segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Guiné 61/74 - P22761: Agenda cultural (791): Sessão de lançamento do livro "Memórias da Guerra e do Mar", de João Freire, dia 2 de dezembro,pelas 17h00, na Academia de Marinha, à Rua do Arsenal, Lisboa,... Resposta ao convite até 30 do corrente, pelo telem 919964738 ou pelo email revistamarinha@gmail.com


Convite para a sessão do dia 2 de dezembro. Resposta ao convite até 30 do corrente: telem: 919 964 738 ou mail: revistamarinha@gmail.com


1. Mensagem do meu amigo, o sociólogo  João Freire, professor emérito  do ISCTE - Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa,  e antigo aluno do Colégio Militar e oficial da Armada (até maio de 1968).

Data - 19:56 (há 2 horas)
Assunto - Memórias da Guerra e do Mar



Caros Senhores, Amigos e Amigas do Mar,

No próximo dia 2 de Dezembro pelas 17 horas, na Academia de Marinha (à Rua do Arsenal), terá lugar a sessão de apresentação do livro Memórias da Guerra e do Mar por mim organizado, numa edição da ‘Revista de Marinha’, uma chancela da Editora Náutica Nacional.

Entretanto, o livro está desde já em venda, nomeadamente na loja do Museu de Marinha (em Belém, que encerra às 18h) e no Clube Militar Naval (Av. Defensores de Chaves, 26, à tarde) ao preço de 20€ (ou 25€ para a modalidade de luxe). 

Pode também ser solicitado à Editora Náutica Nacional:

ou pelo Tel. 91 996 4738, 

que enviará pelo correio com um custo adicional de 3,5€ para os portes.

Agradecido pelo vosso interesse,

João Freire
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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P22760: A nossa guerra em números (7): a carga da CCAÇ 1420 (Fulacunda e Bissorá, 1965/67), a transferir para a CART 1525 (Bissorã, 1966/67), era composta por 17 viaturas (2 camiões Mercedes, 4 Jipes e 11 Unimog), dos quais só estavam a funcionar um jipe e um Unimog.



José Gregório Gouveia, ex-fur mil enf, CART 1525, "Os Falcões", 
Bissorã, 1966/67. Madeirense, hoje advogado. Um testemunho 
precioso (e raro) sobre a carga de viaturas automóveis 
que se transferiam de companhia para companhia...



1. Em complemento do poste anterior da série (*), sobre a penúria de viaturas de transporte do pessoal militar, durante a guerra de África, e em particular na Guiné, publicamos um excerto do livro, de 202 páginas,  em pré-publicação "Guiné-Bissau: de colónia a independente", de José Gouveia, com a devida vénia ao autor e ao editor do sítio da CART 1525, "Os Falcões" (Bissorã, 1966/67), o nosso grã-tabanqueiro,o ex-alf mil Rogério Freire. 

O José Gregório Gouveia era, na altura, fur mil enf.  Natural da Calheta, Madeira, foi depois advogado, dirigente do PS -Madeira, deputado à Assembleia Legislativa Regional da Madeira, colaborador da imprensa regional. Autor do livro "Madeira - Tradições Autonomistas e Revolução dos Cravos" (2002).


De 17 viaturas, só duas estavam operacionais: 1 jipe e 1 Unimog 
(e este, mesmo assim, com o motor de arranque avariado!)



[Chegada à Guiné em 26 de janeiro de 1966, foi em Bissau que a CART 1525, "Os Falcões, , Bissorã, 1966/67,]
 recebeu a dotação de armamento: “E verificamos logo do seu grau de inoperacionalidade. Gastas, maltratadas. Cerca de 40% (!) estavam necessitadas de urgentes medidas de recuperação, que decorreram a nosso cargo, embora com o indispensável apoio dos Depósitos locais de Material de Guerra, em Bissau” [Coronel Piçarra Mourão - "Guiné Sempre! - Testemunho de uma Guerra. Coimbra, Quarteto Editira, 2001, pág.  ] 

Apesar daquelas condições, sempre era melhor ficar em Bissau! Só que foi calma de pouca dura porque, no dia 4 de Fevereiro, a Companhia marchou para Mansoa rendendo a CART 644 e integrando-se na história do BCAÇ 1857 que, no dia 1 de Fevereiro, tinha deixado Santa Luzia, fixando-se naquela localidade.

A colocação em Mansoa - parecia ser para durar, pois tivemos de receber todo o equipamento que fazia parte da carga da CART 644. Como furriel enfermeiro,  tive de contar e registar o material sanitário, peça por peça, medicamento a medicamento, que fazia parte da carga do «carro sanitário» (um atrelado) ou que estava avulso na enfermaria daquela Companhia. Foi um inventário moroso, feito com cuidado, não fosse faltar alguma peça da Carga que dava, seguramente, para montar um hospital de campanha. Recordo que o «carro sanitário» tinha um medicamento especial: conhaque em dois frascos de secção quadrada, sem vestígio de uso tal como teria sido atribuído à Carga. Do que a medicamentos dizia respeito, foram inventariados 262, todos diferentes.

Em Mansoa, para além do ritual burocrático na recepção da carga da companhia que
partia, a CART 1525 iniciava os treinos operacionais estabelecidos e dirigidos pelo Comando de Batalhão. Estávamos ainda na fase da inexperiência da realidade militar local, mas também reinavam as ordens superiores que determinavam um regime nómada e desmembramento à Companhia, pois no dia 6 daquele mês de Fevereiro, o 1º Grupo de Combate seguiu para Bissorã ficando adido, para todos os efeitos, à CCAÇ 1419. A restante parte da Companhia manteve-se em Mansoa, reforçando acções de outra Companhia também ali instalada, nomeadamente na segurança aos trabalhos de asfaltamento da estrada Mansoa-Mansabá, segurança ao «Abrigo de Braia», escoltas de colunas automóvel para Cutia e Encheia.

Mas, afinal, o destino da Companhia foi determinado por ordens superiores no sentido de substituir a CCAÇ 1420 
[ Fulacunda,  Bissorã, Mansoa, 1965/67,] que estava aquartelada em Bissorã. Sensivelmente um mês após a chegada a Bissau, a CART 1525, no dia 25 de Fevereiro, seguiu para Bissorã, onde se instalou e se manteve até ao fim da sua actividade operacional efectiva. Em Mansoa ficou uma equipa para entregar o material que, pouco tempo antes, tinha recebido.

Colocação em Bissorã - Terminada a fase nómada, a Companhia iria iniciar a sua actividade operacional e social no sector de Bissorã que abrangia uma grande extensão da região do OIO, onde o PAIGC tinha instalado a fortificada Base Central de Morés, na Zona Norte.

Quando refiro actividade operacional e social é porque, à parte das Operações de âmbito estritamente militar, a Companhia desenvolveu algumas acções de cariz social, em benefício da população da Vila de Bissorã, como adiante veremos.

As instalações que encontramos na nova residência não podiam ser melhores. Uma casa, coberta de telha, para os oficiais com messe própria. Duas casas, cobertas de zinco, para os furriéis e sargentos. Com um frigorífico que funcionava a petróleo – a Central termoeléctrica não funcionava vinte e quatro horas por dia, apenas à noite e pouco mais. O local das refeições funcionava na casa da D. Maria (um casal cabo-verdiano que, na vila de Bissorã, prestava o serviço a todas as Companhias aí aquarteladas quanto ao fornecimento de refeições à classe de sargentos - e que muito bem sabia assar leitão, servido com batatas fritas).

Dois armazéns, tipo colonial, cobertos de telha, serviam da caserna aos soldados. Para
servir o «rancho geral» foi necessário a Companhia construir instalações com toros de
madeira e cobertas de capim, pois não havia alternativa.

Novo inventário em Mansoa, outro em Bissorâ para que nada faltasse, sob pena de responder por qualquer falta quando houvesse nova passagem de testemunho a outra Companhia, o que poderia acontecer a qualquer momento. Mais um «carro sanitário» para inventariar e muitos medicamentos para contar.

Se no plano da saúde a Carga estava completa e devidamente ordenada, menos sorte teve o Furriel Adrião Mateus que encontrou a Carga respeitante aos automóveis num caos. Ainda hoje é difícil de esquecer que a Carga da CCAÇ 1420, a transferir para a CART 1525, era composta por 17 viaturas: 2 camiões Mercedes, 4 Jipes e 11 Unimogues.

O panorama do parque de viaturas mais parecia uma oficina sem mecânicos. Daquele conjunto de 17 automóveis apenas estavam a funcionar: 1 Jipe e 1 Unimogue (este
com o motor de arranque avariado). Os restantes automóveis estavam desmontados e
havia um bidão cheio de parafusos que pertenciam às viaturas desmontadas. O motor
de um camião Mercedes estava em Bissau, no Serviço de Material, para ser reparado.

Também havia um Jipe, a servir de galinheiro, que não fazia parte da carga e já não
tinha matrícula.



Guiné > Região do Oio > Bissorã > CART 1525 (1966/67) > O "milagre" do fur mil mec auto que ao fim de sete meses pòs a funcionar 15 viaturas inoperacionais...Na foto As viaturas já operacionais e os respetivos condutores auto...  Foto de José Gouveia (sem fata). Cortesia da página da CART 1525.



Refira-se que não houve milagre mas houve um grande trabalho da eficaz e competente equipa de mecânicos para ultrapassar tão grave estado das quinze viaturas inoperacionais. Uma após outra, ao fim de sete meses de árduo trabalho, estavam todas a funcionar em pleno. 

Em todas as deslocações a Bissau, o Adrião Mateus não deu descanso aos colegas que estavam colocados no Serviço de Material, no sentido de desbloquearem as peças necessárias à reparação de tanta viatura. Ou pela via da requisição normal, ou quando o Sargento de Dia estava a olhar para o lado contrário à Porta de Armas, o material saía daquele Serviço e, passadas algumas horas, chegava a Bissorã. O Adrião Mateus disse muitas vezes, e ainda hoje repete, que o material auto saía sempre legal. Porque saía do Estado (em Bissau) e entrava no Estado (em Bissorã). A não ser a sua persistência, como poderíamos fazer a guerra sem os meios adequados às necessidades logísticas do teatro de operações que não era fácil.

 (...) Com as viaturas operacionais, restava dar outra utilidade ao Jipe que servira de galinheiro. Também este foi reparado. Mas como não fazia parte da carga, nem tinha matrícula, ficou ao serviço da oficina da Companhia. Foi precisamente este Jipe que serviu para eu e outros colegas darmos os primeiros passos na condução, a fim de tiramos a Carta de Lista Branca, o que aconteceu no exame em Bissau. (...)

José Gouveia

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Nota do editor:

Último poste da série > 25 de novembro de  2021 > Guiné 61/74 - P22751: A nossa guerra em números (6): o bico-de-obra das viaturas de transporte...

Guiné 61/74 - P22759: Efemérides (357): 50.º aniversário da chegada da 35.ª CComandos à Guiné (Ramiro Jesus)

Lamego, Novembro de 1971 > Desfile da despedida da 35.ª CComandos

1. Mensagem do nosso camarada Ramiro Jesus (ex-Fur Mil Comando da 35.ª CComandos, Teixeira Pinto, Bula e Bissau, 1971/73), com data de 24 de Novembro de 2021:


EFEMÉRIDE


50.º ANIVERSÁRIO DA CHEGADA DA 35.ª CCMDS À GUINÉ


Boa-tarde, companheiros e ex-camaradas combatentes
Tenho de concordar, mesmo a contragosto, que estou a ficar velho: completam-se hoje cinquenta anos desde o meu embarque e dos restantes elementos da 35.ª C.C. - no paquete Angra do Heroísmo - a caminho da Guiné, onde chegámos a 29/11/71.

Anexo umas fotos, uma do desfile da despedida, em Lamego (no dia anterior) e as outras já no navio

Naquela altura, e porque me sentia tão bem, lembro-me de desejar que a Guiné fosse em Timor, para ir um mês em viagem, mas uma semana depois já estava em Teixeira Pinto, hoje Canchungo.

Um abraço e os votos de muita saúde para todos.
Ramiro Jesus


Viagem para a Guiné > A bordo do navio Angra do Heroísmo
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Nota do editor

Último poste da série de 25 DE NOVEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22750: Efemérides (356): Thanksgiving - Dia de Acção de Graças - Fomos recebidos sem reservas pelos EUA. Em troca apenas nos pediram que compreendêssemos e respeitássemos as suas instituições (José Câmara, ex-Fur Mil)

domingo, 28 de novembro de 2021

Guiné 61/74 - P22758: Blogues da nossa blogosfera (166): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (73): Palavras e poesia


Do Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.


EU SOU MAIOR DO QUE EU


ADÃO CRUZ

A noite passou
já as estrelas se apagaram
novo sol não tarda
já doura o fio dos montes
e o fantasma é um lençol no meio do chão
porque eu sou o vencedor de todos os fantasmas.
Vai ser quente o dia
apesar do ar frio da noite
vem comigo
olha aquelas duas palmeiras que viçosas
tão altas na mira do céu
e eu sou maior do que o céu.
O desvio termina aqui
o caminho é novo ainda que não permita grande correr
não temas
tudo há-de ser como eu quiser
porque eu sou maior do que eu.
Por cima do teu corpo há um leito de espuma
que eu bebo de um trago
porque eu sou maior do que o mar
e mais fundo do que o meu ser.
Brota das entranhas um mundo novo
onde o coração pulsa à transparência
que nasce da sombra da noite
porque eu sou o alvorecer de todas as manhãs.
A sombra da floresta é apenas sombra
onde a medo o sol penetra
e cria fantasmas nas árvores e monstros nos charcos
mas eu sou o guardião do templo do sol.
A nova estrada é de ilusão
não tem altos nem baixos
o caminho da cidade é o caminho do centro da cidade
ali à mão
mas a cidade sou eu.
O mar de ondas verdes e fundas
quebradas em catedrais de espuma nas rochas negras e nuas
refulge de prata os abraços frios da alma
mas eu sou maior do que o mar
e da alma há muito me perdi.
O sol brilha na areia escaldante
onde o teu corpo se deita num leito de espuma
espargida de mil gotas
e o céu azul beija o mar ao longe
onde os olhos cansados sempre teimam repousar.
No sono da tarde
vai-se quebrando o pensamento em pedaços de luz e sombra
que o vento preso à cidade resolve levar para bem longe
como plácidas gaivotas
porque eu sou escravo e não senhor do pensamento.

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Notas do editor

Vd. poste de 31 DE OUTUBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22674: Blogues da nossa blogosfera (164): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (72): Palavras e poesia

Último poste da série de 7 DE NOVEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22695: Blogues da nossa blogosfera (165): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547: Reserva de aves no Cais do Ouro, Foz do Douro

sábado, 27 de novembro de 2021

Guiné 61/74 - P22757: Agenda cultural (790): Camarada, se vives em Lisboa ou na Grande Lisboa, leva amanhá o(s) teu(s) neto(s) à Maratona de Robertos, no Museu da Marioneta... Eu levo a minha neta, que acabou de fazer dois anos..... (Luís Graça)

Teatro Dom Roberto, Porto. Com a devida vénia...


1. Ólh'óó Rrrrrrroberrrrto!!!
Maratona de Robertos


Lisboa, Bairro da Madragoa, Comvento das Bernardas
Endereço: Rua da Esperança 146, 1200-660 Lisboa

Domingo, 28 Novembro de 2021 |
Sessões contínuas :  das 11h00 às 18h00 | Aconselhado a famílias |
Entrada Livre! 

No dia 28 de novembro o Museu da Marioneta festeja 20 anos, mas festeja também a classificação no Inventário do Património Cultural Imaterial do Teatro Dom Roberto, uma das formas mais antigas e mais genuínas de teatro de marionetas português. 

Dom Roberto é direto e rude, mas também simpático e bonacheirão, criando grande empatia nos seus públicos!

Até meados do século XX, era comum encontrarem-se Robertos e as suas coloridas barracas nas ruas, praças, jardins e praias de todo o país. De carácter essencialmente popular e frequentemente ignorada pela maioria dos historiadores e investigadores das artes teatrais, o repertório do teatro de robertos era composto por textos de tradição oral, de sabor popular, com direito a muito improviso. 

Novos e velhos, crianças e adultos, acorriam aos primeiros sons agudos da palheta, prontos a deliciarem-se com os episódios cómicos que aqueles bonecos protagonizavam com ritmo e destreza.

No final do século XX, no entanto, esta forma teatral estava quase esquecida. Foi João Paulo Seara Cardoso, do Teatro de Marionetas do Porto, que primeiro percebeu a necessidade de preservar os Robertos, aprendendo a arte com o marionetista António Dias, ainda em atividade nos anos 80. 

Hoje, em Portugal, há de novo uma família de bonecreiros que percorrem o país com os seus ‘atores de palmo e meio’, as suas guaritas e a sempre característica voz de palheta.

No domingo dia 28 estarão reunidos no Claustro do Museu, para uma Maratona de Robertos. Venha celebrar connosco e assistir ao teatro de marionetas Dom Roberto – pelos roberteiros:

  • Fernando Cunha
  • Filipa Mesquita
  • Francisco Mota
  • João Costa
  • Jorge Soares
  • José Gil
  • Manuel Dias / Trulé
  • Marcelo Lafontana
  • Nuno Pinto
  • Raul Constante Pereira
  • Ricardo Ávila
  • Rui Sousa
  • Sara Henriques
  • Vítor Santa Bárbara 

Vd. também aqui a história do Museu e Página do Facebook do Museu da Marioneta 

 
2. O Teatro Dom Roberto  é um género de espectáculo, teatral, popular,  satírico, itinerante, de bonecreiros, também conhecido como "teatro de fantoches", destinado a todas as idades, mas que faz parte, muito em particular  das nossas melhores recordações de infância...  Era então um dos grandes divertimentos populares, até cair hoje (quase) no esquecimento... Foi recentemente  inscrito no Inventário de Património Cultural Imaterial Português.

Nesse tempo, em que éramos putos,  ainda  não havia a televisão, nem a Net nem muito as redes sociais. Víamos os "robertos", literalmente maravilhados, fascinados, boaquiabertos, assombrados, divertidos, sentados no chão, à volta de uma "barraquinha de feira", montada nalguma praça, jardim,  feira, terreiro de festa ou praia das nossas santas terrinhas...  Infelizmente, esses espetáculos, sazonais, não eram tão frequentes quanto isso...

Citando o sítio das Marionetas do Porto: “Nos finais dos anos 50, ainda os fantocheiros populares calcorreavam terras portuguesas por festas e romarias, divertindo o povo de pequenos e grandes que acorria a ver os seus espetáculos. Os pequenos bonecos de madeira e trapos bailavam caprichosamente ao som dos gritos estridentes produzidos pelo fantocheiro e tudo terminava invariavelmente pela tradicional cena de pancadaria, para grande alegria do público.

"Hoje, o Teatro Dom Roberto é apenas uma imagem feliz da infância de alguns, um traço  vivo de uma preciosa herança cultural que se vai esvaindo com os tempos da 'modernidade' ".
 
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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P22756: O nosso blogue por descritores (5): duas dezenas de referências à "Op Abencerragem Candente" (subsetor do Xime, 25-26 de novembro de 1970: um banho de sangue, com 6 mortos e 9 feridos grave, do lado das NT )



Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > Subsetor do Xime > 1970 > CCAÇ 12 > Dramática helievacuação, no decurso da Op Boga Destemida (8 de fevereiro de 1970). Pelos vestígios de queimadas, nota-se que estávamos em plena na época seca... O riquíssimo Álbum Fotográfico do meu querido amigo e camarada Arlindo Teixeira Roda (natural de Pousos, Leiria, professor reformado, a viver em Setúbal) não tem legendas... Da trágica Op Abencerragem Candente, dez meses depois  (25-26 de novembro de 1970, já no final da época das chuvas), não temos  infelizmente qualquer imagem.

Foto: © Arlindo Teixeira (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]
 

O nosso blogue por descritores > "Op Abencerragem Candente"
(que tem cerca de 2 dezenas de referências)



1. O descritor "Op Abencerragem Candente” tem 2 dezenas de referências. Nesta listagem, além de uma mini-imagem ou ícone, cada poste é refenciado por:

(i) data;

(ii) número de ordem (cronológica) (do mais recente ao mais antigo);

(iii) série em que vem inserido;

(iv) título (e subtítulo);

(v) autor(es) (dentro de parênteses, no final) (não aparecendo este campo, o poste é, por defeito, da autoria de um ou mais editores do blogue).


Os postes com um nº de visualizções superior a 500 são: PP6874 (n=1165), P9863 (n=809), P7339 (n=749) e P16762 (n=570). Por seu turno, os postes com um nº de comentários superior  a  10 são: P6874 (n=17), P16025 (n=14), P20370 (n=13) e P7339 (n=11).


2. É uma efeméride difícil de esquecer, para quem lá esteve, faz agora 51 anos... Mais uma vez, aqui fica um excerto do desenrolar da acção (Op Abencerragem Candente, 25-26 de Novembro de 1970) (**)


(...) Três horas depois, pelas 8.50h, [do dia 26], já perto da Ponta do Inglês, o IN desencadearia uma violenta emboscada em L sobre a direita, precedida por um tiro isolado que foi confundido com um sinal de aviso duma eventual sentinela avançada, e que apanhou na zona de morte os 3 Gr Comb do Agr C [ CART 2715] e 1 Gr Comb (4º) do Agr B [CCAÇ 12].

Os primeiros tiros do IN, especialmente de LRockets, atingiram mortalmente o picador e guia do Agr B, Seco Camará, que ia na frente, e os quatro homens que o seguiam, incluindo um graduado [furriel miliciano Cunha], tendo ferido gravemente outro.

 Com rajadas sucessivas de LRockets e armas automáticas o IN, fixando as NT, lançou-se ao assalto sobre os primeiros homens, mortos ou gravemente feridos, conseguindo apanhar-lhes as armas, e só não os levando devido a pronta reacção das NT.

É de destacar aqui a acção heróica dos soldados Soares (CART 2715), que veio a ser mortalmente ferido, Sajuma (apontador de bazuca do 4º GR Comb/CCAÇ 12) que ficou ferido numa perna, e Ansumane (apontador de dilagrama, também do 4º Gr Comb/CCAÇ 12, ferido ligeiramente nas costas), que se lançaram ao contra-ataque, juntamente com outros camaradas e alguns graduados, a fim de quebrar o ímpeto do IN e de recolher os mortos e feridos.

0 ataque durou cerca de 20 minutos, sendo a retirada do IN apoiada com tiros de mort 82 e canhão s/r que incidiram sobre a estrada, e especialmente sobre os 2 últimos Gr Comb (l° e 2º) da CCAÇ 12, assim como rajadas enervantes de pistola metralhadora, de posições que ainda não se haviam revelado, nomeadamente de cima das árvores.

(...) Em consequência da emboscada IN, uma das mais violentas de que há memória na região do Xime, pelo seu impacto sobre as NT, a CART 2715 [Xime] sofreu 5 mortos (l Furriel Mil) e 7 feridos, e a CCAÇ 12 teve 2 feridos (dos quais 1 grave, o Sold Sajuma Jaló), e 1 morto (o picador e guia permanente das NT Seco Camará, na altura ao serviço da CCS do BART 2917, e que do antecedente já tinha dado provas excepcionais de coragem e competência, tendo participado com a CCAC 12 em quase todas as operações a nível de Batalhão no Sector Ll).

Sob a protecçãodo helicanhão (que seguia para Mansambá no momento em que foi pedido o apoio aéreo), os 2 Agr regressaram ao Xime, com 2 Gr Comb do Agr B [1º e 2º da CCAÇ 12] a abrir caminho por entre a mata densa, 1 Gr Comb do Agr C [ 2715] a manter segurança à rectaguarda e os restantes empenhados no transporte dos feridos e mortos, tendo as heli-evacuações sido feitas numa clareira já perto de Madina Colhido e depois de percorridos mais de 5 Km, em condições extremamente penosas [No helicóptero vinha uma ou mais enfermeiras-paraquedistas, um delas a Rosa Serra, membro da nossa Tabanca Grande].

Notícias posteriores [ não se indica a fonte...] admitiam que nesta emboscada o IN tivesse sofrido 6 mortos. Entretanto, desta reacção do IN contra a penetração das NT num dos seus redutos, concluiu-se que aquele foi excepcionalmente bem comandado  [, presume-se, por cubanos,] porque:

(i) escolheu um local que, por ser muito fechado, dificultava a manobra;

(ii) utilizou pessoal em cima de árvores para ter uma melhor visão e comandamento sobre as NT;

(iii) tinha a retirada preparada com armas colectivas (morteiro, canhão s/r) que só se revelaram na quebra de contacto;

(iv) fez fogo de barragem, especialmente de LRockets, sobre o Gr Comb que seguia na vanguarda, permitindo lançar-se ao assalto. (...) (**)




22/11/2019 > Guiné 61/74 - P20370: Fotos à procura de uma... legenda (121): Camaradas artilheiros, quando media, em comprimento, o conjunto Berliet ou Mercedes ou Matador + reboque + obus 14 ou peça 11,4 ?.. 15 metros!... E quanto pesava ? 15 toneladas!... Façam lá o TPC: 9 bocas de fogo, mais 9 rebocadores, mais 9 Unimogs e Whites, mais 300 homens em armas... mais 500 granadas... Qual o comprimento (e o peso= de uma coluna destas, a progredir numa picada, no mato, de Piche, a caminho da fronteira, "Acção Mabecos", 22-24 de fevereiro do século passado, numa guerra do outro mundo ?!..
 

28/11/2018 > Guiné 61/74 - P19240: (Ex)citações (346): Ainda e sempre 'o inferno do Xime'... A propósito da Op Abencerragem Candente (25 e 26 de novembro de 1970) ( Vitor M. Amaro dos Santos, 1944-2014; José Nascimento, António Duarte, Luís Graça; António J. Pereira da Costa)
 

26/11/2018 > Guiné 61/74 - P19235: Tabanca Grande (470): Vítor Manuel Amaro dos Santos (1944-2014), cor art ref, DFA, cmtd da CART 2715 (Xime, 1970/72), senta-se, a título póstumo, à sombra do nosso poilão, no lugar nº 781, no dia em que se comemoram os 48 anos da Op Abencerrragem Candente, em que as NT tiveram 6 mortos e 9 feridos graves na antiga picada da Ponta do Inglês


 
28/11/2016 > Guiné 63/74 - P16768: (De)Caras (53): O Amaro dos Santos [1944-2014] que eu conheci (António J. Pereira da Costa, cor art ref)



27/11/2016 > Guiné 63/74 - P16765: Manuscrito(s) (Luís Graça) (102) : Para ti, camarada, que ainda não sabes que vais morrer, às 8h50 da madrugada do dia 26 de novembro de 1970...



26/11/2016 > Guiné 63/74 - P16764: Efemérides (241): a Op Abencerragem Candente foi há 46 anos: lembrando os nossos mortos, incluindo o Joaquim Araújo Cunha, e evocando aqui a figura do valoroso guia e picador das NT, Seco Camará (Bambadinca), rival do Mancaman Biai (Xime)...
 

26/11/2016 > Guiné 63/74 - P16762: Efemérides (240): a Op Abencerragem Candente, 6 mortos, 9 feridos graves... Faz hoje 46 anos... Msn do antigo cmdt da CART 2715, Vitor Manuel Amaro dos Santos (1944-2014), em 2/3/2012, dois anos antes de morrer, dizendo: "Ando a viver o inferno do Xime"...

24/11/2013 > Guiné 63/74 - P12337: O nosso livro de visitas (169): Imaginem quem eu encontrei no hipermercado, em Portimão ?... O nosso sargento José Martins Rosado Piça! (Tony Levezinho, ex-fur mil, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)


26/11/2012 > Guiné 63/74 - P10726: A minha CCAÇ 12 (27): Novembro de 1970: a 22, a Op Mar Verde (Conacri), a 26, a Op Abencerragem Cadente (Xime)...(Luís Graça



24/11/2012 > Guiné 63/74 - P10720: Blogpoesia (307): Não, não havia nada na antiga estrada do Xime-Ponta do Inglês (Luís Graça)


30/07/2012 > Guiné 62/74 - P10209: A minha CCAÇ 12 (26): Outubro de 1970: o jogo do rato e do gato... (Luís Graça)
 


08/05/2012 > Guiné 63/74 - P9863: (De)caras (10): Relembrando o Fur Mil Joaquim de Araújo Cunha, natural de Barcelos, que pertencia à CART 2715 (Xime, 1970/72), e que foi morto de morte matada em 26/11/1970 (José Nascimento, CART 2520, Xime, 1969/70)



26/11/2010 > Guiné 63/74 - P7339: In Memoriam (62): Por quem os sinos dobram hoje, 40 anos depois: Fernando Soares, Joaquim de Araújo Cunha, Manuel da Silva Monteiro, P. Almeida, Rufino Correia de Oliveira e Seco Camará, os bravos do Xime, mortos na Ponta do Inglês (Op Abencerragem Candente) (Luís Graça)


20/08/2010 > Guiné 63/74 - P6874: Meu pai, meu velho, meu camarada (23): Parabéns a vocês! Luís Henriques e Armando Lopes, 90 anos, uma vida! (Luís Graça)


11/05/2010 > Guiné 63/74 - P6368: O Spínola que eu conheci (20): "Erros graves cometidos do ponto de vista de segurança explicam o êxito da emboscada do IN, em 26/11/1970, na região Xime-Ponta do Inglês [, Op Abencerragem Candente] " (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)
 


07/05/2010 > Guiné 63/74 - P6335: O Spínola que eu conheci (19): "Fiquei francamente mal impressionado com a visita à Companhia sediada em Mansambo" (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)


26/11/2006 > Guiné 63/74 - P1318: Xime: uma descida aos infernos (2): Op Abencerragem Candente (Luís Graça, CCAÇ 12)

(**) Vd. em especial postes de P1317, P1318 e P1072

Guiné 61/74 - P22755: Os nossos seres, saberes e lazeres (479): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (26): Uma primeira visita a um parque de poetas em mais de 22 hectares de área verde (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 26 de Outubro de 2021:

Queridos amigos,
Não é só a extensão que justifica o conjunto de viagens, é o muito que há para ver, a grande angular que oferece a visão do Tejo enquanto vamos conversando com um grupo de poetas que falam português e que vieram do Brasil, Moçambique ou Angola ou Cabo Verde; e há projetos escultóricos refinados, imaginativos que exigem diferentes leituras, deixa-se para mais tarde as líricas trovadorescas, os poetas do Barroco ou Romântico e todo aquele belo percurso que começa por Camilo Pessanha e Teixeira de Pascoais e finda provisoriamente em António Gedeão e Ruy Belo, tempos virão para novas adições, espaço não falta e grandes escultores muito menos. E há os passeios para mirar espaço tão folgado e vegetação tão frondosa, com muitos ou poucos visitantes a nossa voz interior grita de contente e pede mais, para ver de manhã o que se viu de tarde, em dia ensolarado ou céu plúmbeo, a diversidade também conta e a contemplação até pode ganhar outras cores. É em Oeiras, este rincão de beleza e com poderosas caraterísticas de sustentabilidade.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (26):
Uma primeira visita a um parque de poetas em mais de 22 hectares de área verde


Mário Beja Santos

Inaugurado em 2003, o Parque dos Poetas sito em Oeiras exibe poetas portugueses de várias épocas (mais propriamente desde os poetas trovadorescos até aos do século XX) e poetas dos países de expressão ou cultura portuguesa. O escultor Francisco Simões e os paisagistas Francisco Caldeira Cabral e Elsa Severino responderam pela primeira fase e ao longo desta viagem são muitos os escultores que aqui deixam o seu selo, caso de Álvaro Carneiro, Fernando Conduto, Graça Costa Cabral, João Cutileiro, José Aurélio, Lagoa Henriques ou Pedro Cabrita Reis.
No ano da inauguração, foi publicado o livro O Parque dos Poetas, texto e imagem de José Jorge Letria e André Letria, uma belíssima edição. Logo na abertura, assim nos cativa José Jorge Letria: “O Parque dos Poetas é o lugar/ onde os poetas se juntam,/ no silêncio da pedra a conversar,/ sobre os frutos que a poesia,/ entre sonho e fantasia,/ é sempre capaz de nos dar./ Lá estão eles conversando/ nas alamedas ao luar,/ reinventando os versos/ e os secretos universos/ que de mansinho nos fazem parar/ como se estivessem ali mesmo ao pé de nós/ a escrever e a falar./ O Parque dos Poetas/ é um lugar sem idade/ porque os poetas/ não são novos nem são velhos/ e o seu cartão de identidade/ é o timbre do que escrevem/ para acordar a cidade/ em cada dia que passa/ com o largo gesto criador/ de quem nunca desiste/ de viver em liberdade”.

Estamos pois numa enorme extensão e seria despropositado meter o Rossio na Betesga, é preciso ir e voltar para digerir tanta beleza, percorrer com cuidado e apreciar as esculturas, talvez começar na Praça do Memorial e avançar pela Alameda dos Poetas, ou então olhar à volta o Templo da Poesia, estar ali em meditação sentado junto das fontes zen, tudo de enfiada é que não, são muitos os artistas plásticos, dezenas e dezenas de esculturas, nesse enorme espaço onde cabem equipamentos desportivos, infantis e lúdicos.
E depois vale a pena ir percebendo o faseamento do projeto: a primeira fase (dez hectares) inaugurada em junho de 2003, estão ali vinte poetas-maiores portugueses do século XX; a estes juntaram-se os treze representantes dos trovadores e dos poetas do Renascimento da segunda fase – B, inaugurada em fevereiro de 2013 (7 hectares); e em 2015, 27 esculturas do Barroco ao Romântico e os de países de expressão portuguesa. É por estes últimos que começa a nossa viagem, com a garantia de que há ir e voltar, basta estar atento ao poema de despedida de José Jorge Letria: No Parque dos Poetas,/ com o Tejo lá ao fundo,/ aprende-se que a poesia/ é um modo de estar no mundo,/ umas vezes ligeiro e vago,/ outras grave e profundo,/ pois o mistério da poesia/ assim se pode resumir:/ É o jeito mais antigo/ de dizer o que está para vir,/ sendo um estado de graça/ que envolve quem passa/ e lhe segreda ao ouvido:/ “Ouve bem o que eu te digo/ e talvez o sonho,/ porque nada está perdido,/ volte de novo a fazer sentido”.


Carlos Drummond de Andrade

Poeta frequentemente sarcástico, irónico, cheio de humor, disfarça com isso um lirismo puro e profundo, uma enorme simpatia humana e uma constante e aguda preocupação com o sentido da vida e do homem. Tem horror ao sentimento e ao patético, mas guarda limpidez de sentimento e um agudo sentimento do trágico que comunica com muita discrição e finura. Alguns dos seus poemas alinham-se entre os melhores da Língua Portuguesa.


José Craveirinha

Os seus poemas questionam o registo biográfico em que a figura do pai ganha importância, dando sequência a uma temática aculturativa e fundamental no universo da sua poesia. O seu discurso poético enquadra-se na poesia contemporâneo do período Colonial e também de muita poesia escrita nos últimos 17 anos de vida do país novo que é Moçambique. Poeta comprometido com os destinos do país, é preso e partilha a cela com Malangatana e Rui Nogar, nomes importantes da cultura daquele tempo. Presente em qualquer antologia lusófona, a sua poesia reflete a influência surrealista, mas é marcada pela cultura moçambicana.

Manuel Bandeira

Representante do modernismo, a sua escrita poética evidencia o verso livre e a abolição de qualquer barreira formal ou temática. Muitos o consideram o maior poeta do modernismo brasileiro, e é certamente um dos maiores da literatura nacional. Fundamentalmente lírico tem agudíssima sensibilidade, principalmente diante da vida. A doença foi a sua companheira e a sua musa, bem como a morte. Dotado de uma extraordinária versatilidade, ensaiou, com êxito, todos os tipos de ritmo e todas as técnicas, experimentando até o concretismo.

Alda Lara

A sua intervenção reflete a mulher, a africana e sobretudo a angolana que ama as suas gentes e a sua terra onde sempre ansiou regressar. Ao longo da sua breve existência, dedicou-se fundamentalmente à poesia, concentrando-se principalmente na experiência angolana e remetendo para uma leitura de Angola que privilegia as alegorias da Liberdade, do Amor, da Justiça, num retrato da condição humana em toda a sua ambiguidade e complexidade.

Vasco Cabral

Sem obra literária anterior, Vasco Cabral surge com o livro “A Luta é a minha Primavera – Poemas”, 1981, que reúne 59 textos escritos entre 1951 e 1974, ordenados cronologicamente em cada uma das secções do livro, espelho do seu ideário nacionalista africano. Fez parte da escola neorrealista do seu tempo. A solidariedade, a fraternidade, o amor, a dor, a alegria, a esperança, a liberdade, a poesia da vida, são alguns dos campos semânticos do roteiro poético de Vasco Cabral.

Jorge Barbosa

A sua obra “Arquipélago (1935)” figura como um marco da modernidade, cabo-verdiana, rompendo com a dependência dos modelos metropolitanos e antecipa em meses o aparecimento da revista Claridade, da qual foi um dos fundadores. A poesia de Barbosa, telúrica e social, traz à luz do dia os problemas do arquipélago e do cabo-verdiano anónimo/irmão: a seca, a fome, a morte por inanição, a emigração, o isolamento, a insalubridade. Em suma, a sua poesia é uma radiografia do drama social do homem cabo-verdiano.

O Tejo que se avista deste rincão dos poetas lusófonos
Alda do Espírito Santo

A sua poesia está ligada a movimentos de cidadania ativa e intervenção política, tendo ocupado vários cargos de relevo, como ministra e deputada. É autora da letra do Hino Nacional de São Tomé e Príncipe. A sua poesia é de matriz nacionalista, de denúncia da situação colonial, exalta as figuras-símbolos da resistência nacional: o contratado queimando vida nas roças de cacau e café, o contratado desenraizado, o angular e sobretudo a Mulher, símbolo da Terra e da Mãe. Considerada uma das maiores poetisas africanas, foi figura importante do movimento da Negritude de língua portuguesa.

Fernando Sylvan

Escritor de origem timorense, a sua poesia tem duas componentes distintas: a de referência timorense com uma estilística entre modernista e panfletária e a de referência genérica e autobiográfica. Desenvolve um conceito dinâmico de Pátria, colocando-o na dependência de um exercício de pensamento, cidadania e fraternidade que lhe permitia reclamar da colonização e do racismo europeus.

Santos Ferreira – Adé

Popularizado como Adé, nascido e falecido em Macau, dedicou grande parte da sua vida à divulgação do dialeto macaense, sendo autor de vasta bibliografia e de récitas, peças de teatro, operetas, etc., que também ensaiava e dirigia. Grande parte da sua atividade esteve também ligada ao desporto.

Por esta ponte vamos para outro belíssimo espaço do Parque dos Poetas, há ir e voltar

Desenho de André Letria

(continua)
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Notas do editor

Vd. poste de 20 DE NOVEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22734: Os nossos seres, saberes e lazeres (477): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (18) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 22 DE NOVEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22739: Os nossos seres, saberes e lazeres (478): Guerra e Desporto, um artigo de Alexandre Silveira publicado no Jornal Fayal Spor Club, enviado a partir da Mata dos Madeiros (José Câmara, ex-Fur Mil Inf)