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quinta-feira, 31 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27074: Felizmente ainda há verão em 2025 (4): alzheimareados com a canícula...














Lourinhâ > Praia da Areia Branca, a caminho do Vale de Frades e de Paimogo > 26 de julho de 2025 > Paisagens jurássicas que fazem parte da "Formação Lourinhã"

(...) "Formação Lourinhã é uma formação geológica localizado no oeste de Portugal, nominada em homenagem ao concelho de Lourinhã. 

"A formação é da idade do Jurássico Superior, e tem notável semelhança com a formação Morrison nos Estados Unidos da América e com as camadas de Tendaguru na Tanzânia. (...) 

"Além de abundante fauna fóssil sobretudo de dinossauros (...) comprovada pela ocorrência de ossos, a Formação Lourinhã também tem numerosas pegadas (...)". Fonte: Wikipedia.

Fotos (e legenda): © Luís Graça 2025). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Há uma crise de colaborações no blogue quando chega a canícula e o pessoal vai para banhos... 

Há também uma crise da habitação: as "datchas" estão sobrelotadas... Logo não há férias para os antigos combatentes: a guerra acabou, estão desempregados...Mas a guerra nunca acaba para quem andou nela... É como estas paisagens jurássicas da "formação Lourinhã": são restos (violentíssimos) de outras batalhas com 163,5 milhões a 145 milhões de anos.

Há, por fim, uma crise de inspiração e transpiração... Vamos  ter que põr ar condicionado na Tabanca Grande, sob pena da Alta Autoridade para as Condições de Trabalho mandar fechar o estaminé...

Andamos, por isso,  para aqui a recuperar algumas "pichagens" nos muros da Tabanca Grande.  Algumas podem ofender a moral pública...O leitor terá que decidir se tem 18 ou mais para as ler. 

Já sabíamos, desde os "saudosos" (para alguns) tempos da Guiné, que a guerra tem de parar quando o termómetro chega aos 40 graus centígrafos... Façamos, por hoje, e se calhar nos próximos dias, uma paragem na guerra. 

Recusamo-nos a combater por falta de condições bélicas...


1.1. Mr. Joseph Belo (s/l, s/d), régulo sempiterno da Tabanca da Lapónia (a tal que é de um homem só, e que agora corre o risco, por abandono do posto de sentinela, de ir parar ás mãos dos "ocupas", com a crise da habitação que também já chegou àquelas bandas).

(,..) Nem tudo deverá ser levado demasiadamente “a sério” quando apresentado em inocentes pósteres vindos de…longe!

A este respeito o saudoso escritor José Cardoso Pires comentava, em roda de amigos, nas noites de 1974/1975 no lisboeta "João Sebastião BAR" , referindo-se a algumas das auto-importantes personalidades do Conselho da Revolução:

“Alguns papagaios julgam-se em pleno Amazonas quando o dono lhes coloca um ramo de salsa nas grades da gaiola “.

Tudo mais não terá (neste tipo de pósteres de Verão) que a levíssima , e fresca, importância que lhes damos. (...)


 1.2. Há quem se tenha preocupado, ultimamente, com  o  estado de saúde mental do blogue, de quem o faz, de quem o (e)dita, e até de quem o lê... Alguém insinuou que quem o (e)dita, podia andar, com este calor todo,  já  meio "alzheimareado". 

O assistente de IA, o "sabe-tudo", não soube responder : a estas duas perguntas elementares

(i) o que quer dizer o raio do vocábulo  "alzheimareado" ?; e

(ii) onde vem grafado ? 

Respondeu, solícito, diligente, o "sabe-tudo":

(...) Encontrei um único registo escrito do termo “alzheimareado” num blogue português, usado como expressão coloquial e carregado de humor negro, destacando um comentário que associava estar “alzheimareado” a tornar-se “parkinsónico e alzheimareado” como uma espécie de crítica jocosa à memória falível blogueforanadaevaotres.blogspot.com.

Isso sugere que o vocábulo surgiu em contexto informal e comunitário — especificamente num blogue sobre memórias da Guiné, onde se listam termos depreciativos de forma metafórica: “protésico, radioativo, parkinsónico e alzheimareado” blogueforanadaevaotres.blogspot.com.

Não foi possível encontrar outras ocorrências em plataformas públicas, como dicionários ou redes sociais, o que indica que o termo ainda é muito raro e não difundido. (...)


1.3. O que o (e)dita, escreveu na legenda de um foto do avião  DO-27 (Poste P27070) algo que pode ser interpretado como um sintoma de quem anda já "alzheimareado", talvez com o desconforto térmico da canícula do verão:


(...) Era uma aeronave que  adorávamos  quando nos trazia de Bissau os frescos e a mala do correio ou, no regresso, nos dava boleia até Bissau, para apanharmos o avião da TAP e ir de férias... 

Era uma aeronave preciosa nas evacuações (dos nossos feridos ou doentes, militares e  civis)... 

Era um "pássaro" lindo a voar nos céus da Guiné, quando ainda não havia o Strela...

Em contrapartida, tínhamos-lhe, nós, os "infantes",  a "tropa-macaca", um "ódio de morte" (sic) quando se transformava em PCV (posto de comando volante) e o tenente-coronel, comandante do batalhão, ou o segundo comandante,  ou o major de operações,  ia ao lado do piloto, a "policiar" a nossa progressão no mato... e a denunciar a nossa posição no terreno!

Quando nos "apanhavam" e ficavam à nossa vertical, era ver os infantes (incluindo os nossos "queridos nharros") a falar, grosso, à moda do Norte, com expressões que eram capazes de fazer corar a púdica da Maria Turra:

"Cabr*es..., filhos da p*ta..., vão lá gozar pró car*lho..., daqui a um bocado estamos a embrulhar e a levar nos c*rnos!...". (...)

(Revisão / fixação de texto: LG)

_______________

Nota do editor LG:

Último poste da série > 30 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27072: Felizmente ainda há verão em 2025 (3): recordando o meu esforçado, voluntarioso, amável , efémero e... clandestino professor de pilotagem do DO-27, o "Pombinho", que veio expressamente do Brasil para assistir ao lançamento do nosso livro "Nós, as enfermeiras paraquedistas", em 26/11/2014, no Estado Maior da Força Aérea, em Alfragide (Maria Arminda Santos, Setúbal)

segunda-feira, 28 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27061: Felizmente ainda há verão em 2025 (1): "Depois dos oitenta deixei de contar anos, agora conto unicamente... Verões" (José Belo, Suécia e EUA)



O Zé Belo deu o "toque de classe": contra a modorra da canícula [do latim canicula, -ae, cadela pequena; calor muito intenso, período mais quente do ano, mas também em grande estrela da constelação do Cão Maior (Astronomia)]... Convida-nos a beber  um vinho ecológico, com mineralidade, do nosso "terroir" europeu... com sabor ao nosso comum Atlântico... 

Eu aposto no Adega d' Rocha Branco 2023 (mas também recomendo o Nita, colheita selecionada, 2024, Doc, Região dos Vinhos Verdes, Quinta de Candoz, Marco de Canaveses, passe a autopublicidade).

O Joseph Belo, agora nas terras do Tio Sam, vai no ecológico  Fasoli Gino Corte del Pozzo Bardolino, feito nas margens do lago Garda, no Norte de Itália.  Felizmente que, vivendo uma parte do ano nos States,  não se converteu à "napalização" do vinho...

Camaradas, leitores,  "amigos" (muito, pouco ou assim-assim), mandem-nos os vossos "postais ilustrados" de verão. Façam prova de vida. Provem a vida. Saudem a vida com um bom vinho (e temos tantos, fabulososos, para todas as bolsas e palatos).

Digam, ao menos, que "felizmente ainda há verão em 2025"...Afinal, nunca se sabe qual é o último... na Terra da Alegria. E, pior ainda, quando virá a "lei seca"... (Cuidado com a caneta do "grande legislador"!|).

Foto: © José Belo (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]


1. Mensagem do Joseph Belo, o nosso (e)terno régulo da Tabanca da Lapónia.

Data - domingo, 27/07/2025, 12:47 
Assunto - Os Verões


Pensador e filósofo do Sul dos States escreveu:

“Depois dos oitenta deixei de contar anos, conto agora unicamente……Verões!”

Votos de mais um bom Verão.

Abraço do J.Belo

terça-feira, 10 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26906: (In)citações (273): Envelhecer... com dignidade ?!? (Joseph Belo, José para os "tugas")









O José Belo, no seu melhor...


Foto: © José Belo  (2025. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]


1. Mensagem de Mr. Joseph Belo  (José para os "tugas") que, tem como Deus, o dom da ubiquidade (a par da arte da camuflagem), conseguindo estar ao mesmo tempo 
 pelo menos em 3 ou até mais sítios (Lapónia / Suécia, Estocolmo / Suécia, Key West / Florida / USA, Tabanca Grande...).  

O que muito nos apraz. O seu sentido de humor, a sua sabedoria de cidadão  do mundo, a sua capacidade de "destilar" e beber o melhor da cultura  dos povos com  quem tem lidado, a sua resiliência, ...,. enriquecem também a nossa Tabanca Grande, ajudam-nos a lidar melhor com as nossas diferenças (reais ou imaginárias),  tornam-nos mais tolerantes e até mais empáticos... 

Tenho aprendido com ele, sobretudo, a capacidade de saber ouvir...  Deus deu-nos o sentido do ouvido, mas não nos ensinou a saber ouvir...o outro. 

No Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades (que continua a fazer sentido celebrar... com amor & humor), fica aqui o seu pequeno contributo para que a nossa tertúlia continue a ser um elo de ligação entre nós e as nossas "sete partidas"... (E a cumprir mais um ano de calendário: fizemos 21 anos, no passado 23 de abril, sem pompa nem circunstância...).

Gosto da imagem das 7 partidas... Isto quer dizer também que chegámos (quando conseguimos chegar) às mais desvairadas partes do mundo... Não foram 7 partidas, e 7 chegadas. Chegámos, ficámos, voltámos a partir, demos um oontributo importante para a universalidade da cultura humana.. Isto quer dizer também que ficámos mais ricos depois de chegar do que antes de partir...Ricos, em termos mais imateriais do que materiais. 


Data - sábado, 7/06, 11:57 (há 3 dias)
Assunto - Envelhecer...com dignidade ?!? (*)


Logicamente o blogue sofre os inexoráveis “atritos” relacionados com a passagem das já muitas décadas.

O envelhecimento dos participantes, a somar-se a uma diminuição da popularidade dos blogues em geral (e a queda em convenientes “evitar balançar o barco” ) poderá levar a uma diminuição de “militância”.

A aparente incapacidade de muitos de, por saudáveis minutos, não levarem as opiniões próprias (ou alheias) demasiado “a sério",  acabará por contribuir para alguns dos afastamentos.

Os já quase cinquenta anos de afastamento das realidades portuguesas do dia a dia talvez acabem por contribuir para uma mais “desinibida apreciação”, seja ela desde Key West/Florida ou do extremo norte sueco.

Talvez.

Um abraço
J. Belo


2. O pretexto do comentário acima foi o comentário, abaixo, que eu fiz há uns dias ao poste do Zé Teixeira  (*):

Zés, Josés, Zé Teixeira, Zé Belo: andamos a blogar há mais de 20 anos (desde 2004, ano que praticamente não conta, publicámos "apenas" 4 postes")... 

Este poste do Zé Teixeira é o P26888 (!)...Publicamos, em média, mais de 1300 postes por ano... Todos os dias (!), como se fosse um jornal diário, o nosso blogue muda de cara, há sempre "coisas novas", mais interessantes ou menos interessantes, que chamam a atenção do leitor...

Ao fim de 20 anos, há naturalmente um "cansaço bloguístico"... Já fizemos pelo menos 10 "comissões na Guiné", cada uma de 2 anos... Não há "tuga" nem "turra" que aguente!... 

Tudo isto para dizer que é uma pena o texto intimista do Zé Teixeira passar um pouco ao lado, na voragem dos dias... Merecia ter, pelo menos, uma boa meia dúzia de comentários... Há uns anos atrás tê-los-ia... Desculpas ? Estamos "velhos e cansados"... Não vale a pena arranjar desculpas !...

O Zé Belo, distante, enigmático, lapónico..., interpelou-nos, mais um vez com uma questão existencial: "Será possível regressar de onde nunca se chegou para o que já não existe?"... 

A esta hora da manhã, sem tomar o meu pequeno almoço ("uma salada de banana, maçã reineta ou pera rocha, morangos, nozes da Califórnia e iogurte grego"... + um café!), não me atrevo a sequer a equacioná-la... quanto mais a tentar respondê-la... Mas mexe com a gente..., mexeu comigo!...

Como mexeu a leitura, a primeira que fiz hoje (e só hoje!, às 7 da manhã), da reflexão, pungente, do Zé Teixeira:

"A guerra nunca acaba, fica connosco"... 

Levei um murro no estômago vazio!...Revi-me em grande parte na história de vida do Zé, o seu percurso foi o de muitos de nós... Um calvário doloroso que cada um de nós, antigos combatentes, percorreu... antes, durante e depois da Guiné....Solitário!...

Mesmo nos momentos mais exaltantes das nossas vidas, pessoais, familiares e coletivas, tivemos de pôr entre parênteses a p*ta da guerra que fomos obrigados a fazer e da qual regressámos com um sentimento, pesado, opressivo... Regressámos com vida, mas, muitos de nós, com a "morte na alma"... Cumprimos o "dever para com a Pátria! (!)" (que está sempre acima dos regimes políticos), ou seja, pagámos-lhe o "imposto de sangue" que ela nos exigiu... Retomámos o nosso lugar (que já não era o mesmo!), continuámos a ter o direito de viver aqui e agora, mesmo que muitos também tenham optado por seguir os caminhos da diáspora (e de "novos exílios", como o Zé Belo)...

Zé Teixeira, está lá tudo. De facto, a guerra nunca acaba, fica connosco. Nenhum de nós faria melhor. E arrematas com um sorriso e uma nota de esperança e de fé, reveladores da tua grandeza humana... Por outras palavras, e parafraseando o Pablo Neruda, disseste o que é importante: "Confesso que vivi"...(Horrível, ou pelo menos "chato", é chegar à porta do São Pedro, de mãos vazias, sem nada para negociar...).

C/ um alfabravo fraterno, Luís

_________

Nota do editor:

(*) Vd. poste de 5 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26888: (In)citações (272): "A guerra nunca acaba, fica connosco" (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro)

terça-feira, 3 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26876: Questões politicamente (in)corretas (60): Afinal o "tuga" também jogava xadrez no CTIG (José Belo /António Graça de Abreu / Carlos Vinhal / José Botelho Colaço / Ernestino Caniço / Eduardo Estrela)



Guiné > Bolama > CIM - Centro de Instrução Militar > 1969 > CCAÇ 2592 (futura CCAÇ 14) > O fur mil Eduardo Estrela a jogar zadrez com o seu camarada Abel Loureiro.



Mensagem do Eduardo Estrela, a propósito do poste P26873 (*):

Data - 2 jun 2025 10:32;

Bom dia, Luís!

Nós também jogávamos xadrez.

Como prova anexo uma fotografia tirada ainda em Bolama. À esquerda estou eu e na direita o Abel Loureiro que foi Fur Mil na minha companhia.

Para além da lerpa, abafa e outros que tais, também se jogava xadrez.
A qualidade da fotografia não é a melhor, mas sei que vais conseguir melhorar a mesma.

Grande abraço
Eduardo Estrela


Foto (e legenda): © Eduardo Estrela (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Suécia > Estocolmo >7 de maio de 2017 > Jogando xadrez (em grande formato) no Kungsträdgården" (o "Jardim do Rei"), parque muito conhecido e central em Estocolmo. 

Link enviado ontem pelo Joseph Belo.


Foto: © Tommy Gerhad (2017) (com a devida vénia...)


1. Afinal, o "tuga" também jogava xadrez, no CTIG... Comentários ao poste P26873 (*):


(i) António Graça de Abreu

Em Cufar, 73/74,  joguei muitas vezes xadrez com o alferes Eiriz, o oficial das Transmissões no nosso CAOP 1. Normalmente era depois do jantar, na nossa pequeníssima messe de oficiais, ao lado do gabinete do capitão miliciano Dias da Silva, comandante da CCaç 4740.

Logo ao lado tínhamos as valas para onde mergulhávamos em caso de ataque do PAIGC. No meu caso, naquela maravilhosa colónia de férias, Cufar sur Cumbijã, aconteceu quatro vezes. Não nos deixavam jogar xadrez em paz.

António Graça de Abreu
segunda-feira, 2 de junho de 2025 às 13:10:11 WEST


(ii) Carlos Vinhal

Não me lembro de na nossa messe se jogar xadrez, os jogos mais vulgares eram as damas, a lerpa, o king e o rummy, este muito parecido com o bridge, ao que sei. Os mais solitários jogavam paciências de cartas. Tínhamos também uma mesa de ténis para destilar as gorduras (?).

Cá fora jogava-se a bola no campo de futebol ou contra as paredes dos dormitórios, onde havia alguém a centrar a bola e outros a cabeceá-la, conforme a habilidade que tinham, para uma baliza imaginária, onde estava um guarda-redes de ocasião.

Eu nunca fui grande jogador de cartas, mas uma noite aventurei-me a jogar lerpa. Ao fim de pouco tempo tinha já perdido 100 "paus". O 1.º Rita chegou-se a mim e disse-me: "Vinhal. deixe-me ocupar o seu lugar".

Ao fim de algum tempo, tinha ele ganho já uma boa maquia, levantou-se e discretamente deu-me os 100 pesos que havia perdido. Aceitei o dinheiro e a lição e, nunca mais na minha vida joguei cartas a dinheiro.

Carlos Vinhal
segunda-feira, 2 de junho de 2025 às 13:57:25 WEST


(iii) José Botelho Colaço


No Cachil, CCAÇ  557, havia quem jogasse Damas: ganhar um jogo ao capitão Ares era caso raro. Mas como diz o camarada Graça Abreu, também no Cachil por vezes o jogo era interrompido pelo som das costureirinhas do PAIGC a quererem entrar: Não no jogo; mas sim no aquartelamento. 

Abraço Colaço.
segunda-feira, 2 de junho de 2025 às 14:04:44 WEST

(iv) Ernestino Caniço

Enquanto estive em Mansabá (na primeira metade de 1970 ) joguei muitas vezes xadrez com o ex-capitão Carreto Maia, cmdt  da CCAÇ 2403. Os jogos eram no bar de oficiais (preferencialmente junto ao balcão, que era feito de cimento e pedra,  se bem lembro), que obviamente poderia proporcionar alguma "proteção". Não me lembro de quem era o tabuleiro nem a sua origem. Registo que não tinha ar condicionado como na Amura em Bissau.

Abraço,
Ernestino Caniço
segunda-feira, 2 de junho de 2025 às 17:10:16 WEST

 (v) Eduardo Estrela

Jogar à batota na messe?

Nunca o fiz! Somente no abrigo e com muito recato. E,  quando não havia batota, havia xadrez e paciências.

A propósito, mandei pela manhã um mail ao Luís com uma foto dum jogo de xadrez.

Grande abraço
Eduardo Estrela
segunda-feira, 2 de junho de 2025 às 19:17:30 WEST

(Seleção, revisão / fixação de texto: LG)

________________

Nota do editor:

(*) Vd. poste de 2 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26873: Questões politicamente (in)corretas (59): Porque é que os "turras" jogavam xadrez e os "tugas" não ? (José Belo, Suécia)

segunda-feira, 2 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26873: Questões politicamente (in)corretas (59): Porque é que os "turras" jogavam xadrez e os "tugas" não ? (José Belo, Suécia)



PAIGC > Algures numa "barraca" > s/d (c. 1970) > Um partida de xadrez entre Júlio Carvalho ("Julinho") e Valdemar Lopes da Silva,  cabo-verdianos.  Observadores: "Tchifon" e Cláudio Duarte, também cabo-verdianos. A caixa do tabuleiro tem a inscrição "svenska schack" (em sueco, "xadrez sueco")... Uma oferta da Suécia  com amor ao PAIGC...  A foto deve ser c. início dos anos 70. Em primeiro plano, uns óculos de sol e a ponta de uma arma (talvez uma Kalash, russa)

 (Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)

Fonte: Casa Comum | Instituição:Fundação Mário Soares e Maria Barroso | Pasta: 05222.000.141 | Título: Júlio de Carvalho, Tchifon, Cláudio Duarte e Valdemar Lopes | Assunto: Os combatentes cabo-verdianos Júlio de Carvalho [Julinho], Tchifon, Cláudio Duarte e Valdemar Lopes [da Silva] jogando xadrez numa base do PAIGC | Data: 1963 - 1973 | Observações: Valdemar Lopes da Silva foi professor no Centro de Instrução Política e Militar (CIPM) do PAIGC, a partir de 1970 | Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral | Tipo Documental: Fotografias


Citação:
(1963-1973), "Júlio de Carvalho, Tchifon, Cláudio Duarte e Valdemar Lopes", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43496 (2025-5-31)

(Reproduzido com a devida vénia...)



1. Comentário do José Belo, o (e)terno régulo da Tabanca da Lapónia de Um Homem Só (oficial do exército dos "tugas", e jurista na Suécia,  reformado):


Data - domingo, 1/06/ 2025, 23:02
 
Assunto - Fronteira cultural ?

Caro Luis

A caixa da fotografia é de facto uma caixa de xadrez de marca muito conhecida na Suécia.

Eram muitos, e diversos, os fornecimentos efectuados pela Suécia ao PAIGC.

Curiosamente, em talvez milhares de fotografias dos Camaradas da Guiné por nós observadas, não existe uma única com um tabuleiro de xadrez.

Matraquilhos, póquer  de
 dados, damas, lerpa, e talvez uma pseudossofisticada partida de bridge no Clube Milar de Santa Luzia em Bissau ou … em resguardados Comandos de Batalhão.

Mas, xadrez? Ficaria para os “turras”? 

Abraço do J. Belo
 
2. Comentário do editor LG:

Zé Belo, boa pergunta, melhor observação (**)... "Fronteira cultural ?"...

Eu sei que o xadrez era cultivado na Suécia com grande entusiasmo ... Na guerra, nos sítios por onde passei, não me lembro de facto de ver um tabuleiro de xadrez... Mas isso não faz ciência... O mais vulgar eram os jogos de cartas, a "vermelhinha", a lerpa, a sueca, o king, talvez o bridge... 

Nunca gostei de jogar cartas... Alegava sempre que era daltónico, não sabia distinguir as copas das espadas...Também não me lembro de ver tabuleiros de damas nos nossos quartéis... (O meu pai, que era um excelente jogador de damas, aprendeu em Cabo Verde, quando lá foi  "expedicionário", em 1941/43)...

O Movimento Nacional Feminino podia oferecer um tabuleiro (de xadrez, de damas)... Se calhar nunca ninguém pediu à Cilinha (*)...Não sei se Salazar gostava de xadrez...Sei que gostava da Cilinha... E a Cilinha gostava de nós... E nós gostávamos da Guiné... Estivemos lá 13 anos, em pré-guerra e em guerra. E continuamos a gostar:  a prova é este blogue que já fez 21 anos em 23 de abril passado...

sexta-feira, 18 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26702: Boas amêndoas e melhores Páscoas de 2025 - Parte I (José Belo, Key West, Florida, EUA / Luís Graça, Tabanca de Candoz)





Fotos: Joseph Belo (2025)




1. Mensagem de Joseph Belo (Key West, Florida, EUA)


Data - 18 abr 2025 16:30

Assunto - Páscoas Felizes  

Para ti e restantes Camaradas da Guiné os Votos de Páscoa Feliz com uma receita de folar do "deep south" dos States, o Sul profundo dos EUA.

Um abraço de despedida do J. Belo.

2. Comentário do editor LG:

Obrigado, José. Já estávamos com saudades tuas. Ainda bem que temos a Páscoa e o Natal para trocarmos  uns brindes. Estou em Candoz, Marco de Canaveses (a terra onde nasceu a Carmen Miranda,em 1909, tendo morrido em 1955, em Beverly Hiils, Califórnia). 

Além do famoso anho assado com arroz de foro, come-se o "pão-de-ló", húmido, feito só com ovos caseiros... É uma das especialidades dos Doces do Freixo - Casa dos Lenteirões, cuja origem remonta a 1819... 

Troco galhardetes contigo. É um "cheirinho" da tua terra, natal, Pátria, Mátria, Fátria... E da nossa Tabanca Grande. Espero que não hibernes agora mais seis meses...Com os ursos de pé de guerra na Gronelândia, até os da Lapónia já sairam do buraco. Nós, por cá, não temos desses, mas temos outros. Cuida-te...Que eu já mandei o meu velho camuflado da Guiné para a lavandaria...


Típico pão-de-ló da Páscoa, Doces do Freixo - Casa dos Lenteirões, Marco de Canaveses...

Foto: Luís Graça (2025)

quarta-feira, 19 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26597: Manuscrito(s) (Luís Graça) (267): No dia do pai... Aos nossos pais, nossos velhos, nossos camaradas... a quem nunca tratámos por tu



Luís Graça, Quinta de Candoz (2011)



Gâmbia > Bathurst > 1953 > Comemorações da entronização da Rainha Isabel II, de Inglaterra (n. 1926) > Foto da seleção de futebol da Província Portuguesa da Guiné:

(i) De pé, da esquerda para a direita, Antero Bubu (Sport Bissau e Benfica; capitão), Douglas (Sport Bissau e Benfica), Armando Lopes (assinalado a vermelho,  pai do nosso amigo Nelson Herbert) (UDIB), Theca (Sport Bissau e Benfica), Epifânio (UDIB) e Nanduco (UDIB); 

(ii) de joelhos, também da esquerda para a direita: Mário Silva (Sport Bissau e Benfica), Miguel Pérola (Sporting Club de Bissau), Júlio Almeida (UDIB), Emílio Sinais (Sport Bissau e Benfica, Joãozinho Burgo ( Sport Bissau e Benfica) e João Coronel (Sport Bissau e Benfica).

No 1º jogo, a seleção da Guiné ganhou à seleção da Gâmbia por 2-0, com golos de Joãozinho Burgo (falecido há 6 anos em Portugal 22/1/2019); no 2º jogo, as duas seleções empataram 2-2 (com golos, pela Guiné, de Mário Silva e Joãozinho Burgo). Antiga colónia inglesa, a Gâmbia acederá à independência em 1965.

Legenda de João Burgo Correia Tavares: vd. livro Norberto Tavares de Carvalho - "De campo a campo: conversas com o comandante Bobo Keita", Porto, edição de autor, 2011, p. 4

Armando Lopes (também conhecido como o "Búfalo Bill") fez o seu serviço militar no Mindelo, São Vicente, Cabo Verde, em 1943, na altura em que também lá estava, como expedicionário, o meu pai, meu velho e meu camarada, Luís Henriques; ambos nasceram em 1920 e,  naturalmenmte, já faleceram os dois, o meu, em 2012, o pai do Nelson Herbert,  em 2018. Ambos tinham igualmente uma paixão pelo futebol... 

Foto: © Armando Lopes / Nelson Herbert (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].

Foto (e legenda): © Hélder Sousa (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Ângelo Ferreira de Sousa (1921-2001), pai do nosso camarada Hélder Sousa, natural de Vale da Pinta, Cartaxo, ex-1º Cabo n.º 816/42/5, da 4ª Companhia do 1º Batalhão de Infantaria do RI. 23... Tem a data de 18 de Outubro de 1943 e na legenda refere ser "recordação de S. Vicente"                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                        Foto (e legenda): © Hélder Sousa (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Cabo Verde > Ilha do Sal > Pedra de Lume > 1º Batalhão Expedicionário do RI 11  (Setúbal) > 1ª
Companhia > 1942 > 
 pai do nosso camarada Augusto Silva Santos.


Foto (e legenda): © Augusto Silva Santos  (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas daGuiné]







Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 1942 > "No dia em que fiz 22 anos, em S. Vicente, C. Verde. 19/8/1942. Luís Henriques " [, 1º cabo inf, 3º Companhia, 1º Batalhão, RI 5, Mindelo, São Vicente, Cabo Verde, 1941/43, entretanto integrado no RI 23]. Nasceu (1920) e morreu (2012) na Lourinhã.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas daGuiné]



Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > RI 23 >  c. 1941/44 > RI 23 >  O sold aux enf, Porfírio Dias (1919-1988), 1º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria nº 5, que partiu para Cabo Verde no T/T Mouzinho em 18/7/1941, juntamente com o Luís Henriques (ambos eram do mesmo regimento e batalhão). Esteve lá dois anos anos e dez meses.



Foto (e legenda): © Luís Dias (2012). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Os nossos pais, nossos velhos, nossos camaradas... teriam mais de 100 anos, se fossem vivos... No Dia do Pai, dá-me uma saudade danada... 

Lembremo-nos deles... Tal como os nossos filhos se lembram de nós, agora tratando-nos por tu:

 "Obrigado, pai, por tudo o que me tens dado (...). Gosto muito de ti e quero-te cá por muitos mais anos. A tua inteligência, empatia e  jogo de cintura, quero levá-los sempre comigo" (...). 

Escreveu o meu filho no dia de hoje. Espero que vocês, camaradas,  também tenham recebido palavras bonitas como estas... Nêm têm que ser verdadeiras, apenas bonitas. E sobretudo reveladoras da gratidão filial. Para eles, seremos sempre os melhores pais do mundo... Eu gosto que eles me tratem por tu... Desde sempre.


Tuteio ou tratamento por tu

por Luís Graça

Aos nossos pais, nossos velhos, nossos camaradas...


Fiquei com pena da fräulein Tina Kramer, antropóloga,
entretanto entronizada como  nossa tabanqueira,
a quem, chegada da austera e luterana Germânia,
lhe impuseram o tratamento por tu,
como se fora uma praxe de gangue.

Depois desta receção da Tabanca Grande,
ela deve ter ficado confusa, quiçá perturbada e até intimidada,
ao pensar que os camaradas da Guiné,
antigos combatentes,
são todos uma cambada de velhos malucos
a quem saltou a caixa dos pirolitos...

"Portugueses, pocos, pero locos"
(diria ela se fosse uma altiva castelhana,
daquelas que vinham casar com príncipes portugueses,
futuros donos de Portugal, dos Algarves e de além-mar em África,
na mira de acertar em cheio no jackpot)...

Tu próprio detestavas a palavra fräulein,
nunca trataste nenhuma colega ou amiga alemã por fräulein...
Podes a estar a ser injusto, mas tem, para ti, 
uma conotação pejorativa, prussiana, militarista...
Como teria se tu a tratasses por menina Tina Kramer,
como nos bons velhos tempos do Portugal dos nossos pais e avós
Ao menos, tratemo-la, não por miss (cheira-te a babydoll)
mas por bajuda,
que é mais doce, mais crioulo, mais luso-tropical…


E tu Zé Belo, luso-lapão, agora "amaricano",
sujeito a ser deportado pelo Tio Sam,
tuga da diáspora outrora na terra 
onde o cidadão tratava o cidadão por tu....
bem sabes que não foi preciso fazermos uma revolução
à moda dos sovietes de Petrogrado,
nem do Grande Irmão Urso Sueco,
nem dos Camaradas (salvo seja!) do PAIGC, do MPLA ou da FRELIMO...
(Lembram-se das milhares de anedotas
que se contavam do camarada, salvo seja!, Machel,
e da sua mania de reeducar e recuperar o diabo branco colonialista
com o trabalho manual na machamba?!)...

Com o 25 de Abril,
a distância social e afetiva,
a começar na família, entre pais e filhos,
foi encurtada,
e o tratamento por tu impôs-se sem ser por decreto...

Com tanta naturalidade (ou só aparente ?)
que a gente nem sequer se questiona hoje
sobre o quando, o como e  o porquê...
(Alguns questionam-se, e têm toda a liberdade para o fazer,
viva a liberdade que só pode ser livre.)

Em contrapartida, foi retomado
(ou nem sequer foi interrompido)
o tratamento, tradicional,
aparentemente mais distante e formal, de você,
de pais para filhos,
de esposa para esposo,
em certas famílias,
em certos meios sociais
(que tu não vais adjectivar,
porque não gostas de adjetivar os outros,
e fazes um esforço por respeitar todas as diferenças,
mesmo as mais difíceis de engolir).

O tecido social é isso mesmo,
é um pano, de trapos, de linho, de algodão, de serapilheira, de seda,
que se puxa conforme o frio, as pernas e as mãos,
as chagas, as misérias e as grandezas de cada um…

Os nossos filhos, pelo menos os teus, tratam-nos por tu,
mas tu tratavas os teus pais à moda antiga...
quando eles ainda eram vivos.
Ainda eras do tempo do respeitinho-que-era-muito-bonito!

Há algum mal nisso,
nessa coisa dos filhos tratarem agora os pais por tu ?
São apenas mudanças de paradigma
na convivialidade sociofamiliar,
diria o sociólogo de serviço, que já não há,
descartado pela mãe de todas as crises...

Tu, o Hélder Sousa, o Nelson Herbert,
o Luís Días, o Augusto Silva Santos,
foram capazes de tratar os vossos velhos,
o Luís Henriques  (1920-2012),
o Ângelo Ferreira de Sousa (1921-2001),
o Armando Lopes (1920-2018),
Porfírio Dias (1919-1988),
o Feliciano Delfim Santos (1922-1989),
veteranos da II Guerra Mundial,
expedicionários em Cabo Verde,
com a ternura da expressão
“Meu pai, meu velho, meu camarada”

Liberdades ou libertinagens bloguísticas, 
dirão os sisudos dos  críticos…
Daqui a uns anos
(esperas bem que não, cruzes canhoto!...)
voltaremos a tratar-nos com distância e reverência,
quiçá por Vossa Senhoria,
meu fidalgo, meu amo,
como no tempo da(s) outra(s) senhora(s)…

Tu sabes que o tratamento por tu,
republicano, económico, frugal, com duas letrinhas apenas,
o tratamento à romana na Tabanca Grande,
nem sempre era fácil nem natural, em 2004/2005,
quando começámos a blogar
para mais num país, ainda bastante estratificado,
em que se continuava a usar e a abusar dos títulos,
nomeadamente no Estado, nas empresas e demais organizações,
onde o trabalho era pouco e a distância grande,
tão grande como a rede clientelar:
senhor presidente, senhor doutor, senhor engenheiro, senhor prior...

Nunca foi nem o é ainda hoje:
tiveste a prova disso, há uns anos atrás
,
numa das memoráveis quartas feiras
do almoço semanal da 
Tabanca de Matosinhos,
quando cumprimentaste um a um a meia centena de convivas...
Boa parte, já teus velhos conhecidos e amigos...
mas ainda havia gente que se retraía,
invocando a educação que tiveram,
o desconhecimento do outro,
a falta de intimidade e de convívio,
a distância física (sempre são 300 km entre Lisboa,
a capital do reino,
onde o Paço tem Terreiro,
e o Porto é a capital do trabalho,
onde o povo tem o São João e o alho porro)...

Quando impuseste  (passe o termo...)
o tratamento por tu no blogue,
entre camaradas da Guiné,
quiseste  deliberadamente fazer o curto-circuito
entre as distâncias militares, hierárquicas, do passado
e as eventuais distâncias sociais e profissionais, do presente...
Hoje consideras uma honra poder ser tratado por tu
por um camarada da Guiné,
independentemente do antigo posto,
da idade, da naturalidade, da nacionalidade, da cor da pele,
ou da atual posição na sociedade portuguesa...
E vice versa:
consideras um privilégio poder tratar por tu
um homem ou uma mulher
que aceitam os valores e as regras do jogo do nosso blogue...

Há sobretudo uma cumplicidade (saudável) entre nós,
que não seria possível se aqui, no blogue
e nos convívios da Tabanca Grande,
e das demais tabancas que entretanto foram aparecendo,
se a gente continuasse a tratar-se 
como em casa, na escola, na tropa, no parlamento:
"Sua benção, meu pai, meu amo...
"Dá-me licença, vossa senhoria, meu capitão ?...
"Como vai, senhor Doutor ?...
"Vossa Excelência, senhor engenheiro,
permite-me que eu discorde da sua douta opinião ?
"O meu furriel é que sabe,
mas o vagomestre é que dormia com a mulher… do Baldé
quando o Baldé ia para a Ponte do Rio Udunduma...
"E, você, nosso instruendo, ó sua besta quadrada,
não sabe que a Pátria é hermafrodita,
é pai e mãe ?
"Ó meu tenente,
é mais do que isso, é Pátria, é Mátria, é Frátia!"...

Para que o tu continue a escrever-se com duas letrinhas apenas,
o tu de pai, de tuga, portuga, 
irmão, cidadão…
o tu de companheiro, camarada, amigo, 
O tu do abraço, do alfabravo, do quebra-costelas,
o tu de Tango Uniform...
e não se torne o tu
de intumescência, da tumefacção, 
da turbulência, da estupidez, da intolerância…
nestes dias de Charlie Romeo India Sierra Echo,
da CRISE que continua dentro de momentos...

 ©  Luís Graça (2012). (**)

Revisto em 19/3/2025, dia do Pai...
___________

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26460: Humor de caserna (100): A piçada do general: "Ó nosso alferes, qual bicha, qual carapuça!... Saiba que no exército português não há bichas e muito menos de pirilau!"... (disse ele para o ten mil José Belo, sendo o 1º cabo mil Carlos Silvério testemunha)


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > S/l > s/d > Progressão em coluna apeada, "coluna por um",  "fila indiana" "bicha de pirilau"...

Foto (e legenda): © João Sacôto (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



A 'piçada' do general

por Carlos Silvério


 Quando o 1º cabo miliciano atirador de cavalaria Carlos Silvério (hoje nosso grão-tabanqueiro nº  783) passou pelo RI 5, Caldas da Rainha, como monitor de recruta do CSM (Curso de Sargentos Milicianos), entre setembro e dezembro 1970 (4º turno), lembra-se de ter conhecido o José Belo, então alferes ou tenente miliciano,  acabado de regressar da Guiné...


Carlos Silvério, ex-fur mil at cav,
 
CCAV 3378 (Olossato e Brá, 1971/73);
vive hoje na Lourinhã
Um belo dia apareceu lá um senhor general que quis certificar-se da excelência da formação dada aos futuros sargentos milicianos... E fez questão de supervisar (do latim, "supervidere", ver de cima...)  uma das aulas práticas dadas pelo instrutor José Belo... 

Às tantas, falando da sua experiência como combatente no TO Guiné, em 1968/70, o instrutor usou a expressão "bicha-de-pirilau"...

Parece que o general ficou "piurso", saltou-lhe a mola e deu uma valente reprimenda ("piçada") ao oficial, à frente dos instruendos (o que, como é sabido, não é regulamentar nem elegante):

- Ó nosso alferes, qual bicha, qual carapuça!... Saiba que no exército português não há bichas e muito menos de pirilau!... Os nossos militares, aqui na metrópole ou nos teatros de operações do Ultramar, na Guiné, em Angola ou em Moçambique, andam  em coluna por um !... Ponha isso no seu dicionário!...

O Carlos ficou sem perceber  por que é que o senhor general foi aos arames com a expressão "bicha-de-pirilau"... Seria uma reacção... h
omofóbica?...

Afinal, "pirilau",  no português (informal) de Portugal, é sinónimo de órgão sexual masculino, pénis, pilinha, piloca. (Os brasileiros dizem bilau)...


José Belo, ex-alf mil, CCAÇ 2381,
Ingoré, Buba, Aldeia Formosa,
Mampatá e Empada, 1968/70;
vive hoje nos EUA
Já o termo "bicha" começa por referir-se ou estar associado a qualquer objecto que, pelo seu feitio ou movimento sinuoso, dá ideia de um réptil, e por extensão, qualquer animal de corpo comprido e sem pernas (como a minhoca, por exemplo).... 

 Na linguagem informal é usado para designar uma fila (ou fileira) de pessoas, umas atrás das outras, em geral esperando a sua vez de serem atendidas, para obter um bem ou serviço, etc. (por ex., a bicha do pão, das vacinas, do trânsito)...

"Bicha-de-pirilau" é uma expressão que, infelizmente, ainda não está grafada pelos nossos lexicógrafos, muito cautelosos e conservadores. Tal como, aliás,  a correspondente  expressão técnica ("jargão") usada pela tropa : "coluna por um" refere-se  à formação de uma tropa, em que os elementos (que podem ser homens ou viaturas) são colocados um atrás do outro, seguidamente, guardando entre si uma distância regulamentar.   (Mas também  há colunas por dois, por três, etc.)

A expressão "bicha-de-pirilau" era corrente na Guiné, tal como "fila indiana" (originalmente, o modo como os índios da América progrediam  no seu território, em situações de caça, patrulha ou guerra).

A história tem a sua piada, sobretudo pela reação intempesttiva do senhor general inspetor, de ouvido mais sensível ou então demasiado purista da língua portuguesa e/ou do jargão militar.

(Recolha, revisão / fixação de texto: LG)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 19 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20668: Em bom português nos entendemos (25): Bicha de pirilau... Expressão da gíria militar do nosso tempo, ainda não grafada nos dicionários... Será que continua a incomodar o senhor general?