Mostrar mensagens com a etiqueta (In)citações. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta (In)citações. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26395: (In)citações (260): Em louvor das nossas "tabancas" (ou tertúlias de antigos combatentes) (Angelino Santos Silva, escritor, natural de Paredes, ex-fur mil 'cmd', 26ª CCmds, Bula, Teixeira Pinto e Bissau, 1970/72)

1. Reprodução, com a devida vénia, de postagem no Facebook da Tabanca Grande, com data de 10 do corrente, às 23:00,  da autoria do nosso camarada Angelino Santos Silva, natural de Recarei, Paredes, escritor, ex-fur mil 'cmd', 26ª CCmds, Bula, Teixeira Pinto e Bissau, 1970/72, e que será o nosso próximo grão-tabanqueiro, passando (finalmente!) a sentar-se à sombra do nosso poilão no lugar nº 897.

Frequenta, com alguma regularidade, as Tabancas do Norte, com destaque para a Tabanca de Matosinhos,
a Tabanca da Maia, e o Bando do Café Progresso. (E julgamos que também a Tabanca dos Melros,
 em Fânzeres, Gondomar.)


Tertúlias de combatentes
 
por Angelino Santos Silva


A Geração que entre 1961 e 1974/75 demandou por terras de Angola, Moçambique e Guiné-Bissau para cumprir a Missão de Defender a Pátria, uma vez regressada a casa, criou um evento social até aí desconhecido nos hábitos dos portugueses: pelo menos uma vez por ano encontram-se algures num ponto intermédio do país, de modo a reunirem o maior número de Combatentes e aí confraternizarem, falando das suas vivências em África. 

Desde início criaram o hábito de levarem as esposas, depois filhos e depois netos, incluindo genros e noras. E assim tem sido a saga dos Combatentes ao longo de mais de 50 anos, após regresso definitivo a casa.

Há gente, que estando um pouco afastada destes “Encontros”,  estranha e se interroga, como o tema “Guerra” pode aproximar, direi, apaixonar tanta gente para, ano após ano conversarem alegremente de uma vida onde é suposto ter havido “sangue, suor e lágrimas”. E morte. 

E houve tudo isto. E mais. Houve cansaço, dor, mutilados, febres e outras doenças, especialmente maleitas “apanhadas pelo clima”, quando a cabeça não aguentava a pressão de viver num ambiente de guerra. Mas também houve alegrias, bebedeiras, sorrisos, cantorias e camaradagem. E algo comum a todos, que nos fez esquecer agruras e raivas por vermos um camarada mutilado ou morto ao nosso lado: o facto de termos 22, 23, 24 anos e a força de sermos jovens. Como esquecer, como não falar, como não confraternizar pela vida fora, pelo menos uma vez por ano?

Talvez pelas condições específicas da luta na Guiné-Bissau, os camaradas Combatentes que estiveram nesta Província, ao longo dos anos foram criando grupos que designam por Tabanca. E todos se mantêm ligados, quer pelas redes sociais, quer pelos “Encontros Anuais “ e há mesmo quem se encontre todos os meses e semanas. Eu, que fiz a guerra na Guiné, percebo como é importante para nós.

Das várias Tabancas que conheço e/ou participo, no passado dia 8 estive a confraternizar na Tabanca – O Bando do Café Progresso,  das Caldas à Guiné. Trata-se de um grupo simpático que há alguns anos se reúne religiosamente todos os meses. Como todos os grupos que conheço, este é também um grupo eclético pelo que nas conversas entre camaradas, além da vida da tropa, fala-se de outros temas, de A a Z, conforme o momento.

Desta vez o Ferreira marcou o encontro para a terra – que nela vive – mas esqueceu-se de nos avisar, que só um GPS concebido pela NASA nos levaria lá, sem a ajuda de um forasteiro que encontrássemos pelo caminho. Mas chegamos. E valeu a pena.

Boa comida nos serviram no restaurante. As “entradas” foram diversas e de boa qualidade e as tripas muito bem confecionadas e do agrado de todos. Desta vez a tertúlia teve a presença de algumas senhoras e cavalheiros da terra do Ferreira, gente simpática e alegre. Rosinha, dona do restaurante - porque coincidiu com o seu aniversário - prendou-nos com um belíssimo bolo e brindou-nos com alguns fados. 

Logo a seguir à refeição e antes das cantorias e conversas, foram declamados dois poemas: "Sextante", dito de forma magistral por Ricardo Figueiredo; e "Geração Africana", por mim. Algumas lágrimas surgiram ao canto do olho dos mais sensíveis.

Da próxima que lá for, vou de barco até a eclusa da barragem, subo e vou a correr por lá acima até chegar à Rua da Marroca, local do restaurante da Rosinha.

Um abarço, saúde om ano para todos Combatentes e suas família.
Angelino dos Santos Silva

Combatente na Guerra Colonial Portuguesa na Guiné-Bissau

PS - Deixo-vos com os dois poemas :

SEXTANTE

Tracei a vida a régua e esquadro
como se fora uma quadricula
estudei ângulos, revi a deriva
e lancei as sortes no xadrez da vida

Nas contas usei a tabuada
mexi números, tracei a equação
somei pelos dedos da mão
dividi a sorte pela raiz quadrada
e fui à vida de bota fardada

Em águas turvas naveguei
por mar em tempos navegado
ao chão da selva cheguei
dormi sem cama, comi sem mesa
joguei às escondidas de arma na mão
e nesta complicada equação
pisei a linha e perdi o norte

Quis o sextante livrar-me da morte
voltei à vida sem trunfos na mão
lancei os dados em busca da sorte
ganhei ao xadrez, perdi ao gamão
nos cálculos imperfeitos da equação

Traz-me o sextante nesta aflição
realinho a quadricula a régua e esquadro
cálculo o risco, sou enganado
consulto as linhas da palma da mão
e aguardo as sortes da equação

E a vida se faz, fazendo
umas vezes parada, outras correndo
em matemáticas de contas incertas
umas vezes erradas, outras certas
e as contas desta equação
apenas se fecham nas tábuas de um caixão.


GERAÇÃO AFRICANA

Já lá fui e voltei
Já lá fomos e voltamos.

Percorremos o lado negro da vida
tropeçamos na face má da sorte
e andamos por trilhos e picadas da morte.

Talvez com sorte digo eu
muita sorte dizemos nós
quando em passos cuidados e tremidos
caminhamos sem rumo e sem norte
lutando para segurar a vida
matando para sacudir a morte.

Já lá fui e lutei
Já lá fomos e lutamos
Já lá sorrimos e penamos.

E abrimos a caixa de pandora
e antes de virmos embora
enfrentamos medos e emboscadas
carregamos sonhos e granadas
corremos perigo e aflição
bebemos água da bolanha
comemos colados ao chão
adormecemos de arma na mão
socorremos camaradas feridos
beijamos rostos estendidos
cerramos os punhos cantando
festejamos a vida chorando
deixamos os sonhos esquecidos
zangamo-nos com deus e o diabo
apertamos a raiva mordida na mão
e levamos a cabo heroica missão
deixamos áfrica
e regressamos a casa
mais leves de coração.

Já lá fui e voltei
Já lá fomos e voltamos
E pouco pedimos em troca.

Apenas… respeito e consideração.
Da vida e das mãos se faz uma nação.
Das lágrimas de um povo se faz História.
Da Geração Africana se fará Memória.

Poemas da autoria de Angelino Santos Silva, 
disponíveis na sua página do Facebook)

quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26311: (In)citações (259): A melhor prenda de Natal que vou ter é saber que vocês fazem parte desse exército de sonhos onde a meta é atingir a dignidade e o respeito pelos uns outros (Eduardo Estrela, Cacela Velha,. V. R. Sto António)

1. Mensagem do Eduardo Estrela (ex-fur mil at inf, CCAÇ 2592/CCAÇ 14, Cuntima e Farim, 1969/71; vive em Cacela Velha, Vila Real de Santo António; membro da Tabanca Grande desde 29/2/2012 (foto à direita)


Data - terça, 24/12/2024, 22:57
Assunto - Espera contínua

São 22,28 e a emoção toma conta de mim. Não riam, eu sei que bem lá no fundo vocês aguardam tal como eu a chegada do momento da partilha .

Continuamos a ser as crianças agora mais adultos, que aguardam com algum alvoroço emocional a hora da troca.

Pela vida fora trocamos uns com os outros muita coisa . Felizmente e a maior parte amizade e amor. Mas há quem tenha um prazer mórbido em alterar a força da racionalidade e pretenda transformar o bom no mau .

Desde tempos imemoriais assim tem sido .

Eu acredito que havemos de conseguir transformar este mundo onde estamos num mundo melhor. Um mundo de solidariedade e de concórdia e onde a riqueza seja mais equitativamente distribuída.

A melhor prenda de Natal que vou ter é saber que vocês fazem parte desse exército de sonhos onde a meta é atingir a dignidade e o respeito uns pelos outros.
 
A guerra transformou-nos em irracionais. A sua memória obriga-nos a ser tolerantes .

Abraço fraterno
Eduardo Estrela

(Revisão / fixação de texto, negritos: LG)

___________________

Nota do editor:

Último poste da série > 1 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26221: (In)citações (258): Era ele... Todo inteiro (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887, Canquelifá e Bigene, 1966/68)

domingo, 1 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26221: (In)citações (258): Era ele... Todo inteiro (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887, Canquelifá e Bigene, 1966/68)


ERA ELE… TODO INTEIRO

adão cruz

Hoje, ao meio-dia, estava eu sentado na mesa do costume, virado para a porta do restaurante. Vi-o entrar pela mão de um jovem, muito provavelmente seu filho, ou algum dos raros seres humanos que ainda guardam dentro do peito um coração em vez de uma pedra. Rosto chupado, coberto de pelos, desde o cabelo enrodilhado à barba grisalha e emaranhada, olhos lá no fundo de umas órbitas arroxeadas, fitava o infinito de uma qualquer galáxia para lá das paredes do restaurante. Vestia um casaco escuro muito coçado, de trespasse, caído do lado direito por força do uso e abuso.

Era mesmo ele, não tive dúvidas, o sem-abrigo que eu encontro todos os dias na Avenida dos Aliados, enfiado numa caixa de cartão, soerguendo a cabeça à passagem de alguém que lhe pareça suficientemente humano para se desapegar de uma moeda.

Sentaram-se na mesa frente à minha. O jovem, provavelmente seu filho, leu pausadamente o menu três ou quatro vezes, tentando libertá-lo da alienação da sua paisagem cósmica. Bacalhau assado na brasa… bacalhau à Braga… vitela na caçarola… bifinhos de frango…, mas o olhar fixo, sabe-se lá onde, não se desfazia. Pensei que estava pousado na televisão que ficava atrás de mim, mas olhando de esguelha, vi que estava preso no lado oposto, na parede nua.

Ao fim de uns minutos e de carinhosa paciência, o presumível filho conseguiu um assentimento no bacalhau na brasa. Pressentia-se que o apetite era pouco, ou melhor, já não era capaz de sentir o que é ter apetite. Habituado à fome, ter um nutrido prato na sua frente era um incongruente desábito. Lembrou-me os tempos da guerra, em que nós nos ríamos do perigo, tão habituados que estávamos a ele.

Quando esperava deste anónimo sem-abrigo uma sofreguidão faminta, nem consciência tive de um organismo que se habituara a desdenhar da fome e do apetite devorador dos que tudo comem e não deixam nada. Esboçou um sorriso desdentado nascido lá do fundo do desânimo, conseguiu lamber umas lascas do bacalhau, tragar dois goles de vinho e rir, não dando por isso, dos apetites do mundo, assim testemunhando, sem disso ter consciência, o ridículo de “O Mito do Normal”, de Gabor Maté.

_____________

Nota do editor

Último post da série de 28 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26205: (In)citações (269): Hoje, Dia de Acção de Graças, o Thanksgiving Day, nos EUA: que haja paz entre os homens (José Câmara)

quinta-feira, 28 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26205: (In)citações (269): Hoje, Dia de Acção de Graças, o Thanksgiving Day, nos EUA: que haja paz entre os homens (José Câmara)



1. Mensagem de ontem, quarta, 27/11/2024, 23:38, do nosso amigo e camarada José Câmara, daTabanca da Diáspora Lusófona:


Familiares, amigos, companheiros,

Amanhã, 5a. Feira, os EUA celebram a sua grande festa familiar, o Dia de Acção de Graças, o Thanksgiving Day. 

Se me permintem, convido-vos a participar comigo esta tradição que aprendi a viver e a repeitar. Tal como então haja Paz entre os Homens. Abraço do tamanho do mundo.

Haja saúde para todos vós e familiares.
Abraços e beijinhos.
JC


___________


Nota do editor:

terça-feira, 5 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26117: (In)citações (268): Antigos combatentes e capelães... "Confessores da Pátria 'versus' Confessores da Fé" (Manuel Lopes, ex-cap inf, CCAÇ 3396, "Lenços Negros", Moçambique, 1971/73)



Foto nº 3 > Anadia > Moita > 42º convívio anual do pessoal da CCAÇ 3396, "Lenços Negros" (Moçambique, 1971/73) > 25 de maio de 20214 > igreja Matriz de Moita > Foto de grupo, no final da celebração litúrgica.


Fotos (e legendas); © Manuel Lopes (2024). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Por mail do passado domingo dia 27 de outubro, o cor art ref António J. Pereira da Costa, nosso tabanqueiro de longa data (12/12/2007) e  om 203 referências no blogue, chamou-nos a atenção para um curioso texto divulgado por um seu camarada do curso da Academia Militar, do ano de 1964, Manuel Lopes, e que tem por título "60º Aniversário da entrada na Academia Militar: Confessores da Pátria 'versus' Confessores da Fé".

O Tó Zé (TZ, como é conhecido por alguns de nós) ou PK (pelos seus camaradas da AM) sugeriu que o texto poderia eventualmente ter interesse para o blogue.

E até mais: "Lembrei-me de propor ao blogue a atribuição  [do título] de 'Confessores da Pátria' aos padres das Companhias que amparavam a malta nas suas diferentes dificuldades espirituais."

E uma vez obtida a autorização do autor (Manuel Maria Martins Lopes, cor inf ref, ex-cmdt da CCAÇ 3369, "Lenços Negros", Moçambique, 1971/73), aqui vão os dois textos em questão. 


 (i) 60º Aniversário da entrada na Academia Militar: Confessores da Pátria 'versus' Confessores da Fé

por Manuel Lopes (cor inf ref)

Caros camaradas:

No final da celebração da missa, adentro do programa das comemorações do 60º Aniversário da nossa entrada na Academia Militar, tive oportunidade de prestar uma singela homenagem à Igreja que esteve sempre presente durante a nossa atividade militar, lembrando também o Padre Gamboa, o nosso capelão que nos recebeu à chegada.

Evoquei depois o testemunho recente do Padre Vitor Espadilha, que na celebração da missa (dia 25 de maio, na Igreja Matriz de Moita,  Anadia) do 42º Convívio anual de ex-combatentes, revelou que a Igreja tinha uma distinção especial para aqueles que se sacrificaram e deram a vida pela causa da Fé. Chamam-se os 'Confessores da Fé'.

Por isso, para nós que nos sacrificámos e jurámos dar a vida pela Pátria, o Padre Vitor Espadilha distinguiu-nos com a designação de 'Confessores da Pátria'.

Assim, registar as nossas vivências militares faz parte da nossa condição de 'Confessores da Pátria'.

Abraço amigo.

Lisboa, 26 de outubro de 2024

Manuel Lopes

 

(ii) 'Lenços Negros', Confessores da Pátria 'versus' Confessores da Fé

por Manuel Lopes


À semelhança de anteriores convívios anuais organizados pelos ex-combatentes da CCaç 3396, 'Lenços Negros', mobilizados para Moçambique de 1971 a 1973, teve lugar na Moita, Anadia,  no passado dia 25 de maio, como tem sido habitual em todos os convívios, a
celebração de uma Missa por intenção daqueles que já partiram.

A passagem pela Igreja Matriz da Junta de Freguesia da Moita ficaria assim indelevelmente marcada pela saudação especial protagonizada pelo Senhor Padre Vitor Espadilha, na presença de ex-combatentes, familiares e amigos, que aqui destacamos:

“Ao ver os vossos cabelos brancos (alguns já os perderam!...), eu imagino vocês rapazinhos novos, há uns anos atrás, convivendo e sonhando e depois com a vida mais entroncada pelo problema da guerra!...

"Tivestes que ir para lá, sim, não, sim?!...

"Aquilo que foi o Portugal colonial e a separação da Mãe, do Pai, da esposa que ficava!...

"As notícias que chegavam e não chegavam!...

"Saudades da Terra!...

"As diferentes complicações que provocamos e dobramos nos sonhos de qualquer rapaz jovem!...

"Mas será que vocês estavam sós?!

"Agora está alguém ao vosso lado, a vossa esposa, os vossos filhos, os vossos netos!...

"Outros não chegaram, lembramo-los hoje também.

"Celebramos a gratidão e o dom da Vida!...

"Nósm na Igreja, temos uma distinção, com os mártires como São Sebastião. São os que morreram por causa da Fé, são representados com uma palma na mão, são os Confessores que foram para uma situação de luta, arriscando a Vida, prontos a morrer, fortes a dar
ajuda. Esses que estavam dispostos a dar a Vida, chamam-se na Igreja 'Confessores da Fé'.

"Então vocês são 'Confessores da Pátria', por quem lutaram, a quem estavam dispostos a dar a Vida.”


Continuando a celebração da Missa o Senhor Padre Vitor Espadilha convidou os ex-combatentes para se juntarem à sua volta no altar:

“Quando a gente vai num barco ou num avião, o destino do barco ou do avião, é o destino daqueles que lá vão, de todos que o ocupam!

"Ou chega ao porto ou não chega!...

"E vocês que estavam na Companhia, o destino era igual, não é?! Era uma Unidade que vocês criaram, que vos liga profundamente para o resto das vossas Vidas!!...

"Então quero que vocês dêem as mãos e rezem comigo!”




Foto nº 1 > Anadia > Moita > 42º convívioo anual do pessoal da CCAÇ 3396, "Lenços Negros" (Moçambique, 1971/73) > 25 de maio de 20214 > greja Matriz de Moita > Comunhão e partilha em torno do altar


E o Senhor Padre Vitor Espadilha continuou a surpreender-nos com o pedido seguinte:

“Queria que ficasse na Igreja um símbolo da vossa presença!...

"Eu vou pedir a um de vocês que me dê um Lenço Negro!...

"Quem me dá um Lenço Negro?!

"Por favor, não coloque aqui no altar, vai entregar a Ela, a Nossa Senhora de Fátima, para que continue sempre nas mãos Dela!"...


Carlos Costa, organizador do Convívio, subiu então para uma cadeira a fim de colocar um Lenço Negro nas mãos da imagem de Nossa Senhora de Fátima que tinha sido colocada no altar no início da celebração da Missa.

"A partir de agora ficará sempre na Paróquia!!", anunciou o Senhor Padre Vitor Espadilha.



Foto nº 2 > Anadia > Moita > 42º convívio anual do pessoal da CCAÇ 3396, "Lenços Negros" (Moçambique, 1971/73) > 25 de maio de 2024 > Igreja Matriz de Moita > Um Lenço Negro nas mãos de Nossa Senhora de Fátima



Seguiu-se o Cântico entoado e aplaudido por todos os presentes:

Miraculosa, rainha dos Céus,
Sob o teu manto tecido de Luz,
Faz com que a guerra se acabe na Terra,
Paz entre os homens, a Paz de Jesus!
Pelas crianças, flor em botão,
Pelos velhinhos, sem Lar, sem Pão,
Pelos Soldados que à guerra vão,
Senhora,  aceita minha oração!


No final o Padre Vitor Espadilha, qual Lenço Negro, juntou-se à fotografia à saída da Missa na Igreja Matriz, tendo à sua frente o Mateus, neto do Aníbal Duarte Santos, organizador local do Convívio   (Fot0 nº 3, vd. acima).

Alguns dias mais tarde tivemos oportunidade de enviar este email de agradecimento ao Senhor

"Padre Vitor Espadilha:

"Bom dia Senhor Padre Vítor, Lenço Negro:

"Só agora tive conhecimento do seu email, por isso aqui estou a dar notícias.

"Antes de mais os meus agradecimentos, em meu nome, de todos os ex-combatentes, familiares e amigos dos Lenços Negros. A sua benção no altar e a oferta de um Lenço Negro a Nossa Senhora de Fátima serão sempre referências indeléveis do nosso 45º Convívio anual.

"A CCaç 3396 que já tinha sido consagrada a Nossa Senhora em 1971, volta de novo ao seu Convívio, passados 53 anos, reconfortados com a sua mensagem de Paz.

"Obrigado. Vamos continuar em contacto. Vou convidá-lo para a nossa página de 'Moçambique, Lenços Negros' para nos continuar a acompanhar com a sua profunda mensagem de estima, compreensão e solidariedade.

"Obrigado. Abraço. Manuel Lopes"



O Senhor Padre Vitor Espadilha não tardou a responder assim:

"Boa noite. Fico muito honrado...vocês são nossos HERÓIS... contem comigo... sempre..."

Ao fim de 45 Convívios anuais da CCaç 3396, "Lenços Negros", e em tempo de comemoração dos 50 anos do 25 de Abril, nunca nos tinham apelidado de HERÓIS, quais Confessores da Pátria.

A Igreja, como nenhuma outra Instituição através do Padre Vitor Espadilha, soube interpretar e sublimar o tempo de guerra e os sacrifícios que lhe estão intimamente associados.

Habituado a identificar os ex-combatentes como Heróis da Liberdade, foi reconfortante ouvir da parte do Padre Vitor Espadilha a sua identificação como HERÓIS, remetendo-nos para a importância da Igreja e dos valores religiosos a ela ligados que nos acompanharam nos
diferentes teatros de operações.

Bem haja,  Senhor Padre Vitor Espadilha.

Foi reconfortante, salutar e estimulante a nossa passagem pela Igreja Matriz da Moita, marco indelével das nossas vivências de guerra e de Paz.

Lisboa, 16 de junho de 2024.

Manuel Lopes

PS - No programa do Convívio estava a deposição de uma coroa de flores junto ao Monumento dos ex-combatentes, a visita ao Museu do Vinho e a realização de um almoço no Restaurante D. Sancho. Mas o essencial já tinha acontecido na Igreja Matriz da Moita.

(Revisão / fixação de texto, título do poste: LG)

_______________

Nota do editor:

Último poste da série >31 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26100: (In)citações (267): Memorando sobre a Escola São Francisco de Assis, em Timor, entregue ao primeiro-ministro Xanana Gusmão através do embaixador Dionísio Babo Soares, representante do país nas Nações Unidas (João Crisóstomo)

quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Guiné 61/74 - P26100: (In)citações (267): Memorando sobre a Escola São Francisco de Assis, em Timor, entregue ao primeiro-ministro Xanana Gusmão através do embaixador Dionísio Babo Soares, representante do país nas Nações Unidas (João Crisóstomo)



Nova Iorque > 23 de setembro de 2024 >  O João Crisóstomo com Xanana Gusmão:
 e "a expressão de surpresa deste por ver a Escola São Franciscoo de Assis em páginas do  blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné"…



Nova Iorque > 23 de setembro de 2024 >  O João Crisóstomo, à direita, com 3 timorenses, da esquerda para a direita: 
(i) Luís Guterres, embaixador de Timor Leste em Washington;  (ii) Dionísio Babo Soares, embaixador de Timor nas Nações Unidas;  e (iii) uma senhora, possivelmente a ministra da educação do govermo de Xanana Gusmão


Fotos (e legendas): © João Crisóstomo  (2024). Todos os direitos reservados 
[Edição e lendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


João Crisóstomo, um "advogado de causas 
justas e solidárias"


1. Mensagem de João Crisóstomo, com data de 4 do corrente, dando conta aos amigos de Timor da correspondência trocada com o embaixador timorense nas Nações Unidas, Dionísio Bobo Soares, depois do encontro que teve em Nova Iorque, em 23 de setembro último,com o primeiro-ministro Xanana Gusmão.

Sabemos que o embaixador Dionísio Babo Soares já encaminhou para o seu governo o memorando, feito pelo João Crisóstomo, na sua qualidade de sócio da ASTIL,  sobre a ESFA - Escola São Francisco de Assis. Fazemos votos para que estas diligências tinham um fim feliz, por mor das crianças de Liquiçá, Manatti / Boebau.


(i) Senhor Embaixador Dionísio Babo Soares, Representante de Timor Leste nas Nações Unidas Nova Iorque, 4 de Outubro de 2024

Creio que os dias de grande azáfama nas Nações Unidas devem ter passado ou pelo menos estarão agora reduzidos a programas menos prementes que lhe permitam já um pouco de merecido descanso. Por isso permito-me enviar o que segue, conforme acordado por Vossa Excelência depois do encontro com o Senhor Primeiro-Ministro Xanana Gusmão.

Minha esposa Vilma associa-se a mim na certeza da nossa amizade e apreço pela sua atenção e os nossos respeitosos cumprimentos.

João Crisóstomo


(ii) Ex.mo Senhor Embaixador Dionísio Babo Soares

Mais uma vez o meu "Muito muito Obrigado" pela oportunidade e convite que nos permitiu encontramo-nos de novo no dia 23 de setembro, o que me permitiu ainda o encontrar-me com Sua Excelência o Senhor Primeiro-Ministro Xanana Gusmão (*), Embaixador Luís Guterres, Senhora Elisabeth Exposto e tantos outros que fizeram desta ocasião um dia extraordinário.

Como sabe,  aproveitei a ocasião, e em boa hora o fiz, para pedir a sua Excelência o Senhor Primeiro-Ministro Xanana Gusmão o favor da sua ajuda para a escola S. Francisco de Assis (por coincidiência hoje, dia 4 de outubro, é o dia de S. Francisco de Assis na Igreja Católica).

Conforme instruções do senhor Primeiro-Ministro, junto uma sinopse do que julgo ser o que Sua Excelência tinha em mente nas instruções que me deu:
 
  • A Escola S. Francisco de Assis é uma escola construida em 2017 nas montanhas de Liquiçá por iniciativa de alguns amigos de Timor Leste em Portugal e Estados Unidos, que para isso fundaram uma organização de solidariedade, a ASTIL (Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste ). 
  • Esta escola foi inaugurada a 19 de Março de 2018.
  • A "Escola S. Francisco de Assis, Paz e Bem” está localizada no Município de Liquiçá, Suco de Leotalá, povoação de Boebau e lugar de Manati.
  • A Escola S. Francisco de Assis está integrada na rede escolar do Ministério de Educação de Timor Leste com o número 36. 
  • O seu objectivo é providenciar às crianças de Manati /Boebau que por razões de distância e outras não têm acesso a escolas, os programas escolares instituídos pelo ministério de Educação de Timor Leste para os graus pré-escolar e ensino básico.
  • A Escola preocupa-se em formar os seus alunos no quadro dos valores universais e da cultura timorense, com especial ênfase para o ensino da língua e cultura portuguesa com  destaque para a música.
  • Quando em plenbo funcionamento a escola tem capacidade para 180 alunos, contabilizados nos dois períodos matinal e vespertinos.
  • Dadas as limitações e dificuldades ainda existentes a escola desde a sua inauguração tem funcionado e providenciado cada ano ensino apenas para 80 a 85 alunos.

Todos os encargos e despesas de construção, manutenção, ensino e outros relacionados têm até ao momento sido suportados essencialmente pelos membros da ASTIL e amigos.

A ASTIL tem neste momento 85 sócios. Deve-se a esta o seguinte :

(i) Construção da "Escola S. Francisco de Assis, Paz e Bem”, localizada no Município de Liquiçá, Suco de Leotalá, povoação de Boebau e lugar de Manati.

(ii) Construção de uma casa/residência, T3, para uso dos professores.

(iii) Construção de uma cozinha. (Esta porém como está é pequena demais e precisa de ser remodelada para maior eficiência.)

(iv) Um muro, que neste momento está ainda em vias de construção para proteção da escola e dos alunos

(v) Fornecimento de todo o equipamento escolar incluindo todo o mobiliário.

(vi) Fornecimento de formação gratuita , em média de 84 alunos, do ensino pré-escolar e ensino básico.

(vi) Pagamento das compensações, até ao momento a três professoras e um responsável de manutenção da escola. O seu bom funcionamento porém é mais devido ao sentido de solidariedade do que pelos benefícios derivados por emprego.

(vii) Os uniformes ( fardamento) e materiais escolares têm sido totalmente gratuitos.

À ASTIL se deve ainda :

(viii) A construção de uma casa /residência T3 para um antigo comandante de guerrilha em Ailok-Laram, já falecido em 2021,  que tinha uma grande família, mas que vivia em grandes dificuldades.

(ix) O fornecimento de ajuda a crianças pobres através dum programa de apadrinhamento criado pela ASTIL. Neste momento 41 crianças são ajudadas por membros da ASTIL, famílias portuguesas ou de origem portuguesa a residir no estrangeiro, nomeadamente nos Estados Unidos.

(x) Ajuda a dois jovens universitários, um de Liquiçá , que se licenciou em Gestão na Indonésia, e uma jovem, também de Boebau, que, graças também à ajuda da UNPAZ, se licenciou em Relações internacionais. Esta jovem é agora uma das professoras nesta escola S. Francisco de Assis.

A presente situação desta escola, mesmo nas condições presentes,  não é sustentável indeterminadamente. Temos feito vários contactos, nomeadamente com o Senhor Dr. Roger Soares, coordenador das escolas CAFE de Timor Leste.

A "Escola S. Francisco de Assis Paz e Bem “ para que possa continuar a funcionar precisa agora da ajuda das entidades oficiais de Timor Leste, especialmente na concessão de professores acreditados, para que possa funcionar e providenciar o ensino e ajuda a estas crianças.

O mentor e motor principal desta escola é o professor Rui Chamusco , cujos contactos são  (...).

Se achar que precisa de mais algo por favor não hesite em me contactar ou diretamente ao professor Rui Chamusco. 

João Crisóstomo (**)

(Revisão / fixação de texto para efeitos de publicação deste poste: LG)
___________________

Notas do editor

(*) Vd.poste de 24 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26072: (In)citações (266): Será que é desta ?... Se Xanana Gusmão não vai à nossa Escola nas montanhas de Liquiçá, a nossa Escola vai ter com ele em... Nova Iorque (João Crisóstomo)

(**) Último poste da série > 26 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26082: (In)citações (267): Não às armas nucleares e às mudanças climáticas: carta do Papa Francisco e o testemunho dos Hibakusha (os sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki), cuja organização, a Nihon Hidankyo, acaba de receber o Nobel da Paz de 2024 (João Crisóstomo, Nova Iorque)

sábado, 26 de outubro de 2024

Guiné 61/74 - P26082: (In)citações (267): Não às armas nucleares e às mudanças climáticas: carta do Papa Francisco e o testemunho dos Hibakusha (os sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki), cuja organização, a Nihon Hidankyo, acaba de receber o Nobel da Paz de 2024 (João Crisóstomo, Nova Iorque)

1. Mensagem de João  Crisóstomo, o "nosso embaixador" em Nova Iorque e o nosso "régulo"da Tabanca da Diáspora Lusófona, conhecido ativista de "causas sociais " (como Foz Coa, Aristides Sousa Mendes, Timor Leste...).

Data segunda, 14/10/2024, 12:14 

Assunto - Uma carta do Papa Francisco e o Nobel da Paz de 2024
 
Meus caros,

Há muito que eu sinto que temos de “tocar os sinos a reboque” antes que seja tarde demais (*), O Comité do Prémio Nobel parece concordar comigo.

Estou a enviar isto a toda a gente a que eu possa chegar. Façam disto o que bem entenderem. Sei que "não é nenhum assunto da Guiné”, mas se alguma vez o pior acontecer nem mesmo a Guiné vai escapar. É um assunto de todos e cada um de nós.

Um grande abraçø
João

————————————————————

Uma carta do Papa Francisco e o Nobel da Paz

O Nobel Committee acaba de anunciar que o Prémio Nobel da Paz 2024 foi atribuído a Hihon Hidankyo (**), a organização japonesa que tem lutado pela eliminação das armas nucleares.

Este prémio veio mesmo no momento certo, como sucedeu em 1996 quando a luta pela independência de Timor Leste recebeu renovada energia pela atribuição deste prémio.

De facto é difícil compreender a indiferença e apatia quase geral com que o problema das armas nucleares é tratado, quando da solução deste problema depende a nossa própria sobrevivência e a do nosso planeta.

A proliferação de armas nucleares, em vez de ser objeto de diálogo e conversações visando uma redução agora e num futuro a sua eliminação, tem aumentado em número de armas nucleares e de países que as possuem.

Situações como as no Médio Oriente, Ucrânia, Coreia do Norte em que os governantes fizeram e continuam fazendo ameaças sobre um eventual uso de armas nucleares,  exigem um despertar de consciências e esforços visando a sua eliminação progressiva até à sua eliminação completa. Antes que uma situação sem controle, antes que um lunático seja ele político, militar ou mesmo religioso,  com acesso ao botão vermelho,  resolva pressioná-lo.

Se o que temos presenciado é já horrível, imaginemos uma situação, comece ela onde for, no Médio ou Extremo Oriente ou qualquer parte do mundo em que armas nucleares fossem usadas. Muito provavelmente o mundo inteiro no espaço de algumas horas será transformado num inferno a nível global. Nada mais horrível do que o desespero de uma morte pelo fogo; mas se nada se fizer para que isso nunca suceda é muito provável que mais cedo ou mais tarde seja mesmo esse o destino de todos nós, o destino da humanidade.

Nessa altura tudo será tarde demais.

No ano passado ao ouvir palavras ameaçadoras em várias regiões de conflito, resolvi juntar a minha inquieta voz às daqueles que tem lutado por uma solução. Uma inesperada situação de saúde não me permitiu fazer muito. Mas o que fiz foi o suficiente para me aperceber de que existe muita gente preocupada e ansiosa pela falta de iniciativas e esforços direcionados na solução desta grande ameaça que paira sobre todos nós.

A rapidez com que recebi uma resposta do Papa Francisco a quem me dirigi também, mostra o seu grau de preocupação:

 "Estamos preocupados com as catastróficas consequências…que poderiam resultar de qualquer tipo de uso de armas nucleares", diz o Papa Francisco na sua carta de cinco de Fevereiro deste ano, para logo a seguir acrescentar: "O destino da humanidade e do nosso planeta está nas nossas mãos e nas das novas gerações"....

A quem me ouvir eu peço que não ignorem este apelo do Papa e de muitos outros indivíduos responsáveis com indiferença. Embora eu não saiba a melhor maneira de acção, permitam-me sugerir que uma das maneiras de fazer ouvir a nossa voz - e fazendo-o sermos influentes no nosso destino - , é a de contactarmos, se possível por escrito, os nossos dirigentes , a nível local, nacional ou mesmo mundial. Dirijo-me especialmente à gente nova a quem desafio a serem os nossos lideres neste movimento.

Não receiem fazê-lo porque na maioria dos casos eles ouvem quem os procura e por vezes até esperam estes contactos que lhes permitam agir com confiança.

Este Prémio Nobel da Paz pode ajudar a que as vozes de senso comum sejam ouvidas e prevaleçam. E não esqueçamos nunca que "o destino da humanidade (…) está nas nossas mãos e nas das novas gerações."

João Crisóstomo

==========================

A carta que recebi, a 5 de fevereiro de 2024, do Secretário de Estado, Cardeal Pietro Parolin em nome do Para Francisco é como segue: ( a tradução é minha)

« Sua Santidade o Papa Francisco recebeu a sua carta de 1 de janeiro passado, e pediu-me para lhe agradecer o ter dado a conhecer a sua preocupação com problemas relacionados com a sobrevivência da humanidade, devido às mudanças climáticas e ao potencial perigo das armas nucleares.

A Santa Sé está profundamente comprometida a convencer/estimular a comunidade internacional a tratar efetiva e responsavelmente estes problemas . O Papa Francisco está convencido de que, 'somos todos uma só família. Não há fronteiras ou barreiras, políticas ou sociais, atrás das quais nos podemos esconder e, muito menos ainda, não há espaço para a globalização de indiferença (Laudato si’, n.52).

No que diz respeito às mudanças de clima (… a transição para um “ net- zero” precisa de ser grandemente acelerada. …).   Estamos num ponto critico: sem uma mudança nos modelos de consumo e produção, assim como da forma de vida, esta transição será muito vagarosa. Nesta perspetiva , temos de nos comprometer connosco mesmos a promover uma educação para uma ecologia integral, e é essencial o envolvimento da juventude.

No que diz respeito a armas nucleares, posso garantir-lhe que o Santo Padre não se poupa a esforços para promover um mundo livre de armas nucleares. (…) 

 Estamos preocupados com as consequências humanitárias e ambientais catastróficas que poderiam resultar de qualquer uso de armas nucleares. 

 (…) Estamos também preocupados pelas consequências negativas que resultam dum continuo clima de medo, falta de confiança e de resistência, gerados pela simples posse das armas.

O envolvimento da juventude é também importante no processo de não proliferação e do desarmamento nuclear.

O destino da humanidade e do nosso planeta está nas nossas mãos e nas das novas gerações, que irão 'passar a pasta' a outras gerações. Conforme nos foi mandatado por Deus, é nossa responsabilidade assegurar um futuro digno de ser vivido. Para conseguir isto , temos de ter coragem de mudar de rumo e evitar roubar a esperança às novas gerações.(…)"

(Assinado) , Pietro Parolin
_____________

Notas do editor:


(**) The Nobel Prize > Press Release > The Nobel Peace Prize

(...) O Comité Norueguês do Nobel decidiu atribuir o Prémio Nobel da Paz de 2024 à organização japonesa Nihon Hidankyo. 

Este movimento popular de sobreviventes da bomba atómica de Hiroshima e Nagasaki, também conhecido como Hibakusha, acaba de receber o Prémio Nobel da Paz pelos seus esforços para alcançar um mundo livre de armas nucleares e por demonstrar,  através de depoimentos de testemunhas, que as armas nucleares nunca deverão ser utilizadas novamente. 

Em resposta aos ataques com a bomba atómica, em Agosto de 1945, surgiu um movimento global cujos membros trabalharam incansavelmente para aumentar a consciencialização sobre as consequências humanitárias catastróficas da utilização de armas nucleares. 

Gradualmente, desenvolveu-se uma norma internacional poderosa, estigmatizando a utilização de armas nucleares como moralmente inaceitável. Esta norma ficou conhecida como “o tabu nuclear”. O testemunho dos Hibakusha – os sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki – é único neste contexto mais amplo. (...)

 (tr. do inglês, Google translate / LG)

Fonte:   Press release. NobelPrize.org. Nobel Prize Outreach AB 2024. Sat. 26 Oct 2024. 

<https://www.nobelprize.org/prizes/peace/2024/press-release/>

(Seleção, revisão / fixação de texto: LG)

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Guiné 61/74 - P26072: (In)citações (266): Será que é desta ?... Se Xanana Gusmão não vai à nossa Escola nas montanhas de Liquiçá, a nossa Escola vai ter com ele em... Nova Iorque (João Crisóstomo)



Foto nº 1 > Timor > Díli > 2017 > Xanana Gusmão, João e Vilma 
 


Foto nº 2 > Timor > Díli > 2017 > Ramos Horta, João e Vilma 


Foto nº 3> Timor > Díli > 2017 > Mari Alkatiri, João e Vilma 


Foto nº 4 > Timor > Díli > 2017 > Rui Maria Araújo, 
Primeiro Ministro nessa altura. João e Vilma


Foto nº 5 > Nova Iorque > 23 de setembro de 2024 >  Com Xanana Gusmão:
 "a expressão de surpresa por ver a Escola em páginas dum blogue sobre a Guiné"…



Foto nº 7 > Nova Iorque > 23 de setembro de 2024 > Protestei, mas o Xanana foi mais teimoso e insistiu em ajudar.( Fez-me lembrar uma experiência semelhante em que Elie Wiesel fez questão de me ir abrir as portas quando eu carregava duas cadeiras.)



Foto nº 8 > Nova Iorque > 23 de setembro de 2024 >   
Eu e Xanana:  Se for desta que a Escola arranja professores, 
esta foto vai ficar numa parede…



Foto nº 9> Nova Iorque > 23 de setembro de 2024 >  
Com Luís Guterres, Embaixador de Timor Leste em Washington; 
Dionísio B. Soares, Embaixador de Timor nas Nações Unidas; 
uma senhora, não tenho a certeza ,mas penso 
que é Dulce Soares, ministra da cultura; e eu.



Foto nº 10> Nova Iorque > 23 de setembro de 2024 >   
Embaixador Luís Guterres; o nosso Embaixador de Portugal 
em Washington Francisco Duarte Lopes; 
Xanana; eu, a Vilma e...uma senhora que foi-me apresentada 
mas não me lembro quem é (ai o que faz a velhice…).



Foto nº 11> Nova Iorque > 23 de setembro de 2024 > 
 Xanana autografando o livro 
para o Rui Chamusco (que vive na Lourinhã)



Foto nº 12 > Nova Iorque > 23 de setembro de 2024 > 
 A dedicatória do Xanana:  "Para Rui Chamusco:Muito agradecido
pela escola que construiu em Timor Leste!... 
Muita amizade. Xanana, NY, 23 setembro 2024"

O último livro de Kay Rala Xanana Gusmão
(O Meu Mar, O Meu Timor)

 

Foto nº 6> Nova Iorque > 23 de setembro de 2024 > 
Xana, a Vilma e eu... Ele fifcou contente pelo livro “LAMETA” 
que lhe entreguei: que nunca tinha recebido 
o primeiro que lhe enviei… o que me leva a concluir 
que outros assuntos também nem sempre chegam 
aos seus destinos…


Fotos (e legenda): © João Crisóstomo  (2024). Todos os direitos reservados 
[Edição e lendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem do João Crisóstomo, o "embaixador" da nossa Tabanca Grande em Nova Iorque, régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, ativista de causas sociais, etc.

Data - terça, 24/09/2024, 20:00
 Assunto - Será desta ? 


Caro Luís Graça (c/c Rui):


Será desta?


Como sabes tem sido longa a nossa luta para conseguirmos professores acreditados (oficializados) para a escola de S. Francisco de Assis em Timor Leste (*). Temos batido a todas as portas em Portugal e em Timor Leste, mas a solução tem-se mostrado elusiva. 

Em vários casos estes esforços têm sido feitos em encontros e contactos pessoais; em outros casos quando um contacto pessoal tem sido possível, a situação tem sido dada a conhecer através de assessores que sempre garantem que os nossos pedidos chegarão aos destinatários. Não sei se chegam ou não. A verdade é que temos ficado sempre esperando!.

Embora eu tivesse estado com vários líderes em 2017, quando fui a Timor Leste pela primeira vez, nessa altura o projecto da escola apenas existia na mente do casal Glória e Gaspar Sobral e do Rui Chamusco. Este havia-me falado dessa ideia , mas eu ainda não tinha ido às montanhas e não fazia ideia da situação e que necessidade desta escola era tão premente.

Encontrei-me nessa altura com Xanana, 17 anos depois do nosso último encontro em Nova Iorque: um encontro muito agradável, direi mesmo uma experiência extraordinária. 

Como sucedeu com Mari Alkatiri, que tinha sido Primeiro Ministro quando Xanana foi Presidente na primeira administração após a independência de Timor Leste , ou com Ramos Horta e com Rui Maria Araújo, que era o Primeiro Ministro nessa altura. Mas nesta altura o projecto da construção duma escola ainda não existia sequer na minha mente.

Os nossos esforços, especialmente por parte do Rui Chamusco que já foi a Timor Leste cinco vezes (**), têm sido razão de muita frustração. Tenho uma admiração enorme por este homem que não desiste, com uma perseverança contagiante que leva os outros a continuarem e a não perderem a esperança. E tem sido esta perseverança dele que me tem motivado a não desistir também.

E, assim de repente, apareceu uma oportunidade que eu não esperava: o Embaixador de Timor Leste nas Nações Unidas, Dionísio Babo Soares, com quem há tempos me encontrei, mandou-me uma mensagem: que o atual Primeiro Ministro de Timor Leste, Xanana Gusmão, em Nova Iorque por ocasião da Assembleia Geral da ONU, ia lançar um livro sobre o mar de Timor “My sea, my Timor”... e se eu estava interessado em aparecer.

Primeiro eu não via razão para ir: depois do acidente que tive há meses decidi ter mais cautela e tenho-me limitado apenas ao mesmo necessário. Mas logo refleti : porque acredito em contactos pessoais como o melhor meio de se conseguirem resultados (como no caso de Aristides de Sousa Mendes e o “Dia da Consciência” junto do Vaticano que tentávamos desde 2004, mas que apenas começou a receber a devida atenção depois dum encontro pessoal com o Secretário de Estado), logo me lembrei que sendo ele agora Primeiro Ministro,  seria uma boa ocasião para tentar falar com ele pessoalmente sobre a escola S. Francisco de Assis…

E mesmo em cima da hora decidi ir. Não tinha tempo para preparações , mas tinha à minha frente alguns posts do nosso blogue sobre as crónicas do Rui Chamusco que tinha acabado de imprimir. São várias centenas já, pois que eu, não sendo letrado em coisas digitais, imprimo tudo o que acho de especial interesse. Apanhei duas ou três folhas onde aparecem a escola e as crianças da escola e levei-as comigo.

Quando cheguei, o Xanana tinha também acabado de chegar. E estava ainda cá fora, muito efusivo a cumprimentar outras pessoas quando nos viu e reconheceu. E até eu fiquei surpreendido pelos abraços e receção calorosa que nos deu. 

E lembrou aos presentes que nos tínhamos encontrado aqui em Nova Iorque no ano 2000. Com receio de não ter oportunidade de falar com ele mais tarde, como sucede muitas vezes nestes casos, logo lhe disse se podia falar com ele sobre um assunto que achava importante, uma escola nas montanhas de Timor Leste, ao mesmo tempo que lhe mostrava essas folhas do nosso blogue. 

Ficou surpreendido,  pensando ser engano : “Mas… como é? … esta escola é na Guiné?"… 

Explicada a razão de que Timor Leste era também assunto importante para os “camaradas e amgos da Guiné" e quantos lessem este blogue, aceitou a explicação. Solícito, ao ver a minha bengala até fez questão de me ajudar a subir as escadas …

E depois de termos cumprimentado alguns convidados presentes que já conhecíamos e outros que nos foi apresentando, foi ele que me me levou para um banco mais afastado "para falarmos melhor”.

Antes de prosseguirmos para o “momento de lançamento do livro",  mandou chamar o Embaixador de Timor-Leste nas Nações Unidas (o mesmo que nos convidou para este evento) a quem instruiu para colher as informações pertinentes sobre este assunto.

Já depois do lançamento, eu pedi-lhe a sua assinatura no livro que queria enviar ao Rui Chamusco. Logo que cheguei a casa apressei-me a chamar o Rui a quem dei conhecimento de tudo e dum livro que tenho aqui para ele, devidamente autografado pelo Xanana.

Fico esperançado que não tenha sido uma conversa em vão! 

Será desta? (**)

João
====

PS - Como não sei fazer melhor, aqui vão algumas fotos, com as devidas legendas, se as achares pertinentes e quiseres usá-las.

Legendas:

As primeiras quatro fotos foram tiradas em 2017 durante a nossa primeira visita a Timor Leste.

1 > c/ Xanana | 2 >c/  Ramos Horta | 3 >  >  c/ Mari Alkatiri |  4 > Até parece anedota com Rui Maria Araújo, Primeiro Ministro nessa altura.

As oito seguintes foram tiradas ontem (23 de setembro de 2024).

5 > Podes ver a expressão de surpreza do Xanana por ver a Escola em páginas dum blogue sobre a Guiné…

6 > Ficou contente pelo livro “LAMETA” que lhe entreguei: que nunca tinha recebido o primeiro que lhe enviei… o que me leva a concluir que outros assuntos também nem sempre chegam aos seus destinos…

7 > Protestei, mas ele foi mais teimoso e insistiu em ajudar.( Fez-me lembrar uma experiência semelhante em que Elie Wiesel fez questão de me ir abrir as portas quando eu carregava duas cadeiras).

8 > Se for desta que a escola arranja professores, esta foto vai ficar numa parede…

9 > Com Luís Guterres, Embaixador de Timor Leste em Washington; Dionísio B. Soares, Embaixador nas Nações Unidas; (não tenho a certeza ,mas penso que é Dulce Soares, Ministra da cultura).

10 > Embaixador Luís Guterres; o nosso Embaixador de Portugal em Washington Francisco Duarte Lopes; Xanana e (???) (a senhora foi-me apresentada mas não me lembro quem é;  ai o que faz a velhice…).

11 > Xanana autografando o livro para o Rui Chamusco.

12> A página com a dedicatória...

(Revisão / fixação de texto: LG)

___________

Notas do editor:

(*) 17 de setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25950: (In)citações (261): tudo o que temos pedido é que forneçam professores devidamente acreditados para a Escola de São Francisco de Assis (ESFA), nas montanhas de Liquiçá, Timor Leste (João Crisóstomo, Nova Iorque)

(**) Vd.postes de:



domingo, 6 de outubro de 2024

Guiné 61/74 - P26015: (In)citações (265): "Entre o Sono e Sonho, Pesadelos", por Juvenal Amado, dedicado a "Manuela"

1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 4 de Outubro de 2024:

Caros camaradas
A nossa geração foi moldada por tempos difíceis, mas nada nos preparou para vermos os nossos sofrer com impiedosas maleitas de fim incerto que a vida nos presenteia. 20 meses passados veio a notícia de que o mal disseminado pelo o corpo todo, tinha sido derrotado.

Mais uma vez o SNS na forma do hospital S. Francisco Xavier e IPO foram o caminho para esta vitória sobre o sofrimento e a adversidade. Bem hajam os médicos , técnicos e enfermeiros pelo o trabalho e carinho.
Abraços



ENTRE O SONO E SONHO
PESADELOS


A notícia chegou nas asas negras do desespero
Ouvíamos silenciosos
Expectantes incrédulos
Estaria a falar de ti ou seria um sonho?
A portadora tentava modelar o impacto
devastador da confirmação
A negritude da noite pairava
Apertei-te a mão
Vieram as sessões de quimioterapia
Num acto de coragem rapaste o cabelo
Ali estavas desprovida de adornos
Bela na sua face mais primária
Os vómitos as dores os desânimos
O internamento as transfusões
Regressaste a casa com uma força que nunca julgaste ter
A pele cor de terra
Afundada na neutropenia
A seguir emergias
Reerguias-te do vale de sombras
Para continuar o combate desigual
Perguntavas se terias salvação e sorrias
Orgulhosamente olhaste a morte de frente
O calvário continuou com a rádioterapia
Sem queixume sem pragas
Só doçura só amor pelos outros
Esperas o que Futuro nos trás
És a imagem própria coragem
Tu nunca aceitaste a finidade sem luta
O longo sono pode esperar
Mais uma vez venceste.


“Para Manuela”.
Juvenal Sacadura Amado

_____________

Nota do editor

Último post da série de 26 de setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25984: (In)citações (264): Naquela época era-nos proibido falar muito sobre a política da guerra em África (Tony Borié, ex-1.º Cabo Op Cripto)