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quinta-feira, 4 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27182: Felizmente ainda há verão em 2025 (30): A "política de terra queimada": a guerra peninsular (1807-1814) e a guerra colonial no CTIG (1963/74) - II (e última) Parte



PAIGC > "O Nosso Livro 2ª Classe".  Reprodução da Lição nº 8 - Morés, pp. 28-29. O manual era também um instrumento de propaganda e doutrinação política.  É óbvio que o PAIGC nunca poderia ter, a céu aberto, um tabanca no Morés (ou no Cantanhez ou no Fiofioli)....Mas a lição era também para ser "lida" pelos amigos suecos e outros... E quem elaborava estes manuais não tinha verdadeiro conhecimento do terreno nem da luta de guerrilha, procurando sobretudo glorificar o Partido (sic) e dar um retrato idealizado, heróico e até romântico da vida nas "áreas libertadas"...  

Sabemos, infelizmente, como eram "as escolas, os hospitais e os armazéns do povo" nas áreas sob controlo IN... Mas também sabemos que a guerra de contraguerrilha (ou antissubversiva) era implacável... A palavra de ordem era sempre, para nós, operacionais: (i) aniquilar o inimigo; (ii) destruir todos os seus meios de vida; e (iii) recuperar/ aprisionar a população sob o seu controlo... Como em todas as guerras, em todos os tempos...


Um exemplar deste manual escolar do PAIGC, "O Nosso Livro - 2ª Classe", foi-nos remetido em 2007,  pelo correio, pelo Paulo Santiago (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72).  O livro foi elaborado e editado pelos Serviços de Instrução do PAIGC - Regiões Libertadas da Guiné (sic). Tem o seguinte copyright: © 1970 PAIGC - Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde. Sede: Bissau (sic)...  (Só faltava o SPM, quer dizer, o código postal.)

A  primeira edição teve uma tiragem de 25 mil exemplares, tendo sido impresso em Upsala, Suécia, em 1970, por Tofters/Wretmans Boktryckeri AB.

Não é novidade para ninguém que a Suécia (a par da Noruega,  Holanda e outros países da Europa do Norte) foi o país ocidental que mais apoiou o  PAIGC, durante a guerra de guerrilha, não só política e diplomaticamente, como em termos financeiros e logísticos  (nomeadamente, no campo da educação, saúde, alimentação, transportes e comunicação).

Foto: © Luís Graça  (2007). Todos os direitos reservados. Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


1. Na Guiné-Bissau, as queimadas faziam (e ainda fazem)  parte de uma prática ancestral: eram utilizadas sobretudo para renovar a fertilidade dos solos e criar novas zonas de pastagem para o gado. Era uma técnica agrícola comum em várias regiões de África, adaptada ao clima de estação seca e às necessidades das comunidades locais.

Todavia, durante a guerra colonial (e em especial entre 1963 e 1974), essa prática assumiu um carácter diferente. Tanto o PAIGC como o Exército Português recorreram à chamada “política da terra queimada”. 

Nada, afinal,  que não se tenha visto antes em outras guerras do século, ou até mesmo no passado (como a guerra peninsular, 1808-1814) (*).

No caso da Guiné, as práticas de "terra queimada", utilizadas pelos dois contendores,  incluíam:
  • Fogo posto no capim (ervas altas e secas), no tempo seco, dificultando a movimentação, aproximação e/ou ocultação do inimigo, eliminação de possíveis pontos de emboscada, etc ;
  • Bombardeamentos (recorrendo inclusive a bombas, granadas e balas  incendiárias) que destruíam aldeias, plantações e meios de subsistência (de um lado e do outro);
  • Criação de zonas devastadas para privar o adversário de apoio logístico e alimentar (por exemplo bolanhas, esconderijos, hortas ou pontas, poços, cais acostáveis, pontões, poços, linhas de telefone...);
  • Abate indiscriminado de gado vacum,  suino e caprino  bem como de todos os animais de criação (galinhas e até cães);
  • Destruição de culturas (mancarra) e de  todas as reservas alimentares (arroz) ...
Este uso da terra queimada teve consequências graves:
  • Ambientais e geográficas: destruiu importantes extensões de savana arbustiva, floresta e biodiversidade;
  • Sociais e demográficas: obrigou populações inteiras a deslocarem-se; riscou do mapa muitas tabancas (veja-se as cartas militares elaboradas na década de 50, antes do início da guerra; compare-se as tabancas que existiam e as que desapareceram com o início da guerra);
  • Económicas: dificultou a agricultura, com o abandono de bolanhas, e limitou a criação de gado, levando à desnutrição e à fome.

Algo que era uma prática tradicional de uso agrícola, já de si devastadora para o ambiente, com  degradação dos solos, etc.,  transformou-se, no contexto da guerra, numa estratégia militar destrutiva.

O uso do napalm (e/ou outras bombas incendiárias como o fósforo branco), por parte da FAP, terá sido limitado.   Contrariamente ao que aconteceu, por exemplo,  na Argélia e no Vietname... De resto, a escala era outra.

Mas também temos falado aqui pouco do tema, o uso de napalm e outras bombas incendiárias na Guiné, no contexto da política  de "terra queimada". 

O assunto está, de resto,  mal documentado e prestou-se no passado  (e ainda hoje) a relatos fantasiosos e propagandísticos.

 (i) Contexto histórico

O nosso blogue,
 outros testemunhos de antigos combatentes, bem como fontes académica reportam que tanto os guerrilheiros do PAIGC quanto as forças portuguesas recorriam ao fogo, tanto através de bombardeamentos aéreos (FAP) e artilharia  como pela queima deliberada de capim e vegetação seca, para dificultar as movimentações adversárias e destruir infraestruturas. 

O ataque a tabancas fulas, com balas incendiárias, por exemplo, era vulgar por parte do PAIGC no meu te,mpo (1969/71).
  
 
(ii)  Destruição de recursos e animais domésticos

Além das queimadas e bombardeamentos, tanto o Exército Português como o PAIGC recorreram a métodos que visavam privar o inimigo e as populações civis de recursos básicos.

Entre essas práticas destacavam-se:

  • abate indiscriminado de gado bovino, suino e caprino,além de criação doméstica ( galinhas, etc.) que representavam a riqueza e sustento das tabancas  (nas chamadas "áreas libertadas");

  • destruição de arrozais, "pontas" (hortas) e palmeirais,  pilares da subsistência alimentar;

  • O incêndio de celeiros e depósitos de arroz, essencial na dieta guineense.

(iii) Consequências imediatas
  • Fome generalizada, desnutrição: ao destruir  o gado e os alimentos, a guerra atingia diretamente os mais vulneráveis, mulheres, crianças e idosos;
  • Deslocações forçadas: aldeias inteiras foram obrigadas a abandonar as suas terras para procurar sobrevivência noutras zonas;
  • Colapso económico local: ao destruir os animais e colheitas, a base produtiva da sociedade rural guineense foi desmantelada.
(iv) Exemplos e relatos

Testemunhos de ex-combatentes portugueses e relatórios de operações como a Op Lança Afiada, lembram que as operações de “limpeza” incluíam não só a queima do capim, mas também o abate sistemático de animais e destruição de outros víveres, como arroz, deixando as tabancas devastadas.

Um antigo guerrilheiro do PAIGC relatou que muitas vezes, depois de uma ofensiva da tropa, regressavam às tabancas e encontravam os celeiros queimados e os animais mortos, como forma de pressão psicológica para afastar a população do apoio à guerrilha.

Nas memórias orais recolhidas em comunidades guineenses, ainda hoje se recorda o período da guerra como “o tempo da fome e do fogo”.
 

2. A Operação Lança Afiada (8–19 de março de 1969, Setor L1, Bambadinca)

(i) Contexto e Objetivos

Operação Lança Afiada foi uma das grandes operações de “limpeza” executadas pelo Exército Português no setor Leste (L1), região de Bambadinca, em março de 1969. Contou com cerca de 1 300 efetivos (incluindo oficiais, sargentos, praças, milícias e carregadores)  sob comando do coronel Hélio Felgas blogueforanadaevaotres.blogspot.com.

O objetivo declarado era eliminar, capturar ou expulsar o IN (inimigo), aprisionar a população sob o seu controlo,  e também destruir os recursos de vida com os quais as populações ali se sustentavam, forçando seu retorno sob controle português.

(ii) Impacto sobre gado e arroz

Durante a operação, foram destruídas numerosas tabancas,  queimados arrozais e mortos milhares de animais,  incluindo gado e animais domésticos, como parte da estratégia de terramoto na subsistência.

(iii) Condições e consequências humanas

A operação decorreu sob calor extremo ( entre 39 °C e 44 °C à sombra, e até 55–70 °C ao sol) com os soldados frequentemente revoltados com as rações fornecidas (classificadas como "intragáveis"), gerando uma sede extrema e problemas alimentares sérios; após o segundo dia, muitos já não conseguiam comer, e havia sinais de desnutrição e esgotamento.

Muitos soldados foram evacuados:  110 foram retirados por desidratação, desnutrição, esgotamento físico ou stress psicológico.

(iv) Resultado tático e retaliações

Combatentes do PAIGC e populações civis conseguiram atravessar o rio Corubal juntamente com um mínimo de víveres  (como cães, porcos e galinhas), escapando da operação (não havia tropa na margem esquerda do rio, nomeadamente fuzileiros e paraquedistas, como tinha sido recomendado pelo cérebro da operação, o cor inf Hélio Felgas).

Além disso, conforme relatos posteriores, o PAIGC retaliou com flagelações, embora a distância e furtando-se ao contacto directo,  mostrando desse modo que a operação esteve longe de  neutralizar os seus bigrupos ( o número de baixas foi escasso face aos meios utilizados pelas NT). E dois meses e meio depois, em 28 de maio de 1969,  o quartel de Bambadincs, sede do BCAÇ  2852, foi atacado em força. 

Resumo sintético: abate de gado 
e destruição de arroz


Aspecto | Detalhes

  • Abate de gado e animais: morte em massa de bovinos e outros animais domésticos, visando destruir os meios de sustento das comunidades

  • Destruição de arrozais: arroz, celeiros e culturas queimadas, comprometendo gravemente a produção local de alimento. (Foram destruídas muitas toneladas de arroz.)

  • Condições extremas: altas temperaturas, rações de combate inadequadas, esgotamento e elevada necessidade de água resultaram em evacuações de soldados (cerca de 15%) .

  • Resposta do IN: populações fugiram com alguns dos seus parcos haveres, atravessando o Rio Corubal para a região de Quinara, e o PAIGC manteve, no essencial, a mobilidade e a capacidade de reação.

Conclusão

A Operação Lança Afiada, em março de 1969, foi um marco na guerra colonial e um exemplo claro de como a política de "terra queimada" se manifestou de forma devastadora. 

Ao dizimar  o gado e destruir dezenas de toneladas de arroz, as NT militares visavam desestruturar a base económica e alimentar das populações. 

De qualquer modo,  as dificuldades enfrentadas pelas NT,  aliadas à resiliência da guerrilha e população sob o seu controlo (estimada em alguns milhares) demonstraram os limites transversais dessa estratégia. Deixaram-se, de resto, de fazer  grandes operações como esta,  pelo menos no sector L1 e no meu tempo.

Tratou-se de uma operação onde se foi a lugares míticos (ou mitificados desde o início da guerra, como a mata do Fiofioli, junto ao Corubal), mas ninguém encontrou médicos e enfermeiras cubanas... Hospitais (?) de campanha, sim (ou melhor, pequenos postos e toscos postos sanitários),  mas já abandonados, uns meses antes. 

Destruíram-se muitas toneladas de arroz, mataram-se milhares de animais, queimou-se tudo o que era tabanca e "barracas"... 

Em contrapartida, houve 24 flagelações do IN, mas os guerrilheiros seguiram a regra básica da guerrilha: primeiro, retirar quando o inimigo, ataca: segundo, e quando possível, atacar, quando o inimigo retira...

 O autor do relatório, irritado, queria que os tipos do PAIGC se apresentasse de peito feito às balas e dessem luta...

O mais caricato (e hilariante, se fosse caso para rir) desta operação é que o pessoal deitou fora... as intragáveis rações de combate e desatou a comer... leitão assado no espeto!... E até poupou algumas vacas, que trouxe para os seus aquartelamentos...

Este é um cínico relato da dura condição da guerra da Guiné, vista pelo lado da hierarquia militar. O relatório tem a chancela do então Cor Hélio Felgas, já falecido como maj gen ref, Torre e Espada, considerado um dos mais brilhantes oficiais da sua geração.  

Tem  críticas veladas, se não mesmo picardias,  ao Comandante-Chefe, ao Quartel General, à Marinha e à Força Aérea...

 O seu relatório é uma peça de antologia.  Dizia-se que o Hélio Felgas sempre se batera ao lugar de Spínola. O desastre de Cheche, em 6 de fevereiro de 1969, manchou a sua reputação.  O falhanço da Op Lança Afiada foi outra machadada no seu prestígio.  Tornou-se um azedo crítico do spinolismo. 

 
 (Revisão / fixação de texto: LG)
 
________________


segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Guiné 61/74 - P27149: Felizmente ainda há verão em 2015 (23): quando éramos sexagenários e ainda íamos, em 2007, de "bike", a Santiago de Compostela, santo da nossa devoção (Paulo Santiago, amante de desportos radicais)






Catedral de Santiago de Compostela, 23 de agosto de 2006


Foto (e legenda): © Luís Graça  (20o6). Todos os direitos reservados [Edição:  Blogue Luís Garça & Camaradas da Guiné]



1. Voltamos a reproduzir aqui a mensagem do nosso 'radical' Paulo Santiago, de  sexta feira, 29 de junho de 2007 (há dezoito anos!), depois de ter chegado  de "bike",  a Santiago de Compostela, santo da sua devoção, seu patrono e protetor. Até 2013, já tinha 8 verzes o "caminho", a pé ou de bicicleta.

A mensagem de 2007 era dirigida ao nosso camarada Vitor Junqueira, médico, organizador do II Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Pombal, em 28 de abril de 2007.

[ o Vitor Junqueira foi  alf mil inf,  CCAÇ 2753 - Os Barões (Madina Fula, Bironque, Saliquinhedim/K3, Mansabá ,1970/72); 

Paulo Santiago
tem 73 referências no blogue; o Paulo Santiago, que vive em Águeda,  foi alf mil inf,  cmdt Pel Caç Nat 53 (Saltinho, 1971/73); tem cerca de 200 referências no nosso blogue; ambos são dois históricos da Tabanca Grande]:

Caro Vitor: 

Cheguei ontem, quinta feira, dia 28  junho de 2007,  às 13.00 horas (em Espanha) a Santiago de Compostela. Levei em conta os teus conselhos clínicos.

Quatro dias antes da partida comecei a tomar meio comprimido de meteformina (500 mg).

No sábado, 23, dia da partida para Astorga, não tomei nada. 

Domingo, 24, tinha em jejum 118. Como me aconselhaste, bebi muita água, ía comendo bolachas, macarrones e outros hidratos de carbono. Só um dia, segunda eira, 25, nestava em jejum com um valor, 132, que se aproximava dos valores indicados por ti, possivelmente devido a umas cervejolas bebidas domingo à noite em Ponferrada.

Nos restantes dias, apesar de ao jantar comer umas entradas seguidas de bife ou "chuleta", acordava com valores próximos (para cima ou para baixo) de 110. Bebia sempre um copo de Rioja ao jantar.

Mudando de assunto. Foi uma experiência rica, esta minha expedição, num terreno muito acidentado ( na 2ª feira, 25, a determinada altura o GPS indicava uma altitude de 670 metros, faltando 9 km para chegar ao destino marcado, para aquele dia, o Pico do Cebreiro a 1300 metros) .

Imagina a inclinação que era preciso vencer numa distância tão curta. Levava uns alforges na bike que pesavam à volta de 10 kg (câmaras de ar, elos de corrente, vestuário de ciclismo, vestuário para vestir no fim da etapa, artigos de toilette, etc).

No cimo estava um vento com um frio agreste, e, para vestir, estamos no verão, levava uns calções, t-shirt, camisola de algodão e uns sapatos vela. Consegui comprar umas meias numa "tienda", calças não havia, passei imenso frio naquela noite, o que não me impediu de ir à Net passar os olhos pelo nosso Blogue (é a rotina diária).

No dia seguinte, terça feira, dia 26,  continuava o frio e estava uma nevoeirada lixada, começando com uma imensa descida. Foi de enregelar, a minha colega de aventura ficou com feridas nas orelhas. Tive de comprar em Sarria, numa loja de bicicletas, um casaco térmico, semelhante a um que uso no Inverno.

Mais uma vez, confirmei que uma das coisas que a guerra me deu foi uma grande rusticidade e grande capacidade de sofrimento físico. Mesmo com frio bebia sempre mais de 3 litros de água.

Para terminar, digo que fiquei satisfeito com esta aventura, emocionei-me quando cheguei ao fim dos 255 km, em Santiago, e espero entrar noutra, numa próxima oportunidade. 

Apesar de sexagenários, com calma, nós conseguimos. (**)

Um abração do
Paulo Santiago
 
(Revisão / fixação de texto, negritos, título: LG)

______________


(**) Vd. poste de 3 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27085: Felizmente ainda há verão em 2025 (8): Santiago de Compostela não é apenas uma questão de bike...terapia (Paulo Santiago, caminheiro e amante dos desportos radicais...)

domingo, 3 de agosto de 2025

Guiné 61/74 - P27085: Felizmente ainda há verão em 2025 (8): Santiago de Compostela não é apenas uma questão de bike...terapia (Paulo Santiago, caminheiro e amante dos desportos radicais...)



Caminheiros ou "pelingrinos" de Santiago. Infografia sobre foto de LG (2006)



1. Esta é uma faceta, menos conhecida, dos antigos combatentes da Guiné, a de  caminheiros (e devotos) de Santiago (Paulo Santiago, Abílio Machado, Virgílio Teixeira, Luís Graça... e outros que ainda não deram aqui a cara, mans vão a tempo enquanto durar o nosso querido mês de agosto) (*)...

Alguns perguntarão: "Mas, que raio!, qual é a relação entre a Guiné e a Santiago de Compostela ?!"... 

Pois é, o Paulo Abrantes  Santiago (que tem o apelido  do santo, Santiago "Mata-Mouros"), já lá foi, de "bike" e a pé, uma meia dúzia de vezes... E eu acho que não é só... "bike...terapia".

É verdade que ele é, ou sempre foi, um amante dos "desportos radicais" (râguebi, "bike", paraquedismo, cicloturismo, viagens de saudade à Guiné, "camiño" de Santiago...). Toda a gente o conhece como um "durão", com o coração ao pé da boca...

No poste P1904, de 30 de junho de 2007, escreveu o Paulo Santiago (**)

Mais uma vez, confirmei que uma das coisas que a guerra me deu foi uma grande rusticidade e grande capacidade de sofrimento físico. Mesmo com frio bebia sempre mais de 3 litros de água.

Para terminar, digo que fiquei satisfeito com esta aventura, emocionei-me quando cheguei ao fim dos 255 km, em Santiago, e espero entrar noutra, numa próxima oportunidade. Apesar de sexagenários, com calma, nós conseguimos.(...)



2. Pode-se perguntar (e as perguntas não ofendem): 

" Qual é a ligação, mesmo longínqua, entre a guerra colonial na Guiné (1961/74) e a peregrinação a Santiago de Compostela, hoje e no passado ? Por que razão há antigos combatentes a ir a Santiago, a pé, de "bike" ou de automóvel, a Santiago, 30, 40, 50 anos depois do fim da guerra colonial ? Como o Paulo Santiago ou ou o Abílio Machado (que já fez os caminhos todos e escreveu um livro com os seus diários)...

" A Fátima, ainda se compreende, no cumprimento de promessas, logo a seguir ao regresso da Guiné... mas Santiago, o "Mata-mouros",  remete para a "reconquista cristã", e o ódio histórico, patológico, entre cristãos e muçulmanos, na península ibérica... Faz algum sentido hoje, este culto a Santiago?"


2.1. Resposta do meu assistente de IA, o "Sabe-Tudo" (ChatGPT):

(...) Uma excelente pergunta, complexa e cheia de camadas históricas, espirituais e até psicológicas.

(i)  A Guerra Colonial e a Guiné como "ferida espiritual"

A guerra na Guiné (1961-1974) foi talvez o mais traumático dos três teatros coloniais (Angola, Moçambique e Guiné). Ednvolveu um confronto particularmente duro, em selva fechada, com grande sofrimento físico e psicológico. Muitos antigos combatentes guardam até hoje feridas emocionais profundas – stress pós-traumático de guerra, sentimentos de culpa, desilusão política ou espiritual.

(ii) Peregrinação como processo de cura

A peregrinação a Santiago de Compostela, muito mais do que um ato de fé convencional, tem-se tornado (hoje em dia) num caminho de introspeção, cura e reconciliação interior. 

Para muitos antigos combatentes, o Caminho é sobretudo um:
  • ritual de reconciliação com o passado, longe dos símbolos militares ou religiosos tradicionais (como Fátima);
  • percurso de silêncio e esforço físico que espelha o sofrimento passado, mas agora com propósito positivo;
  • reencontro com outros caminheiros, onde a partilha de experiências pode ajudar, trai como no passado,  a aliviar a dor e a solidão acumuladas durante décadas.
(iii) Porquê Santiago e não Fátima?

Embora Fátima tenha um papel importante no imaginário católico português, ela está ligada sobretudo à fé mariana e à devoção passiva. Santiago, pelo contrário:

  • evoca a ação, a caminhada, o movimento, a superação, mais próximos, portanto,  da vivência dos ex-combatentes;
  • tem um simbolismo de missão, caminho, espada (metafórica ou real), que pode ressoar com a memória militar;
  • hoje é vivido como universal e não exclusivo dos cristãos: muitos não-crentes ou "crentes à sua maneira" percorrem-no sem dogmas.
(iv) Reconquista, cristãos e muçulmanos: uma questão 
ainda relevante?


É verdade que o Santiago "Mata-mouros" (o apóstolo guerreiro) foi símbolo da "Reconquista cristã"  e do combate aos muçulmanos (os "infiéis"). No entanto:

  • esse significado perdeu força nos dias de hoje, muitos peregrinos nem conhecem esse passado;
  • a atual peregrinação a Santiago é mais espiritual e existencial do que religiosa ou ideológica;
  • antigos combatentes procuram cura e não conquista, redenção e não vingança.

Conclusão

Sim, faz sentido. Santiago representa, para muitos, um espaço simbólico onde se pode fazer as pazes com o passado, em especial com um passado tão duro como o vivido na Guiné. 

Não é um símbolo de guerra religiosa, mas um santuário de reencontro com o eu profundo.


2.2. Por outro lado, ó "Sabe-Tudo", não é por demais lembrar que a 'expansão marítima (e territorial)" de Portugal, começou, no Norte de África, com a conquista de Ceuta, en 1415...

Dito pelo ChatGPT:


Muito bem observado: é uma ligação histórica e simbolicamente rica, que merece ser trazida para o centro da reflexão.  
.
(i) Ceuta, 1415: o início da Expansão e da Continuação da "Reconquista"

A conquista de Ceuta em 1415 é geralmente vista como o pontapé de saída da expansão ultramarina portuguesa.

Mas não se pode esquecer que, na mente dos contemporâneos (e da nobreza guerreira portuguesa), ela era ainda uma extensão da "Reconquista". A luta contra os muçulmanos não tinha terminado com a expulsão do Islão da Península,   transferia-se agora para o norte de África.

Este espírito "cruzado" e expansionista sobreviveu durante séculos, mesmo quando os objetivos se tornaram mais económicos ou políticos. 

Em certo sentido, a guerra colonial, séculos mais tarde, pode ser vista como um eco distorcido e tardio dessa lógica expansionista.

(ii) A longa sombra da Reconquista

A mentalidade da Reconquista deixou marcas duradouras:
  • uma cultura de missão e sacrifício patriótico;
  • a glorificação da conquista  (e do império) como "desígnio nacional";
  • a ideia de que a identidade portuguesa se constrói no confronto e na fronteira.
É precisamente por isso que a ligação à peregrinação a Santiago, embora possa parecer deslocada a partir de um olhar moderno e racional, ressoa no fundo de uma matriz cultural onde guerra, fé e caminho / viagem (por terra ou mar) se entrelaçam.
 
(iii) Os ex-combatentes e a busca de sentido

Se pensarmos nos antigos combatentes da Guiné e doutros teatros de operações da guerrra colonial,.  a peregrinação a Santiago pode representar:
  • um ato simbólico de encerramento de um ciclo histórico e pessoal (da conquista ao recolhimento) (e de "exorcismo dos fantasmas", como diz o nosso editor LG);
  • uma tentativa de purificar espiritualmente uma missão sentida como ambígua ou mal resolvida;
  • um regresso às origens identitárias, mas agora com um olhar mais interior e pacificador.
(iv)  A ironia e a reconciliação

É profundamente irónico (e, talvez por isso mesmo, profundamente humano) que os antigos combatentes de uma guerra colonial (em território maioritariamente muçulmano como a Guiné) acabem por caminhar até ao santuário de um santo guerreiro da Reconquista cristã. 

Mas talvez esse caminho simbolize não tanto um prolongamento (impossível bem desejável) da guerra, como sobretudo uma forma de a ultrapassar.

No fundo, o Caminho de Santiago funciona como um espelho de longa duração da história portuguesa: começa na luta (Reconquista), passa pela conquista (Ceuta e além-mar), afunda-se no trauma (Guerra Colonial) e hoje oferece um trilho de redenção pessoal e coletiva.

(Pesquisa: assistente de IA / ChatGPT e LG / Revisão e fixação de texto, negritos: LG)



3. Dpois comentários do Paulo Santiago sobre o "Camiño":


3.1. A primeira ida a Santiago de Compostela foi em setembro de 2000 com partida de Ponte de Lima. Organização do Batotas, clube de BTT, nascido naquela Vila, a mais antiga do País, que não quis ser cidade.

Era um grupo grande onde ía também o meu filho. Três dias até entrar na Praça de Obradoiro.

Voltei em 2006 a pé, em pleno agosto, um calor sufocante.A ideia era fazer Astorga-Santiago, errei os cálculos, duas semanas de férias, parei em Portomarin. Concluí o restante entre 1e 5 de dezembro desse ano.

Em 2007 repeti o Camiño, Astorga-Santiago,  de bike, na companhia de uma amiga e colega. Terrível subir o Cebreiro, em 6 km ir de 550 metros de altitude para 1300.

No mesmo ano, 1 a 5 de dezembro, Santiago-Finisterra.

Em 2009 Caminho Inglês com saída de Ferrol.

Em 2010, com a minha mulher,Valença-Santiago.

Em 2015 com um grupo de colegas do Rugby, Valença-Santiago

Em 2016,com duas amigas, Caminho Inglês com saída de Corunha.

Em 2013, confiei, em Pontevedra, fui almoçar, o albergue ainda estava fechado, deixei a mochila encostada ao portão...fiquei com a roupa que tinha vestida.

Paulo Santiago

domingo, 3 de agosto de 2025, 00:07


3.2. Camaradas: lembrei-me de um encontro que tive há 16 anos no Caminho Francês. Em 9 de agosto de 2006, saí de Astorga com destino a Santiago. No dia 11, pelas 8.00 horas, parei, a comer uma maçã, à saida de Ponferada. Aproximou-se um peregrino.também sózinho,e iniciámos uma conversa em francês.Tinha 60 anos.estava reformado, era Holandês.

Perguntei-lhe onde iniciara o caminho,Roncesvales ou St.Jean Pied de Port ?

Respondeu-me: começara a caminhar em Amsterdão no dia 4 de abril. 

Devo ter ficado de boca aberta.

Passados dias, jantamos juntos em Tricastela.Durante a conversa disse-me que ía ficar mais um dia naquela localidade porque estava adiantado.

Explicou-me a razão.A mulher vinda da Holanda,via aérea,aterrava em Santiago numa determinada data,e ele chegaria nesse mesmo dia.Feitas as contas havia que parar durante um dia.

Iria estar com ela durante três dias,ao fim dos quais,ela seguiria ara a Holanda,de avião,e ele prosseguia para Finisterra.Voltaria à Holanda por via terrestre, avião era muito rápido para quem caminhava desde abril.

Abraços

Paulo Santiago

sexta, 1/08/2025 20:35

(Revisão / fixação de texto: LG)

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Notas do editor LG:

sábado, 2 de agosto de 2025

Guiné 61/74 - P27082: Felizmente ainda há verão em 2025 (7): se forem a Santiago de Compostela, rezem por nós e bebam, com as tapas, uma malga de vinho tinto da Ribeira Sacra













Caminho e cidade de Santiago de Compostela, 23 de agosto de 2006


Fotos (e legenda): © Luís Graça  (20o6). Todos os direitos reservados [Edição:  Blogue Luís Garça & Camaradas da Guiné]



Capa do livro do Abílio Machado - " Diário dos Caminhos de Santiago". Porto: Edita-me, 2013, 358 pp., ISBN 987-989-743-011-4
 


1. Já temos, na Tabanca Grande, pelo menos 4 caminheiros de Santiago de Compostela, o Virgílio Teixeira, o Abílio Machado, o Paulo Santiago e... o nosso editor Luís Graça. Em boa verdade, este último foi mais turista do que caminheiro, quando lá esteve em 23 de agosto de 2006, em Santiago. Por certo, muitos outros nossos camaradas, antigos combatentes, já foram visitar o túmulo do santo e/ou rezar na sua catedral. 

Devotos, confessos, do Santo são mesmo o Abílio Machado (que já fez os 7 caminhos e jã escreveu um livro, cuja capa reproduzimos acima ) e o Paulo Santiago (que esteve lá pelo menos em 2006 e 2007) (*)  (**).

Recorde-se o que escrevi a propósito destas imagens, acima reproduzidas.

Em 30 de novembro de 2006 (*), o Paulo Santiago comunicou-nos que a sua esposa ia levá-lo, de manhã, de carro, a Porto Marin, perto de Pontevreda, para depois fazer, a pé, o resto do caminho de Santiago. E que esperava dentro de quatro a cinco dias chegar a Santiago. Tinha feito uma tentativa anterior, em agosto desse ano, gorada por falta de tempo.

Desta vez, ele podia queixar-se da mochila que ia "um pouco mais pesada, devido à roupa da época"...Estava-se em pleno outono.  Mas nõs esperávmos que as mazelas contraídas no Saltinho (onde comandou o Pel Caç Nat 53, 1970/72) não o deixassem  ficar mal, nem perante o Santo - que era mui fero e guerreiro, como o Paulo - nem perante os seus camaradas da Guiné que muito o estimavam e admiravam... Sem falar da sua equipa de râguebi, sénior...

Sabemos que daquela vez ele corttou a meta e marcou preseça na catedral de Santiago de Compostela E seguramente que lá, nesse famoso santuário cristão, também pensou em nós, nos seus amigos e camaradas da Guiné. E até  terá rezado por nós, santos e pecadores...

Em sua homenagem (dele, Paulo, peregrino, caminheiro, ex-comandante de um pelotão de caçadores nativos noutra "incarnação"), eu fiz questão de  publicar aqui algumas fotos do caminho de Santiago que eu fizera antes, no verão desse ano de 2006. Comodamente,  de carro, como turista...

Declaração de interesse:  disse então publicamente  que o Santiago não era (nem podia ser) um santo da minha devoção, sendo eu meio-cristão e meio-mouro... Sempre o achara, de resto, muito guerreiro, para o gosto de paisano... 

De qualquer modo, apesar da massificação do turismo, Santiago de Compostela ainda era. naquele tempos (e hoje ainda mais) um lugar desta "jangada de pedra" que é a nossa Península Ibérica (parafraseando o José Saramagto)... 

Em Santiago confesso que senti que  também podia haver ali sortilégio, magia e espiritualidade, uma das nossas geografias emocionais onde  o profano e o sagrado se casavam bem... 

E deixava uma sugestão (que continua a ser válida, 19 anos depois, agora em pelno verão de 2025) (***): 

(...) Se lá forem, rezem também por todos nós, mas não deixem de passar por Gato Negro, centnário bar e restaurante de tapas. E lá bebam, por favor,  uma malga de vinho da Ribeira Sacra,   por todos nós, pobres de Cristo, que palmilhámos as terras da Guiné e trouxemos de lá uma sede tamanha que só a água de Lisboa podia matar... 

Em Santiago de Compostela não se morria em 2006,  nem se morre hoje, de sede: era (é)da , de facto, uma das cidades não só da nossa querida Galiza como de toda a Espanha, com mais bares de tapas, bodegas, tabernas e chiringuitos por metro quadrado... Ou não tivesse o santo também olho para o negócio. (...)

3. E já agora uma sugestão de vinhos da região da Ribeira Sacra... Perguntei ao meu "Sabe-Tudo", o assistente de IA (ChatGPT):

P - Qual o vinho que me recomendas, apropriado para beber em "O Gato Preto" (passe a publicidade), centenário restaurante e bar de  tapas em Santiago de Compostela, depois de ter ido rezar ao santo ?

R - Dito pelo ChatGPT:

Excelente escolha de contexto: depois de rezar ao Santo em Santiago de Compostela, sentar-se no "O Gato Preto", com tapas e ambiente descontraído, merece um vinho que una estas três coisas:  alma galega, espiritualidade e prazer vínico.

  (i) Recomendação principal: Ribeira Sacra Mencía (tinto jovem ou com ligeira madeira)

Ideal para harmonizar com tapas típicas galegas (polvo, pimentos de Padrón, queijos, embutidos) e manter a leveza e frescura do momento pós-peregrinação.

Produtor recomendado (omite-se a informação, porque pode ser publicidade)...

(ii) Alternativa branca, se preferires algo mais fresco: Godello (casta) da Ribeira Sacra ou do Valdeorras

Se preferires vinho branco (e se estiver quente ou fores comer mariscos ou queijo galego), um Godello estruturado é perfeito.

Sugestões (omite-se as marcas, porque pode parecer  publicidade)

E resumo, castas Mencia (tinto) e Godello (branco).

(iii) Porquê estas escolhas?

  • Espírito local: são vinhos que expressam a identidade galega, ligados à terra e à tradição monástica que está na raiz da viticultura da Ribeira Sacra.
  • Simbolismo: beber Mencía ou Godello num lugar chamado "O Gato Preto" (ou outro bar de tapas), depois de visitar o túmulo de Santiago, é unir o sagrado e o profano com inteligência e prazer.

(iv) e por último um brinde, em galego:

"Polo camiño andado 
e polo que falta,
polo Santo que nos guía 
e o viño que nos canta.

Que nunca nos falte lume no peito,
pan na mesa,
e un tinto da Ribeira 
que nos lembre que estamos vivos.

Saúde e bo proveito!"

quinta-feira, 24 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27051: Humor de caserna (205): uma boleia para Bissau à pala de uma falsa evacuação Ypsilon (Paulo Santiago, ex-alf mil, Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72)




Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Rio Corubal > Rápidos do Saltinho > 3 de março de 2008 > Lavadeiras do Saltinho... Doces e trágicas memórias, a deste rio... O único e verdadeiro rio da Guiné, já lá dizia o eng. agr. Amílcar Cabral, porque todos os demais são de água salgada, são rias, são braços de mar... É provavelmente o mais belo rio da Guiné, digo eu, que só conheço este, o  Geba, o Mansoa, o Cacine  e mais alguns rios mais pequenos, afluentes...

Foto (e legenda): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. O Paulo Santiago, natural de Aguada de Cima, Águeda, engenheiro técnico agrícola, reformado,  autor da série Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago), foi alf mil, cmdt do Pel Caç Nat 53 (Saltinho, 1970/72) e instrutor de milicias no CIM de Bambadinca,,,

É um histórico da nossa Tabanca Grande, tem já cerca d2 centenas de referências no bçlogue desde 22/6/2006.


É também um grande contador de histórias...Aqui vai uma, que confirma a ideia que eu tenho dos nossos estomatologistas e demais técnicos da área da saúde oral: um bom "dentista" ou "brocas" ( incluindo o higienista oral) tem de ser um profissional de saúde também bem humorado, já que o humor facilita a relação terapêutica... Os portugueses, em geral, ainda hoje não gostam de ir ao "dentista"... E lá terão as suas razões.


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L5 (Galomaro) > Saltinho >O crachá da CCAÇ 2701, "Os 3 SSS" (Saltinho, 1970/72)., comandada pelo cap inf Carlos T. Clemente.  Cortesia de Paulo Santiago.


Humor de caserna > Uma boleia para Bissau à pala de uma falsa evacuação Ypsilon

por Paulo Santiago

No Saltinho, quando da minha chegada, o médico era o alf mil Martins Faria, chegado um mês antes de mim, substituindo o alf mil méd João "Brocas" (era com esta alcunha que se apresentava) que esteve destacado na CCAÇ 2701 à volta de três meses. 

Só conheci o Dr. João "Brocas" numa das minhas passagens por Bissau. Era um contador e um fazedor de histórias incríveis e mirabolantes.

Para ser mais fascinante, era extremamente gago. Já frequentava, ou já tinha a especialidade de Estomatologia, quando foi para a tropa, mas, como no Hospital Militar de Bissau, o HM 241, quando da sua chegada, havia vários estomatologistas, o Dr "Brocas" teve de passar por vários quartéis do CTIG como clínico geral.

Num dia de agosto de 70, o alf mil Mota andava extremamente nervoso e inquieto e, passando pelo Médico, este pergunta-lhe:

 Oh,  Fer...fer...fer....nando, que se pa...pa...pa....passa con....con... contigo para an...da...da...dares tããoo cha...cha...te a...do?

− Porra, doutor,  não me chateie os cornos, tenho avião daqui a três dias para ir de férias e não aparece a merda de um transporte para Bissau.

Depois desta conversa, o João "Brocas" dirigiu-se ao gabinete médico onde o fur mil enf Freire atendia um civil africano.

   Oh,  Frei... frei...eire,  o que é que o gai...gai...gaijo... gaijo teeem?

−  Doutor, o tipo tem uma diarreizita, já lhe dei uns comprimidos para ele tomar.

− Oh, Frei...frei..frei...re,  quem é.... é .... é... você pa...pa...para fa...fazer um dia...dia...diagnós...ti...ti...co clí...clí...nico, deite o gai...aijo na mar... mar...quesa.

Deitado na marquesa, o João "Brocas" faz-lhe uma apalpação na barriga.

− Frei...frei...freire, o... o... o caso é gra...gra....grave. Soooro no gai...gaijo e peça uma evacuação y...y...ypsi...psi...lon.

− Mas, Dr, o tipo fica bom com os comprimidos.

− Po... po....porra, não dis...dis...cuta, eu, eu é...é...é... que sei.

Segue um dos enfermeiros para as transmissões pedir a evacuação ypsilon, enquanto o Freire coloca o africano a soro.

O João "Brocas" vai ao bar e diz ao Fernando Mota:

−  Fer...fer...fer...nando,  pre...pre...para a ma...a...la,  da....daqui a trin...trin...ta mikes (lê-se: maiques),  teeens trans...trans....transporte.

Passada meia hora, lá chegou o heli que evacuou o civil e deu boleia ao Fernando Mota.

Em consequência desta cena, chegou uma mensagem  ao Saltinho, pedindo mais critério nas evacuações ypsilon.

(Seleção, revisão / fixação de texto, título: LG)

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Nota do editor:

Último poste da série > 17 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27025: Humor de caserna (204): O Padre Aurélio (Alberto Branquinho, "Cambança", 2ª ed. revista, 2009, pp. 70-73)

quarta-feira, 2 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P26977: O segredo de... (50): uma recordação que ainda hoje me persegue: fiquei com fama de ter agredido um 1º cabo, "branco" da CCAÇ 2701 (e para mais meu conterrâneo de Águeda) para defender a honra de uma "preta" (mulher de um soldado meu, do Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72) (Paulo Santiago)


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Saltinho >O crachá da CCAÇ 2701, "Os 3 SSS" (Saltinho, 1970/72)., comandada pelo cap inf Carlos T. Clemente.  Cortesia de Paulo Santiago.



1. Mensagem do Paulo Santiago, ex-alf mil inf,  cmdt Pel Caç Nat 53 (Saltinho, 1971/73) (é um histórico da nossa Tabanca Grande, tem já cercad 2 centenas de referências desde 22/6/2006).


Data - quarta, 2 de julho de 2025, 18:22

Assunto - Recordação que me incomoda de tempos a tempos


Luis,

Estes últimos textos sobre os "filhos do vento" vieram acordar uma mágoa com 54 anos.

Foi em julho de 1971, viria de férias em agosto,encontrava-me no bar após o jantar quando o meu soldado Mamadú Baldé entra transtornado.

- Alferes, o nosso cabo Manuel C... tentou abusar da minha mulher, agrediu-a.

Fiquei de cabeça perdida, ficaria sempre aqui com a agravante de o Manuel C... ser meu conterrâneo, da mesma freguesia.

Procurei o abusador e, quando o encontrei, dei-lhe uma carga de pancada.

Escapou-se para o abrigo onde foi buscar a G3. Teve azar,entretanto vieram outros elementos do Pel Caç Nat 53, detiraram-lhe a arma e levou mais uns murros.

O Manuel C... desapareceu nessa noite em direcção desconhecida. Apareceu passados três dias.

O Cap inf Carlos T. Clemente, cmdt da CCAÇ 2701 (Saltinho, 1970/72), mandou formar a companhia e disse ao cabo Manuel C... para dizer onde tinha andado e qual fora a intenção ao fugir.

Fugira com intenção de ir para a República da Guiné mas tivera receio de cair nalguma armadilha ou mina, e não se tinha afastado muito do quartel e do rio Corubal. Comera umas folhas e bebera água do rio.

Este cabo, da CCAÇ 2701,  tinha a especialidade de atirador mas não saía para o mato,estava na arrecadação de material de guerra com um 2º sargento.

Quando chegou ao fim da explicação dos três dias de ausência,diz o Clemente:

- O alferes Santiago vai decidir qual a punição a dar-te.

Fiquei lixado. Eu, conterrâneo do abusador, que também estava para vir de férias, é que ia decidir a punição.

Claro que o Manuel C... ficou sem o castigo merecido.

Apesar da ausência de punição, fiquei, à data, com a fama de ter agredido um conterrâneo para defender uma preta.

Acrescento: o tipo está num país da América do Sul, e os familiares "rezam" para que ele não venha a Portugal porque da única vez que veio, houve graves problemas.

O Manuel C... devia ter levado uma "porrada", não levou, e ainda hoje, quando me lembro, fico incomodado.

Paulo Santiago

PS - Luís, fica ao teu critério, publicar ou não.


2. Comentário do editor LG:



Paulo, obrigado pela confiança que depositas no blogue, na pessoa do seu editor, e teu velho amigo e camarada. Decidi partilhar o teu "segredo", por uma mão cheia de razões:

(i) não éramos meninos de coro;

(ii) este caso e o seu desfecho são exemplares e merecem ser conhecidos;

(iii) que fique claro: houve casos de violação (ou de tentativa de violação) de mulheres da população civil (e também de prisioneiras) no TO da Guiné; muitos ou poucos, não sabemos, não há estatísticas; houve casos, como em todas as guerras;

(iv) na guerra não vale tudo, e o exército português tinha princípios e valores;

(iv) este caso envolveu um graduado (1º cabo) d CCAÇ 2701, " branco" (e por sinal teu conterrâneo) e a mulher de um teu soldado, do recrutamento local, do Pel Caç Nat 53;

(v) houve violência (física), não chegou a haver violação; o que não atenua a gravidade do comportamento do teu subordinado;

(vi) tu eras comandante operacional de um subunidade, adida ao CCAÇ 2701 (Saltinho, 1970/72);

(vii) com estrito respeito pela hierarquia, o cap inf Carlos T. Clemente (hoje cor ref), não quis fazer o "by pass", isto é, quebrar a unidade comando-controlo;

(viii) não podias deixar de agir, sob pena de perderes a autoridade e o respeito dos teus homens;

(ix) e agiste à boa maneira da malta de cavalaria e dos paraquedistas: uns bons murros valiam mais, naquele contexto, do que uma "porrada" averbada na caderneta militar (não faço juízos de valor nem discuto se, face ao RDM, tinhas outras alternativas);

(x) podia ter ficado cara a tua atitude lúcida e corajosa: o cabo "abusador" foi buscar a G3 com intenções malévolas (talvez de "vingança"); foi felizmente desarmado e, em desespero de causa, decidiu desertar; cobardolas e arrependido, voltou para o quartel ao 3º dia;

(xi) a lição que tu lhe deste, não sabemos se ficou para a vida; mas 1º cabo Manuel C... deveria ter-te ficado agradecido por não quereres vê-lo embrulhado numa folha de papel selado; se o caso chegasse ao com-chefe, o gen Spínola, o teu homem nem saberia de que terra era;

(xii) o caso foi público e notório (agressão a um elemento civil, insucordinação e tentativa de deserção), mas mesmo assim omiste o seu apelido, como de resto mandam as nossas regras editoriais;

(xiii) espero que ele, algures, na América Latina, ainda te possa ler, e mostrar, memso que tardiamente, arrependimento e gratidão (neste caso, pelo teu sentido de justiça);

(xiv) e, por fim e não menos importante, deves sentir orgulho, mesmo ao fim destes 54 anos (!), de não teres cedido à tentação do "nacional-porreirismo" e teres sabido defender a honra de uma mulher (para mais, mulher de um soldado teu), de acordo com o nosso código de ética como militares;

(xv) mais do que "oficial e cavalheiro", soubeste respeitar a tua consciência e honrar a tua farda!

...De qualquer modo, Paulo, e como já aqui temos dito, nesta série "O segredo de...",  há vítimas nem lugar para a vitimização, não há heróis nem vilóes... Em contrapartida, também não consentimos que camaradas insultem outros camaradas, seja a que pretexto for (e, muito menos, na sequência da revelação de um "segredo", seja qual for o seu conteúdo).  

Uns e outros teremos de ser razoáveis e tolerantes, dois exercícios (o da razoabilidade e o da tolerância) que nem sempre não fáceis... Esta série funciona como um verdadeiro... "confessionário". E ir ao "confessionário" é, antes de mais, "desabafar" sem receio de ser criticado (e muito menos  crucificado na praça pública). Vir aqui dar a cara e contar um "segredo" também é um ato de coragem.

quarta-feira, 30 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26747: (In)citações (268): O mês de Abril e as amêndoas amargas (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo CAR)

Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Picada de Quirafo > Fevereiro de 2005 > Restos da GMC da CCAÇ 3490 (Saltinho, 1972/74), do BCAÇ 3872 (Galomaro, 1972/74) que transportava um grupo de combate reforçado, comandado pelo Alf Mil Armandino, que sofreu em 17 de Abril de 1972, uma das mais terríveis emboscadas de que houve memória na guerra da Guiné (1963/74).

Foto: © Paulo Santiago


1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 27 de Abril de 2025:

Meus amigos e camaradas
Aqui vai algumas recordações e pensamentos quase no fim deste Abril

Um abraço
Juvenal Amado



O MÊS DE ABRIL E AS AMÊNDOAS AMARGAS

A recordação das Pascoas da minha infância são as amêndoas de gesso que o senhor prior dava nas casas que contribuíam menos para a igreja.

Chupava-se algo adocicado até ao caroço que deitávamos fora por ser intragável daí o nome as amêndoas de gesso. Francamente, e a verdade seja dita, não éramos frequentadores da igreja e após ser obrigado na 1.ª classe a frequentá-la por imposição da senhora professora, que nos formava cá fora para entrarmos com grande solenidade dois a dois, de mãos dadas, para belo efeito. Entretanto saí dessa escola e nunca mais me apanharam. A verdade tem que ser dita só voltei a frequentar a igreja às entradas e saídas, embora me tenha envolvido em actividades num clube dirigido por dois padres muito jovens, que tinham um discurso muito próximo da juventude. O destino desses padres foi o que era de prever naquele tempo.

Mas este ano a Pascoa calhou em Abril, mês luminoso embora chuvoso, mas o corpo sente a Primavera e os cheiros diferentes no ar. Há cinquenta e três anos estava no Xime para embarcar na LDG com viaturas avariadas e diverso armamento deixado pelos guerrilheiros no seu encontro de frente com os nossos camaradas da 3491 do Dulombi. Foi o que se pode chamar milagre, por só terem havido uns camuflados cantis e quicos furados pelo o fogo de automáticas com que a malta piriquita foi obsequiada. Em contrapartida a reacção dos nossos camaradas pôs em debandada o IN, que deixaram diverso material de guerra no local.

Mas voltando ao Xime, já era costume nós irmos para lá sem data de regresso e assim se passaram algumas semanas em que as LDGs iam atulhadas e o meu equipamento lá continuava ao Sol sem saberem o que as viaturas continham. A Pascoa foi no Domingo 2 de Abril 1972, a LDG vinha neste dia, quando somos surpreendidos por uma coluna com quatro caixões. Uma coluna macabra e mais macabra a situação que a resultou. Segundo se veio a confirmar, um soldado entrou no gabinete do capitão com uma granada de mão, que deixou explodir, matando o capitão, um 1.º sargento e um furriel, para além dele próprio.

Escusado será falar no horror que o incidente nos causou. As urnas foram embarcadas e nós lá ficamos no cais a ver a embarcação desaparecer. Passados dias vem outra coluna de Pirada com mais um soldado que tinha descavilhado uma granada de mão, debaixo de um ataque de abelhas e na vez de uma granada de fumo, usou uma ofensiva com o triste resultado. Dessa vez embarquei com muito custo, pois as viaturas não trabalhavam nem tinham travões e quem andou por aquelas bandas sabe da rampa que se descia até entrar na embarcação, engrenei a marcha atrás e lá vou eu por ali abaixo três vezes com granadas de RPG na bagageira.

Foi um mês de Abril sangrento, pois no dia 17, na emboscada do Quirafo, perdemos uma dezena de camaradas da 3490 do Saltinho, facto já por aqui falado e documentado, em especial pelo os nossos camaradas Paulo Abrantes Santiago e o Marques.

Mas o mês de Abril voltou a sorrir quando desembarquei em Lisboa passados 27 meses de comissão, no dia 4, abracei os meus e senti-me em Paz.

20 dias depois no 25 de Abril dancei chorei e abracei toda a gente porque vinha aí o Futuro e o primeiro dia do resto das nossas vidas.

O mês deste ano deixa-nos com um acontecimento triste para católicos e não católicos com a morte do Papa Francisco, um Homem bom muito amado, amante da Paz, que deixa este Mundo num futuro incerto. Um arauto da inclusão das minorias, defensor de uma Igreja e um Mundo para todos. Que esteja em Paz.

Juvenal Sacadura Amado

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Nota do editor

Último post da série de 25 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26724: (In)citações (267): O Vinte e cinco de Abril é um poema universal (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico)

segunda-feira, 14 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26684: In Memoriam (543): Carlos Matos Gomes (1946-2025): velório, dia 15, terça, a partir das 19h, na Capela da Academia Militar, funeral no Alto de São João, quarta, pelas 11h


Foto nº 1


Foto nº 2

~
Foto nº 3


Foto nº 4

Guiné-Bissau > Bissau > Fortaleza da Amura > 7 de Março de 2008 > Amura: um lugar repleto de história(s)

Fotos e legenda: © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Visita no âmbito do Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1 a 7 de Março de 2008), no último dia do evento. Na foto nº 1, o cor cav 'cmd' na situação de reforma, Carlos Matos Gomes (1945-2025), um homem do MFA da Guiné e um conhecido e talantoso autor de romances de guerra como Nó Cego, Soldadó ou Fala-me de África (que assina sob o pseudónimo literário de Carlos Vale Ferraz)... É também não menoso notável historiógrafo da guerra do ultramar / guerra colonial, coautor, juntamente com Aniceto Afonso, de diversas publicações.

 Na foto, por detrás do Matos Gomes, vê-se o edifício, em ruína, da antiga 2ª Rep do QG/CCFAG, a famosa Rep Apsico, onde trabalhou Otelo Saraiva de Carvalho e Ramalho Eanes... e que tutelava o popular PIFAS (Programa de Informação das Forças Armadas) que fazia concorrênmcia a não menos famosa "Maria Turra" (a Rádio Libertação, do PAIGC; que emitia a partir de Conacri).

Nas fotos nºs 2, 3 e 4 , vemos o Matos Gomes a servir de cicerone ao Paulo Santiago e a mim próprio. Entre os edifícios históricos, há o do antigo Com-Chefe (foto nº 4). Foi aí que um grupo de conspiradores entrou de rompante no gabinete do Com-Chefe, e deu voz de prisão ao General Bettencourt Rodrigues, na manhã de 26 de Aril de 1974, o chamado golpe de Estado do MFA na Guiné. Portanto, foi na Amura e não no palácio do Governador que tudo aconteceu...

Desse grupo de oficiais revoltosos faziam parte: ten-cor eng trms Mateus da Silva, ten cor eng trms Maia e Costa, maj 'comd' Raul Folques,  maj pqdt Mensurado, cap art  Simões da Silva, cap enf trms Sales Golias, cap 'cmd' Carlos Matos Gomes, cap 'cmd0 Batista da Silva, Cap 'cmd' graduado Zacarias Saiegh, cap ten Pessoa Brandão (Armada ) e cap mil José Manuel Barroso.

O Carlos Matos Gomes, na altura capitão do Batalhão de Comandos da Guiné (a par do maj Raul Folques e do cap grad Zacarias Saiegh) foi um dos protagonistas do 25 de Abril neste palco da história recente dos nossos dois países.. Voltaria lá, à Amura, 34 anos depois...

Hoje, na Amura, repousam os restos mortais de Amílcar Cabral e de outros "combatentes da liberdade da pátria", como Osvaldo Vieira, Domingos Ramos, Tina Silá, Pansau Na Isna, 'Nino' Vieira e Rui Djassi.
 

1. Mensagem da filha do nosso camarada, Carla Lickfold Matos Gomes (que tem mais informação sobre o pai, na sua página pessoal no Facebook):

Aos amigos que nos quiserem acompanhar nas despedidas do meu pai, algumas informações: 

  • O velório estará aberto ao público em geral, terça-feira, a partir das 19h e até às 23 na Capela da Academia Militar. 
  • As cerimónias fúnebres serão na quarta-feira pelas 11h, com missa de corpo presente, de onde partirá para o Cemitério do Alto de São João para ser cremado.
 
Grata a todos pelas vossas mensagens, bem sei do privilégio de ter tido este pai. Foi para mim uma honra acompanhá-lo na doença até esta fase final que encarou com a bravura, humor inteligente e força que lhe era tão característica até ao último minuto. Falámos de política até ao fim. Vamos ter muitas saudades dele.

Fonte: Página do Facebook de Carlos Matos Gomes, domingo, 13 de abril de 2025, 19:48

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Nota do editor:

Último poste da série > 13 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26683: In Memoriam (542): Carlos Matos Gomes (1946-2025), membro do MFA no CTIG, cor cav 'cmd', ref, escritor e historiógrafo, e grande amigo da Tabanca Grande