sábado, 25 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20903: Boas Memórias da Minha Paz (José Ferreira da Silva) (8): “Covidando” com os meus botões ou “Covidando” com o confinamento

1. Em mensagem do dia 17 de Abril de 2020, o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), enviou-nos esta Boa memória da sua paz, dedicada ainda ao confinamento.


BOAS MEMÓRIAS DA MINHA PAZ - 7

“Covidando” com os meus botões
ou
“Covidando” com o confinamento

Nunca estive preso, excluindo aquela vez (“verão quente” de 1975) em que me detiveram durante mais de cinco horas no posto fronteiriço de Vila Verde de Ficalho/Rosal de la Frontera, por me terem confundido como um PIDE em fuga, quando apenas pretendia gozar uns dias em viagem por Marrocos.
Também não vamos considerar como “prisão”, quando caídos naquela emboscada no Oio, em que, durante 3h40, não podíamos levantar cabeça. Essa sim, bem mais perigosa.


E, já agora, por que não lembrar os meus camaradas da CART 1689 que “viveram presos e soterrados” naqueles 38 dias de Gandembel, dos quais eu me safei por estar de férias?

Pois é por isso que, neste confinamento de voluntário à força, me vejo a cogitar/”covidar” com os meus botões. E passo a divagar.

Desde o dia 19 de Março que não saio à rua. Tinha abusado no último convívio do “Bando” de Combatentes (Op Sarrabulho, em Ponte de Lima) no dia 11, mas ainda saí duas vezes: uma ao ribeiro, para apanhar os agriões (que a mulher, depois, se recusou a colocar na mesa) e a outra quando jantámos, no dia 19, num restaurante dos camionistas, vindos de Coimbra a caminho de casa. Neste caso, em que comemos sós, com mais outra pessoa na sala, naquelas enormes instalações. Ficámos de tal maneira assustados, que fomos quase directos para a casa de banho exterior e mergulhámos até hoje no ninho renovado. Nos telefonemas recebidos dos familiares, recusámos dizer onde andávamos.
Desde então, estamos realmente em prisão. E por aquilo que se consta, há criminosos a viver melhor que nós, os inocentes. Isto, para não falar nos outros (os maiores) que nos gozam e que vão gozando à grande e à francesa.

E aqui no cativeiro, vamos experimentando uma nova vida. A minha Mulher, que sempre reinou no lar, mostra agora ainda mais o que vale (que remédio!), à beira daquele que, nas coisas da casa, nunca deixou brilhar. Valha-me o gozo desse proveito, que não devo desprezar.
Nesta situação, também gozo muito ao ver os filhos e netos a procurar-nos via Skype ou Whats App. Momentos inesquecíveis, cheios de amor, carinho e ternura. Relíquias de uma época insólita, para eles mais tarde recordarem.

Quase sempre na cama, tenho a TV ligada. Procuro ver mais as graças do que as desgraças. Mostro algum interesse pela evolução deste coronavírus e lamento em murmúrios o que vejo informar/divulgar. Não fora a curiosidade de saber o porquê daquelas aflições de autarcas do norte e o sucesso das poucas mortes na zona de Lisboa, eu consideraria que tudo marcha razoavelmente. E já com dois AVC, vou afligir-me, porquê?

Gostaria de ler. Ler aquilo que devia e o que gostaria de saber. Porém, a visibilidade não ajuda e o cansaço também. E é por isso que me limito a dormir o máximo, como se na guerra estivesse, ansioso que o tempo passasse. Vejo a TV, mas já não aguento a violência, mesmo que sejam heróis americanos a salvar o Mundo. Coisa que acontece umas 20 vezes por dia. Gosto de coisas mais leves, tipo “coboiadas” americanas, espanholas ou italianas. O enredo já pouco importa. Ligo mais à paisagem, à música e ao insólito. E vejo repetidamente aqueles “Artistas” que em miúdo tanto me entusiasmaram. Todos galãs ou vilões de se lhes tirar o chapéu. E elas, tão giras, tão pudicas e tão belas!



Apesar disso, uma grande diferença eu noto. Agora, vejo mais que a justiça era a lei da bala. Não aceito que os índios eram maus e que os pistoleiros eram heróis. Os índios, americanos genuínos porque originários daquela terra, ganharam o meu maior respeito e fico com pena deles. E deliro nos poucos filmes em que o índio se vinga (ah, grande Apache Charles Bronson!).


E tinha que aparecer aquela dupla Terence Hill mais o Bud Spencer, cujas histórias hilariantes nos levam ao Oeste Americano, às Caraíbas ou ao Brasil.

Foram dias e dias de relaxe e boa disposição. Até que me falharam as pilhas do comando da televisão. E o canal Fox Movies ficou-se para sempre. Não imaginam quantas vezes vi os filmes do Trinitá, dos Super Polícias e do Banana Joe. Foram dias e dias a gramar até… enjoar.



Foi então que influenciei a minha Mulher para furar o confinamento e ir ao supermercado buscar alguma coisa em falta e… se pudesse… trazer-me pilhas das mais pequenas, para o comando da televisão do quarto.
Ela veio de lá toda entusiasmada com aquilo que viu. Tantos eram os cuidados com a desinfecção, a disciplina e a limpeza, que lhe deram confiança para sair de casa mais duas vezes no mesmo dia.
Perdi eu a confiança no confinamento, fiquei fulo e desconfiado. Já não deixo minha Mulher aproximar-se e obrigo-a a usar luvas e máscara. Já lá vão três dias a viver desta maneira. Possivelmente, terei que quebrar esta medrosa teimosia.

Para terminar:
Nota 1: - Hoje, dia 16 de Abril de 2020, pelas 14h55, acabei de saber que o novo teste à Covid-19 feito a minha Mãe, acusou “negativo”. Ela foi internada no Hospital S. Sebastião, com a doença, no dia 30 de Março. Apesar dos seus 100 anos e, portanto, pertencer ao grupo de maior risco desta pandemia, melhorou, está bem, está a vencer o malvado!
Nota 2: - Perante tal graça divina, já chamei minha Mulher, pedi-lhe desculpa, mandei-a vir para a cama e já lhe dei o comando da televisão: - Olha, escolhe o programa que quiseres, mesmo que seja uma telenovela.

José Ferreira
(Silva da Cart 1689)
____________

Nota do editor

Último poste da série de 18 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20868: Boas Memórias da Minha Paz (José Ferreira da Silva) (7): Op. Confinamento, retrato do estado psicológico dos Bandalhos

Guiné 61/74 - P20902: 16 anos a blogar (4): Os dias de Abril, mês “de águas mil”, de Constituições, de Revoltas e de Revoluções, que mudaram Portugal (1) (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil Cav da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66) com data de 24 de Abril de 2020:


Os dias de Abril, mês “de águas mil”, de Constituições, de Revoltas e de Revoluções, que mudaram Portugal

A condição de reformado fez-me cliente assíduo (ou rato) de arquivos e bibliotecas, e, graças ao longo tempo em que me enfronhei no “Portugaliae Monumenta Historica” (5 grossos volumes), cheguei à conclusão de que D. Afonso Henriques foi o primeiro “capitão de Abril” da nossa História, ao ter escolhido esse mês para organizar e comandar a revolta do nascimento de Portugal.

Começou por se tornar soldado, ao auto-armar-se cavaleiro, “como os reis”, tomando em sua mão a espada e ungindo o seu bico com sangue do corte no seu pescoço e não com sangue do corte dos seus testículos, como era próprio dos dependentes; a culminar dois anos de reuniões conspirativas e como líder, no dia 5 (seria no dia 25?) de Abril de 1127, trocou a malta de Coimbra pela malta do Norte, “furtou” os castelos do Neiva e de Faria, “para fazer guerra à mãe” e fundar a nossa Nacionalidade.

Nuno Tristão
A Guiné que nos é tão cara, mátria de um lugar de memórias, que a História já regista no blogue LG&C, foi descoberta por Nuno Tristão, em meados de Abril de 1446, mas África a sul do Sahara já não era virgem de portugueses: parte da sua malta já havia andado a “inventar” o mulato pelas suas praias e ele pagou com a vida a sua ida para o mato nessa então Guinela.

No descobrimento do Brasil e Novo Mundo (a América), por Pedro Álvares Cabral, em finais de Abril de 1550, dois grumetes da sua malta navegante aproveitaram a ida à missa campal de Acção de Graças para desertar para o mato – são os primeiros “cara” da “invenção” do mestiço.

O rei de Portugal por uma semana, D. Pedro IV, em Abril de 1826, explicitou e outorgou a Carta Constituição da Monarquia Portuguesa, a nossa primeira Constituição abrilista e a nossa segunda Constituição vintista.

D. Maria II, a brasileira nossa rainha, em Abril de 1838, jurou a nossa segunda Constituição abrilista e 3.ª Constituição da Monarquia Portuguesa.

A redacção da 1.ª Constituição Política da República, a nossa 3.ª Constituição abrilista e a 4.ª de Portugal, foi iniciada em Abril de 1911.

A “Operação Georgette" do exército alemão, desencadeada em Abril de 1918, derrotou na Flandres francesa o Corpo Expedicionário Português, sob a dependência do comando inglês, - a Batalha de La Lys. Em 22 dias de combates, os soldados portugueses sofreram quase tantas baixas como as sofridas nos 13 anos da Guerra do Ultramar do nosso tempo.

(Foi na 1.ª Grande Guerra. Se Portugal não tivesse entrado, o seu Ultramar seria perdido para a Alemanha ou Inglaterra, mas a nossa geração teria sido poupada à sua guerra, desencadeada em 1961). A Constituição Política da República Portuguesa, explicitada pelo Estado Novo, que nos fará conhecer a geografia da Guiné e andar durante dois anos aos tiros e a bombardear as suas matas e bolanhas, entrou em vigor em 11 de Abril de 1933, sendo a nossa 4.ª Constituição abrilista.


Adiante, adiante, a dar lugar a memórias do nosso tempo.

O guineense Amílcar Cabral, jovem eng.º agrónomo, benfiquista ferrenho e putativo génio inspirador e o motor da liquidação do Império português, em carta de Abril de 1950 à sua namorada, a colega flaviense Maria Helena, opinava essa Constituição como “dos mais belos documentos da igualdade dos homens (…) com práticas diametralmente opostas”.

Salazar esconjurou o golpe palaciano de 11 de Abril de 1961, a abrilada da sua demissão, da autoria do seu ministro da Defesa, General Botelho Moniz, não obstante apoiado pelo seu ex-PR General Craveiro Lopes e inspirado pela embaixada dos Estados Unidos; outra oportunidade que nos teria livrado de dar com os costados na Guerra da Guiné.

O nosso conhecido navio Niassa zarpa de Lisboa, em 21 de Abril desse ano, carregando o primeiro contingente de tropas – a decisão de Salazar, de “rapidamente e em força para Angola”, que assumira o ministério da Defesa.

A 4.ª Comissão Especial entrou e andou clandestinamente no sul da Guiné, entre 1 e 8 de Abril de 1972, chegou a Cubacaré e conseguiu dependurar a bandeira da ONU no galho duma árvore.

José Medeiros Ferreira
Em Aveiro, realizou-se nos princípios de Abril de 1973 o 3.º Congresso da Oposição Democrática, com o beneplácito da lei e a presença de alguns oficiais da Marinha e do Exército, putativos “capitães de Abril”, a primeira reunião pública em que foi publicamente advogado o início das conversações, pelo fim das guerras do Ultramar. A mudança de regime à mão armada não foi abordada e a tese do socialista Medeiros Ferreira (lida pela sua mulher, pela sua situação de desertor) de Descolonizar, Democratizar e Desenvolver, foi ruidosamente contestada pelas correntes de opinião revolucionárias, marxista e maoísta.

Na esteira desse congresso, em 14 de Abril desse ano, um grupo de ex-oficiais milicianos, evocando que “não seriam a geração da traição”, anunciou a organização do I Congresso dos Combatentes, a realizar em princípios de Junho, livre de antagonismos e de facções, a sua comissão executiva central era formada por três oficiais deficientes da Guerra do Ultramar e o seu Presidente da Mesa será o General Reformado António Augusto dos Santos, a pedido do ministro da Defesa.
A reunião da malta do QP, no Agrupamento de Transmissões da Guiné, resultou na contestação de 51 oficiais à motivação e ao conteúdo do Congresso dos Combatentes, o oficial guineense Marcelino da Mata e o oficial cabo-verdiano Rebordão de Brito, condecorados com a “Torre Espada”, foram os subscritores do telegrama de repúdio, o General Spínola proibiu a representação da Guiné e o Ministro da Defesa proibiu aos militares do QP da sua representação. Pouco depois e cavalgando a onda das reacções corporativas da classe dos Capitães aos Decretos-Lei n.º 353 e 373/73, “do Curso de Promoção a Capitães Milicianos”, os então Majores Ramalho Eanes e Carlos Fabião, prós e o Capitão Vasco Lourenço, fogoso anti-spinolista, recolheram centenas de assinaturas de contestação e de requerimentos de demissão de Capitães do QP.
A comissão executiva lisboeta do Congresso dos Combatentes correspondeu à turbulência criada pelos prós e contras ou pela direita e a esquerda com a demissão, o Dr. José Vieira de Carvalho, ex-alferes miliciano combatente, presidente da sua comissão no Norte e Presidente da Câmara Municipal da Maia agarrou a sua organização e dinamização, a dar nas vistas com os “rateres” do escape e com o amarelo-torrado do seu Renault 5 – a novidade automobilística na altura – mas demitiu-se, ao chegar a hora.

Gen António de Spínola
O General Spínola reuniu em Bissau cerca de 400 oficiais do mato, em 16 de Abril de 1973, para lhes dar directivas e lhes anunciar o “fim da guerra” da Guiné, convicto da situação de fraqueza do PAIGC, confiante no êxito dos três Majores na negociação da rendição premiada dos seus bi-grupos no Chão Manjaco e optimista quanto ao efeito dominó dessa rendição nos combatentes das regiões Leste e Sul.
O Capitão Vasco Lourenço, comandante da quadrícula de Cuntima, criticou essa sua táctica e estratégica com tal veemência, que ele o tomou de ponta.
De facto, o PAIGC aproveitou-se do contexto da trégua para essas reuniões no Chão Manjaco para reabastecer os seus combatentes na região Norte, e, em 20 de Abril, correspondeu ao dia D dessa manobra com o assassinato desses três Majores negociadores e dos seus quatro acompanhantes.

Duas semanas depois da reunião de Bissau, o General Spínola aterrou na tabanca de Cuntima, em visita de inspecção ao comando do Capitão Vasco Lourenço e à sua CCaç 2549, pegou-lhe por tudo e por nada, ameaçou-o com a transferência para Jolmete, a fazer a aprendizagem de comando com o seu capitão miliciano e mandou distribuir uma circular pelas unidades, a divulgar o seu relatório acerca da inaptidão do Comandante da Companhia de Cuntima.

A companhia a nomadizar em Jolmete era comandada pelo transmontano António Carlos Almendra, alferes miliciano graduado em capitão, ora Coronel na reforma, merecedor de 15 louvores e de 10 condecorações, então camarada do camarada e tabanqueiro Manuel Resende. Diz-se que durante os 18 meses do exercício desse comando, ele fora sempre abonado do soldo de alferes e que a diferença para o soldo capitão terá saído do próprio bolso do General Spínola.

Mas o General Spínola e o Capitão Vasco Lourenço não se ficaram por aqui.

O I Congresso dos Combatentes, mais ou menos nacionalista, decorrerá de 1 a 3 de Junho de 1973, no auge das violentas batalhas dos 3 G´s – Guidaje, Guileje e Gadamael -, travadas pelas reservas de infantaria e pela parafernália da artilharia de última geração do PAIGC, planeadas e comandadas por oficiais do exército regular cubano, que nos custaram 63 mortos e 269 feridos militares, 15 mortes e 18 feridos civis e 6 aviões abatidos – 4 DO e T6 de pistão e 2 Fiat G 21 de propulsão.

O Tenente-Coronel, Comandante do Agrupamento de Transmissões da Guiné e anfitrião da reunião anti-Congresso dos Combatentes irá hospedar-se no Palácio da Praça do Império, e sentar-se na cadeira que fora do General Bettencourt Rodrigues, alçado pelo “golpe de Bissau”, em 26 de Abril de 1974, e o COPCON lisboeta catrafilará o Dr. Vieira de Carvalho no Forte de Caxias, durante 9 meses, sob ameaças de fuzilamento, acusado do delito de organizador desse Congresso e como fundador e dirigente do Partido do Progresso.

O I Congresso dos Combates funcionou de embrião ao MFA, Movimento das Forças Armadas, acontecera o advento da revolta do 25 de Abril e o Capitão Vasco Lourenço como o seu profeta.

(Continua)
____________

Nota o editor

Último poste da série de 23 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20893: 16 anos a blogar (3): o obus de Bambadinca (foto do Frederico Amorim, autor da página "Mundo do Fred", 26/4/1997)

Guiné 61/74 - P20901: Os nossos seres, saberes e lazeres (387): Em frente ao Vesúvio, passeando por Herculano e Ravello (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 23 de Outubro de 2019:

Queridos amigos,
Alguns anos atrás, parti de Salerno só para ter um cheirinho de Nápoles. Era dia de sol escaldante, chocou ver aquelas toneladas de lixo que parece que deixam indiferentes os napolitanos.
Com tempo limitado e um calor sem tréguas, escolheu-se a Nápoles influenciada pelos tempos greco-romanos, nada de museus nem de andar a cirandar pela baía, mas deu para perceber que é uma das cidades mais belas do mundo, com acervo arquitetónico e um património artístico incomparáveis. E andou-se em ruminação, já se conhecia Pompeia e Pastum, havia que conhecer Herculano, voltar a Amalfi, subir até Ravello, visitar o Palácio Real de Caserta, uma imitação colossal de Versalhes com 1200 quartos, entre outros destinos.
Teve-se muitíssima sorte com o tempo, nada de calor fervente, um cálido tempo outonal. Então, e já com umas lambuzadelas tiradas de vários guias, começou a incursão, para não variar entrou-se na Nápoles greco-romana e confessa-se que foi tão empolgante que se voltaria sem rebuço amanhã mesmo, a despeito do lixo e de um trânsito caótico sem igual.

Um abraço do
Mário


Em frente ao Vesúvio, passeando por Herculano e Ravello (1)

Beja Santos

Se em Itália é difícil encontrar um metro quadrado sem a presença da Antiguidade, Nápoles é um território luxuriante de sucessivos processos civilizacionais: na Magna Grécia chamou-se Neapolis, a cidade nova, ainda há vestígios desta Nápoles greco-romana; foi parte do Império Bizantino, parte do Reino Normando da Sicília, pertenceu à Casa de Anjou, teve rei de Aragão, foi colónia de Espanha, voltou a mudar de mãos com o rei Bourbon Carlos III, foi possessão napoleónica e em 1860, já com um novo governo Bourbon, Garibaldi chegou a Nápoles e nesse mesmo ano Nápoles passou a fazer parte do novo Reino de Itália. Conheceu um profundo declínio, os viajantes do Grand Tour deram a conhecer este mundo antigo deificado pelo romantismo. A Nápoles atual é o somatório de todas essas parcelas e não se pode percorrer as suas ruas e visitar os seus monumentos sem ter em linha de conta as sucessivas camadas. Aqui bem perto, a erupção do Vesúvio atulhou com nuvens de poeira Pompeia e Herculano. É uma cidade brindada por uma espaçosa baía, um espinhaço montanhoso parece formar um balcão e estender-se por um promontório que vai até Salerno. São panoramas que nos fazem cortar a respiração, os da costa amalfitana e a uma certa distância erguem-se Ischia e Capri. É nas velhas ruas de uma Nápoles monumental que se vai andarilhar, logo no primeiro dia. Não se mostra, mas é uma cidade que fervilha de lixo, toneladas de lixo que se derramam à volta dos ecopontos e dos baldes, por vezes com odor fétido, situação incompreensível pois choca com o fervilhar desta cidade que possui um património inaudito, desde o mundo antigo à atualidade.


Um sinal da presença espanhola, estamos no tempo do vice-rei de Espanha, D. Pedro de Toledo, o planeador da cidade, um urbanismo em expansão que saltou as muralhas, constroem-se palácios, as tropas estão aquarteladas no Quartieri Spagnoli. Nápoles é então a maior cidade da Itália. O domínio espanhol só acabará em 1707, com o Tratado de Utreque, Nápoles será cedida à Áustria.





Impossível ficar insensível aos meandros destas ruas longilíneas, correspondentes às três principais vias da Nápoles greco-romana, andarilha-se por becos, ruelas e impasses para fugir a um trânsito caótico de motoretas e carros, há nichos que nos lembram as nossas alminhas, sempre com velas acesas, espreita-se para os interiores, sempre uma pomposidade discreta. O viandante tem à sua mercê um fartote de edifícios históricos, igrejas e museus, é uma atmosfera de outubro muito agradável, é muitíssimo bom este deambular sem a pressão do cronómetro. Entra-se num café para mordiscar um bolo tradicional de Nápoles, a babá, mete-se conversa com um autóctone, deve ser alguém que gosta do mundo subterrâneo, fala longamente sobre a Nápoles subterrânea, a cidade está cheia de catacumbas, aquedutos, grutas, algumas funcionaram como abrigo durante os bombardeamentos da II Guerra Mundial. E despedem-se falando de Kaputt, de Curzio Malaparte, a obra-prima termina em Nápoles, nesses tempos de bombardeamento, em 1943. Segue-se trajeto e dá-se de frente com Pio Monte della Misericordia, estamos em plena Via dei Tribunali. Que há de notável? O Pio Monte é um género de Misericórdia, foi fundado para ajudar os pobres e os doentes e para libertar os escravos cristãos do Império Otomano. No seu interior está um retábulo extraordinário, os Sete Actos de Misericórdia, uma tela prodigiosa de Caravaggio. O viandante gosta de boa publicidade e não resistiu a fotografar o convite e depois, em todo o seu esplendor, o claro-escuro de Caravaggio.



Continua o enamoramento até se chegar à catedral, Il Duomo, construção iniciada em finais do século XIII no tempo de Carlos I de Anjou. Sabemos bem que todas estas belezas arquitetónicas vão tendo alterações ao longo dos séculos. Tudo aliás começara com uma basílica paleocristã alterada pelos Angevinos, possui linda fachada marmoreada, é um dos templos de maior devoção em Itália. Por ali vai andar placidamente o viandante, visitará a Cappella di San Gennaro; encontra-se um relicário do santo em trabalho gótico, ouro maciço, no Museu do Tesouro, ali ao lado. A singularidade do templo deve-se ao facto do esplendor não estar todo ele concentrado nas naves nem no altar. Há a Capela de São Januário, como já se referiu. Mas há também Santa Restituta, a visita é indispensável, está aqui a estrutura da basílica paleocristã alterada pelos Anjou, com uma decoração que foi reposta em finais do século XVII. Por ora vamos deambular. Quem aqui vier, não perca o batistério, o mais antigo do mundo ocidental. Os estilos embrincam-se, ressalta o barroco, a profusão de colunas antigas, há uma capela com estrutura e decoração gótica original, veja-se o chão de mosaicos.






Fiquemos por aqui. De seguida, vamos até Santa Restituta, é bem merecedora da nossa contemplação, volta-se à rua para ver o resto do teatro romano, entra-se numa galeria de nome Príncipe de Nápoles, já deve ter conhecido dias melhores, o viandante hesita entre visitar de barriga a bater horas um dos museus arqueológicos de maior valor ou então comer uma pasta fresca e deambular sem destino. Ganha o estômago e o prazer da mesa. Alguém escreveu que depois de ver Nápoles já se podia morrer, ao viandante não parece destino sublime, aqui a gastronomia é fina e há muitíssimo mais para ver antes de pensar viajar até às estrelinhas.

(continua)
____________

Nota do editor

Último poste da série de 18 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20869: Os nossos seres, saberes e lazeres (386): Uma memorável visita ao mundo albicastrense (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20900: Tabanca Grande (493): José Carvalho, natural do Bombarral, com amigos na Lourinhã, ex-alf mil inf, CCAÇ 2753, "Os Barões do K3" (Bissau, Bironque, Madina Fula, Saliquinhedim / K3 e Mansába, 1970/72): senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar n.º 807


O alf mil inf José Carvalho, CCAÇ 2753, Os Barões do K3,  (Bissau, Bironque, Madina Fula, Saliquinhedim / K3 e Mansába,  1970/72)
 

O médico veterinário José Carvalho, natural do Bombarral, com amigos na Lourinhã; novo membro da Tabanca Grande com o nº 807. . Fotos (e legendas): © José Carvalho  (2029). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de José Pimentel de Carvalho, médico veterinário e novo membro da Tabanca Grande, que passa a sentar-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 807:

Data: 14/04, 18:40 (há 10 dias)

Assunto: Inscrição como membro da Tabanca Grande

Boa tarde Luís Graça,

Depois de há bastante tempo visitar regularmente o blogue, que considero ser uma obra notória e importante para a história recente de Portugal, por isso felicito os seus obreiros, neste período de confinamento, em que até consigo ter tempo…, concretizo a decisão de apresentar a minha inscrição para membro da Tabanca Grande.

Sou oriundo do concelho do Bombarral, vizinho da Lourinhã, em cujo concelho iniciei a minha actividade profissional, na industria avícola, quando a mesma começava a ser uma das principais actividades económicas da região.

Teremos até amigos comuns, um dos quais que recordo com saudade, o Álvaro Carvalho, condiscípulo no Liceu de Leiria, nos anos sessenta, ambos com o mesmo encarregado de educação local, e irmão do meu colega e amigo homónimo José Carvalho.

Nasci em 1948, no Bombarral, José Júlio Faria Pimentel de Carvalho, fui incorporado no Exército Português em Julho de 1969, na EPI Mafra, passei pelo BI 17, Angra do Heroísmo, onde se formou a CCaç  2753, "Barões do K3",  e chegámos à Guiné em Agosto de 1970. 

A companhia finalizou a comissão em Junho de 1972 e eu com a incumbência da comissão liquidatária, em inicio de Agosto.  

Fui Alf Mil Inf tendo passado, entre 1970 e 1972 por Bissau, Bironque, Madina Fula, Saliquinhedim / K3 e Mansabá.

Junto-me a mais dois ”Barões”, que são membros veteranos da Tabanca Grande, o grande Amigo Vítor Junqueira, com quem ultimamente tenho convivido nos almoços da Tabanca do Centro,  e o Francisco Godinho.

Profissionalmente desenvolvi a minha actividade de Médico Veterinário, predominantemente na área da avicultura e na industria farmacêutica (saúde animal).

Em ficheiro anexo envio as duas fotografias requeridas, uma de 1972, outra desta semana e proponho no futuro enviar outras da Guiné, que porventura os distintos editores, avaliarão do interesse ou não da sua publicação.

Termino felicitando e agradecendo o notável esforço de todos Tertulianos, que ao longo destes anos, têm contribuído para o enorme sucesso do blogue.

Um abraço do
José Pimentel de Carvalho


2. Comentário do editor LG:

Caro José Carvalho: os amigos dos meus amigos meus amigos são... Além disso, como camaradas que fomos, tratamo-nos por tu, o que esbate logo eventuais distâncias... Seguramente que já nos encontrámos por aqui, na Lourinhã, e, como soi dizer-se nestas circunstâncias, "a tua cara não me é estranha"... 

E começas logo por citar dois grandes amigos de infância, o Álvaro Carvalho, médico psiquiatra (Lourinhã,  1948 - Lisboa,  2018) (e meu colega de escola primária, um amigo de toda a vida: tem aqui, neste blogue, pelo menos 3 referências, textos meus de apreço, saudade e homenagem) e o José Andrade de Carvalho, seu mano, também médico veterinário como tu. Em suma, sempre fui amigo da família, incluindo a Hermínia.

Quanto ao Vitor Junqueira, há muito que nos honra com a sua presença na Tabanca Grande, organizou o nosso II Encontro Nacional, em Pombal, em 2007, Tem cerca de 7 dezenas de referências no nosso blogue e dele já publicámos algumas das nossas melhores histórias. Há uns anos a esta parte deixou de ser tão assíduo, o que é humanamente compreensível: andamos para aqui a blogar desde 2004...

O Francisco Godinho ainda há pouco tempo o encontrei na Casa do Alentejo. Também nos honra com a sua presença, contando com quase 3 dezenas de referências no nosso blogue.

Naturalmente, não precisas de cartas de recomendação: estás aqui de pleno direito, como ex-combatente no TO da Guiné,  e já te sentei no lugar n.º 807, à sombra do nosso secular, mágico, protetor e fraterno poilão... Como sabes, não havia tabanca sem poilões, e a nossa tem um muito grande, justamente para poder caber, sob a sua frondosa copa, todos os nossos camaradas... (e alguns amigos/as, que, não tendo sido militares, têm uma relação especial com a Guiné).

É caso, de  resto, para dizer que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. E, no teu caso, não preciso de lembrar que a nossa Tabanca é Grande, justamente porque nela cabemos todos nós, com tudo aquilo que nos une e até com aquilo que nos pode separar. E uma vez, que não há mais nenhum José Carvalho, ficas com o nome por que  foste batizado e és conhecido, e que passa, a partir de agora, a figurar na nossa lista alfabética, de A a Z, na coluna estática do lado esquerdo do blogue. (Se preferires, podes ficar como José Pimentel de Carvalho, como és conhecido profissionalmente.)

Sendo tu já um leitor de longa data do nosso blogue, sabes quais são as nossas regras editoriais e o nosso "modus faciendi": textos e fotos para publicação mandas, como fizeste agora, para um dos editores. Tratamos depois do resto.

És naturalmente bem vindo e seguramente recebido de braços abertos por todos/as. Não tenho, assim de cor, a certeza de ter algum bombarralense como grã-tabanqueiro... Conheço o Patuleia, mas ele foi combatente em Angola, embora tenha cá bons amigos e camaradas, como o António Marques, da  minha CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71): estiveram muito juntos, no Hospital Militar Principal, em recuperação, em 1971/72.

Desculpa só agora responder-te: poderia desculpar-me com a situação atual criada pela pandemia de COBID-19 e  com  o "teletrabalho" (, que, de resto,  já existe há muito entre nós,  editores, em boa verdade desde o início do blogue, em 23/4/2004)... Mas não, precisava apenas de ter uma horinha para te dar bom andamento ao teu pedido e apresentar-te aos demais camaradas e amigos.

Vejo, por outro lado, que somos também da saúde pública, e portanto com mais afinidades, para além da Guiné e dos nossos comuns amigos da Lourinhã.  Estás apresentado, desejo-te boa saúde e longa vida, e aguardo as tuas próximas histórias.

A tua CCAÇ 2753 tem 27 referências no nosso blogue. Vão aumentar, seguramente, com a tua partilha de memórias (e afetos).
Luís Graça

PS - O nosso coeditor Carlos Vinhal é teu contemporâneo, esteve  em Mansabá,  entre abril de 1970 e março de 1972. Foi Fur Mil At Art, com a especialidade de minas e armadilhas da CART 2732.

Guiné 61/74 - P20899: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (9): Petiscos exóticos... em tempo de isolamento social (José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia)






Tabanca da Lapónia >  2020 >  Não se aceitam, reservas... devido à situação de confinamento na sequência da pandemia de COVID-19...  que também cá chegou, à última grande  extensäo verdadeiramente selvagem da Europa... Também não há "take way".

Fotos (e legenda): ©  José Belo (2020). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Duas mensagem, com data de 23 do corrnte,  de José Belo ex-alf mil inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70, e manteve-se no ativo, no exército português, durante uma década; está reformado como capitão inf do exército português: jurista, vive entre (i) Estocolmo, Suécia,  (ii) nas imediações de Abisco, Kiruna, Lapónia, no círculo polar ártico,  já próximo da fronteira com a Finlândia, e (iii) Key-West, Florida, EUA; é o único régulo da tabanca de um homem só (, mas sempre bem acompanhado das suas renas, dos seus cães e dos seus ursos)


Os isolamentos, os petiscos e os ...URSOS

1. Nos últimos anos o número de ursos tem vindo a aumenter consideravelmente neste extremo do extremo norte europeu.

Näo säo täo perigosos como se possa esperar pois evitam ao máximo os encontros com humanos.
A darem-se encontros inesperados, ou se acompanhados de crias, a história pode tornar-se bem diferente.

Daí que, e desde há muito, a carne de urso é uma das especialidades locais apreciada por muitos, seja ela assada, grelhada,fumada ou em enchidos vários.

Neste período de isolamentos virais recomenda-se como petisco compensador..

Aqui seguem algumas fotos sugestivas,com a curiosidade de a foto do cäo mostrar o tipo de colête com picos afiados que ajuda o animal em... encontros inesperados.

Um detalhe "técnico" para os chefes amadores: A carne que nestes assados parece estar (aos olhos lusitanos) sempre "mal passada" em verdade näo o está. O método muito usado por aqui de assar em forno com temperaturas pouco elevadas,  mas durante muitas horas, dá-lhe este aspecto e sabor suculento de mastigacäo muito agradável.

2. Tendo consciência que os exóticos ursos da Lapónia näo säo únicos, e que alguns também se passeiam por ruas do nosso querido Portugal, sinto necessidade de dar um esclarecimento quanto ao texto por mim enviado.

O nosso Blogue é, em verdade, um ponto de encontro de antigos combatentes da Guiné. Tem servido,e serve,para nele serem publicadas recordacöes pessoais daqueles tempos, Experiências várias,assim como importante documentacäo de acontecimentos Históricos com a Guiné relacionados.

E aí devem também ser incluidas as célebres fotos com macaquinhos no ombro direito ou esquerdo,de acordo, certamente, com as preferências políticas do fotografado.
Ao enviar texto e fotos culinárias para um tal blogue, näo espero que os Camaradas väo de imediato buscar o avental e a panela... dirigindo-se para a cozinha.

Mais näo é que uma busca inocente de levar até aí algumas das muitas realidades "exóticas" deste extremo do extremo norte europeu, considerado de facto como a última grande (!) extensäo verdadeiramente selvagem da Europa..

Säo para muitos ...tempos de isolamento...e talvez estas "variantes" sirvam para ajudar a "matar o tempo". Espero.
_______________

Nota do editor:

Último poste da série > 24 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20895: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (8): Mais algumas dicas da "Chef" Alice Carneiro, do restaurante "Chez Nous"... Não comam muito, comam bem, façam exercício, e não se esqueçam também de alimentar os nossos bons irãs...

Guiné 61/74 - P20898: (De)Caras (156): O comerciante Mário Soares, de Pirada, quem foi, afinal? Um "agente duplo"? - Parte V: Quando fui a Pirada, em DO-27, em 2/5/1972, levar o inspector da PIDE/DGS, Fragoso Allas, a Pirada, para conversões secretas com os senegaleses... A 18 desse mês, Spínola encontra-se com o Senghor, em Cap Skiring (Gil Moutinho, ex-fur mil pil, BA 12, Bissalanca, 1972/74)


Guiné > Região de Gabu > Pirada > c. 1973/74 > "Na casa do célebre senhor Mário Soares. Acompanhando-o quatro alferes milicianos e um capitão miliciano".

Um dos alferes era Manuel Valente Fernandes, ex-Alf Mil Médico do BCAV 8323, Pirada, 1973/74, membro da nossa Tabanca Grande desde 17/10/2012. (,. o segundo, do lado esquerdo). Do anfitrião (o primeiro, a contar da direita) sabe-se que gostava de (e sabia) bem receber, qualquer que fosse as suas motivações. O nosso camarada Gil Moutinho reconheceu, de imediato, esta mesa, à volta da qual esteve sentado em 2/5/1972, comendo do bom e do melhor, enquantoi o patrão da PIDE/DGS, e homem da confiança de Spínola, conferenciava com o Mário noutro aposento... Pequena história da História Grande...

Foto (e legenda): © Manuel Valente Fernandes (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário do  Gil Moutinho (ex-fur mil pil,  BA12, Bissalanca,1972/73); um dos régulos da Tabanca dos Melros,  Fânzeres, Gondomar) (*):

Ao ver a foto e a mesa, parece irrelevante, mas vi-me sentado ao seu redor e na altura, a 2 maio de 1972, chamou-me bastante a atenção, uma rodela de um tronco enorme e muito bem decorada com tudo do bom e melhor, o melhor presunto, outros enchidos, as melhores bebidas e muito mais.

Pois, na data acima, a minha missão foi transportar de Bissau o chefe da PIDE/DGS, o Fragoso Allas para Pirada,  passando por Bambadinca na ida e regresso, talvez levando alguém de lá.

As peripécias desse vôo estão contadas no poste 1040 do blogue dos especialistas da BA12. (#)

Não tendo passado para o lado do Senegal por sorte (nem um mês de comissão eu tinha!), lá aterrei e aguardei que os passageiros conferenciassem com o Mário Soares. e,  nos entretantos, fui obsequiado principescamente na famosa mesa e durante umas horas.

De facto o homem [, o Mário Soares, de Pirada] era importante!!!

Gil Moutinho

2. Reprodução  com a devida vénia, da mensagem do Gil Moutinho, acima referida (#):

Especialistas da Base Aérea 12, Guiné 65/74 > 14 de junho de 2009 > Voo 1040: A minha primeira ida a Pirada. (Excerto)

(...) Vou escrever agora umas pequenas histórias da Guiné.

A primeira de como cheguei ao destino por acaso e a segunda de um companheiro fiel.

Como sabem na província só haviam duas estações no ano, a das chuvas e a seca, sendo que ambas eram quentes, na das chuvas o ar era limpo embora com trovoadas e muita nebulosidade (muitas vezes tínhamos que contornar os cúmulos-nimbos, para não partirmos o estojo); na  [estação] seca, existiam permanentemente fumos e poeiras no ar que nos limitava a visibilidade como de nevoeiro se tratasse.

Na época seca, e era eu periquito com algumas semanas, foi-me destinada a missão, em DO 27, ,de transportar um elemento da PIDE/ DGS até Pirada, passando primeiro por Bambadinca para recolher correio. 

Estas viagens eram pouco usuais por serem directas de Bissau ao Leste. Até Bambadinca foi fácil, seguindo o rio  Geba, e é logo ali. A partir daí tinha que seguir a estrada até Nova Lamego, passando por Bafatá, e aí virar a Norte,  tentando seguir a estrada (picada) e tentar acompanhar o rumo pela bússola. 

Com a falta de visibilidade da época, tinha que praticamente ir a rapar. Pela bússola, se havia ventos laterais saíamos da rota, e aparentemente estávamos bem, pelo voo à vista e com a pouca visibilidade a estrada por vezes desaparecia entre as árvores e da minha vista.Também pela distância e pela velocidade se calculava o tempo de chegada com o rigor possível. 

Pois!... O tempo passava e já não tinha a certeza se estava na picada certa, assim como o tempo previsto se esgotava e eu poderia ter passado Pirada e estar do lado de lá (são só 500 metros até à fronteira). 

Nestes quase cagaços, vejo-me a passar rigorosamente por cima do edifício onde em letras garrafais dizia "PIRADA". 

Ufff!.... Meia volta apertada, linha de descida e aterragem. Enquanto o passageiro  conferenciava com o Mário Soares (é outro),  fui obsequiado com mordomias impensáveis naqueles buracos.

O regresso foi fácil, bússola até ao Geba e depois Bissalanca.
A outra história fica para outra vez.
Um abraço
Gil Moutinho

Nota do Vítor Barata [, editor]:  Hoje é bom recordar momentos interessantes vividos a 3,4 e 5 mil pés de altitude,e nós,  Gil,  que tantas vezes voamos juntos, quando o perigo era encarado pela ousadia da nossa juventude,como um "sorriso nos lábios". Nunca me canso de evidenciar a altitude máxima na Guiné, 300/400 m em Madina do Boé,o equivale a dizer que quando em velocidade cruzeiro, toda a província nos via.Não seria isto uma autêntica exposição ao perigo?

Felizmente que o armamento antiaéreo do IN também não era o melhor para nos atingir.
Já lá vai, Gil, e correu bem, por isso aqui estamos a recordar.

Postado por Especialistas da BA 12 às 23:08:00

3. Comentário do editor LG (*):

Gil, a tua informação é preciosa... Tu fizeste história!...

A 2 de maio de 1972 foste levar, em DO-27, o chefe da DGS, o inspector  Fragoso Allas, a Pirada, para "negociações" com o Mário Soares, que, sabemo-lo hoje, foi intermediário no processo de contactos preliminares com o Leopoldo Senghor... 

O comerciante Mário Soares foi uma "eminência parda nesta guerra" (**)... O seu testemunho seria precioso, se fosse vivo, o que é de todo improvável atendendo à idade que já teria nessa época...

Em 18 de maio, Spínola encontra-se com o Leopoldo Senghor em Cap Skiring, próximo da fronteira... É um facto histórico, Spínola explora as possibilidades de mediação do presidente senegalês entre as duas partes envolvidas no conflito, Portugal e o PAIGC... Mas Lisboa vai-lhe tirar o tapete...
_____________

Nota do editor:

(*) 21  de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20884: (De)Caras (128): O comerciante Mário Soares, de Pirada, quem foi, afinal? Um "agente duplo"? - Parte IV: Versões contraditórias sobre o "resto da história" deste português, de quem o ex-alf mil médico José Pratas (, BCAV 3864, Pirada, 1971/73) disse que foi "porventura o branco mais africano que conheci"

(**) Os "bons ofícios" do comerciante de Pirada foram reconhecidos pelo antigo chefe de gabinete do gen Spínola, o então alf mil Barata Nunes, que enverediu mais tarde pela carreira diplomática... Veja-se o poste :

15 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20858: (De)Caras (125): O comerciante Mário Soares, de Pirada, quem foi, afinal ? Um "agente duplo" ? - Parte I (Depoimentos do embaixador Nunes Barata, e do nosso saudoso camarada Carlos Geraldes)


(...) Depoimento do embaixador João Diogo Munes Barata:

[Alferes miliciano na Guiné (1970); secretário e, posteriormente, chefe de gabinete do Governador da Guiné, general António de Spínola (a partir de Maio de 1971); adjunto diplomático da Casa Civil do Presidente da República, António de Spínola (Maio a Setembro de 1974), tendo no desempenho deste cargo, colaborado no processo de descolonização; delegado do MNE na Junta de Salvação Nacional]

(...) Com essa ideia, portanto, com a ideia de avançar no processo de descolonização, o general tentou estabelecer contactos com o Governo senegalês e, através dele, com o PAIGC.

 Os primeiros contactos foram feitos através do chefe da delegação da PIDE/DGS [em Bissau], o inspector Fragoso Allas e por Mário Soares. Mário Soares, não o Dr. Mário Soares, mas Mário [Rodrigues] Soares,  um comerciante de Pirada, um homem que se chamava Mário Soares, mas que era comerciante em Pirada, uma povoação fronteiriça da Guiné com o Senegal. Esse comerciante ….

Eu lembro-me de um dia estar no meu gabinete no Palácio e de o senhor Mário Soares ir lá comunicar que já tinha estabelecido o contacto com o lado de lá e que, portanto, se podiam iniciar as negociações para uma ida, para um encontro do Governador com o presidente Senghor. Houve previamente um encontro. O general Spínola foi duas vezes ao Senegal (acompanhei-o em ambas as visitas).

A primeira, para um encontro com o ministro senegalês dos Assuntos Parlamentares, porque evidentemente o presidente Senghor, na altura, ainda não sabia bem quais eram as ideias do general Spínola e não quis, evidentemente, romper as exigências protocolares e, como chefe de Estado encontrar-se com o governador de uma província, de uma colónia. E mandou um ministro.  (...)

Fonte: Estudos Gerais da Arrábida > A descolonização portuguesa > Painel dedicado à Guiné (27 de, embaixador João Diogo Nunes Barata e general Hugo dos Santos [Disponível aqui]

sexta-feira, 24 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20897: Esboços para um romance - I (Mário Beja Santos): Peço a Deus que tu regresses são e salvo (4)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 11 de Fevereiro de 2020:

Queridos amigos,
Vou a caminho dos 23 anos, saí definitivamente de casa, ganho consciência de que posso comandar homens sem voz do trovão nem requintes de militarão. É a primeira vez na vida que tenho que gerir os meus tostões, sem pedir nada a ninguém. E em menos de seis meses sou alvo de um acolhimento excecional, faço amizades inquebrantáveis, senti-me confortado por trabalhar e viver num local paradisíaco.
Terei ainda o privilégio, nos 50 anos subsequentes, de ir acompanhando as transformações que se irão operar nesta região atlântica, um dos pontos do meu país que mais progrediu.
Aquele dia de outubro de 1967, a minha mãe agarrou-se dizendo que pedia a Deus que eu regressasse são e salvo, parecia que eu ia fazer uma expedição para o Ártico, era a separação, agarrar-se-á com a mesma fortaleza um ano depois, em 24 de julho de 1968, com o mesmo apelo ao divino. Tudo correu de feição, e quer os Açores quer a Guiné marcaram-me indelevelmente, tal como o amor que a minha mãe me deu.

Um abraço do
Mário


Peço a Deus que tu regresses são e salvo (4)

Mário Beja Santos

Estou a pagar o preço de remexer em papéis que tinham ficado intocados durante décadas. E de uma gaveta há muito fechada à chave a minha filha entrega-me uma bandejinha de prata, que na época recebi com tanta emoção, recordação do 5.º Pelotão, tem no verso o nome da ourivesaria, Martins do Vale & Irmão, LDA., Rua Machado dos Santos, 89-91, Ponta Delgada, posso imaginar o que significou esta prova de gratidão para quem a deu e a recebeu. Não merecia ter ficado tanto tempo escondida, tratada como peça de sótão, fui buscar um limpa-metais, removeu-se a injusta negridão, um tanto às três pancadas, ainda há marcas de cré, limpar-se-á melhor depois, para pôr em lugar de destaque, era imperioso aqui se expor e agradecer, com eterna lembrança aos autores da dádiva.


Falei dos primeiros passeios, daquele deslumbramento progressivo, a descoberta da costa norte, o ficar especado num miradouro tendo como anfiteatro um casario disperso até ao longe, onde se avistavam as canadas, e depois o abismo sobre o mar, como se caminhasse para o infinito ouvindo o bramido das ondas enfurecidas. A estranheza que me causou aquela areia preta, mas tudo se superava com o fragor de toda aquela massa líquida com espuma alvíssima, o sibilar dos ventos, fazendo dançar as criptomérias e araucárias. E as pastagens, sempre verdejantes, o prazer de iniciar a instrução nos Arrifes tendo como pano de fundo aqueles montes, ouvindo o chocalhar das vacas, em busca de melhor ração. Descobrir a Lagoa das Sete Cidades, passear a toda a volta, foi acontecimento. Mas um dia, esta generosa amiga, Cremilde Tapia, fez questão de me mostrar uma outra feição do mundo genesíaco, a Lagoa do Fogo. Ainda hoje o meu coração balança, porque a memória não me atraiçoa, era um silêncio obsidiante, um ar fresco que me tomava os pulmões e só de quando em quando se ouvia aquele choro convulso dos cagarros, imagine-se, e isto não é pura fantasia, que mais tarde, nas noites expetantes de Missirá, andando a fazer a ronda junto dos postos de vigilância, conversando baixinho para quem policiava a mata em derredor, o choro das hienas, lembram crianças perdidas na floresta, pois nesses instantes, associava aquele choro aos cagarros, que descobrira na Ilha de São Miguel, um piar tétrico, felizmente, de curta duração.

Lagoa do Fogo

Para onde quer que me voltasse, quando regressava da instrução nos Arrifes, era quase inevitável passar pelo Coliseu, na altura decadente por fora e decadente por dentro. Conversando com os meus instruendos, descobri que uma boa parte deles jamais em tempo algum se tinha sentado numa sala de cinema. Andei às voltas, à espera de uma programação aliciante. E publicitou-se para a semana seguinte Lord Jim, pedi autorização para um transporte militar levar o pelotão dos Arrifes a Ponta Delgada e retorno, jantar cedo para chegar ao cinema um pouco antes das nove horas. Foi um êxito. Os mancebos ali estiveram de olho arregalado até assistir ao sacrifício de Lord Jim, mais de duas horas a fio. Abrira uma boceta de Pandora, outros aspirantes sentiram-se impelidos a repetir o evento com os seus instruendos. Pois sempre que passo por aqui, esta sala lindamente restaurada, lembro-me dessa noite e de gente feliz para quem se rasgara uma nova janela sobre o universo.

Coliseu Micaelense

Retorno à vida extremamente difícil destas famílias dos Arrifes, doía-me as carências alimentares, ver a avidez com que levavam a colher à boca, primeiro a sopa, depois as batatas com atum ou cavala, a satisfação com que partiam com a malga vazia, até à próxima, amanhã queremos saber quando é que volta a ser oficial de dia. Espero que estejam todos vivos, andarão pela casa dos sessenta anos, que a vida não lhes tenha sido madrasta, em S. Miguel, nos States ou no Canadá.


Quando saí de casa, em outubro de 1967, lembrei à minha mãe que quando regressasse iria tratar de mim, queria ser independente. Fiz um longo discurso em que lembrei a dívida impagável pelo amor, pela solicitude, pelo modo como me inculcara valores, merecia uma reforma descansada, sem mais filhos para tratar. Tudo correu às avessas. Não morrera de dois cancros, aquelas pernas começaram a encurvar, sofria horrores, com injeções a frio nos joelhos, o coração não resistiu, cedeu em 20 de janeiro de 1982, tinha 67 anos, vivera em Angola até aos 16, frequentou o curso de Canto no Conservatório, tirou o diploma de Magistério Primário, fez a campanha nacional de educação de adultos, era bibliotecária na Maternidade Dr. Alfredo da Costa. Graças aos amigos açorianos, veio conhecer S. Miguel e eu fiquei imensamente feliz, nessa altura já chegara a notícia de que ia regressar em breve, para formar batalhão, na Amadora.


Eis a minha gente, terá sido a derradeira fotografia de família. Foram mais de cinco meses e meio, duas recrutas em série, conheci alguma da gente mais amável do mundo, recebido com primores de hospitalidade, pela primeira vez na vida geria inteiramente o meu destino, suspirava para que o tempo de guerra passasse depressa, assentara ideias sobre o meu curso universitário. A roda da fortuna balançou em rodopio. Tempos depois de chegar à Amadora, serei dado como “ideologicamente inapto para a guerra de contraguerrilha, mormente no Ultramar Português”. Estava selado o meu destino. Disse-me o major, com sorriso escarninho e o desprezo na beiça, “agora vá infetar os pretos com as suas ideias…”. Aprendera nos Arrifes a ter confiança em mim próprio para aquelas lides militares, o que se seguiu não foi jugo leve, foi só a experiência que me burilou o caráter e me preparou para as tempestades e bonanças com que a vida nos compraz. Agora só me resta um relato, para pôr termo a estas elucubrações de saudade, fazer um curto périplo pelos últimos 50 anos de arrebatada paixão açoriana.


(continua)
____________

Nota do editor

Último poste da série de 17 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20864: Esboços para um romance - I (Mário Beja Santos): Peço a Deus que tu regresses são e salvo (3)

Guiné 61/74 - P20896: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (13): Viagem a Canchungo onde estamos a montar água e iluminação com energia solar


Foto nº 1 > Estrada Pelundo-.Canchungo


Foto nº 2 >  Estrada de Pelundo - Canchungo: paragem


Foto nº 2A > Estrada de Pelundo - Canchungo: paragem: " (...) Carono(s) de Pelundo"


Foto nº 3 >  Canchungo: av principal... Quartel ao fundo.


Foto nº 4 > Canchungo, retunda frente ao quartel


Foto nº 5 > Canchungo


Foto nº 6 > Canchungo, bomba solar H, instalada pela Impar Lda.

Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Canchungo (antiga Teixeira Pinto) > Abril de 2020

Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro (2020) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem do nosso amigo e camarada Patrício Ribeiro, um português, natural de Águeda, criado e casado em Angola, Huambo, ex-fuzileiro em Angola durante a guerra colonial, a viver na Guiné-Bissau desde meados dos anos 80 do séc. passado, fundador, sócio-gerente e director técnico da firma Impar, Lda.; tem mais de 90 referências no nosso blogue]

Data - 23 abril 2020 21:19

Assunto - Canchungo /Teixeira Pinto)


Luís,

Boa dia, desde Bissau

Envio, mais umas fotos, para os “confinados no frio" recordarem: viagem a Canchungo (antiga Teixeira Pinto) no final da última semana.

Para lá a viagem correu bem, os buracos da estrada, também têm algum asfalto.

No regresso a Bissau, vim de reboque durante 4 horas, por avaria da minha viatura (partiu a correia da ventoinha), foi uma boa viagem, com 40 graus dentro da cabine.

Também neste Hospital de Canchungo, andamos a instalar água e iluminação, com energia solar, para que estes “elementos básicos”, não faltem nas 24h do dia, já que não tinha.

Como os transportes públicos estão proibidos de circular, as pessoas também estão confinadas, há muito pouco movimento nas estradas do interior.

Qualquer dia… quando os meus mangos estiverem maduros, também me vou confinar, quero ir regar os meus eucaliptos [, lá em Águeda].

Por enquanto, ainda vou trabalhando 10 horas por dia, enquanto há cerveja…

Amanhã mais uma viagem… aos Hospitais de Mansoa e Farim.

Vou tirar mais algumas fotos para vos mandar.

Abraço
Patricio Ribeiro

_______________