terça-feira, 25 de agosto de 2020

Guiné 61/74 - P21293: Bibliografia de uma guerra (97): "A Batalha do Quitafine", de José Francisco Nico, Ten-General PilAv. O livro pode ser adquirido através do endereço "batalhadoquitafine@sapo.pt" (Mário Santos, ex-1.º Cabo Especialista MMA)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Santos (ex-1.º Cabo Especialista MMA da BA 12, Bissalanca, 1967/69) com data de 22 de Agosto de 2020:

No intuito de ajudar à divulgação da "Batalha do Quitafine" da autoria do nosso Ten. Gen. José Nico (que ainda tem na prateleira umas boas dezenas) solicito a publicação no grupo, dos comentários e opiniões sobre o livro de quem já leu, gostou e resolveu opinar. 

Abraço.
Mário Santos

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Alferes miliciano, piloto de T-6 e DO-27 na Guiné:
 
“Fiquei a saber mais sobre a guerra hoje do que quando lá estava. Excelente descrição com pormenores bem apontados. Parabéns com um grande abraço. Os Roncos também mexeram e bem" !!”

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Oficial superior da Força Aéra Ref:

Recebi, oportunamente, o seu livro, cuja leitura, que me foi entusiasmando página a pagina, só interrompi para levar a cabo tarefas inadiáveis.  Curiosamente, tanto quanto me tenho apercebido, ou o pessoal da nossa Força Aérea será uma exceção neste contexto ou sou eu que não tenho tido a informação adequada, pois não tenho conhecimento de algo que alguém tenha publicado e a que tenha sido dada a devida relevância. Ora, meu general, permita-me que lhe expresse a minha modesta opinião acerca da “Batalha do Quitafine”: o seu conteúdo é muito mais que uma “pedrada no charco”! É um pedregulho de toneladas num lago de imensa dimensão! Acho que V. Exª está de parabéns, não só pela narrativa precisa e técnica como descreve o conflito em que foi ator dinâmico e preponderante, mas também pelo modo desassombrado como via (vê) toda a envolvência do mesmo, desde os seus primórdios até ao seu término.  Por certo, já lhe estarão a chegar ecos, e nem todos lisonjeiros, pelas “feridas” em que foi tocando mas, para mim, isso ainda trás mais valor à obra e ao seu autor, porque, concordando-se ou não com as convicções do Senhor General sobre a descolonização, acho que já se passou demasiado tempo sem se fazer a sua análise realística e desapaixonada, só para não se sair do limbo do “politicamente correto”, apanágio de umas quantas ”virgens políticas”, para as quais só existem as suas verdades. Parabéns, meu general! Espero que a “Batalha do Quitafine” seja lida por muita gente (eu vou fazendo a divulgação boca a boca) e ainda o prenúncio de outras obras que continuem a relatar o verdadeiro protagonismo que a nossa FAP teve naqueles 13 anos de guerra".

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Não identificado:
 
“Recebi esta manhã o seu precioso livro, que esperava com a expectativa e o entusiasmo de um adolescente (tenho agora 73). Os meus agradecimentos por o senhor General José Nico ter dado à estampa tão precioso contributo, tanto mais que não há muitos autores da nossa Força Aérea a escrever.”

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Mecânico dos G-91em Bissalanca: 

“O seu livro é tecnicamente uma obra de arte, ao nível do melhor que tenho visto e o seu valor material vai muito para além do valor pedido.  Conhecendo-o relativamente bem, confesso que não estou surpreendido com o seu conteúdo filosófico, e tão pouco com a sua neutralidade dogmática. Quem luta e defende uma nação, está tudo menos preocupado com dogmas ideológicos.” 

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Engenheiro de Aeródromos da Força Aérea Ref: 
 
“Li o seu livro de um fôlego e página a página fui tropeçando em pessoal dos meus tempos na Força Aérea, vários do meu curso, e até no meu grande amigo Firmino Neves, dos Tigres de Bissalanca. Queria felicitá-lo pelo seu livro, que considero excelente. Se este livro não tivesse sido escrito, ficaria uma lacuna grave por preencher na história da Força Aérea. O livro está muito bem escrito, de forma simples e perceptível para leigos e dá uma imagem muito realista daquilo que ocorreu naqueles anos na Guiné, que foi de facto muito agreste e que exigiu de Vós o maior profissionalismo, coragem e determinação. Quando se dizia «o problema é da Força Aérea», estava-se a falar de uma mera meia dúzia de pilotos «espremidos até ao tutano». Tal como dizia Churchill « nunca tantos ficaram a dever tanto a tão poucos».”

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Prof Ensino Básico e Secundário, ex combatente na Guiné: 
 
“Quero agradecer, pelos excelentes momentos de leitura que proporcionou, excelente acervo histórico. Apresento os meus melhores cumprimentos.”

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Oficial miliciano médico da Força Aérea (69/71): 

“Acabei de ler o seu livro "a Batalha do Quitafine" e apeteceu-me felicitá-lo por várias razões. Antes de mais, é um livro muito bem escrito e que se lê sem querer interromper. Está exaustivamente documentado pelo que, além de poder ser lido como um relato de aventuras emocionante, serve igualmente de documento histórico e evoca com muito detalhe e realismo uma época cuja memória merece ser cultivada. Como se não bastasse, a apresentação gráfica é da melhor qualidade, o que torna a leitura bem mais agradável. Parabéns, portanto. Enfim, não lhe vou tirar mais tempo mas uma vez mais lhe agradeço o prazer e as recordações que o seu magnífico livro me proporcionou.”

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Oficial General da Força Aérea Ref:

“Há alguns dias que acabei de ler o seu livro e que ando para lhe dar os parabéns pelo excelente trabalho que produziu, na narração dos acontecimentos no Quitafine como na sua análise crítica e enquadramento na guerra na Guiné, e também no quadro geral das guerras "de libertação". Uma obra de referência!”

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Coronel do Exército Ref, combatente na Guiné:

“Acabei, há dias, de ler  a "A Batalha do Quitafine" de que gostei. Gostei porque estou farto do "politicamente correto" e gostei por saber que não fui só eu que acreditou que Portugal, como exemplo para o Mundo, podia ter sido uma Pátria multirracial, multicultural e multicontinental. Não foi assim e o que foi está à vista. Esse  sonho foi destruído e agora está em marcha a destruição da sua História. Os netos dos nossos netos já não saberão que houve um Infante D. Henrique, um Vasco da Gama, um Fernão de Magalhães ou um Camões. Conhecerão nomes vindos de outras paragens. Às vezes pergunto-me como viveria hoje o povo de Angola e, por arrastamento, os de Moçambique, Guiné, se tivessem continuado a fazer parte de um todo português ou até mesmo se se tivessem tornado independentes com todos os seus cidadãos, pretos, brancos e mestiços. Sobre a Batalha do Quitafine propriamente dita, confesso que, provavelmente, como a generalidade dos militares do Exército, o meu conhecimento da actuação da FA, apesar de ter ouvido dizer que faziam ataques a AAA localizadas no Sul, era o que sentia directamente: apoio de fogo directo às operações terrestres; evacuações; reconhecimentos;  transporte de pessoal, reabastecimentos e CORREIO. E era muito e muito importante.”

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Oficial General da Força Aérea Ref:
 
“Recebi ontem o livro e hoje já estou a chegar ao fim numa leitura ininterrupta que o enorme interesse do mesmo me despertou. Não admira que assim seja, afinal foi a nossa geração que deu o seu melhor por uma causa para nós plenamente justa que defendemos sabendo o que estávamos a fazer, com entusiasmo, noção do dever e sacrifício pessoal, para muitos mesmo o supremo sacrifício como o do meu chefe de curso da  Força Aérea e meu amigo Brito. Orgulhosamente sós, sem dúvida, mas resta acrescentar, que sós por não alinharmos nos "ventos da história" frase típica inventada por um prepotente famoso que encabeçou uma nação nossa aliada mas cuja aliança foi sempre "single sided" e não para o nosso lado, acompanhada por outra nação que se arvora em defensora da independência dos povos esquecendo que a sua génese radica exactamente na ocupação pela força de um continente e genocídio dos seus indígenas. E tudo pela ganância do domínio mundial em confronto entre o leste e o oeste. Os meus sinceros parabéns por um documento histórico descrito com realismo, verdade e sem a preocupação ridícula que, infelizmente, já contagiou alguns dos nossos camaradas, do abominável "politicamente correcto!”

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Especialista da FA, filho de combatente na Guiné: 
 
“Já recebi o seu livro, que muito agradeço.  Excelente, excelente, excelente.  Com emoção, li algumas passagens com meu Pai, o qual revisitou alguns dos lugares geográficos e psicológicos da Guiné-Bissau onde esteve entre 1963 e 1965. As descrições do clima singular e exigente, tiveram nele eco.  Obrigado, Senhor General pela publicação deste testemunho político-histórico-militar, tão importante também para a minha geração, a dos filhos dos Combatentes. Tenho 50 anos e é muito importante para mim, o conhecimento da vossa experiência de guerra.” 

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Oficial piloto aviador Ref, comandante de linha aérea: 
 
“Acabei há dias de ler o seu magnífico livro. Há muito tempo que não me acontecia ter um livro de que não se consegue interromper a leitura, o que me custou algumas noites de apagar a luz às quatro da manhã!
O livro está interessantíssimo, com a contextualização geopolítica que foi dando ao longo da narrativa, que muito me fez aprender sobre a situação do nosso país na cena internacional da época.
Se me permite, a qualidade da composição, ordenamento da informação e a edição estão excelentes, prendendo o leitor da primeira à última página. De um ponto de vista mais pessoal, não só o facto de também ter voado o G-91, como o de conhecer pessoalmente algumas das pessoas mencionadas, foram também factores que me prenderam bastante.  Quero dar-lhe os meus parabéns pelo excelente livro, fundamental na clarificação e divulgação dos factos ocorridos, bem como a preservação para memória futura da contribuição da história da FAP na Guerra de África.
Também, agradecer-lhe os momentos de prazer que a leitura da Batalha do Quitafine me proporcionou, foi um enorme gosto.” 


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Oficial General da Força Aérea Ref:

“Acabei a leitura da “Batalha do Quitafine” e não posso deixar de lhe transmitir o enorme prazer e a extraordinária impressão com que fiquei do que li. Gostava de lhe dar os meus parabéns por esta obra, pela coragem do que foi dizendo ao longo do texto, e pelo trabalho de pesquisa que transpira em todas as páginas. A forma como transmitiu a contextualização política no âmbito das relações internacionais, e a forma como de forma convicta exprime em liberdade as suas opiniões foram muito apreciadas, dizendo que faz falta na democracia portuguesa estas opiniões sinceras e de elevado valor humanístico que infelizmente foram ideais subvertidos á lógica da corrente do tempo e das ideologias de esquerda. Muito obrigado por esta obra, que é de valor incalculável, e muitos parabéns pelo valor histórico, literário e patriótico da mesma.”

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Docente Universitário: 
 
“Recebi hoje o livro, muito obrigado. Queria dar-lhe os parabéns pela qualidade do livro, logicamente que ainda não o li mas estive a folheá-lo e fiquei surpreendido pela sua qualidade, tanto do papel como das imagens e da própria impressão! A mistura de fotografias com imagens 3D a recriar muitos dos aviões envolvidos dá uma nova dimensão ao livro! São 25€ muito bem empregues!”

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Alferes miliciano piloto de AL III na Guiné: 
 
“Gostei bastante de ler e reler, o livro, muito bem documentado , A Batalha do Quitafine. Só um historiador, um bom historiador, poderia descrever tal situação. Como fiz parte dos aviadores que nela participaram, mais prazer deu a leitura. Foi uma operação (Op Vulcano) que de tempos a tempo recordo, por um motivo: a quem contava ter estado a umas centenas de metros de antiaéreas, protegido por palmeiras, reclamar os homens que não encontrava, por terem sido já evacuados, e regressar sem ninguém (para Catió), era uma história pouco credível. Agora, se for o caso, poderei com propriedade contar o "impossível". Mais uma vez, obrigado pelo livro, e pelos momentos bons que recordei.”

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Combatente do Exército, Furriel Miliciano de Artilharia na Guiné: 
 
“Com os meus melhores cumprimentos, quero felicitar a magnífica Obra em epígrafe, feita com a frontalidade que nos habituou nos convívios, da Magnífica Tabanca da Linha. Tenho lido vários livros sobre a Guerra na Guiné todos eles, uns mais que outros, relatando os dissabores de um Combatente, salvo o livro A Guerra da Bolanha do Francisco H. da Silva que foi mais além. Mas nenhum deles foi tão crítico ao Sistema que estava montado contra Portugal, nem mordaz, como o Senhor General De Abril de 1968 a Junho de 1969, estive em Cameconde/Cacine e passados 52 anos fiquei a saber o porquê das flagelações feitas pela FAP, cujos rebentamentos eram ouvidos em Cameconde que era sobrevoada pelos aviões que abanavam as asas na sua passagem, devolvendo os nossos acenos,(braços e quicos no ar). Era gratificante e moralizador. Entretanto os ditos Cavalos de Tróia divulgavam com ênfase os vossos desaires, sobretudo da operação Vulcano. Felizmente o seu livro caro General, Piloto Aviador acertou em cheio em todos os Cavalos de Tróia, que teimam a deturpar o nosso passado, GLORIOSO, até ao 25A. No programa do Joaquim Furtado na RTP 1 dos poucos oficiais ouvidos, (portugueses) nem um mencionou a Invasão dos Cubanos, Senegaleses, e outros. Durante muito tempo chorei a ver as reportagens da entrega sem Honra da Guiné onde passei 27 meses. Como Veterano da Guerra do Ultramar, quero agradecer, Meu General, por me ter devolvido a Honra de ter sido um Soldado Português que só quis defender A Pátria, apesar de a sua terra Goa, ter sido invadida pelos Indianos (militares) que sempre respeitaram os Portugueses.”

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Oficial General da Força Aérea Ref: 
 
“Li (e reli) avidamente A Batalha do Quitafine, um verdadeiro compêndio de contraguerrilha com quase quatrocentas páginas, obra que, pelo seu interesse e importância, merece ser apreciada pelos portugueses, muito em especial pelos que passaram pela guerra do Ultramar, contemporâneos ou não com as acções descritas de modo tão real e com verdadeiro "cunho didático", como é característico do autor. Julgo até, que lhe caberia "tratamento" de destaque no Ensino Superior Militar! Parabéns, meu General, pela forma apaixonante e realista com que nos presenteou com a descrição de dados sobre operações militares importantes aos quais, de outra forma, não teríamos acesso.”

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Oficial piloto aviador Ref, Comandante de linha aérea Ref: 
 
"Estive a ler o teu livro. É o melhor de todos os que saíram até hoje recordando tempos de glória que não voltam mais. Duma ponta a outra cativa o interesse tanto no poder descritivo como na apresentação gráfica colocando o leitor no âmago do conflito. Refere com mestria a génese das guerras de libertação e de todos os interesses instalados na casa mãe, a ONU e nas suas sinistras ligações. Embora a minha guerra tenha sido diferente, inseriu-se no mesmo contexto mundial e só a dimensão territorial, os países fronteiriços e os naturais dos territórios considerados, fizeram a diferença nos três teatros de operações. O resto mas o mais importante, são os factores externos por ti tão bem considerados. Não me cabe aqui tocar neles nem lembrar a insignificância da nossa dimensão. Lembro-me sempre da “Portuguesa” e do seu significado na revolta do povo contra o que consideram o nosso mais antigo aliado. E com amigos destes que dizer dos outros a quem nada nos ligava ou de cujos interesses, a dimensão nacional nada podia contra? É como na natureza e na história dos povos. Vencem os mais fortes, queixam-se os mais fracos e, ai dos vencidos.  O teu livro tem outras noções e valores e desperta em nós não só a realidade do que foi a guerra do ultramar mas e principalmente com o que pudemos contar, ou não, durante tantos anos de confrontos.  Chama as coisa pelos nomes, aponta os culpados e descreve as imensas dificuldades glorificando os abnegados intervenientes. São memórias que mantêm vivos todos aqueles heróis.  Costuma dizer-se que morremos duas vezes. Uma quando o coração deixa de bater e a outra quando deixam de se lembrar de nós. Tu não os deixas morrer! Este livro chama-nos à atenção de que é preciso contar o que vivemos e o que passámos antes que outros o continuem a fazer por nós".

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O livro pode ser pedido para o endereço: batalhadoquitafine@sapo.pt
Custo: 20,00€ mais 5€ de portes de correio
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Nota do editor

Vd. poste de 23 de maio de 2020 > Guiné 61/74 - P21003: Agenda cultural (748): "A Batalha do Quitafine", de José Francisco Nico, Ten-General PilAv. O livro pode ser adquirido através do endereço "batalhadoquitafine@sapo.pt" (Mário Santos, ex-1.º Cabo Especialista MMA)

Último poste da série de 12 DE JUNHO DE 2019 > Guiné 61/74 - P19886: Bibliografia de uma guerra (96): "Capital Mueda", por Jorge Ribeiro; Unicepe (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P21292: A galeria dos meus heróis (36): Rosemarie e os seus dois maridos... Parte III (Luís Graça)


Foto: © Gerald Bloncourt (1926 - 2018) > Travessia dos Pirinéus por imigrados portugueses. Maio de 1965. Foto: cortesia de Le Blog de Gerald Bloncourt  > L'immigration portugaise. 

[O grande fotógrafo da imigração portuguesa foi condecorado em 19 de novembro de 2015 pelo Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, com a Ordem do Infante Dom Henrique, grau Comendador. Na página oficial da Presidência da República pode ler-se, por ocasião da sua morte, a seguinte mensagem, com data de 30/10/2018: 

"Ao tomar conhecimento da morte de Gérald Bloncourt há um dever de memória em evocar o seu trabalho, que imortalizou a história da emigração portuguesa em França nas décadas de 60 e 70.

O fotógrafo francês foi uma das testemunhas do duro quotidiano dos compatriotas que viveram os primeiros anos da maior vaga de emigração para França, sendo simultaneamente amigo e companheiro de tantos portugueses que ali construíram o seu futuro.

Isso mesmo testemunhei em Champigny-sur-Marne, por altura das comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, em 10 de junho de 2016, reconhecendo o seu espírito de missão pela defesa da dignidade humana junto da comunidade portuguesa, com o grau de Comendador da Ordem do Infante Dom Henrique. "]


A galeria dos meus heróis > Rosemarie e os seus dois maridos... 
Parte III (Luís Graça) *

 

(Continuação)



A Rosemarie foi uma mulher corajosa para a época: casada com um tocador de rabeca de uma tuna rural do Marão, alcoólico, foi vítima de violência doméstica.

Separada de facto, mas não legalmente, sem ter posses nem conhecimentos para tratar dos papéis do divórcio, católica, amarrada de pés e mãos a um cadavre, o fantasma do primeiro marido algures em parte incerta, talvez no Brasil, com a 4ª classe já feita tardiamente, em Cascais, criada de servir, ajudante de cozinheira, numa família de banqueiros, em meados dos anos 60, a ganhar o dobro do que ganhava em Chaves e em Resende, mas infeliz, tomou a decisão da sua vida, em 1967, quando partiu para França “a salto”. Ia fazer, ou já tinha feito, 30 anos.

Em Cascais, estava longe da família e da terra, que já não era Cabeceiras de Basto, mas Resende…Tinha um dia de folga, que aproveitava para conhecer Lisboa e os arredores. Metia-se no comboio e desaguava no Cais do Sodré, cujas “luzes de néon” a atraíam, como à borboleta, mas onde nunca entrou em nenhum bar.

No máximo, à meia-noite, o mais tardar, tinha que estar de volta a casa no dia de folga. E, depois, aquele era um mundo estranho e perigoso para uma rapariga de província, que fora parar a Cascais com cartas de recomendação.

Ainda se aventurou a ir, um dia, ao Bairro Alto dos fadistas, onde se dizia que se cantava o fado castiço, mas sentiu-se intimidada, com todo aquele corropio de gente, a sair e entrar de tipografias, redações de jornais, casas de pasto, tabernas, oficinas, lojecas e casas que pareciam de bonecas, com mulheres a assomar à janela, ou vagabundear pelas ruas.

Havia prostituição de rua, mas nada no entanto parecido com a que irá conhecer, uns anos mais tarde, na Rue de Saint Denis, em Paris, quando um dia lá for com o "seu" Antoine, só para ver aquelas pobres mulheres trajando ricos casacos de vison, umas, outras quase nuas...

Raramente via os patrões, lá no palecete de Cascais. Tinha uma “chefa" que era de "gancho” (sic), e que mantinha a criadagem na linha. O seu dia a dia era passado no meio de tachos e panelas, no rés do chão. A senhora, “que era do Norte”, apreciava o seu “arroz de anho no forno”, uma das suas coroas de glória culinárias… Mas a cozinheira-chefe, francesa, tinha ciúmes dela e não a deixava fazer grandes pratos, apenas o trivial, o pequeno almoço, o lanche, coisas ligeiras. Mas acabou por aprender, à socapa, uns pratos da cuisine française e começou a arranhar o francês… (Falava-se francês lá em casa, o patrão era de origem francesa.)

Já não se lembrava sequer do nome dos patrões, que eram gente muito rica e muito fina, de famílias tradicionais, católicos, mas liberais e respeitadores do pessoal menor… Cultivavam, no entanto, muita distância. Nunca se lembra, por exemplo, de ter entrado na sala de jantar, a não ser pelo Natal, em que senhores e criados consoavam juntos.

Os tempos que passou em Cascais, cerca de dois anos, eram sobretudo lembrados pela Rosemarie pela sua iniciação ao fado de Lisboa. Na escola de adultos, onde tirou a quarta classe, conheceu uma jovem fadista amadora que tinha ambições de concorrer à Grande Noite do Fado, no Coliseu dos Recreios.

À noite as duas cantarolavam uns fados no regresso a casa, já que moravam perto Ficaram amigas mas a Rosemarie perdeu o seu contacto quando foi para França, no verão de 1967. Tinha para com ela uma dívida de gratidão, arranjou-lhe alguns discos e letras, da Amália, e da Maria da Fé, de quem a Rosemarie também era fã, até por ser uma mulher do Norte.

Logo no início, em meados de 1965, teve autorização de ir ao Cais da Rocha Conde Óbidos abraçar um dos irmãos que chegava da Guiné, depois de cumprido o serviço militar. Vinha “mais maduro, mais homem”, e confidenciou-lhe que tinha intenções de emigrar, talvez para a Alemanha, de comboio. Era só tratar do passaporte, que agora, com a tropa feita, não precisava de ir “a salto”. Tinham-lhe prometido um emprego numa fábrica de automóveis, mas precisava de “aprender a língua alemã, que era tramada”. E na realidade conseguiu ir para a Alemanha, em meados de 1966, mas teve de começar por trabalhar nas obras. Durante alguns anos, não se viram até que ele foi passar o Natal, com ela e o Antoine, em 1973.

Foi também por essa altura, por volta de 1966, que a Rosemarie começou a congeminar a ideia de ir para França viver e trabalhar. Mas só podia ir “a salto”. Sendo oficialmente casada, precisava de autorização do "cabrão do marido", o "chefe de família", ausente em parte incerta...

Por outro lado,  as suas fracas economias não davam para “comprar a passagem”…Precisava de ter pelo menos uns 15 contos, para a passagem e para os primeiros tempos. Nessa época, era uma fortuna, quase 6 mil euros, a preços atuais. 

E foi também por essa altura que umas antigas colegas e amigas das Caldas de Aregos, em Resende,  lhe deram notícias do Antoine Ben Oliel.  Um dia conseguiu o seu contacto. Escreveu-lhe uma carta, com letra muito bonita, e com algumas palavras simpáticas em francês (desculpando-se dos "erros de ortografia"), e mandou-lhe uma foto tipo passe. 

Ele não lhe respondeu logo, mas na carta que ela recebeu, passadas umas largas semanas, disse-lhe que, "sim, senhora,  se lembrava dela, de Chaves, em  1957, e que ia ver o que podia fazer por ela"... Mas acrescentava logo a seguir: " Sem papéis era mais arriscado, para mais sendo mulher. Mas prometia lembrar-se do seu caso e do seu pedido"...  

Determinada a sair do círculo vicioso da pobreza e da solidão, a Rosemarie começou a preparar a "mala de cartão" e, um dia, com a desculpa de ir visitar a mãe “muito doente”, obteve autorização para gozar uns dias de licença, na terra.

Nunca mais voltou a casa dos patrões em Cascais. E uma semana depois estava a atravessar os Pirinéus, escondida na mala do carro do Antoine.

Não lhe fez desconto nenhum, “o gajo” (como ela o tratava)!... E sabiam pouco um do outro. Mas deu conta que o Antoine se sentia atraído por ela... Na viagem, partilhada com mais gente (“rapazes novos, um deles fugido à tropa”), foram pondo, lenta e discretamente, a conversa em dia. Ela, sempre muito faladora, “um livro aberto”, ele sempre muito calado, de óculos escuros, a cigarrilha ao canto da boca, do lado da cicatriz…E usava um chapéu à cobói, que puxava para a cara, a tapar-lhe os olhos…

Na presença de terceiros, evitava ter com ela conversas mais pessoais. Respondia-lhe, quase sempre com monossílabos, os olhos postos na estrada, enquanto o Peugeot ia devorando quilómetros.

A cena mais caricata foi a passagem da Rosemarie num posto fronteiriço pirinaico, em Hendaia, que era pressuposto ser “da confiança do Antoine”.


Como era habitual, os homens que seguiam na viagem, ape
avam-se uns quilómetros antes, ainda em território espanhol, e seguiam por um trilho, seguro,  atrás do guia basco que trabalhava habitualmente com (ou para) o Antoine, que por sua vez os voltava a apanhar mais à frente, já em França. Tratava-se apenas de salvar as aparências,  não fosse algum chefão aparecer por aquelas bandas sem avisar.

A Rosemarie foi poupada ao incómodo da travessia a pé, seguindo, deitada e tapada com um cobertor,  na mala do carro do Antoine. À frente seguia um empregado do Antoine, com a carrinha de nove lugares, vazia. Cada passageiro transportava na mão as valises en carton, no trajeto a pé. Traziam o mínimo, uma ou duas mudas de roupa, calçado, farnel…

Habitualmente era o Antoine que conduzia a carrinha e naturalmente, era conhecido, e mais do que isso, “amigo dos guardas fronteiriços”.  Há muito que fazia os postos fronteiriços de Hendaia  e Irun, sendo conhecido como marchand d’art. Na realidade, também comprava e vendia velharias, antiguidades e móveis de estilo, abastecendo algumas lojas no Norte de Portugal e na Galiza. Rentabilizava assim a viagem. Trazia tralha. E no regresso levava viande à canon, carne para canhão (como ele dizia, na galhofa, lembrando-se porventura dos seus duros tempos de legionário). 

Mas daquela vez estava de serviço o  “novato” de um agente que não  conhecia o Antoine ou, pelo menos,  não o reconheceu "tout court"... Mandou parar o carro e abrir a mala…

A Rosemarie não ganhou para o susto, mas de acordo com as instruções do Antoine, “não tugiu nem mugiu”… Tudo se resolveu num ápice quando o Antoine “puxou dos galões”, e falou no nome do “chefe”,  seu velho conhecido do tempo da Legião…

Aliviados, seguiram a viagem, pela route nationale 10 (desgraçadamente também conhecida como cemitério dos portugueses),   sem mais sobressaltos, até ao destino, que era… o famigerado bidonvillhe de Champigny.

A Rosemarie, ingénua (quando lhe convinha), nunca soube, ao fim destes anos todos, quais foram les frais de transport...  Mas, nesse troço da viagem, já em território francês,  ficou então a saber que o Antoine era viúvo e vivia num château, nos arredores da petite ville de A.... no Val-de-Marne.

Simpático, cavalheiro, ofereceu à Rosemarie uma cama num duplex, grande demais para um homem que vivia sozinho, e que era a única parte habitável do casarão,  que em tempos devia ter feito parte de uma quinta, sacrificada à expansão urbanística…  O chateau não era, afinal, o "castelo dos contos de fadas"  que ela imaginava... 

Passada uma semana, já dormiam os dois na mesma cama. E ela arranjou, também por convite do Antoine,  um primeiro emprego no bistrot, “O Cantinho da Saudade”.

Como sabia cozinhar, e "até cozinhava bem", foi uma boa aquisição para o tasco do Antoine. À noite, o bistrot enchia-se de clientes, a maior parte portugueses com saudade do "caldo verde"  e de umas boas bifanas no "casqueiro".

Com o seu trabalho, a Rosemarie pagava a “renda da casa” e ia descontando um xis por mês para as despesas da passagem. Trabalhou um ano para o Antoine,  sobravam-lhe uns trocos para os “alfinetes”… Saía de uma escravatura para se meter noutra, receava ela. 

Arranjou, por isso, um part-time na limpeza de um consultório médico e depois numa clínica. Vinha a tempo de fazer o almoço para os dois. À tarde e à noite trabalhava no bistrot, era pau para toda a obra, estava na cozinha mas também dava um jeito nas mesas e ao balcão. E ao fim de semana havia fado…

Ao fim de alguns meses, lá pelo volta do Nöel de 1967, já se “desemerdava” (sic)  com o francês. "A vida rolava bem". Estreou-se tempos depois no bistrot a cantar, em caraoque,  a Amália e a Maria da Fé,  que também começava a estar na moda…

Ainda não havia guitarrista, só viola. Alguém desencantou um tipo fugido à tropa que em tempos tinha acompanhado, à guitarra, fadistas amadores em tascos do Bairro Alto. Trabalhava como operário numa fábrica da Citröen. Dois ou três meses depois, com muitos ensaios, a Rosemarie apresentou-se, de xaile preto e rosa vermelha ao peito, a cantar o fado no bistrot, acompanhada à guitarra e à viola…

Comme il faut!

  Antoine não escondia o seu orgulho. Apresentava-a já como sua copine, não escondia o seu afeto por ela e elogiava o seu talento.

Une deuxième Amalia! garantia ele aos seus amigos franceses.

Foi a altura em que os nossos anfitriões da Casa de Óbidos a conheceram. Foi também o melhor período da vida da Rosemarie, não só da sua vida em França, como de toda a sua vida!

Ah!, oui, j’ ai été três heureuse à cette époque-là!  − garantiu-me ela.

A Rosemarie, aux yeux verts,  "de olhos verdes", começou a ser notada. E o bistrot do Antoine duplicou a faturação. Mas o seu principal negócio continuava a ser o “ilegal”, o transporte de imigrantes clandestinos, de carro e de comboio… Como fachada legal e fiscal, tinha o bistrot e uma loja de antiguidades, no próprio château, na prática, um depósito de velharias… Com os negócios a prosperar, também comprou um licença de táxi e arranjou um motorista, luso-francês de confiança.

Mas era  a atividade de passador que lhe garantia mais proveitos. Terá ajudado centenas de portugueses e até magrebinos,  a instalarem-se e legalizarem-se em França. E dizia-se até que explorava os desgraçados dos imigrantes com o aluguer de algumas "barracas" em Champigny. Coisa que a Rosemarie nunca soube (ou nunca quis saber). Nisso era notável a sua habilidade em ignorar, escamotear ou "branquear" algumas partes mais desagradáveis da sua vida em comum com o Antoine Ben Oliel.

Tudo corria bem,  para o Antoine (e para a sua companheira), até à crise económica de 1973 e sobretudo até ao 25 de Abril… Meteu-se depois la merdre de la politique, lamentou-se a Rosemarie. A partir de 1974, começou a baixar a clientela do bistrot e as viagens a Portugal tornaram-se mais espaçadas…

Et le fado devient… réactionnaire! indignava-se ela.

− Reacionário... como assim ?  perguntei-lhe eu, fazendo-me ingénuo,

Não soube ou não me quis responder. Repetia apenas que o fado se tornara  "reacionário", e que os baladeiros haviam destronado os fadistas... 

Em suma, a Rosemarie “perdeu o pio”, deixou de cantar por uns tempos, aproveitando a má maré  para  dedicar mais tempo à sua atividade principal,  de femme de ménage.  Criou uma empresa de limpezas, com o Antoine como sócio minoritário… E que foi um sucesso. Começava assim a ganhar independência em relação ao “seu homem”… 

− Há males que vèm por bem! − contemporizava eu.


Cantava, mais esporadicamente, em festas de portugueses, até meados dos anos 80… "Sempre em portugês"... Naturalmente que nessa altura a estrela da canção luso-francesa era a Linda de Susa... que a Rosemarie nunca conheceu pessoalmente, mas de cuja voz e canções também gostava muito. Viu-a apenas uma vez num concerto em Paris, já vedeta internacional.

Começou a fazer amigos franceses. E integrou-se muito bem naquela pequena cidade de província, na "banlieue" de Paris. Durante muitos anos não veio a Portugal, nem mesmo quando o pai faleceu. E por volta de 1987 ou 1988 consegue finalmente obter o divórcio do seu primeiro casamento. Nunca chegou a saber o destino que teve o seu primeiro marido, desaparecido para sempre, talvez assassinado numa lixeira de São Paulo ou do Rio de Janeiro.

No início dos anos 90, o Antoine Ben Oliel, já sexagenário, terá tido uma depressão, começou a beber mais ido que o habitual, e os negócios ressentiram-se. Ela ajudou-o a reequilibrar-se com "apoio psiquátrico". Mas em 1995 ele tem uma nova recaída e faz um tentativa de suicídio. Puxou do revólver e apontou à cabeça. In extremis, ela salvou-o, mesmo com risco da sua própria vida... Na luta corpo a corpo, a arma ainda disparou dois ou três tiros para o ar... Talvez por gratidão o Antoine aceitaria, mais tarde, casar-se com ela, já no ocaso da vida.

(Continua)

© Luís Graça (202o). Revisáo; 5/8/2023
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Nota do editor:

Postes anteriores da série:


(...) Conheci a Madame Ben Oliel, como ela gostava de ser tratada, numa festa do 14 Juillet, o Dia Nacional da França. Ben Oliel era o apelido do seu segundo marido, de origem portuguesa e judia sefardita, que esteve na guerras da Indochina e da Argélia, como légionnaire. Maria Rosa era o seu nome de batismo, de que trocou a ordem e afrancesou: Rosemarie, soava-lhe muito melhor, fazia-lhe oublier (esquecer) e até talvez cacher (esconder) a sua origem portuguesa e a sua condição de imigrante em França. (...)

(...) O Antoine deve ter-se alistado na Legião Estrangeira (Francesa), aos 19 anos, por volta de 1950. Pertencia não aos paraquedistas mas a um regimento de infantaria, um dos que foram para Dien Bien Phu e lá seriam massacrados. (...)

Em finais de 1953 está na Indochina, para logo, passados poucos meses,  em  13 ou 14 de março de 1954, no início da batalha de Dien Bien Phu, ser ferido gravemente por um estilhaço de obus.  Teve a sorte de ainda poder set evacuado e sujeito a uma cirurgia reconstrutiva.

Menos de dois meses depois, em 7 de maio de 1954, Dien Bien Phu cairia nas mãos dos viet-minh do general Giap, e muitos camaradas do Antoine, de várias nacionalidades, perderam lá a vida ou foram feitos prisioneiros. E muitos também não regressaram do doloroso cativeiro. (...)

(Continua)

© Luís Graça (202o)

Guiné 61/74 - P21291: Parabéns a você (1857): Manuel Carmelita, ex-Fur Mil Radiomontador do BCAÇ 3852 (Guiné, 1971/73)

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Nota do editor

Último poste da série de

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Guiné 61/74 - P21290: (In)citações (167): A minha posição na guerra foi pragmática, sem ilusões: se matei, foi para não morrer, eu ou os camaradas a meu lado... Pelo que, se ganhei uma "cruz de guerra", não foi por "patriotismo"...(João Crisóstomo, Nova Iorque)



1. Comentário (por email, de 23 do corrente, domingo, 07h25) do  João Crisóstomo (*):


[foto acima: João Crisóstomo, luso-americano, natural de Torres Vedras, conhecido ativista de causas que muito dizem aos portugueses: Foz Côa, Timor Leste, Aristides Sousa Mendes... Régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona; ex-alf mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): vive desde 1975 em Nova Iorque]

 
Meus caros camaradas da Guiné,

Tanto quanto posso,  sigo, umas vezes com assiduidade outras menos, dependendo das circunstâncias , mas agora sempre com interesse,  este fabuloso blogue. 

E, de vez em quando, não posso deixar de sentir que devo meter a minha colherada também. Não me sentiria bem se o deixasse de fazer. Como sucedeu hoje ao ler este grande trabalho do Luís Lomba. E o oportuno comentário do Valdemar Silva, cujas palavras ["Grande trabalheira. A esta hora estarão alguns PIDES a coçar a cabeça, os Serviços Secretos Franceses e a CIA a reverem todo o seu 'material' secreto ao saberem haver alguém conhecedor de todos estes segredos2...] me fizeram sorrir. Oxalá assim suceda…

E este levou-me pensar que devo "dar a minha mão à palmatória”:

A luta pela “descolonização” das nossas “províncias ultramarinas” no contexto do movimento de libertação já com muito sucesso de colónias de outros países, levou-me a seguir uma posição pessoal que me pareceu a mais pragmática, sem ilusões.

Acreditava que,  mais cedo ou mais tarde,  Portugal, a bem ou a mal, teria mesmo de encontrar uma solução diferente da que o governo de então preconizava: não tinha ilusões de que Portugal pudesse nem sonhar com esta solução diferente de todos os outros países de um Portugal espalhado pelo mundo.

O que eu,  na minha ingenuidade,  ainda acreditava e tinha esperanças era de que ainda seria possível chegar a um entendimento que permitisse - o que veio a acontecer muito mais tarde depois de muita tragédia e sofrimento - a formação de uma associação nos moldes da CPLP que existe agora, mas com muito mais coesão e eficiência e resultados do que sucede.

Foi com esta mentalidade que fiz o meu tempo de serviço militar. E não atribuo o facto de até me terem dado uma "cruz de guerra” ao meu “patriotismo”: apenas sucedeu porque em dada altura a única escolha possível era salvar a minha pele e dos que estavam comigo e para o fazer tive de desprezar medos: se naquele momento a única saída era a morte, minha e dos nossos,  ou dos que estavam no outro lado … então que fossem os outros a morrer e não eu e os meus soldados…

Mas, na verdade, por mim, nunca nem antes nem depois tive sequer interesse (, mea culpa, mea culpa!, ) em ter melhores conhecimentos do que se estava a passar e do que se passou.

Mas admiro agora, muito mesmo, o interesse do Luís Graça, Beja Santos, Luís Lomba e tantos outros que com muito valor e mérito explicam o que se passou para benefício da história e da realidade. 

É mesmo impressionante. Não só pelo “conhecimento” em si, senão pelos muitos benefícios que este interesse, conhecimento e consciência contribuíram e continuar a contribuir em geral para a história e para cada um de nós. Bem hajam!

João Crisóstomo, Nova Iorque

Guiné 61/74 - P21289: Notas de leitura (1299): “Capitães do Fim… Uma radiografia estatística”, por António Inácio Correia Nogueira; Chiado Editora, 2017 (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Junho de 2017:

Queridos amigos,
O assunto dos Capitães do Fim não é propriamente uma novidade para ninguém, quem combateu a partir de 1970 sabe perfeitamente que em Mafra se fizeram fornadas de oficiais milicianos, fazia a recruta e a especialidade, eram promovidos alferes, lançados num teatro de guerra durante quatro meses, regressavam como tenentes e iam formar companhia.
A radiografia estatística que António Nogueira publica traz uma maior claridade sobre as origens, a escolaridade, a idade, o agregado familiar e eventuais profissões desenvolvidas, à data da incorporação. Ficamos igualmente com a informação se desenvolveram, ou não, contestação à guerra do Ultramar, o que pensam da instrução e dos instrutores que tiveram em Mafra, os critérios que foram utilizados para a sua seleção, como atuaram num teatro de guerra, quais as formas de protagonismo, como foram, na hierarquia militar, reconhecidos o seu trabalho.

E ficamos a saber um pouco mais das consequências da guerra para os capitães do fim, o que deles pensam os seus subordinados.

É uma radiografia que não deixa indiferentes. O que a Academia Militar não fornecia foi colmatado por eles. Centenas de mancebos têm toda a legitimidade em clamar, com orgulho, que não faltaram ao dever.

Um abraço do
Mário


Uma radiografia dos capitães do fim

Beja Santos

António Inácio
Correia Nogueira
“Capitães do Fim… Uma radiografia estatística”, por António Inácio Correia Nogueira, Chiador Editora, 2017, apresenta-se como uma obra complementar a que o autor dera à estampa no ano anterior sobre a história de capitães milicianos submetidos a uma formação acelerada. 

Como observa o autor, nos anos terminais da guerra colonial, a Academia Militar deixara de cumprir, por falta de candidatos, a sua missão capital: formar as elites militares intermédias de combate. Como a política do Estado Novo era intransigente na defesa do Império, custasse o que custasse, um dos expedientes encontrados foi a dos capitães do fim: em cerca de 14 meses fazia-se de um mancebo, muitas vezes em estádio avançado de licenciatura ou já licenciado, um capitão combatente para atuar num dos três teatros de guerra. 

Com ironia cáustica, alguns apelidavam estas novas elites 
de “capitães de proveta” ou de “aviário”. Reconheça-se que António Nogueira é mais justo ao recorrer à expressão “capitães do fim”.

De um modo geral, esta geração respirou outros ares bem diferentes dos oficiais milicianos que combateram ao longo da década de 1960. Vêm mais experimentados pelas lutas estudantis, coabitam, com maior ou menor intensidade, com agentes contestatários à guerra, da esquerda à extrema-esquerda. Enquanto uns desdenhavam a formação destes jovens capitães, a instituição militar apostava seriamente neles: o comandante de companhia tinha um papel fulcral na guerra, a guerrilha mostrava-se cada vez melhor apetrechada e com material de combate mais evoluído, enquanto as forças armadas permaneciam mal equipadas e pouco adaptadas ao crescimento da nova realidade miliciana. O autor preambula com eixos teóricos da guerra, mostra os períodos e fases do fenómeno subversivo, tal como eles eram apresentados aos cadetes em Mafra.

A base da obra de António Nogueira tem a ver com a construção de questionários, inquéritos que foram enviados e que obtiveram um considerável acolhimento, permitindo uma base aceitável de trabalho para a obtenção de uma radiografia de quem eram e em que se transformaram estes capitães do fim.

Vieram de todo o país, com preponderância para Coimbra, Lisboa, Porto e concelhos limítrofes, eram jovens com origens sociais, culturais e económicas muito diversas, jovens predominantemente nas idades entre 24 e 27 anos, nada de anómalo, os oficiais oriundos da Academia Militar eram promovidos a capitães com idades próximas. 

As habilitações académicas destes capitães eram díspares, essencialmente todos com frequência de cursos universitários, mais de 50% estavam entre o terceiro e o último ano de um curso superior. 70% eram solteiros e 30% casados. Exerciam a profissão de engenharia 13% dos incorporados, profissão prestigiada devido à industrialização iniciada na década anterior.

Fala-se detalhadamente da incorporação na EPI – Escola Prática de Infantaria (instrução, instrutores, ambiente, contestação à guerra). Não deixa de ser uma curiosidade o que se fica a saber sobre a seleção e formação de capitão: 

(i)  44,3% respondem desconhecer o motivo por que foram selecionados;

(ii) 18,3% declaram ter sido por já possuírem uma licenciatura;

(iii)  14,8% indicam ter sido escolha do instrutor;

(iv) 11% estão convictos de que foi por ocuparem os primeiros lugares da seriação psicotécnica;

(v) 5,2% por terem mais idade;

(vi) 4% pelas competências já adquiridas na vida civil. 

O autor comenta: 

“É estranho este conhecimento fracionado e superficial dos modos de seleção. É lacuna grave a forma como se comunicava na instituição militar. Mas surpreendente é a indiferença com que os questionados permaneciam desinformados sobre factos que condicionariam a sua vida militar futura”.

Após o círculo formativo de seis meses na EPI, a continuidade do processo era um estágio num dos teatros de guerra, com a duração de quatro meses, com o posto de alferes, e na qualidade de adjuntos dos comandantes de companhia do local onde eram colocados: 66% estagiaram em Angola, 28% na Guiné e 6% em Moçambique. 

De acordo com o inquérito, cerca de um quarto dos estagiários enfrentaram situações de guerra muito difíceis. Depois de regressarem do estágio, os futuros capitães do fim, agora promovidos a tenentes, frequentavam um curso de comandantes de companhia, também na EPI.

A radiografia estatística incide também sobre a formação e instrução da companhia, como decorreu esse comando em teatro de guerra, se houve protagonismos na guerra, se os capitães de algum modo participaram na conquista da democracia ou nos atos finais da descolonização. Um número elevadíssimo de capitães (mais de 90% foram louvados, cerca de 9% tiveram a atribuição de uma medalha ou de uma condecoração).

E temos agora as consequências da guerra para os capitães do fim: 

(i) 65% considera ter sido a participação na guerra gravosa para a continuidade dos seus estudos;

(ii)  para cerca de 13% o reatamento foi impossível;

(iii)  36% consideram que a guerra lhes acarretou problemas de saúde e instabilidade emocional que prejudicaram os seus relacionamentos familiares, na profissão e com os amigos. 

Mas há respostas afirmativas, quanto ao enriquecimento humano e profissional, reconhece-se valor à experiência das relações humanas, enriqueceu-se com a chefia de homens em situações adversas, houve enriquecimento cultural e sociológico. Quanto à passagem à disponibilidade, o grosso das respostas é eloquente: “Um imenso alívio”.

Nesta radiografia estatística também se procurou obter o contraditório dos comandados. 83% manifestam-se agradados com os desempenhos do seu capitão do fim.

Ao findar, o autor dá como comprovado que os capitães do fim tiveram desempenhos e protagonismos meritórios na guerra, na obtenção da paz e da democracia, e conclui com uma parte do poema de Ary dos Santos intitulado Retrato do Herói: Homem é quem tombando apavorado / dá o sangue ao futuro e fica ileso / pois lutando apagado morre aceso.
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Nota do editor

Último poste da série de 17 de agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21262: Notas de leitura (1298): A política económica e social na Guiné-Bissau, por Carlos Sangreman, Doutor em Estudos Africanos (1974-2016) (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P21288: Parabéns a você (1856): António Fernando Marques, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 12 (Guiné, 1969/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 23 de Agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21284: Parabéns a você (1855): Fernando Cepa, ex-Fur Mil Art da CART 1689 (Guiné, 1967/69)

domingo, 23 de agosto de 2020

Guiné 61/74 - P21287: Controvérsias (142): Recebi algumas críticas e muitos insultos mas também muitas palavras de agradecimento de ex-combatentes, que se reviram no que está lá escrito, na minha tese de doutorammeto em antropologia sobre o uso de substâncias psicoativas durante a guerra colonial (Vasco Gil)




"Uma coisa é estudar a guerra, outra é viver a vida de um guerreiro". 

Foto (e legenda): © Vasco Gil (2020). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Recorte da edição do Público, 2 de agosto de 2020: Texto de Patrícia Carvalho e fotografia de Daniel Rocha. O artigo só está disponível para assinantes. (Excerto reproduzido com a devida vénia...)

1. Mensagem de Vasco Gil, doutorado em antropologia pelo ISCTE [ CALADO, Vasco Gil Ferreira - Drogas em combate: Usos e significados das substâncias psicoativas na Guerra Colonial Portuguesa [Em linha]. Lisboa: ISCTE-IUL, 2018. Tese de doutoramento. [Consult. 3 de agosto de 2020 ] Disponível em www: http://hdl.handle.net/10071/18841, técnico superior do SICAD - Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependência, dependente do Ministério da Saúde; autor da entrevista ao "Público", de 2 de agosto de 2020:


Date: quarta, 6/08/2020 à(s) 13:54
Subject: Tese e entrevista sobre o uso de substâncias psicoativas na guerra colonial

Luís: Escrevi umas linhas. Se achar que faz sentido publicar, e que não será motivo de maior agitação no blogue, está à vontade para publicar: 


Deixo uma foto que poderá juntar. Vasco Gil
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Sou o autor da tese de doutoramento sobre o uso de substâncias psicoativas na guerra colonial e quero deixar alguns esclarecimentos sobre a entrevista dada ao "Público" [, edição de 2 de agosto de 2020] (*)

Em primeiro lugar, quero pedir desculpa pelo título e por algumas das fotos que ilustram a entrevista. A escolha não foi minha e admito que, quem não leu a entrevista, tenha ficado condicionado por algumas das fotos, que eventualmente passam uma imagem mais sensacionalista.

No entanto, quem leu com atenção constatou que o conteúdo não é esse. Nunca é dito que o consumo de drogas era generalizado ou mesmo a embriaguez. Pelo contrário, deixei bem claro que a descoberta da cannabis se deu numa fase mais tardia da guerra (no final do anos 60 e início da década de 70).

Este é um trabalho de Antropologia, pelo que não me preocupei em quantificar o uso desta substância. Deixei claro que apenas uma minoria teve contacto com a cannabis e a maior parte de quem consumiu fê-lo de uma forma experimental (uma ou outra vez, movido pela curiosidade). Mas houve alguns militares que passaram por Angola e Moçambique (na Guiné não existia cannabis) que descobriram a liamba e a suruma e usavam-na para alguns fins. Foi nesses que me foquei, mas sempre com o cuidado que ressalvar que a maioria nunca se apercebeu de nada.

Nunca uso o termo «drogados», que era um conceito desconhecido na altura. Mesmo «droga» não tinha o sentido que tem hoje. A maior parte dos militares que experimentaram fumar liamba e suruma durante a guerra não sabia bem de que se tratava, era apenas algo que viam outros fazer, nomeadamente os seus camaradas (brancos e pretos) de origem africana.

Devem ter sempre em mente que não há na tese ou na entrevista qualquer juízo de valor. Não entendo o uso de substâncias psicoativas como algo bom ou mau. O que me interessou foi perceber como é que num contexto de guerra era possível, mesmo que fosse pontual e não generalizado, o consumo de substâncias como álcool e cannabis.

E a minha conclusão foi que o uso de álcool e cannabis era um recurso terapêutico, isto é, algo que era consumido para ajudar a lidar com uma realidade muito, muito dura. De uma violência que eu não consigo sequer imaginar.

Na verdade, grande parte da tese é a explicar o quão dura foi a experiência de guerra para os militares que participaram na Guerra Colonial. E é essa violência que explica uma série de práticas. É essa a tese central.

Como tantos da minha geração, eu não conhecia nada sobre a Guerra Colonial. E descobri que foi muito mais dura e violenta do que eu supunha. Não sabia nada sobre o sofrimento, os traumas e a violência.

Tenho pena que não reconheçam que tentei fazer justiça a essa vossa experiência. Quando falo do uso de cannabis e dos episódios de embriaguez estou a criticar uma experiência de guerra tão dura ao ponto de alguns militares recorrerem a substâncias psicoativas para garantir um equilíbrio emocional (como recorriam a outros estratagemas, como o convívio, as cartas, a música, a fotografia, etc.). Não estou a criticar quem aumentou o consumo de álcool ou experimentou fumar cannabis.

Tudo o que disse atrás, aprendi com camaradas vossos, alguns que pertencem a esta comunidade. Não inventei nada, como é óbvio. Alguns trechos vêm de entrevistas, outros são citações de livros de memórias de guerra ou diários escritos na guerra (neste caso, qualquer um pode confirmar a veracidade do que é citado).

Eu aprendi como alguns de vós que os ex-combatentes se sentem muitas vezes injustiçados e pouco reconhecidos por tudo aquilo que foram obrigados a passar em África, mas não vejam em mim um inimigo. Pelo contrário, sou alguém que tentou trazer a lume mais um episódio da guerra que travaram.

Mesmo sabendo que o tema das drogas é um assunto delicado e tabu, ainda para mais para a vossa geração, acreditem que tentei fazer-vos justiça e dar a conhecer tudo aquilo que passaram.

Recebi algumas críticas e muitos insultos mas também muitas palavras de agradecimento de ex-combatentes, que se reviram no que está lá escrito.

Eu acredito que se lerem sem preconceitos e não virem nas minhas palavras um ataque à honra e uma qualquer motivação política, também se vão rever. (**)

Agradeço a todos aqueles que aceitaram colaborar com a minha investigação.

Vasco Gil
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(*) Vd. postes de:








Guiné 61/74 - P21286: Blogpoesia (692): "Balancear...", "Salpicos de bem..." e "Será desta", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


Balancear…

Aquele movimento de vai e vem, com tendência para parar.
Até pode ser o ramo longo duma árvore.
Uma carvalha grossa.
Faz o céu duma criança.
Até um adulto gosta de saborear.
Longas tardes, pelo verão.
O chilreio da pequenada.
Depois um banho na poça da fonte.
Ali na mata das Figueiras.
A noite caía sem dar conta.
E a Mãe em casa, com o jantar feito.
E ele não vem.
Quem lhe valia era o Pai.
Se lembrava do que fizera.
Só se é criança uma vez.
É pena, mas não volta mais…

Berlim, 16 de Agosto de 2020
10h24m
Jlmg

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Salpicos de bem...

Com salpicos de bem já se pode erguer um altar.
Onde se cultue o bem-fazer.
Onde a moeda de troca seja o ajudar a quem precisa.
Como erva daninha, o mal se espalha e definha tudo.
E, atrevida, se serve do sol e da chuva com a arrogância dum cidadão com suas contas em dia.
Não há remédio que a mate.
Só o arado, lavrando o chão a fundo, a poderá exterminar.
Por vezes, há que sacrificar os inocentes para se garantir a sobrevivência dos bons.

Berlim, 23 de Agosto de 2020
13h45m
Jlmg

********************

Será desta?

Espera longa nem sempre rende.
Se a esperança morre nada mais resta.
Esperar é viver de esperança.
Tudo traz o tempo.
Tudo tem sua hora.
Alguém a marca.
Quem espera vence, se não desespera.
Enquanto espero minha alma sonha.
Se, desperta a mente, a alma alcança.
Desistir é sempre perder por pouco...

Berlim, 22 de Agosto de 2020
13h8m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21259: Blogpoesia (691): "Subitamente", "Nada vai com ameaças..." e "Como um rio corre meu pensamento", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P21285: (Ex)citações (368) : "Bem hajas, padre Jaquim, / 'Tás mesmo bom da cachimónia, / Foi linda a cerimónia, / Nunca tive um coro assim." (Luís Henriques, 1920-2012, na missa do seu centenário, em Ribamar, Lourinhã)


Lourinhã, Porto das Barcas, restaurante "Atira-te ao Mar" > 21 de agosto de 2020, 20h22 > Pôr do sol, o momento do dia em que os vivos e os mortos se conectam mais frequentemente... Nesse momento, o fotógrafo pensou no seu pai, Luís Henriques (1920-2012) que deixou a Terra da Alegria em 2012,  antes de completar os 92 anos.  Em vida, adorava esta paisagem atlântica, aonde vinhya "limpar a vista" (sic).


Lourinhã, Porto das Barcas, restaurante "Atira-te ao Mar" > 21 de agosto de 2020, 20h22 > A  (e)terna magia do pôr do sol sobre o nosso Atlântico...


Lourinhã > Cemitério loal > 19 de agosto de 2020 > Um dos netos do Luís Henriques (1920-2020), no dai em que faria 100 anos, junto à campa do avó e da avó Maria da Graça (1922-2014)




Ribamar, 22 de agosto de 2020, 19h57> O padre Joaquim Batalha regressa à sua casa, a Casa do Oeste, ali a 200 metros,  de "elétrico", depois de dizer a missa em que lembrou a memória do seu antigo paroquiano e amigo , o "Luís Sapateiro". Nas fotos, além do pároco de Ribamar, estão o Carlos Silvério [, antigo jogador de futebol, nosso grã-tabanqueiro nº 783, ex-fur mil at cav, CCAV 3378 (Olossato e Brá, 1971/73], a esposa, Zita (, que também fez com ele uma comissão em Bissau...)  e a Alice Carneiro. O Carlos e a Zita vivem em Ribamar, e são meus parentes. Assinalo também, com agrado,  a presença, entre outros parentes, do Luís Maçariço, de 81 anos, que esteve prisioneiro na Índia em 1961/62.

Ao Joaquim Luís Batalha, pároco da freguesia de Ribamar, e um dos mentores e dirigentes da Fundação João XIII - Casa do Oeste, ligam-me laços de afeto, apreço e amizade, desde os anos 80.


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Ontem na igreja de Ribamar, na missa das 18h30, o padre Joaquim Batalha, um jovem de 81 anos, antigo pároco da Lourinhã, lembrou que a missa também era por alma do Luís Sapateiro, que deixou a Terra da Alegria em 2012. 

Estavam presentes filhos, netos e até bisnetos, mais alguns parentes do clã Maçarico, de Ribamar. As medidas de higiene e de distanciamento social são aqui escrupulosamente cumpridas, e a lotação máxima da igreja sõa menos de 100 pessoas, na atual situação de pandemia de Covid-19. E eu, que já não assstia a um missa, há anos, fiquei muito feliz pelo final inesperado.

No final na missa, o padre Joaquim Batalha, que era freguês e amigo do Luís Sapateiro, na vila da Lourinhã, deu-.lhe os parabéns pelo seu centenário. Cantou-se em coro os "parabéns a você" e os presentes no fim bateram palmas... Foi uma bonita cerimónia. O Carlos Silvério que estava a meu lado, comentou: " E esta, heim?!...Gostava de saber que resposta em verso é que o ti Luís daria ao Jaquim Batalha".

Pois aqui está a resposta que o meu pai, com quem falo com frequência, quando vou ao cemitério,  me mandou esta noite , para entregar ao padre Jaquim Batalha:


Os parabéns me cantaste,

Logo a mim que era uma gralha,

E com essa é que me calaste,

Ó Padre Jaquim Batalha.

 

Por minh’ alma era a missa,

Nos cem anos do nascimento,

Pregaste-me um susto, chiça!,

Com tanto contentamento!

 

C’o as palmas dos teus fregueses

Assustei-me de verdade,

É que eu me esqueço às vezes,

Que já estou na eternidade.

 

Sempre foste um brincalhão,

Quase tanto como o sapateiro,

Mas agora deste-me uma lição,

A mim que morri primeiro.

 

Um bom cristão está nos céus,

Com direito a aniversário,

Mas sempre a velar p'los seus,

Até se esquece do centenário,


Bem hajas, padre Jaquim,

‘Tás mesmo bom da cachimónia,

Foi linda a cerimónia,

Nunca tive um coro assim.


Luís Henriques (1920-2012), 

descendente dos Maçaricos, de Ribamar,  

pelo lado da mãe, Alvarina de Sousa (Lourinhã, c. 1895  - Lourinhã, 1922) ,

casada com Domingos Henriques,

e da avó Maria Augusta (Ribamar, 1864 - Lourinhã, c. 1938), 

casada com Francisco José de Sousa.

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Nota do editor:

Último poste da série > 20 de agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21274: (Ex)citações (367): "O relógio da vida": uma prenda poética do Joaquim Pinto Carvalho e uma palavra de gratidão da aniversariante Alice Carneiro

Guiné 61/74 - P21284: Parabéns a você (1855): Fernando Cepa, ex-Fur Mil Art da CART 1689 (Guiné, 1967/69)

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Nota do editor

Último poste da série de 22 de Agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21280: Parabéns a você (1854): José Luís Vacas de Carvalho, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2206 (Guiné, 1969/71)