segunda-feira, 20 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21186: Manuscrito(s) (Luís Graça) (188): a "alvéola-branca" (Motacilla alba ), a laboriosa "boeira" ou "labandeira" que faz o ninho debaixo da minha janela, na Tabanca de Candoz...Se o novo coronovírus covid-19 fosse um insecto, já o tinha papado, a minha pequena glutona "lavandisca"
















Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Candoz  > Quinta de Candoz > 8 de julho de 2020 > Alvéola-branca (Motacilla alba ). > Fez o ninho debaixo da minha janela, aproveitando uma fissura entre o resguardo de chapa de zinxo que circunda a parede e o telhado do piso de baixo (a casa tem três pisos em pirâmide, assente numa estrutura rochosa). Vemo-la aqui a aproximar-se do ninho, sempre irrequieta mas cautelosa...Tanto quanto me foi dado ver, com binóculos, ainda havia, nesta altura do ano, juvenis no ninho... Sempre esfomeados!... Aqui chama-se "boeira" (anda atrás dos bois ou até mesmo em cima deles, mas lavras); em Matosinhos, chama-se "lavandisca"!...

(A Motacillia alba, em inglês, White Wagtail também ocorre na Guiné-Bissau, mas é "rara ou ocasional", segundo a Avibase - The World Birde Database.)...

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Não sou ornitólogo nem tenho equipamento fotográfico para o registo de aves...Fiz estas fotos com a minha vulgar Nikon D5300, em alta resolução e depois editadas... Não tenho uma zoom para fotografia de aves... Bem sequer tripé.

Com paciência (muita) e sorte (alguma),  parte destas fotos foram tiradas da janela do quarto, entreaberta. Como estive quase 3 semanas na Tabanca de Candoz, durante a pandemia de covid 19, e limitado em termos de locomação por causa do meu joelho direito, entretive-me, umas largas horas,  com a máquina numa mão e a canadina noutra, a seguir a vida desta alvéola branca comum...É uma máquina de caçar insetos, em campo aberto, tal como a andorinha...

A alvéola-branca tem vários nomes populares, conforme as regiões: labandeira, lavadeira, lavandisca, lavandeira, alveliço, alvéola, alvéloa, arvela, arvéloa, arvéola, avoeira, boieira, blandisca, beirinha,  pastorinha, etc, 

Aqui, em terras do Douro Litoral,  é conhecida por  "boeira" (,seguia os bois quando os bois puxavam o arado, entretanto substituídos pelo trator...). De qualquer modo, a ave adapta-se bem às mudanças ambientais: desaparecidos os bois de trabalho, segue o trator,,, porque sabe que a máquina, ao remexer a terra, afugenta os insetos...que são a base da sua alimentação.

As alvéolas são aves de pequeno porte, com um comprimento que ronda os 19,5 centímetros. de constituição delgada. O bico é alongado e fino, típicos dos insectívoros.  Ver aqui mais informação na Wikipedia:

(i) o bico é alongado e fino, próprio para uma alimentação à base de insectos;

(ii) a cauda longa é agitada de um lado para o outro quando a alvéola está em repouso;

(iii)  as patas são relativamente longas,  terminando em dedos com garras compridas;

(iv) a  plumagem é geralmente branca, negra e/ou cinzenta;

(v) aa  época de acasalamento  ocorre no fim do Inverno;

(vi) a fêmea constrói um ninho em qualquer concavidade, seja um buraco de um muro, as raízes de uma árvore, a cavidade de um tronco de árvore, um local abrigado de um telhado;

(vii) a postura ronda geralmente cinco a seis ovos que são incubados pela fêmea por cerca de duas semanas;

(viii)  os juvenis saem do ninho duas ou três semanas depois, geralmente já durante a Primavera.

Não as mencionei, expressamente, às alvéolas ou "boeiras" no meu poema "Não sei se as 'aves do paraíso' são felizes" (*). Hei de incluí-las numa próxima revisão... As andorinhas,. essas, mantêm-se fiéis a Candoz, o que é bom sinal... E o seu GPS não falha: todos os anos voltam ao ninho, o único que conheço em redor... E esta fidelidade é também um certificado de qualidade ambiental da Quinta de Candoz...





Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Candoz > Quinta de Candoz > 4 de julho de 2020 > Ninho de andorinha... algo insólito, construído não no beiral mas à volta da lâmpada do hall no alpendre de um das nossas casas (não habitada, antiga casa de caseiro)... Terá já cerca de 15 anos, tendo sido reconstruído duas ou três vezes, no máxino... O ninho é religiosamente respeitado por todos nós, o seu único inimigo só podem ser as intempéries, embora o sítio seja abrigado... e sossegado, uma vez que estas instalações não sejam utilizadas por ninguém... até um dia em que os tabanqueiros decidam fazer um "alojamento local" para o Zé Turista... (**)

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

2. Leio,  no portal Aves de Portugal.Info, sobre a alvéola-branca, uma das 3 espécies que ocorrem regularmente em Portugal continental (, incluindo a alvéola-cinzenta e a alvéola-amarela):

(...) A alvéola-branca é uma das espécies mais conhecidas da generalidade das pessoas, com o seu típico baloiçar da cauda e a combinação preto-e-branco da coloração. (...)

(...) É bastante fácil de identificar, com o seu típico padrão escuro na cabeça, garganta e dorso, que contrasta com o branco no peito e abdómen, assim como nas faces. A cauda comprida e patas compridas são extremamente visíveis, pois esta ave passa bastante tempo no solo, baloiçando bastante a cauda, no que é um comportamento bastante característico desta espécie.

A subespécie britânica 'Motacilla alba yarrellii', que ocorre com regularidade no nosso território, distingue-se por possuir a mancha negra na garganta a estender-se até ao peito, e por ter o dorso
negro, ao contrário da subespécie nominal que o possui cinzento-escuro (...).

(...) Trata-se de uma espécie mais comum na metade norte do território, onde está presente durante todo o ano. Durante apassagem outonal e no Inverno, a população reforça-se com a chegada de aves de passagem e invernantes. Entre os meses de Outubro e Março, a alvéola-branca é uma espécie comum na metade sul do território, ocorrendo também a subespécie britânica como invernante (...).

(...) As zonas ribeirinhas, cursos de água e terrenos lavrados, parques e jardins, são os habitats de eleição da alvéola-branca. Também nas pequenas localidades é facilmente avistada, sobretudo em regiões onde existe uma forte presença de gado e pequenos cursos de água que as atravessam. (...)

Há um vídeo didático, no portal Aves de Portigal.Info, com 12' 25'' de duração, que nos ensina a identificar as diferentes espécies de alvéolas... (***)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 8 de agosto de  2014 > Guiné 63/74 - P13475: Manuscrito(s) (Luís Graça) (39): A felicidade ? É onde nós a pomos e onde nós estamos...

Vd. também  poste de 15 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14261: Fotos à procura de... uma legenda (52): a boeira, de Candoz, também conhecida por alvéola ou lavandisca, noutros sítios (Luís Graça)

(**) Vd.poste de 26 de agosto de  2012 > Guiné 63/74 - P10300: Os nossos passatempos de verão (9): A andorinha da Tabanca de Candoz, que é leal, gregária, solidária, corajosa, persistente, vai à luta, não desiste... (Luís Graça)

Vd. também  poste de 29 de agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8712: Fotos à procura de... uma legenda (10): Mais outra foto-mistério, do álbum de Luís Graça

(***) Último poste da série > 6 de julho de 2020 > Guiné 617/74 - P21143: Manuscrito(s) (Luís Graça) (187): Tabanca de Candoz, entre o pôr do sol e o nascer da lua cheia...

domingo, 19 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21185: Efemérides (330): Faz hoje 50 anos que regressou, do CTIG, o BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) (Fernando Calado)


O documento de passagem à disponibildiade. Cortesia de Fernando Calado




Fernando Calado (2013). Foto de LG
1. Mensagem de Fernando Calado, ex-al mil trms, CCS/BBCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70)



Data - 19 jul 2020, 15:15


Assunto . Regresso da guerra na Guiné


Caro amigo,

Faz hoje 50 anos que a CCS e outras companhias do BCaç 2852 atracaram na Rocha de Conde de Óbidos,  a bordo do "iate" Carvalho Araújo.

Um grande abraço

Fernando Calado

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Nota do editor:


Guiné 61/74 - P21184: Memórias cruzadas nas 'matas' da região do Óio-Morés em 1963: o caso da queda do T6 FAP 1694 em 14 de outubro de 1963 (Jorge Araújo) - II (e última) Parte


Foto 5 - Citação: (1963-1973), "Comandante Pedro Pires com dois combatentes do PAIGC", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43495, com a devida vénia.


 Foto 6 - Citação: (1963-1973), "Guerrilheiros do PAIGC atravessando um rio", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43140, com a devida vénia.
  



O nosso coeditor Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger,
CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/1974), professor do ensino superior; vive em, Almada, está atualmente nos Emiratos Árabes Unidos; tem cerca de 260 registos no nosso blogue.


MEMÓRIAS CRUZADAS
NAS 'MATAS' DA REGIÃO DO ÓIO-MORÉS EM 1963
- NUANCES DA MISSÃO DE LOURENÇO GOMES EM OUT'63 -
II (e última) PARTE



Mapa da região do Óio-Morés (satélite) com infografia da queda do «T-6 matrícula FAP 1694», pilotado pelo Cap Pilav João Cardoso de Carvalho Rebelo Valente, ocorrida em 14 de Outubro de 1963, 2.ª feira.

► Continuação do P21151 (08.07.20)


No primeiro fragmento deste trabalho – P21151 (*) – procedemos à análise dos temas inseridos no relatório elaborado pelo dirigente do PAIGC do Bureau de Dakar, Lourenço Gomes (1922-1999?), natural do Canchungo (Teixeira Pinto), referente à sua "missão" de contacto com três das bases da região do Óio-Morés (território da Zona Norte): Morés (base Central), Fajonquito e Maqué, realizada entre 08 e 18 de Outubro de 1963.

Com recurso a outras fontes de informação primária, relacionadas com os mesmos factos, foi possível identificar alguns conflitos factuais entre as «Memórias Cruzadas», nomeadamente o episódio do acidente (queda) do «T-6 FAP 1697», pilotado pelo Cap Pilav João Cardoso de Carvalho Rebelo Valente, ocorrida em 14Out1963, naquela região, e que serviu de pretexto para a escolha do subtítulo.

Agora, nesta segunda (e última) parte, com recurso à mesma metodologia, utilizamos um outro relatório, que estava apenso ao primeiro do Lourenço Gomes, elaborado por Pedro [Verona Rodrigues] Pires (1934-), natural de São Filipe, Ilha do Fogo, Cabo Verde, a partir das informações transmitidas pelo guia - "estafeta" Biagué Sagne, após a sua chegada a Dakar, depois de ter conduzido dois desertores da marinha portuguesa até Ziguinchor.

Para além de ser considerado como elemento de confiança dos dirigentes da estrutura de Dakar, Biagué Sagne ("estafeta de eleição") era quase sempre o escolhido para as "missões" de ligação entre os dois lados da fronteira Norte (Senegal/Guiné-Bissau), conforme consta na literatura. 

Conhecedor exímio da geografia do território e simultaneamente dos itinerários de risco controlado, face ao contexto das movimentações militares, Biagué era elogiado por ser um caminhante muito resistente, a fazer lembrar, na época, a "Locomotiva de Praga", apelido atribuído ao checo Emil Zátopek (1922-2000), o único atleta a vencer os 5.000 metros, 10.000 metros e maratona numa mesma Olimpíada (J.O. de 1952, em Helsínquia, na Finlândia), e que em 2012, durante as celebrações do centenário da «IAAF» (International Association of Athletics FederationsAssociação Internacional de Federações de Atletismo), realizadas na sua sede em Monte Carlo, no Principado do Mónaco, foi imortalizado no "Salão da Fama do Atletismo".

2.2 - RELATÓRIO (elaborado por Pedro Pires)

► Segundo informações colhidas a partir das declarações do Biagué.

Dakar, 21 de Outubro de 1963 (data em que assinou o documento dactilografado)

Bombardeamento do dia 14Out63 (2.ª feira) = 

 Houve 8 feridos entre os quais uma rapariga que ficou com uma perna fracturada. O Tiago [Aleluia] Lopes feriu-se na cabeça, mas está completamente restabelecido. O bombardeamento foi muito próximo da base [Central] do Osvaldo Vieira. Foi perto da tabanca de Morés.

# «MC» ▼ 

Os oito feridos referidos acima, cujos nomes não foram identificados neste relatório do Pedro Pires, seriam divulgados, quatro meses mais parte, por Bebiano Cabral d'Almada, no âmbito da sua (nova) visita às bases do Óio – P21095 (P-I) – a saber:    




Citação: (1964), "Relatório do Bureau de Dakar sobre a viagem à região de Casamansa e às bases do Norte da Guiné", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_41387, com a devida vénia.

Por outro lado, e como contraditório à obra de Norberto Tavares Carvalho – "De campo em campo: dos estádios de futebol à luta de libertação nacional dos povos da Guiné e de Cabo Verde"; conversas com o comandante Bobo Keita. Edição de autor, Porto, 2011, recupero a opinião transmitida pelo Luís Graça, a propósito de duas notas incluídas no P17123, «(D)o outro lado do combate: Vida e morte de Simão Mendes, vítima de bombardeamento, pela FAP, da base central do Morés, em 20 de fevereiro de 1966 (Jorge Araújo)».

▬ Dizia, então, o camarada Luís Graça:  

(…) "O Bobo Keita não é bom de datas. Antecipou, ao que parece, a morte do Simão Mendes em 1 ano e três meses…".

De facto, podemos hoje concluir que algumas das datas e contextos relatados pelo Cmdt Bobo Keita (1939-2009), "nas suas conversas publicadas em livro" [capa ao lado], estavam desfasadas da realidade, o que se compreende, face aos muitos "sustos" que, certamente, apanhou durante os anos em que foi guerrilheiro.

Exemplos retirados da op. cit. p. 244:

"(vi) Morreu [Simão Mendes], mais tarde, no intenso bombardeamento da base de Morés ocorrido no dia 14 de Novembro de 1964". Seria que estava-se a referir ao bombardeamento de 14 de Outubro de 1963, aquele que acima é citado, onde aconteceram 8 ou 13 mortes… (mas não a de Simão Mendes)?

"(vii) Nesse bombardeamento, "os camaradas Juvêncio Gomes e Tiago Aleluia Lopes foram atingidos por estilhaços", na cabeça (o Tiago Lopes), nas mãos e parte do rosto (o Juvêncio Gomes). Mais uma vez se infere que a data aludida por Bobo Keita não confere, mas sim a de 14 de Outubro de 1963, onde o Tiago Lopes e o Juvêncio Gomes foram, de facto, feridos, o primeiro recuperou na base, do ferimento na cabeça, e o segundo foi evacuado para o Hospital de Ziguinchor, por ter sido atingido com "estilhaços na cara e no pescoço, e com fractura do braço esquerdo e ferimentos no pé", conforme consta na descrição supra.

Barco = 

[Durante a evacuação dos oito feridos], os portugueses surpreenderam os camaradas quando atravessavam o rio [Cacheu] numa cambança, cambança por onde passaram com o Rendeiro e o Timóteo [em 18 de Setembro de 1963], e apreenderam o barco que viera de Conacri há pouco tempo. 

Os soldados fizeram fogo sobre os nossos e tiveram que abandonar o barco. Não houve feridos.

Base = 

O Osvaldo Vieira vai mudar de base.

Soldados portugueses = 

Estão detidos em Ziguinchor. Foram conduzidos por um guia [Biagué Sagne] que foi encarregado desse serviço pelo Zain Lopes [Rafael Barbosa]. Precisamos de ver esse problema dos refugiados no Senegal mais profundamente. Espero as vossas instruções nesse sentido. Não podemos ter confiança absoluta em ninguém e julgo que é necessário separar o Lar [Ziguinchor] do Bureau [Dakar].

Julião [Lopes] = 

Este camarada continua em Ziguinchor [ferido por um dos seus três camaradas por ele assassinados em Encheia] porque não está completamente restabelecido. O Paulo Santi [que havia sido ferido, também, pelo Julião Lopes, no mesmo episódio de Encheia] já entrou.

Chico Té [Francisco Mendes] e o Constantino Teixeira = 

Devem vir a Dakar para seguirem para Conacri [a fim de reunirem com Amílcar Cabral].

# «MC» ▼ 

A reunião teve lugar a 27 de Outubro de 1963, domingo, encontro que contou apenas com a presença do Secretário-Geral e de Chico Té [Francisco Mendes], na qualidade de responsável político. 

Durante a sessão de trabalho foi apresentado e analisado o novo "plano de acção militar" para as zonas da Região do Óio (Central) e Gabú (Interior Norte). As "missões" a levar à prática incluíam:

(i) – meios de reconhecimento;
(ii) – criação da base em Geba;
(iii) – controlo da ligação fluvial e terreste;
(iv) – receber mais gente do Yaya [Koté];
(v) – intensificar as acções de sabotagem;
(vi) – liquidação dos Régulos (?).

Para a supervisão deste "plano de acção militar", foram indigitados trinta responsáveis (Comndantes), distribuídos pelas diferentes bases existentes nessas zonas.
De seguida apresentam-se os pontos mais relevantes dessa reunião, indicados acima.



Citação: (1963), "Reunião com Chico Té", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_41265, com a devida vénia.

Oportunistas = 

Teriam estado na Gâmbia onde teriam encontrado o Cônsul e mesmo teriam ido a Bissau os oportunistas da clique do Benjamim Bull. Devem ter feito parte desse grupo: Bull, Domingos Araújo e Madjo. 

Teriam mesmo falado com o Rafael Barbosa, em Bissau, segundo as informações de Quebá Mané. "Foram ver o Governador e este pediu-lhes para contactarem o Rafael…". O Domingos Araújo esteve ausente cerca de 23 dias. Teria ido a Bissau via Gâmbia.

Carta = 

Os camaradas interceptaram uma carta do Cônsul que era dirigida a Domingos Araújo e uma outra a Ernestina para o Cônsul. As cartas estão com o Lourenço Gomes.

Malas de Correio = 

Os camaradas interceptaram uma camioneta do Lulula e apoderaram-se da mala do correio.

Timóteo e Rendeiro = 

O Rodrigo Rendeiro seguiu para Bissau. O Timóteo Pinto continua em Dakar, pelo menos, estava cá há cinco dias. Estou a ver se consigo descobrir o paradeiro dele. O Osvaldo Vieira e os camaradas do interior já estão informados da fuga deles.

# «MC» ▼ 

Sobre as "Histórias do Rodrigo Rendeiro e Timóteo Pinto" sugere-se a consulta das narrativas a seguir mencionadas:

▬ P17920: "A odisseia do português, da Murtosa, Rodrigo Rendeiro: uma viagem atribulada, de 3 a 26 de Setembro de 1963, de Porto Gole, … até ao Senegal (Samine, Ziguinchor e Dacar)".

▬ P17926: "Continuação da odisseia do Rodrigo Rendeiro que acabou por regressar a Bissau, com um salvo-conduto do consulado da Suíça em Dacar, que o levou até à Gâmbia…".

▬ P17929: "O Rodrigo Rendeiro, depois de regressar a Bissau, terá fornecido preciosas informações à FAP, permitindo a localização (e bombardeamento) das bases do PAIGC em Morés e Dando…".

Oportunistas = 

Teriam estado na Gâmbia há uns quinze dias [início de Outubro'63], coincidindo com a partida dos dois traidores [Timóteo e Rendeiro].

Lourenço Gomes = 

Ele foi detido antes de ontem juntamente com os soldados portugueses [Manuel José Fernandes Vaz e Fernando Fortes]. Haverá relação entre os panfletos tendenciosos e a atitude do Governo de Casamansa? Penso que não. Esses panfletos não terão, pelo menos, um estímulo do Governo do Senegal? Qual a atitude do Partido perante o "tracked" [vigia/controlo de movimentos] que se refere a Cacine e Casamansa?

Polícia = 

Estive hoje por duas vezes na "Sûreté" [Segurança), mas o Director e seu Adjunto estavam ausentes.

Medicamentos = 

Peço que levem em consideração o pedido do Lourenço Gomes.

Peças do motor Kelvin = 

É preciso que mandem as peças avariadas para poder comprá-las.



Citação: (1963), "Relatório sobre a visita de Lourenço Gomes à região de Óio", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_41412, com a devida vénia.

► Fontes consultadas:

Ø  CasaComum, Fundação Mário Soares. Pasta: 07075.147.046. 

Título: Relatório sobre a visita de Lourenço Gomes à região do Óio. 

Assunto: Relatório assinado por Lourenço Gomes sobre a sua visita ao interior, região de Óio. Visita aos locais onde foram abatidos os aviões portugueses; ataque à base de Ambrósio Djassi [Osvaldo Vieira]. Necessidade de medicamentos no interior. Material de Guerra.Despesas. Viatura para transporte dos feridos. Envio dos militares portuguesas, Fernandes Vaz e Fernando Fortes, para a base de Abel Djassi. Em anexo documento assinado por Pedro Pires, datado de 21 de Outubro de 1963, com as informações colhidas das declarações de Biagué. 

Data: Quinta, 24 de Outubro de 1963. 

Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Relatórios XI 1961-1964.

 Fundo: DAC – Documentos Amílcar Cabral. 

Tipo Documental: Documentos.

Ø  Outras: as referidas em cada caso.

Concluído.
Termino, agradecendo a atenção dispensada.
Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.
Jorge Araújo.
09JUL2020
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Nota do editor:


Guiné 61/74 - P21183: Blogpoesia (686): "As multidões..." e "Derramaram prata neste mar ardente", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante a semana:


As multidões…

As pessoas se amontoam.
Não somam e formam multidões.
Criam um ser novo.
Diferente.
Com alma própria.
Na forma de pensar e de agir.
Por vezes, irracionais.
Dissolvem as pessoas que as formam.
Elegem os seus ídolos.
À sua ordem, com cegueira, cometem crimes de lesa pátria.
Arrastam para o abismo, sem dar conta.
As multidões são capazes de gerar Hitler´s.
Mao´s.
Staline´s,
Mussoline´s
E o que mais ainda poderá vir.
Se calhar, foi uma multidão voraz, a mando dos poderosos, que gerou esta pandemia avassaladora.
Sem vencedores.
Só vencidos e humilhados…

Roses, 15 de Julho de 2020
16h59m
Jlmg

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Derramaram prata neste mar ardente

Derramaram prata neste mar ardente.
Semearam luz neste mar sem fim.
Queimaram fogo como palha a arder.
Secaram sonhos que o tempo levou.
Horas suaves desta tarde de sol.
Um brinde à vida porque a morte vem.

Roses, 16 de Julho de 2020
11h52m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21161: Blogpoesia (685): "A coragem de escolher", "Pinhais de Melides" e "Quando me toca a mim...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P21182: Parabéns a você (1840): Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616 e CART 2732 (Guiné, 1970/72) e João Santos, ex-Alf Mil Rec Inf do BCAÇ 2852 (Guiné, 1968/70)


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Nota do editor

Último poste da série de 17 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21175: Parabéns a você (1839): Álvaro Basto, ex-Fur Mil Enf da CART 3492 (Guiné, 1971/74); Jaime Bonifácio Marques da Silva, ex-Alf Mil Paraquedista do BCP 21 (Angola, 1970/72) e José Manuel Pechorro, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 19 (Guiné, 1971/73)