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quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Guiné 61/74 - P23904: Documentos (41): "Diploma de Cobra", outorgado pelo cap inf Jorge Parracho, cmdt da CCAÇ 3325, "Cobras" (Guileje e Nhacra, 1971/72) ao seu amigo e camarada do tempo da Academia Militar, cap art Morais da Silva, cmdt da CCAÇ 2796, "Gaviões" (Gadamael e Nhacra, 1970/72)

 

Diploma de Cobra

Ao Capitão de Art António Carlos Morais 
da Silva como reconhecimento da CCAÇ 3325 pela
amizade e apoio incondicional que dispensou a esta 
unidade se outorga o grau de "Cobra" honorário.
E por ser verdade e como apreço da CCAÇ
3325,  lhe é passado o presente diploma que usurá
"in aeternum"

O Comandante
JSParracho
cap"

[ Cortesia do cor art ref Morais da Silva]




Foto nº 39



Foto nº 39A


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325, "Cobras de Guileje" (jan / dez 1971) > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho > Foto n.º 39, sem legenda > O cap Jorge Parracho (o segundo a contar da direita, na foto nº 39A) com a malta do 5º Pel Art que era comandado pelo alf mil art Cristiano Neves... Operavam três peças de 11,4 cm, apontadas para a fronteira.

O primeiro militar, na primeira fila, a contar da direita para a esquerda, na foto nº 38B, é o alf mil médico Mário Bravo, nosso grã-tabanqueiro. Também passou por Bedanda (CCAÇ 6) e depois pelo HM 241, em Bissau. Os "Cobras de Guileje" estavam longe de imaginar o que aconteceria àquele aquartelamento, um dos melhores da Guiné, dois anos depois... Foi aqui, em 18 de maio de 1973 que começou a Op Amílcar Cabral... (em que o PAIGC mobilizou t0dos os seus meios para "varrer do mapa" o quartel e a tabanca (fula) de Guileje...

As fotos de Jorge Parracho foram disponibilizadas à ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, com sede em Bissau, em 2007, no âmbito do projecto de criação do Núcleo Museológico Memória de Guiledje. Não traziam legendas, vinham apenas numeradas. Foram por sua vez partilhadas com o nosso blogue pelo nosso saudoso amigo Pepito, o engenheiro agrónomo Carlos Schwarz Silva  (Bissau, 1949-Lisboa. 2014), então diretor da ONG AD e principal promotor do projecto museológico de Guileje. A legendagem é da responsabilidade do editor L.G, que recorreu às informações já aqui publicadas pelo Orlando Silva sobre a CCAÇ 3325].

Foto: © Jorge Parracho / AD - Acção para o Desenvolvimento, Bissau (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]



1. "Diploma de Cobra" foi um singelo docmnento que me chegou às mãos,  enviado, oportunamente, em 4 de junho de 2022, pelo cor art ref Morais da Silva, na sequência de um mail quem entretanto,  enviara a um grupo de camaradas que tinham passado por Guileje, Gadamael e Bedanda. 

Tinha a intenção de o publicar como prova dos fortes laços de amizade e camaradagem que se criaram, na altura, entre as NT, no TO da Guiné, a par do sentido de humor de caserna que a guerra também cria e alimenta...

Publico, hoje, na série "Documentos" quando se volta a falar de Guileje, com a morte do cor art ref Coutinho e Lima (Viana do Castelo, 1935-Lisboa,2022). Acrescentava na altura o cor art ref Morais da Silva, à laia de legenda:

"A CCaç Ind 2796 (que comandei em Gadamael) e a CCaç 3325 (Jorge Parracho- Guilege) coabitaram a mesma zona durante 1 ano. O Jorge é do meu curso da AM (veterano) e somos amigos e companheiros de canseiras na Guiné. Dele recebi esta prova de estima e reconhecimento quando terminou a comissão."

Sei que o Jorge Parracho é natural de Mafra e o Morais da Silva é de Lamego. Aos dois deixo publicamente o meu agradecimento e os meus votos de Bom Natal e Melhor Ano Novo de 2023.
___________


(**) Último poste da série > 24 de maio de 2022 > Guiné 61/74- P23287: Documentos (40): A conferência do cor inf Hélio Felgas, proferida na Academia Militar, sem papas na língua, em 10/4/1970 (e depois publicada como artigo na Revista Militar, nº 4, abril de 1970, pp. 219-236), que o Amílcar Cabral leu e achou lisonjeiro para si e o seu Partido, citando-o no Conselho de Guerra de 11/5/1970

sábado, 4 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23323: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (2): um "annus horribilis" para ambos os contendores: O resumo da CECA - Parte I: Inimigo, atividade política


Foto nº 39


Foto nº 39A


Foto nº 39B

Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325, "Cobras de Guileje" (jan / dez 1971)  > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho > Foto n.º 39, sem legenda > O cap Jorge  Parracho (o segundo a contar da direita, na foto nº 39A) com a malta do 5º Pel Art que era comandado pelo alf mil art Cristiano Neves... Operavam três peças de 11,4 cm, apontadas para a fronteira. 

O primeiro militar, na primeira fila, a contar da direita para a esquerda, na foto nº 39B, é o alf mil médico Mário Bravo, nosso grã-tabanqueiro. Também pssou por Bedanda (CCAÇ 6) e depois pelo HM 241, em Bissau. 

Os "cobras de Guileje" estavam longe de imaginar o que aconteceria àquele aquartelamento, um dos melhores da Guiné, dois anos depois... Foi aqui, em 18 de maio de 1973 que começou a Op Amílcar Cabral... (em que o PAIGC mobilizou t0dos os seus meios para "varrer do mapa" o quartel e a tabanca (fula) de Guileje...

[As fotos de Jorge Parracho foram disponibilizadas à ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, com sede em Bissau, em 2007, no âmbito do projecto de criação do Núcleo Museológico Memória de Guiledje. Não traziam legendas, vinham apenas numeradas. Foram por sua vez partilhadas com o nosso blogue pelo nosso saudoso amigo Pepito (1949-2014), então diretor da ONG AD e principal promotor do projecto museológico de Guileje. A legendagem é da responsabilidade do editor L.G, que recorreu às informações já aqui publicadas pelo Orlando Silva sobre a CCAÇ 3325].

Foto: © Jorge Parracho / AD - Acção para o Desenvolvimento, Bissau (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]  


1. A Comissão para o Estudo das Campanhas  de África (1961-1974), mais conhecida pelo acrónimo CECA, fez um trabalho notável de recolha, análise e sistematização da informação sobre o  dispositivo e a actividade operacional no TO da Guiné,  por anos e por contendores (NT e PAIGC). O  título genérico é Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (e abrange os diversos teatros de operações, Angola, Guiné e Moçambique).

Referimo-nos, em particular,  ao 6.º Volume (Aspectos da Actividade Operacional), Tomo II (Guiné), e aos  seus três livros. Este trabalho, relevante para a historiografia militar,  merece ser conhecido (ou melhor conhecido) dos nossos leitores, para mais tendo em conta que estamos já recordar uma importante efeméride (que vai ocorrer daqui a um ano):  trata-se dos acontecimentos político-militares de 1973, e em particular de maio/junho de 1973, à volta de 3 aquartelamentos fronteiriços emblemáticos (Guidaje, Guileje e Gadamael), mas também antes e depois daqueles dois meses de brasa (assassinato de Amílcar Cabral, em 20/1/1973, a utilização do míssil terra-ar Strela contra a nossa aviação, pela primeira vez, em 25/3/1973,  o fim do mandato Spínola como com-chefe e governador geral em 6/8/1973, a proclamação unilateral da independência da Guiné-Bissau em 24/9/1973, etc.).(*)

O ano de 1973 foi um "annus horribilis" para os dois beligerantes... que sabiam que nunca poderiam ganhar a guerra pela simples força das armas.  O PAIGC perde o seu histórico e carismático líder, Amílcar Cabral, assassinado fria e cobardemente por um dos seus homens, 

Por seu turno, Spínola regressa a casa, cabisbaixo, sem poder ver concretizada uma solução negociada do conflito, que seria sempre uma solução mais política do que militar. Na metrópole, os "ultras" do regime não lhe perdoam as suas veleidades "federalistas" e a tentativa (gorada) de "negociar" com os "inimigos da Pátria" a secular soberania portuguesa sobre os seus territósrios ultramarinos. 

Aqui vão, para os nossos leitores mais interessados na visão integrada dos acontecimentos, um excerto do referido trabalho da CECA. É também uma ocasião para lembrar os bravos que passaram por Guidale, Guileje e Gadamael, entre outros aquartelamentos que se destacaram nesta guerra.

É bom lembrar que,  "do outro lado", resta pouca informação documental... "O arquivo do PAIGC existente em Bissau, justamente referente aos aspectos operacionais desapareceu quase completamente, destruído em grande parte pelas tropas senegalesas aquando da guerra civil de 1998, bem como a maioria dos documentos do INEP (72,3 % dos arquivos históricos destruídos!)".

Além disso, "os poucos documentos sobreviventes, do espólio de Amílcar Cabral, foram entregues pela sua viúva aos arquivos da República de Cabo Verde e à Fundação Mário Soares, onde estão a ser objecto de digitalização integrados no Arquivo Amílcar Cabral, uma iniciativa de grande mérito", como escreveu aqui há muito o nosso amigo e camarada Nuno Rubim, em poste de 9 de maio de 2010 (**)

Os jovens guineenses, nascidos já depois da independência, se quiserem conhecer a história recente do seu país, vão ter que recorrer também a fontes portuguesas como estas, que resultaram do gigantesco trabalho da CECA.



CAPÍTULO III > ANO DE 1973 > 1. INIMIGO

1.1. Actividade política


Num dos primeiros dias do ano, Amílcar Cabral proferiu um importante discurso em Conacri, no qual esboçou a sua previsão para a evolução da situação e definiu alguns dos objectivos estratégicos para o ano vindouro.

Assim, referiu que a situação na Guiné iria evoluir de "uma Colónia que dispõe de um movimento de libertação para um País que dispõe de um Estado que tem parte do seu território ocupado por forças armadas estrangeiras", marcando, como sucessivos estádios dessa evolução, a entrada em funcionamento de um órgão supremo de soberania, a proclamação de um estado, a criação de um poder executivo, seguindo-se a proclamação de uma constituição.

Nessa perspectiva, salientou a criação da Assembleia Nacional Popular em 1972, constituída por 120 membros, entre os quais 80 pertencentes às "regiões libertadas", pretendendo dar a ideia de que a Guiné reunia já as condições para ser um estado democrático, independente, com órgãos próprios eleitos pelo seu povo, a que faltava apenas expulsar alguns redutos de forças invasoras vindas de um país estranho.

Amílcar Cabral referiu também a necessidade de intensificar a guerrilha em todas as frentes e nos centros urbanos, com base numa organização clandestina, sabotando meios, destruindo instalações e causando o maior número de baixas na retaguarda, e que, no novo ano, seriam utilizados novas armas e meios mais poderosos.

Os acontecimentos subsequentes, embora ensombrados de início pelo assassinato de Amílcar Cabral, vieram trazer substancial confirmação às expectativas criadas pelo referido discurso, passando a observar-se uma dinâmica mais acelerada em quase todos os domínios, devendo salientar-se a reunião extraordinária do Comité Executivo de Luta e a realização do 2º Congresso do PAIGC, no qual se procedeu à declaração de independência do Estado da Guiné-Bissau.

Assassinato de Amílcar Cabral

Em Janeiro, o Quartel-General das Forças Armadas Portuguesas considerava haver um clima favorável à internacionalização da luta armada que se vivia no interior do território, podendo admitir-se a intervenção de forças estrangeiras de países ou organizações, em reforço ou apoio do PAIGC.

Por isso, foi com surpresa que se tomou conhecimento do assassinato de Amílcar Cabral, ocorrido em 20 de Janeiro em Conacri e levado a efeito por Inocêncio Kani, guinéu natural de Bubaque, o que veio alterar o tempo e o modo de evolução dos acontecimentos a partir daí. O autor confesso do crime ocupava um alto cargo na hierarquia do PAIGC como comandante da Marinha e tinha sido treinado na União Soviética durante um ano.

O acontecimento imediato mais relevante foi a nomeação, em 2 de Fevereiro de 1973, de Aristides Pereira, até aí Secretário-Geral Adjunto, para as funções de primeiro responsável pela direcção superior do Partido, interinamente, até à nomeação ou decisão do Conselho Superior de Luta, órgão supremo das decisões do PAIGC, entre congressos.

O Presidente da República da Guiné, Sekou Touré, passou também a exercer marcada influência na condução dos acontecimentos, quer na intensificação da luta armada no terreno, quer na condução da luta política, quer no sentido de acelerar a proclamação da independência do Estado da Guiné-Bissau. 
[Cinquenta anos depois, ele continua a ser um dos suspeitos da autoria moral do assassinato (não diz a CECA mas acrescentamos nós).]

 Por sua influência, foram transferidas estruturas do PAIGC de Conacri para junto da fronteira e mesmo para o interior do território português e foi pedido o comprometimento de países africanos na intervenção armada no conflito.

Em resultado de rivalidades entre guinéus e cabo-verdianos, que entretanto se tomaram mais vivas, a actividade política do PAIGC foi reduzida nos eses de Janeiro e Fevereiro.

O assassinato de Amílcar Cabral deu origem também a um inquérito levado a efeito por iniciativa de Sekou Touré, no qual participaram representantes de Cuba, Argélia, Egipto, Libéria, Nigéria, Senegal, Serra Leoa, Zâmbia, Tanzânia e delegados da Frelimo, PAIGC e República da Guiné.

Foram inquiridas 465 testemunhas. Quarenta e três indivíduos foram incriminados por participação no assassinato, nove acusados de cumplicidade e quarenta e dois suspeitos.

Correram também notícias de algumas dezenas de execuções.


Reunião do Conselho Executivo de Luta

A reunião deste órgão do PAIGC decorreu entre 7 e 9 de Fevereiro, tendo ficado decidido:

(i) apressar o inquérito ao assassinato de Amílcar Cabral e proceder com brevidade ao castigo dos culpados e seus cúmplices;

(ii) incrementar os trabalhos tendentes à reunião da Assembleia Nacional Popular numa das regiões libertadas e proclamar o Estado da Guiné-Bissau;

(iii) convocar o Conselho de Guerra visando a intensificação da luta armada no terreno em todas as frentes, nos centros urbanos, a intensificação da luta política clandestina, a mobilização das acções de massas e a reestruturação da Marinha;

(iv) preparar a próxima reunião do Conselho Superior de Luta, recolhendo sugestões e propostas para a nomeação do novo Secretário-Geral;

(v) confirmar a confiança em Aristides Pereira, Secretário-Geral Adjunto, como primeiro responsável, para dirigir o Partido até à reunião do Conselho de Luta;

(vi) reforçar a segurança;

(vii)  reafirmar a decisão inabalável de libertar a Guiné e Cabo Verde do domínio português;

(viii) consolidar as relações de amizade com a República da Guiné, Senegal e outros países, nomeadamente países socialistas e Suécia.

Em resultado das decisões tomadas e dos procedimentos postos em prática, em Março o PAIGC apresentava-se politicamente estabilizado, os incriminados no assassinato de Amílcar Cabral foram condenados à morte por  fuzilamento e os detidos não suspeitos foram libertados. 

Esta acalmia da situação criou as condições indispensáveis ao começo da implantação de efectivos militares e civis no interior da Província da Guiné, na região de Boé, a partir de Abril.

O controlo de Boé e da população ali fixada daria ao PAIGC argumentos para reivindicar atributos de soberania e credibilizar à declaração da independência do novo Estado da Guiné-Bissau no interior do território.


Realização do 2° Congresso do PAIGC

O 2° Congresso do PAIGC decorreu no período de 18 a 22 de Julho. Nele tomaram parte 138 delegados das FARP e órgãos político-administrativos do partido, assim como 60 observadores.

Neste Congresso foram tomadas as seguintes decisões principais:

(i) criar um Secretariado Permanente que passou a substituir o Comité Permanente do Comité Executivo de Luta e para o qual foram nomeados os seguintes membros:

- Aristides Maria Pereira - Secretário-Geral (Cabo Verde)

- Luís Cabral- Secretário Adjunto (Cabo Verde)

- Francisco Mendes - Secretário (Guiné)

- João Bernardo Vieira - Secretário (Guiné);

(ii) tomar extensiva a luta armada ao Arquipélago de Cabo Verde;

(iii) convocar a Assembleia Nacional Popular em ordem à proclamação do Estado da Guiné-Bissau.

Reunião da Assembleia Nacional Popular

A reunião da 1ª Assembleia Nacional Popular veio a ocorrer em 23 e 24 de Setembro, no interior do território da Guiné-Bissau, no Boé Oriental (#), onde, no segunda dia, foi proclamado o Estado da Guiné-Bissau, aprovada a sua l." Constituição e nomeado o respectivo Governo.

Os principais órgãos de soberania da nova República ficaram assim definidos:

(i)  PAIGC - força política dirigente, que, por intermédio do seu Secretariado Permanente, é a expressão suprema da vontade do povo e decide das orientações políticas do Estado.

(ii)  Assembleia Nacional Popular - órgão legislativo supremo, constituído por 120 membros;

(iii) Conselho de Estado - órgão legislativo, constituído por 15 membros, exercendo as suas funções entre sessões da Assembleia Nacional Popular;

(iv)  Conselho de Comissários de Estado - órgão executivo especial do Conselho de Ministros, constituído por 8 Comissários e 8 Subcomissários para a realização do programa político económico e social do Estado, sua segurança e defesa.

Entre os dirigentes, foram nomeados:

- Presidente da Assembleia Nacional Popular - João Bernardo Vieira

- Presidente do Conselho de Estado - Luís Cabral

- Comissário Principal do Conselho de Comissários - Francisco Mendes

No final do ano, o inimigo:

(i) incrementou a sua actividade no âmbito da política externa, tendo vários dirigentes desenvolvido intensa actividade diplomática no plano internacional, com especial destaque com o Senegal, República da Guiné, URSS, China, Gâmbia, Mali, Mauritânia, Nigéria, Uganda, Argélia, Somália, Jugoslávia, Egipto, etc;

(ii) reforçou a sua acção de propaganda por intermédio das emissoras radiofónicas que lhe eram afectas, aludindo ao isolamento de Portugal,na opinião pública internacional e ao facto do novo Estado da Guiné-Bissau ter sido reconhecido já por diversos países estrangeiros;

(iii) aproveitou a substituição do General Spínola como Comandante-Chefe, ocorrida em finais de Agosto, para a relacionar com o reconhecimento da incapacidade de Portugal vencer a luta armada;

(iv) incrementou a instrução literária e profissional nos países limítrofes: na República da Guiné, em Conacri e em Koundara; no Senegal, em Ziguinchor;

(v)  reocupou tabancas anteriormente abandonadas no Boé Oriental, utilizando para o efeito os refugiados vindos da República da Guiné e colocou aí unidades das suas Forças Armadas Locais (FAL) com a missão de os defender.

Foram-lhe também particularmente favoráveis alguns dos acontecimentos políticos internacionais, dos quais o PAIGC se aproveitou para reforçar a sua projecção e credibilidade externas. Destacam-se nomeadamente as seguintes:

(i)  Em Janeiro, reuniu em Accra o Comité de Libertação da OUA - Organização de Unidade Africana, o qual aprovou a proposta do Chefe do Estado do Gana para a intensificação da luta armada, visando a libertação dos países africanos não autónomos, devendo a comunidade internacional intensificar a sua ajuda aos movimentos de libertação.

A nova estratégia definida nesta reunião específica que a responsabilidade primária pela libertação dos países africanos deverá competir aos movimentos de libertação desses países, cabendo aos Estados prestar-lhes auxílio político-militar e apoio no treino dos seus quadros.

Nesta reunião estiveram presentes representantes do PAIGC, na qualidade de legítimos representantes do povo da Guiné-Bissau.

(ii)  Na Conferência sobre Descolonização e "Apartheid" na África Austral, realizada em Oslo no período de 9 a 14 de Abril sob a égide da ONU e OUA, o PAIGC fez-se representar por Vasco Cabral, que aproveitou a ocasião para declarar que a independência da Guiné-Bissau seria proclamada pela Assembleia Nacional Popular e que o poder executivo funcionaria no interior do território.

Acrescentou que a situação vivida justificava eventualmente a intervenção directa de outros países, nomeadamente africanos ou com apoio da OUA (que tinha preconizado um sistema de defesa regional integrada para África) e também chamou a atenção para os trabalhos da 28ª Assembleia Geral da ONU, a iniciar em Setembro.

Na circunstância, os representantes dos Movimentos de Libertação da África Austral pediram apoio militar ao Ministro dos Negócios Estrangeiros da Suécia.

A conferência não contou com a presença dos representantes dos EUA, França, Bélgica, Itália e Grã-Bretanha.

(iii) Na reunião da 1ª   conferência cimeira da OUA levada a efeito em Addis-Abeba, no período de 26 a 29 de Maio, ficou acordada uma "declaração política geral" na linha de decisões anteriores relativas à libertação de África do regime colonial, que foi considerada o ponto de partida para uma eventual intervenção armada directa, apoiada pela OUA, a favor dos movimentos de libertação africanos.

Representantes do PAIGC assistiram a esta cimeira, na qualidade de observadores.

(iv) No início de Novembro, a ONU aprovou uma resolução na qual exigia a retirada imediata de Portugal da Guiné-Bissau, o que constituiu o reconhecimento implícito do novo "Estado".

A resolução obteve 93 votos a favor e 7 contra (EUA, Brasil, Espanha, Grécia, África do Sul, Grã-Bretanha e Portugal).

(v) Em 19 de Novembro, a Guiné-Bissau foi admitida oficialmente na OUA, tomando-se o seu 42º  membro. Em 26 de Novembro foi também admitida na FAO por 66 votos a favor, 19 contra e 20 abstenções.

(vi) No encerramento da 28ª  Assembleia Geral da ONU, cujos trabalhos terminaram em Nova Iorque em 18 de Dezembro, foram aprovadas várias moções contra a política portuguesa em África.

Uma das moções negava à delegação portuguesa na ONU a representatividade dos territórios e das povoações de Angola, Moçambique e Guiné. Na votação sobre esta moção da Guiné, foram recolhidos 99 votos a favor e 14 contra (EUA, Espanha, Bélgica, Grã-Bretanha, entre outros).

(vii) Na 8ª sessão extraordinária da OUA, o Conselho de Ministros anunciou para Dezembro a reunião do Comité de Defesa, para estudar os meios mais eficazes para uma intervenção militar na Guiné-Bissau.

(viii) Neste ano, os movimentos de libertação africanos reconhecidos pela OUA receberam o estatuto de membros associados da UNESCO.

(ix)A 5ª Conferência da Organização Internacional do Trabalho (OIT) foi dominada pelo bloco dos países africanos, de que resultou a admissão à conferência de delegados do PAIGC, considerados legítimos representantes do povo da Guiné-Bissau.

Portugal reagiu retirando-se da Conferência em sinal de protesto, classificando as decisões tomadas como ilegais e contrárias aos estatuto da OIT. (...)

(Continua) CAPÍTULO III > ANO DE 1973 > 1. INIMIGO

1.2. Actividade militar
 
Fonte_ Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo ads Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro III; 1.ª Edição; Lisboa (2015), pp. 239/245

[ Seleção / revisão / negritos / fixação de texto pata efeitos de publicação deste poste no blogue:  L.G.]

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(#) Nota da CECA:  "Venduleide, perto de Lugadjol, numa zona pouco povoada, de mata não muito densa, com acessos fáceis de controlar, não longe da Guiné-Conacri, foi o exacto local onde a independência foi proclamada, garante Mário Cabral. 'Tinha a vantagem de nos pudermos reunir rapidamente e dispersarmos também rapidamente', explicou Aristides". ROCHA, João Manuel, Jornal "Público" de 24Set20 13, pp. 30 e 31.

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 2 de junho de  2022 > Guiné 61/74 - P23319: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (1): A pontaria dos artilheiros... (Morais da Silva / C. Martins)

(**) Vd. poste de 9 de maio de 2010 > Guiné 63/74 – P6356: Historiografia da presença portuguesa em África (36): O PAIGC, os nossos arquivos e a Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961/74 (Nuno Rubim)

terça-feira, 4 de junho de 2019

Guiné 61/74 - P19855: (In)citações (133): Entre maio e dezembro de 1972, na altura em que estive com os "Gringos de Guileje", a situação era relativamente calma, a CCAÇ 3477 era temida e respeitada pelo PAIGC...As coisas alteram-se sobretudo em maio de 1973, ao tempo da CCAV 8350, "Os Piratas de Guileje" (Luís Paiva, ex-fur mil art, 15º Pel Art, Guileje e Gadamael, 1972/74)


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 (Jan/Dez 1971) > Pessoal do Pel Art que guarnecia um das peças 11,4 cm ali existentes, no tempo em que a unidade de quadrícula era a CCAÇ 3325, comandada pelo Cap Jorge Parracho (reformou.se com o posto de coronel). . A CCAÇ 3325 foi subtituída pela CCAÇ 3477 (Nov 1971 / Dez 1972), "Os Gringos de Guileje",  a que se seguiu a CCAV 8350 (Dez 1972/Mai 1973), "Os Piratas de Guileje". O 15º Pel Art, a que pertenceu o Luís Paiva, esteve em Guileje com estas duas  últimas  unidades de quadrícula.

Foto: © Jorge Parracho (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem de Luís Paiva (ex-Fur Mil Art, 15.º Pel Art, Guileje e Gadamael, 1972/73, ao tempo da CCAÇ 3477 e depois da CCAV 8350, tendo o aquartelamento de Guileje sido abandonado em 22/5/1973)

[É membro da nossa Tabanca Grande desde 30 der outubro de 2009] (*)

Data: quarta, 29/05/2019 à(s) 15:36

Assunto: Solicitação de esclarecimento

Caro Luís Graça:

Em 2009 iniciei no Blogue "Luís Graça & Camaradas da Guiné" a publicação de alguns "posts" (10, segundo julgo) relacionados com a minha comissão de serviço militar na Guiné, no período que decorreu entre 1972 e 1974, sendo que o último post colocado data já de há cerca de cinco anos.

O primeiro "post" relatava de uma forma sucinta os acontecimentos ocorridos a partir de Maio de 1973 em Guileje e Gadamael no tempo em que ali se encontrava a companhia CCAV 8350, conhecida pela denominação de "Os Piratas".

Acontece que num recente almoço-convívio com a Companhia à qual estive ligado anteriormente CCAÇ 3477, conhecida pelos "Gringos de Guileje", tomei consciência de que em alguma(s) dessa(s) minhas intervenção(ões), ocorridas no referido blogue, teria involuntàriamente dado origem a equívocos que ali mesmo procurei desfazer mas que, pùblicamente, me comprometi a tomar a iniciativa de solicitar que fossem devidamente esclarecidos perante todos os leitores do blogue.(**)

Com efeito, se alguma vez dei a entender que a minha estadia em Guileje durante a permanência da CCAÇ 3477 foi relativamente tranquila, terei que, antes de mais, reiterar esta informação, mas acrescentando algo que poderá não ter ficado subentendido e que poderá ter gerado em alguns espíritos alguma confusão e até mesmo desconforto.

Antes de ser colocado em Guileje, eu tomei conhecimento que a zona era extremamente difícil sob o plano militar e que os Gringos que ali tiveram um período bastante difícil, tinham conseguido pacificar a região após várias incursões, e ganho respeito por parte do IN

O PAIGC temia a Companhia dos Gringos e, após várias incursões anteriores à minha chegada, tinham optado por reduzir ali a sua capacidade de ataque pelo que, quando cheguei, deparei com a zona já relativamente pacificada, sobretudo no que se refere a ataques ao aquartelamento, já que naturalmente no exterior a actividade militar e de prevenção da Companhia mantinha-se com saídas constantes e frequentes para o mato.

Deve pois ser salvaguardado o seguinte: eu desempenhava funções de artilheiro pelo que a minha actividade militar era apenas exercida dentro do aquartelamento, e aqui os ataques (após o período em que cheguei) eram reduzidos e aconteciam, tanto quanto a minha memória me permite recordar, numa média de cerca de um por mês.

Fora do aquartelamento -e durante esse período, de Maio a Dezembro de 1972- a situação era diferente mas não me posso pronunciar sobre ela porque eu não saía em missão para o mato.

E se me é permitido comparar com a situação que se iniciou em Maio de 1973, já após a saída da CCAÇ 3477 e durante a permanência da CCAV 8350, a diferença é flagrante porquanto a partir dessa data - e como referi na minha primeira intervenção - o grau e gravidade da situação militar alterou-se por completo dentro do aquartelamento. Dispenso-me de repetir o relato que fiz no Blogue há cerca de uma década sobre esses acontecimentos e que mantém plena actualidade.

Resumindo, e para que fique claro, apenas por interpretação anómala do que escrevi, se pode inferir que a permanência dos Gringos em Guileje foi pacífica porque o que efectivamente afirmei e reitero foi que a minha permanência com a aludida Companhia foi relativamente tranquila face ao que se passaria a seguir, concretamente a partir de Maio de 1973. 

E quando me refiro à minha permanência, refiro-me tão só ao espaço a que eu estava, como furriel de artilharia, confinado, mas também e sobretudo ao tempo em que ali estive com a referida Companhia. Porque, naturalmente, que não me posso pronunciar sobre o tempo anterior à minha chegada e em que aquela Companhia ali esteve na zona e que creio possa ter sido bastante difícil até se ter conseguido razoàvelmente pacificá-la.

Outra eventual interpretação do que escrevi será a partir deste esclarecimento abusiva.

Termino, afirmando que beneficiei na Companhia dos Gringos de grande camaradagem e de um óptimo ambiente de solidariedade que foi o que afinal me levou agora a procurar revê-los após um longo período de cerca de 47 anos.

Solicito que ao presente esclarecimento seja dado o devido destaque por forma a que todos os que leram alguma intervenção anterior minha possam ficar devidamente informados e tomem assim conhecimento que foi apenas uma acidental omissão sobre o tempo em que os Gringos estiveram em Guileje, mas que os meus comentários da altura se referem sobretudo a acontecimentos que tiveram lugar antes da minha chegada e -após a mesma- apenas no exterior do aquartelamento.

É porém voz corrente que presumível e supostamente (talvez antes de eu ser colocado em Guileje), os Gringos teriam capturado diverso armamento. Admito até que isso possa ter ocorrido durante a minha permanência, algo que já não consigo recordar! E reafirmo que a minha opinião tem sobretudo a ver com o teatro de operações dentro do aquartelamento.

Mantém-se o essencial do que escrevi nas intervenções no blogue, relativamente à descrição dos acontecimentos dramáticos que ocorreram em Guileje e Gadamael a partir de Maio de 1973 e já durante o período da Companhia CCAV 8350, conhecida pela denominação de "Os Piratas".

Saudações cordiais.

Luís Paiva
Ex-Furriel de Artilharia do 15º Pelart

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Notas do editor:

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18314: (Ex)citações (328): Regresso de Iemberém, viagem até Bissau, das 3h às 10h da manhã... O Pepito continua no coração de muita gente do Cantanhez... Estive em Guileje, no dia 7. É sempre com emoção que ali paro... Mando-vos cinco fotos em homenagem a todos aqueles de vós que ali muito sofreram (Anabela Pires)


Foto nº 1 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje >  Memorial à CCAV 8350 (1972/1974) e ao alf mil Lourenço, morto por acidente em 5/3/1973. De seu nome completo Victor Paulo Vasconcelos Lourenço, era natural de Torre de Moncorvo, está sepultado na Caparica.Foi uma das 9 baixas mortais da companhia também conhecida por "Piratas de Guileje" e um dos 75 alferes que perdeu a vida no CTIG..

Em segundo plano, vê-se o nicho que ao tempo da CCAÇ 3477 (1971/77), "Os Gringos de Guileje", abrigava a  imagem de Nossa Senhora de Fátima e do Santo Cristo dos Milagres. A CCAÇ 3477 era, na alturam, comandada pel cap mil Abílio Delgado, nosso grã-tabanqueiro.


Foto nº 2 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > Era a aqui a porta de armas, com a passadeira VIP feita com garrafas de cerveja dando acesso à pista de aviação, ao tempo da CCAÇ 3325 (Jan 1971/Dez 1971), "Os Cobras de Guileje", de que era comandante o cap inf Jorge Parracho.


Foto nº 3  > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > Pormenor da passadeira VIP feita com garrafas de cerveja...


Foto nº 4 > > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guildje > Interior da capela, da CART 1613 (1967/68), entretanto  renascida das cinzas, graças ao empenho da população local, da AD, do Pepito e do Domingos Fonseca, e da boa vontade de alguns velhos tugas, o "grupo de amigos da capela de Guileje", com o apoio do Blogue Luís Graça & Canmaradas da Guiné. A data da sua inauguração oficial foi 20 de janeiro de 2010 (com a presença de nossa amiga Júlia Neta, viúva do Zé Neto, entre outra gente ilustre)... Guileje voltou a ser um local de paz, de fé, de solidariedade, de (re)encontro, de ecumenismo, de esperança.  Não sabemos se tem sido utilizado mais vezes em atividades de culto. Em 2010 foi consagrada pelo bispo de Bafatá.

A imagem de Nossa Sra de Fátima foi oferecida e trazida, em março de 2010,  pelos nossos camaradas e grã-tabanqueiros António Camilo e Luís Branquinho Crespo,


Foto nº 5 > Guiné-Bissau > Região de  Tombali > Guileje > Núcleo Museológcio Memória de Guiledje > A placa original, restaurada, que estava afixada na parede da capelinha, ao tempo da CART 1613 (1967/68), "Os Lenços Verdes", comandada pelo cap art Eurico Corvacho (falecido em 2011).

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > 7 de fevereiro de 2018 > Núcleo Museológico Memória de Guiledje

Fotos: © Anabela Pires (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]


1, Mensagem de Anabela Pires, com data de ontem, às 19:00:

[Anabela Pires, janeiro de 2012, em Catesse, no sul da Guiné-Bissau, foto acima,  de Pepito... Nascida em Moçambique, técnica superior de serviço social no Ministério da Agricultura, reformada, amiga dos nossos grã-tabanqueiros Jero (Alcobaça), Alice Carneiro (Alfragide/Amadora), e do nosso saudoso Pepito, cidadã do mundo, "globetrotter", esteve três meses, entre janeiro e março de 2012, integrada, como voluntária, no projeto do Ecoturismo, da AD - Acção para o Desenvolvimento, e a viver em Iemberém; foi o golpe de Estado de 2012 que a obrigou a sair da Guiné-Bissau; está lá de novo, desde 18 do corrente; tem 25 referências no nosso blogue, dela publicámos o "diário de Iemberém"; pacifista e feminista, ela não gosta que a gente lhe chame uma "mulher de armas"... mas é assim que a gente a vê, aqui da Tabanca Grande]

Caro Luís,

Só hoje [, dia 12,]  ao chegar li o teu email em que me pedias para saber notícias do pai da Alicinha e do seu avô (*). Foi uma pena mas na noite anterior à partida deitei-me bem cedo e nem computador levei para Iemberém. 

Consegui lá chegar [, a Iemberém,] e regressar sã e salva! Fiz parte da viagem de autocarro e para cá de 7place (tipo táxis coletivos) e o resto num jipe que está em Iemberém - fizeram o favor de me ir buscar e levar a Quebo pagando eu somente o gasóleo. 

Foi um regresso muito emotivo mas que eu precisava de fazer para encerrar o capítulo que tinha sido suspenso pelo Golpe de Estado de 12 de Abril de 2012 e depois com o desaparecimento do nosso tão estimado Pepito deste mundo.

Penso que para as pessoas de lá também foi reconfortante saberem que, apesar de eu só lá ter estado 3 meses,  regressei para as visitar. Como podes imaginar,  o Pepito esteve sempre presente nas nossas conversas. É daquelas pessoas que,  mesmo não estando fisicamente,  estão sempre nas nossas memórias e nos nossos corações e, quando digo "nossos",  refiro-me também a muitas, muitas pessoas de Cantanhez. 

Hoje estou muito cansada (saí de Iemberém às 3 horas da manhã e cheguei a Bissau às 10 - a estrada de Quebo até Guileje está muito pior do que há 6 anos!) mas quero dizer, a todos aqueles que aqui muito sofreram na guerra colonial, que faço sempre uma paragem em Guileje, em vossa homenagem.

Vou sempre à capelinha que,  embora tenha agora por fora um ar muito abandonado, mantém a imagem de Nossa Senhora intacta. Quero dizer-vos que fico sempre encantada com o "passeio" feito de garrafas de cervejas enterradas e que ainda se mantém em muito bom estado (bem hajam por não terem partido e espalhado todo aquele vidro!). É sempre com grande emoção que ali paro. 

Aqui há uns meses li, por acaso, um livro chamado "Deixei o meu coração em África", de Manuel Arouca (só o consegui comprar na Internet) cujo cenário principal é exatamente Guileje na época da guerra. Esta leitura só aumentou o meu desejo de regressar. Tenho a certeza de que muitos de vós gostarão de o ler. 

Por hoje só vos envio 5 fotos que tirei agora em Guileje. (**)

Um enorme abraço para tod@s,
Anabela Pires
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Notas do editor:

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Guiné 63/74 - P12082: Os nossos médicos (71): Guiões, brasões e crachás das unidades em que prestou serviço o alf mil méd Amaral Bernardo: BCAÇ 2930 (Catió, 1970/72) e BART 2924 (Tite, 1970/72)














Guiões, brasões e crachás das unidades (batalhões) e subunidades (companhias) por onde passou o alf mil médico Amaral Bernardo, nosso prezado camarada da Tabanca Grande, que esteve no TO da Guiné nos anos de 1970/72.


1. Este material já nos tinha sido enviado por email de 30 de março de 2011. Por lapso, só agora descobrimos o seu paradeiro: estava numa das nossas caixas de correio, pouco usadas... Pedimos desculpa ao autor e aos leitores.

O Amaral Bernardo esteve ao serviço de dois batalhões: BCAÇ 2930 (Catió, 1970/72) e BART 2924 (Tite, 1970/72), como de resto se infere dos louvores que lhe foram atribuídos:









Fotos: © Amaral Bernardo (2011). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]

sábado, 3 de agosto de 2013

Guiné 63/74 - P11900: Memória dos lugares (242): Núcleo Museológico Memória de Guileje - Parte I (Carlos Afeitos, ex-cooperante, 2008/2012)



Foto nº 1 > Placa indciativa do antigo heliporto


Fotio nº 2 > O trajeto do quartel para o heliporto, feito com garrafas de cerveja


Foto nº 3 > Uma garrafa de cerveja



Foto nº 4 > O antigo heliporto


Foto nº 5 > Placa indicativa do local onde existiu um dos espaldões de artilharia


Foto nº 6 >  Resto de caixa de munições, com orifícios de estilhaços



 Foto nº 7 >  Caixas, metálicas, de munições de artiharia


Foto nº 8 > Granadas de obus 14 ou peça de artilharia 11.4



Foto nº 9 > "Posto de socorros"


Foto nº 10 > Brasão dos "Cobras", CCAÇ 3325 (1971/72)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico memória de Guiledje > c. 2011



Fotos (e legendas);  © Carlos Afeitos (2013). Todos os direitos reservados


1. Mensagem de 30 de maio último, do Carlos Afeitos, professor de matemática, cooperante na Guiné-Bissau, durante 4 anos (2008-2012), e nosso grã-tabanqueiro, com o nº 606 [, foto à esquerda], que nos mandou mais de uma meia centenas de fotos recentes de Guileje. Vamos fazer uma seleção desse material.

Bom dia,  caro Luís,

Nos meus devaneios encontrei estas fotos de Guilege, já vi muitas postadas no blog e não sei se já tem algumas parecidas a estas ou não. Durante o tempo que estive na Guiné passei por Guilege duas vezes. A primeira vez foi a caminho de Cantanhez, região lindíssima e que vale a pena visitar. A segunda vez foi quando convidei a minha irmã para ir conhecer a Guiné em 2 semanas. Fiz questão de levá-la um bocado ao sul e ficar a conhecer um bocado mais da história que une os dois países.

Pelas conversas que tive com um homem a viver e a recuperar o antigo aquartelamento, está previsto edificar um complexo que irá servir de escola profissional no sítio da pista de aterragem de helicópteros, relembro que isto segundo as informações.

O senhor serviu de guia e explicou-nos como estava ordenado o quartel e como viviam os militares que estavam destacados para lá. O museu relembra muito bem da vida e da luta de ambas as partes envolvidas no conflito. À entrada podemos ver uma anti-aérea e um Unimog, lado a lado. Fizemos uma visita à pista de aterragem exactamente pelo caminho feito de garrafas e depois mais umas voltas pelos pontos assinalados. 

Na minha segunda visita também tive uma conversa muito amigável com uma pessoa que estava a viver na tabanca no interior do quartel aquando da retirada. Ele contou-me alguns dos momentos complicados que passou e recordou com alguma angústia e nostalgia. As memórias ainda fazem chorar...

Uma das coisas curiosas que eu reparei é do carinho que a população tinha por alguns militares portugueses, pois é uma das coisas que todos falam é nos nomes deles. Depois de tantos anos ainda os recordam e sabem exactamente quem são, a graduação que tinham e de onde eram.

Como as fotos são algumas, vou enviar em 3 mails diferentes, pode fazer o que quiser com elas. Algumas não estão legendadas pois não me lembro muito bem.

Com os melhores cumprimentos,


Carlos Afeitos

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Nota do editor:

Último poste da série > 31 de julho de 2013 >  Guiné 63/74 - P11894: Memória dos lugares (241): Surpresas que só a Feira da Ladra oferece (Mário Beja Santos)

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10700: Crachás de unidades que passaram por Guileje (CCAÇ 3477 e CCAÇ 3325, 1971/72) e Cacine (CCAÇ 2726, 1970/72) (Mário Bravo, ex-alf médico, 1971/72)










Crachás da CCAÇ 3477, Gringos de Guileje (Guileje, nov 71/ dez 72), CCAÇ 3325, Os Cobras de Guilje (Guileje, 1971) e CCAÇ 2726 (Cacine, 1970/72)


Fotos: © Mário Bravo (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Mensagem do nosso camarada, médico, Mário [Silva] Bravo (ex-alf med, CCAÇ 6 e HM 241, Bedanda e Bissau, 1971/72)


Bom dia Amigo e Camarada Luis Graça

Há algum tempo que não publico no nosso blogue, por distracção e não por outra razão.

Continuo a ser visita assídua, e considero que a tua gestão é excelente.

Nas minhas buscas, cá em casa, encontrei estes crachás que me foram oferecidos em Guileje (os primeiros: CCAÇ 3325 e CCAÇ 3477) e o outro (CCAÇ 2725), não tenho a certeza. Será que corresponde a alguma unidade de Gadamael, onde também estive ?

O envio destas imagens pode servir para encontrar companheiros dessas épocas, e que gostaria de reencontrar, através do nosso blogue.


Mário

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10413: CCAÇ 3325, Cobras de Guileje (1971/73): Parte IX: Mais fotos do álbum do cor inf ref Jorge Parracho, que integram hoje o Núcleo Museológico Memória de Guiledje



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho > Foto n.º 40, sem legenda  >  O comandante da companhia sentado à entrada da sua morança (?), ou então mais provavelmente da secretaria, ou ainda do bar/messe de oficiais. Neste tempo já havia abrigos, construídos pela engenharia militar, presumindo-se que todo o pessoal militar dormisse, pelo menos, nos abrigos...



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho > Foto n.º 9, sem legenda  > A porta de armas... Ao fundo, uma série impressionate de barris com frases saudando os visitantes de Guileje.


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho > Foto n.º 45, sem legenda  > Aspeto parcial do aquartelamento e tabanca... Ao todo viviam em Guileje cerca de 800 pessoas, entre civis e militares.



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho > Foto n.º 46, sem legenda  >  Mais um aspeto parcial do aquartelamento e tabanca. Do lado esquerdo, um dos espaldões da artilharia (um das 3 peças 11,4, que defendiam Guleje, orientadas para a fronteira, a sul).


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho > Foto n.º 42, sem legenda  >  Vista aérea, geral, do aquartelamento e tabanca. Ao fundo, os três espaldões de artilharia, antes a orla da floresta... Ao lado direito, o heliporto


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho > Foto n.º 45, sem legenda  >  Porta de armas, passadeira VIP feita com garrafas de cerveja dando acesso à pista de aviação e ao fundo um dos impressioantes "bunkers" construídos pelo BENG.


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho > Foto n.º 6, sem legenda  > Guiné > Região de Tombali > Guileje >  Porta de armas e por detrás um dos "bunkers" construídos pela engenharia militar no tempo da CART 2410 (1969/70). Jorge Parracho e um dos seus alferes (presume-se que seja o Rodrigues).


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho > Foto n.º 39, sem legenda  > O cap Parracho com a malta do Pel Art n.º 5, que era comandado pelo alf mil art Cristina... O quarto militar, na primeira fila, a contar da direita para a esquerda, parece ser o alf mil médico Mário Bravo, nosso grã-tabanqueiro.

Fotos: © Jorge Parracho / AD - Acção para o Desenvolvimento, Bissau (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [As fotos de Jorge Parracho foram disponibilizadas à ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, com sede em Bissau, em 2007, no âmbito do projecto de criação do Núcleo Museológico Memória de Guiledje. Não têm legendas, vêm apenas numeradas.
Legendagem da responsabilidade de L.G, que recorreu às informações já aqui publicadas pelo Orlando Silva sobre a CCAÇ 3325].


1. Já aqui chamámos, no devido tempo, a atenção para a a qualidade dos materiais usados pela Engenharia Militar na construção dos abrigos de Guileje que toda a gente diz (ou dizia) que eram os melhores da Guiné... As escavações arqueológicas, pela AD - Acção para o Desenvolvimento, vieram mostrar as placas de cimento armado ainda estavam como novas, ao fim de quase 4 dezenas de anos, capazes de aguentar bem o morteiro 120...

O José Barros Rocha, ex-alf mil, da CART 2410, os Dráculas, chegou a  Guileje em Junho de 1969, e por lá ficou até Março de 1970. Já aqui nos falou também sobre a construção dos abrigos:

"Recordo-me que houve um Pelotão de Engenharia que durante esse período aí esteve sediado para construir dois abrigos de betão armado, e que se afirmava serem à prova das granadas do Morteiro 120 ou 122. Dois Pelotões aí tinham a sua residência!!! Tais abrigos localizavam-se por detrás do refeitório e à direita da saída para estrada que seguia para Mejo"...

Recorde.se aqui as companhais que passaram por Guileje, desde o tempo do José Barros Rocha, de junho de 1960 a maio de 1973:

CART 2410 (Jun 1969/Mar 1970) (contacto: Armindo Batata,. comandante do Pel Caç Nat 51)
CCAÇ 2617 ( Mar 1970/Fev 1971) > Os Magriços (contacto: Abílio)
CCAÇ 3325 (Jan 1971/Dez 1971)  > Os Cobras de Guileje (contacto: Jorge Parracho)
CCAÇ 3477 (Nov 1971 / Dez 1972) > Os Gringos de Guileje (contacto: Amaro Munhoz Samúdio)
CCAV 8350 (Dez 1972/Mai 1973) > Os Piratas de Guileje (contacto: José Casimiro Carvalho )


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Outubro de 2010 > Escavações no antigo aquartelamento das NT, abandonado em 22 de Maio de 1973 > Foto n.º 12 > Um curioso artefacto produzido por um militar da CCAÇ 3325 (À direita, a sua efígie; de quem seria ?)...

Fotos: © Pepito / AD -Acção para o Desenvolvimento (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados



2. A origem destas fotos do cor inf ref Jorge Parracho já foi aqui explicada pelo nosso amigo  Pepito, em poste de 15 de janeiro de 2007:

(...) Queria pedir-te dois apoios, embora saiba que tempo é o que tens menos:

(i) Quando aí estive no verão 2006, conheci o Coronel Jorge Parracho que me forneceu excelentes fotos, algumas das quais te enviei. Nessa altura, e por seu intermédio conheci o ex-enfermeiro de Guiledje, Vitor Manuel Rodrigues Fernandes (CCaç  3325) que estava na altura a digitalizar o Livro da Unidade, tendo-mo prometido logo que acabasse (em finais de Setembro). O favor que te pedia era o de, se possível, dares-lhe uma chamada (933323135) para saber se ele já concluiu o trabalho e se te poderia dar esse documento, para tu mo dares.

(ii) Como vou aí na 3.ª semana de Fevereiro, gostaria de contactar com o [Coronel] Coutinho Lima, último Comandante do quartel de Guiledje [ou, melhor, do COP 5], elemento determinante do nosso 
projecto. (...)




Guiné > Região de Tombali > Guileje > 1972 ou 1973 > Croquis do aquartelamento e tabanca, desenhado à mão pelo Fur Mil Op Esp José Casimiro Carvalho (CCAV 8350, 1972/73), e enviado pelo correio a seu pai. Clicar na imagem para ampliar.

Legenda:

(i) Pelo que se consegue perceber nesta infografia, o aquartelamento e a tabanca de Guileje formavam um rectângulo, todo minado à volta, na parte desmatada, com minas, armadilhas e fornilhos;

(ii) A orientação parece ser norte/sul, tendo as peças de artilharia de 11.4, em número de três, apontadas para a fronteira com a República da Guiné-Conacri (a sul);

(iii) Podem ver-se ainda as posições dos morteiros, a verde: dois 81 (incluindo o 'meu', o que era operado pela secção do Furriel Carvalho, do lado oeste, junto a um dos abrigos) e dois 10,7 (ou 120?);

(iv) A oeste, há um campo de futebol, uma pista de aterragem de aeronaves e um heliporto;

(v) Ao longo do perímetro do aquartelamento, há arame farpado, postos de iluminação, postos de sentinela (cinco), abrigos e valas, todos devidamente assinalados;

(vi)  As palhotas da tabanca situam-se dentro do perímetro do aquartelamento;

(vii) O trilho que corre a norte da pista de aviação era o trilho da água, o que significava que as NT e a população precisavam de sair do perímetro defensivo para se abastecer do precioso líquido;

(viii)  A esttrada que atravessava o aquartelamento e a tabanca, no sentido norte/sul era a que seguia para Mejo e Bedanda (a noroeste) e ligava a sul à estrada de Mampatá - Gadamael - Cacine, ao longo da fronteira.

Infografia: © José Casimiro Carvalho (2005)/ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. 
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Nota do editor:
 

Último poste da série >16 de setembro de 2012 >  Guiné 63/74 - P10390: CCAÇ 3325, Cobras de Guileje (1971/73): Parte VIII: Mais fotos do álbum do cor inf ref Jorge Parracho, que integram hoje o Núcleo Museológico Memória de Guiledje