segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21835: Tabanca Grande (510): Aniceto Rodrigues da Silva (1947-2021), natural da Anadia, ex-sold cond auto, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71); que descanse em paz, à sombra do nosso poilão, no lugar nº 828



Guiné > Região de Bafatá > Bambadinca > CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (1969/71) > O sold cond auto Aniceto Rodrigues da Silva, natural de Anadia (1947-2021). Vitima de Covid-19, entra para a Tabanca Grande a título póstumo. (*)



Anadia > Paredes de Bairro >  Dezembro de 2018 > Da esquerda para a direita, a Susana, o pai, Aniceto, a mãe e o irmão mais novo,


Anadia > Agosto de 2019 > Selfie, foto de grupo 


Fotos (e legendas): © Susana Almeida Novo (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem de Susana Almeida Novo, enfermeira e professora de enfermagem em Inglaterra;

Data- 1 fev 2021 12h00

Assunto - Morte do Aniceto R. da Silva, sold cond auto, CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) (*)

Bom dia a todos [, editor, LG. e vários camaradas da CCAÇ 12],

Não sabem a emoção que tenho, ao ler os e-mails recebidos!

Eu moro, sim, no estrangeiro, na Inglaterra (perdoem-me algumas palavras sem acentos, o autocorretor português só reconhece metade).

Vim para cá em Janeiro de 2013. Sou enfermeira com especialidade em cuidados intensivos e professora de enfermagem. [Foto à esquerda, do perfil no Linkedin]

O meu pai ficou doente no início de Dezembro, inicialmente sem sintomas de COVID, mas o que parecia ser uma gripe. Sentia frio e cansaço extremo, mas nunca tosse ou febre.

Ele era um tanto teimoso, evitava ao máximo médicos. Embora ele tenha sempre insistido que não tinha medo de morrer, o certo e que ele evitava estabelecimentos de saúde ao máximo. Nesta situação não foi diferente. Ele insistia que ia passar e dizia-nos de manhã que se sentia melhor, para tentar diminuir a nossa insistência em procurar um médico.

No dia 15 de Dezembro, à noite, os meus pais estavam sentados na sala a ver televisão e ele desmaiou por uns minutos. Ai a minha mãe não hesitou em chamar uma ambulância. O enfermeiro disse que ele tinha a tensão arterial demasiado baixa, provavelmente por desidratação uma vez que ele tinha perdido o apetite e também não bebia o suficiente.

Quando o levaram para o hospital testaram para COVID e regressou positivo. Ele manteve-se na enfermaria até ao dia 21, sem melhoras, depois foi transferido para os cuidados intensivos e no dia de Natal foi sedado e entubado. Falou com a minha mãe e o meu irmão mais novo uma vez, enquanto esteve no hospital por videochamada e a última vez comigo no dia 23 de Dezembro.

Uma das ultimas coisas que lhe disse foi precisamente que ele tinha ido à guerra e nem isso o tinha vencido, que ele ia vencer isto. Mas eu estava enganada e temos agora, enquanto família, uma dor sem fim. Não o poder ter abraçado, beijado, dado o apoio e incentivo que ele precisava e merecia. Quantas vezes temos de reler o certificado de óbito para nos convencermos que ele partiu, porque todos os dias acordamos à espera que ele nos entre pela porta adentro.

Eu não sou filha legitima dele. Quando ele e a minha mãe começaram a namorar, eu tinha uns 3 anos. No entanto ele é e sempre será o meu único pai. Quem sou hoje enquanto pessoa depende tanto dele e do quanto ele aspirava para que os seus filhos fossem as melhores pessoas que conseguissem ser.

Em Agosto de 1968, antes de o meu pai iniciar a Recruta, os pais e irmãos dele mudaram-se para os EUA, chamados por uma tia. Eles fizeram isso para livrar o meu tio também de ser chamado para a guerra. Em Outubro de 1968 o meu pai iniciou a tropa e depois de regressar da guerra juntou-se à família nos EUA.

Entretanto vinha a Portugal de visita e namorou uma rapariga que depois levou para os EUA, já casados. Desse primeiro casamento ele teve dois filhos (uma rapariga com quem ele perdeu a relação nos anos 90, e um rapaz que hoje tem 43 anos, casado e com dois filhos pequenos no EUA). O primeiro casamento acabou e ele continuou a morar nos EUA com o filho. Em 1995, já a namorar a minha mãe através de cartas, ele chamou-nos para lá. Em 2000 casaram. Enquanto esteve nos EUA fez vários trabalhos (construção, dono de uma lavandaria, soldador).

Em 2001 o meu ‘irmão mais velho’ (filho do primeiro casamento) casou-se e em Julho regressamos para Paredes do Bairro, Anadia, Portugal (de onde os meus pais são ambos naturais). Eu tinha na altura 11 anos.

Em 2002 os meus pais tiveram o meu irmão mais novo, o André (agora com 18 anos) que conseguem ver em várias fotos, que anexo. Ao olharmos para as fotos do meu pai na guerra vemos que o André é uma fotocopia do pai. O sentido de humor igual também.

Desde o regresso a Portugal o meu pai e a minha mãe dedicaram-se às terras. Tinham ambos saudades da natureza e passavam o tempo na terra e com animais de criação para ocupar o tempo. O meu pai era alguém exigente e muito brincalhão. Ele não conseguia passar muito tempo sem se estar a meter com quem estivesse para rir.

Ele relembrava o tempo da guerra com dor e revolta. A minha mãe falava ontem à noite da dor com que ele recordava o colega perdido Antonio Manuel Soares. Ele descrevia essa experiência como tendo sido uma das piores da vida dele. Ele recordava-nos do quanto éramos privilegiados por nunca termos tido a experiência da guerra, por sermos livres, fartos e protegidos. Ele tinha e tem razão, quanto abençoados nós somos sem saber.

Tenho tanta pena do facto de ele ter sido tão resistente às novas tecnologias porque imagino que voltar a encontrar-vos ter-lhe-ia dado tanta alegria. E convosco, que sabem melhor que ninguém o quanto passaram, ele poderia ter conversado sobre essa dor e revolta.

Obrigada pelo vosso sacrifício! Digo isto em nome de toda a minha família de coração. Enquanto hoje as pessoas vivem imbuídas em egoísmo e perdem o sentido comunitário e de respeito pelo outro, a vos era-vos pedido que deixassem tudo e todos em nome da pátria, que dessem a própria vida em nome da pátria. Que isso não seja nunca esquecido por mais gerações que passem!

Acima anexei algumas fotografias que tenho, estejam a vontade para editar e publicar no blogue. Em nome de toda a família temos todo o gosto que ele conste dele. E sempre que precisem de algo do qual achem que possa ajudar, por favor disponham, pois é com muito gosto que me disponibilizo.

Na campa do meu pai tencionamos pôr excertos do seguinte poema [Epitáfio, de Merrit Malloy, (n. Pensilvânia, EUA, 1950], porque o amor e tudo o que resta quando a vida acaba; isso e as marcas desse amor na vida dos outros com quem nos cruzamos.

Quando eu morrer
Dá o que restar de mim
às crianças
E aos idosos que esperam para morrer.

E se precisares chorar,
Chora por teu irmão
Que anda pelas ruas a teu lado.
E quando precisares de mim,
Coloca teus braços
Em volta de alguém
E dá-lhe o que precisas me dar.

Quero deixar-te algo,
Algo melhor
Do que palavras
Ou sons.

Busca-me
Nas pessoas que conheci
Ou amei,
E se não podes me deixar partir
Ao menos deixa-me viver em teus olhos
E não em tua mente.

Podes amar-me mais
Deixando as mãos
Tocarem as mãos,
Deixando os corpos tocarem os corpos,
E libertando
As crianças
Que precisam ser livres.

O amor não morre,
Pessoas sim.
Por isso, quando tudo que resta de mim
É amor,
Deixa-me partir.


Com carinho e os meus melhores cumprimentos,

Susana Almeida Novo


2. Resposta do editor Luís Graça:

Susana: é um hino de amor o que acaba de escrever e partilhar connosco, e que muito me tocou, pessoalmente.

Como gostamos de dizer, aqui no nosso blogue, "os filhos dos nossos camaradas nossos filhos são". A Susana acaba de ser acolhida por todos nós, os amigos e camaradas da Guiné. As palavras que escreveu sobre os seus pais e a sua família, merecem ser partilhadas, como um humanissima história de vida, onde nos retratamos todos um pouco (a época difícil em que nascemos, a geração do seu pai e da sua mãe, a minha geração, a guerra do ultramar que mobilizou quase um milhão de jovens, o difícil regresso e readaptação a uma sociedade em profunda mudança, a emigração para muitos daqueles a quem a Pátria foi madrasta, a constituição e reconstituição das famílias, etc.).

A Susana é uma mulher de grande sensibilidade. Também não é por acaso que escolheu uma tão nobre e exigente profissão como a enfermagem. Falo com algum conhecimento de causa: também fui professor, nos anos 90, nalgumas das nossas melhores escolas de enfermagem, tive depois alunos de enfermagem em cursos de pós-graduação (como administração hospitalar) e de mestrado e doutoramento (gestão de saúde, saúde pública...). Eu próprio tenho uma irmã enfermeira, 19 anos mais nova do que eu... E uma sobrinha, em Inglaterra, em Londres, há cerca de 10 anos, a Raquel Calado, na área da neurologia.

Por outro lado, e como a Susana também é professora, pode ser que ainda possam ter alguma utilidade os muitos textos (mais de 200) que tenho na minha página pessoal, criada em 1999 (e, infelizmente, por atualizar há anos...)... Chama-se Saúde e Trabalho, Luís Graça, sociólogo, e inclui "papers" na área da sociologia histórica da medicina, enfermagem e outras profissões de saúde.

Dito isto, e uma vez que nos autoriza a partilhar a sua história, a história do seu pai e da sua família, vou selecionar apenas duas ou três das fotos que nos mandou, e apresentar o meu camarada Aniceto Rodrigues da Silva à Tabanca Grande, a comunidade virtual constituída por 826 amigos e camaradas da Guiné, uma rede social criada para partilhar memórias e afectos. Ele foi um dos 15 condutores auto, "excelentes e valorosos", da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (1961/71).

Infelizmente ainda temos poucas fotos do pai, enquanto militar. Mas pode ser que nos cheguem mais... Ele ficará, aqui connosco, em espírito, no lugar nº 828 (**), sob a proteção do nosso mágico, secular e fraterno poilão, a árvore sagrada da Guiné que existe no centro de todas as tabancas (aldeias).

Procuramos resgatar a memória de todos aqueles que, como nós, sabem ou souberam, no corpo e na alma, o significado da expressão "sangue, suor e lágrimas"... E não queremos que os camaradas que já partiram antes de nós, sejam inumados ou sepultados na "vala comum do esquecimento". É o mínimo que podemos fazer por eles. É o mínimo que podemos fazer pelo nosso camarada Aniceto.

Está explicado, também, o paradeiro desconhecido do seu pai, de quem não tínhamos nenhuma morada, e que nunca compareceu a nenhum dos nossos convívios, e já já vão duas dezenas e meia, desde 1994. Vamos guardar o seu endereço de email.

Obrigado pelo tempo que nos quis dispensar. Imagino que, sendo enfermeira de cuidados intensivos, não tenha muito tempo para si e para descansar, no meio desta horrível pandemia de Covid-19 que está a provocar baixas também nas nossas fileiras.

Vamos dando notícias. Desejo-lhe boa saúde e bom trabalho. Luís Graça, fundador e editor principal do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.

PS - A Susana tem também aqui as cartas militares de alguns dos lugares por onde andámos, nós e o Aniceto e os demais camaradas condutores auto da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12:

Bafatá (1955)Bambadinca (1955)
Bissau (1949)
Contuboel (1956)
Galomaro / Duas Fontes (Bengacia) (1959)
Geba / Bambadinca (1955)
Mansambo / Xime (1955)
Padada (1959)
Saltinho / Contabane (1959)
Sonaco (1957)
Xime (1955)
Xitole (1955)
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Guiné 61/74 - P21834: Notas de leitura (1338): "Voando sobre um ninho de STRELAS", por António Martins de Matos; Edições Ex Libris, 2020 (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Janeiro de 2021:

Queridos amigos,
 
Na escassa bibliografia emanada de Oficiais da Força Aérea que combateram na Guiné, este depoimento de um então Tenente Piloto-Aviador permaneceu em atividade de 1972 a 1974, conseguintemente pôde assistir à evolução da guerra, à chegada dos mísseis terra-ar, fez parte das missões de grande delicadeza como bombardeamentos nalgumas das mais significativas bases de abastecimento do PAIGC, que presenciou os terríveis acontecimentos de maio de 1973 e a mudança dos Comandantes-Chefes, é de uma grande importância, que se saiba, não há outro de igual dimensão. 

Cinjo-me à narrativa dessas atividades, o agora Tenente-General postula considerações que merecem amplo debate e fazer uma recensão não passa por debater conjeturas ou especulações, como ele faz com o projeto de Sékou Touré em manipular o PAIGC para depois se apossar do território.
 
Nenhuma documentação valida estas especulações, elas seriam mesmo inviáveis por falta de apoio dos combatentes guineenses de Bissau, das populações em geral da Guiné-Bissau (recorde-se a trepa que deram aos invasores a guerra civil de 1998-1999), a Guiné-Bissau era então um rasto de luz para os movimentos revolucionários, não havia qualquer apoio internacional para um golpe sórdido de Sékou Touré para asfixiar um povo que se libertara pelas suas próprias mãos.

Um abraço do
Mário



A Guiné de 1972 a 1974 vista por um tenente da Força Aérea ao tempo (2)

Mário Beja Santos

O livro "Voando sobre um ninho de Strelas", redigido pelo Tenente-General António Martins de Matos, 2.ª edição, Sítio do Livro, 2020, é uma narrativa da sua caminhada para a Força Aérea e uma descrição exaustiva da sua comissão na Guiné de 1972 a 1974. Esmiúça ao pormenor a chegada do míssil Strela e como se processou a adaptação para contrariar os seus tão nefastos danos. 

O moral das Forças Armadas na Guiné já conhecera melhores tempos, Spínola aceitou um bombardeamento em território na Guiné Conacri, em Kambera, na zona Sul. 

“Tinha apenas uma vaga ideia do nome, base de apoio do PAIGC, recebendo o material de guerra de Kandiafara e posteriormente fazendo de entreposto para o Leste e Norte”

A missão foi à hora do almoço, o alvo rapidamente identificado, largaram as bombas e tudo ficou coberto por nuvens de pó. 

“Só muito mais tarde soubemos que os resultados tinham sido devastadores, de tal modo que o PAIGC resolveu abandonar definitivamente aquele local”.

E assim chegamos à reunião de 15 de maio de 1973, Spínola convocara uma reunião de Altos Comandos, estas altas patentes apresentaram-lhe os seus pontos de vista e enumeraram os requisitos operacionais necessários para se continuar a manter a superioridade militar na guerra contra o PAIGC, houvera discussão na Base Aérea n.º 12 e identificaram-se necessidades urgentes, a saber substituição das metralhadoras 12,7 milímetros do Fiat G-91 por canhões 20 ou 30 milímetros; em alternativa, a instalação de dois PODs com canhões nas estações interiores das asas. Tece uma reflexão: 

“Aqui que ninguém nos ouve, o armamento que a Força Aérea usava na altura para combater o PAIGC estava completamente em desacordo com o tipo de guerra que estávamos a travar. A ideia de andar a caçar guerrilheiros usando bombas variadas era um pouco como matar formigas com um martelo. A missão do Fiat G-91 nunca deveria ser essa, a sua especialidade era a destruição de objetivos com algum significado. Mas os erros em relação ao armamento utilizado até ao momento não se ficavam apenas nos Fiat G-91. Na área dos helicópteros as coisas não estavam melhores. O transporte de tropas com cinco helicópteros AL-III em coluna logo alertavam o inimigo. A arma mais indicada para combater aquela guerra de guerrilha contra o PAIGC não era o Fiat G-91 mas sim o helicanhão. Nunca soube quantos equipamentos de helicanhão existiam, suspeito que seriam poucos já que nunca vi mais de dois em simultâneo.”

Na reunião de Altos Comandos, o Coronel da Força Aérea salientou a total inexistência de meios de deteção e interceção e a limitada eficácia de defesa com armas antiaéreas, havia necessidade de um radar unidirecional e uma força suficientemente dimensionada de aviões com grande capacidade de retaliação. 

A Força Aérea na Guiné apresentou um documento enumerando os pedidos: 8 aviões SKYVAN para substituírem os DO-27; 5 helicópteros com armamento axial para substituírem os AL-III; 12 aviões MIRAGE para substituírem os Fiat G-91; radar de longo alcance. Todas as outras armas fizeram inúmeros pedidos, a Acta de 15 de maio anda publicada por toda a parte, é uma questão de conferir. Tece depois considerações sobre o radar e segue para o cerco de Guidaje, iniciado em 8 de maio, dá conta das atribulações sofridas pela tropa apeada, para aliviar a pressão realizou-se um ataque a Kumbamori, a Operação Ametista Real: as nossas forças contabilizaram 10 mortos e 22 feridos, o PAIGC teve mais de 60 mortos e a destruição do seu armamento foi uma cifra impressionante. Lamenta que a Força Aérea não tenha sido lembrada ao tempo em que se condecorara o Comandante da Operação Ametista Real. 

Segue-se Guileje, Martins Matos revela-se profundamente crítico da estratégia adotada, inclusive a escolha de Guileje para sede do COP-5. O episódio seguinte está relacionado com o anterior, é aquela cena quase apocalítica de Gadamael. E Costa Gomes volta à Guiné, de 6 a 9 de junho, pelo que propõe não há muitos mais meios a oferecer àquele teatro de operações, fala-se então em retração, o Comandante Militar apoia, Spínola é relutante, é bem provável que esteja aqui o motivo fundamental para ter pedido a demissão. 

O autor interroga o que levou a ofensiva do PAIGC no Sul a deter-se depois de Gadamael e faz a sua reflexão: 

“Por um lado a presença do Batalhão de Paraquedistas condicionou de imediato os movimentos dos guerrilheiros na zona; por outro lado a Força Aérea Portuguesa começou por bombardear as matas à volta de Gadamael, silenciando várias bases de fogo". Mais tarde entrou pelo território da República da Guiné-Conacri, destruindo a maior base de apoio do PAIGC (situada perto da localidade de Kandiafara, e descreve pormenorizadamente a Operação, que constituiu um sucesso. “A capacidade de abastecimento do PAIGC na região Sul ficou seriamente abalada e o grande esforço que vinha realizando nesta área diminuiu-se de imediato”.

Mantinha-se ainda intacta uma base de abastecimentos do PAIGC, em Koundara, a cerca de 50 quilómetros a leste de Buruntuma, o novo Governador, Bettencourt Rodrigues, não autorizou. O autor não esconde o descontentamento com o estilo do novo Comandante-Chefe. Em 31 de janeiro do ano seguinte novo avião abatido por um míssil Strela. Entra depois na questão polémica se havia ou não havia MIG-17 e MIG-19 do PAIGC na Guiné Conacri. Tece também conjeturas quanto à estratégia de Sékou Touré para conduzir o PAIGC à independência. E assim chegamos ao 25 de abril e Martins Matos não esconde uma relativa acrimónia sobre comportamentos e aspetos da descolonização.

O contributo do autor para o conhecimento das atividades da Força Aérea neste período crucial é do maior mérito. Quanto ao mais, como tenho vindo a insistir, há um conjunto de nebulosas sobre os acontecimentos militares na Guiné de 1973 e 1974 que requerem uma investigação dos arquivos dos Ministérios da Defesa Nacional e do Ultramar, pela simples razão que competia ao decisor político a última palavra. Quando o Comandante Militar alvitra na sequência da reunião de 15 de maio, 

“Se não forem concedidos os reforços solicitados e as armas que permitam às NF enfrentar o IN atual, para lhe evitar, a breve prazo, a obtenção de êxitos de fácil exploração psicológica e graves efeitos estáticos da maior influência na moral das NT, julga-se será necessário remodelar o dispositivo, reforçando guarnições que sob o ponto de vista militar se consideram essenciais (…) Mas neste caso, as missões atualmente dadas às NF, em termos de proteção das populações e apoio ao esforço principal da manobra de contrassubversão centrado na manobra socioeconómica, teriam de ser revistas…”

Costa Gomes irá perfilhar este ponto de vista, não havia possibilidade de reforço do teatro de operações. Iria ser adotada a manobra do retraimento do dispositivo para aquém da linha geral: rio Cacheu-Farim-Fajonquito-Paunca-Nova Lamego-Aldeia Formosa-Catió. Era reconhecido na retração que o PAIGC iria ocupar uma fatia considerável das áreas das fronteiras Norte e Leste, e no Interior, no Nordeste e Boé. T

udo se tinha complicado, como aliás consta do volume da Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África, 6.º volume, tomo II, livro III, 2015, página 428, quando Bettencourt Rodrigues enviou em 20 de abril uma nota que confessava: “[…] são motivo de grande preocupação para este Comando-Chefe, cumprindo-lhe assinalara as consequências que podem resultar da possível evolução do potencial de combate do PAIGC ou do seu eventual reforço com novos meios das FA da Guiné, quer quanto à capacidade de resistência das guarnições militares que porventura sejam atacadas, quer quanto às limitações de intervenção com meios à disposição do Comandante-Chefe, em especial meios aéreos”

Enfim, o decisor político não tinha mais nada para dar, prenunciava-se um qualquer tipo de holocausto, antevisto numa linguagem elegante e formal de Bettencourt Rodrigues.

O passo decisivo para acabar com estas lendas negras é ir à profundeza dos arquivos, eles estão à nossa espera, com as revelações que permitirão esclarecer as responsabilidades dos últimos avatares do Estado Novo.
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Nota do editor

Último poste da série de 25 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21806: Notas de leitura (1337): "Voando sobre um ninho de STRELAS", por António Martins de Matos; Edições Ex Libris, 2020 (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P21833: In Memoriam (388): Aniceto Rodrigues da Silva (1947 - 2021), soldado condutor auto, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, maio de 1969 / março de 1971)




Aniceto Rodrigues da Silva (1947-2021), soldado condutor auto,
CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71),
 "Excelentes e Valorosos"

Fotos (e legenda): ©  Susana Almeida Novo (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
 

1. Através do nosso querido GG, o Gabriel Gonçalves, o ex-1º cabo cripto, cantor e tocador de viola, tivemos a triste notícia da morte de mais um camarada nosso,  pertencente à minha / nossa CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, maio de 1969 / março de 1971), o  soldado condutor autor Aniceto Rodrigues da Silva.

Foi no passado dia 3 de janeiro. Não sabemos mais pormenores.

A triste notícia chegou ao GG através de um mail da filha do Aniceto, Susana Almeida Novo (que, presumivelmente, vive e trabalha no estrangeiro, utilizou um teclado sem os caracteres portugueses, para escrever a sua mensagem).

Pelo nome e pelas duas fotos que ela anexou. identifiquei logo  o nosso camarada, o soldado condutor auto Aniceto Rodrigues da Silva... O seu nome consta, de resto,  da composição orgânica da nossa CCAÇ 2590 / CCAÇ 12... 

A filha pede-nos, entretanto,  ajuda para decobrir o seu mecanográfico e outros dados, uma vez que o pai havia perdido há muitos anos, quando ainda era novo, todos os papéis da tropa, incluindo a caderneta militar.


2. Mensagem de Susana Almeida Novo, dirigida ao Gabriel Gonçalves:

Date: sex., 29 de jan. de 2021 às 21:07
Subject: Pedido de informação sobre o meu pai, ex-combatente na Guiné
 
Boa noite,

Espero que este email o encontre bem. Encontrei o seu email na seguinte página https://www.ensp.unl.pt/luis.graca/guine_guerracolonial_tertulia.html,   enquanto procurava informação sobre o meu pai que foi ex-combatente na Guine. 

Eu sei que ele iniciou a recruta em Outubro de 1968 em Elvas e suspeito que ele depois tenha sido transferido para Abrantes e daí mobilizado para a Guiné. 

Ele infelizmente faleceu dia 3 de Janeiro do presente ano. Ainda novo,  poucos anos depois de regressar da guerra, perdeu todos os documentos militares. Não sabia o número militar e nós agora estamos a tentar encaixar as peças do que foi a história dele na guerra, inclusive tentar obter o número militar [mecanográfico] dele para tentar providenciar à minha mãe a pensao de viuvez correta.

Pelos dados que tenho até agora,  acho que ele terá feito parte do RI 2 Abrantes,  CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (1969-1971). Mas agradecia se me pudesse confirmar se conhecia o seu nome – Aniceto Rodrigues da Silva – ou me orientar na direcção de como obter mais informações. 

O meu pai sei que era condutor. 

Envio também abaixo  duas fotos que temos do tempo dele na Guiné.

Desde ja agradeço pelo seu tempo, os meus melhores cumprimentos,
Susana Almeida Novo




Crachá da CCAÇ 2590 ("Excelentes e Valorosos") e da CCAÇ 12 ("Sempre Mais Além") (CTIG, 1969/71). Design: Tony Levezinho. Cortesia do autor (2006).


3. Resposta do editor LG:

Já tive ocasião, ontem, de ter respondido à filha do nosso camarada Aniceto Rodrigues da Silva e dado conhecimento do seu falecimento a mais alguns camaradas da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, pedindo-lhes inclusive ajuda para recuperarem o seu antigo número mecanográfico.

O que transmiti à sua Susana foi o seguinte.

(i) Ele foi mobilizado pelo RI 2 (Abrantes), esteve a fazer connosco a  formar companhia (CCAÇ 2590)  e a fazer a IAO - Instrução de Aperfeiçoamento Operacional no Campo Militar de Santa Margarida, partiu connosco no T/T Niassa em 24/5/1969, e esteve connosco em Contuboel e depois em Bambadinca, tendo nós todos regressado (, exceto o GG), em 17/3/1971, no T/T Uíge... 

(ii) Em 18 de janeiro de 1970,  a CCAÇ 2590,  constituída com quadros e especialistas metropolitanos,  e praças  do recrutamento local, da etnia Fula, passou a designar-se CCaç 12, sendo considerada subunidade da guarnição normal, desde aquela data.

(iii) A CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 tem história da unidade, até fevereiro de 1971, podendo uma cópia do documentado,mimeografado,  ser consultada no Arquivo Histórico-Militar, em Lisboa. 

(iv) No nosso blogue, há uma série, disponível "on line": "A minha CCAÇ 122",  de que se publicaram 3 dezenas de postes (*)

 (v) Lembro-me bem dele, do nosso pacato, discreto, afável e diligente Aniceto Rodrigues da Silva. De resto conhecíamo-nos todos, mais ou menos bem, quando partímos éramos apenas umas escassas 6 dezenas de militares, entre quatro e especialistas, incluindo os seguintes condutores auto [, entre parênteses, a sua morada conhecida, em 2010]

1º Cabo Cond Auto Luís Jorge M.S. Monteiro [Vila do Conde, mais tarde Porto];
Sold Cond Auto António S. Fernandes [, morada actual desconhecida];
Sold Cond Auto Manuel J. P. Bastos [, morada actual desconhecida];
Sold Cond Auto Manuel da Costa Soares [, morto em, mina A/C, em Nhabijões, em 13/1/1971];
Sold Cond Auto Alcino Carvalho Braga [Lisboa];
Sold Cond Auto Adélio Gonçalves Monteiro [Castro Daire];
Sold Cond Auto João Dias Vieira [Vila de Souto, Viseu];
Sold Cond Auto Tibério Gomes da Rocha [,Viseu, falecido em 6/12/2007;
Sold Cond Auto Francisco A. M. Patronilho [Brejos de Azeitão];
Sold Cond Auto Manuel S. Almeida [, morada actual desconhecida];
Sold Cond Auto António C. Gomes [, morada actual desconhecida];
Sold Cond Auto Fernando S. Curto [, Vagos];
Sold Cond Auto Aniceto R. da Silva [, morada actual desconhecida];
Sold Cond Auto Diniz Giblot Dalot [Aljubarrota, Prazeres, Batalha];
Sold Cond Auto Manuel G. Reis [, morada actual desconhecida]

Na história da CCAÇ 12 vem o nº mecanográfico dele... Só que eu não tenho aqui, agora, à mão, o exemplar em papel da história da unidade (, de que de resto fui o autor) E no blogue não vem o nº mecanográfico dele, só do da malta dos 4 grupos de combate.
 
Lamento a a perda de mais um camarada nosso, em plena pandemia de Covid-19. E faço questão  transmitir à Susana, à mãe e demais família a nossa solidariedade na dor. (**)

Os condutores auto da CCAÇ 12 foram belíssimos e bravos condutores,  excelentes e valorosos camaradas. Só o nosso condutor auto António Manuel Soares, morto por mina anticarro em 13/1/1971, em Nhabijões, não regressou, vivo, connosco, nem teve a alegria de conhecer a sua filha pequena. 
 
Um alfabravo fraterno para todos. Luís Graça


 
Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 > Bambadina > CCAÇ 12 (1969/71) > s/d> Dos dos nossos bravos condutores: em primeiro plano, o Adélio Monteiro, em segundo plano o Aniceto R. Rodrigues

Foto (e legenda): ©  Adélio Monteiro (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


4. Ficha da unidade > CCAÇ 2590 / CCAÇ 12

Companhia de Caçadores nº 2590
Identificação:  CCaç 2590
Unidade Mob: RI2 - Abrantes
Cmdt: Cap Inf Carlos Alberto Machado de Brito
Divisa: Excelentes e Valorosos
Partida: Embarque em 24Mai69; desembarque em 30Mai69
Extinção em 18Jan70

Síntese da Actividade Operacional

A subunidade foi constituída com quadros e especialistas metropolitanos e
enquadrou pessoal natural da Guiné, da etnia Fula, tendo efectuado a 2ª  fase da
instrução de formação em Contuboel, de 2Jun69 a 12Ju169. 

Em 18Ju169, foi dada como operacional, sendo colocada em Bambadinca, como força de intervenção e reserva do Agr 2957 [, com sede em Bafatá], na zona Leste, ficando adida ao BCaç 2852 [Bambadinca, 1968/70].

Por períodos variáveis, destacou forças para guarnecerem diversos destacamentos
em Sinchã Mamajã, Sare Gana, Sare Banda e ponte do rio Udunduma,
colaborando ainda, de Nov69 a Jul70, na construção do reordenamento de
Nhabijões.

Tomou também parte em reacções a ataques a tabancas da região e
em várias acções sobre grupos inimigos infiltrados; parte dos seus efectivos
foram temporariamente integrados no COP 7, de 21Jul69 a meados de Ag069,
para operacções na região de Madina Xaquili.

Em 18Jan70, a subunidade passou a designar-se CCaç 12, sendo considerada
subunidade da guarnição normal, desde aquela data.

Observações

Tem História da Unidade, CCaç 2590 / CCaç 12 (Caixa n." 124 - 2ª Div/4ª
Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas de unidade: Tomo II - Guiné - (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002), pág. 380.

Ficha de unidade > CCAÇ 12 (1970/74)

Companhia de Caçadores nº 12
Identificação : CCaç 12

Cmdt: 

Cap Inf Carlos Alberto Machado de Brito
Cap Inf Celestino Ferreira da Costa
Cap QEO Humberto Trigo de Bordalo Xavier
Cap Mil Inf José António de Campos Simão
Cap Mil Inf Celestino Marques de Jesus

Início: 18Jun70 (por alteração da anterior designação de CCaç 2590)
Divisa: Sempre Mais Além
Extinção: 18Ag074

Síntese da Actividade Operacional

Em 18Jan70, foi criada por alteração da sua designação anterior, integrando
os quadros e praças especialistas metropolitanos, que constituíam anteriormente
a CCaç 2590, e pessoal natural da Guiné, da etnia Fula.

Continuou instalada em Bambadinca, como subunidade de intervenção e
reserva do CAOP 2, sendo particularmente orientada para a realização de
patrulhamentos, escoltas a colunas de reabastecimento e segurança, protecção
dos trabalhos de construção da estrada Bambadinca-Xime e acções sobre grupos
e bases inimigas, estas efectuadas nas regiões de Enxalé, Ponta do Inglês, Ponta
Varela, Satecuta e Madina-Belel, em reforço do sector de Bambadinca. 

Destacou ainda pelotões para aldeamentos da zona por períodos variáveis, nomeadamente para Missirã, ponte do rio Undunduna e Nhabijões entre outras, com vista a garantir a segurança e protecção das populações.

Em finais de Mar73, rendendo a CArt 3494, assumiu a responsabilidade do
subsector de Xime, onde se instalou, ficando integrada no dispositivo e manobra
do BArt 3873 e depois do BCaç 4616/73.

Em 18Ag074, foi desactivada e extinta.

Observações:
Tem História da Unidade até Fev71 - CCaç 2590/CCaç 12 (Caixa n.º 124 - 2ª
Div/4ª Sec, do AHM).


Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas de unidade: Tomo II - Guiné - (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002), pág. 632.
__________


(**) Último poste da série > 28  de janeiro de  2021 > Guiné 61/74 - P21818: In Memoriam (387): José Eduardo Oliveira (JERO) (1940-2021), que eu conheci em 2010, na Tabanca do Centro, em 27/1/2010... Na formatura do recolher de hoje, respondo "Presente!", com o meu poema "Reencontros" (José Belo, Suécia)

domingo, 31 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21832: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (24): O gen Costa Gomes, Chefe do Estado Maior das Forças Armadas, em visita ao CTIG, em 8/1/1973, cumprimenta oficiais e população, em Teixeira Pinto, segundo vídeo da RTP Arquivos


Fotograma nº 1  > Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > 8 de janeiro de 1973 > Costa Gomes, ao centro, entre o cor pqdt, comandante do CAOP1. 


Fotograma nº 2


Fotograma nº 3


RTP Arquivos >  1973-01-13 > Vídeo (2' 17 ''> General Costa Gomes,  Chefe do Estado Maior das Forças Armadas,  visita aquartelamentos militares na Guiné Bissau, primeiro Teixeira Pinto e depois o Pelundo.

Sinopse: "General Costa Gomes e General António Spínola, Governador Geral da Guiné, a sair de helicóptero no aquartelamento de Teixeira Pinto; cumprimentam individualidades militares e locais; comitiva automóvel a partir de carro em movimento; em Pelundo o General Costa Gomes e o General António Spínola cumprimentam militares e populares; milícias em parada; a marcar passo; vacas e bezerros a pastar."

Reprodução de fotogramas, através da função "print screen", com a devida vénia à RTP Arquivos. 

O vídeo (2' 17''), completo, mas sem som, pode ser visto aqui. A visita foi a 8 de janeiro de 1973, mas o vídeo só passou no telejornal [, na altura, "noticiário nacional"], em 13/1/1973. Ainda não havia internet, e a bobine com o filme tinha que ir no avião da TAP... Hoje é tudo instantâneo, como o pudim...


1. Ao visionar o  vídeo.  fomos descobrir dois  dos nossos grã-tabanqueiros, o Mário Bravo, ex-alf mil médico, e o António Graça de Abreu, ex-alf mil, CAOP1 (Mansoa, Teixeira Pinto e Cufar,  1972/74).
 

No seu 
Diário da Guiné - Lama Sangue e Água Pura (Lisboa, Guerra e Paz, 2007, 220 pp),  o António Graça de Abreu dedicou três linhas a esta visita (p. 68)....


Canchungo, 8 de janeiro de 1973 


O general Spínola e o general Costa Gomes estão na sala ao lado,  com o coronel [Durão, comandante do CAOP1,], o tenente-coronel do Batalhão e os majores todos. 

Vieram arejar as cabeças ou polui os ares ?  Que congeminam  estes crâneos  iluminados pelos clarões da guerra ?  (*)


2. Na altura, ainda estava lá, em Teixeira Pinto, o Mário [Silva] Bravo, [ex-Alf Mil Médico, que passou por Bedanda, neste caso pela CCAÇ 6, entre dezembro de 1971 e março de 1972; trabalhou depois como cirurgião  no HM 241, em Bissau, acabando a comissão em Teixeira Pinto, e não em BIssau, no HM 241, como já escrevemos noutro poste] (**)

E a propósito ele fez o seguinte comentário, há pouco:

"Caro Luis Graça, um grande abraço e parabéns pela publicação do vídeo. Encontrei este mesmo vídeo no Facebook e até partilhei, para que não se perdesse. 

No blogue dizes que eu fui terminar a comissão em Bissau, como cirurgião, mas não foi assim. Como já tinha terminado a comissão, e não me "tiravam" de Teixeira Pinto, o cor Durão passou-me ele próprio uma guia de marcha sem local militar de destino, dizendo só Bissau. E que eu me desenrascasse.!!!... E lá tratei da vidinha, com a ajuda do meu comandante de Bedanda, passei à disponibilidade em Bissau, mas não no Hospital. Está feita a correcção.

Lembro bem desta visita do gen Costa Gomes".



Guiné > Região do Cacheu > CAOP 1 > Teixeira Pinto > 1972 > O Alf Mil Médico Mário Bravo,  o quarto a contar da esquerda, de óculos. Está  no meio de um grupo de oficiais, entre eles o António Graça de Abreu,  alferes miliciano (CAOP1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), o primeiro da esquerda. 

O António Graça de Abreu veio depois  agora completar a legenda: 

"O Mário Bravo lembrou-se de mim em Teixeira Pinto e mandou essa fotografia onde apareço jovem, quase menino, na ponta esquerda da foto. Na ponta direita está, de camuflado, o meu amigo capitão miliciano António Andrade, comandante da 35ª Companhia de Comandos, também amplamente referido no meu livro. 

"Entre mim e o Bravo estão o alferes [Franciso] Gamelas, da Companhia 3863 [, mais exatamenet, cmdt do Pel Rec Daimler 3089, Teixeira Pinto,  1971/73 ], e o alferes Cravinho (de calções), do nosso CAOP 1 e meu companheiro de quarto".

Foto (e legenda): © Mário Bravo (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 20 de outubro de  2013 > Guiné 63/74 - P12179: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (23): Duas referências ao Marcelino da Mata

Guiné 61/74 - P21831: Tabanca Grande (509): Manuel Alves da Palma, ex-1.º Cabo Atirador da CCAÇ 4142/72, Gampará, 1972/74. Senta-se à sombra do nosso poilão no lugar n.º 827


1. Em mensagem do dia 29 de Janeiro de 2021, o camarada Sousa de Castro, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494/BART 3873, tertuliano n.º 2 do nosso Blogue, envia-nos a inscrição na nossa tertúlia de mais um tertuliano que se vem sentar à sombra do nosso "Poilão Sagrado":

Caros amigos,

Apresento a todos os “atabancados” à sombra da Tabanca Grande um camarada que tal como nós calcorreou as matas da Guiné.
Curiosamente para além de ser um camarada d’armas, é também um camarada de trabalho do tempo do saudoso Estaleiros Navais de Viana do Castelo, onde foi soldador, trabalhámos naquela empresa sem que nunca tivéssemos tido oportunidade de falarmos sobre as nossas guerras devido a trabalharmos em áreas e secções diferentes.

Foi através das redes sociais que descobrimos termos algo em comum, ele esteve em Gampará e eu no Xime, embora a minha CART 3494 um pouco mais antiga, as nossas companhias ajudavam-se mutuamente quando era necessário apoio de fogo.

Chama-se:
Manuel Alves da Palma, nasceu a 07JAN1951
Ex-1.º Cabo Atirador da companhia independente CCAÇ 4142/72 (Herdeiros de Gampará);
Reside em Areosa - Viana do Castelo.

A companhia começou a ser formada em Junho de 1972 no RI 1 na Amadora, depois da instrução de especialidade rumou à Guiné a 16SET1972 onde no Cumeré fez o IAO (Instrução de Aperfeiçoamento Operacional).

Finda a instrução é colocada em Gampará a 18OUT1972 onde rendeu a CART 3417 (Os Magalas de Gampará).

Finda a comissão regressaram em Agosto de 1974.

É elemento activo do Grupo Etnográfico de Areosa para além de se dedicar à pesca.

Com amizade,
A. Sousa de Castro
Janeiro, 2021


Fotos de Manuel Palma nas suas actividades lúdicas e culturais

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2. Nota de Sousa de Castro:

Fotos de Gampará do tempo do Manuel Palma, onde aparece retratada uma canoa que faz lembrar a do Poste 21822:


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3. Comentário do editor CV:

Caro Sousa de Castro, muito obrigado por apresentares o teu amigo e nosso camarada Manuel Palma à tertúlia.

Caro Manuel Palma, sê bem-vindo à nossa Tabanca Grande, apadrinhado pelo teu amigo Sousa de Castro, com quem laboraste nos Estaleiros de Viana do Castelo. Como ele, também tu palmilhaste as terras cor de sangue da Guiné.

Futuramente, caso tenhas endereço de correio electrónico, poderás comunicar directamente connosco, caso contrário, contaremos com a colaboração do Sousa de Castro no papel de intermediário.
Deverás ter em conta que as fotos enviadas futuramente devem ser acompanhadas de legendas, referindo a data, o local e os retratados. Também esperamos que nos envies a narrativa de algumas das tuas memórias, as que consideres mais significativas. Podes sempre contar connosco para qualquer esclarecimento.

Ficas com o lugar virtual 827 da nossa tertúlia, onde poderás instalar-te. Navega e explora o nosso Blogue onde encontrarás inúmeras memórias fotográficas e escritas.

Recebe um abracelo da tertúlia e dos editores que ficam ao teu dispor.
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 30 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21827: Tabanca Grande (508): Joaquim Costa, ex-fur mil at Arm Pes Inf (CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74), natural de Vila Nova de Famalicão; senta-se à sombra do nosso poilão no lugar nº 826

Guiné 61/74 - P21830: Blogues da nossa blogosfera (148): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (58): Palavras e poesia


Do Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.


Memórias, saudades, alegrias e tristezas

Adão Cruz

Este é o meu velho consultório de há quase cinquenta anos, fechado desde o início da pandemia. Entro lá de vez em quando, sento-me no sofá, e os meus olhos enchem-se de vazio. Não admira. Por aqui passaram milhares de pacientes, de Vale de Cambra, S. João da Madeira, Santa Maria da Feira, Oliveira de Azeméis, Sever do Vouga, Arouca, Alvarenga, Castelo de Paiva, Castro Daire, Cinfães do Douro, Amarante, Gondomar, Porto, Matosinhos, Espinho, Ovar, Estarreja, Aveiro, Albergaria e mesmo de mais longe, como S. Pedro do Sul, Viseu, Carregal do Sal, Guarda e até de Lisboa. Por aqui passaram também neste meio século muitos emigrantes, sobretudo em tempo de férias, da França, da Inglaterra, da Alemanha, da Suíça, do Luxemburgo, da Venezuela, do Brasil e até dos Estados Unidos.

A quarta fotografia mostra dois aparelhos, ecocardiógrafos. O mais pequeno, do lado esquerdo, um Alloka SSD 110 S (peça de museu), foi o primeiro ecocardiógrafo bidimensional que entrou no país, importado directamente do Japão. O da segunda foto foi o último que adquiri e que funciona correctamente. Tive ao todo oito ecocardiógrafos, três neste consultório e mais cinco no Gabinete de Ecocardiografia, em colaboração com os meus grandes e inesquecíveis amigos Dr. Duarte Correia e Professor Cassiano Abreu Lima. Entre eles, o primeiro Eco-Doppler a cor. Havia apenas dois laboratórios de Ecocardiografia no Porto que serviam todo o norte de Portugal.

A quinta foto a contar do fim mostra a velha secretária da minha empregada Aldina, mulher carinhosa e simpática que os doentes adoravam, conhecida por todas as redondezas e que sempre me acompanhou em quase sessenta anos, desde o início da clínica geral em Vale de Cambra, antes e depois da guerra da Guiné.

A quarta fotografia a contar do fim mostra o soneto que dediquei ao meu pai e que ainda se encontra na parede da primitiva sala de espera. As três seguintes são algumas das minhas primeiras pinturas que ainda por lá se encontram penduradas.

A despeito da idade, tudo poderia acabar de forma menos dura e menos triste, se não fosse a maldita pandemia. Mas a vida é assim e não há volta a dar-lhe.

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Nota do editor

Poste anterior de 20 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21666: Blogues da nossa blogosfera (146): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (57): Palavras e poesia

Último poste da série de 21 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21792: Blogues da nossa blogosfera (147): PANHARD - Esquadrão de Bula (Guiné, 1963/1974) (3): Nos dias da guerra: As Panhard em Guidage (José Ramos, ex-1.º Cabo Condutor de Panhard AML do EREC 3432)

Guiné 61/74 - P21829: Blogpoesia (716): "As ideias não dormem no chão"; "A encomenda esperada"; "Ameaças" e "Desfizeram-se as brumas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


As ideias não dormem no chão

No chão, vivem a terra e o húmus.
Os pés as pisam, inclementes,
Possantes.
Se alheiam dos sonhos e do belo.
Elas clamam socorro às mentes.
Alheadas, nas canseiras da vida.
Só o arado revolve as raízes.
Crescem e amaduram ao sol e à chuva.
Voam no ar seduzindo os sonhos.
Brotam do chão os frutos que saciam a alma.
Poetas, pintores entoam poemas nas telas
Como flores num jardim.


Berlim, 30 de Janeiro de 2021
10h9m
Jlmg


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A encomenda esperada

Ainda não chegou a encomenda esperada.
Bateram à porta. Mas por engano.
Era na porta ao lado.
O bom e o não pdem surpreender-nos,
A toda a hora.
Ainda ontem, cozinhou de festa para a netinha doce.
Fez anos.
Estava mesmo a chegar. Sem o saber.
Hoje, já cá não está.
Partiu para sempre,
Para o reino da saudade e da esperança.
Descansa em paz, camarada de guerra.
Um "ranger" apaixonado e desprendido.
O Roger dos "comandos" da Guiné.
O Senhor te tenha em bom lugar...


Berlim, 28 de Janeiro de 2021
15h29m
Jlmg


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Ameaças

Pairam ameaças tonitruantes pelos céus.
Aves agoirentas toldam-nos de sons sinistros.
Sobem prantos de dor e lágrimas.
Clamando o seu perdão.
Se transviou a humanidade.
Errou a rota,
Escolhendo mal os seus caminhos.
Há sinais evidentes de que ainda é tempo.
Não tem fim a divina clemência.
Sempre pronta a acolher o tresmalhado.


Berlim, 26 de Janeiro de 2021
9h36m
Jlmg


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Desfizeram-se as brumas

Desfizeram-se as brumas na história da humanidade.
Se desfiguraram os sonhos da paz e da solidariedade.
É tudo sete cães a um osso.
Regrediu ao reino do homem da caverna.
Todos tratam de seu umbigo.
É o vale tudo.
O que importa é o nosso osso.
Para os homens do poder é era do vale tudo.
Se matar o semelhante, porque não?
Não falte o pão e o vinho na mesa do poder...


Ouvindo Rimsky-Korsakov: Scheherazade op.35
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 24 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21801: Blogpoesia (715): "Naquelas paredes negras", "Vou partir" e "Tem sabor a fado", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P21828: História da 3ª Companhia de Comandos (1966/68) (João Borges, 1943-2005) - Parte XI: atividade operacional, agosto/setembro de 1967, destaque para a Op Vénus, no Morés, região do Oio


Guiné > Bissau > Brá > 1966 > CCmds do CTIG >  O Alf Mil Virgínio Briote, à esquerda, ladeado de dois dos primeiros comandos africanos, o Jamanca e o Joaquim. Esta era a 1ª equipa do seu grupo de comandos, "Diabólicos" [que, juntamente com os "Centuriões", do alf mil 'comando' Luís  Rainha, fez a primeira operação helitransportada no CTIG, em março de 1966 (*)]. 

Essta foto foi tirada em vésperas da Op Atraca. O 1º cabo Abdulai Queta Jamanca integraria depois a 3ª CCmds, cuja história temos estado a apresentar.

 
 Foto (e legenda): © Virgínio Briote  (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Brasão da 3ª CCmds (1966/68)





1. Começámos a publicar, em 17/11/2020, uma versão da História da 3ª Companhia de Comandos (Lamego e Guiné, 1966/68), a primeira, de origem metropolitana, a operar no CTIG. (Hão de seguir-se lhe, até 1974, mais as seguintes: 5ª, 16ª, 26ª, 27ª, 35ª, 38ª e 4041ª CCmds.)

O documento mimeografado, de 42 pp., que nos chegou às mãos, é da autoria de João Borges, ex-fur mil comando, já falecido (em 2005), e que vivia em Ovar. Trata-se de um exemplar oferecido ao seu amigo José Lino Oliveira, com a seguinte dedicatória:

"Quanto mais falamos na guerra, mais desejamos a paz. Do amigo João Borges".

Uma cópia pelo José Lino foi entregue ao nosso blogue para publicação. (*)




História da 3ª Companhia de Comandos
(1966/68) (**)


3ª CCmds
(Guiné, 1966/68) / João Borges
Parte XI (pp. 26-29)




16 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21774: História da 3ª Companhia de Comandos (1966/68) (João Borges, 1943-2005) - Parte IX: atividade operacional: maio de 1967: destaque para a Op Xerês

9 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21751: História da 3ª Companhia de Comandos (1966/68) (João Borges, 1943-2005) - Parte VIII: atividade operacional: março/abril de 1967: destaque para a Op White Label: golpe de mão ao acampamento de Cã Quebo, no Oio, que dispunha de abrigos de cimento

4 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21733: História da 3ª Companhia de Comandos (1966/68) (João Borges, 1943-2005) - Parte VII: atividade operacional: dezembro 1966 / fevereiro de 1967: destaque para a Op Valquíria, Catió, Cufar

27 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21699: História da 3ª Companhia de Comandos (1966/68) (João Borges, 1943-2005) - Parte VI: atividade operacional: Susana (Arame), Jababá (Flaque-Cibe e Bissilão), novembro de 1966

20 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21667: História da 3ª Companhia de Comandos (1966/68) (João Borges, 1943-2005) - Parte V: atividade operacional: Jugudul (Ansonhe e Ponta Bará), Tite (Jorge), outubro de 1966

16 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21650: História da 3ª Companhia de Comandos (1966/68) (João Borges, 1943-2005) - Parte IV: atividade operacional: Tite (Nova Sintra, Flaque Cibe, Jabadá, Jufá), setembro de 1966

10 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21628: História da 3ª Companhia de Comandos (1966/68) (João Borges, 1943-2005) - Parte III: Composição orgânica

24 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21578: História da 3ª Companhia de Comandos (1966/68) (João Borges, 1943-2005) - Parte II: Cruz de Guerra de 1ª classe; Mobilização, composição e deslocamento para o CTIG

17 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21552: História da 3ª Companhia de Comandos (1966/68) (João Borges, 1943-2005) - Parte I: "A minha história"