segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18216: Historiografia da presença portuguesa em África (106): a história desconhecida da Guiné dos anos 60-70 do séc. XIX: Alfa Moló e Alfa Mussá, heróis dos fulas-pretos (Armando Tavares da Silva)


Mussá Moló, tendo à sua direita Dembá Dançá, e à sua esquerda Maransará, chefe-de-guerra deste último (in Francis Bisset Archer, The Gambia Colony and Protectorate. An Official Handbook, London, 1906)-Cortesia de ATS.


[A vermelho, a atual fronteira da Guiné-Bissau. Cortesia de ATS]


1. Mensagem de 11 do corrente, do nosso grã-tabanqueiro Armando Tavares da Silva:


Assunto - Blogue: Guiné Séc. XIX

Caro Luís Graça,

Para quem se interessar pelos acontecimentos que se foram desenrolando na Guiné no decorrer do tempo, o texto que envio poderá ser útil e esclarecedor.

Há quem se queixe que em meados do século XX nada se sabia sobre aquele teritório. Tal não era também possível, pois não havia escritos que o pudessem permitir. Pouco mais se sabia além de que a Guiné tinha sido descoberta por Nuno Tristão.

Se percorrermos as “Histórias de Portugal”, mesmo, e sobretudo, as mais recentes, nada se encontra. E alguns trabalhos onde sumariamente se referem acções militares, confundem factos e apresentam erros. Acresce ainda que, quando se fala da Guiné, é quase sempre para denegrir. Talvez isto seja consequência do que ainda hoje leva a que se oiça dizer: “Mas aquilo tem algum interesse?”.

Parabéns ao blogue e seus editores, e... vida longa!

Abraço

ATS



2. Em comentário ao Post P18172  de 4-01-2018 (*), relativo à identificação do topónimo Gan Sancó, muito possivelmente um antigo regulado mandinga, Cherno Baldé menciona as contendas em que estiveram envolvidos mandingas e fulas. A menção destas contendas  levou-me a rever o que havia escrito em “A Presença Portuguesa na Guiné, História Política e Militar, 1878-1926” [, imagem da capa à esquerda,],  sobre a própria emancipação dos fulas-pretos do domínio de mandingas e beafadas.

O alferes Francisco António Marques Geraldes, que havia sido comandante do presídio de Zeguichor, e que era chefe do presídio de Geba, relatando o que fora acção de Alfá Moló, diz-nos em 1886 que este, fula-preto, era chefe de uma “raça que há muitos anos vergava sob o jugo da escravidão. Beafadas, mandingas, fulas-forros e futa-fulas eram seus senhores e, enquanto estes descansavam das fadigas da guerra a que sempre se dedicaram, os fulas-pretos, largando as armas com que defenderam seus senhores, pegavam nos instrumentos agrícolas e ei-los curvados sobre o solo tirando do seu seio, à custa de trabalhos insanos, o alimento preciso para sustentar as tribos guerreiras de que dependiam.” 

Este estado de escravidão resultava da ausência de um chefe enérgico e audaz que se opusesse ao poder dos mandingas e beafadas. Moló, porém, entendeu fazer um esforço sobre-humano para tentar tal milagre e, à frente de um punhado de fulas, edifica a ocultas uma tabanca em lugar inculto e cheio de denso arvoredo, tabanca pequena e povoada só por homens. À distância de duas léguas existia uma outra de mandingas com suas famílias e haveres. “Os fulas-pretos atacam uma madrugada e de improviso esta tabanca; matam os homens, tomam as mulheres e cavalos; alargam a sua tabanca para assim haver cabimentos para as famílias entradas”.

Marques Geraldes situa em 1864 o começo da emancipação dos fulas-pretos, conseguindo Moló, que lutou até ao último dia da sua vida, destruir quase todo o poder dos beafadas e mandingas nos territórios de Geba até Gâmbia.

Depois da morte de Alfá Moló, será um dos seus filhos –Mussá Moló – possuidor de grande energia e superior inteligência, que chama a si os principais guerreiros jalofes, saracolés e mesmo antigos fidalgos mandingas que foram possuidores daqueles territórios e, devido às suas liberalidades, premiando os mais valentes, dando-lhes cavalos e mulheres, soube criar um tal prestígio que se tornou o ídolo dos fulas-pretos. Assim, Mussá soube vencer aqueles restos dos grandes povos que dominaram na Guiné e, em poucos anos tinha suplantado beafadas e mandingas, ficando possuidor de ambas as margens do rio de Geba desde a sua embocadura.

O território do Forreá povoado por fulas-forros estava igualmente cheio de escravos fulas-pretos. Em 1879, quando Agostinho Coelho inaugurou o governo da província, decorria a luta sangrenta entre os fulas-forros e os fulas-pretos, altura em que o Rio Grande mantinha o seu esplendor, ostentando as suas cinquenta e três feitorias prósperas e ricas, e em que a população de Buba era numerosa. 

Por espírito humanitário Agostinho Coelho, na difícil situação de procura da pacificação entre os povos que se digladiavam, e portanto da pacificação da província, recebeu na sua praça de Buba todos os fulas-pretos que quisessem ser livres, arrostando assim com uma guerra que lhe trouxe o completo definhamento do comércio e agricultura. Vendo-se os fulas-forros repentinamente privados dos seus escravos, não tiveram em mira senão vingar-se, o que deu começo a uma guerra no território de Forreá, que aniquilou o comércio e agricultura em Buba e feitorias do Rio Grande.

Joaquim da Graça Correia e Lança, que fora governador interino entre 1888 e 1890, referindo-se também, em relatório de 1890, aos povos que ocupavam a província, escreve: 

“Toda a região do alto Geba era ocupada pelos fulas-pretos, que se estendiam até ao Forreá, onde dominavam os fulas-forros. Era uma enorme área, outrora ocupada por mandingas e beafadas. Estes estendiam-se pela margem esquerda do rio Geba até à povoação deste nome e ocupavam o território de Bricama, Corubal e o Forreá. Aqueles, estendiam o seu império desde Farim até ao Futa-Djalon”. 

Ora, tanto a grande nação mandinga do interior, como os mandingas de Geba viram entrar no seu território “sem desconfiança os inofensivos pastores fulas que, com os seus rebanhos caminhavam sem cessar na direcção do oceano, apenas pedindo pastagem para os seus gados e sal para as suas comidas”. Vivendo sujeitos aos mandingas e beafadas, os fulas haviam sido objecto de “inúmeras extorsões e violências, vivendo uma vida verdadeiramente servil”, até que, em 1863, se dá um primeiro movimento de revolta, tendo-se verificado o primeiro combate em Cabucussará.

Como aqui se vê, Correia e Lança situa o primeiro combate de emancipação dos fulas-pretos em 1863, em Cabucussará.


Atlas da Guiné (1914): posição relativa de Gam Sancó e Ber[e]colon. Cortesia de ATS

Mas os mandingas também sofreram ataques e pesadas derrotas infligidas por futa-fulas, como se infere do referido comentário de Cherno Baldé ao Post P18172 (*).  Segundo este, a fortaleza mandinga de Berecolon foi destruída pelos almames do Futa-Djalon no início de uma guerra que se iniciara em 1852, e que terminaria com a derrota dos mandingas na batalha de Cansala em 1864. Marques Geraldes diz-nos que fora o almame Ibráhima, denominado o Sory, que maiores vitórias alcançara contra os mandingas, e eu faço notar que em 1882, na praça de Buba, circundada por uma paliçada, existia uma autêntica aldeia mandinga, onde se terão acolhido, provavelmente fugidos dos ataques de futa-fulas.    

Houve, porém, um território – o Oio – onde mandingas soninqueses conseguiram resistir aos avanços fulas. É o governador Júdice Biker que, em 1903, mais demoradamente se vai referir a este facto, começando por notar que por muitos anos durou a luta entre fulas e soninquezes, ficando aqueles vencedores tomando posse do chão dos soninquezes, à excepção da região chamada Oio, ainda hoje pertencente aos soninquezes.

Acrescenta Júdice Biker:

“Depois, os fulas passaram a conquistar o território pertencente aos beafadas, luta que igualmente durou bastantes anos, mas sendo os beafadas expulsos do seu chão que igualmente ficou pertencendo à raça fula, refugiando-se os beafadas em Quinará e Cubissegue, que ainda hoje conservam devido à protecção do governo”.

E continua:

 “Relativamente ao Oio, os fulas empregaram todos os esforços para ocupar aquela região. A tabanca de maior nome do Oio é a de Gussará; cinco vezes foi atacada pelos fulas que foram sempre derrotados sofrendo perdas enormes”. Por isso, “para os fulas o Oio passou a ser considerado como território com feitiço”.

Vai ser na sequência de uma incursão no Oio em 1902, e do “prestígio” de que dela resultara, que Júdice Biker, devidamente autorizado, vai proceder a título provisório à primeira cobrança do imposto de capitação (que antecedeu o imposto de palhota), o que realiza durante uma extensa digressão, entre Fevereiro e Março de 1903, em que percorreu de Buba a Geba 275 quilómetros. (**)
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Guiné 61/74 - P18215: Notas de leitura (1032): “Uma Estrada para Alcácer Quibir”, por António Loja; Âncora Editora, Dezembro de 2017 (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Janeiro de 2017:

Queridos amigos,
É com satisfação que saúdo o regresso de António Loja, autor de uma obra memorável e referência obrigatória da literatura da guerra da Guiné, "As Ausências de Deus".
Regressa com lembranças pícaras, desvelando episódios ridículos da nomenclatura militar, obrigatoriamente regressa ao corredor de Guileje e ao quartel de Mejo, aos 83 anos lá estão as memórias em carne viva.
António Loja é o exemplo acabado quando ao dever de memória, com o filtro da idade apuram-se lembranças eivadas de ternura e mantem-se hasteada a bandeira do companheirismo, neste caso é incansável a tecer louvores ao bando de irmãos da sua companhia operacional que foi do Forreá até ao Jolmete, percorrendo a estrada para Alcácer Quibir.

Um abraço do
Mário


O regresso de António Loja e o seu bando de irmãos

Beja Santos

Devemos a António Loja um dos livros mais impressivos, compassivos e inspiradores da literatura da guerra da Guiné: "As Ausências de Deus"; Âncora Editora, 2013[1]. Reincidente, temo-lo de volta com “Uma Estrada para Alcácer Quibir”; Âncora Editora, Dezembro de 2017. Desta feita, temos um rossio estuante de recordações de alguém que cumpriu por três vezes o serviço militar obrigatório, em todas essas etapas lhe assaltam a memória episódios pícaros, brutais e de grande companha. Em dado passo, ruminando sobre a guerra, ele escreve:
“Foi então que comecei a pensar em como seria constituído esse exército que preparávamos para combater na segunda batalha de Alcácer-Quibir. Tínhamos todo um país para mobilizar: do Minho ao Algarve, dos Açores à Madeira, de Cabo Verde à Guiné, de Angola a Moçambique, da Índia, de Macau e Timor, emigrantes dispersos pelo Brasil, África do Sul e Venezuela, por Paris e Bruxelas, pela Alemanha e pelo Luxemburgo; cavadores de enxada e tratoristas, condutores de autocarro e carteiristas, distribuidores de jornais e engenheiros civis, economistas e médicos, enfermeiros e amanuenses, contabilistas e feirantes, licenciados em Filosofia e Matemática, mas sobretudo muitos analfabetos.
E foi assim que partimos para África, cada um com a sua espingarda, alguns com um morteiro ou com um lança-granadas, outros mais sofisticados levaram um tanque ou um avião ou mesmo um helicóptero. Todos eles fizeram parte da força armada que combateu na segunda batalha de Alcácer-Quibir, travada entre os anos de 1961 e 1974”.

E assim se vão desenrolando episódios da sua passagem pelo RI 14, em Viseu, estávamos em 1961, coube-lhe organizar os serviços da secretaria, ali lhe apareceu o Francisco Esteves que se oferecia como voluntário, o alferes quis saber mais sobre o motivo, era bem prosaico: “É que eu casei-me há três meses e já não aguento a minha mulher. Estou farto dela e prefiro ir para a guerra”. Temos cenas dos pequenos poderes daqueles majores que comunicavam abruptamente quem era mobilizado, até ao dia em que foi bem ensinado. Vem a talhe de foice referir um telegrama que assim rezava: “Informo V. Exa. que se encontra ao dispor dessa unidade no Depósito Geral de Material de Guerra um equipamento M-201, que deve ser levantado, mediante requisição, nas próximas 24 horas”. No topo da hierarquia, para não dar parte fraca, despachou-se para baixo e a certa altura houve um sargento que quis resolver o transcendente problema do equipamento M-201, requisitou-se uma GMC, daquelas que tem 10 pneus e bebe 100 litros de gasolina aos 100 quilómetros, lá foi com um condutor com uma escolta de um cabo e seis soldados até ao Entroncamento. Ninguém tivera a veleidade de fazer um telefonema para saber o que era esse M-201. A GMC e a escolta regressaram com uma embalagem ridícula, era um vulgar filtro para a água.

Estamos agora na Guiné, o autor comanda a CCAÇ 1622, que esteve em Mejo e acabou no Jolmete, passou também por Aldeia Formosa e Teixeira Pinto. Recorda aquelas operações em que se tinha que passar a vau vários braços de rios, sentindo a sucção do lodo e quando se chegava a terra firme era-se recebido com uma tempestade de fogo. A missão, daquela vez, era atingir Chinchin-Dari, ali perto do corredor de Guileje. Emboscadas não faltaram, reagiu-se como se pôde, pediu-se apoio aéreo, houve que dar uma estalada a quem gritava a plenos pulmões: “Ai! Minha rica Nossa Senhora do Sameiro, vamos todos pró caralho”. E o antigo capitão de Mejo recorda: “Nem todos fomos para o caralho. Regressámos ao quartel com três mortos e sete feridos, carregados penosamente pelos sobreviventes, ao longo de 20 quilómetros de mato e lama”.

Porquê bando de irmãos? O autor dá a seguinte justificação: “Assim designa Shakespeare na peça Henrique V que os homens de armas que à volta do rei se associam na aventura da missão comum. Juntos correm perigos idênticos e juntos se apoiam no encontro de soluções para os problemas que enfrentam, alternando derrotas com vitórias, batendo-se cada dia com a morte. Na luta sentem-se solidários. Na solidariedade descobrem-se irmãos”. E o autor justifica-se que é o capitão do bando de irmãos, que andou por terras do Forreá, percorreu o corredor de Guileje à procura de Balantas e cubanos, deslocou-se ao longo das margens do Geba e do Cacine. E explica-se melhor: “Três meses depois de terminado o treino operacional, com deslocações a Santa Margarida e a Lamego, eis-nos embarcado no navio Uíge que nos deixou em Bissau e logo transferidos numa LDG para Buba e daí rapidamente recambiados por terra para Aldeia Formosa, onde nos instalámos para uma estadia que se prolongou por nove meses até sermos transferidos para Mejo, mais conhecida na gíria militar por colónia penal”. A soma de tudo isto eram ataques quase diários dirigidos contra o quartel, o isolamento da instalação militar que no flanco do corredor de Guileje tinha as suas deslocações por terra frequentemente emboscadas. Foi assim que se forjou o bando de irmãos naquela companhia operacional com cerca de 170 homens.

Peripécias vividas nas operações é coisa que não falta neste polifacetado registo de memórias, desde a tormenta das formigas das emboscas noturnas, o terror dos crocodilos, o cão Guileje que espetava as orelhas quando sentia no capim a presença hostil dos guerrilheiros, e não esqueceu o mais imprevisto dos ferimentos:  
“Foi uma refrega rápida. Saltámos dos carros e, lançados ao longo da picada, ripostamos com o mesmo entusiasmo da noite anterior. Entretanto, ainda rastejando e metralhando do capim onde se escondiam os guerrilheiros, senti que tinha sido atingido numa coxa depois do rebentamento de uma granada.
Chegado ao quartel chamei Brado, o sempre diligente e eficaz furriel enfermeiro, para ver o que havia na coxa que ainda sangrava. O homem desinfetou a área e fez uma incisão ligeira com o bisturi para extrair o suposto estilhaço de granada. Surpresa! Enquanto rastejara sobre o rico solo da Guiné, uma formiga furara o camuflado e, encontrando um menu mais apetitoso, começara a perfurar um túnel e iniciara a caminhada para dentro do meu corpo. O bisturi retirou-a a tempo”.

Por vezes o rossio estuante de recordações começa numa história recente e chega rapidamente à Guiné. Foi o caso de naquela conversa se falar numa antena que ia ser colocada num edifício para melhorar a rede de ligações telefónicas, logo se falou de uma antena existente nos CTT de Chaves que servia de refúgio a milhares de estorninhos. E assim se volta ao passado:  
“Disse-lhe da minha profunda emoção ao presenciar em Bolama, na antiga colónia da Guiné, um espetáculo em todo idêntico, não com estorninhos mas com morcegos que todos os dias se deslocavam aos milhares entre Bolama e a mata densa na outra margem do rio, no momento do pôr e do nascer do sol. Porque esta é uma das mais comoventes manifestações da natureza que guardo da minha passagem por aquele território guineense”.

É de saudar o regresso de António Loja à Guiné, aos 83 anos ainda está firme no seu posto de capitão daquele bando de irmãos, um exemplo para todos nós.
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Notas do editor:

[1] - Vd. postes de:

27 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6477: Notas de leitura (112): As ausências de deus, de António Loja (1) (Mário Beja Santos)

28 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6483: Notas de leitura (113): As ausências de deus, de António Loja (2) (Mário Beja Santos)
e
30 de agosto de 2013 > Guiné 63/74 - P11993: Notas de leitura (515): "As Ausências de Deus", por António Loja (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 12 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18203: Notas de leitura (1031): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (17) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18214: Pelotões de Morteiros mobilizados para o CTIG: elementos históricos e estatísticos (Jorge Araújo)



 Oito símbolos de Pelotões de Morteiro (retirados da Net) que ainda não têm referências no nosso blogue 

Os modelos de Morteiros usados no CTIGuiné foram: o morteiro médio Brandt de 81mm (francês), imagem acima, e o morteiro 10,7 cm (americano).

Sobre o primeiro modelo consultar, também, o sítio Museu da Vitória - Brigadeiro Nero Moura




Jorge Alves Araújo, ex-fur mil op esp/ranger,  CART 3494 (Xime-Mansambo, 1972/1974)


PELOTÕES DE MORTEIROS MOBILIZADOS PARA A GUINÉ (1961-1974) - ELEMENTOS HISTÓRICOS E ESTATÍSTICOS [CORRIGIDOS E AUMENTADOS]

por Jorge Araújo



1. INTRODUÇÃO

Na condição de ex-combatente miliciano no TO do CTIGuiné (1972/1974), determinada pela conjuntura política vigente nesse tempo ou nessa época, cativa-me participar neste plenário virtual (electrónico) a que o seu fundador deu o nome de «Tabanca Grande». E é Grande, de facto, como provam os dezoito mil postes contabilizados no dia em que se atingiu a expressiva cifra de dez milhões de visitas ou visualizações (21Nov2017 às 18h47). Pela quantidade do seu valioso espólio estamos perante um verdadeiro Serviço Público aberto a todas as comunidades… e que continua o seu processo de crescimento.

Por outro lado, como membro tertuliano e comungando dos mesmos objectivos didácticos do seu colectivo, cativa-me também poder partir da percepção do já acontecido, do já sentido e do já divulgado ou publicado, e adicionar-lhe algo mais, o que anda disperso, ou aquilo que resulta do seu aprofundamento, estudo ou investigação nesta área – a da ciência militar – da qual possuo uma reduzida competência teórica.

Dito isto, o presente trabalho nasce de um desejo/pedido do editor e camarada Luís Graça endereçado
ao nosso novo Tabanqueiro (761.º), Carlos Vieira, ex-fur mil do Pel Mort 4580 (Bafatá, 1973/74), a quem envio um abraço de boas vindas. O pedido foi formulado no P17993, em comentário, nos seguintes termos… “Carlos, quantos Pelotões de Morteiro passaram pelo TO da Guiné, entre 1961 e 1974? Podemos saber, mas para já só temos referências a 19 Pel Mort, e nalguns casos muito escassas…”.

Sem prejuízo da participação do camarada Carlos Vieira neste ou noutros temas, pois será sempre bem-vindo, o que acontece é que este estudo, sobre este mesmíssimo levantamento, eu há já algum tempo o tinha realizado.

Ao estruturar o presente texto, encontrei um trabalho académico semelhante, mas mais completo pois incluía os três TO, realizado por um estudante da Academia Militar que, como é do conhecimento público, é uma Unidade Orgânica Autónoma do Instituto Universitário Militar.

Trata-se do “Relatório Científico Final do Trabalho de Investigação Aplicada” com o título: «Estudo estatístico sobre a mobilização de unidades da Arma de Infantaria durante a Guerra de África (1961-1974)», sendo seu autor o Aspirante de Infantaria José Luís Pires Ferreira, estudo concluído em Julho de 2015 (capa ao lado).

Ao confrontar este trabalho académico com o meu, constatei existiram discrepâncias nas estatísticas, pelo que hesitei sobre qual deles deveria fazer uso neste fórum: o académico ou o meu. Mas, enquanto membro da academia, na qualidade de docente universitário, não podia aceitar que se continuasse a manter os erros históricos e estatísticos, por uma questão de princípio deontológico (a segunda condição).

Assim, partindo da mesma premissa temática, decidi acrescentar o que estava em falta, e corrigir o que não estava bem, apresentando a competente justificação para cada caso. Por este facto, espero ser perdoado pelo Oficial de Infantaria José Ferreira.

Este seu trabalho pode ser consultado no poprtal RCAAP - Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal


2. O PORQUÊ DESTA INVESTIGAÇÃO

José Ferreira, autor do estudo, no ponto 1.2 - Importância da investigação e justificação do tema -, refere que “dos trabalhos publicados em Portugal sobre a história da guerra de África (1961-1974), nenhum abordou a mobilização das unidades da Arma de Infantaria, que foram constituídas no dispositivo territorial do Exército, do Continente, da Madeira e dos Açores, e depois enviadas para os três Teatros de Operações.

O estudo publicado pela comissão para o estudo das campanhas de África (CECA) e a obra “Os anos da guerra Província Ultramarina” [“Os Anos da Guerra Colonial”] da autoria de Carlos de Matos Gomes e Aniceto Afonso, reúnem dados e analisam diversas dimensões sobre a guerra, mas não foram estudos dedicados especificamente à mobilização. Julgamos pertinente analisar o esforço de mobilização para cada um dos TO, a sua evolução ao longo do período da guerra, bem como aspetos particulares sobre a tipologia das unidades mobilizadas pela Arma de Infantaria.

O presente trabalho visa revelar conhecimento novo e permitir retirar conclusões sobre os períodos de maior ou menor esforço de mobilização para cada TO, bem como conhecer a tipologia de unidades mais utilizadas durante o conflito ultramarino detalhando este processo, relativamente a cada um dos três TO. Este trabalho vem assim enriquecer o historial da Arma de Infantaria.

2.1 RESUMO DA INVESTIGAÇÃO

No trabalho de Investigação Aplicada acima referido, José Ferreira apresenta-o fazendo um resumo do que nele aborda. “Através desta investigação pretende-se caracterizar a tipologia das unidades mobilizadas pela Arma de Infantaria, com base no recrutamento e mobilização feito em Portugal continental e nos arquipélagos dos Açores e Madeira, bem como compreender o esforço de mobilização realizado por esta arma, quer através do ritmo de mobilização ao longo do período da guerra, quer ao nível das unidades territoriais que mobilizaram forças durante a guerra para cada um dos Teatros de Operações [TO], durante o período em estudo. É de relevante pertinência a realização desta investigação, pela possibilidade de retirar conclusões sobre os períodos de maior e menor esforço de mobilização (não considerando as unidades de intervenção e as de guarnição normal) em cada Teatro de Operações bem como conhecer a tipologia das unidades empenhadas durante o conflito ultramarino”.

2.2 MOBILIZAÇÃO DE PELOTÕES DE MORTEIROS PARA A GUINÉ

Encontrando-se o trabalho organizado por TO, no ponto 5.5 é apresentada a competente estatística, relativa à Guiné, de modo diacrónico (figura 25) e comentados os resultados obtidos.

Assim, segundo o autor, “o início da mobilização de PelMort iniciou-se em 1962 [errado] e até 1967 o ritmo de mobilização foi pouco variável. Em 1969 ocorreu a maior mobilização desta tipologia, nove unidades foram enviadas para o TO da Guiné [errado]. [Omite 1970]. A partir de 1971 até 1973 o número de unidades mobilizadas foi sempre decrescente. Pela análise do gráfico seguinte verifica-se que foram mobilizados 60 PelMort [errado].

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Ferreira, José L. P. - «Estudo estatístico sobre a mobilização de unidades da Arma de Infantaria durante a Guerra de África (1961-1974)», op.cit. p 43.




2.3 ELEMENTOS HISTÓRICOS E ESTATÍSTICOS CORRIGIDOS

De seguida, apresentar-se-ão quadros estatísticos por anos, retirados do capítulo dos «Apêndices» [AP-37/38], onde se assinala as discrepâncias encontradas entre as duas investigações, a académica (Academia Militar) e a empírica (a minha).

Como elementos de prova, indicam-se as respectivas fontes.






"Diário do Alentejo", 18 de julho de 1961

Fonte: Blog BC 236, Guiné 61/63 (com a devida vénia)






Breve história do Pelotão de Morteiros 2138

“Tudo começou no dia 2 de Junho de 1969 em Chaves, sendo a unidade mobilizadora do Pelotão de Morteiros 2138 o Batalhão de Caçadores 10. Até ao dia 5 de Julho decorreu a instrução de adaptação operacional [IAO] na região de Boticas. De 7 a 16 de Julho foram gozados dez dias de licença antes do embarque para o então chamado Ultramar Português. No dia 17 teve início a segunda parte do IAO estando previsto para o dia 30 de Julho, no navio “Índia” o embarque para a Guiné, tendo o mesmo sido adiado para 13 de Agosto por avaria no navio. A viagem fez-se a bordo do navio “Uíge”, com chegada à Guiné no dia 18 e desembarque a 19 de Agosto de 1969 pela manhã”

[http://pelotaodemorteiros2183.blogs.sapo.pt/1706.html (de notar que os últimos dois algarismos do número do pelotão estão invertidos)].





Aproveitando o texto que serviu de base à análise estatística da figura 25, esta poderia ser, em função das correcções, a seguinte:

“O início da mobilização de PelMort iniciou-se em 1961 e até 1967 o ritmo de mobilização foi pouco variável. Em 1969 ocorreu a maior mobilização desta tipologia, dez unidades foram enviadas para o TO da Guiné. Em 1970 a mobilização foi atípica só com duas unidades. A partir de 1971 até 1973 o número de unidades mobilizadas foi sempre decrescente. Pela análise do gráfico seguinte verifica-se que foram mobilizados um total de 63 PelMort.


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Fonte: Adaptado de: Ferreira, José L. P. - «Estudo estatístico sobre a mobilização de unidades da Arma de Infantaria durante a Guerra de África (1961-1974)», op.cit. p 43.



3. PELOTÕES DE MORTEIROS MOBILIZADOS PARA A GUINÉ (1961-1974) COM E SEM REFERÊNCIAS NO NOSSO BLOGUE

Contabilizado, até à presente data, o número de Pelotões de Morteiro referenciados no blogue da «Tabanca Grande», este é igual a 19 (dezanove), a que corresponde uma percentagem de 30.2%, quando comparado com o universo dos Pelotões de Morteiros mobilizados para a Guiné (1961/1974). Com mais cinco unidades atingiremos 1/3.

A) - Pelotões de Morteiros com referências no Blogue (ñ19=30.2%)

16 – 17 – 19 – 912 – 942 – 1192 – 1208 – 1209 – 1242 – 2005 – 2106 – 2117 – 2138 – 2268 – 2297 – 4275 – 4574 – 4575/72 – 4580.

Pel Mort 1028 (1)
Pel Mort 1192 (4)
Pel Mort 1208 (2)
Pel Mort 1209 (2)
Pel Mort 1242 (2)
Pel Mort 16 (1)
Pel Mort 17 (1)
Pel Mort 19 (27)
Pel Mort 2005 (2)
Pel Mort 2106 (12)
Pel Mort 2117 (1)
Pel Mort 2138 (3)
Pel Mort 2268 (9)
Pel Mort 2297 (1)
Pel Mort 4275 (9)
Pel Mort 4574 (31)
Pel Mort 4575/72 (3)
Pel Mort 4579 (1)
Pel Mort 4580 (6)
Pel Mort 4581 (1)
Pel Mort 912 (27)
Pel Mort 942 (8)

B) - Pelotões de Morteiros sem referências no Blogue (ñ44=69.8%)

18 – 41 – 916 – 917 – 918 – 978 – 979 – 980 – 1028 – 1029 – 1039 – 1040 – 1041 – 1042 – 1085 – 1086 – 1087 – 1191 – 1210 – 1211 – 2004 – 2005 – 2006 – 2105 – 2114 – 2115 – 2116 – 2172 – 2173 – 2174 – 2267 – 2294 – 2295 – 2296 – 3020 – 3030 – 3031 – 3032 – 4272 – 4273 – 4274 – 4277 – 4579 – 4581.

Aproveito esta oportunidade para reproduzir oito símbolos de Pelotões de Morteiro (retirados da Net) que ainda não têm referências no nosso blogue [, vd.  imagens no topo deste poste], com a expectativa e/ou esperança de, num futuro próximo, possamos receber algumas histórias das suas passagens pelo CTIG, pois aconteceram em locais e épocas diferentes. Aguardemos!


Obrigado pela atenção.
Com forte abraço de amizade,
Jorge Araújo.

27NOV2017.

domingo, 14 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18213: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (24): ronco balanta em Cufar, a festa de circuncisão ('fanado') dos rapazes ('blufos')



Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3 


Foto nº 4


Foto nº 6


Foto nº 7


Foto nº 9



Foto nº 8


Foto nº 10


Foto nº 5

Foto nº 12


Guiné > Região de Tombali >  Cufar > CCAÇ 4740 (1972/74) >  1973 > Ronco balanta, a festa da circuncisão ('fanado') dos rapazes ('blufos')



Fotos (e legendas): © Luís Mourato Oliveira (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



1. Mais fotos do álbum do Luís Mourato Oliveira, nosso grã-tabanqueiro, que foi alf mil inf, de rendição individual, na açoriana CCAÇ 4740 (Cufar, 1.º semestre 1973) e, no resto da comissão, comandante do Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, 1973/74). (*)

Afinal, o Oliveira ainda esteve umas largas semanas em Cufar com o António Graça de Abreu, do CAOP1 (,  pelo menos desde junho até agosto de 1973), antes de ir, no 2º semestre, para o setor L1 (Bambadinca), comandar o Pel Caç Nat 52 e fechar a guerra...

Durante a sua comissão foi sempre uma apaixonado pela fotografia. A sequência que hoje publicamos, a preto e branco, é notável, retratando um acontecimento que poucos de nós puderam apanhar... Ele chamou-lhe simplesmente "ronco"... Mas trata-se (, e eu confirmei isso com ele ao telefone) da festa da circuncisão ('fanado') dos rapazes ('blufos'), que se passava em três ou quatro momentos e espaços: tabanca (preparativos, anúncio, batuque), bolanha, tabanca,  floresta (cerimónia da circuncisão p.d. e transmissão de saberes) e, mais tarde, o regresso de novo à  tabanca (**)... É pena não podermos legendar com detalhe cada uma das fotos... Este 'fanado' (masculino) era (e continua a ser) um aspeto central da cultura balanta. O médico que estava então em Cufar, um alferes miliciano (Faria, se não erro) tentou que a pequena ciriurgia (ablação dp prepúcio) se realizasse em condições de higiene, segurança e assepsia. Em vão...

2. Veja-se o que diz o dicionário sobre o vocábulo "blufo":

blufo | s. m.
blu·fo
(balanta blufo)
substantivo masculino

1. [Guiné-Bissau] Rapaz não circuncidado.

2. [Guiné-Bissau] Jovem inexperiente.

3. [Guiné-Bissau] Indivíduo considerado estúpido.

4. [Guiné-Bissau] Dança executada na cerimónia de circuncisão.

"blufo", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/dlpo/blufo [consultado em 14-01-2018].
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Notas do editor:


(...) Em 1951, James Pinto Bull, nascido em 1913 em Bolama, funcionário colonial, ao tempo administrador de circunscrição, e com carreira de deputado pela frente, três vezes eleito pelo círculo da Guiné para a Assembleia Nacional, escreve no Boletim Cultural da Guiné um artigo intitulado “Subsídios para o estudo da circuncisão entre os Balantas”.

É uma escrita direta, de pendor marcadamente divulgativo, chama à atenção para o “fanado” e para o modo como os Balantas encaram esta cerimónia religiosa, começando logo por referir que os “grandes” das tabancas apresentam-se com o tradicional “lopé” e trazendo enrolado pelo corpo pedaços de corda, vão à autoridade local pedir autorização para “deitar o fanado”.

Segue-se uma descrição vivacíssima:

“Dada a autorização, rompe imediatamente o tamborilar de um pequeno tambor para levar a nova aos indígenas reunidos nas moranças e com danças alusivas à cerimónia que se vai iniciar, os velhos regressam à tabanca. Toda a noite se ouve o barulho do “ẽbõbor” (tambor grande, anunciando às tabancas distantes a realização do fanado, convidando os jovens a virem alegrar com a sua presença a grande festa. 

"Rompe a aurora e principia a concentração da turba nas proximidades da tabanca onde se realiza o fanado. A falange engrossa rapidamente e os assistentes vão-se aquecendo, não só pela ação do calor que sufoca, mas também pela do álcool. O mestre-cerimónia dá o sinal para se fazer a concentração geral. Começa a marcha e centenas de indígenas lançam-se em correria desenfreada, parecendo à primeira vista que se trata de um ataque guerreiro, pois quase todos os do sexo masculino ostentam espadas e cacetes. 

"O grupo dos futuros circuncisos esforça-se por abrir caminho a fim de se dirigir para o porto ou bolanha mais próximos, onde besuntam o corpo com lama. Em correria louca e entoando cânticos variados, os blufos regressam à tabanca, formando grupos separados, para que cada um possa mostrar o seu valor. Continua nos arredores da tabanca o barulho ensurdecedor dos tambores, misturado com milhares de vozes e com a gritaria infernal dos mais alcoolizados. 

"O sol vai declinando e, enquanto os futuros circuncisos se reúnem na tabanca para tomarem a última refeição ainda como blufos e receberem as mezinhas para os proteger contra os feiticeiros durante a permanência na barraca, a multidão alegra-se cada vez mais, chegando a tomar o aspeto de verdadeira orgia. Todos estão em maior ou menor grau sobre a ação etilisante do álcool”.

(...) “As mulheres e as bajudas estão completamente excitadas sobre a dupla ação do álcool e algumas delas não resistem à tentação de se deixar agarrar pelo blufos que sabem tirar partido destas oportunidades. É que nesse dia tudo é permitido, desde o adultério, que para certos maridos até constitui honra, por verem que as suas mulheres foram muito apreciadas, até a própria violação das bajudas, facto que alguns pais perdoam, não exigindo a costumada reparação material”.

É então que o mestre-cerimónia, velhos e rapazes já circuncidados seguem para a bolanha para que se cumpra a operação. A festa acabou. Os futuros circuncisos já chegaram à bolanha e estão atolados pelo menos até aos joelhos. Vamos regressar ao relato:

“Começa então a operação feita pelo parente mais próximo, a qual consiste no corte do prepúcio, por um ou mais golpes ao contrário do que se sucede nas outras tribos em que o corte tem que ser rápido e com um único golpe. Acaba a operação, os pacientes recolhem-se a um local antecipadamente escolhido, em princípio numa mata próxima da tabanca, e onde é feita previamente uma clareira protegida por uma paliçada. 

"A permanência varia de um a três meses, e enquanto os circuncidados ali permanecerem, as famílias são obrigadas a preparar-lhes as melhores comidas e a confecionar os tradicionais e caprichosos panos de fanado. 

"Terminado o tempo julgado necessário, os circuncisos descem às povoações, formando um único grupo, envolto nos panos do fanado. Cumpridas estas regras, o irresponsável blufo que até vivia em comum com os seus camaradas, adquire todos os direitos e deveres de homem, podendo construir a sua palhota e arranjar mulher para constituir família”.

(...) Uma última nota, James Pinto Bull irá falecer num acidente de helicóptero, em Julho de 1970, faleceram entre outros, José Pedro Pinto Leite, considerado como uma das grandes promessas da Ala Liberal. (...)

Guiné 61/74 - P18212: Convívios (837): 66º encontro da Tabanca do Centro, em Monte Real, 31 de janeiro, 4ª feira: comemoração do 8º aniversário, inscrições até 26, lotação máxima: 90 pessoas (Miguel Pessoa)





Página de rosto da revista 'on line',  mensal,  "Karas de Monte Real", editado pelo nosso camarada e amigo Miguel Pessoa. Edição de dezembro de 2017. 



Excerto do poste de 12 de janeiro de 2018 > P987: vem aí o nosso aniversário...

 Para saber mais ver aqui o blogue da Tabanca do Centro, que é editado pelo nosso camarada e amigo Miguel Pessoa. Régulo da Tabanca: Joaquim Mexia Alves. Email: tabanca.centro@gmail.com.

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Nota do editor:

Último poste da série >  13 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18208: Convívios (836): Já são 62 os ' magníficos' inscritos para o 35º almoço-convívio da Tabanca da Linha, 5ª feira, dia 18, em Algés, no restaurante "Caravela de Ouro". Cinco vêm do Porto, cinco gloriosos "bandalhos"!... O prazo de inscrição termina 2ª feira, 13 (Manuel Resende)

Guiné 61/74 - P18211: Blogpoesia (548): "Rastejante e subtil", "Subindo a montanha", e "Sinfonia dos pardais", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Rastejante e subtil

Como a água,
Rastejante e subtil,
Tudo inunda,
Como o sol.
Ora perto ora distante.
Se impregna.
Corpo e alma.
Bem distintos.
Semi-partes.
Dois destinos.
Dum o chão, a terra e húmus.
Doutro o céu. O além para sempre.
É vida. Energia ardente.
Sarça breve.
Arde e cinza.
Verde, alegre.
Assim desponta.
Flor silvestre.
Fonte pura.
Cardo e espinhos.
Sabor a mel.
Clara e escura.
Alada e presa.
Rainha e escrava.
Comboio e barca.
A viagem, mesma.
Partiu e marcha.
Sentido, de ida apenas.
Destino igual.
A todos leva.
Eternidade.

Ouvindo Vespers de Rachmaninov
Berlim, 7 de Janeiro de 2018
8h51m
Jlmg

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Subindo a montanha

Escalada dorida da vida.
Montanha elevada,
Encostas agrestes.
Por vezes suaves.
Desafio constante.
Seguir adiante, sem olhar para trás.
Se alarga o horizonte,
Se torna mais leve,
À medida que sobe.
Umas vezes com ânimo.
Outras, apetecendo parar.
O caminho tem fontes e sombras.
As pedras são bancos.
Mata-se a sede.
O corpo descansa.
A força renasce.
Os cumes lá em cima,
Mais perto do céu,
São leves e longos.
Atraem e chamam.
Prometem esperança e sossego.
Dá para correr e sonhar.
Depois, quando a saudade apertar,
Por um lado ou pelo outro,
É sempre a descer…

Berlim, 8 de Janeiro de 2018
Dia de sol - está tudo gelado
Jlmg

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Sinfonia dos pardais

Poisam nos fios ao de leve.
Como as notas numa pauta.
Como enxames pelas ramagens,
Soltam brados e orações.
Cantam breves as suas preces.
Trinam cantos, entoam sons.
Parecem choro, parecem hinos.
Ora em coro, ora sózinhos.
Não têm escola.
É inata a sua arte.
Melodia universal.
Jorra pura e cristalina.
Brilha ao sol e silva ao vento.
A candura terna duma flauta.
Suave encanto dum violino.
São alegres, rapioqueiros.
Assustadiços como a aragem.
Interrompem a sua festa.
Desprendidos. Generosos.
Sabem que agradam a toda a gente.
Nunca esperam as nossas palmas.
Em todo o lado são felizes…

Ouvindo sinfonia nº 2 – Oceano de Rubinstein
Berlim, 11 de Janeiro de 2018
6h47m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18184: Blogpoesia (547): "O primeiro poema...", "Começou a viagem", e "Despedida do passado", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P18210: O nosso blogue em números (50): visualizações de página por navegador e por sistema operativo... 602 seguidores do blogue; 2630 amigos do Facebook... Comentário do nosso colaborador permanente Hélder Sousa






1. Mais alguns números que podem ter piada, para os nossos leitores e visitantes (*):

(i) Nas visualizações de página, "por navegador", ganham o Chrome e o Firefox, cada um com 32%. Segue-se, com alguma distância, a Internet (26%)... E, muito mais atrás, o Safari (4%) e outros (6%) (Opera, BingPreview, Mobile Safari, Mobile, GSA, Crhomeframe) (Gráfico 6);

(ii) Nas visualizações de página,  "por sistema operativo", o Windows aparece destacadíssimo (80%)... Abaixo de 10%, temos o Macintosh (6%), Linux (4%) e o Android (4%) (Gráfico 7).


Comparando com o ano de 2014, constatava-se que (**):

(iii) por navegador, o Internet Explorer ia à frente (38%), seguido do Chrome (28%) e do Firefox (22%); os restantes juntos somavam 12% do total dos visitantes;

(iv) por sistema operativo, o Windows  era então )como continua a ser) o rei e o senhor (82%), destacadíssimo da concorrência: McIntosh (6%), Linux (5%) e outros (7%).


2. Temos 602 seguidores do nosso blogue.  E o Facebook da Tabanca Grande Luís Graça atinge, neste momento, a cifra dos 2630 "amigos".

O nº de amigos "facebook...eiros" era de 1638, em finais de 2014 (, mais 300 do que em 2013).  Em três anos subiram para 2630.

Recorde-se que a nossa página no Facebook nasceu em janeiro de 2011. E uma página "aberta" a todos ou quase todos os que nos pedem "amizade".

Temos, contudo, dado preferência, em termos de resposta a esses pedidos, aos antigos combatentes da guerra colonial (Angola, Guiné, Moçambique...), mas nem todos os amigos do Facebook têm a ver com a guerra, longe disso, e muito menos com a Guiné.

É bom também lembrar que a nossa página do Facebook, gerida pelos editores Luís Graça e Carlos Vinhal, não se rege pelos mesmos princípios editoriais do blogue. Os amigos do Facebook não são automaticamente membros do blogue. Para esse feito, têm que seguir os mesmos procedimentos: (i) mandar 2 fotos, (ii) ter um email válido (ou disponível, através de um familiar ou amigo); e (iii) apresentar-se aos membros da nossa comunidade virtual a que chamamos Tabanca Grande, escrevendo meia dúzia de linhas, a dizer quem são, por onde andaram, a que unidade pertenceram, etc.

Como temos frisado noutros anos, temos de: 

(i) encontrar uma maneira de articular melhor o blogue e a página do Facebook; 

e (ii) prestar mais atenção às muitas páginas que, sob a forma de blogues, sítios e páginas do Facebook, se abriram nestes últimos anos, individuais ou de grupo, e que são um importantíssimo contributo para o esforço de preservação, proteção e divulgação das memórias dos antigos combatentes da guerra colonial.

3. Comentário do nosso colaborador permanente Hélder Sousa, com data de ontem:

Sem dúvida que isto é notável.

Estes anos todos, com situações que levaram ao 'cansaço' de alguns (lembrei-me de uma parte de um poema que dizia "ouvimos dizer que estás cansado"), com a forte concorrência do Facebook  que convida ao imediatismo e à preguiça mental, com o surgimento de mais locais relacionados com o 'fundo' do nosso Blogue, com muitas mais coisas que 'convidam' à dispersão, a realidade que está por detrás destes números é realmente um caso incontornável.

Devemos fazer do Encontro/Convívio deste ano, em Maio, uma "prova de força e de vontade".
Apelo para que possamos:

(i) comparecer em massa;

(ii) aprofundar a nossa amizade e fraternidade;

(iii) resolver (pelo menos, tentar) algumas "diferenças";

(iv) se possível, dar algum impulso à iniciativa da petição do nosso camarada [Inácio Silva];

(v) enfim, aproveitar a ocasião para entendermos melhor o tempo e a época que vivemos.

sábado, 13 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18209: Fotos à procura de... uma legenda (98): Adivinhem quem vem almoçar à Tabanca da Linha, 5ª feira, dia 18?... Será um grupo coral alentejano? Alguns "meninos da Linha" já se começaram a queixar, ao régulo e seu adjunto, que a Tabanca está-se a tornar numa grande "bandalheira"...


Foto sem legenda: Alguns virão ao 35.º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha (*), dizem-nos... Mas a foto é intrigante e há várias hipóteses de resposta:

a) um grupo coral alentejano junto à Casa do Cante;
b) um grupo excursionista e jantarista da raia espanhola;
c) uma turma da universidade sénior de Freixo Espada à Cinta;
d) um bando de turistas nórdicos fotografados junto ao Padrão dos Descobrimentos, em Belém;
e) fãs do escritor Zé Ferreira de Catió;
f)  os últimos sobreviventes portugueses da batalha de La Lys
g) representantes sindicais dos lenhadores do pinhal de Leiria;
h) delegação dos que viviam "para lá do Marão" antes da abertura do túnel, e que vieram a Lisboa protestar porque "já não mandam os que lá estão";
i) foliões do Carnaval de Torres Vedras, candidatos ao Panteão Nacional;
j) grupo de ex-combatentes da guerra colonial na véspera de embarque para a Guiné, em viagem de turismo de saudade;
k) os mais jovens frequentadores do café mais velho da cidade;
l) simplesmente um bando de bandalhos... (des)alinhados.

Alguns "meninos da Linha" já se queixaram ao régulo (e seu adjunto) que a Tabanca se  está a tornar numa grande "bandalheira" (**)... A resposta do Jorge Rosales, coadjuvado pelo Manuel Resende, só podia ter sido  a mais politicamente correta possível: "Meninos da Linha, não sejam sulistas e elitistas. A Tabanca quando nasceu, foi para todos!"...

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Guiné 61/74 - P18208: Convívios (836): Já são 62 os ' magníficos' inscritos para o 35º almoço-convívio da Tabanca da Linha, 5ª feira, dia 18, em Algés, no restaurante "Caravela de Ouro". Cinco vêm do Porto, cinco gloriosos "bandalhos"!... O prazo de inscrição termina 2ª feira, 13 (Manuel Resende)


Magnífica Tabanca da Linha > Foto de grupo do 30º  almoço-convívio em 

35.º almoço-convívio > Algés, 5ª feira, dia 18/1/2018 > Lista provisória dos inscritos


Destaque para os cinco "bandalhos", do glorioso Bando do Café Progresso, Porto (régulo: Jorge Teixeira)
1. Mensagem de ontem ao fim da tarde, do nosso régulo Manuel Resende, publicada na página do Facebook da Magnífica Tabanca da Linha (que tem 88 membros registados):

Amigos Magníficos, depois de publicar o convite para o 35.º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha, publico a seguir a lista dos já inscritos até este momento. 

Já somos 62. Esperamos chegar a 70. Veremos, pois ainda faltam muitos que não costumam falhar. Qualquer alteração, digam.

Manuel Resende


2. Informações:

Preço por boca - 20 "morteiradas"  (crianças dos 5 aos 10 anos pagam metade)
Restaurante "Caravela de Ouro"

Localização:
Alameda Hermano Patrone, 1495 Algés (Jardim de Algés, junto à marginal)

Inscrições até às 24 horas do dia 15, 2ª feira,  para os régulos:

Jorge Rosales 914 421 882 - jorge.v.rosales@gmail.com

Manuel Resende 919 458 210 - manuel.resende8@gmail.com

ou dizendo "vou" ao convite do Facebook no nosso grupo.
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Nota do editor:

Último poste da série >  > 9 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18194: Convívios (835): Vai realizar-se no próximo dia 18 de Janeiro mais um convívio da Magnífica Tabanca da Linha, no Restaurante "Caravela de Ouro", em Algés (Manuel Resende)