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segunda-feira, 15 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19982: Jorge Araújo: Ensaio sobre as mortes por afogamento no CTIG: atualização: o caso do 1º cabo Henrique Manuel da Conceição Joaquim, do BENG 447, afogado em 31 de julho de 1974, na ilha da Caravela e cujo corpo não foi recuperado


Foto do 1.º Cabo Henrique Manuel da Conceição Joaquim
In: "Os eternos esquecidos". Almada, Trafaria, Junta da Freguesia da Trafariam, 2009. p.127


Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494 (Xime-Mansambo, 1972/1974); 
coeditor do blogue desde março de 2018



ENSAIO SOBRE AS MORTES POR AFOGAMENTO DE MILITARES DO EXÉRCITO DURANTE A GUERRA NO CTIG (1963-1974) - ACTUALIZAÇÃO
O CASO DO 1.º CABO HENRIQUE MANUEL DA CONCEIÇÃO JOAQUIM, DO BENG 447, AFOGADO EM 31JUL1974 NA ILHA DA CARAVELA
(CORPO NÃO RECUPERADO) 



Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > 1969 > Militares da CCS do BCAÇ 2856, atravessando um afluente do Rio Geba, durante uma operação de reconhecimento. In: Lugar do Real , com a devida vénia.


1. INTRODUÇÃO

No âmbito do projecto de investigação titulado de "ensaio" sobre o número de militares do Exército que morreram afogados nos diferentes planos de água existentes na Guiné, durante o conflito armado (1963-1974) (*), deixei expresso no primeiro fragmento – P11979 – que os resultados entretanto apurados, através da consulta a fontes oficiais, poderiam vir a ser alterados em função de outros casos particulares, "estranhos" ou "não considerados" no domínio institucional.

Cabe neste cenário a situação do 1.º Cabo Henrique Manuel da Conceição Joaquim, militar pertencente ao Batalhão de Engenharia [447], sedeado em Bissau, com a especialidade de Pedreiro, que viria a morrer afogado em 31 de Julho de 1974, 4.ª feira, na Ilha da Caravela, Arquipélago dos Bijagós, cujo corpo não foi recuperado. 

Como este episódio ocorreu no CTIG, ainda que depois do "25Abr74", no período de retracção das nossas Unidades no terreno, porque não consta a morte (por afogamento) do camarada Henrique Manuel Joaquim no número de baixas oficiais do Exército?
O que terá acontecido?
Entretanto, a informação que abaixo de reproduz, e que serviu para estruturar a presente narrativa, faz parte do livro editado, em Setembro de 2009, pela Junta de Freguesia da Trafaria, pertencente ao Município de Almada, no qual constam pequenas biografias de militares, nascidos ou residentes naquela Freguesia, que estiveram nos diferentes "Teatros de Operações", como é o exemplo do camarada Henrique Manuel Joaquim.


Esta colectânea nasceu, como sucedeu noutros contextos, da conversa informal entre camaradas, ex-combatentes, onde vieram à "baila" histórias vividas por cada um, nas ex-Províncias Ultramarinas onde efectuaram o respectivo serviço militar.

No caso em análise, foi eleita uma Comissão, constituída por: Alfredo Pisco (CCaç 2321; Moçambique); António Oliveira Bentes (1946-2007 - CCav (?); Guiné): Euclides Soares (BA 12; Guiné); Ezequiel Pais (CArt 2521; Guiné); Ilídio Pinheiro (CArt 698; Angola - pesquisa e análise); João Freitas (BCP 31; Moçambique - coordenação gráfica); José Manuel Martins (AgEng; Moçambique) e Manuel Fernandes (PInt 2161; Angola).

Dessa conversa inicial e informal "começou a nascer a ideia, ainda que sem consistência, de fazer algo para homenagear todos esses bravos militares, apenas lembrados por familiares e amigos, (e eternamente esquecidos por todos os governantes) alguns dos quais, infelizmente, desaparecidos nessas terras longínquas.  Ao fim de muito trabalho e muitas pesquisas, foi-nos possível reunir todos os dados para começarmos a pensar na possibilidade de compor um livro". 

Este livro, publicado em Setembro de 2009 [, imagem da capa a seguir], "é uma homenagem a todos os militares falecidos em combate, e os que felizmente ainda vivem, nascidos ou a habitar na Trafaria há mais de dez anos" [na data em que a ideia foi aprovada].
Quem tiver conhecimento deste triste episódio, faça o favor de comunicar. Obrigado!


Capa do livro, editado em  Setembro de 2009, pela Junta de Freguesia da Trafaria, pertencente ao Município de Almada. Referência bibliográfica na PorBase: Os eternos esquecidos / comis. Alfredo Pisco... [et al.] ; colab. Câmara Municipal de Almada... [et al.]. - [Trafaria : s.n.], 2009 ([Charneca da Caparica] : Jorge Fernandes). - 173, [3] p. : il. ; 30 cm


Imagem de satélite do Arquipélago dos Bijagós, com a situação geográfica da Ilha da Caravela e Bissau, e da sua relação entre si.


2. OS DADOS DO "ENSAIO" ACTUALIZADOS (*)

- QUADROS ESTATÍSTICOS

Em função da alteração dos resultados anteriormente divulgados, organizados em quadros de distribuição de frequências, simples e acumuladas, tomei a iniciativa de os corrigir, apresentando, de imediato, a respectiva actualização [gráficos e quadros], levando em consideração os objectivos que cada contexto encerra.



Quadro 1 e Gráfico 1 – Da análise supra, verifica-se que o número total de militares do Exército que morreram por afogamento no CTIG (1963-1974), e que constituíram a população deste estudo, é de 145. Verifica-se, ainda, que desse total, 113 (77.9%) eram soldados; 23 (15.9%) 1.ºs cabos; 7 (4.8%) furriéis; 1 (0.7%) 2.º sargento e 1 (0.7%) major. 




Quadro 2 e Gráfico 2 – Da análise supra, verifica-se que o número total de militares do Exército que morreram por afogamento no CTIG (1963-1974) cujos corpos não foram recuperados é de 64 (44.1%). Verifica-se, também, que desse total, 48 (75.0%) eram soldados; 11 (17.2%) 1.ºs cabos; 4 (6.2%) furriéis e 1 (1.6%) 2.º sargento. 




Quadro 3 e Gráfico 3 – Da análise supra, verifica-se que o número total de militares do Exército que morreram por afogamento no CTIG (1963-1974) cujos corpos não foram recuperados é de 64 (44.1% do total). Quanto aos corpos não recuperados, verifica-se que a CCaç 1790, com 26 (40.6%) casos, e a CCaç 2405, com 19 (29.7%) casos, foram as Unidades Militares que contabilizaram maior número, sendo estes consequência do acidente da «Jangada de Ché-Che» em que elementos das duas Companhias de Caçadores estiveram envolvidos. Segue-se o Pel Mort 980, com 3 corpos não recuperados, no Rio Cacheu, na «Operação Panóplia", e a CArt 3494, com dois, no Rio Geba (Xime), durante uma missão, não cumprida, a Mato Cão, situado na margem direita desse rio. Das 17 Unidades Militares que não conseguiram recuperar os corpos dos seus naufragados, 12 (18.8%) tiveram apenas um caso.



Quadro 4 e Gráfico 4 – Distribuição de frequências segundo a relação entre as variáveis "ano das mortes por afogamento", "corpos não recuperados" e "corpos recuperados". O estudo mostra que durante o período em análise (1963-1974) em todos os anos ocorreram mortes por afogamento. No final foram contabilizados cento e quarenta e cinco náufragos. Durante os doze anos em que decorreu o conflito, por quatro vezes (1/3) o número de mortes ultrapassou a dezena de casos, com destaque para o ano de 1969, onde os números ultrapassaram a meia centena, em consequência do «desastre da Jangada do Ché-Ché». Para esses valores globais muito contribuíram os "acidentes" nos rios da Guiné - Cacheu, Corubal e Geba.

Nota:

Para efeitos de comparação estatística devem ser consultados os P19679; P19710; P19788 e P19822 (*).

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.
05Jul2019.
___________

Nota do editor:

Vd. postes anteriores:

15 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19788: Jorge Araújo: Ensaio sobre as mortes por afogamento no CTIG: Os três acidentes na hidrografia guineense (Parte III)

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Guiné 61//74 - P17879: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (3): Os meus passeios: ilha de de Caió e ilha de Caravela


Foto nº 6


Foto nº 7


Foto nº 8


Foto nº 9


Foto nº 10

Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Ilha de Caó > Julho de 2017 >

Fotos (e legenda): © Patrício Ribeiro (2017) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

(Continuação) (*)
Patrício Ribeiro, o patrão...
Ilha de Orango, 2009


1. Patrício Ribeiro, um antigo "filho da Escola" [leia-se: fuzileiro da Marinha Portuguesa], radicado na Guiné-Bissau há 4 décadas, fundador e diretor da empresa Impar Lda, mandou.nos recentemente mais umas fotos das suas andanças, em trabalho, relativas ao passado mês de julho, entre a ilha de Caravela, nos Bijagós, e o ilhéu de Caió, a sudoeste na ilha de Jeta:


Legendas:

Foto nº 6 - Viagem entre a Ilha Caravela, nos Bijagós, e Ilhéu de Caio, a sudoeste da ilha de Jeta, já na região de Cacheu;  7 horas, muito agradável (não é só nas Caraíbas)…

Foto nº 7 - Ilhéu de Caió: entrada das instalações dos Pilotos da Barra. Que de lá, continuam a controlar quem lá vem ao longe, ou vão até lá cumprimentá-los… A varanda é muito fresca, o mar,  ao bater-lhe,  faz muito barulho para se dormir, o chão é rijo por causa do cimento antigo, para quem lá dormiu 4 noites … (**)

Foto nº 8 - Dos” filhos da escola”, que lá dormiram anteriormente.[
[ Antigas instalações da Marinha > Inscrições na pedra com nomes de marinheiros fuzileiros [MAR FZ] e grumetes fuzileiros [ GRT FZ], que terão estado aqui entre 1972 e 1974 > (?) CAIO (?) 25-4-74 > 72 | GRÁFICO DA CIA 2 |.74 > 1º SARG LUÍS ...]

Foto nº 9 - Farol antigo, novo edifício para o radar, torre para antenas, etc., enfim, “as nossas férias” [do pessoal do Impar Lda] (**):

Foto nº 10 - Regresso do Ilhéu de Caió para a ilha Caravela até Betelhe, mais 5 horas, depois de esperar no mar, algumas horas que a “coisa” acalmasse.

Abraço
Patrício Ribeiro

www.imparbissau.com
impar_bissau@hotmail.com
____________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 17 de outubro de  2017 > Guiné 61//74 - P17873: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (2): Os meus passeios pelos Bijagós: ilha de Caravela

Vd. também  poste de 9  de dezembro de 2016 >

Guiné 63/74 - P16818: Memória dos lugares (352): Ilhéu de Caió, a sudoeste da Ilha de Jeta, região do Cacheu: um local muito bonito onde, para o ano, quero vir passar umas férias (Patrício Ribeiro, Bissau)

(**)  Vd. poste de 9 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16818: Memória dos lugares (352): Ilhéu de Caió, a sudoeste da Ilha de Jeta, região do Cacheu: um local muito bonito onde, para o ano, quero vir passar umas férias (Patrício Ribeiro, Bissau)

(...) Aqui, na ponta de Caió, terá funcionado uma "estação de pilotos" [EP]... Os pilotos, primeiro brancos e depois guineenses, levavam os navios até ao porto de Bissau  (...)

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Guiné 61//74 - P17873: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (2): Os meus passeios pelos Bijagós: ilha de Caravela


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4



Foto nº 5

Fotos (e legenda): © Patrício Ribeiro (2017) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso querido amigo e camarada Patrício Ribeiro, o "pai dos tugas" (como é conhecido na Guiné-Bissau):



Data - 14/10/2017

Assunto - Os meus passeios  - Parte

Luís:

Os meus passeios nos Bijagós… que agora estão na moda…

Como dizia no anterior post P16818 (*),  por lá ando a passar férias, para festejar os 70 anos. Sou de 1947. Grandes e bons passeios de 7h para cada lado, com muito conforto… como podem ver nas 9 fotos e no filme, tiradas no final de julho deste ano. Aqui vão as cinco primeiras fotos, as restantes seguem nputro mail.


Patrício Ribeiro, Orango, 2008
[O Patrício Ribeiro  nasceu em Águeda, em 1947; viveu desde tenra idade em Nova Lisboa / Huambo, Angola, vivido, onde casou e fez o serviço militar, como fuzileiro naval;: retornou ao "Puto" depois da descolonização, fixando-se entretanto na Guiné-Bissau, há 3 décadas, país onde fundou a empresa Impar Lda, líder na área das energias alternativas; trabalha com o filho,; passa agora mais algum tempo em Portugal, na época do verão]

Legendas (das cinco primeiras imagens):

Foto nº  1- Viagem de Bissau, para a Ilha da Caravela, na canoa de carreira semanal, 7 horas;

Foto nº 2- Nossos trabalhos; radar, rádios e energia solar, na ilha da Caravela em Betelhe, junto ao antigo aeroporto;

Foto nº 3- Porto de Betelhe, na Caravela, a preparar a saída para o Ilhéu de Caió [, a sudoeste da Ilha de Jeta, região de Cacheu];

Fotos nºs 4,5 - Viagem entre a Caravela e Ilhéu de Caió, 7 horas, muito agradável (não é só nas Caraíbas)-

[...] Para quem gosta de passar férias nos Bijagós, é ótimo em outras épocas do ano…

Aqui perto existe um pequeno hotel no ilhéu de Queré, que recomendo. É muito agradável e com muito qualidade, é gerido pela Sónia, uma Portuguesa, agora quase Bijagó. Podem ver a página na Net , Keré - 00245 966943547-  

Vd. aqui o sitío Keré, Bijagós.

Abraço
Patrício Ribeiro (**)

www.imparbissau.com
impar_bissau@hotmail.com



Mapa da região de Bolama / Bijagós. Cortesia da Wikipédia. Orango é a mais distante das ilhas, a 100 km de Bissau, 7 h de viagem.  A ilha Caravela, por sua vez, fica a 37 km da costa continental e  tem 128 km². É a a ilha mais a norte do  arquipélago: tem densas florestas, vastos mangais e praias de areia branca.
______________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 9 de dezembro de  2016 > Guiné 63/74 - P16818: Memória dos lugares (352): Ilhéu de Caió, a sudoeste da Ilha de Jeta, região do Cacheu: um local muito bonito onde, para o ano, quero vir passar umas férias (Patrício Ribeiro, Bissau)


terça-feira, 7 de abril de 2015

Guiné 63/74 - P14440: Memória dos lugares (288): Betelhe, Ilha Caravela, região Bolama-Bijagós (Patrício Ribeiro)



Guiné-Bissau > Arquipélago Bolama-Bijagós > Ilha Caravela > Betelhe > Fevereiro de 2015 > 
Bajuda


Guiné-Bissau > Arquipélago Bolama-Bijagós > Ilha Caravela > Betelhe > Fevereiro de 2015 > Tabanca


Guiné-Bissau > Arquipélago Bolama-Bijagós > Ilha Caravela > Betelhe> Fevereiro de 2015 > Celeiros



Guiné-Bissau > Arquipélago Bolama-Bijagós > Ilha Caravela > Betelhe > Fevereiro de 2015 > Bijagó, de pé


Guiné-Bissau > Arquipélago Bolama-Bijagós > Ilha Caravela > Betelhe > Fevereiro de 2015 > Mulher grande



Guiné-Bissau > Arquipélago Bolama-Bijagós > Ilha Caravela > Betelhe > Fevereiro de 2015 > Bijagó sentado


Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro (2015). Todos os direitos reservados.



Guiné-Bissau > Região Bolama - Bijagós > Cortesia de Wikipedia > "Caravela é uma ilha do arquipélago de Bijagós, constituindo um setor da região de Bolama, na Guiné-Bissau. Localizada a 37 km da costa continental, tem 128 km² e é a ilha mais a norte daquele arquipélago, caracterizando-se por densas florestas, vastos mangais e praias de areia branca" (...) Tinah cerca de 10500 habitantes em 2001.


1. Mensagem, com data de ontem, do nosso querido amigo (e camarada) Patrício Ribeiro, empresário na Guiné-Bissau:


Amigos,

Envio algumas das fotos que tirei em Fevereiro na Ilha da Caravela, na tabanca de Betelhe, durante os meus trabalhos.

Como poderão verificar, nada mudou, a cultura Bijagó mantém-se...

Façam os vossos comentários.

Abraço
Patricio Ribeiro

IMPAR Lda
Av. Domingos Ramos 43D - C.P. 489 - Bissau
Tel / Fax 00 245 3214385, 6623168, 7202645, Guiné Bissau
Tel / Fax 00 351 218966014, Lisboa 

[Foto à esquerda: Patrício Ribeiro, português, natural de Águeda,  criado e casado em Angola, com família no Huambo,  ex-fuzileiro em Angola durante a guerra colonial, 
a viver na Guiné-Bssau desde 1984, fundador, 
sócio-gerentee director técnico da firma 
Impar, Lda.]

__________________

Nota do editior:

Último poset da série > 26 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14409: Memória dos lugares (286): A entrega do Cumeré ao PAIGC

sábado, 10 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13122: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (17): No caos de Bissau, sou destacado, como médico, para uma missão nos Bijagós, Ilha Caravela: um aeródromo de recurso, para uma eventual evacuação de emergência das NT... (Rui Vieira Coelho, ex-alf mil med, 1972/74)


Guiné-Bissau > "Caravela é uma ilha do arquipélago de Bijagós, constituindo um setor da região de Bolama, na Guiné-Bissau. Localizada a 37 km da costa continental, tem 128 km² e é a ilha mais a norte daquele arquipélago, caracterizando-se por densas florestas, vastos mangais e praias de areia branca. O aeroporto tem o código ICAO GGCV." (Imagem e legenda: Wikipédia).



1. Mensagem, de 7 do corrente, enviada pelo nosso camarada, médico reformado, Rui Vieira Coelho:ex-Alf Mil Médico BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518 (Galomaro, 1973/74) [,foto atual, à direita];



Assunto: Aeródromo de recurso


Na parte final da minha comissão no CTIG (comando territorial independente da Guiné) e após a entrega do quartel de Galomaro,  a um bigrupo do PAIGC, e  que era a sede do meu último Batalhão, o BCAÇ  4518, e após uma curta estadia em Bafatá.  lá segui com ordem de marcha para Bissau para me apresentar no Hospital Militar.

Como não quis ficar aquartelado nas instalações hospitalares,  aluguei um apartamento na baixa da cidade,  perto do Quartel da Amura, por um preço irrisório, pertencente à Casa Gouveia (CUF), para ter mais liberdade de movimentos e não ter que aturar a confusão instalada na cadeia de comando, com gente bastante impreparada e a gerarem um caos e uma anarquia que nos poderiam ter saído bastante caros.

Assim, todos os dias vinham buscar-me por volta das 7 horas da manhã,  levavam-me para o hospital onde fazia consulta ou dava apoio cirúrgico à Urgência, almoçava por lá e após giboiar um pouco, regressava a casa, sem antes passar pelo QG .(quartel general), para me inteirar da minha situação e receber ordens para o dia seguinte.

O clima na cidade de Bissau ia-se deteriorando, o trânsito era caótico, com numerosas viaturas militares carregadas de camaradas que regressavam do Mato, de Batalhões e Companhias aí estacionados,l  e que se amontoavam nos edifícios militares da capital, aguardando um embarque para a Metrópole.

No Caís do Pidjiguiti o movimento de mercadorias, viaturas militares, armas pesadas e homens era brutal .As LDG e LDM ajudavam no transporte de material bélico para cargueiros que demandavam o Porto de Bissau e que se encontravam fundeados ao largo.

O mesmo se passava também em Bissalanca, onde se constava que iria ser organizada uma ponte aérea para transporte rápido de dezenas de milhares de militares, e onde se amontoavam paletes de mercadorias,  malas e outros haveres. O Quartel de Adidos estava superlotado. O Quartel do Cumeré também estava a romper pelas costuras.

A desordem na cidade era grande, ninguém respeitava ninguém, havia uma grande quebra na hierarquia, com insultos à mistura aos superiores, pilhagens de tudo o que pudesse ser transportado, irritabilidade á flor da pele, escaramuças e cenas de pugilato tornavam a vivência e o clima de relação humana cada vez mais difíceis.

Os boatos e as mentiras eram demais e a tensão psicológica criada originava desacatos entre os a favor do movimento e os contrários, mas todos com um objectivo comum,  partirem o mais depressa possível daquele Inferno.

Começava a constar cada vez com mais força, à  medida que os dias iam passando, que estaria eminente um assalto final á capital. Vai daí os "inteligentes da altura", ligados ao movimento dos capitães, retomaram um projecto anteriormente delineado de que para uma evacuação rápida necessitariam de um Aeródromo de Recurso no Arquipélago dos Bijagós, mais propriamente na Ilha Caravela,  para onde seriam encaminhados todos os militares em LDG, LDM e outros vasos de guerra navais onde estariam incluídos todos os Patrulhas a operar na Guiné além de outro tipo de embarcações.

E assim sobrou para mim! Fui convocado a comparecer no QG onde me foi dada ordem para seguir em viatura militar para a Base Aérea em Bissalanca a fim de enquadrar como mêdico uma Missão de carácter confidencial.

Chegado à Base aérea foram-me reveladas mais informações da Missão e que está seria para a Ilha Caravela, para a qual já tinha partido no dia anterior uma Companhia de Engenharia.

Cerca de meia hora depois levantaram 6 helicópteros num dos quais eu segui. A viagem foi espectacular, com progressão a rasar o mar, com os 6 helis em formação agitando a água pela deslocação do ar. O barulho das turbinas e a velocidade imprimida tornaram toda esta acção digna de um filme, com banda sonora da Cavalgada das Valquireas de Wagner,  tudo em paralelismo com um Apocalipse Now. No meio daquele mar começa a vislumbrar-se a ilha verdejante no meio de um azul turquesa lambendo as areias das praias que a circundavam.

Como médico as ordens eram a de instalar uma Tenda de Apoio Mêdico, macas, suportes para soros, verificação de latrinas e fossas sépticas, iinstalação de cialiticas e geradores eléctricos, verificação do atrelado sanitãrio e farmacêutico, equipamentos cirúrgicos,

Ao meu lado instalavam-se tendas gigantes para alojar o pessoal no caso de evacuação . No terreno já se encontravam manobradores com máquinas de terraplanagem a nivelarem as terras revolvidas previamente da futura pista onde seguidamente entravam os cilindros para capacitação . Tudo trabalhava, minha gente.

A população da ilha olhava estupefacta para tudo isto. Com os seus saiotes de palha e seios á mostra as mulheres da terra com os filhos á ilharga. Os homens enquadravam-nas boquiabertos e desconfiados.

Ali fiquei de um dia para o outro conjuntamente com um furriel enfermeiro e mais dois cabos maqueiros da companhia de engenharia. Tudo foi devidamente controlado e elaborado um relatório, de prontidão e operacionalidade por parte da acção mêdica pedida.

No dia seguinte vieram -me buscar e,  chegado a Bissau, levaram-me ao [QG ?],  onde mais uma vez me pediram o máximo de confidencialidade.

Curiosamente já lá vão 40 anos e nunca mais ouvi falar em aeródromo de recurso na ilha Caravela, mas podem ter a certeza eu estive lá

Um alfabravo do Rui Vieira Coelho

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