quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Guiné 61/74 - P22526: Histórias... com abracelos do Carlos Arnaut (ex-alf mil, 16º Pel Art, Binar, Cabuca, Dara, 1970/72)(5): O jogo do ouri (ou mancala)


1. Mensagem de Carlos Arnaut, ex-alf mil, 16º Pel Art, Binar, Cabuca, Dara, 1970/72)

Data - segunda, 16/08/2021, 13:12



Assunto - Jogos ancestrais (*)


Bom dia, Caro Luís,

Em primeiro lugar o meu desejo de óptimas férias a todos os camaradas, num tempo em que a ameaça que sobre nós pairou parece estar finalmente a desvanecer-se (com ajuda da Marinha).

Deparei num Blog de que sou leitor assíduo, e no seguimento de comentários avulsos sobre o xadrez, jogo de que sou fã, uma referência a um jogo "mancala", que em tempos idos seria jogado pelos árabes e de que existem vestígios no Alentejo.

Este jogo, também ele um jogo de estratégia para dois jogadores, consistiria na transferência de punhados de pedrinhas de cova para cova até se atingir o lado oposto.

A descrição não vai mais além, mas desde logo me recordou aquilo que observei vezes sem conta ser jogado nas zonas por onde andei, na Guiné.

Utilizando-se um madeiro com duas fiadas de covas, os jogadores iam tirando o que me parecia serem umas sementes grandes e arredondadas, de uma cova e vertendo-as noutra ou noutras covas, não tendo eu nunca entendido nem as regras nem quem seria o vencedor.

Recordo-me no entanto que os jogadores estavam sempre altamente concentrados, às vezes com assistência, e tanto quanto me recordo os jogadores eram sempre homens feitos, nunca vi garotos entretidos com tal jogo.

Lembras-te de ter presenciado este jogo? Consegues adiantar mais alguma coisa?

Talvez o nosso amigo Cherno Baldé me consiga matar esta curiosidade, pois acredito que este jogo merece ser divulgado.

Se entenderes que este assunto vale a pena ser debatido, vai em frente.

Grande abraço (agora sim, já vacinado). 

Carlos Arnaut



O jogo de toda a Africa (Ouri, Wari, Solo, Mancala, Awélé, etc.) - Revista Jeux & Strategie, nº 7, Fev / Mar 1981. (Cortesia de Carlos Geraldes) (*)


2. Comentário do editor LG:


Carlos, para já vê aqui uma referência a "jogos tradicionias felupes"... 

Tu referes-te a um jogo de "tabuleiro" fula, de que tenho ideia de ver jogar em tabancas fulas, no meu tempo...  O único poste em que temos referência a esse jogo (um tipo de jogos de tabuleiro) é do falecido Carlos Geraldes (*) (ex-Alf Mil da CART 676, Pirada, Bajocunda e Paúnca, 1964/66).  Ele chamava-lhe ôri, mas a grafia correta, em português, é ouri ou uril.

Ab, boa saúde. Luís (, estou pelo Norte).

PS1- Vou reencaminhar a tua mensagem anterior para o Cherno Baldé, que nos vai ajudar.

PS2 - Grafia(s)

ouri
ouri | n. m.

ou·ri
(origem duvidosa)

nome masculino

[Jogos] Jogo de origem africana, disputado entre dois jogadores num tabuleiro com duas filas de cavidades ou casas, sob um conjunto de regras variáveis que permitem acumular e capturar peças, que geralmente são pedras ou sementes. = MANCALA, URIL

"ouri", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/ouri [consultado em 08-09-2021].

mancala
mancala | n. m.

man·ca·la
(inglês mancala, do árabe)

nome masculino

[Jogos] Designação dada a vários jogos africanos e asiáticos disputados entre dois jogadores num tabuleiro com várias cavidades, sob um conjunto de regras variáveis que permitem acumular e capturar peças, que geralmente são pedras ou sementes.
Palavras relacionadas: ouri, uril.

"mancala", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/mancala [consultado em 08-09-2021].

uril
uril | n. m.

u·ril
(origem duvidosa)

nome masculino

[Jogos] Jogo de origem africana, disputado entre dois jogadores num tabuleiro com duas filas de cavidades ou casas, sob um conjunto de regras variáveis que permitem acumular e capturar peças, que geralmente são pedras ou sementes.= MANCALA, OURIPlural: uris.
Palavras relacionadas: ouri.

"uril", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/uril [consultado em 08-09-2021].


4. Resposta do Cherno Baldé, com data de hoje, às 18h23:


Entre os povos muçulmanos e por influência destes também entre os outros grupos, há a prática do jogo de Xadrez designado na língua fula por "Txoqui" (ler Tchoqui) que deve ser a corruptela da palavra Xeque (do xeque-mate) de origem Arabe ou Oriental. 

Joga-se num tabuleiro improvisado no chão usando um certo número de paus de lado a lado e a técnica é a mesma da do Xadrez, mas aqui a lógica é bem mais simples pois os paus tem o mesmo estatuto e designação, não havendo hierarquia dos pioes ou paus usados no jogo e ganha o oponente que conseguir eliminar/comer o maior número dos paus do adversário mediante uma regra pré-estabelecida.

Por outro lado, pratica-se também o jogo designado na lingua fula por "Worri", este mais para adultos,  embora, como simples jogo de exercício mental em cálculos matemáticos, não existem fronteiras de idades na sua prática. 

Para o efeito utilizam-se pedrinhas ou carroços/sementes da palmeira dendém num instrumento talhado para o efeito com 5 buracos em cada lado ou simplesmente com buracos improvisados no chão. Ganha a partida o oponente que conseguir eliminar (sacar/comer) o maior número das pedrinhas/caroços do adversário mediante uma regra bem estabelecida. 

No geral são jogos/passatempos em períodos mortos quando não há muito que fazer no campo, durante a época seca e, ainda nas pastagens enquanto se espera pelo retorno do gado que está  pastar numa zona aberta de boa visibilidade e sem grandes riscos.

Com um abraço amigo,
Cherno Baldé
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Notas do editor:

(*) Último poste da série >8 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21867: Histórias... com abracelos do Carlos Arnaut (ex-alf mil, 16º Pel Art, Binar, Cabuca, Dara, 1970/72)(4): O meu saudoso Xico, um "macaco verde" que comprei a um garoto de Dara

Guiné 61/74 - P22525: Historiografia da presença portuguesa em África (279): O pensamento colonial dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa (16) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Dezembro de 2020:

Queridos amigos,
Devo aos técnicos da Sociedade de Geografia de Lisboa a atenção de me indicarem a bibliografia mais pertinente que pudesse de alguma forma trazer outros olhares sobre os conteúdos das atas das sessões do período referente desde a fundação da Sociedade até 1900. Obviamente que o leitor interessado tem ainda ao seu dispor o boletim da Sociedade, outro complemento útil para ir verificar os interesses científicos, as obras de engenharia, os rudimentos da Antropologia, o estudo das línguas étnicas, e muito mais. A questão central posta neste modesto levantamento foi o que pensavam, em termos de ideologia imperial, os fundadores da Sociedade de Geografia, e um conjunto de autores aqui indicados parece contextualizar bem as grandes pressões internacionais. Há, no entanto, uma lacuna que, em meu modesto entender, tem que ser preenchida por outra via historiográfica. Com efeito, não existia somente a via migratória para o Brasil, sucediam-se as crises políticas, e se é facto que o fontismo gerara a Regeneração, o sistema de alternância, o rotativismo, revelou-se incapaz de fazer associar a generalidade do país a poder abraçar, com genuíno entusiasmo, a causa do III Império, foi necessário produzir heróis entre exploradores das travessias africanas e conquistadores, como Mouzinho de Albuquerque. Mas toda aquela África Portuguesa teve uma ocupação incipiente, com todas as consequências que iremos conhecer em meados do século XX e que desaguarão nas independências da década de 1970.

Um abraço do
Mário



O pensamento colonial dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa (16)

Mário Beja Santos

"Viagens de Exploração Terrestre dos Portugueses em África", por Maria Emília Madeira Santos, conheceu duas edições, a que me foi dado ler na Biblioteca da Sociedade de Geografia é da Junta de Investigações Científicas do Ultramar, dada a ligação que a investigadora tinha com o Centro de Estudos de Cartografia Antiga, mas como o leitor pode ver na imagem há duas edições.

Classifico este trabalho como da maior importância, logo pelo seu sumário, tão atrativo para quem queira conhecer as ligações entre a Expansão Portuguesa e África ao longo dos séculos: fontes do conhecimento de África na Europa cristã antes da Expansão Portuguesa; primeiras viagens em terras do noroeste africano; caminhos para desvendar África no final do século XV, penetração na Guiné; o reino do Congo; o império do Preste João – mito e realidade; revelação do império de Monomotapa: missionários, soldados e mercadores neste império; o Cabo da Boa Esperança; Madagáscar e as naus da Índia; a Etiópia e o Nilo: dois enigmas; projetos de travessia – conquista da África Austral no século XVII; governantes, sertanejos, engenheiros, pilotos preparam a travessia de África; a expansão sertaneja no final do século XVIII a caminho da África Austral; a primeira tentativa de travessia científica da África Austral – o Dr. Lacerda e Almeida e a via Cazembe-Muatiânvua; a Lunda aceita o comércio português mas não a influência política; Portugal e o movimento geográfico europeu: expedição portuguesa ao interior da África Austral em 1877; Serpa Pinto atravessa África; a corrida a África: Capelo e Ivens executam a ligação das duas costas; Henrique de Carvalho explora a Lunda; expedição Pinheiro Chagas – a nova exploração africana.

A investigadora recorda-nos que entre 1876 e 1885 triunfara na Europa a ideologia colonial. Além da procura de matérias-primas e de novos mercados, os países europeus desejavam garantir-se pelo poder político e arvoraram-se em executivos predestinados de uma missão civilizadora. Em 1875, a Enciclopédia Britânica ao dar a explicação da palavra África insistia várias vezes no desconhecimento sobre aquele continente. As tentativas de penetração operaram-se através do Mediterrâneo, pela Tunísia e o Egito, foram pontos de partida para penetrações em direção à África Negra. A França utilizou a Argélia para atingir a foz do Níger e o oeste africano. A Inglaterra utilizou o vale do Nilo para penetrar na África Oriental. E, entretanto, apareceram novos competidores, a Bélgica e a Alemanha. Era exatamente na África Austral que o Império Colonial Português possuía as suas maiores colónias, era o polo de atração. Apercebendo-se desses apetites internacionais, gerou-se um entusiasmo em Portugal, era preciso conhecer a geografia e demarcar o nosso império africano. Teve entre nós forte repercussão a Conferência Geográfica de Bruxelas, convocada por Leopoldo II da Bélgica, em 1876 e em que tomaram parte a anfitriã, a Bélgica, a Inglaterra, a França, a Alemanha, a Áustria-Hungria e a Rússia, Portugal não foi convidado. Leopoldo II criou a Associação Internacional Africana destinada a servir os seus projetos colonialistas e surgiu um fenómeno novo, apareceram exploradores ao serviço das grandes potências, dispondo de muitas facilidades: Brazza, ao serviço da França, Stanley contratado por Leopoldo, disputam o domínio do Zaire, a grande via para o interior de África. A Inglaterra, pressionada pelas aspirações dos colonos do Cabo, segue o movimento dos Bóeres em direção ao Norte e lança as vistas para a Bechuanalândia, que se estendia do Zambeze até ao Orange. Progressivamente, entre 1876-1884, a África Central iria transformar-se no campo de rivalidades das potências europeias. Portugal ou era ignorado ou denegrido. Exploradores prestigiados, como Livingstone e Cameron, lançaram fortes críticas à administração portuguesa em África, acusavam o Governo Português de continuar a permitir o comércio de escravos. Portugal tinha uma questão de emigração que não era de fácil alteração: o polo de atração continuava a ser o Brasil, só a classe mercantil e um grupo de cientistas se interessava por África. Impunha-se uma nova via, veja-se os antecedentes do estudo da Geografia.

Estes estudos estavam muito prejudicados desde o encerramento da Sociedade Real Marítima, no princípio do século XIX. Em 1876 fundava-se a Comissão Central Permanente de Geografia, que surgiu pouco depois da Sociedade de Geografia de Lisboa. Nesse tempo o principal problema da geografia africana era ainda o estudo da sua complexa hidrografia. O curso do Zaire fora apenas contornado por Cameron, desconhecia-se a sua nascente. Na opinião de Luciano Cordeiro, a expedição portuguesa devia internar-se na bacia do Zaire, descobrindo-lhe as origens e quais as relações com o Zambeze e com os grandes lagos. Estes sócios-fundadores da Sociedade de Geografia acalentavam a esperança de ver os portugueses encontrarem melhores caminhos entre Angola e Moçambique. A opinião de Luciano Cordeiro era que se deveria fazer a travessia, opinião que contrastava com a de José Júlio Rodrigues, secretário da Comissão Central Permanente de Geografia, este considerava que o centro de África estava irremediavelmente perdido para Portugal, advogava que a expedição devia fazer somente o reconhecimento geográfico e económico das partes menos conhecidas.

O principal objetivo da expedição de 1877 acabou por ser o estudo do rio Cuango nas suas relações com o Zaire e com os territórios portugueses da costa ocidental. Nomearam-se três exploradores: Serpa Pinto, oficial do Exército, Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens, oficiais da Marinha. Desconhecia-se por esta altura que Stanley já tinha iniciado a descida do Grande Rio, o que tornava assim extemporâneos os projetos dos portugueses. Encetada a viagem, encontraram Stanley em Cabinda, ele acabava de descer o curso do rio. Decidiram então os exploradores portugueses fazer a viagem pelo Sul, partindo de Benguela e daqui dirigiram-se ao Bié. Começaram aqui os desentendimentos entre Serpa Pinto, Capelo e Ivens. No Bié, em casa de Silva Porto, manifestas as divergências, Serpa Pinto optou pela travessia de África enquanto que Capelo e Ivens definiram como objetivo da viagem o estudo do Cuango. Já separados, Capelo e Ivens dirigem-se para as nascentes do Cuanza, seguem depois para os Quiocos, um vai estudar o curso superior do Cuango e o outro segue a linha divisória das águas do Cuanza e do Cuango. Passaram por inúmeras dificuldades, atingem Malange, encontram o rio local e chegam à Fortaleza do Duque de Bragança e daqui seguem para o Cuango. Concluíram que era impossível o levantamento do Cuango.

Quanto a Serpa Pinto, ele atravessou o rico país dos Ambuelas, desceu o rio Ninda e chegou ao Zambeze; daqui alcançou o reino de Barotze onde obteve pirogas e navegou pelo Zambeze abaixo. Próximo da confluência do Cuango com o Zambeze encontrou os primeiros ingleses. Depois de muito penar chegou ao Transval. Em Pretória envia um telegrama para Lisboa, sossegou quem andava inquieto, o seu paradeiro era desconhecido. A parte da viagem que apresenta maior interesse, como Serpa Pinto reconheceu, é o percurso entre o Bié e o Zambeze, região completamente desconhecida dos geógrafos. Estava feita a travessia de África, mas a ligação entre Angola e Moçambique mais uma vez falhara.

A Sociedade de Geografia de Lisboa pede ao governo em 1880 a continuação das explorações geográficas e a fundação de missões religiosas e estações civilizadoras. Foi durante o ministério de Manuel Pinheiro Chagas que se pôs em marcha o vasto plano mais tarde conhecido pelo Mapa Cor-de-Rosa. Neste tempo o objetivo era bem claro: tentava-se definir o domínio português em África. Em novembro de 1883, Pinheiro Chagas criava a Comissão de Cartografia junto do Ministério da Marinha e Ultramar. Iniciaram-se imediatamente os trabalhos para a elaboração de um atlas geral de todas as colónias. Em 1884 organizaram-se nada menos do que três grandes exposições: Capelo e Ivens cruzaram a África de Angola a Moçambique; Serpa Pinto e Augusto Cardoso exploraram o norte de Moçambique, tendo o segundo atingido o Niassa; Henrique de Carvalho percorria a Lunda até ao Muatiânvua. António Maria Cardoso viajava nas terras de Gaza e Inhambane, Paiva de Andrade avançava de Quelimane até Gaza, Artur de Paiva explorava o Cubango, e enquanto tudo isto se passa as missões católicas de S. Salvador do Congo e do Huíla entraram em intensa atividade.

Com a recensão desta obra de Maria Emília Madeira Santos dá-se por concluída a apresentação de uma bibliografia complementar que permite aos interessados encontrar fontes documentais que expliquem com mais desenvolvimento o pensamento imperial destes fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa, eles foram determinantes para a consolidação do III Império Português.

Mapa do continente africano do século XVII, elaborado por Guilherme Blaeu (1571-1638).
Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens
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Nota do editor

Último poste da série de 1 DE SETEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22503: Historiografia da presença portuguesa em África (278): O pensamento colonial dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa (15) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P22524: Agenda cultural (782): Apresentação, pelo cor Vasco Lourenço, na Feira do Livro de Lisboa, sexta-feira, dia 10, às 15h00, do livro de Moisés Cayetano Rosado, "Salgueiro Maia: das Guerras em África à Revolução dos Cravos" (Edições Colibri, 2021, 210 pp.)

 

Convite das Edições Colibri, que nos chegou por intermédio do nosso camarada Mário Gaspar: apresentação do livro de Moisés Cayetano Rosado, "Salgueiro Maia: das Guerras em África à Revolução dos Cravos" (2021, 210 pp.).  Data e local: 10 de setembro de 2021, sexta-feira, às 15h00, na Feira do Livro de Lisboa, Auditório Nascente, Parque Eduardo VII, Lisboa


Trata-se da tradução portuguesa da edição original em espanhol, “Salgueiro Maia – de las Guerras en África a la Revolución de los Claveles y su Evolución Posterior”.

"Moisés Cayetano Rosado, o autor da obra Salgueiro Maia, tem a particularidade de poder olhar, de forma mais distanciada e desapaixonada, os acontecimentos que narra nesta obra diferentemente de autores portugueses que se têm dedicado aos temas da Descolonização, do 25 de Abril e da ação e personalidade do Capitão Salgueiro Maia.

"É um historiador, interventivo e corajoso, na busca da verdade histórica e da defesa e salvaguarda da cultura do seu país, mas também apaixonado pelo seu país vizinho – Portugal – participando na organização de inúmeros eventos literários e culturais.
Nasceu em La Roca de la Sierra (Badajoz, Espanha), em 1951. É licenciado em Filosofia e Ciências da Educação. Mestre em Instrução Primária e tem doutoramento em Geografia e História." (Fonte_ Wook)
.

Sinopse do livro (excerto do prefácio, do Presidente da República, Prof. Doutor Marcelo Rebelo de Sousa):

“Foi há quarenta e dois anos!

Um homem em cima de uma Chaimite. Que interpela o poder que está a cair, enquanto o novo poder tarda em chegar.

Simples. Sem ambições de mando ou de glória.

Que ali está porque sente dever cumprir aquela missão militar, que é também e acima de tudo cívica.

Que não pensa um segundo sequer no simbolismo daquela presença, nem no significado histórico daquele momento.

Que, terminada a missão, regressa ao quartel, para voltar a ser o que era. Com a naturalidade de quem não reclama louros, nem aspira a celebridade.

À sua maneira, Salgueiro Maia deu expressão a um povo e a uma maneira de ser e de viver ao longo dos séculos. (…)

Salgueiro Maia foi o retrato desse povo, que é o que Portugal tem de melhor. (…)

Foi esse povo que fez Portugal. E, nele, os soldados de Portugal. Sem ele e eles os chefes mais ilustres não teriam triunfado, os políticos mais brilhantes não teriam vencido, os empreendedores mais visionários não teriam criado.”


Fonte: Edições Colibri, página no Facebook

Guiné 61/74 - P22523: (De)Caras (175): Gente fixe, gente limiana, de Ponte de Lima, os nossos camaradas Manuel Oliveira Pereira (ex-fur mil, CCAÇ 3547 / BCAÇ 3884, Contuboel, 1972//74) e Mário Leitão (ex- fur mil, Farmácia Militar de Luanda, Delegação n.º 11 do Laboratório Militar de Produtos Químicos e Farmacêuticos, 1971/73)

Ponte de Lima > 6 de setembro de 2021 > Junto ao posto de turismo e torre da cadeia velha, três bons amigos e camaradas: da esquerda para a direita, o Manuel Oliveira Pereira (ex-fur mil, CCAÇ 3547 / BCAÇ 3884 (Contuboel, 1972//74) e hoje jurista reformado;  o nosso editor Luís Graça, em visita à terra;  e o Mário Leitão [ex- fur mil na Farmácia Militar de Luanda, Delegação n.º 11 do Laboratório Militar de Produtos Químicos e Farmacêuticos (LMPQF), 1971/73; famacêutico reformado, escritor, autor, entre outros, do livro "História do Dia do Combatente Limiano", lançado em 2019 no Museu da Farmácia, em Lisboa]... Ao fundo, os cunhados do Luís Graça, Ana Carneiro (Nitas) e Augusto Pinto Soares (Gusto). A foto foi tirada pela Alice Carneiro.


Ponte de Lima > 6 de setembro de 2021 > O Mário Leitão em sua casa, com o nosso editor Luís Graça. A  foto foi tirada pela Lula (diminuitivo da Lurdes, a eposa do Mário)


Fotos (e legendas): © Mário Leitão (2021). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Foi uma visita rápida a Ponte de Lima, para almoçar e visitar Festival Internacional de Jardins de Ponte de Lima, este ano na sua 16.ª edição, e tendo por tema "As Religiões nos Jardins". ( O evento encerra no dia 31 de Outubro.)

O nosso editor, dadas as suas atuais limitações de mobilidade, não fez (nem podia fazer) o percurso da exposição, antes aproveitando o convite do Mário Leitão para ir a sua casa tomar um café e dar dois dedos de conversa. E foi evidente regozijo que soube que o Mário Leitão tinha acabado de escrever o seu últmo livro, uma autobiografia (parcialmente ficcionada), com o título provisório de "O aprendiz de mágico"... Ainda sem planos editoriais, madou fazer um tradução em inglês do manuscrito que promete vir a confirmar o talento literário do nosso camarada.  Não descartou a hipótese de o livro ter um lançamento, para o próximo ano, de novo em Lisboa e, porque não, no Museu da Farmácia.

À tarde, o Manuel Oliveira Pereira não pôde juntar-se a nós, por compromissos já anteriormente assumidos. Mas gostei de o ver, a ele, e ao Mário Leitão, ambos de boa saúde, ativos e produtivos.

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Nota do editor:

Último poste da série > 23 de agosto de 2021 > Guiné 61/74 - P22477: (De)Caras (139): Carlos de Azeredo (1930-2021), um homem digno, nobre e corajoso (José Belo, Suécia)

terça-feira, 7 de setembro de 2021

Guiné 61/74 - P22522: Fichas de unidades (19): A CCAÇ 423, a última companhia a deslocar-se para o sul (São João) por terra, em maio de 1963 (António Abrantes)



António Abrantes, hoje e ontem



Data - 7 set 2021 12:22  
Assunto - Última Companhia a deslocar-se por terra para o sul da Guiné.

A CCaç 423 foi a última Companhia a deslocar-se para o sul da Guiné por via terrestre, tendo saído de Bissau em 7 de Maio de 1963, logo de manhã, e passado por Nhacra, onde na época acabava a estrada alcatroada e chegado a Mansoa.

Aí efectuou a primeira paragem, seguindo por estrada de terra (não havia outra) e com uma poeira infernal chegámos a Mansabá, onde numa serração abandonada, vi recibos de pagamento diário ao pessoal de um escudo e um escudo e cinquenta (!).

Chegados a Bafatá para almoçar (já tarde), estávamos irreconhecíveis.  Banho rápido, almoço e siga que se faz tarde... rumo a Aldeia Formosa, hoje Quebo, passando a ponte do Saltinho, única ponte digna desse nome, as outras, mais pequenas, eram compostas por umas travessas com umas tábuas ao longo da ponte e em que era preciso acertar com os rodados das viaturas, o que nem sempre acontecia, e quando eu reclamava o condutor dizia: "o que quer, meu alferes, eu tirei a carta com um Jipão brasileiro".

No dia seguinte, 8 de Maio, partimos para Buba, onde chegámos já de noite, não sem antes sofrermos a primeira emboscada, perto de Buba, no depois "célebre cruzamento de Buba", pela quantidade de emboscadas sofridas pelas NT, a ponto de não haver uma única árvore que não tivesse um palmo sem o impacto de uma bala nossa ou do IN. 

Nessa primeira emboscada estivemos cerca de 15 a 20 minutos (que pareceram horas) parados em zona de fogo, valendo-nos o facto de o IN estarmos abrigados em buracos e, dado o nosso potencial de fogo, (aqui já iam duas Companhias, suponho que era a C CAÇ 413), não saíam dos abrigos e ao dispararem as balas passavam por cima de nós, de um lado e do outro, ficando nós como que num túnel. 

Mesmo assim uma granada caiu na minha GMC, dois soldados ao meu lado, e o militar que a apanhou nos joelhos, deitou-a e ...ela explodiu fazendo abanar a viatura. O soldado que teve a granada nos joelhos, teve então consciência do que havia sucedido e desmaiou, tendo o furriel enfermeiro, vindo de outra viatura, prestar-lhe a devida assistência. 

Entretanto o fogo inimigo parara, mas o mato começou a arder junto às viaturas e então ouvia-se, no meio da escuridão: "filho da puta chega à frente", sem sabermos que não podíamos avançar porque a autometralhadora caíra num buraco feito pelo IN e tapado com ramos de árvore e terra e não conseguia sair.

Poucos minutos depois chegámos a Buba, onde a GMC ardeu e houve que retirá-la para uma extremidade do aquartelamento junto ao rio, e não pegar fogo às outras viaturas. Com a confusão gerada o Comandante da Companhia de Buba teve receio que o IN atacasse o aquartelamento e mandou-nos reforçar a segurança, mas... nada aconteceu.

No dia 10 de Maio seguimos viagem por Fulacunda Bianga (onde eu mais tarde, a 2 de Julho,  sofri uma emboscada debaixo de uma chuvada como só há na GUINÉ, e no dia seguinte a primeira mina, no regresso a São João). 

Seguiu-se Brandão e depois Nova Sintra e em cujo trajecto, feito quase todo a pé, retirámos dezenas de abatizes, embora a Força Aérea nos tenha informado que eram 22 (!). Sofremos a segunda emboscada e alguns tiros esporádicos ao retirar algumas árvores.

Na zona de Brandão  já não tínhamos água e recorremos a um charco e água coada por um lenço, só para molhar a boca. O dia estava no fim e embora perto do nosso destino, São João, havia ainda muitas árvores a retirar e em Nova Sintra desviámos para Tite por esta estrada estar desempedida.

Aí, em Tite, recebi ordem para ir, no outro dia, de barco desde o Enxusé (cais a alguns quilómetros de Tite), com o meu pelotão reforçado e metade dos cozinheiros, desembarcar em São João, onde uma Companhia não tinha conseguido fazê-lo, e ter lá uma refeição quente para o pessoal que ia por terra.

Ao que eu perguntei: "Qual o cozinheiro que corto ao meio?!", uma vez que eram 3 por um ter sido evacuado para Bissau, com um tiro no cu, na realidade numa nádega. Pretendia com isso ganhar tempo e provar que era uma Ordem mal dada. 

Efectivamente pouco depois chegou uma mensagem-rádio de Bissau, a dizer que ía a Companhia toda de barco. De facto, em 13 de Maio, a Companhia seguiu para o Enxudé, onde embarcou na draga Geba (soube algum tempo depois que esta tinha sacos de cimento a tapar buracos no casco, os quais serviam também de lastro), passou ao largo de Bissau e de tarde seguiu para Bolama.

Como devido à mare e à carga que levava não podia passar na chamada "coroa de Bolama", entre as ilhas e o continente, (mais tarde fiquei lá num barco, a seco, aguardando nova maré) foi por fora, ou seja, em mar aberto, tendo apanhado um temporal incrivel, a ponto do piloto ter dito que em 20 anos de Guiné nunca apanhara nada assim. Pensou-se em lancar uma ou duas viaturas ao mar mas ainda bem que não se fez, pois suponho que com o balanço iria tudo ao fundo.

Noite escura (13 para 14 de Maio), temporal, a época das chuvas começava a 15, havia quem não sabendo rezar, pedia a outros para o ensinarem... Com o amanhecer chegamos a Bolama, ou melhor entre Bolama e São João, almocámos (os oficiais) no NRP Vouga, ali fundeado,  e planeámos com os fuzileiros o desembarque, passámos para uma lancha de desembarque e com os fuzileiros e a proteccão de dois avioes da FAP, suponho que T6, desembarcámos em São João  (tipo desembarque na Normandia) sem um único tiro,  tirando partido do efeito surpresa.

Um grande abraco
A. R. Abrantes

Obs. Peço desculpa mas o meu IPad na parte final teve problemas.


2. Comentário do editor LG:

Temos 14 referências à CCAÇ 423.  Depois do ex-alf mil António Abrantes (n.º 748), entrou para a Tabanca Grande o fur mil Gonçalo Inocentes (Matheos), com o n.º 810. De rendição individual, esteve  depois CCAV 488 / BCAV 490 (tendo passado por Bissau, Bolama, S. João, Jabadá e Jumbembem, entre 8 de abril de 1964 e 14 de agosto e 1965).

 A CCAÇ 423, "independente", é uma das primeiras subunidades a ser mobilizada para a Guiné: pertencia ao RI 15, partiu em 16/4/1963 e regressou, dois anos depois, em 29/4/1965. Esteve em São João e em Tite, mas também em Jabadá (1 grupo de combate). O comandante era o cap inf Nuno Gonçalves dos Santos Basto Machado.

Terá sido a primeira a conhecer o pesadelo das minas A/C e dos fornilhos.

Fichas de unidades > Companhia de Caçadores n.º 423 (**)

Identificação: CCaç 423
Unidade Mob: RI 15 - Tomar
Cmdt: Cap Inf Nuno Gonçalves dos Santos Basto Machado
Divisa: -
Partida: Embarque em 16Abr63; desembarque em 22Abr63 | Regresso: Embarque em 29Abr65

Síntese da Actividade Operacional

Após o desembarque, foi atribuída, por um curto período, em reforço do BCaç 236, a fim de colaborar na segurança e protecção das instalações e das populações da área de Bissau, até à chegada da CCaç 526.

Na sequência de uma série de acções ofensivas desencadeadas pelo BCaç 237 na área Jabadá-Gã Chiquinho, em fins de Abr63, seguiu, em 07Mai63, por Bafatá-Xitole-Bambadinca-Fulacunda, para ocupar a povoação de S. João, que atingiu em 6Mai63, correspondendo à criação do respectivo subsector, na zona de acção do referido BCaç 237.

De 01 a 27Jun63, tomou ainda parte em operações sob controlo operacional do BCaç 356, realizadas na região de Iusse (Quínara), em conjunto com outras subunidades, nomeadamente na Op Seta.

Em 24Abr65, foi rendida, por troca, pela CCav 677, tendo seguido para Tite, onde permaneceu temporariamente até chegada da CCaç 797, após o que recolheu em 29Abr65 a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.

Observações - Não tem História da Unidade.

Fonte: Excerto de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas das Unidades: Tomo II - Guiné - 1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002, pág. 318

Guiné 61/74 - P22521: Ser solidário (239): Para as crianças deslocadas em Moçambique, a Escola é uma primeira casa - Uma iniciativa da Helpo - Organização Não Governamental para o Desenvolvimento (Manuel Gonçalves, ex-Alf Mil)



1. Mensagem do nosso camarada Manuel Gonçalves, ex-Alf Mil Manut da CCS/BCAÇ 3852 (Aldeia Formosa, 1971/73), com data de 6 de Setembro de 2021:

Boa noite
Venho por este meio partilhar com os meus contactos, a campanha que está a decorrer, numa parceria Helpo-Pingo Doce, de apoio às crianças no norte de Moçambique, como abaixo se pormenoriza.

Grato pela vossa solidariedade.
Manuel Gonçalves


Para as crianças deslocadas, a escola é uma primeira casa. No norte de Moçambique, 400 mil crianças ficaram sem casa, mas não têm que ficar sem escola. De 1 a 13 de setembro, compre um vale numa loja Pingo Doce e ajude na educação destas crianças.
Helpo - O nosso mundo é humano - Organização Não Governamental para o Desenvolvimento
Depois da entrega de kits de sobrevivência e das visitas domiciliárias, voltámos a encontrar-nos com as primeiras 330 famílias em Cabo Delgado, desta vez para entregar um kit casa e kit roupa por família.
Temos vindo a apostar na qualidade de ensino, formação, manutenção das escolinhas, atividades comunitárias, criação de atividades de geração de rendimento, que contribuem para a autossustentabilidade dos centros.
47 alunos deslocados internos de Impire já não terão de percorrer 10km a pé para chegar à escola.
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Nota do editor

Último poste da série de 25 DE JUNHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22314: Ser solidário (238): Ainda é possível fazer, até ao fim do mês, a consignação do IRS a favor da ONGD "Ajuda Amiga", NIPC 508617910, de que é presidente da direção o nosso camarada e amigo Carlos Fortunato, ajudando assim a finalizar a contrução da escola de Nhenque, Bissorã, que deve entrar em funcionamento no ano lectivo de 2021/22

Guiné 61/74 - P22520: Memória dos lugares (426): Paço, União das Freguesias de São Bartolomeu dos Galegos e Moledo, Lourinhã, inaugura o seu monumento aos antigos combatentes (46 no total estiveram presentes nos vários teatros de operações do séc. XX, da I Grande Guerra à Guerra do Ultramar)


Lourinhã > União das Freguesias de São Bartolomeu dos Galegos e Moledo >Paço > 29 de Agosto de 2021 > Inauguração do Monumento aos Combatentes > Na imagem, o representante da comissão local que esteve na origem deste projeto, Tito Franco Caetano. Outras intervenções: D. Rui Valério, bispo das Forças Armadas e Segurança, presidente da junta de freguesia, Zita Silva,
  vice-presidente da Liga dos Combatentes, maj gen Fernando Aguda, e presidente do município da Lourinhã, João Duarte.

(Fotograma obtido do vídeo da 102FMTV - Peniche, com a devida vénia.)


1. Mensagem do nosso camarada e amigo Joaquim da Silva Jorge, régulo da Tabanca de Ferrel / Peniche, ex-alf mil, CCAÇ 616, Empada, 1964/66, BCAÇ 619, Catió, 1964/66),

Data - segunda, 23/08/2021, 11:42


Assunto - Inauguração do monumento dos combatentes do lugar do Paço

Caro Amigo Luís Graça

Bom dia.

No próximo domingo, dia 29, vai ser inaugurado o monumento aos ex-combatentes
do lugar do Paço. O lugar do Paço tem a característica de pertencer a duas Juntas de
Freguesia, a dois concelhos e a dois distritos. 

O nosso amigo Tito Caetano é o chefe de tabanca lá do sítio. Esta obra é de iniciativa dele. Até o projeto foi ele que o fez.

As cerimónias serão da parte da tarde. Ainda hoje espero falar com ele e depois
mando-te o programa.
Um abraço,

2. Comentário do editor LG:

Joaquim, não me foi possível lá estar. Mas vi a notícia, nas redes sociais, Foi um evento com alguma pompa e circunstância e bastante participação popular.

Parabéns ao Tito Franco Caetano e demais boas gentes do Paço, terra que pertence à União das Freguesias de São Bartolomeu dos Galegos e Moledo, mas "onde já não passo há anos"... Não sabia, por exemplo, que se está estender para o concelho de Peniche. 

Li a notícia no jornal "Alvorada" (, com data de 12 de agosto último), que reproduzo com a devida vénia:

(...) A Comissão Pró-Monumento aos Militares do Paço, que estiveram nas frentes de guerra no século XX, agendaram para o próximo dia 29 de Agosto a inauguração de um memorial, a realizar nesta localidade da União das Freguesias de São Bartolomeu dos Galegos e Moledo. O programa do evento tem início marcado para as 15h00 com a recepção às entidades oficiais, seguindo-se, pelas 15h30, uma cerimónia religiosa que incluirá missa campal no adro da Igreja do Paço em honra dos militares falecidos. A inauguração do memorial está marcada para as 16h45. Recorde-se que esta inauguração esteve agendada para 25 de Julho, mas devido aos constrangimentos causados pela pandemia de Covid-19, foi adiada.

Segundo explicou ao ALVORADA Tito Franco Caetano, membro da comissão, o memorial está instalado no Largo da Igreja, ficando também junto do edifício da escola primária, “tendo bem perto os lavadouros públicos, num espaço bonito, bem arranjado e de muito simbolismo para a população”. 

Este ex-combatente referiu que o monumento pretende perpetuar os militares do Paço que participaram na I Guerra Mundial, passando pela invasão pela Índia à antiga colónia portuguesa e terminando com a Guerra do Ultramar. Estes teatros de operações militares contaram com o envolvimento de um total de 46 militares da povoação lourinhanense.

Este monumento é, segundo Tito Franco Caetano, um projecto da sociedade civil, que o desenhou e concebeu na sua totalidade, “mas quando colocado junto dos responsáveis da Freguesia e do Município, no caso da presidente da União de Freguesias de São Bartolomeu dos Galegos e Moledo e do presidente da Câmara Municipal da Lourinhã, pela sua dignidade e conceito, obteve o seu apoio no imediato”, enalteceu o responsável. (...)

Um vídeo da 102 FMTV - Peniche, de 4'16'', disponível no You Tube, mostra o essencial do evento que contou com a presença do bispo das Forças Armadas e Segurança, D. Rui Valério, e representantes das autoridades civis e militares, bem como dos antigos combatentes do Paço, ainda vivos.

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Nota do editor:

Último poste da série > 1 de setembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22502: Memória dos lugares (425): Mafra, EPI, março de 1967: desfilando com o meu pelotão, o 1.º, da 1.ª Companhia de Instrução do COM, após o juramento de bandeira (Eduardo Moutinho Santos, advogado, Porto)

Guiné 61/74 - P22519: Notas de leitura (1379): Índice e contracapa da obra "Os Números da Guerra de África", de Pedro Marquês de Sousa (Guerra e Paz Editores, 2021, 384 pp.): "Vale a pena ler"! (A. Marques Lopes, cor art ref, DFA))







Índice e contracapa da da 
obra "Os Números da Guerra de África", de Pedro Marquês de Sousa (Guerra e Paz Editores, 2021, 384 pp.), a ser lançada em Lisboa no próximo dia 9, quinta-feira  (*)


1. Mensagem de A.Marques Lopes  Cor Art DFA, 
na reforma, ex-Alf Mil Art da CART 1690,
Geba, e CCAÇ 3, Barro (1967/68), membro sénior da Tabanca Grande, com 250 referências no blogue:


Data - 30/08/2021, 22:58
 

Assunto - Os Números da Guerra de África
 

Vale bem a pena ler! (14,40 € pelo correio). Seguem imagens da contracapa e índice. Abraços.


2. Comentário do editor LG:

António, não queres acrescentar mais uns tantos parágrafos para ser publicado como "nota de leitura", com o teu nome ? Há muito que não nos dás essa honra... Boa contiinuação do verão ou do que resta dele. Luís
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Notas do editor:

segunda-feira, 6 de setembro de 2021

Guiné 61/74 - P22518: Notas de leitura (1378): José Jamanca, Ussumane Baldé, o eterno retorno dos meus bravos (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Outubro de 2018:

Queridos amigos,
São coisas da vida, uma mudança de casa obriga a mexer em papéis e é neste insano guardar ou deitar fora que se atiça a memória, num contexto quase improvável, tudo se julgava já no seu devido lugar, o caso da correspondência que se entregou ao camarada Luís Graça, não se conhecia melhor prova de confiança e dedicação ao entrar de corpo inteiro no blogue. E aqui se fazem desabafos e se pede fraternalmente desculpa por alguma lamechice nesta polvorosa de recordações, cada um tem direito às suas, o absurdo (ou talvez não) é como elas estão tão vivas, pois a dedicação a tais pessoas, mesmo enviesada pelos alcatruzes da vida, foi e é plena.

Um abraço do
Mário



José Jamanca, Ussumane Baldé, o eterno retorno dos meus bravos

Beja Santos

Tudo começou com uma mudança de trastes, sai-se de uma casa e entra-se noutra, parece que nasce uma nova ordem, o que estava emparelhado pede agora uma outra configuração. Com a estante dos livros, é relativamente simples: o que está a mais, o que não se voltará a ler, é para oferecer, o resto aproxima-se entre a Literatura, a Arte, a História e tudo o mais. O pior são os papéis, as pastas de plástico com notas de viagem, até bilhetes de entrada em museus ou concertos, programas disto e daquilo, há que rasoirar, não se pode acumular tudo e portanto há que selecionar o que irremediavelmente vai para o lixo e aquilo que tem valor estimativo ou até mesmo sacramental, está metido na pele, deve conservar-se até ao último dia das nossas vidas, justifica a nossa presença, tem a ver com a nossa memória.

É nisto que se encontram papéis que já deviam estar noutros sítios, noutras mãos, coisas da Guiné, que falam alto de afetos, de gente desaparecida. Uma carta de Cherno Suane, o guarda-costas de alfero, o irmão que quis vir para Lisboa, que aqui trabalhou numa loja de eletrodomésticos, vivia no Largo de São Paulo, bem perto do Cais do Sodré. Desaparecido, uma terrível doença do foro respiratório liquidou-o em lume brando.

Cherno Suane.

Uma carta garatujada de Mamadu Camará, o 221, um turbulento Dom João que arranjava problemas na tabanca Mandinga, sempre endividado, a cobiçar os sapatos de alfero, a pedir adiantamentos, um soldado destimidíssimo, foi incorporado na 2.ª Companhia de Comandos, em Salancaur um tiro desfez-lhe um calcanhar, tudo se tentou até se chegar à amputação da perna. Vive entre a Pontinha e várias casas em Belfast, como ele diz, vai visitar os netos cor café com leite. Deve ser um tique irlandês, em qualquer estação do ano anda de gravata e colete, o que vemos aqui com pé firme no capim já não existe, temos agora um gentleman, um avô bondoso, de cabelo integralmente branco.

Mamadu Camará.

Entre folhas desirmanadas, solta-se esta fotografia do José Jamanca, uma saudade larvar toma-me por inteiro, regresso a Missirá, regulado do Cuor, em agosto de 1968, depois de Albino Amadu Baldé, o sargento que de facto comandava o pelotão de milícias n.º 101, quem falava o melhor português era Mamadu Baldé, o 86, que tinha vindo quase um ano a Lisboa, fazer cirurgia a um braço metralhado, e José Jamanca, que estudara numa escola missionária, com aproveitamento excecional. Exprimia-se soltando as sílabas todas, oferecendo-se para dar aulas aos meninos de Missirá, ainda na falta de professor, por decisão própria seguia à frente do nosso alfero, tal como aconteceu naquele dia de dezembro de 1968, em Chicri, num súbito encontro com uma coluna que vinha de Madina. Adorava conversar, queria continuar os seus estudos. Um dia partiu, rescindira o seu contrato como milícia. E anos depois, bateu à porta de alfero, em Lisboa. Tirara um curso de eletricista em Leningrado, trabalho em Lisboa não lhe faltava, explicava minuciosamente o que fazia e pediu ao alfero para passear com ele pela cidade. Os anos passaram, veio anunciar que estava tuberculoso, não queria ir tratar-se sem despedir-se, foi um encontro memorável, duas memórias ao desafio, e neste preciso instante estou a vê-lo a caminhar com uma bolsa de pano a tiracolo, com andar pausado, pés em sandálias de plástico, sorri-me em Mato de Cão, chove copiosamente, viemos sem poncho, tem que se estar naquele ponto alto na observação, não se preocupe, alfero, depois vem aí o sol, tudo seca, e vamos comer as laranjas de Canturé. É uma saudade imensa, ter consciência de uma dedicação que não se tratou por igual, registar este olhar com o seu pequeno estrabismo no olho direito que em nada compromete a força de caráter que salta da imagem. Fotografia que andava desviada, José Jamanca vai ficar no meu escritório para me lembrar a qualquer instante a verdadeira cor da amizade.

José Jamanca.

E por fim a mais esquecida das cartas, veio de Ussumane Baldé, o 104, o meu soldado prussiano, quando abordado empertigava-se, punha-se em posição rígida, os braços colados às pernas, as mãos com os dedos todos fechados, ao princípio parecia que falava a medo ou que se sentia atemorizado, com os anos a tensão diminuiu, confiava na fraternidade, fora permanente a camaradagem. A carta vem datada de perto do Natal de 1991, talvez mesmo no dia em que nosso alfero regressara a Portugal depois de uma cooperação cheia de vicissitudes, com êxitos e desastres. Ussumane fala do querido pai, da confiança que ganhara nos anos de tropa em comum, pede para vir trabalhar em Portugal, tinha perdido os seus documentos, como se fosse necessário envia-me o número mecanográfico 820332/66, estivera também na 2.ª Companhia de Comandos, manda referências de todos os seus documentos e pede a este seu querido pai que satisfaça o pedido daquele filho, pede resposta urgente, que nunca chegou.

Uma nota final. Quando, em 2010, combinei com Fodé Dahaba a viagem ao Cuor para me despedir dos meus soldados, ao chegar a Bambadinca fez-se um exame de quem fora abordado ou faltara abordar. E vieram os disparos brutais: Mamadu Silá morrera há pouco tempo, outros havia que viviam longe e não tinham dinheiro para tal viagem. E Ussumane, vive ainda no Cossé? Ao lado de Fodé estava Sadjo Seidi, outro dos bravos, a viver em Ponta Coli, entre o Xime e Amedalai, e sussurrou: morreu súbito, de paludismo, o ano passado, falava muito em ti.

É este o meu eterno retorno, a despeito de pensar ter todos os papéis arrumados e a carga emocional em ordem, há sempre estes imprevistos, na arrumação dos trastes todos os bravos, ou quase, reaparecem, têm este precioso condão de trazer ânimo ao presente pois se lembra que foram anos intensos e ali se lançou à terra uma semente de camaradagem para esta memória de longo porte, sempre a pedir mais água, os troncos das árvores sobem até às nuvens. E ponto final.

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Nota do editor

Último poste da série de 4 DE SETEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22513: Nota de leitura (1377): Jorge Monteiro Alves: “No mato ninguém morre em versão John Wayne: Guiné, o Vietname português” (Lisboa, Livros Horizonte, 2021, 191 pp.) – Parte II (Luís Graça)

Guiné 61/74 - P22517: Facebook...ando (65): "Deu-me muito prazer preencher, com as minhas palavras sentidas, as duzentas e dezoito páginas, do meu livro, Um Caminho de Quatro Passos, a ser apresentado, sábado, dia 11, às 11h00, na Tabanca dos Melros (António Carvalho, Medas, Gondomar)


António Carvalho, o "Carvalho de Mampatá", ex-fur mil enf, CART 6250, Mampatá, 1972/74, membro da Tabanca Grande desde 13/9/2008 (*), autarca na antiga freguesia das Medas, Gondomar durante 28 anos (hoje, União das freguesias de Melres e Medas).

(...) "Nasci aqui, neste pedaço de terra, circunscrito por uma curva muito apertada do rio Douro e pela serra de Açores, rebatizada (não sei por quem nem porquê) a partir da segunda metade do séc. XX, como serra das Flores, como aqui nasceram também, pelo menos, alguns dos meus octavós e muitos dos seus descendentes dos quais eu provenho. 

Talvez também por isso, nem em sonhos me passou algum dia pela cabeça assistir à assimilação da minha freguesia por outra, numa amálgama sem identidade ! Não me compreenderão os leitores que vivem numa cidade, mesmo que seja a sua cidade natal, onde o espaço de freguesia já há muito se sumiu diluído pela profusão de ruas avessas a fronteiras, onde muitos cidadãos nem sabem a que freguesia pertencem.  (...)

Quando se trata de uma reforma do Estado, que não altere de imediato os ordenados, as pensões, os impostos ou o preço dos bens essenciais, os cidadãos não costumam protestar de forma massiva e persistente. Foi o que aconteceu no caso da agregação das freguesias, apesar de se terem organizado algumas manifestações junto da Assembleia da República e, em muitos casos, os então titulares dos cargos autárquicos terem interposto providências cautelares contra a deliberação arbitrária do Estado, como foi o caso desta minha freguesia de Medas. (...)

Espero não morrer sem ver a minha freguesia ressuscitada – a única coisa que me interessa, ao nível da política local. (...)" (pp. 212/214) (Excertos selecionados por LG., com a devida vénia ao autor).




O MEU LIVRO: "UM CAMINHO DE QUATRO PASSOS"


Facebook > António Carvalho, 23 de agosto às 22:29 (**) 

No próximo dia 11 de Setembro apresentarei o meu livro, pelas 11 horas, na Quinta dos Choupos - Choupal dos Melros, Rua de Cabanas nº 177, na freguesia de Fânzeres, Gondomar.

Não sei se agradará a muitos ou a poucos, mas deu-me muito prazer preencher, com as minhas palavras sentidas,  as suas duzentas e dezoito páginas, por onde espelho uma parte significativa do meu caminho percorrido desde a infância, nas Medas,  à passagem pelo Colégio da Mealhada, do longo percurso pelo serviço militar até ao encontro forçado e esforçado com os mosquitos e as ferroadas da guerra da Guiné, não deixando, inevitavelmente, de abordar, ainda que ao de leve, o longo período ao serviço da Junta de Freguesia de Medas. 

Uma parte notável do livro é dedicada à caracterização das Medas, desde o último quarto do século XIX aos anos sessenta do século XX.

Por hoje dispenso-me de mais pormenores, sob pena de saciar, antecipadamente, a apetência dos eventuais leitores.

Nota adicional: quem desejar reservar almoço que ocorrerá no mesmo local, logo a seguir à cerimónia da apresentação, deve contactar o serviço do restaurante através dos números 224890622 ou 919677859.

Actualização: uma vez que não indiquei o preço do livro, refiro agora que o mesmo é de 15,00 Euros.

Nova actualização: por uma questão de boa organização do serviço, pede a gerência do Choupal dos Melros que quem desejar almoçar, após a cerimónia de apresentação do livro, deverá fazer a marcação , através dos números indicados no texto publicado acima, até ao dia 8 de Setembro, cujo custo unitário será de 20,00 Euros.
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 13 de setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3200: Tabanca Grande (86): António Carvalho, ex-Fur Mil Enf da CART 6250/72 (Mampatá, 1972/74)

(**) Último poste da série > 16 de junho de 2021 > Guiné 61/74 - P22287: Facebok...ando (64): O transporte de gado vivo: embarque de vacas no porto fluvial de Bambadinca, em 1973 (João Lourenço, ex-alf mil, cmtd PINT, Cufar, 1973/74)

domingo, 5 de setembro de 2021

Guiné 61/74 - P22516: Tabanca da Diáspora Lusófona (18): Lembrando, há 20 anos, o ataque às Torres Gémeas... E anunciando a minha primeira saída pós-pandémica à Eslovénia e a Portugal (João Crisóstomo, Nova Iorque)


1. Mensagem de João Crisóstomo, membro da nossa Tabanca Grande, com mais de 160 referências no blogue, a viver em Queens, Nova Iorque, ativista social, régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, ex-alf mil inf, CCAÇ CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67):


Data - sábado, 4/09, 15:26 

Assunto - 11 de setembro... e um abraço


Caro Luís Graça,

Há dias ao telefone disse-te que ainda não tinha coragem de viajar de avião e por isso um abraço mesmo real teria de esperar mais uns tempos. Mas depois de ter falado contigo fiz outros telefonemas; alguns dos meus amigos a quem eu fazia estarem aqui,  responderam-me nos seus móveis de Portugal; a minha filha e meu neto também não hesitaram em pegar o avião,  estão lá agora ; e de toda a parte a pergunta é sempre a mesma: "quando é que vens cá"? Mas se a vontade de ir era grande , a minha cobardia era ainda maior .

Entretanto a Vilma, mais afoita,  já tinha decidido ir à Eslovénia… e a mim não me apetecia mesmo nada ficar aqui sozinho…

Olha, para não te fazer perder mais tempo...já compramos bilhetes para Zagreb… ainda por cima na TAP… com escala por Lisboa. Depois da Eslovénia iremos dois dias a Paris onde temos bons amigos que não quero deixar de ver. E daí iremos passar pelo menos umas duas semanas em Portugal.

Ainda não sei as datas certas que tudo agora é feito “ em cima dois joelhos” . Mas conta connosco em princípios de Outubro. E podes avisar os nosso comuns amigos e camaradas que "vou ficar zangado" se não me for dada a possibilidade de lhes apertar bem as costelas…

Mas antes disso quero falar-te de um outro encontro muito importante para mim:
como sabes o nosso querido camarada e  amigo Valdemar Queiroz diz não estar em condições de saúde para se deslocar a algum encontro . E eu gostava mesmo de o ir ver e dar-lhe um grande abraço. 

Acabo de falar com ele ao telefone ( falamos frequentemente) e combinei com ele o seguinte: como eu vou fazer escala em Lisboa e vou ter a tarde do dia 14 de Setembro livre, vai ser essa a ocasião para o ir ver. Em princípio o Rui Chamusco vai-nos esperar ao aeroporto e leva-nos ao Valdemar em Agualva-Cacém. E se o Rui não puder fazê-lo , outra solução haverá, nem que seja um taxi…

Lembrei-me de te dar a conhecer isto, para o caso de haver mais alguém que queira fazer uma visita ao Valdemar nessa altura, uma vez que ele não pode deslocar-se a algum outro encontro que venha a acontecer. Não foram os teus problemas de locomoção, e eu estaria a convidar-te ou a desafiar-te para ires também. Vou tentar contactar o João Ferreira, filho do nosso saudoso Eduardo. Como ele vive em Lisboa, quem sabe possa e queira vir connosco...

Deixei ao Valdemar decidir  onde e como nos vamos encontrar, e logo que receba instruções dele eu informo-te. OK?

Entretanto aproxima-se o 20º aniversário do atentado às torres gémeas e com ele imagens, memórias e experiências desses dia e dias seguintes . Se por um lado "lembrar um mau passado para que se não repita” pode ser benéfico, mais vantagens ainda podem advir duma atitude de "esquecer o negativo e salientar o positivo” .

 Pois como vou esquecer o medo, o silêncio quase sepulcral que se apoderou de todos os nova-iorquinos nesta ocasião?  Recordo-me de tomar o “subway”, cada um olhando para o vizinho do lado receoso de que algum deles fosse um terrrorista suicida, que rumores desses não faltavam e não havia ninguém que dissesse uma palavra; as situações aflitivas,  especialmente nos arredores das torres,  de não se poder respirar fundo, obrigando-nos a uso de lenços e máscaras; as cenas dantescas dos escombros e da espessa camada de cinza que cobria toda a zona… se não posso esquecer tudo isto eu quase me esforço para lembrar antes boas memórias como foram as visitas de amigos que nessa altura aqui vieram: a do Sr. Bispo de Leiria/Fátima, Dom Serafim Ferreira que fez questão de, acompanhados dos dirigentes da “Blue Army “ carregando uma imagem da Senhora de Fátima, fez questão de visitar o “ground zero”; ou o Oscar Mascarenhas, nessa altura editor do “Diário de Notícias”, a quem sem esperar servi de cicerone e desenrasquei: é que a cidade por motivos e segurança tinha imposto as maiores restrições de entrada em toda a parte, incluindo a jornalistas que se apresentassem sem especiais autorizações emitidas para cada caso, especialmente jornalistas estrangeiros. 

O Oscar não tinha tido tempo de arranjar esse documento e sentia-se frustrado ter vindo a Nova Iorque para nada. Foi então que me lembrei de experimentar usar um cartão que me tinha sido emitido pelas Nãções Unidas na ocasião da preparação da Exposição "Visas for Life”, a cuja direcção eu tinha pertencido; e com ele tinha tido fácil acesso a toda a parte. Foi remédio santo: a apresentação desse cartão deu-me a mim e ao Oscar imediata entrada em toda a parte, para surpresa do Oscar que me creditava com conhecimentos muito maiores em Nova Iorque do que eu jamais tive.

Se são estas as memórias que sempre me vêm, mas há uma memória muito especial que me ficou para sempre:

Era dia de eleições. Vivia já no endereço actual em Queens, nos arredores de Nova Iorque,  e tinha decidido tirar o dia de folga para, além de votar , tratar de vários assuntos relacionados com a minha nova residência. Minha filha já estava a viver em Nova Iorque e minha esposa estava com ela nesse dia. As notícias e imagens do que se estava a passar deixaram-me duplamente aflito pois o meu filho trabalhava na altura no “ Goldman Sacks”, situado bem perto do Word Trade Center.

Se esse dia nos marcou a todos, que razões não faltaram, eu lembro esse dia também com muito orgulho. Aponta-se , muito apropriadamente, a abnegação, coragem e heroísmo dos bombeiros, polícias e e tantos outros que, mesmo conscientes dos perigos, e quem sabe de outros que podiam ainda estar para acontecer, sem pestanejar puseram todos os receios de lado e voaram ao local. Todos eles foram heróis; e muitos deles pagaram o seu heroísmo de acorrer e salvar vidas com a sua própria vida, como foi o caso do frade franciscano, Michael Judge, capelão dos bombeiros duma unidade no meio da cidade, a primeira vítima conhecida de entre os que acorreram ao local.

Mas, certos do heroísmo de todos eles cujas profissões os levaram ao local, outros casos de heroísmo sucederam, pouco mencionados: houve casos de altruísmo que pelo que mostram e inspiram merecem ser sempre lembrados e jamais esquecidos. Falo do heroísmo daqueles que em vez de seguirem o natural instinto de sobrevivência de fugir imediatamente para longe, se lembraram de que no local havia gente a necessitar da ajuda, gente mesmo desconhecida , cuja vida ou morte dependia talvez da bondade e coragem de outros. O meu filho, e segundo ele me contou depois ele, não foi o único, foi um destes.

Meu filho estava já no escritório quando o ataque às torres gémeas começou. Alertados, todos os que se encontravam no seu edifício foram instruidos para descerem ao abrigo subterrâneo , na base desse edifício. Entretanto eu estava em minha casa sem saber o que fazer; mas cedo eu recebia um telefonema dele: “ Pai , sei que deves estar preocupado, mas não há razão para isso. Encontro-me no abrigo subterrâneo do prédio do “Goldman Sacks” e temos água e víveres por muito tempo para todos nós; portanto não te preocupes comigo, que está tudo certo.”

Respirei fundo e agora aliviado decidi sair de casa e ir para a grande artéria de Queens Boulevard, esperando o seu regresso. Tudo parado, não havia transportes e quando lá cheguei esta artéria parecia já um rio de grosso caudal, que se alongava tão longe quanto a vista podia alcançar, de gente que de Nova Iorque a pé voltava para suas casas.

Esperei e esperei . E todo o dia não chegou. Chegou a noite e voltei a casa . Meu filho só voltou no dia seguinte. Logo que lhes foi dado autorização para deixarem o abrigo, em vez de voltar para casa ele decidiu dirigir-se ao local do atentado que eram agora os escombros das torres. Aí começou a acartar garrafões de água que dava aos bombeiros e a todos os que dessa ajuda necessitavam. A certa altura a polícia decidiu mandar embora todos os civis, mas ele, pretendendo acatar e seguir as instruções recebidas, logo voltava carregando garrafões. Nesta e noutras tarefas de que me falou na altura mas que agora prefere não falar mas esquecer, passou toda a noite. Só se decidiu a voltar a casa quando exausto não se podia aguentar mais em pé.

O meu filho insiste agora em não falar de tudo isto, e muito menos de relatar à imprensa as suas vivências desse dia. É que ele ficou muito aborrecido mesmo nessa altura quando notícias na imprensa falaram que ele se dirigiu às torres , "depois de ter saido dos escombros". situação em que nunca se encontrou.

Meu filho não se considera um herói pelo que fez. Mas eu não tenho dúvidas em assumir para mim o orgulho de ter um filho assim.

João Crisóstomo, Nova Iorque (*)
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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P22515: In Memoriam: Cadetes da Escola do Exército e da Escola de Guerra (actual Academia Militar), mortos em combate na 1ª Guerra Mundial (França, Angola e Moçambique, 1914-1918) (cor art ref António Carlos Morais Silva) - Parte XIII: Antóno Madeira Montez Júnior (Santarém,1885 - França, CEP, 1918), cap inf


António Madeira Montez Júnior (1885 - 1918)


Nome:  António Madeira Montez Júnior

Posto: Capitão de Infantaria

Naturalidade:  Santarém

Data de nascimento:  27 de Dezembro de 1885

Incorporação:  1903 na Escola do Exército (nº 132 do Corpo de Alunos)

Unidade;  4º Grupo de Metralhadoras, 5º Grupo de Metralhadoras

Condecorações: Cruz de Guerra de 3ª classe

TO da morte em combate:  França (CEP)

Data de Embarque: 24 de Dezembro de 1916

Data da morte:  9 de Abril de 1918

Sepultura:  França, Cemitério de Richebourg l'Avoué

Circunstâncias da morte:  Faleceu em combate devido a ferimentos provocados por fogos alemães.




António Carlos Morais da Silva, hoje e ontem


1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um oficiais oriundos da Escola do Exército e da Escola de Guerra que morreram em combate, na I Guerra Mundial, nos teatros de operações de Angola, Moçambique e França (*).

Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva, cadete-aluno nº 45/63 do Corpo de Alunos da Academia Militar e depois professor da AM, durante cerca de 3 décadas; é membro da nossa 

Tabanca Grande, tendo sido, no CTIG, instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972.

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Nota do editor:

Último poste da série > 4 de setembro de  2021 > Guiné 61/74 - P22512: In Memoriam: Cadetes da Escola do Exército e da Escola de Guerra (actual Academia Militar), mortos em combate na 1ª Guerra Mundial (França, Angola e Moçambique, 1914-1918) (cor art ref António Carlos Morais Silva) - Parte XII: Alfredo Ambrósio Ferreira (Vila Real, 1893 - França, CEP, 1918), alf inf

Guiné 61/74 - P22514: Parabéns a você (1989): José Marcelino Martins, ex-Fur Mil TRMS Inf da CCAÇ 5 (Canjadude, 1968/70)

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Nota do editor

Último poste da série de 4 de Setembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22509: Parabéns a você (1988): Armor Pires Mota, ex-Alf Mil Cav da CCAV 488/BCAV 490 (Mansoa, Bafatá e Jumbembem, 1963/65); José Câmara, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56 (Brá, Mata dos Madeiros, Bassarel e Tite, 1971/73) e Torcato Mendonça, ex-Alf Mil Art da CART 2339 (Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69)