Carlos, bom amigo,
Segue a pretensa reportagem de um encontro do Grupo do Cadaval.
Amanhã, provavelmente, o Henrique enviar-te-á as fotografias.
Um grande abraço
JD
O Grupo do Cadaval conviveu no passado fim de semana no Couço, Concelho de Coruche.
Segue a reportagem do acontecimento
Grupo do Cadaval
1.ª fila da esquerda para a direita: Pimentel, Rosales, Borrego e Fernando Marques.
1.ª fila da esquerda para a direita: Pimentel, Rosales, Borrego e Fernando Marques.
2.ª fila pela mesma ordem: Belarmino Sardinha, José Brás, Lima, Joaquim Galvão, Hélder Valério, Dinis e Henrique Matos.
No último weekend ocorreu um festim muito badalado na pré-cidade do Couço, na extrema ribatejana, a calcar as canelas do Alentejo, na orla da maior cobertura chaparral da Europa, como nos relatou o feliz ex-presidente da Junta, o Joaquim Galvão, também ele ex-militar na modorrona Guiné, no final dos anos de paz, 1960/62. Foi uma iniciativa do segundo-comandante do Grupo do Cadaval, um homem sábio e generoso que, com ares de soba, gosta de reunir-se de mentes brilhantes e companheiros de fácil mastigação.
Possuidor de ampla propriedade, vasta de ares puros e frescos, ali organizou a concentração para demandarmos à mesa do cozido. O grupo apresentou dois reforços locais: o Joaquim Galvão, homem de linguajar fácil, tanto que referiu eu estar quase ao nível dele, que nos presenteou com lembranças da Junta a que esteve quase a eternizar-se na sabida presidência: saquinhos individuais, com material de escrita (entre outros mimos), pois sabia da presença de um dos nossos, escritor laureado, o Zé Brás, por sinal vizinho de concelho; e o Pimentel, também ex-combatente da época do Rosales, produtor de uma pomada sem aditivos, que se mostrou competente e de bom paladar, pinguinha que viria a acompanhar o lanche.
Mas ainda houve mais quatro reforços de grande mérito: O Lima e o Borrego, residentes na região, também eles companheiros do anfitrião em terras da Guiné, sendo que o Borrego já lhe era familiar do jogo da bola, pois se um capitaneava a equipe do Estoril, o outro exercia o mesmo mister nos Leões de Santarém. Para além deles, apresentou-se o sempre bem-disposto Fernando Marques que me conduziu com grande competência ao lugar do repasto, e o Henrique Matos, que fez a pequena distância de trezentos quilómetros para abancar connosco. É de se lhe tirar o chapéu!.
O grupo do Cadaval, porém, registou uma baixa de peso, o comandante Vasco da Gama impossibilitado por afazeres de ordem particular. Mas foi bastamente lembrado e ainda teve dedicatória posterior com o tal vinho puro de três castas.
Outras faltas a registar: o Graça de Abreu, empenhado num curso sínico que ministra em Lisboa, e o Jero, que tinha jurado pelas alminhas, lagarto, lagarto, lagarto, que se propusera a um sacrifício adicional só para partilhar da nossa camaradagem e, afinal, baldou-se sem razões, nem explicações, nem sacrifício, que isto de faltar à palavra perante os unidos do Grupo do Cadaval, também deixa marcas, e sobras alimentares.
Por dever de consciência recordo aqui aos eventuais leitores a restante composição do Grupo do Cadaval: o sub-comandante, é o já referido Jorge Rosales, homem sagaz, inteligente, comedido e de jurisdição simples, que revela amizade em cada momento e merece a admiração de todos. O Zé Brás, homem de mundos vários, com facilidade na escrita, através da qual expõe com mestria cenários, personalidades, emoções, sonhos e sofrimentos, com delicadeza e assertividade. Os restantes, a quem não dedico palavras especiais, porque são cidadãos simples, mas generosos e atentos ao mundo, são o Hélder Valério, o Belarmino Sardinha, e cá o escrevente que vos cumprimenta.
Concentrada a tropa à hora devida, que os horários são para cumprir, a coluna deslocou-se pela picada que liga o Couço à Courelinha, notando-se o corajoso Rosales a conduzir a viatura rebenta-minas, e os vultos da malta que o seguia a levar com a poeirada. Ali chegados, deparou-se-nos uma casa simples, sem recursos arquitectónicos, mas limpa e alva como só naquelas bandas encontramos. A mesa, para doze, já tinha as alfaias prontas. Tomámos posições, entre graças, fotografias e manifestações de apetite, face aos cheirinhos provenientes da cozinha aberta, no prolongamento da sala.
A abrir, uma sopa do cozido, com pão do forno e uma hortelã inspiradora.
Depois passámos ao conduto, numa sucessão de vegetais saborosos da tradicional cultura biológica, a que as carnes carregadas de paladar, mai-los enchidos caseiros, transportaram-nos para um céu de prazeres, estranhamente contraditórios com o pecado da gula. Pena tive eu de não possuir estômago tamanho que comportasse outro tanto, pois ainda salivo da belíssima lembrança.
À sobremesa foi servido um pudim que esteve à altura do acontecimento. O tintol era do Cartaxo e bebeu-se com agrado.
Passe a publicidade, o Café Barbeiro, com o telefone 243 650 180, não é propriamente um restaurante. No entanto, serve refeições por encomenda, sem lista, mas de qualidade e com fartura para que ninguém saia de mau humor. Esportulámos dez aéreos por bico, com a gratificação incluída.
Depois do café, incluído no almoço, e de mais umas achegas em discursos vários, despedimo-nos dos comparsas locais e do nosso escritor, que tinham outros afazeres, para demandarmos a casa do Rosales e mamarmos o lanche, antes que fosse tarde, e consistiu de dois peixes escalados, salgados na hora para assentarem praça na grelha, prateados e com a frescura necessária. Nos entretantos, petiscámos um queijinho de ovelha e um chouriço, tudo de boa confecção e temperos, coisas que se foram num ápice, dando a parecer que o almoço não teria sido farto e bom. Só que às coisas divinais não temos por hábito manifestar desprezo, e então continuámos a cumprir religiosamente.
Pronto, meus caros leitores, não vos prolongo o sofrimento, e declaro-vos superiormente autorizados a comer um pedaço de pão com manteiga para matar a fome que vos assola.
JD
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 13 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7122: Convívios (195): 40 anos depois... Pessoal do Comando de Agrupamento nº 2957, Bafatá, 1968/70 (António Rodrigues)