 20.00€
(Crianças dos 5 aos 10 anos pagam metade)


2. A coroa de flores com que a Magnífica Tabanca da Linha homenageou o nosso amigo e fundador Jorge Rosales no seu funeral custou 100 Euros. Agradeço que os Magníficos convivas que queiram e possam contribuam até se perfazer este valor.

Inscrições:

Manuel Resende:  telem 919 458 210
Emails:
magnificatabancadalinha2@gmail.com, manuel.resende8@gmail.com,
por SMS 
ou dizendo "vou" ao convite no nosso grupo do Facebook.

Restaurante "Caravela de Ouro"
Morada: Alameda Hermano Patrone,
1495 Algés (Jardim de Algés, junto à marginal)

Manuel Resende

PS - O prazo de inscrições vai até 3ª feira, dia 19, de manhã... 

Já temos 48 inscritos até 2ª feira à tarde... 

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Nota do editor:

Último poste da série > 5 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19551: Convívios (887): XXXVI Encontro Nacional dos ex-Oficiais, Sargentos e Praças do BENG 447 - Brá, 1964-1974, a levar a efeito no dia 11 de Maio de 2019, na Tornada, Caldas da Rainha (Lima Ferreira, ex-Fur Mil do BENG 447)

Guiné 61/74 - P19597: (De)Caras (123): Capitão de Infantaria Francisco Meireles, cmdt da CCAÇ 508, morto em Ponta Varela, Xime, em 3/6/1965 - Parte I (Jorge Araújo)



Foto 1 - Xime (1965) – O Capitão Francisco Meirelles rodeado de “Homens Grandes” da região. O 3.º da esquerda era, em 1972, o Chefe de Tabanca do Xime, cujo nome já não me recordo. (Foto retirada, com a devida vénia, do livro "Capitão Francisco Xavier Pinheiro Torres Meirelles"  (Braga: Editora Pax, s/d, p30),

Alguém de ‘boa vontade’ que saiba o  nome do Chefe da Tabanca do Xime… faça o favor de informar. Obrigado!




Foto 2 - Xime (1972) – Ao meu lado, o Chefe de Tabanca do Xime, sete anos depois da imagem anterior.

Foto (e legenda): © Jorge Araújo  (2019) . Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné).



Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494 
(Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do blogue desde março de 2018



A COMPANHIA DE CAÇADORES 508 (1963-1965) E A MORTE DO SEU CMDT CAP INF FRANCISCO MEIRELLES EM 3JUN1965 NA PONTA VARELA

- A ÚNICA BAIXA EM COMBATE DE UM CAPITÃO NO XIME - PARTE I



1. INTRODUÇÃO

A presente narrativa tem na sua génese a recuperação de algumas memórias da história colectiva da Companhia de Caçadores 508 [CCAÇ 508] durante a sua presença no CTIG, entre 20Jul1963, chegada a Bissau, e 07Ago1965, data do embarque de regresso à metrópole.

 Nela relataremos, também, o contexto que originou a morte do seu Cmdt - o capitão Francisco Xavier Pinheiro Torres Meirelles (1938-1965), imagem ao lado - ocorrida na Ponta Varela (Xime), no dia 3 de Junho de 1965, 5.ª feira, narrado no livro elaborado em sua memória pela sua família, e por mim adquirido a um alfarrabista de São João da Madeira, cruzando-o com a versão oficial publicada pela CECA [Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974)].

Acrescento, a propósito, que este texto já estava alinhavado e alinhado desde Dezembro último, data em que foi postado o trabalho relacionado com a elaboração da lista, corrigida e aumentada, dos camaradas «Capitães» que tombaram durante a guerra na Guiné – P19315 (22.12.18) – cujas causas de morte foram agrupadas em acidente, combate e doença.

A fonte a que recorremos, para o efeito supra, foi a base de dados da «Academia Militar», sítio: https://academiamilitar.pt/filhos-da-escola-do-exercito-e-da-academia-militar.html, de onde retirámos os elementos necessários para a organização daquele trabalho.

Dessa lista de doze nomes (mortes em combate) foi sinalizado, desde logo, o do Capitão Francisco Meirelles, uma vez que a sua morte aconteceu num local mítico e muito familiar para o contingente da minha CART 3494, no qual me incluo, naturalmente, ainda que entre cada caso, ou período nele vivido, exista uma diferença temporal de sete anos (1965/1972), conforme fotos nº 1 e nº 2 (acima).

Por razão relacionada com o início da publicação, no blogue da «Tabanca Grande», do trabalho de pesquisa elaborado pelo camarada cor art ref António Carlos Morais da Silva (o nosso primeiro gã-tabanqueiro do ano em curso; que saúdo), na série: «In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-1975) – P19378 (07.01.19) – fiquei a aguardar pela postagem dos dados do malogrado Capitão Francisco Meirelles que agora aconteceu – P19579.

2. SUBSÍDIOS HISTÓRICOS DA COMPANHIA DE CAÇADORES 508  (BISSORÃ,  BARRO - BIGENE, OLOSSATO, BISSAU, QUINHAMEL - PONTA DO INGLÊS, GALOMARO E XIME, 1963-1965)


2.1. A MOBILIZAÇÃO PARA O CTIG

Mobilizada pelo Regimento de Infantaria 7 [RI 7], de Leiria, a Companhia de Caçadores 508 (CCAÇ 508) embarcou em Lisboa, no Cais da Rocha, em 14 de Julho de 1963, domingo, sob o comando, interino, do Alferes Cardoso, seguindo viagem a bordo do N/M Índia,  rumo à Guiné (Bissau), onde chegou a 20 do mesmo mês, sábado.

2.2. SÍNTESE OPERACIONAL

Dez dias após a sua chegada a Bissau, ou seja, em 01 de Agosto de 1963, a CCAÇ 508 assumiu a responsabilidade do subsector de Bissorã, então criado, com grupos de combate (pelotões) destacados em Barro, até 23 de Dezembro de 1963, e Bigene, até 26 de Dezembro de 1963, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 507 e, após remodelação daqueles sectores, no BCAÇ 512. Em 26 de Dezembro de 1963, passou a ter um grupo de combate destacado em Olossato.

Dez dias após ter iniciado a sua actividade operacional, ou seja, em 11 de Agosto de 1963, a CCAÇ 508 tem a sua primeira baixa, com a morte, por acidente com arma de fogo, do camarada:

● António Rodrigues Teixeira de Jesus; 1.º Cabo; natural de Avões, Lamego; solteiro.

Em Fevereiro de 1964, com seis meses de comissão, a CCAÇ 508 regista mais duas baixas, estas em combate, em Maqué (Região do Óio), na sequência da sua intensa actividade operacional.



Foto 3 - Olossato (1964) – Unimog destruído por mina anti-carro. Esta viatura foi conduzida pelo condutor da CCAÇ 508, Cândido Paredes, natural de Favaios, Vila Real. (Foto do próprio publicada em http://lugardoreal.com/imaxe/unimog-destruido, com a devida vénia).


Destaca-se, neste contexto, as seguintes:

(i) em 03Fev64, 1 Gr Comb, pernoitando em Missirá, reagiu a um ataque IN, pondo em fuga;

(ii) vinco dias depois (08Fev64) rebentou uma mina [anti-carro] na estrada Mansabá-Farim, provocando quatro feridos em 2 Gr Comb, que reagiram, provocando baixas ao IN;

(iii) Em 12Fev64, 4.ª feira, 1 Gr Comb levantou 42 abatises, em Maqué, sofrendo uma emboscada de que resultaram dois mortos e quatro feridos nas forças da CCAÇ 508, sendo os mortos os seguintes camaradas:

● António Fernando Teixeira Vilela; soldado; natural de Rio Tinto, Gondomar; solteiro. Foi sepultado no Cemitério de Bissau (Campa 692).

● José Paulo Fonseca; soldado; natural de Aljubarrota, Alcobaça, solteiro. Foi sepultado no Cemitério de Bissau (Campa 692).

Entretanto, decorrido um ano de comissão do contingente da CCAÇ 508, chega a esta Unidade Independente o Capitão Francisco Xavier Pinheiro Torres de Meirelles [1938-02-21/1965-06-03] para a comandar. A sua viagem iniciou-se em Lisboa a 17 de Julho de 1964, a bordo do barco de carga «António Carlos», rumando a Bissorã, região do Oio, onde o seu contingente se encontrava instalado.

Em 04Set64, 6.ª feira, já então na dependência do BART 645, e depois da chegada da CART 566, a CCAÇ 508 foi substituída no subsector de Bissorã pela CART 643, do antecedente ali colocada em reforço, tendo seguido para o sector de Bissau, a fim de se integrar no dispositivo de segurança e protecção das instalações e das populações da área, com um grupo de combate destacado em Quinhamel, ficando na dependência do BCAÇ 600.

Em 15Nov64, domingo, a CCAÇ 508 regista a quarta baixa, com a morte, por afogamento no Rio Geba, em Bafatá, do camarada:

● António Coutinho Nobre; Soldado; natural das Caldas da Rainha; solteiro.

Em 08Fev65, 2.ª feira, um ano após terem accionado uma mina na estrada Mansabá-Farim [imagem acima] a CCAÇ 508, contabiliza mais uma baixa, a quinta, desta vez provocada pelo levantamento de uma mina em Jabadá, verificando-se a morte do camarada:

● João Francisco Serrão; Soldado; natural de Coruche; solteiro.

É de referir que a transferência para Bissau ficou a dever-se ao facto da Companhia estar muito debilitada pela longa permanência no mato e por ter sofrido algumas baixas.

Porém, em princípio de Março de 1965, a CCAÇ 508 foi novamente mandada para uma zona operacional. Em 7 e 23 de Março de 1965, por troca com a CCAÇ 526, a CCAÇ 508 deslocou-se, por fracções para Bambadinca, assumindo a responsabilidade do respectivo subsector, com grupos de combate [pelotões] destacados em Xime e Galomaro e ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 697, sob o comando do Tenente-Coronel Mário Serra Dias da Costa Campos, sediado em Bambadinca.

Em 16Abril65, 6.ª feira, a CCAÇ 508 foi substituída pela CCAV 678, sendo deslocada para o Xime, onde  assumiu a responsabilidade do respectivo subsector, então criado, com grupos de combate destacados em Ponta do Inglês e Galomaro.

Em 27Mai65, 5.ª feira, a CCAÇ 508 regista mais uma baixa no seu efectivo, a sexta, com a morte em combate, no Xime, do camarada:

● José Ferreira Clemente; Soldado Auto Rodas; natural de Milagres, Leiria; solteiro. Foi sepultado no Cemitério de Bissau (Campa 1812).

Em 03Jun65, 5.ª feira, a CCAÇ 508 perde mais quatro unidades em combate, na Ponta Varela (Xime), sendo um o seu comandante, o Capitão Francisco Meirelles, em consequência do rebentamento de uma mina. Eis os seus nomes:

● Francisco Xavier Pinheiro Torres de Meirelles; Capitão de Infantaria QP; natural de Castelões de Cepeda, Paredes; casado.

● José Maria dos Santos Corbacho; 1.º Cabo; natural de São Sebastião da Pedreira, Lisboa, solteiro.

● Domingos João de Oliveira Cardoso; Soldado Auto Rodas; natural de São Cosme, Gondomar; solteiro.

● Braima Turé; Caçador Nativo (guia), natural do Xime, Bambadinca.

[Nota: Nas diferentes fontes consultadas, não existe concordância quanto aos locais onde foram sepultados os últimos três corpos referidos acima. Na Parte II, daremos conta do que consta em cada uma delas (fontes)].

Entretanto, em 06 de Agosto de 1965, após a chegada da CCAÇ 1439 para treino operacional, a CCAÇ 508 foi rendida no subsector do Xime por forças da CCAV 678, recolhendo imediatamente a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso ao Continente, após dois anos de comissão. A viagem de regresso iniciou-se a 07 de Agosto de 1965, sábado, a bordo do vapor «Alfredo da Silva» com a chegada ao cais de Alcântara, Lisboa, a ter lugar no dia 14 do mesmo mês, sábado.



3. A MORTE DO CAPITÃO FRANCISCO MEIRELLES EM 03JUN1965 – DESCRIÇÃO





Tendo por principal fonte de investigação o livro publicado em sua memória pela sua família que, segundo creio, aconteceu a propósito do primeiro aniversário da sua morte, pela dedicatória que nele consta, tomei a liberdade de o citar, como elemento historiográfico, particularmente no que concerne aos antecedentes e a alguns detalhes relacionados com o desenrolar das acções que ditaram a sua morte e de mais três elementos da sua CCAÇ 508.



Mapa da Região do Xime, indicando os pontos mais problemáticos da actividade operacional das NT.



[…] O Xime, enquanto zona especialmente perigosa, era visitado pelos repórteres militares. […]

"Em 3 de Junho de 1965, foi [o capitão Francisco Meirelles] incumbido de mostrar aos operadores da R.T.P. como se fazia a detecção de minas, muito frequentes naquela zona, pois em menos de três meses tinham sido levantadas mais de 40. Logo a 2 kms do Xime foi detectada uma mina anti-carro. Como os trabalhos de levantamento da mina demorassem, o capitão Meirelles propôs ao major Abeilard Martins, 2.º Comandante do Batalhão 697, irem a pé até à tabanca de Ponta Varela, pois queria mostrar a conveniência da sua reocupação pelos nativos, em regime de auto-defesa, reocupando-se dessa forma uma região muito fértil. Ficariam assim os comandos a dispor de mais um ponto de observação e de vigilância, e também dificultada a colocação de minas naquela zona.

Aceite a sugestão, partiram aqueles oficiais, juntamente com o major Afonso, do Estado Maior do Comando Chefe, que acompanhava os operadores da TV, com o régulo da tabanca de Ponta Varela, com alguns pisteiros indígenas e com duas ou três secções que seguiam nos flancos. Percorridos os 4 ou 5 kms que distam de Ponta Varela, foi esta povoação observada minuciosamente bem como os pontos de defesa e apreciado o panorama do Canal do Geba e dos planos que o ladeiam. […]

Como fosse perto do meio-dia, comeram-se algumas frutas e iniciado o caminho do regresso, a umas centenas de metros da tabanca rebentou repentinamente uma mina antipessoal que tudo leva a crer fosse armadilhada depois da primeira passagem pelo local ou então comandada á distância.

A mina ao rebentar esfacelou o 1.º cabo João Maria [dos Santos] Corbacho, o soldado Domingos João de Oliveira Cardoso e o soldado indígena Braine [Braima Turé], que morreram instantaneamente e feriu gravemente na garganta e tórax o capitão Meirelles, que veio a falecer uns vinte minutos após a explosão. Ficaram feridos os majores Abeilard Martins (este com bastante gravidade) e Afonso e mais 4 soldados.

Com um sangue-frio impressionante, os operadores da TV Afonso Silva e Luís Miranda, que ficaram ilesos, começaram a filmar a cena, poucos momentos após a explosão, havendo assim, além das testemunhas sobreviventes, um documentário fotográfico da operação e das consequências do rebentamento". […] Op.cit. pp10-11.

Continua…




Fontes consultadas:

Ø Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro I; 1.ª edição, Lisboa (2014); p195.

Ø Capitão Francisco Xavier Pinheiro Torres Meirelles (s/d). Editora Pax, Braga.

Ø http://ultramar.terreweb.biz/index_MortosGuerraUltramar.htm (com a devida vénia)

Ø Outras: as referidas em cada caso.

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

14MAR2019.

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Nota do editor:

domingo, 17 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19596: Blogpoesia (612): "Rebelião da juventude", "Lisboa eterna" e "Separações...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Rebelião da juventude

Quem decifra o porquê da rebelião? 
A juventude hodierna veste fora da moda tradicional.
Vestes largas. Sem aprumo.
Cabeleiras fartas.
Com carrapito atrás ou no alto da cabeça.
Barbas abandonadas à sua sorte de crescer.
Martirizam a sua pele com tatuagens pardas.
Com matizes negros.

Não se misturam às mesas dos habituais.
Mas se apoiam no balcão, mastigando bolos e gulodices.

Fazem guetos. Onde só há lugar para eles.

Que quer dizer toda esta irreverência contra os pais,
Se, no real, não passam de uns dependentes?
Quem falhou? Nós ou eles?...

Bar Castelão, 12 de Março de 2019
9h41m
Jlmg

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Lisboa eterna

Com raízes milenares,
Desabrochou à beira-rio e beira-mar.
Fez-se jovem. Mulher de vida.
Atirou-se à luta com certeza de vencer.
Germinou. Deu muitos frutos.
Hoje é rica. Tem um reino.
Será rainha até morrer.

Encanta e prende quem a visita.
Como fada ou feiticeira.
Tem na alma um canto, dolente e terno.
Só a guitarra entende.

Ai de quem nela nasce,
Longe ou perto,
Fica preso até morrer.

Bar Caracol, arredores de Mafra, 13 de Março de 2019
8h30m
Dia frio de sol
Jlmg

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Separações...

Cortar laços, ligações.
Desunir o que estava preso.
Soltar maus enlaces.
Por erro ou infortúnio.

Repor no lugar o que ficou fora.
Trazer para si aquele espaço que um dia se perdeu de nós.
É um acto positivo.

Há que dá-lo. Sem ficar em dívida com ninguém.
É preciso élan.
Obtido em nós ou por ajuda.

Só assim se volta a ter a paz que, um dia, ficou perdida.

Berlim, 16 de Março de 2019
19h55m
Dia chuvoso
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 10 de Março de 2019 > Guiné 61/74 - P19569: Blogpoesia (611): "As maldições...", "Os cantos do mundo" e "E agora?...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P19595: Parabéns a você (1589): José Armando F. Almeida, ex-Fur Mil TRMS do BART 2917 (Guiné, 1970/72)

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Nota do editor

Último poste da série de 16 de Fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19590: Parabéns a você (1588): Joviano Teixeira, ex-Soldado At Inf da CCAÇ 4142 (Guiné, 1972/74)