quarta-feira, 14 de abril de 2021

Guiné 61/74 - P22101: Dignidade e Ignomínia (Episódios do Meu Serviço Militar) (Fernando de Sousa Ribeiro, CCAÇ 3535, Angola, 1972/74) - Capítulo extra: uma operação helitransportada

Foto nº 1 > Um helicóptero Puma, SA-330, de fabrico francês


Foto nº 2 > Um jato F-84 Thunderjet, de fabrico norte-americano, sendo abastecido de combustível na Base Aérea 9, em Luanda.  Esta aeronave, em concreto, pode ter atuado na operação ao Quiuanda.

 


Foto nº 3 > Um avião Dornier DO-27, de fabrico alemão 



Foto nº 4 > Um helicanhão idêntico ao utilizado no ataque ao Quiuanda 




1. Mensagem de Fernando de Sousa Ribeiro [,ex-alf mil at inf, CCAÇ 3535 / BCAÇ 3880 ( Zemba e Ponte do Zádi, Angola, 1972/74);  membro da Tabanca Grande desde 11 de novembro de 2018, com o nº 780; tem  cerca de 2 dezenas de referências no nosso blogue: é engenheiro electrotécnico reformado; vive no Porto; é autor do livro, inédito, em formato digital "Dignidade e Ignomínia: Episódios do Meu Serviço Militar", de que se publicaram seis partes ou postes  no nosso blogue]

 

Data - 28/03/2021, 02:44
Assunto - Capítulo extra do meu livro

Caro Luis,

Quando há três meses vi pela primeira vez o filme que está ao cimo do blog da CCav 2692, do BCav  2909 (http://ccav2692susaeles.blogspot.com/), senti um arrepio na coluna, como se esta fosse percorrida por uma corrente elétrica. «Eu estou ali!», pensei, espantado. Não estava, mas vivi uma situação que foi em tudo igual à que está documentada naquele filme, tal e qual.

O filme não tem nada de especial, de modo nenhum, apenas mostra uns helicópteros em Zemba e alguns militares a embarcarem num deles, enquanto outros militares observam, cheios de curiosidade. Se algum interesse o filme possui, é o próprio facto de existir, dado que há pouquíssimos filmes sobre a guerra colonial. Mas este filme não mostra tropas em ação nem nada, não tem interesse absolutamente nenhum. Pessoalmente, sim, o filme interessa-me imenso, pois dois anos mais tarde eu fui protagonista de uma cena parecidíssima com a documentada no filme.

Eu tinha começado um esboço de capítulo para o meu livro virtual, sobre uma operação helitransportada que comandei em Zemba, mas não consegui conclui-lo, Não consegui concluir o capítulo, mas deixei ficar o seu rascunho no computador. Após visualizar o filme, decidi escrever o resto que faltava ao capítulo, completando-o e complementando-o. Acho que agora posso dar o capítulo por concluido, finalmente, e remeter-to. Faz dele o que quiseres.

Um abraço e votos de feliz Páscoa (se o coronavírus deixar)

Fernando de Sousa Ribeiro

 

AS LÁGRIMAS DE UM SOLDADO

por Fernando de Sousa Ribeiro

Quando me comunicaram que eu iria comandar uma operação militar helitransportada, não entrei em pânico, mas pouco faltou. «Como é que se comanda uma operação helitransportada?», pensei eu, sobressaltado. «Nunca me ensinaram!» 

Passei mentalmente em revista o Curso de Oficiais Milicianos que frequentei em Mafra e concluí que ninguém, em momento algum, me ensinou fosse o que fosse que estivesse relacionado com operações deste tipo. «Porque não entregam o comando da operação a alguém que tenha um mínimo de conhecimentos sobre o assunto?», interroguei-me ainda, mas logo me apercebi de que em todo o batalhão não havia um só capitão ou alferes nessa situação. Todos eles pareciam saber tanto como eu, ou seja, nada. Quis o acaso que fosse a mim, e não a outro, que calhasse a responsabilidade do comando daquela operação. 

Pouco a pouco, fui-me tranquilizando a mim mesmo, concluindo que tudo iria correr bem, pois a sorte que sempre me acompanhara na guerra, o instinto de sobrevivência e a intuição me iriam valer nessa operação, como já me tinham valido em operações anteriores. Quaisquer que fossem as dificuldades que me viessem a surgir, eu iria conseguir resolvê-las e tudo iria correr da melhor maneira possível. Sempre assim tinha sido e com certeza assim voltaria a ser mais uma vez. Quando embarquei no helicóptero que me iria largar nas proximidades do objetivo, já eu me sentia relativamente confiante e decidido a enfrentar as dificuldades que me viessem a aparecer. 

A operação foi muito mais fácil do que eu tinha imaginado. Foi, incomparavelmente, a menos cansativa de todas as operações militares que fiz, e também foi, sem qualquer sombra de dúvida, uma das menos arriscadas. Esta operação teve como objetivo uma base da FNLA chamada Quiuanda, situada muitos quilómetros a norte de Cambamba, e nela participaram dois grupos de combate da minha companhia: o 2.º grupo, que era o meu próprio, e o 4.º grupo, que era comandado pelo alferes miliciano Peixoto. 

A operação decorreu entre 20 de abril (Sexta-Feira Santa) e 22 de abril (Domingo de Páscoa) de 1973. A partida para a operação foi em tudo idêntica à que está documentada no vídeo existente no endereço de internet que a seguir se indica e que recomendo seja visto em ecrã inteiro, dada a pequenez da imagem publicada. Este vídeo foi feito precisamente em Zemba, mas no ano 1971, e mostra a partida para uma operação helitransportada feita por militares pertencentes ao batalhão que nessa ocasião se encontrava sediado lá, o Batalhão de Cavalaria 2909. 

As cenas que nós protagonizamos em 1973 foram iguaizinhas às filmadas em 1971, tal e qual: o mesmo quartel do mato, o mesmo alvoroço dos militares do batalhão perante a presença inusitada de helicópteros na pista, as mesmas serras envolventes, as mesmas florestas, as mesmas nuvens baixas no início da manhã, a mesma dissipação da névoa com o avançar do dia, o mesmo embarque de tropas, os mesmos volteios dos helicópteros no ar, enfim, tudo se passou de forma rigorosamente igual ao que se vê no filme. Só os protagonistas foram diferentes. De facto, foram muito diferentes; no filme só se veem europeus, enquanto o meu batalhão era multirracial. O filme está no endereço seguinte:


 [Vídeo, 2' 25'': vd. em ecrã grande]

Fomos levados "ao colo" por helicópteros Puma [, Foto nº 1,] até às proximidades do objetivo. Estes helicópteros eram grandes e muito fechados. Embarquei no primeiro que levantou de Zemba e à chegada fui um dos primeiros militares a saltar do aparelho que ficou a pairar a cerca de metro e meio de altura do chão, com a intenção de dirigir a colocação no terreno dos meus homens. 

À medida que eles iam saltando, eu encaminhava-os de maneira a formarem uma ampla circunferência em volta do local do desembarque, deitados no solo e com as armas apontadas para fora. Ainda hoje não sei se era assim que eu devia proceder; fiz o que me ocorreu naquele momento. Ao mesmo tempo que saltávamos dos helicópteros, diversas aeronaves da Força Aérea faziam fogo à nossa volta, provocando uma barulheira infernal. 

Fui tomado de uma enorme euforia, que só com muito custo consegui refrear, porque me senti invencível, rodeado que estava por um tão grande poder de fogo. Eu estava no meio de um inferno, mas o inferno era "bom", porque me protegia. Confesso que tive muita dificuldade em conseguir dominar-me e tomar consciência da real situação em que estava. 

As aeronaves que evolucionavam à nossa volta eram jatos F-84 [, Foto nº 2], um avião a hélice DO-27 [Foto nº 3] e um helicanhão, o qual consistia num helicóptero Alouette III possuindo um pequeno canhão MG-151 montado a bordo [Foto nº 4].

Os rebentamentos dos rockets lançados pelos aviões e as rajadas do helicanhão faziam um barulho ensurdecedor. Este barulho durou até ao momento em que o último dos meus homens saltou para o chão. Então, todas as aeronaves se calaram e partiram de regresso a Luanda, deixando-nos sozinhos no terreno. Ordenei logo ao meu pessoal que se levantasse e se preparasse para partir. Dirigimo-nos imediatamente para a base que deveríamos destruir. 

Apesar de ter uma certa importância estratégica, a base de Quiuanda era pequena e não justificava um tão grande poder de fogo por parte da Força Aérea. Os poucos guerrilheiros que deviam guarnecer a base puseram-se em fuga antes de entrarmos nela. Encontramos a base vazia de gente. 

Os guerrilheiros deviam ter sido apanhados de surpresa pelo ataque, pois deixaram pequenas fogueiras acesas com latas cheias de água em cima, em jeito de cafeteiras, provavelmente para prepararem o pequeno-almoço, em Angola chamado mata-bicho. Os guerrilheiros e a população que os apoiava costumavam reaproveitar as latas vazias e as colheres de plástico das rações de combate que a tropa portuguesa abandonava na mata durante as operações. 

Foto nº 5 
No centro da base estava hasteada uma bandeira da FNLA, que um militar que não consegui identificar,  retirou. Julguei que ele mais tarde me iria entregar a bandeira, para juntar ao restante espólio da operação, mas tal não aconteceu. O militar ficou com ela. [Foto nº 5 > Bandeira da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA)] 

Depois de termos destruído a base, saímos dela por um trilho, a fim de explorarmos a região envolvente. Mais adiante, na beira do caminho, encontramos uma mulher morta, sem metade da cara. Era evidente que ela tinha sido abatida pelo apontador do helicanhão. As balas disparadas pela arma montada a bordo desta aeronave costumavam ser de ponta explosiva. Uma bala deve ter atingido a mulher na cara, abrindo-lhe um horrendo buraco de ossos estilhaçados e sangue. 

O soldado Domingos Cangúia, que era natural do Cuanza Norte e era íntegro e puro como poucos, chorou convulsivamente a morte gratuita daquela desgraçada mulher, a quem até a vida foi tirada. Dizia o generoso soldado, entre soluços: 

— Que mal é que esta mulher fez a quem a matou? Porque foi que ele a matou? Certamente ela tinha filhos pequenos. O que vai ser agora dos filhos? 

E chorava inconsolavelmente. Há cenas que ficam gravadas na nossa memória como ferro em brasa. Para mim, esta foi uma delas. 

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Nota do editor:

Último poste da série > 15 de outubro de 019 > Guiné 61/74 - P20241: Dignidade e Ignomínia (Episódios do Meu Serviço Militar) (Fernando de Sousa Ribeiro, CCAÇ 3535, Angola, 1972/74) - Parte VI: Não aos crimes de guerra: os bravos não são cruéis e os cruéis não são bravos

terça-feira, 13 de abril de 2021

Guiné 61/74 - P22100: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte VII: Cumbijã: a nossa modesta casinha, os picadores e a crueldade das minas


Foto nº  1 > Guiné > Região de Tombali > Cumbjã > CCAV 8351, "Os Tigres do Cumbijã", 1972/74 >  Cumbijã que construímos, literalmente: com sangue, suor e lágrimas. Em primeiro plano os nossos chuveiros e a hortinha do Zé Carlos aproveitando a água do banho...

 

Foto nº 2  > Guiné > Região de Tombali > Cumbjã > CCAV 8351, "Os Tigres do Cumbijã", 1972/74 >  O Cumbijã que encontrámos. Á direita,  o Beires levantando mais uma mina e à esquerda o mausoléu em betão onde um camarada acionou uma mina

Fotos (e legendas): © Joquim Costa (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
 


Foto nº 3 > Guiné > Região de Tombali > Cumbjã > CCAV 8351, "Os Tigres do Cumbijã", 1972/74 > Pormenor dos cuidados colocados no processo de levantar uma mina: Beires (o especialista em minas e armadilhas), Portilho, Vasco da Gama e Abundância conferenciando sobre melhor forma de levantar mais uma Era sempre uma manobra arriscadíssima.

Foto (e legenda: © Vasco da Gama / Joaquim Costa (2021). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
 


Foto nº 4 > Guiné > Região de Tombali > Cumbjã > CCAV 8351, "Os Tigres do Cumbijã", 1972/74 > Cumbijã > As minas que levantámos (30)… “Manga de ronco”, mas com lágrimas!

Foto (e legenda): © Joquim Costa (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Foto nº 5 >Guiné > Região de Tombali > Colibuia   > 1973  >  


Foto (e legenda): © António Murta (2016). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Joaquim Costa, hoje e ontem. Natural de V. N. Famalicão,
vive em Fânzeres, Gondomar, perto da Tabanca dos Melros.
É engenheiro técnico reformado.


 
Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex- urriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte VII (*)

 

Cumbijã: a nossa modesta casinha, os picadores 
e a crueldade das minas



Assim se prolongou a nossa missão nestas diferentes tarefas: (i) patrulhas de reconhecimento e segurança no mato (ii) proteção da coluna para Buba (iii) e mais intensamente a proteção ao grupo de engenharia na construção da estrada Mampatá-Nhacobá. 

Com o avançar dos trabalhos o perigo de contacto com o IN aumentou significativamente e começou a guerra mais estúpida e cobarde das minas.

Militares de outras companhias, que também participavam na proteção dos trabalhos de construção da estrada, tinham já acionado uma ou outra mina antipessoal e uma máquina de engenharia uma anti carro. De dia para dia e ansiedade era maior no caminho para a frente de trabalhos. Com mil cuidados, paciência, muita perícia dos nossos picadores e, muita sorte (utilizando a linguagem da bola: a sorte dá muito trabalho), tínhamos passado pelos pingos da chuva, mas, infelizmente, por pouco tempo…

Lembro aqui, com alguma emoção:

• os camaradas “velhinhos” do BCAÇ 3852 (1971/73) que nos receberam principescamente com direito a sopa de capim cozinhado com água turva da bolanha e cerveja a 40 graus (#);

• os camaradas “velhinhos” da CCaç 18 (constituída maioritariamente por elementos nativos), com quem aprendemos, juntamente com o BCAÇ. 3852, a lidar com esta “coisa” estúpida da guerra sofrendo e chorando, juntos, os camaradas mortos e feridos em combate;

• os camaradas “periquitos” do BCAÇ 4351 (1973/74), que nos acompanharam (todos “borrados” - tanto quanto nós nos primeiros dias de Aldeia Formosa) em algumas ações quando a região estava a ferro e fogo com a nossa entrada na base do PAIGC em Nhacobá;

• os nossos camaradas e amigos de 
Mampatá [ CART 6250, 1972/74] :que faziam questão de nos pagar a cerveja sempre que parávamos, junto ao magnífico mangueiro, no seu pacato e simpático destacamento para limpar o pó da garganta, dando-nos ânimo com as suas palmadas nas costas como se despedissem de alguém que ia atravessar o deserto, minado, a caminho do inferno.

Assim se formaram os especialistas das picagens. Um pau com um ferro pontiagudo numa extremidade, como se fosse um caminheiro de São Tiago, que era projetado, durante a marcha, para a terra com a força bastante para sentir um toque diferente, mas não suficientemente forte para não acionar a mina. Convenhamos que era uma tarefa que exigia muita perícia e concentração.

Na marcha em “pirilau” (uma fila de homens ligeiramente afastados uns dos outros) os 2 primeiros, para além da sua arma e restante equipamento também transportavam e manobravam este “sofisticado” detetor de minas.

Para quebrar um pouco a rotina do dia a dia, esporadicamente, Aldeia Formosa era flagelada com granadas de canhão sem recuo e/ou morteiro.

Sempre que Aldeia Formosa era flagelada estava fora do quartel (exceto no batismo) com o meu pelotão emboscado, toda a noite, na frente de trabalhos da estrada - “sempre que eu passava a noite fora, o quartel entrava em alerta máxima!!!”.

Estas emboscadas eram sempre vividas com muito receio (que não é o mesmo que medo!?) e ansiedade, pelo que o nosso sentimento ao ouvirmos a fortaleza de Aldeia Formosa a ser flagelada era de algum alívio mas também de preocupação pelos nossos camaradas que estavam a ser atacados .

Dois grupos de combate faziam durante o dia a proteção aos trabalhos de engenharia e pernoitavam, emboscados, durante toda a noite, na frente de trabalhos.

Era sempre uma emboscada vivida com muita adrenalina, particularmente nas noites mais escuras. Vivíamos em permanente sobressalto desconfiando do mais pequeno ruído. As nossas companhias habituais eram os macacos que “ladravam” como cães (ou não fossem na sua maioria macacos cão!). Sempre que um ruído estranha lhes chegava aos ouvidos, “ladravam” funcionando como sentinelas para as nossas tropas.

Numa das emboscadas um soldado afirmava com toda a convicção que um macaco, na calada da noite, lhe tinha roubado a ração de combate...talvez, não seria a primeira vez, contudo, durante a noite todos os macacos são “pardos”…

Os dedos das mãos e dos pés não chegam para contar o número de vezes que fizemos estas emboscadas, vividas sempre com a tensão nos limites. Contudo, inexplicavelmente, por alguns instantes, conseguíamos alhear-nos da situação de guerra e saboreávamos os momentos extraordinários e únicos de passar uma noite em plena floresta Africana. É algo que nos marca para a vida:

• as noites escuras com o fresco do cacimbo limpando o suor dos 40º do dia, deixando-nos inebriar pelos sons da floresta húmida ouvindo os macacos ao longe e o “piar” de uma ou outra ave;

• as noites de trovoada contínua, que nem as festas da S.ª da Agonia [, de Viana do Castelo], fazendo-se dia com as descargas elétricas violentas de uma beleza indescritível;

• as noites de luar, lindas e quase românticas...sublimando os pensamentos nas nossas namoradas ou madrinhas de guerra;

• as noites das primeiras chuvas que nos limpavam o corpo e a alma, com o agradável cheiro a terra africana.

De manhãzinha, com banho tomado e roupa lavada e já seca, não disfarçavamos a alegria, ao vermos chegar a coluna com os dois grupos de combate que nos vinham substituir...

Sentíamos que estávamos a ser vigiados permanentemente pelo IN, já que sempre que emboscávamos na frente de trabalhos,  rebentavam com os pontões já construídos em linhas de água na nossa retaguarda. Sempre que emboscavamos juntos aos pontões tínhamos minas na frente de trabalhos.

E sempre que destruíam os pontões,  a coluna ficava retida no local várias horas até se construir um caminho alternativo.

Uma ou outra vez ousaram atacar a coluna que se deslocava para a frente de trabalhos. Num destes ataques um soldado africano foi mortalmente atingido.

Era evidente o esforço do IN em retardar ao máximo a chegada da estrada a Nhacobá, ganhando tempo para não perturbar o ataque contundente que estavam a preparar contra Guileje e Gadamael (##), cujo desfecho dramático não só virou o curso da guerra na Guiné como acelerou a revolução de Abril.

Para o ataque a Guileje e Gadamael, a partir da fronteira com a Guiné Conakry, ter sucesso, era importante manter a sua base no interior (Nhacobá), servindo de tampão e ao mesmo tempo de importante celeiro - aqui encontrámos toneladas de arroz que dava para alimentar um exército durante meses. Era também fundamental para o PAIGC segurar Nhacobá mantendo aberto o importante corredor de Guileje permitindo o transito de homens e material para a zona sul do território.

Para atingirem tal desiderato utilizaram a estratégia mais eficaz e ao mesmo tempo mais cobarde para retardarem a construção da estrada: a guerra das minas.

Chegada a frente de trabalhos a Colibuía (uma das tabancas abandonadas), e uma vez que estava prevista a reocupação da mesma pela nossa companhia, os nossos picadores passaram a “pente fino”, milímetro a milímetro, o local. Dois grupos de combate da companhia passaram a dormir, alternadamente aqui.

Já com as máquinas a terraplanarem esta antiga tabanca, criando as condições para aí nos instalarmos, como era recorrente, surge a contra ordem que afinal iríamos ocupar a tabanca mais à frente – Cumbijã.(**) [Vd, infografia abaixo.]

Chegados a Cumbijã, para aí nos instalarmos definitivamente, detetamos e levantamos cerca de 30 minas (pessoal e anticarro: vd. foto nº  2, acima).  A eficácia na deteção e levantamento de minas foi de quase 100%. Digo quase, porque Infelizmente os quase 100 % não evitou a nossa segunda vítima grave causada por esta estúpida e cobarde guerra das minas (a primeira foi um acidente de um camarada da companhia a manobrar uma granada ofensiva que lhe rebentou na mão).

Um soldado que estava de visita ao destacamento, por pura curiosidade uma vez que não fazia parte dos grupos de combate, abeirou-se, coisa que todos nós fizemos, junto de uma pequena construção em betão (em homenagem a um soldado morto no local e que pertencia à última companhia que ocupou o local) para ler a mensagem gravada na placa de cimento. 

Enquanto as máquinas de engenharia terraplanavam criando as condições mínimas de segurança e habitabilidade, ouve-se um grande rebentamento, julgando eu, na altura, ser uma mina acionada pela máquina, que parou, ouvindo-se de seguida gritos de desespero. Foi o soldado que acionou uma mina, que não foi detetada, no mausoléu.

Por uma questão de respeito ao militar morto neste destacamento, ao entrarmos pela primeira vez no local, decidimos manter o mausoléu.

Por ser, obviamente, local de grande curiosidade, já que todos iriam querer ver a dedicatória inscrita no mesmo, foi o local mais picado e verificado por todos os meios. Ficamos incrédulos como foi possível, logo ali, rebentar uma mina. À volta do mausoléu existia uma estrela desenhada com garrafas de cerveja, e não fomos perfeitos, devíamo-lo ter sido, prevendo tal situação. 

A mina estava colocada debaixo de um grupo de garrafas de cerveja, pisadas pelo nosso querido amigo, pensando ser mais seguro. Este incidente, o segundo, não só abalou o grupo como nos consciencializou que o perigo vivia connosco 24 horas por dia, pelo que qualquer passo ou atitude devia ser sempre muito bem escrutinado.

(Continua)

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Notad do autor:

(#) Ao chegarmos a Aldeia Formosa por todo o lado se ouvia: "Piriquito vai no mato, olélélé velhice vai no Bissau olélélélé".

Fomos recebidos, calorosamente, com direito a banho e rancho melhorado. Depois do banho fomos conduzidos ao bar para limpar as goelas do pó da viagem.

Alguns colegas “velhinhos” pediam ao soldado que servia no bar cervejas para eles e para os novos companheiros: para eles o soldado servia uma cerveja fresca para o periquito uma quente. Reclamamos, ao que o soldado nos diz: fresca só para os “velhinhos”, com o encolher de ombros do dito “velho”. Como estávamos intimidados e assustados com todo aquele ambiente ninguém mais reclamou.

Convidados para o jantar, aos “velhinhos” era servido, com deferência pelos soldados, uma sopa com aspeto agradável, aos periquitos era servida uma água turva, com grandes pedaços de capim e com gestos bruscos do soldado entornando a mesma nas nossas calças. Aqui a coisa “piou mais fino” e alguns de nós reagiu com alguma violência. Antes que a coisa descambasse, os soldados que serviam no bar identificaram-se como colegas furriéis, e que tal não passava de uma praxe habitual aplicada aos periquitos. Com tudo esclarecido ... a farra foi até às tantas com direito a cerveja fresca.

Dormimos como justos no chão em colchões insuláveis... ainda vazios…

(##) Entretanto, acontece o impensável, Guileje, o aquartelamento mais bem fortificado da Guiné, e muito próximo de nós, foi abandonado pelas nossas tropas (uma companhia que se formou ao mesmo tempo que nós em Estremoz, todos nossos amigos, a CCAV 8350), em consequência do ataque em massa, com armas pesadas e durante vários dias consecutivos, causando várias vítimas entre militares e população…

O PAIGC ocupando Guileje (só 3 dias depois deste ser abandonado!!!), deslocou todo o poder de fogo aí utilizado para Gadamael, completamente sobrelotado com a chegada dos militares e população de Guiléje...


Guiné > Região de Tombali > Cantanhez > Guileje > Mapa de Guileje (1956) > Escala 1/50 mil > Alguns dos topónimos míticos por onde passava o "corredor de Guileje" ou o "corredor da morte", triangulando entre Guileje, Gandembel / Balana e Nhacobá. Ver também posição relativa de Cumbijã e Colibuía, a sudoeste de Aldeia Formosa.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2021)


Comentário de LG: 

Recorde-se aqui a história sumária da Companhia de Cavalaria nº 8351/72:

Identificação CCav 8351/72
Unidade Mob: RC 3 - Estremoz
Cmdt: Cap Mil Cav Vasco Augusto Rodrigues da Gama
Partida: Embarque em 270ut72; desembarque em 270ut72 | Regresso: Embarque em 27Ag074



Síntese da Actividade Operacional

Após realização da IAO, de 280ut72 a 17Nov72, no CMI, em Cumeré, seguiu, em 19Nov72, para Aldeia Formosa, a fim de efectuar o treino operacional sob orientação do BCaç 3852 e, a partir de 4Dez72, reforçar aquele batalhão e depois o BCaç 4513/72, com a missão prioritária de segurança e protecção dos trabalhos da estrada Mampatá-Cumbijã-Mejo, em cooperação com outras subunidades.

Em 3Abr73, quando os trabalhos da estrada atingiram Cumbijã, deslocou parte dos efectivos para esta povoação, a fim de garantir a segurança e protecção do parque de máquinas de engenharia e a continuação dos trabalhos.

Em 17Mai73, com a realização da operação "Balanço Final", instalou-se temporariamente em Nhacobá, até 26Mai73, após o que ficou em Cumbijã, com a mesma missão anterior.

Em 26Ju174, após substituição em Cumbijã por dois pelotões da CCav 8350/72, recolheu a Buba e depois a Cumeré

Em 30Jun74, foi colocada em Bissau, onde passou a colaborar na segurança e vigilância periférica da cidade até ao seu embarque de regresso.

Observações - Não tem História da Unidade.Tem Resumo de Factos e Feitos (Caixa n.º 128 - 2.º Div/4.º Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) :   7.º Volume - Fichas das Unidades: Tomo II - Guiné - 1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002, pág. 520.

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(**) Vd. também poste de 28 de dezembro de  2008 > Guiné 63/74 - P3675: A história dos Tigres de Cumbijã, contada pelo ex-Cap Mil Vasco da Gama (5): Ocupação do Cumbijã e construção das instalações

segunda-feira, 12 de abril de 2021

Guiné 61/74 - P22099: Notas de leitura (1351): "Ataque a Conakry, História de um Golpe Falhado", por José Matos e Mário Matos e Lemos; Fronteira do Caos, 2020 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 7 de Abril de 2021:

Queridos amigos,
 
O livro de José Matos e Mário Matos e Lemos incorpora investigação que não é despicienda. E está bem contextualizado: os sonhos de Spínola saem gorados em 20 de abril de 1970, quando o plano congeminado de incorporação de guerrilheiros do PAIGC acaba numa tragédia, o Comandante-Chefe alinha numa solução radical, uma tentativa de golpe de Estado envolvendo um grupo de opositores de Sékou Touré organizados na FLNG. Tudo se revela frustrante ou pouco sério, bem detalhado pelos autores. 

E temos a invasão propriamente dita e o rescaldo, diplomaticamente desastroso e que fez crescer os anticorpos contra o colonialismo português. E a análise da operação passa pela verificação que deixara de haver qualquer solução militar, o regime de Caetano não dispõe de mais meios, ainda se tentarão soluções recorrendo ao projeto Alcora, em 1974, para comprar um dispositivo de deteção aérea, o Crotale, mas era irremediavelmente tarde.
 
Um belíssimo ensaio, credor da vossa atenção.

Um abraço do
Mário


Ataque a Conacri, história de um golpe falhado

Mário Beja Santos

"Ataque a Conakry, História de um Golpe Falhado", por José Matos e Mário Matos e Lemos, Fronteira do Caos, 2020, é a mais recente investigação sobre o antes, durante e após a Operação Mar Verde. 

Os acontecimentos em si do que ocorreu na madrugada do dia 22 de novembro de 1970 é amplamente conhecido, nos seus traços essenciais: com o beneplácito de Marcello Caetano, foi desencadeada uma tentativa de sublevação a partir da capital da república da Guiné Conacri, seis navios de guerra portugueses transportaram uma força militar de tropas especiais portuguesas e opositores do regime de Sékou Touré. 

O objetivo da operação era múltiplo: incluía a tentativa de um golpe de Estado que derrubasse o ditador guineense, destruir os meios navais do PAIGC e da Guiné Conacri, capturar Amílcar Cabral, resgatar 20 e poucos militares portugueses encarcerados numa prisão às ordens do PAIGC e neutralizar, destruindo mesmo, o potencial aéreo guineense. 

O sonho de Spínola em ver instalado um regime em Conacri que expulsasse o PAIGC malogrou-se: nem o ditador guineense nem o líder do PAIGC foram encontrados; por desacerto na comunicação, não foi tomada a estação de radiodifusão, que seria essencial para os sublevados anunciarem o golpe de Estado, os aviões de origem soviética tinham mudado de aeroporto, os meios navais do PAIGC foram destruídos, os prisioneiros portugueses foram resgatados, a prazo os sublevados guineenses foram executados como executados foram o alferes Januário Lopes e cerca de duas dezenas de militares-comandos africanos que se rebelaram contra as intenções da Operação Mar Verde e se entregaram às autoridades guineenses. O malogro deste ataque a Conacri iria constituir o mais rude golpe diplomático, adensando o isolamento do Estado Novo.

Em que é que a obra de José Matos e Mário Matos e Lemos introduz inovações? A estrutura do estudo permite uma leitura cronológica e o conhecimento aprofundado de um punhado de peripécias que a investigação permitiu desvendar. Fica bem claro que a Operação Mar Verde foi uma ousadia, tinha planeamento mas enfermava de graves omissões: o efetivo de sublevados era irrisório, a clique política guineense-Conacri que aceitara participar na Operação vivia graves tensões internas e a sua motivação e programa eram uma nebulosa; a PIDE não dispunha de informações fiáveis sobre os objetivos, houve que recorrer a um antigo desertor, o soldado Alfaiate, que se prestou a explicar a topografia da cidade, manifestamente insuficiente o seu conhecimento; diferentes ministros de Caetano puseram seríssimas reticências à operação, temeram sempre o pior, as consequências internacionais, as informações que se dispunham nos dirigentes políticos da oposição levavam a supor que seria um golpe de Estado de pouca dura, haveria um volte-face em poucos meses, e o PAIGC reocuparia rapidamente esta poderosa retaguarda. 

Os autores consideram que os dois principais acontecimentos políticos congeminados por Spínola: um, para atrair guerrilheiros numa nova formação militar composta por guineenses apoiantes da soberania portuguesa e outros a favor da independência; dois, instalar em Conacri um regime hostil ao PAIGC, deram como falhanço e o governador e comandante-chefe da Guiné, a partir daí, quis sempre abrir a porta para a solução política, que Caetano energicamente recusou. É verdadeiramente de questionar se não houve mais aventureirismo que realismo, ao querer confiar naquela oposição a Sékou Touré, sabendo-se mesmo que a Organização da Unidade Africana  [OUA] teria todos os predicados para intervir e abortar o golpe de Estado.

Depois de contextualizar a estratégia de Spínola na Guiné e de se ter chegado à solução radical da Operação Mar Verde, conta-se a história dos contatos estabelecidos entre esta oposição a Sékou Touré e as autoridades portuguesas. Pesquisada a documentação, as intenções desta frente de libertação da Guiné (FLNG) eram dadas como amadoras, mesmo sabendo-se que a França e o Senegal veriam com bons olhos o derrube do ditador de Conacri. 

Até 1970, a FLNG não tinha quaisquer intenções de organizar uma guerrilha, mas sim um golpe contra Sékou e a sua clique de apoio, dizia que o povo da Guiné Conacri os acolheria triunfalmente. No entanto iam pedindo dinheiro a Portugal, e repetidamente. Os autores dão-nos um quadro das cumplicidades, mostram com desenvoltura o planeamento da Operação e o seu desfecho; e chegamos ao rescaldo, a verificação por parte de Spínola de que não era viável uma solução militar. Segue-se a escalada da guerra, é certo e seguro que os meios de fogo do PAIGC passaram a ser superiores aos das forças portuguesas, Spínola pede a exoneração e planeia escrever "Portugal e o Futuro", será publicado em 22 de fevereiro de 1974, que propõe era já inviável, mas criou condições para a arrancada do 25 de abril. 

Os autores recordam que Caetano defendia uma autonomia progressiva para as colónias e não aceitava uma negociação com o PAIGC, segundo ele, seria um precedente relativamente às outras colónias, ele pensava que Angola e Moçambique podiam acabar na independência desde que estivessem assegurados os direitos dos colonos. Havia também hipóteses do plano de Spínola que não tinham nem pés nem cabeça, como o de integrar Amílcar Cabral como Secretário-Geral do Governo Provincial. E os autores observam: 

“Cabral nunca mostrou qualquer interesse em negociar com Spínola. Para o líder do PAIGC, o diálogo teria que ser com o governo central em Lisboa e não com o governador provincial. Isto significa que Spínola tentou protagonizar na Guiné uma solução que estava condenada à partida, não só porque estava em rota de colisão com a política oficial do regime, como também não correspondia às aspirações do PAIGC”.

Trata-se de um estudo muito bem urdido e que introduz dados novos sobre a Operação Mar Verde. Como em toda a historiografia da guerra da Guiné, omite os dados relevantes da génese e desenvolvimento da luta armada. A historiografia privilegia Spínola e nunca se serve dos arquivos para estudar os acontecimentos ocorridos entre 1962 e 1968, parece sempre Louro de Sousa e Arnaldo Schulz andaram para ali sete anos a encanar a perna rã, nunca se fala nos meios postos à disposição destes dois comandantes-chefes e até do dinheiro que o regime de Salazar dificultou para o desenvolvimento socioeconómico da Guiné. É dentro da efabulação que a historiografia faz aparecer Spínola como o Atlas do combate feroz à guerrilha, da implementação da Guiné melhor e dos cheiros da autodeterminação. Isto só para sublinhar que continuamos a fazer historiografia numa sala de espelhos partidos.
A bordo da LDG Montante, oficiais da Armada com os dirigentes da FLNG que iriam atacar o Campo Militar Samory, imagem do livro
Prisioneiros portugueses em Conacri
Prisioneiros portugueses a caminho de Bissau
Banda-desenhada de António Vassalo sobre a Operação Mar Verde
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Nota do editor

Último poste da série de 5 DE ABRIL DE 2021 > Guiné 61/74 - P22069: Notas de leitura (1350): “Guerra e Política, Em nome da verdade os anos decisivos”, por Kaúlza de Arriaga; Edições Referendo, 1987 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P22098: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte V: Destino: Xime.... E um levantamento de rancho que acabou à bofetada...


Foto nº 1 >  O alf mil Crisóstimo, em primeiro plano...

Foto nº 2 > Regresso de um patrulhamento no subsetor do Xime...

´
Guiné > Região de Bafatá > Sector L1  (Bambadinca) > Xime > CCAÇ 1439 (1965/67) > Agosto de 1965 >  O primeiro contacto com as terras do Xime...


Fotos (e legendas): © João Crisóstomo (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



1. Continuação da publicação da série CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67) : a “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) (*)



CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67) : a “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque)


Parte V - Destino: Xime...


A viagem do Funchal para a Guiné decorreu sem grandes problemas . A CCaç 1439 embarcou no navio Niassa no dia 2 de Agosto de 1965 . A nossa Companhia era de rendição individual e talvez por isso o nosso comandante, Capitão Pires, tinha saido mais cedo para " preparar a nossa chegada”.

Por razões burocráticas,  que nunca cheguei a compreender,  foi-me dado o comando da CCaç 1439 , até que chegássemos a Bissau onde nos esperava o verdadeiro Comandante da Companhia, o  Capitão Amandio Pires .

Embora estivesse mentalmente preparado "para todas as situações", não deixei de ficar surpreendido pelas condições em que o pessoal estava viajando no Niassa. Os “quadros” viajavam em condições aceitáveis, mas custava-me ver os meus soldados nos andares inferiores do barco, quase uns em cima dos outros em beliches que de conforto pouco ofereciam. 

E logo na primeira noite, baixei e fui ter com eles, para lhes dar um pouco de ânimo. Parece que apreciaram verem o seu "comandante temporário" com eles e passado algum tempo começamos a cantar … E cedo era toda a companhia que cantava, até parecia que o nosso destino não era um teatro de guerra , mas sim alguma romaria. 

 Mas a CCaç  1439 não era a única companhia no barco; cedo me apercebi que membros de outras companhias achavam estranho a euforia "daqueles madeirenses" e queriam dormir, pelo que logo decidi não continuar com a cantarolice e regressei ao andar superior.

Mas na noite seguinte repeti. Desci mais cedo, para evitar ser apupado ou incomodar ninguém, ainda pensando que o cantar um pouco antes de dormir ajudaria a moral de toda a gente. Não foi o caso. Desta vez houve queixa mais a sério; quando a companhia estava já toda empolgada a cantar , fui chamado ao comandante do barco. Que admirava muito a manifestação do patriotismo dos madeirenses, mas que havia outras companhias e nem todos gostavam de ser serenados…

Recordo-me vagamente da nossa chegada a Bissau e da transferência imediata para um barco muito chato que eu nunca tinha visto nem ouvido falar. Não me vão faltar surpresas, pensei eu. E logo seguimos Rio Geba acima, esperando que não fossemos atacados mesmo no meio do rio. É que iamos sózinhos... e eu pensava que pelo menos teríamos uma escolta até chegar ao nosso destino em terra, onde quer que isso fosse.

Por volta das 17.00 PM, (segundo um “relatório oficial’ de que não tinha conhecimento e que o Alferes Freitas me amavelmente me facilitou) finalmente paramos: à nossa frente havia um “ cais improvisado” e logo a seguir "meia dúzia de palhotas”. Era o Xime.

Não me recordo das instalações nem das condições… estava pronto para tudo, nada me ia surpreender. Recordo-me, sim, de sermos informados da existência de uma cantina e das facilidades de adquirir uísque e outras coisas a um preço muito barato. E logo na primeira noite, eu estava entre os que tiraram partido dessas “facilidades', comprando a minha primeira garrafa de Drambuie…

Por outro lado também aprendemos depressa a habituarmo-nos à ementa de feijão frade com bacalhau, salada de grão de bico com bacalhau,  feijão frade com bacalhau, grão de bico… e vira o disco e toca o mesmo. E isso estava a causar mau estar em toda a companhia. 

Um dia começaram a manifestar esse descontentamento na hora do rancho, fazendo barulho com as mamitas, utensílios metálicos,  meio pratos meio caixas . Eu estava de oficial de dia; tinha fama , dizem-me, de ser "de bons modos” e querer ajudar . E talvez por isso pensaram que eu pudesse fazer alguma coisa para remediar a situação. O que não era o caso. Não havia outro remédio senão aguentar até que chegasse nova entrega de víveres; e isso não dependia de ninguém na companhia. 

 Por isso pus a companhia "em sentido” e expliquei que compreendia a frustração de todos, que era a minha também; mas que o fazer barulho com os pratos não ia ajudar ninguém. E pus a companhia "à vontade” para começar a distribuição do rancho, talvez fosse outra vez feijão frade com bacalhau, não me lembro.

O que sei é que o barulho das marmitas embora menos intenso,  recomeçou. E eu imediatamente pus de novo a companhia em sentido e disse que não ia tolerar mais qualquer tipo de barulho como estava a acontecer pela segunda vez. E disse "vamos ficar em sentido um ou dois minutos para que todos tenham tempo de resfriar um pouco esse entusiasmo, antes de começarmos o rancho". 

E virei-me de costas para eles; mas logo ouvi atras de mim o que me parecia serem uns sorrisos de troça ; virei-me de repente e mesmo atras de mim deparei com um soldado, o S..., m posição de "à vontade” e a rir numa manifesta posição de galhofa para todos verem.

Sou e sempre fui um pequenitotes, mas no momento nem tive tempo para pensar: de repente espetei-lhe a maior bofetada que jamais pensava ser capaz de dar na minha vida.

Surpreso,  com esta minha reação, ele tentou desviar-se e pareceu-me que ia cair e eu então com a mão esquerda dei-lhe uma segunda no lado contrário para ele não cair. E foi um silêncio completo; mandei recomeçar o rancho, que não teve mais problemas. 

 O S... tinha fama de ser o homem mais forte da companhia e, de vez em quando, “para medir forças”,   desafiava um outro soldado, a quem todos chamavam “o chinês” pela sua força e aparência, a levantarem um pipo que ninguém mais era capaz de mexer. 

 Logo pensei que "um dia destes vou apanhar murro dele e vou aparecer morto em qualquer lado… ou então será talvez no mato… sou capaz de apanhar mesmo um tiro pelas costas” … E era pensamento que de vez em quando me vinha à mente. "Mas nada há a fazer", pensava. "E a verdade é que ele não devia fazer o que fez” .

Passados muitos meses,   um dia deparei com ele mesmo a meu lado no meio duma bolanha que estávamos a atravessar com água pelos joelhos , como por vezes sucedia . E reparei que ele tinha um sorriso, mas que me pareceu um sorriso amigável. E fui eu que puxei a conversa. "Olha, S..., ainda hoje me custa o que sucedeu no Xime"… E ele não me deixou dizer mais nada, pôs-me o braço no meu ombro e só disse : "Ó meu alferes,  tinha razão”! e senti a pressão do braço dele no meu ombro como para me dizer que o assunto estava esquecido. 

A verdade é que nunca mais tive receio de apanhar um tiro pelas costas no meio de alguma operação no mato!

Não me lembro em que dia foi a nossa primeira patrulha/deslocamento a Bambadinca. Mas menciono-a por não esquecer a minha surpresa quando nos disseram que tínhamos de "picar a estrada por causa das minas”.

Eu esperava algum aparato sofisticado, como se usa para detecção de metais, mas em vez disso eram meia dúzia de paus com um bico de ferro na ponta com que se picava o chão esperançadamente para sem as rebentar , detectar alguma mina que tivesse sido posta …

(Continua)

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Nota do editor:

Último poste da série > 12 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22097: Guiné 61/74 - P22051: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte IV: Composição orgânica: na sua maioria, praças naturais da Madeira, e oficiais e sargentos do Continente

Guiné 61/74 - P22097: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte IV: Composição orgânica: na sua maioria, praças naturais da Madeira, e oficiais e sargentos do Continente

Brasão da CCAÇ 1439 (1965/67), BII 19.  Divisa: "Bravos, Avante"


1. Continuação da publicação da série CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): a “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) (*)


O João Crisóstomo é um luso-americano, natural de Paradas, A-dos-Cunhados, Torres Vedras, conhecido ativista de causas sociais, com repercussão a nível nacional e internacional: a autodeterminação de Timor Leste, as gravuras de Foz Coa ou a reabilitação da memória de Aristides de Sousa Mendes, o cônsul de Bordéus em 1940 são três das mais conhecidas e bem sucedidas...

Régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, foi alf mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): vive desde 1975 em Nova Iorque; é casado, em segundas núpcias, desde 2013, com a nossa amiga eslovena, Vilma Kracun].

Tem cerca de 135 referências no nosso blogue.


CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): a “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque)

Parte IV: Composição orgânica | Louvores e condecorações


 

Reprodução das páginas 1 a 5 do cap I da História da Unidade. CCAÇ 1439, Enxalé, 1965/67, incluindo a sua composição orgânica


Louvores e condecorações

Li algures comentários que a CCaç 1439, em comparação com outras, parece ter "recebido muitas medalhas”. Não sei da validade ou não da crítica, e não tenho dúvidas de outros terão merecido igual e melhor. E é pena que reconhecimentos que são devidos, não tenham sido feitos. Isso não quer dizer que os recipientes da CCaç 1439 mereceram menos por isso as medalhas e reconhecimentos que lhes foram feitos. A verdade é que esta companhia era/foi na verdade um grupo de gente extraordinariamente corajosa e abnegada, como eu pessoalmente verifiquei durante todo o tempo em que tive privilégio de fazer parte deste grupo.

A atribuição de medalhas feita,  embora represente sem dúvida o muito valor dos que foram agraciados, até está longe de ser perfeita ou "completa”. Muitos outros mereciam igual distinção, talvez melhor; e por vezes por uma razão ou outra nunca foram reconhecidos. Também desta realidade fui e sou testemunha e cheguei mesmo a fazer sugestões nesse sentido, mas, salvo um único caso não fui suficientemente convincente.

A informação que se segue foi resultado de trabalho e investigação feita por José Martins (Post 20057 de 14 de Agosto de 2019) a quem, com a devida vénia, peço autorização para “copiar’ a informação que passo a descrever:

MAMADU JALO, Soldado de Infantaria de 2a classe nº 925/64
CC 1439/Batalhão de de Caçadores nº 697 - RI 15 GUINÉ
Grau Cobre, com palma

NAUSER SANA, Caçador Auxiliar
Medalha da Cruz de Guerra 4a classe

BRAMA LAI, Xime (civil contratado )
Medalha 4a classe

ADÃO CANALA, Xime, Caçador Nativo
Medalha de 1ª classe

ANTÓNIO NUNES LOPES,  Furriel Miliciano de Infantaria -
CC nº 1439 - BII 19 – 3ª CLASSE

JOAO FRANCISCO CRISOSTOMO, Alferes Miliciano de Infantaria
CC nº 1439 - BII 19 - 4ª CLASSE

AMÂNDIO MANUEL PIRES, Capitão Miliciano de Infantaria
CC nº 1439 - BII 19 – 2ª CLASSE

LUIS MANUEL ZAGALO DE MATOS, Alferes Miliciano de Infantaria
CC nº 1439 - BII 19 – 4ª CLASSE

JOÃO FERNANDES BARRADAS, 1º Cabo de Infantaria, n º 584/65
CC nº 1439/Batalhão de Caçadores nº 1888 - BII 19 4ª CLASSE

FERNANDO MACEDO RODRIGUES , Soldado de Infantaria, nº 9244165
CC nº 1439 - BII 19 - 4ª CLASSE

AGOSTINHO DA TRINDADE BAPTISTA, Soldado de Infantaria, nº 7158865
CC nº 1439 - BII 19 – 4ª CLASSE

MANUEL EUSÉBIO NASCIMENTO FERNANDES, Soldado cozinheiro, nº 3715565
CC nº 1439 - BII 19 – 4ª CLASSE

SORI BALDÉ, 1º Cabo da Polícia Administrativa, nº 240/64
CTIG - 4º CLASSE

QUEMÁ NANQUI - Civil, Caçador Nativo
CTIG - 4ª CLASSE

QUEBÁ SONCO, (Filho do Régulo de Missirá)
Caçador Nativo - - Civil - CTIG - 4ª CLASSE

JULIO MARTINS PEREIRA, Soldado Telefonista nº 2652365
CC nº 1439 - BII 19 – 4ª CLASSE

ANTÓNIO DOS SANTOS CAMPOS, Soldado Condutor Auto nº 5406064
CC nº 1439 - BII 19 – 4ª CLASSE

FRANCISCO PINHO DA COSTA, Alferes Miliciano Médico
CC nº 1439 - BII 19 – 3ª

(Continua)
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Nota do editor:

(*) Postes anteriores da série



domingo, 11 de abril de 2021

Guiné 61/74 - P22096: Os nossos seres, saberes e lazeres (447): A minha terra, Pica, onde nasci, cresci e de onde, em 1961, parti para Mafra frequentar o CSM (Manuel Barros Castro, ex-Fur Mil Enfermeiro da CCAÇ 414)


1. Mensagem do nosso camarada Manuel Barros Castro, ex-Fur Mil Enfermeiro da CCAÇ 414, Catió (1963/64) e Cabo Verde (1964/65), com data de 10 de Abril de 2021:


A MINHA TERRA

A minha terra, a Pica, obviamente, é o local onde nasci, cresci e de onde, em 1961, parti para Mafra frequentar o CSM, o primeiro passo rumo à Guiné Bissau.

A Pica, é um lugar que se divide por duas freguesias do concelho de Fafe: São Gens e Quinchães. Outrora centro de passagem da estrada «romana» Chaves/Porto possuía uma estalagem, cuja construção e escadas em meia lua, de acesso ao primeiro andar, foram, há cerca de dois anos, lamentavelmente demolidas. Aqui, era paragem obrigatória para descanso dos transeuntes e mudança dos cavalos das diligências.

São Gens, a minha naturalidade, vem da idade média onde existiu o Mosteiro de S. Gens e S. Bartolomeu de Montelongo, fundado pelos beneditinos, datado do século XI e será de origem «românica». Diz-se ter pertencido ao Convento de S. Miguel de Refojos, em Cabeceiras de Basto, também beneditino mas, segundo o distinto medievalista Pe. Prof. Doutor José Marques, tratando da sua extinção, poderá ser de existência anterior e foi extinta no período de 13 07 1159 a 10 03 1165.

Adianta ainda, este insigne historiador, que São Gens constituiu, tanto na fase monástica como na de colegiada, uma das instituições mais importantes desta circunscrição eclesiástica e civil.

Em 1528 passaria a anexo da Colegiada de Guimarães, sendo mais tarde convertida em colegiada de Montelongo, primeira circunscrição originária do actual concelho de Fafe.

Presentemente, com excepção da porta lateral sul, pouco resta da primitiva construção «românica» da Igreja, devido às alterações efectuadas ao longo dos séculos.

Construída de fino granito, é a porta de volta redonda e quase desprovida de ornatos, pois os próprios capitéis das colunas que a ladeiam são apenas indicados por carrancas estilizadas.


Na parte posterior da igreja, ergue se, altivo, o «torreão sineiro», presumivelmente « medieval », em granito.

No adro, ainda hoje, com sinais de 4 campas, e no interior da igreja achavam se, no século XVIII e até mais tarde, (ainda me lembro de as ver), diversas sepulturas, algumas seguramente do século XIII.
No corpo superior ( lugar dos homens) uma campa com armas e letreiro, muito bem feito, de Francisco Alvares do Canto, cavaleiro fidalgo da Casa Real e Capitão Mor de Monte Longo.


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Nota do editor

Último poste da série de 10 de Abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22090: Os nossos seres, saberes e lazeres (446): Quando vi nascer a Avenida de Roma (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P22095: Blogpoesia (728): "Santa Páscoa"; O bico do lápis"; "A vida volta a nascer com os gatos atrás" e "A eternidade", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação semanal de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, CachilCatió e Bissau, 1964/66):


Santa Páscoa

- O Senhor lhes dê uma Santa Páscoa!
Era a saudação da gente da minha aldeia nos meus tempos de criança.
Tempos bons. Com valores.
Onde quem reinava era o Senhor.
Havia paz. Havia justiça e solidariedade.
O povo vivia mais renitente às futilidades do modernismo.
Quase tudo desapareceu.
Apenas ficou a saudade e a pena de que tudo secasse.


Ouvindo Schubert- Impromptus

Berlim, 4 de Abril de 2021
17h40m
Jlmg


********************

O bico do lápis

Atiço-lhe o fogo em brasa,
A inspiração.
Como um foguete desatinado
Ele rodopia sobre a tela e a paleta.
Descreve riscos e arabescos.
Escreve letras.
Desenha tons e sons de melodias.
Sonetes de alecrim.
Como flores num jardim às cores.
É um céu a arder
No sol , ao nascer de cada dia.
Ou a lua da saudade,
Ao escurecer de cada noite.
Quando é a hora da saudade,
Onde campeia a saudade estrema,
Em rimas doces de harmonia.


Berlim, 5 de Abril de 2021
8h12m
Jlmg


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A vida voltava a nascer com os gatos atrás

Como era bom vê-lo a subir a costeira de Pedra Maria.
Vinha da Longra. A carroça com ele.
Fazer bem era seu dom.
A tigela da sopa.
Comprada na feira,
Caíra ao chão, desfeita em cacos.
Guardados num cesto,
Esperava o médico.
Com suturas e pensos,
Endireitava os ossos,
A carne sarava
E, de novo a sopa,
Voltava a ferver...


Berlim, 6 de Abril de 2021
17h55m
Jlmg


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A eternidade

Alcandorada no alto dos céus,
Vive oculta à fraqueza de quem desiste à primeira dificuldade.
De quem não afronta com confiança
A esperança de alcançar.
O esplendor das montanhas exige esforço.
Vencer as escarpas e os desfiladeiros
Só é de quem arregaça as mangas e e se entrega corajoso.
Desistir é próprio dos fracos
E dos fracos "não reza a história"...
Para alcançar a eternidade é preciso extinguir os egoísmos
Que semeiam o mal e as injustiças geradoras da guerra,
Rainha de todos os males que grassam pelo mundo.


Ouvindo Tanhauser de Wagner

Berlim, 8 de Abril de 2021
8h47m
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 4 DE ABRIL DE 2021 > Guiné 61/74 - P22067: Blogpoesia (727): "Na beira da estrada"; Os sinos da minha aldeia"; "Conformação" e "Trocar as voltas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P22094: Facebook...ando (63): fotos de Nova Sintra, 2ª C/BART 6520/72: entrega do destacamento ao PAIGC, em 17 de julho de 1974 (Mário Ferreira / Carlos Barros)

Foto nº 1 

Foto nº 2


Foto nº 3

Foto nº 4

Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > 2ª C/BART 6520/72 (1972/74) > 17 de julho de 1974 >  Retração do dispositivo > Entrega do destacamento ao PAIG


1. Fotos postadas na página do Facebook da Tabanca Grande, com data de 6 do corrente, pelo nosso camarada Carlos Barros, com a seguinte lacónica legenda:

(i) Entrega do destacamento de Nova Sintra, Setor do Quínara, em 17/7/1974:  Entrada dos guerrilheiros do PAIGC em Nova Sintra. Realce-se que não houve problemas e existiu uma confiança mútua,o que é de de salientar. Eu estive lá (ex-furriel Barros, 3º Pelotão,  2ª CART / Bart 6520). [Fotos nºs 1, 2, 3 e 4] (*)

(ii) Agradeço estas fotografias ao soldado amigo do meu Pelotão (3º), Mário Ferreira , da Trofa que me enviou hoje mesmo. Bem como mais estas duas [em baixo, Fotos nº 5 e 6]: Mais um patrulhamento em Nova Sintra (23 de fevereiro de 1973) [Foto nº 5]; e Reabastecimento em Lala, cais, em Nova Sintra (15 março de 1973) [Foto nº 6]. (**)


Foto nº 5

Foto nº 6

Fotos (e legendas): © Mário Ferreira / Carlos Barros  (2021). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Notas do editor:

(*) Vd. também poste de 2 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P21962: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (20): a entrega do nosso destacamento aos guerrilheiros do PAIGC, em 17 de julho de 1974

[Sabemos, pelo Carlos Barros, que no  ato  estiveram presentes, entre outros, o comandante do Setor do PAIGC, Quinto Cabi; e pelas NT,  o Tenente-Coronel Fernando José de Almeida Mira (já falecido,   comandante do BART 6520/72, com sede em Tite); e o Capitão Mil Inf João Barbosa Machado, cmdt da 2ª C / BART 6520/72, de Nova Sintra.]

(**) Último poste da série >  de março de 021 > Guiné 61/74 - P21986: Facebook...ando (62): Um dos que participou na Op Mar Verde foi o 2.º Srgt Fuzileiro Domingos Demba Djassi, a quem dei trabalho depois de desmobilizado, e que desapareceu em 21 de março de 1975 (Mário de Oliveira, BIssau e Alcaide, Fundão)

Guiné 61/74 - P22093: Parabéns a você (1950): Jorge Picado, ex-Cap Mil, CMDT da CCAÇ 2589/BCAÇ 2885 e da CART 2732 (Mansoa, Mansabá e Teixeira Pinto no CAOP 1, 1970/72)

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Nota do editor

Último poste da série de 9 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22084: Parabéns a você (1949): Jorge Canhão, ex-Fur Mil Inf da 3.ª C/BCAÇ 4612/72 (Mansoa, 1972/74); Mário Vitorino Gaspar, ex-Fur Mil Art MA da CART 1659 (Gadamael e Ganturé, 1967/68) e Cor PilAv Ref Miguel Pessoa, ex-Ten PilAv da Esquadra 121/GO 1201/BA 12 (Bissau, 1972/74)