quinta-feira, 9 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20836: (De)Caras (151): O soldado José Vieira Lauro, que se rendeu ao IN, em 10/10/1965, em Gamol, Fulacunda, mostrou que afinal havia uma saída, menos gloriosa, era verdade, mas mais esperançosa; de resto, não há guerra que não tenha um fim... (Cherno Baldé, Bissau)

1. Comentário de Cherno Baldé,ao poste P20814 (*):

Esta triste acontecimento, do meu ponto de vista, mostra o efeito forte e que pode ser nefasto, do doutrinamento ideológico ou psicológico nos conflitos.

Muitos não concordarão, mas acho que o último soldado [, José Vieira Lauro], em desespero de causa e sem ter a coragem suicida dos colegas, mostrou que, afinal, havia uma saída, menos gloriosa é verdade, mas que permitia continuar a ter esperança, pois, como se costuma dizer, não há conflito/guerra que não termine em paz, assim como não há escravidão que não termine em liberdade.

Mas, isto sou eu a pensar e no ano não menos funesto de 2020.

Com um abraço amigo.
Cherno Baldé

2. Comentário do editor LG:
Capa da 2ª edição (2003),
"Rumo a Fulacunda"


Tinha lançado um desafio aos nossos leitores (*):

"Se fosse eu que estivesse no lugar do alf mil Vasco Cardoso, o militar mais graduado, o que é que eu faria ?"...

Recorde-se que, neste episódio (excerto do lirvo "Rumo a Fulacnda"), o seu autor, o nosso camarada Rui A. Ferreira reconstitui, com maestria e grande tensão narrativa, as trágicas circunstâncias em que o Alf Mil Vasco Cardoso, à frente de um pequeno grupo de homens, perseguidos durante três dias por um numeroso grupo IN, morreu, depois de ver morrer mais quatro homens ... O sexto elemento, o soldado José Vieira Lauro, rendeu-se e foi feito prisioneiro, levado para Conacri e mais tarde, já em 1968, libertado, sendo entregue à Cruz Vermelha do Senegal. Foi o único do grupo que restou, para nos contar esta, que é uma das mais trágicas histórias da guerra da Guiné.

Porventura sinal dos tempos que estamos a viver, cada um de nós confinado na sua "toca", ninguém dos nossos leitores ousou pôr-se na pele do alf mil Vasco Cardoso, que foi o último a morrer, em 10/10/1965, em Gamol, Fulacunda.

Comentário o Cherno, nosso amigo  e irmãozinho, que não foi combatente, mas conviveu, como "djubi" em Fajonquito com as NT... Respondi-lhe nestes termos (*)

(...) "Não posso estar mais de acordo contigo...Mas eu não queria antecipar-me a outros comentários, sobretudo daqueles que foram combatentes, como eu... Percebo o seu "pudor", e até mesmo o seu receio de "dar a cara", meio século depois, o seu receio de serem "julgados" pelos seus pares...

Que Deus, Alá e os bons irãs nos protejam nestes tempos difíceis para todos nós, portugueses, guineenses e restante humanidade." (...)


Antes tinha avançado com o seguinte comentário (*)

(...) "É claramente uma daquelas situações-limite, de vida ou de morte, em que o ser humano é obrigado a fazer escolhas radicais: resistir, lutar, matar, morrer... ou render-se. Mas só em abstracto, podemos, 52 anos depois, pormo-nos na pele de um camarada que sabia que ia morrer...

Este trágico episódio dava um extraordinário "thriller" de ação, se houvesse um realizador de cinema português que tivesse "unhas" para agarrar esta e outras memórias da guerra colonial...

É pena que não haja... Lidamos mal com a memória: só agora, 100 anos depois, se começa a fazer alguma, tímida, investigação historiográfica sobre a "pneumónica" que em 1918/19 terá morto 2% da população portuguesa (que era de 6 milhões)" (...)

Guiné 61/74 - P20835: Tabanca da Diáspora Lusófona (9): Um duplamente sentido abraço de Páscoa, em plena pandemia de COVID-19, mas já a pensar no nosso próximo encontro em outubro, em Ribamar, Lourinhã, e no Convento do Varatojo, Torres Vedras (João Crisóstomo, Nova Iorque, Queens)


Torres Vedras > Mosteiro de Santo António do Varatojo > Claustro > "O Mosteiro de Santo António do Varatojo foi fundado por D. Afonso V em 1470, como cumprimento de uma promessa que o monarca havia feito a Santo António, pedindo auxílio para as campanhas do Norte de África. O rei compraria a quinta que posteriormente constituiu a cerca do mosteiro, oferecendo-a à comunidade de franciscano deslocados do Convento de São Francisco de Alenquer para habitarem o novo cenóbio. Em 1474 as obras estavam quase terminadas, pelo que em Outubro desse ano os frades inauguraram o espaço. (...). Classificiado como MN. Monumento Nacional em 1910" (Fonte: Património Cultural ! DGPC)

Foto: Cortesia da RHLT - Rota Histórica das Linhas de Torres



1. Mensagem do nosso camarada e amigo João Crisóstom [, luso-americano, natural de Torres Vedras, conhecido ativista de causas que muito dizem aos portugueses (Foz Côa, Timor Leste, Aristides Sousa Mendes); Régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona; ex-alf mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67); vive desde 1975 em Nova Iorque, em Queens; é casado, desde 2013, com a nossa amiga eslovena, Vilma Kracun, foto ao lado]

Date: quarta, 8/04/2020 à(s) 20:56

Subject: Um duplamente sentido abraço de Páscoa

Caro Luís Graça, e (se tal possível,) saudosos amigos e camaradas da Guiné, da Tabanca Grande e demais Tabancas:

Sentado no sofá em frente à TV, amargurado , direi mesmo furioso pelo desenrolar das notícias que saem do ecrã, tristes na maioria, seguem-se umas às outras, cada qual delas a mais horripilante: o número de mortes nas últimas 24 horas; as cenas nos hospitais mostrando os corredores apinhados, médicos, enfermeiros/as que fazendo das tripas coração, com uma coragem e heroísmo e dedicação sem limites além de anjos de salvação , são ou representam também os entes queridos cuja presença é tão necessária em momentos assim mas que aí não podem estar; ambulâncias desenfreadas, hospitais "ad hoc" por todos os cantos...

Vejo o apresentador do programa na TV que tenta animar , encorajar e motivar os espectadores, e fá-lo com mais autoridade do que ninguém: de rosto emagrecido e de olhos cavernosos já,— ontem, para melhor explicar e fazer compreender aos espectadores o que é esta doença, não duvidou sequer em mostrar no seu programa os raios X dos seus próprios pulmões, mostrando os resultados e sinais da luta que ele mesmo desde há quase duas semanas vem travando com o coronavírus.

O seu rosto, como o seu nome, é bem conhecido: chama-se Chris Cuomo, irmão do actual governador do estado de Nova Iorque; enquanto o seu irmão Andrew Cuomo , seguindo o exemplo do pai Mario Cuomo, antigo governador, escolheu a política, Chris escolheu e segue o jornalismo como profissão.

Neste momento, de sua casa, agora completamente isolado, continua o programa de notícias e comentários que sigo há anos já. E, se já antes tinha boa impressão dele e de seu irmão, agora não tenho palavras para os descrever: especialmente porque cada um no seu campo com a sua coragem, honestidade e idoneidade contrastam e fazem realçar a veleidade, direi mesmo a malvadez de muitos, especialmente daqueles que nestes momentos difíceis não só não fazem o que deles se deve esperar, como pelo menos aparentemente, se aproveitam desta situação para proveito pessoal.

Não te vou descrever o que vai por aqui, pois sei que todos estão mais ou menos informados da situação. Apenas direi que no que me diz respeito, quer eu queira ou não, por mais "valente" que eu queira ser não posso negar a apreensão e medo que me invade noite e dia: por mim, por minha esposa, pelos meus filhos e netos, os meus filhos trabalhando em casa, os meus netos estudando em casa, cada um e todos apoiando-nos uns aos outros, mas todos também sempre apreensivos, que todos os cuidados nunca são demasiados.

Além da TV, alguns jornais e o nosso blogue ajudam-me a passar o tempo. Eu subscrevo o "Expresso" e, pelo menos "por alto", por ele sigo as coisas em Portugal. E digo "por alto" pois eles enviam amiúde , via E mail" o "Expresso Curto" :um resumo das notícias do dia. É um bom serviço e permite a quem quiser mais detalhes acesso aos artigos completos no momento. E digo no momento pois se não fôr na altura, e quisermos acesso noutra altura, a coisa já é mais complicada. Ao contrário do New York Times e outros jornais "on line" que assino e cujo acesso é muito fácil, o acesso ao Expresso tem que se lhe diga…não sei porquê, mas por vezes mesmo com muita vontade e paciência "não dá" para entrar. Pelo menos é o que sucede comigo.

Hoje dois assuntos me tocaram de maneira especial: primeiro a mensagem do nosso camarada Patrício Ribeiro: "viagem a Mansoa e Bafafá" , com várias fotos de estradas, agora pavimentadas, bolanhas e outros coisas que me fizeram suspirar… Quando tal sucede, logo me vem a ideia de que um dia talvez ainda lá dê um salto para "matar saudades" … Quem me dera poder ir até Missirá comer uma "galinha à cafreal", passar por Mato Cão e Enxalé, dar um salto a Porto Gole, ver de novo o Geba, apanhar e mandar assar uns peixes do rio que, fazendo de variação ao sempre presente feijão frade ou grão de bico com bacalhau seco, tão bem nos sabiam…

O outro foi um artigo no "Badaladas" , sobre Varatojo e a versão invulgar de "isolamento" dos frades franciscanos aí residentes. Fiquei tão entusiasmado que peguei no telefone e liguei para o Frei António Castro, autor do artigo. Ficou surpreso e contente por eu já ter lido o jornal a que eles só vão ter acesso amanhã…

Foi ocasião para uma troca de impressões e um abraço de Paz e Bem, que enviei também ao Padre Vítor Melícias e aos outros meus irmãos ( que eu também passei por lá!) que constam na foto que acompanha o artigo. E aproveitei para "alinhavar" uma ideia: caso em Outubro as coisas (viagens, etc) já estejam normais , eu vou aproveitar a ida a Portugal à "nossa" festa programada para 12 de Outubro, para juntar outra vez os Crisóstomos e Crispins no Convento de Varatojo... para uma missa de sufrágio e saudade, seguida de um caldo de galinha ( e mais alguma coisa com certeza) no claustro do Convento….

Logo a seguir liguei para o Director do "Badaladas", (onde saiu o artigo), que também ficou surpreso com uma chamada da Nova Iorque, e ainda por cima de Queens… Logo lhe dei recado/notícia deste encontro no Varatojo e disse-lhe que apontasse o dia na agenda… espero-o ver lá, da mesma maneira que te espero a ti, à Alice e a quem mais dos nossos amigos comuns e camaradas da Guiné, me quiserem dar esse prazer.

E "isto de falar" é como as cerejas… tencionava falar de outras coisas, bem diferentes, mas para não te chatear demais vou deixar para mais logo ou para outra altura…

E se de alguma maneira contactares com os nossos amigos comuns, relacionados ou não com a Guiné: mesmo nestes momentos difíceis que estamos a passar, não esqueço que estamos na Semana Santa: junto-me a todos os que nesta altura com razões agora duplamente sentidas se unem numa prece ardente ao Senhor de sufrágio, especialmente pelas recentes vítimas desta epidemia; e de súplica para dias melhores não só para para todos nós, como para todos os que mundo fora neste momento tanto necessitam da Sua benção de Pai misericordioso.

O braço da Vilma, mesmo sem fisioterapia vai muito bem e até parece estar quase sarado!

Grande abraço,

João e Vilma
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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20783: Tabanca da Diáspora Lusófona (8): Em quarentena em Nova Iorque, combatendo o coronavirus com "Coronita" mexicana e sardinhas de Peniche... enquanto a Vilma tomou a decisão (corajosa) de aprender português e eu a missão (heroica) de aprender esloveno... (João Crisóstomo)

Guiné 61/74 - P20834: Parabéns a você (1784): Jorge Canhão, ex-Fur Mil Inf do BCAÇ 4612/72 (Guiné, 1972/74); Mário Vitorino Gaspar, ex-Fur Mil Art MA da CART 1659 (Guiné, 1967/68) e Cor PilAv Ref Miguel Pessoa, ex-Tenente PilAv da BA 12 (Guiné, 1972/74)



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Nota do editor

Último poste da série de 8 de Abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20828: Parabéns a você (1783): José Augusto Miranda Ribeiro, ex-Fur Mil Art da CART 566 (Guiné, 1963/65)

quarta-feira, 8 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20833: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (6): Da Tabanca da Lapónia com amor (e humor): (i) bolo de papel higiénico: (ii) sopa de grão; e (iii) poncha aquecida... Só faltam as... "côbinhas" quentes lá das nossas berças! (José Belo)


Sopa de grão com "poncha" sueca aquecida... antiviral


O popular ponche sueco, "Carlshamns Flaggpunsch"... antiviral. Parece que agora, desde 2019, é produzida na... Finlândia!


O humor sueco traduzido em pastelaria... 


Bolo de papel higiénico... Uma das contribuições (originais...) da Suécia para a luta contra...a COVID-19

Cortesia de Joseph Belo (2020)... Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné

1. Duas mensagens recentes. 28 de março e de 3 de abril, do José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia, enviando-nos coisinhas suecas para aquecer  o estômago em tempo de solidão e, se calhar,  de fomeca, para alguns;

[José Belo ex-alf mil inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70, e manteve-se no ativo, no exército português, durante uma década; está reformado como capitão inf do exército português: jurista, vive entre Estocolmo, Suécia, na região de Abisco, Kiruna, Lapónia, no círculo polar ártico, e Key-West, Florida, EU; em boa verdade, as renas nunca sabem, ao certo, onde está o régulo da Tabanca da Lapónia]


1. Não sei se por aí terá sido assim, mas na Escandinávia as populações,  preocupadas com o vírus e possíveis faltas de géneros de primeira necessidade, procuraram comprar dezenas de rolos de papel higiénico por pessoa.

Foram alguns dias estranhos em que nada faltava nos supermercados exceptuando o... papel higiénico.

Passados curtos dias tudo voltou à normalidade.

Este curioso pânico foi aproveitado pelos pasteleiros suecos da cidade de Eskilstuna para criarem um bolo apropriadamente em forma de rolo de papel higiénico.

Além do oportunismo da ideia,  o bolo é bom no seu recheio de chocolate e natas e.....tem-se vendido (como o papel higiénico) até se esgotar diariamente.

PS - Junto também duas fotos de uma "suôpa de grão" com punch aquecido... só faltam as nossas..."côbinhas" quentes!


2. Por aqui o vírus está concentrado nas cidades, mas também existe um pouco por toda a parte.

No início de março, há por aqui uma semana de férias escolares para permitir às famílias se deslocarem para as montanhas para praticar esqui. Estes deslocamentos familiares acabaram por espalhar ainda mais o vírus.

Mas na Lapónia apesar de ainda nevar bastante e as temperaturas continuarem nos negativos, o vírus também existe nas cidades costeiras do Báltico e no centro turístico de Abisko.

Felizmente que a minha casa está do outro lado do imenso lago que vai desde Kíruna até à Noruega.
Estou mais perto de Karesuando do que Abisko.

Um abraço.
J. Belo

Guiné 61/74 - P20832: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (5): Um "bacalhau à Brás", de sete estrelas, na Tabanca dos Emiratos... com o régulo, Jorge Araújo, e a sua "bajuda"





Emiratos Árabes Unidos > Abu Dhabi > Abril  de 2020 > O Jorge Araújo e a sua "bajuda", no seu condomínio de luxo...

Fotos (e legenda): © Jorge Araújo (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974), régulo da Tabanca dos Emiratos e nosso coeditor:

Caro Luís,

Bom dia, e obrigado pelas tuas notícias. (...)

Por cá, a vida continua, agora condicionada pela problemática da pandemia da COVID-19, que nos impõe regras ajustadas, para as quais não há contraditório, se quisemos prolongar por mais uns aninhos esta nossa passagem terrena. Daí que, sem stress, eu e a minha Maria, temos gerido bem as nossas actividades. Ela na vida académica, desempenhada a partir de casa (a Universidade foi/está encerrada, bem como todas as outras), via Net.

Se este método foi a solução encontrada para controlar e impedir o contágio do "corona", em substituição do que até então era considerado "normal" ou "normativo", por outro lado, ele é mais exigente, na medida em que "nas aulas à distância", respeitando o mesmo horário escolar, a interacção é menor, sendo necessário reorganizar todos os recursos pedagógicos, adaptando-os a esta nova realidade, bem diferente num processo de ensino/aprendizagem presencial.

Eu, por outro lado, assumi o controlo do território da "casa das máquinas" (fogão, frigorífico, louça, torradeira, micro-ondas, etc). Fazendo apelo à minha motricidade fina e usando também alguma criatividade, lá vou transformando os alimentos em algo agradável à vista e que satisfaça o estômago, e que nos dê alento para prosseguir neste tempo de muitos impedimentos e outras tantas dificuldades.

A "coisa" está a correr bem... e os elogios estão em crescendo... A unidade entre teoria/prática nunca foi tão importante e necessária como agora.

Quando podemos, quer seja no intervalo das aulas ou no final do dia, descemos até à rua para descontrair e apanhar algum ar "quente", pois as temperaturas diárias ultrapassam, agora, os 30.º.

Estas temperaturas, e o clima, fazem-me recordar as que vivi/vivemos na Guiné. Por isso a adaptação tem sido mais fácil, ainda que a idade não seja a mesma. Quando se torna necessário repor o "stock" dos bens de consumo, vamos ao supermercado existente no espaço do condomínio. 

Fiquem bem. Continua a tua "ginástica" diária, pois só te faz bem. E aproveita esta oportunidade, pois os "Jogos Olímpicos" foram adiados para 2021.

Até breve.

Um abração, com distanciamento superior ao recomendado (8.000 kms).
Jorge Araújo.

2. Mensagem de hoje, às 11h51, também do Jorge Araújo

Bom dia (aqui já é boa tarde).

Quando no preparávamos para almoçar, lembrei-me do meu texto de ontem...

Aproveitei... e tirei uma foto, que anexo. Não preparei a mesa para ficar tudo direitinho na foto... Fui tudo espontâneo... ao natural.

Fiz um "bacalhau à Brás", que estava sete estrelas (5+2), Bom almoço para ti... está quase na tua hora!

Um abraço. Jorge Araújo.
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Nota do editor: 

Guiné 61/74 - P20831: Boas Memórias da Minha Paz (José Ferreira da Silva) (5): Op. Sarrabulho (com o covidis por perto) - II Parte

1. Em mensagem do dia 1 de Abril de 2020, o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), enviou-nos mais uma Boa memória da sua paz, desta feita a Op. Sarrabulho. 
Esta a segunda parte.


BOAS MEMÓRIAS DA MINHA PAZ

4 - Op. Sarrabulho (com o covidis por perto) - II Parte







Passámos pelo largo Camões, subimos à Capela de N.ª S.ª das Misericórdias das Pereiras, vimos a Igreja Matriz e parámos junto da Câmara Municipal. Dali, olhámos o Instituto do Vinho e o Centro de Interpretação Militar.
Entretanto, alguns Bandalhos ficaram para trás, entretidos, na Tasca das Fodinhas, a escolher o prato mais adequado ao seu gosto ou às suas “capacidades”.


Ainda fomos às traseiras da torre prisão, onde vimos a Maria da Fonte substituir, no pelourinho, o cruzeiro destinado a amarrar os condenados.

E foi ali que nos despedimos do Dr. Nuno Abreu que não nos pôde acompanhar no almoço. Manifestamos-lhe o nosso agradecimento pessoal e à autarquia Limiana.

Não houve tempo nem oportunidade para visitar o Clube Náutico de Ponte de Lima. Actualmente é o melhor clube nacional de Canoagem.
Hoje é muito acarinhado pela Câmara Municipal de quem tem recebido apoios exemplares. Está instalado na margem direita do Rio Lima, em óptimas instalações, construidas exclusivamente para este clube.
No meu tempo de Presidente da Federação de Canoagem, dediquei uma atenção especial à criação deste clube. Recordo o esforço e dedicação de um jovem ainda menor, Hélio Lucas, que assumiu toda a responsabilidade.

O Clube Náutico de Ponte de Lima foi fundado no dia 21 de Agosto de 1991, tendo por base a extinta secção de canoagem da Escola Desportiva Limiana, a primeira entidade a promover a canoagem no concelho de Ponte de Lima nas suas precárias instalações situadas na antiga Escola Preparatória.

Ao longo dos seus vinte e nove anos de história, o Náutico formou campeões que elevaram o nome do Portugal aos quatro cantos do mundo, com a conquista de títulos mundiais, europeus e medalhas olímpicas.


O atleta Fernando Pimenta é, de longe, o melhor canoísta português e um dos melhores do Mundo.

Seguimos, então, para o Restaurante “O Sonho do Capitão”.


Após saborosas entradas, deliciamo-nos com o famoso Sarrabulho com Rojões à Moda do Minho.







Tudo correu bem; bom ambiente, boa comida e boa pinga. Tudo do melhor e tudo à vontade do freguês.
Por acaso, julgo que ainda poderia ter corrido melhor. A alegria não era tão exuberante como nos convívios anteriores. De vez em quando tocava um telelé. Ninguém dizia nada, talvez para não ensombrar o ambiente. No entanto, a avaliar pelos contactos que também recebi, estavam todos os nossos familiares carinhosamente apreensivos com a nossa “ousadia”.

Já vínhamos na A3 e recebemos a mensagem do Isolino, querendo levar-nos para S. Tomé. Um tanto no escuro, anuímos ao convite e seguimos as suas picadas. E, quando julgávamos estar perdidos no mato, fomos forçados a parar. E aí, dentro de um campo arável, havia vários carros. Estacionei entre um tractor e um Tesla moderno e o Isolino “encaixou” ao lado de um Maserati.

Como só via a Capela do S. Tomé, pensei que deveria haver algum evento religioso, aonde iríamos encostados ao Sr. Eng.º Gomes, o “Rei do Granito”.
Entrámos por uma porta larga que, de repente, nos mostrou que ali a religião era outra. Era uma senhora tasca em ambiente rural. Efectivamente, verificámos que as mesas e bancos de madeira estavam dispersos, com os seus clientes a devorar os mais variados petiscos. Olhando ao que havíamos comido e bebido no prolongado almoço, limitámo-nos a provar um Espadal especial, religiosamente acompanhado de algumas iguarias, de onde destacamos a qualidade do presunto. Tudo estava bom e funcionou como mais um pretexto para prolongar a nossa habitual camaradagem.
Saí dali feliz por termos conseguido mais um dia de excepção. Todavia, à medida que me aproximava de casa, sentia um peso crescente, que se havia de prolongar por mais 14 dias.




Nota final:
Esta reportagem só se realizou após último telefonema do José António Sousa que, para me descansar, me ia informando diariamente do seu estado de saúde. E quando foi ultrapassado o 14.º dia da sua ida aos fados, fiquei tão contente que lhe prometi um almoço económico, numa tasca a designar.

José Ferreira (Silva da Cart 1689)
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de Abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20826: Boas Memórias da Minha Paz (José Ferreira da Silva) (4): Op. Sarrabulho (com o covidis por perto) - I Parte

Guiné 61/74 - P20830: Historiografia da presença portuguesa em África (204): Monografia-Catálogo da Exposição da Colónia da Guiné - Semana das Colónias de 1939 (1) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Abril de 2019:

Queridos amigos,
Quem estiver interessado em adquirir esta raridade, vai ao 4.º andar da Sociedade de Geografia de Lisboa e por 10 euros entregam-lhe a monografia aqui referida. Está bem marcada pelo espírito da época: as curiosidades raciais, a natureza da religião, o que se produz e o que se podia produzir.
Trata-se de uma exposição, nunca se perca de vista que há comentários que remetem para escaparates de objetos expostos, dá-se a lista dos governadores da colónia da Guiné desde o século XVI ao século XX, a bibliografia apresentada tem as suas curiosidades, não se limita nem à História nem às missões, há aspetos particulares orientados para a agricultura, o comércio e a assistência e expunham-se cartas geográficas e plantas hidrográficas, também cartas corográficas e hidrográficas. Não encontrei fotografias desta semana das colónias, talvez seja uma questão de investigar os boletins da Sociedade de Geografia de Lisboa, não vou esquecer.

Um abraço do
Mário


Uma preciosidade: a Guiné na Semana das Colónias de 1939 (1)

Mário Beja Santos

A sorte favorece os audazes, diz-se e consta, e há casos em que é verdade. Andava eu a catar referências sobre a Guiné no início da II Guerra Mundial, insere-se num computador a data de 1939, refere-se a Guiné, e surge esta monografia-catálogo. Requisita-se imediatamente. Não traz grandes novidades mas comporta agradáveis surpresas. Logo a citação camoniana completamente esquecida, injustiça quase imperdoável para com o nosso bardo topo de gama, injustiça para a “mui grande Mandinga”, recorde-se que Luís Vaz de Camões tinha uma profunda formação humanística e devia saber da existência do Império Mandinga, bem como dos Jalofos e da Gâmbia. Depois, uma monografia-catálogo dispara em várias direções: atrai o visitante que visita a exposição da colónia da Guiné para alimentos, utensílios, produtos medicinais, formas de habitação, manifestações artísticas e religiosas, entre outros elementos.


Guardo uma frase que tem halo poético, a Guiné encontrar-se no extremo ocidental do Sudão. Depois fala-se da superfície, dos rios, da constituição geológica, do clima, da flora, da fauna, avança-se para um conjunto de considerações sobre a Pré-História (são elementos em grande parte cientificamente ultrapassados por outras evidências), é referido o reino do Gana, o Benim, o Império Mali (Camões seguramente que ouviu referências a este Império), a etimologia da palavra Guiné (continua a ser discutível), seguem alguns elementos sobre a história da presença portuguesa e temos depois dados populacionais e étnicos, posicionamento destes povos dentro da colónia.


Recorde-se ao leitor que estamos numa época (1939) de acesas discussões raciais, os antropólogos e etnólogos resolveram imiscuir-se e dar palpites sobre as características morfológicas e biológicas, vale a pena uma citação sobre o linguajar próprio deste tempo:

“Dos Fulas da Guiné Portuguesa, os Fula-Forros revelam o sangue berbere; são de elevada estatura, magros, pele acobreada, cabelo lanuginoso, nariz fino e saliente, lábios pouco espessos e olhos amigdoliformes; os Fula-Pretos evidenciam maior percentagem de sangue negro, e por isso são mais pigmentados e de feições mais negroides, razão por que os restantes Fulas os consideram descentes dos seus antigos escravos, desprezando-os sistematicamente.
Os Futa-Fulas são camitas menos mestiçados, com menor dose de sangue negro, circunstância que os leva a suporem-se racialmente superiores aos Fulas-Forros.
Em geral, os Mandingas são de estatura elevada, dolicocefalia elevada, pele muito pigmentada, cabelo lanuginoso ou frisado; a grande maioria deles revela mestiçamento com etíopes ou berberes.
Os Felupes e os Baiotes são altos, fortes, dolicocéfalos, prognatas, platirríneos.
Extremamente pigmentados, os Papéis têm cabelo encarapinhado e pequeno desenvolvimento da pilosidade, dolicocéfalos, prognatas, platirríneos, revelam lábios espessos, pómulos salientes e estatura elevada.
Antropologicamente, os Manjacos assemelham-se aos Papéis. Os Banhuns têm pequeno desenvolvimento corporal e a sua pigmentação é menos intensa, ao invés dos Balantas que são muito pigmentados, possuem elevada estatura, dolicocefalia platirrinia, prognatismo e grande espessura labial. Somática e etnicamente os Beafadas parecem-se com os Fulas.
Os Bijagós têm elevada estatura, dolicocefalia platirrinia, prognatismo, lábios grossos e pele negra. Da morfobiologia dos pequenos agrupamentos da nossa colónia, nada se conhece ainda”.

Quem escreve a monografia avança com pequenas curiosidades, como se bisbilhotasse os carateres étnicos, fizesse um perfil de personalidades: os Balantas apresentados como alcoólicos e ladrões de vacas; os Fulas submetem-se sem problemas à autoridade portuguesa ou francesa:  
“Orgulhoso da sua genealogia, intrujão em questões político-familiares, intriguista e galopineiro político, o Fula é inatamente querelador; destituído do conceito de Pátria, motivos políticos ou questões de herança levam facilmente o Fula a emigrar da nossa colónia para território francês ou reciprocamente; os Felupes não se cruzam com outras etnias, ao contrário dos seus parentes Baiotes, embriagam-se amiúde com vinho de palma; os Papéis são aguerridos, enérgicos e decididos e têm repugnância pelos trabalhos agrícolas; os Manjacos têm grande tendência para as tarefas marítimas; os Beafadas são pouco trabalhadores, grandes amigos do descanso, fazem grandes libações de vinho de palma e aguardente; os Bijagós, conquanto considerados como os povos mais cultos da Guiné Portuguesa, são artistas. Os Grumetes dedicam-se às artes e ofícios e conquanto se vistam à europeia não se subtraíram ainda totalmente à influência ancestral e do meio ambiente, andam em completo estado de nudez, vivendo em regime poliândrico, o homem facilmente é desprezado pela mulher, são preguiçosos".

Seguem-se considerações sobre a língua. Veja-se o que escreve o autor:
“Na formação do crioulo entram fundamentalmente o português de quinhentos e os dialetos guineenses; acessoriamente, o crioulo contém vocábulos latinos, brasileiros, franceses e ingleses. O crioulo é um idioma dissonante, repleto de exclamações guturais e as suas palavras são, regra geral, dissilábicas. Dada a sua pobreza, o crioulo não pode traduzir, senão imperfeitamente, as ideias abstratas.
Todavia, há naturais de Cabo Verde que se exprimem elegantemente em crioulo e até alguns deles têm neste dialeto composições em prosa e em verso dignas de merecimento.
Os dialetos indígenas mais importantes são o fulbe, o mandê, idioma dos Jalofos, e dialeto dos Felupes, o idioma dos Nalus. O fulbe, sobre cuja origem os filólogos ainda não concordaram, tem grande riqueza de vocabulário e com 17 classes; mercê da sua doçura e musicalidade tem sido apelidado de italiano na África. Este idioma é falado pelos Fulas e por outros povos da África Ocidental.
O mandê é um dialeto falado por grande número de povos do Ocidente Africano (Mandingas, Sossos) competindo neste particular com o fulbe. Existem livros, como o Alcorão, escritos em Mandinga.
O idioma dos Jalofos difere muito do mandê. Há livros de orações em Jalope e francês. O dialeto dos Felupes é falado por estes e por outros djolas franceses.
As línguas veiculares da nossa colónia da Guiné além do português são o crioulo cabo-verdiano, o fulbe e o mandê".

Feita a exposição dita biogeográfica, o documento orienta-se agora para a alimentação, habitação, indumentária, artes e organização social e política.


(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 1 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20798: Historiografia da presença portuguesa em África (203): “Ensaios sobre as Possessões Portuguesas na África Ocidental e Oriental; na Ásia Ocidental; na China e na Oceânia”, importante trabalho de Lopes de Lima sobre a Guiné, 1844 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20829: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (11): Viagem a Mansoa e a Bafatá, onde estamos a levar a água potável aos hospitais... Este ano, muita gente vai morrer, não da COVID-19, mas de fome: o caju ninguém o vem cá comprar...


Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2020 > Fruta da época... Mango ou manga, fruto da mangueira (Mangifera indica)


Guiné-Bissau > Região do Oio  > Mansoa > Abril de 2020 > Ponte sobre o rio Mansoa


Guiné-Bissau > Região do Oio  > Mansoa > Abril de 2020 > Ponte Nova,  na estrada para Mansabá (a nordeste)


Guiné-Bissau > Região do Oio  > Mansoa > Abril de 2020 > Restos da ponte antiga


Guiné-Bissau > Região de Bafatá   > Bafatá > Abril de 2020 > Bolanha de arroz de rega


Guiné-Bissau > Região de Bafatá   > Bafatá > Abril de 2020 > Rio Geba ao fundo, estrada Bambadinca-Bafatá


Guiné-Bissau > Região de Bafatá   > Bafatá > Abril de 2020 > Rio Geba, ponte nova


Guiné-Bissau > Região de Bafatá   > Bafatá > Abril de 2020 >  Hospital


Guiné-Bissau > Região de Bafatá   > Bafatá > Abril de 2020 > Cidade

Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro (2020) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso amaigo e camarada Patrício Ribeiro, um português, natural de Águeda, criado e casado em Angola, Huambo, ex-fuzileiro em Angola durante a guerra colonial, a viver na Guiné-Bissau desde meados dos anos 80 do séc. passado, fundador, sócio-gerente e director técnico da firma Impar, Lda.]

Date: domingo, 5/04/2020 à(s) 12:43
Subject: Viagem ao interior da Guiné

Bom dia, Luís

Já chegamos ontem há noite a Bissau.

Tenho alguma fotos para enviar, desta viagem de 3 dias, mas ainda está no WTS, quando tiver tempo passo para o email, para te enviar.

Informo que ainda há cerveja em Bafatá e com os 45º do telemóvel, temos que beber muiiiii...tasssss.

Lá em Bafatá, deixamos mais uns milhares de pessoas, com água potável, na zona do quartel e Ponte Nova. Assim como no "velho" hospital, que todos conheceram. Naquela noite nasceram 9 bebés, com água corrente nas torneiras.

O Hospital de Gabú também já tem água. O Hospital de Mansoa, estamos a tratar assim como em outros hospitais.

Por cá, começa a haver algumas restrições na circulação, que pouca gente cumpre... Eles vão apertando, mas se apertarem mais... a população das cidades morre primeiro de fome ... já que agora a malária é pouca.

No campo, é a época das frutas: caju, mango, galinhas, cabra, etc. Está tudo é muito seco. Como a maioria da população, vive da colheita do caju, como este ano ninguém a vem comprar,
vai haver muita fome na Guiné.

Abraço,
Patricio Ribeiro

IMPAR Lda
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