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quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26148: Agenda cultural (867): Joaquim Costa lançou, em Gondomar, o seu livro "Crónicas de Paz e Guerra", no passado dia 9: uma casa cheia de amigos, colegas e camaradas


Foto nº 1 > Três Tigres do Cumbijã: oo centro, o Joaquim Costa; à esquerda, o João Melo, ex-1º cabo cripto, das CCAV 8351 (Cumbijá, 1973/74); à direita, o Mendes  (que veio de propósito da zona onde vive, na Serra da Estrela); um quarto Tigre, o Gouveia, não ficou nesta foto...


Fotpo nº 2 > Mesa: da esquerda para a direita, (1) João Melo, (ii) o autor, Joaquim Costa; (iii) Manuel Maria, apresentador; e  (iv) Teresa Couceiro, responsável pela Biblioteca Municipal de Gondomar.


Foto nº 3 > O autor, usando da palavra


Fotpo nº 4 >   à direiuta, João Carlos Brito, professor, bibliotecário e escritor, em representação da Editora: Lugar da Palavra. com sede em Rio Tinto, Gondomar.



Foto nº 5 > Aspeto da assistênicia: na segunda fila, logo na ponta esquerda, o "Carvalho de Mampatá"; 


Foto nº 6 >  Os netos ("alfacinhas") do autor, muito compenetrados da sua tarefa de vender o livro do avô. (Para efeitos legais, são fotografados com a autorização dos pais...)


Foto nº 7 > O João Melo e o Joaquim Costa na sessão de autógrafos


Foto nº 8 > Na fila para os autógrafos, colegas do prof Joaquim Costa,  diretor da escola secundária de Gondomar durante mais de 20 anos,

Gondomar > Biblioteca Municipal > 9 de novembro de 2024 > Sessão de apresentção do livro "Crónicas de Paz e Guerra" ( Rio Tinto, Lugar da Palavra Editora, 2024, 221 pp.)

Fotos (e legendas): © Joaquim Costa (2022). Todos os direitos reservados Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




*
O "Tigre" Joaquim Costa
Joaquim Costa  - Breve CV:

(i) ex-fur mil at arm pes inf, CCAV 8351, "Tigres do Cumbijã" (Cumbijã, 1972/74); 

(ii) membro da Tabanca Grande desde 30/1/2021, com mais de 7 dezenas de referências no blogue;

 (iii) engenheiro técnico (ISEP - Instituto Superior de Engenharia do Porto);

(iv) foi professor do ensino secundário, tendo-se reformado como diretor da escola secundária de Gondomar: 

(v) minhoto, de Vila Nova de Famalicão, vive em Rio Tinto, Gondomar, e adora o Alentejo;

 (vi) tem página no Facebook;  

 (vii) acabou de lançar o seu livro "Crónicas de Paz e Guerra", no passado dia 9, sábado, às 15:00 na Biblioteca Municipal de Gondomar (*)


1. Mensagem do Joaquim Costa:

Data - 12 nov 2024, 12:02
Assunto - Apresentação do livro, "Crónicas de paz e guerra"


Olá,  Luís!

Aqui vai uma pequena reportagem sobre a apresentação do meu livro, "CRónicas da Paz e Guerra",- que teve lugar na Biblioteca Municipal de Gondomar.

Estamos habituados a ver na apresentação de livros de ex combatentes uma plateia de camaradas que participaram na guerra colonial, nas três frentes, todos com aparelhos auditivos e com auxiliares de locomoção. Fico feliz, como se pode ver nas fotos, por, para além de um ou outro combatente, esta estar repleta de muita juventude.

Contudo foi uma honra ter na plateia, como se vê na foto, o nosso grande amigo Carvalho de Mampatá e a sua esposa; os tigres Gouveia, Mendes e Melo e suas esposas; o nosso grande amigo Francisco Batista,  bem como um camarada periquito do BCAÇ 4513. Sei que estou a correr o risco de me esquecer de alguém, pelo facto peço desculpa.

Constituição da mesa:

  • Dr. Manuel Maria – professor, escritor (publicou um romance: “Checa Pior que Turra" sobre a sua comissão na então província de Moçambique);
  • Dr. João Carlos Brito – Professor, escritor e editor.
  • Dr.ª Teresa Couceiro – Responsável pela Biblioteca Municipal de Gondomar.
  • João Melo – Cripto da Companhia dos Tígres do Cumbijão. Homem bom, já com várias viagens solidárias ao Cumbijã, fazendo-se acompanhar com contentores de materiais escolares e outros.
  • Joaquim Costa – O autor, também conhecido pelo "Furriel Pequenina de Cumbijã"



2
. Mensagem do António Carvalho, o "Carva
lho de Mampatá" (ex-fur mil enf CART 6250/72, Mampatá, 1972/74),

Data - sábado, 9/11/2024, 21:41  

Meu caro Luís

Estive hoje na Biblioteca Municipal de Gondomar para assistir à apresentação do livro "Crónicas de Paz e de Guerra" de autoria do nosso Joaquim Costa, Furriel Pequenina de Cumbijã. 

Foi uma tarde bem passada. Para além dele, falando só de combatentes, estavam três camaradas dos Tigres e um camarada do Batalhão 4513,  de Aldeia Formosa. 

Com o Joaquim Costa, tão afreimado a autografar o seu excelente livro, não deu para falar muito, mas o mesmo não aconteceu com o outro pessoal, com quem passei um bom tempo a partilhar vivências das nossas vidas sofridas por terras de Tombalí e Quínara. 

O Melo, Cripto dos Tigres, esteve na mesa para falar do segundo e do terceiro capítulos do livro, numa pequena mas sentida abordagem dos tempos da tropa e da guerra. 

A propósito de tropa e guerra, coisas bem distintas para nós que passámos por ambas as fases, ainda há quem pense que são a mesma coisa. Digo isto porque alguém bem intencionado mas desconhecedor, achou que aqueles capítulos bem poderiam fundir-se num só. Não acho.

É certo que há familiares meus que me dizem, aquando de mais um encontro com tabanqueiros: " lá vais tu para mais um encontro com os tropas". Respondo até à exaustão : não é com tropas, é com combatentes que foram mordidos por mil mosquitos, calcaram o mesmo chão sob sol escaldante, ouviram gritos e viram moribundos e mortos.

Voltando ao livro, apresentado numa sala cheia, sobretudo de colegas professores, foi lida a tua excelente mensagem que mereceu o apreço dos presentes expresso numa grande ovação.

Saúde para ti e obrigado pela tua dedicação a todos os combatentes.

Um grande abraço

Carvalho de Mampatá


3.  Mensagem do nosso editor LG, para ser lido na sala como "
Saudação ao antigo combatente, 'tigre do Cumbijã', professor, escritor e grão-tabanqueiro Joaquim Costa":

O Joaquim pertence a uma geração que não pode dizer: "Cheguei, vi e venci"...

Tudo o que conquistou (tudo o que conquistámos) foi com "sangue suor e lágrimas"...  A expressão pode estar estafada e conotada. Mas continua a ser apropriada para caracterizar a nossa geração.

Uns chamaram-na "geração dos "baby-boomers", nascidos com o final da II Grande Guerra, em famílias grandes (e em geral pobres ou remediadas); outros pintam-nos com outras cores, caso do escritor e antigo combatente Carlos Matos Gomes, num grande livro autobiográfico recente: "Geração D", a que nasceu com a Ditadura, fez a guerra colonial e restabeleceu, em Portugal, a Democracia.

O Joaquim é uma rapaz da nossa colheita e a sua história de vida exemplifica muito bem o que foi o trajeto de todos nós: a paz, a liberdade, a democracia, a equidade ou igualdade de oportunidades,o direto à saúde, à educação, à cultura, ao trabalho decente, seguro e saudável, etc., etc,...Tudo isso foi tirado a pulso, foi conquistado com inteligência emocional, luta, coragem, paixão, resiliência, amor e... humor!

Acho que esta é também a chave para a leitura deste seu belo livro (agora revisto, melhorado e aumentado),  "Crónicas de paz e guerra".

A nossa Tabanca Grande tem muito orgulho por ele se sentar, connosco, à sombra do nosso simbólico poilão, acolhedor e fraterno. E por partilhar connosco, em livro, no blogue, no facebook, o melhor das suas histórias e memórias da guerra e da paz.

Neste dia de festa, tenho a pena de não poder estar covosco, mas saúdo todos os que, familiares, vizinhos, amigos, colegas, camaradas, quiseram ajudar o Joaquim a ter uma tarde mais luminosa, na terra, Gondomar, que ele, minhoto, também adotou como sua. E, da minha parte, desejo-lhe tudo de bom, a começar pela saúde... Porque ele merece tudo.

Obrigado, Joaquim, e até ao próximo... livro! (**)

Luís Graça.

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Notas do edit0r:

(*) Vd. postes de:


31 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26098: Lembrete (48): Biblioteca Municipal de Gondomar, sábado, dia 9 de novembro de 2024, lançamento do livro "Crónicas de Paz e Guerra" (2014, 221 pp.; posfácio de Mário Beja Santos)

(**) Último poste da série > 10 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26136: Agenda cultural (866): Convite para o lançamento do livro "Viagem de um Capitão de Abril", da autoria de Aniceto Afonso, a levar a efeito no próximo dia 12 de Novembro de 2024, pelas 18h00, na Associação 25 de Abril, Rua da Misericórdia, 95 - Lisboa. Apresentação a cargo de Lídia Jorge

sexta-feira, 28 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25697: (In)citações (268): Desertar ou cumprir a missão ao serviço da Pátria, mesmo sabendo que o regime, irracional e anacronicamente, entendia o colonialismo como um processo moral e legal? (António Carvalho, ex-Fur Mil Enfermeiro)

Porta de Armas do Quartel da Serra do Pilar
Foto: © António Tavares, ex-Fur Mil SAM

1. Mensagem do nosso camarada António Carvalho (ex-Fur Mil Enfermeiro da CART 6250/72, (Mampatá, 1972/74), com data de 27 de Junho de 2024:

Estávamos ali reunidos em formatura na parada do quartel da Serra do Pilar, para a despedida da praxe.
Dentro de breves minutos entraríamos nos autocarros que nos deixariam no aeroporto de Figo Maduro, em Lisboa. Só um camarada faltou à chamada, por ter resolvido desertar, como no decurso desse mesmo dia vim a confirmar.

Não sei o que cada um dos presentes pensou da sua atitude, sei que eu próprio me interroguei se não o deveria ter imitado. E da interrogação fui evoluindo para a certeza de que se estava a cumprir uma missão ao serviço da Pátria, essa missão era um erro do regime que irracional e anacronicamente entendia o colonialismo como um processo moral e legal.

Ao longo do cumprimento da minha missão no sul da Guiné, durante penosos 26 meses, fui compreendendo que, para além da injustiça de um povo governar outro sem prévio acordo do governado, a guerra, mesmo que fosse legítima, era cada vez mais insustentável e conduzia a um morticínio inútil de jovens de pouco mais de vinte anos e sequelas físicas e mentais em muitos outros.

O ano de 1973, quando o PAIGC passou a ter a capacidade para praticamente neutralizar a nossa Força Aérea, tornou-se decisivo para convencer os Capitães de Abril a evoluírem da sua feição corporativa para um movimento revolucionário capaz de derrubar o regime. Pena foi que não houvesse condições políticas para o fazerem antes de 1974.

Nesse mesmo dia 27 de Junho de 1972 chegámos a Bissau, para ainda na madrugada do dia 28 sermos despejados na ilha de Bolama. O resto fica por contar.

Estou muito grato aos Capitães de Abril, sobretudo por terem terminado com a guerra.

Carvalho de Mampatá

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Nota do editor

Último post da série de 24 DE JUNHO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25678: (In)citações (267): Compensações às colónias (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo CAR)

terça-feira, 28 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25574: Convívios (1000): Grande Encontro de Rapazes de Mampatá na Quinta Senhora da Graça, Santa Marta de Penaguião (António Carvalho, ex-Fru Mil Enf.º)

Quinta Senhora da Graça > Grande Encontro de rapazes de Mampatá


1. Mensagem do nosso camarada António Carvalho (ex-Fur Mil Enfermeiro da CART 6250/72, (Mampatá, 1972/74), com data de 27 de Maio de 2024:

Hoje encontramo-nos aqui, neste lugar próprio de emoções amizades eternas.

É a Quinta da Senhora da Graça, morança de um dos rapazes de Mampatá.

Quisemo-nos rever e revisitar sítios e momentos de trabalhos dolorosos mas também de horas de rapaziadas nos intervalos da guerra.

Estiveram o Miranda Lopes, o Polónia, o Zé Pedro, o Farinha, o anfitrião Zé Manel, e eu próprio, todos da primeira fornada de Mampatá. E ainda o grande combatente de Mampatá, de uma fornada anterior, Cancela.

Fez-nos bem este este dia na capital do Douro, no meio de paisagens deslumbrantes. Alguns não se viam há mais de quarenta anos, mas olharam-se como se a idade não tivesse passado por eles.

Um grande abraço para todos os combatentes.
António Carvalho
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Nota do editor

Último post da série de 28 de Maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25572: Convívios (999): "Bambadinquenses" de 1968/71 (CCS/BCAÇ 2852, CCAÇ 12) reuniram-se no passado dia 25, em Vila Nogueira de Azeitão

sábado, 27 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25452: Os 50 anos do 25 de Abril (14): 25 de Abril - Um golpe / Uma revolução (António Carvalho, ex-Fur Mil Enf.º da CART 6250/72)

1. Mensagem do nosso camarada António Carvalho (ex-Fur Mil Enfermeiro da CART 6250/72, (Mampatá, 1972/74), com data de 26 de Abril de 2024:

25 de Abril - Um golpe / Uma revolução

Quando embarcávamos, uns mais contrariados que outros, alguma razão ou razões nos faziam aceitar aquela missão com mais ou menos sofrimento. Uns deixavam para trás para além da família e amigos, a esposa, a namorada e até filhos. 

E, se a uma minoria, o soldo, de algum modo,  dava algum alento, a grossa maioria dos militares nem sequer recebia algo comparável ao mais pequeno salário, passando a comissão de mais de dois anos a contar os tostões para uma cerveja ou um maço de tabaco. 

Aquelas imagens do massacre de milhares de pessoas, incluindo homens, mulheres e crianças, no norte de Angola, às mãos de guerrilheiros selvagens, em 1961, permanentemente recordadas pelos serviços de propaganda do regime, serviam para a construção da ideia errada da justeza da guerra contra bandidos.

Quase todos nós estávamos formatados, desde o berço e dos bancos da escola que Portugal era assim um país pluricontinental e plurirracial e que tínhamos (nós lusitanos) uma missão civilizacional a cumprir no mundo. Estávamos assim formatados, como ainda hoje há regimes políticos e religiões que formatam os cidadãos com ideias retrógradas e mesmo imbecís: supremacia de raça, supremacia religiosa, missões divinas e doutrinas do fim do mundo.

Na verdade é muito mais fácil formatar ignorantes do que instruídos. Muitos de nós, só quando saíamos das nossas aldeias com destinos aos quarteis é que andávamos de combóio e víamos o mar. Então alguns alegravam-se quando, ao fim de seis meses de tropa entravam, embasbacados, num grande navio com destino ao Ultramar, julgando que enfrentariam uns insipientes guerrilheiros de catana e espingarda rudimentar. Muitos só gradativamente, como quem escala uma sucessão de montanhas de altitude cada vez mais acentuada, se apercebiam que aquilo era bem pior do que tinham preconcebido.

Então, instalados no meio, hão de penar, sob calor e chuva, afrontados por comichões e mosquitos, emboscadas e minas, sem terem como fugir do sítio onde mal se come e mal se dorme, onde se vê o sangue do camarada a tingir a terra e os seus olhos sem alma despedindo-se longe dos seus. Fica-se lentamente convencido de que tem que aceitar aquele sacrifício. Talvez não morra, talvez escape, nem que seja sem uma das pernas, coisa que é muito má, mas há muito pior. Depois, quase no fim, quando percebemos que não estamos ali a fazer quase nada, que o inimigo tem amigos que lhe fornece apoio e armamento mais moderno que a nossa G3, que não fomos solicitados para ali permanecer, é que concluímos que fomos enganados. Afinal, eles (os guerrilheiros) têm direito a ter os seus próprios governantes.

Ora, se os portugueses, por essa altura, não tinham o poder de escolher o seu próprio governo, o qual era escolhido por uma aristocracia económica e política, como podíamos ajudar os guineenses a tomar conta do seu próprio governo ?!

Salgueiro Maia e muitos outros militares perceberam, ainda que demasiado tarde, que não havia nenhuma razão para continuarmos a sofrer e morrer numa guerra sem sentido e injusta. Foi preciso o sacrifício inglório de muitos milhares de vidas, para se criar a massa crítica que deu alor ao movimento dos Capitães e a coragem a Salgueiro Maia para enfrentar o carro de combate no Terreiro do Paço.

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Nota do editor

Último post da série de 25 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25445: Os 50 anos do 25 de Abril (13): Testemunhos - Numa Das Malas Velhas Da Minha "Fundação" (António Inácio Correia Nogueira, ex-Alf Mil da CCAÇ 16 - CTIG, 1971 e ex-Cap Mil, CMDT da CCAV 3487/BCAV 3871 - RMA, 1972/74)

quinta-feira, 28 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25314: Os Nossos Enfermeiros (19) : Negócios Imobiliários em Mampatá (António de Carvalho, ex-Fur Mil Enf.º)


1. Em mensagem de 27 de Março de 2024, o nosso camarada António Carvalho (ex-Fur Mil Enfermeiro da CART 6250/72, (Mampatá, 1972/74), conta-nos a estória de um negócio imobiliário, em Mampatá, que não correu muito bem.


Negócios Imobiliários em Mampatá

Quando chegámos a Mampatá (CArt 6250), para render a companhia açoriana, fomos surpreendidos pela disposição absolutamente anárquica dos aposentos dos militares, no meio das moranças da população, e das suas características das instalações, na sua maioria construídas pela população autóctone. Essas instalações, logo que os velhinhos se foram embora, transitaram para o pessoal da nossa companhia, mediante as condições de desenrascanço próprias da tropa.

No caso que aqui vou narrar, a casinha de planta rectangular, de paredes de taipa e cobertura de capim, não teria mais que uma dúzia de metros quadrados. Nela tinham cabido três soldados da companhia dos velhinhos que a terão construído sob a permissão e ajuda do dono do terreno a quem terão pago alguma importância. Certo é que, esses três velhinhos, assumindo-se como proprietários legítimos desse prestimoso imóvel, o venderam, por 300$00, a três cabos da minha companhia que lá encaixaram, como puderam, as suas camas. Esqueceram-se porém de pagar o IMI e o IMT.

Não sei se foi por isso, ou por qualquer outra razão, certo é que, no fim da comissão, não havendo rendição, devido ao fim da guerra, e quando os três militares da minha companhia se prontificavam a praticar o acto generoso de oferecer aquele imóvel ao enfermeiro da Milícia Adulai Baldé, o pretenso dono do terreno opôs-se veementemente à doação, argumentando que sendo dele o terreno, também dele era a casinha. E assim ficou o proprietário do terreno com as benfeitorias e o Adulai Baldé sem a casinha que tão bem lhe viria a calhar.

Um grande abraço.
Carvalho de Mampatá

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Nota do editor

Último poste da série de 22 DE MARÇO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25297: Os Nossos Enfermeiros (18) : O Enfermestre, a estória de um furriel enfermeiro que não quis ser vagomestre (António de Carvalho, ex-Fur Mil Enfermeiro)

sexta-feira, 22 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25297: Os Nossos Enfermeiros (18) : O Enfermestre, a estória de um furriel enfermeiro que não quis ser vagomestre (António de Carvalho, ex-Fur Mil Enfermeiro)

O Fur Mil Enf António Carvalho em Mampatá

1. Em mensagem do dia 20 de Fevereiro de 2024, o nosso camarada António Carvalho (ex-Fur Mil Enfermeiro da CART 6250/72, (Mampatá, 1972/74), conta-nos a estória de um furriel enfermeiro que não quis ser vagomestre substituto:


O Enfermestre

Havia quartéis onde se comia melhor, noutros pior ou muito pior, mas todos os militares recebiam o mesmo para a alimentação, pelo que é óbvio poder-se considerar que a honestidade entre quem geria não era uma virtude distribuída de forma homogénea.

A gestão dos bens alimentares estava a cargo de três pessoas, respectivamente o Capitão, o Sargento da Secretaria e o Vagomestre, mas era este último que detinha a função específica de fazer chegar aos cozinheiros os géneros alimentícios, pelo que, quando vinha de férias, era quase imperativo o Capitão convidar um Furriel de outra especialidade para o substituir na função.

No caso que me foi contado, ocorrido a pouco mais de trinta quilómetros de Mampatá, lembrou-se, segundo me contaram, o capitão dessa companhia de convidar o Furriel Enfermeiro, para substituir o Vagomestre quando este se ausentou em gozo de férias. Que lhe custava muito aceitar tal função, porque se não queria tirar dela qualquer proveito, tão-pouco suportaria essa fama que sabia impender sobre o titular do cargo. Respondeu-lhe então o Capitão em jeito de o meter entre a espada e a parede: Se não aceita substituir o Vagomestre vou dar a função ao Cabo Enfermeiro Silva, mas fica a saber que passa a alinhar para o mato sempre que o grupo dele saia. O Furriel Enfermeiro, apesar de ser muito "alérgico" a sair para o mato, respondeu-lhe que entre os dois males, optava por sair mais vezes para o mato.

Contou-me ainda o tal Furriel Enfermeiro que, no decurso desse mês de férias do Vagomestre, o Enfermestre recebeu o "agrement" do 1.º Sargento para vender um bidão de vinho ao pessoal da Engenharia, sossegando-o de seguida sobre o modo de resolver a falta dele, como se lhe desvendasse o segredo do ovo de colombo: em vez duas barras de gelo dentro do balde deveria passar a pôr quatro.

Um grande abraço, para os administradores do blog e para todos os combatentes.
Carvalho de Mapatá

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Nota do editor

Último poste da série de 26 DE DEZEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P25004: Os Nossos Enfermeiros (17) : Dois meninos, dois amigos, dois destinos... (António Reis, ex-1º cabo aux enf, HM 241, Bissau, 1966/68, novo tabanqueiro, nº 882)

sábado, 17 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25178: Parabéns a você (2247): António Carvalho, ex-Fur Mil Enfermeiro da CART 6250/72 (Mampatá, 1972/74) e Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Especiais da CCAÇ 1426 (Geba, Camamudo e Cantacunda, 1965/67)


Em tempo:
Lamentavelmente o editor esqueceu-se de publicar o postal de aniversário do camarada Fernando Chapouto na data certa.
Para efeitos de memória futura foi hoje acrescentado ao post.
Não estranhar portanto o facto de niguém dar os parabéns ao Fernando
01MAR2024
Carlos Vinhal

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Nota do editor

Último poste da série de 13 DE FEVEREIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25165: Parabéns a você (2246): Miguel Rocha, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2367 / BCAÇ 2845 (Olossato, Teixeira Pinto e Cacheu, 1968/70)

quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24954: S(C)em Comentários (23): João Crisóstomo, Prémio Tágides 2023 (Categoria "Portugal no Mundo")




Lisboa > Fundação Calouste Gulbenkian > 11 de dezembro de 2023 > João Crisóstom,o, vencedor do Prémio Tàgides 2023, na categoria "Portugal no Mundo", uma iniciativa da All4Integrity-

Fotos: Cortesia da página do Facebook de Cristina Crisóstomo


1. Comentários recentes (*) sobre o tema, de alguns dos nossos camaradas... Os demais leitores podem também pronunciar-se (**)

(i) Eduardo Estrela  (Faro):

Houve portugueses da história recente deste país que amamos, que desobedeceram a César por amor de Deus e da humanidade. Aristides de Sousa Mendes e o general Vassalo e Silva são exemplos de homens capazes de afrontar o mal oriundo de mentes agrilhoadas e obscuras.

Bem hajam os que continuam a lembrar a integridade humana e intelectual desses homens, como é o caso do João Crisóstomo no que a Aristides de Sousa Mendes diz respeito.

A humanidade continua, cada vez mais, a precisar de vultos que se revoltem contra os poderes instituídos que espezinham, destroem, matam e reduzem a cinzas em nome de nada, os que somente aspiram a uma vida melhor. (...)
 
4 de dezembro de 2023 às 14:14 

(ii) Valdemar Queiroz (Cacém / Sintra): 

O nosso camarada da guerra na Guiné tem várias vezes me telefonado e enviado e-mails para saber como eu tenho passado da minha doença, e com o desejo de me visitar quando viesse a Portugal. Eu fico sempre muito sensibilizado com as suas preocupações, por não nos conhecermos de lado nenhum.
No último e-mail escrevi-lhe como o reconhecia, assim:

"João Crisóstomo a tua vontade de ajudar as pessoas é por seres um homem bom com sentimentos muito elevados. Tens-te como possuído por sentimentos religiosos 'amai-vos uns aos outros' para sentires essa vontade de ajudar os outros, que assim seja, não vejo a religião para outra coisa." (...)

 4 de dezembro de 2023 às 16:53 

(iii) José Câmara (Soughton, MA, EUA):

Confesso que gosto do João, da sua atitute. O telefone é a sua G3 na comunicação com os amigos. Aqui e ali, muito mais graças a ele, comunicamos. Para ele o mundo não tem fronteiras. Bem hajas João!
Abraço transatlântico.

11 de dezembro de 2023 às 01:08 

(iv) Luís Graça (Lourinhã):

João, tu mereces. Tu, o António Rodrigues e tantos outros luso-americanos que nunca esqueceram a terra que vos viu nascer.

Por certo que o júri (constituído por por personalidades que venceram o prémio nas duas edições anteriores) ficou impressionado não só com a competência, o empenhamento e a determinação que tens posto na defesa destas nobres causas, como também com a tua capacidade de mobilização e trabalho de equipa... Isto é liderança... Nada se faz sozinho, ninguém é herói solitário.

Fíco contente também por ti e pelos Crisóstomos & Crispins que te inspiram, e te deram exemplos e valores...

Afinal, quem disse que ninguém é profeta na sua terra ? Claro que Paradas, A-dos-Cunhados, Torres Vedras, não tem a mesma visibilidade de Queens, Nova Iorque...

12 de dezembro de 2023 às 08:32 

(v) António Carvalho (Carvalho de Mamaptá) (Medas / Gondomar):

Tenho muito orgulho em saber que tenho entre os camaradas da Tabanca Grande e combatente da guerra da Guiné um camarada com estes grandes méritos aqui referidos, entre outros que também terá. Parabéns, Crisóstomo, pelo que tens feito de extraordinário, nomeadamente pela causa das Gravuras do Coa e pela reabilitação e nobilitação da memória de Aristides de Sousa Mendes. (...)

12 de dezembro de 2023 às 11:12

(vi) Hélder Sousa (Setúbal): 

Caros amigos: Todas as palavras elogiosas do João Crisóstomo e das suas obras não são demais. É com grande satisfação (e orgulho "por conta") que lhe reservo toda a consideração e estima.
É verdadeiramente um "bom homem" e um "homem bom". (...)


(vii) Manuel Luís Lomba (Barcelos):

Felicitações ao João Crisóstomo, por mais esta distinção. Grande honra nossa de ter e privar com camarada desta dimensão.(...)

13 de dezembro de 2023 às 10:31 

(viii) Carlos Vinhal (Leça da Palmeira / Matosinhos):

Ter alguém como o João Crisóstomo, que faz o favor de ser nosso amigo, é um privilégio.

Caro João, um abraço e votos de muitas felicidades.

13 de dezembro de 2023 às 18:49 

(ix) Joaquim Luis Fernandes (Leiria):

Bem merecido o prémio Tágides 2023, a João Crisóstomo!

Parabéns e muitas felicidades. (...)

13 de dezembro de 2023 às 19:47 

___________

Notas do editor LG:

(*) Vd. postes de 

13 de dezembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24947: João Crisóstomo, Prémio Tágides 2023 (Categoria "Portugal no Mundo"): uma vida, muitas causas - II (e última) Parte

12 de dezembro de 2023: Guiné 61/74 - P24945: João Crisóstomo, Prémio Tágides 2023 (Categoria "Portugal no Mundo"): uma vida, muitas causas - Parte I

4 de dezembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24915: (In)citações (261): João Crisóstomo, já que chegaste a finalista do Prémio Tágides (edição 2023), na categoria "Iniciativa Portugal no Mundo", esperamos que no dia 11 deste mês, na cerimónia de revelação dos vencedores, os nossos bons irãs estejam contigo e com as causas que tens defendido, com o empenho e a competência também de muita outra gente da diáspora lusófona e de outros cidadãos do mundo

(**) Último poste da série > 13  de dezmbro de 2023 > Guiné 61/74 - P24948: S(C)em comentários (22): Caçadores de Angola...

sábado, 14 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24755: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (9): A pisa, a desfolha, a apanha da lenha nos montes, o cultivo da batata, a olivicultura... (António Carvalho, Medas, Gondomar)

Marco de Canaveses > circa 1947 _ A vinha de enforcado, as vindimas

Marco de Canaveses > circa  1947 > O típico carro de bois de Entre Douro e Minho


Fonte: Aguiar, P. M. Vieira de - Descrição Histórica, Corográfica e Folclórica de Marco de Canaveses. Porto: Esc Tip Oficina de S. José. 1947. (Com a devida vénia).


1. Já aqui publiquei,  há dois anos atrás,  várias notas de leitura sobre o livro "Um caminho de quatro passos", do António Carvalho. (*)

Para além das pequenas histórias relacionadas com a sua experiência como furriel miliciano enfermeiro no sul da Guiné, durante dois anos (CART 6520/72, Mampatá,1972/74),   encantou-me, de sobremaneira, na altura em que o li,  as suas vivas recordações da infância passada em Medas, Gondomar, num ambiente rural que muitos de nós ainda chegámos a  conhecer, tanto no Portugal continental como insular e até ultramarino. (estou-me a lembrar no nosso amigo e irmãozinho Cherno Baldé,  "menino e moco em Fajonquito").0

Não sendo propriamente um "menino da cidade", tendo vivido numa pequena vila à beira mar, Lourinhã, com avós, tios e primos ali ao lado, no campo, a 3 km de casa  (Nadrupe e Quinta do Bolardo), eu também acompanhei,  até aos meus 10, 11, 12 anos,  algumas das atividades marcantes da vida rural,  como a panha da fruta (as macas, os fihosGomo as vindimas, em setembro, ou a matança do porco, em pleno inverno.

Na região do Oeste, na Estremadura da minha infância, na altura uma das regiões do país com mais produção vitivinícola (até aos anos 60), vinham ranchos de homens e mulheres das Beiras, os "ratinhos" ou "bimbos", vindimar os milhares de hectares de vinha no tempo em que o vinho, dizia a propaganda nacional, dava de comer a um milhão de portugueses....  Era também um conde lho de muitas  "caldeiras"  (destilarias) onde se "queimava vinho" para a produção de aguardente vínica com destino à região demarcada do Douro.

Deslocavam-se os ranchos beirões, em grupos com um capataz, e dormiam nos palheiros, como animais... Depois, os homens foram para a guerra ou a salto para França, arrancaram-se as vinhas, mecanizou-se a agricultura, a vinha e o trigo deu lugar a outras culturas mais rentáveis, primeiro os pomares de pera rocha e depois as hortícolas, hoje as estufas, a batata, as abóboras, etc.

Mais tarde, a partir de 1975, descobri a  região do vinho verde, e ainda a tempo de "apanhar em andamento o passado", a vinha de enforcado, as latadas, o milho, os engenhos (moinhos a água), as histórias do linho e das desfolhadas, as tradições comunitárias como as "serviçadas", a matança do porco,  os carros de bois "a chiar pelos montes acima ou abaixo", a parceria agrícola e pecuária (formas pré-capitalistas de produção) , as feiras de gado, as romarias, os bailes mandados, etc.... E, pela primeira vez (e única) na minha vida também ajudei a pisar a uva (tinta) no lagar...

2. Estas  e outras tradições, ligadas a uma economia agrícola fracamente monetarizada, e ainda em grande parte de autossubsistência (como aquela que se praticava até aos anos 50/60 em Entre Douro e Minho), hoje já se perderam, embora perdurando na memória dos "antigos"...  

Voltei a encontrá-las (e a saboreá-las) no livro do António Carvalho, "Um caminho de quatro passos". Achei que havia similitudes entre Medas (Gondomar) e Candoz (Marco de Canaveses), afinal estamos a escassos 60 quilómetros de distância, na mesma região, a de Entre Douro e Minho. E até com algumas das recordações da minhas idas à aldeia dos meus avós e tios.

A primeira parte do livro (e nomeadamente a reconstituição do quotiano da vida rural em Medas, Gondomar,  até aos anos 60 do séc. XX) tem inegável interesse documental (e até etnográfico).  

E, mais, tem interesse sociológico: muitos dos homens e mulheres da nossa geração ( que fez guerra colonial / guerra do ultramar, 1961/74) conheceram a dureza da vida no campo e do trabalho agrícola, e, em muitos casos, foi vítima, "avant la lettre", da exploração do trabalho infantil.

Para além da riqueza das observações sobre as culturas e as atividades agrícolas, os apontamentos que o autor nos deixa sobre a sua infância são saborosos  pelos regionalismos ou provincianismos usados, parte dos quais  continuam por grafar nos nossos dicionários ou então são deconhecidos de muitos falantes da língua portuguesa, a começar pelos citadinos e pelos mais novos.

uma subcultura camponesa do Norte que está em extinção. Na realidade:

  • quem sabe o que é uma "pipa" e a sua equivalência em litros ?  
  • e menos ainda o significado de "desarroar as pipas" (tirar o sarro);
  • "canastro" (ou espigueiro) também é um vocábulo estranho a um lisboeta;
  • tal como "canistrel" (pequeno cesto de vime); 
  • ou como "calda bordalesa", "pingue de porco", "queiró, carqueja e tojo", "pisa", "desfolhada", etc.

A "ajuda rogada" é uma expressão idiomática que me parece muito mais nortenha do que sulista. Ou mesmo se pode dizer de "carro de milho" como medida, ou o "almude" ou a "talha de barro almudeira" (onde se guardava o azeite)... 

Embora o sistema métrico tenha entrado em vigor em Portugal, por volta de 1860, com a intenção de se uniformizae o sistema de pesos e medidas (mudança fundamental para a criação de um verdadeiro mercado e, portanto, para o desenvolvimento da economia capitalista, a par das estradas, do caminho de ferro, da máquina a vapor, do código comercial, etc.), persiste até hoje, no campo, o uso das antigas unidade de  medidas portuguesas, como por exemplo, moio, alqueire,  quarta, oitava, maquia , etc. (medidas de capacidade para secos); ou tonel, pipa, almude,pote, canada, quartilho, etc. (medidas de capacidade para líquidos).

Há, no livro do António Carvalho,  expressões deliciosas, castiças, e outras de que lembro de ler e ouvir no Norte, como:

  • "à  medida que crescíamos e íamos cabendo no lagar";
  • "tanger os bois";
  • "guiar à soga";
  •  "o moleiro que arrochava os sacos de farinho sobre o dorso das mulas";
  • "os dois porcos grandes, que se queriam gordos";
  • "um terço de despacho (desembaraço)";
  • "com a sua licença, o porco";
  • "apercar";
  •  "freima";
  • "aneira";
  • "anos minguados"
  •  "barco rabão";
  •  "sortes" ... 

Enfim, vocábuos e expressões, de sabor castiço, camiliano, que enriquecem a língua portuguesa, embora tendam a desparecer ou sejam cada mais de uso local ou restrito, face ao "rolo  compressor" dos mídia, da televisão, das redes sociais, da globalização,  etc..

Por isso, volta aqui a reproduzir-se alguns excertos das primeiras páginas do livro  do António Carvalho (pp. 15-19), com a amável condescendência do autor, e como contributo para a nova série que temos em curso, "Coisas & loisas do nosso tempo de menino e moço", onde a sua participação  (para mais, agora às voltas com a gestação de um novo livro)  é absolutamente  obrigatória (*), a par de outros camaradas como o transmontanto Francisco Baptista, por exemplo. (Temos de recuperar alguns dos seus escritos sobre Brunhoso.)


António Carvalho, o "Carvalho de Mampatá", ex-fur mil enf, CART 6250, Mampatá, 1972/74, membro da Tabanca Grande desde 13/9/2008, autarca na antiga freguesia das Medas, Gondomar durante 28 anos (hoje, União das freguesias de Melres e Medas); tem cerca de 80 referências no nosso blogue.

(...) "Nasci aqui, neste pedaço de terra, circunscrito por uma curva muito apertada do rio Douro e pela serra de Açores, rebatizada (não sei por quem nem porquê) a partir da segunda metade do séc. XX, como serra das Flores, como aqui nasceram também, pelo menos, alguns dos meus octavós e muitos dos seus descendentes dos quais eu provenho.

(...) Talvez também por isso, nem em sonhos me passou algum dia pela cabeça assistir à assimilação da minha freguesia por outra, numa amálgama sem identidade !

(...) Espero não morrer sem ver a minha freguesia ressuscitada – a única coisa que me interessa, ao nível da política local. (...)" (pp. 212/214)  (...)

A PISA E A DESFOLHADA


Setembro era o mês de maior azáfama, porque se juntava a colheita do milho e a vindima, não havendo um minuto de folga naqueles dias ainda grandes, mas já sem as reparadoras sestas. 


Na nossa casa [ em Medas].e nas de envergadura semelhante era sempre preciso assalariar mulheres , sobretudo na vindima, mas também na colheita do milho porque, antes que viessem as chuvas de outubro, o vinho tinha que estar nas pipas e as espigas no canastro. 

Enquanto um carro [de bois, não havia ainda ] andava no transporte das uvas, dos campos para o lagar, o outro carregava as espigas, para a eira. O lagar grande, de quatro pipas, levava dois dias a encher, mas o mais pequeno ficava lotado num só dia. Se hoje havia uma pisa , amanhã podia haver uma desfolhada. As uvas eram pisadas à noite, sempre com a ajuda rogada dos nossos vizinhos. 

Nós, os da casa, à medida que crescíamos e íamos cabendo no lagar, não tínhamos como evitar esse esforço acrescido, mesmo depois de um dia de trabalho pesado. 

É certo que, quando chegávamos ali aos treze ou catorze anos, entrar pela primeira vez no lagar era sinal de que já éramos homens e essa assunção, havia muito tempo almejada, de uma pretensa maioridade, envaidecia-nos. 

O meu avô nunca pisava, mas estava sempre presente para servir vinho e cigarros aos pisadores, ao mesmo tempo que apontava para um ou outro ponto do lagar onde a grainha ainda não tinha chegado à superfície, sinal de que era preciso ali mais pé. O meu pai, esse andava por ali a dessarroar as pipas e a apertar-lhes as aduelas ou agarrado à prensa a aproveitar os últimos litros de vinho. 

No fim de cada pisa, à ordem do meu avô, saia o primeiro pisador e só se lhe seguia o segundo depois do primeiro ter lavado as pernas, e assim sucessivamente até ao último. 

Alguns pediam aguardente para se livrarem da comichão nas pernas aproveitando para, de um só trago, engolir um pequeno copo dela, antes que todos subissem as escadas de acesso à nossa grande cozinha, onde a minha mãe e a minha tia tinham posto na mesa três travessas grandes de arroz de tomate com bacalhau frito. 

Lembro-me de me sentir grande quando já fazia parte do grupo dos pisadores, sentado ali à mesa, com os meus irmãos mais velhos e o pessoal de fora.

As desfolhadas eram feitas também à noite, ao ar livre, com a luz do luar, se fosse dia dele, com a ajuda de algumas pessoas vizinhas, das nossas boas relações, sobretudo mulheres e raparigas bem novas que se juntavam na nossa eira, a pouco mais de cem metros de casa. Alguns, ainda crianças, à medida que o folhelho se ia juntando, adormeciam cansados, debaixo dele. 

Havia sempre um dos meus irmãos a subir a escada de acesso ao canastro, onde cabiam mais de seis carros de milho, enquanto outro se ocupava a acomodar as espigas dentro das divisórias. 

Era ali que as espigas ficavam a secar, para serem debulhadas, à mediada que precisássemos do milho, em qualquer dia de céu limpo. Debulhava-se sempre para cima de um carro de cada vez, guardando-se o milho, já limpo, numa das caixas grandes que tínhamos em casa. 

E era dessa caixa, enorme aos meus olhos de criança que, todas as semanas, se enchiam dois sacos para entregar ao moleiro que os arrochava sobre o dorso das mulas.

E não era demasiado o milho que mandávamos moer, porque para além da farinha para a fornada semanal, também os dois porcos grandes, que se queriam gordos, gastavam dela.


A ÁREA BRAVIA E A LAVRADIA


Nenhuma casa de lavoura podia ter grande expressão nem sustentabilidade se não tivesse uma área de terreno bravio proporcional ao terreno lavradio, onde os lavradores tinham as suas reservas de mato para as camas do gado. 


E a importância dos matos, constituídos fundamentalmente por queiró, carqueja e tojo,  tornou-se mesmo decisiva, quando a cultura do milho e da batata se impuseram, em detrimento da cultura do linho e dos cereais de grão miúdo, no séc. XIX, exigindo a estabulação do gado bovino para, deste modo, se obter maior quantidade de estrume. 

Ora nessa área de terreno  inculto, dispersa por várias parcelas a que os lavradores chamavam sortes, por terem sido distribuídas  por sorteio, em número proporcional à área agricultada de cada um, não crescia só o mato, mas medravam ainda o pinheiro e o eucalipto, para além das espécies autóctones, como o carvalho, o sobreiro, o castanheiro, o salgueiro e o medronheiro, estes em progressiva redução. 

Os lavradores maiores que tinham excedentes de mato,  vendiam, para os fornos do Porto, alguma carqueja e queiró, mas era na venda de lenha de eucalipto e pinho que eles, anualmente, incorporavam no seu orçamento familiar, uma verba significativa.

 Habitualmente era no fim do verão fim do verão que vendiam os seus pinheiros, reservando para consumo doméstico toda a ramagem que era empilhada ao lado das casas, perto da cozinha, numa meda proporcional ao número de pessoas de cada família. Eram essas rameiras, em vez das lenhas mais nobres, que se utilizavam nas  lareiras de quase todas as casas, antes da chegada dos fogões a gás e a eletricidade

lenha das videiras que resultavam da poda, bem como os carolos do milho eram também combustíveis excelentes usados nas lareiras e nos fornos domésticos. As famílias que não tinham sortes pediam aos lavradores autorização para cortar uma rodada de ramos em cada pinheiro, carregando-os em feixes à cabeça, até suas casa. 

As medas de ramos de pinho feitas todos os anos, no fim do verão, à porta de cada família, faziam também parte dos monumentos rurais da minha freguesia e das vizinhas, e pelo seu tamanho também se ajuizava da pujança da casa.


A CULTURA DA BATATA


Logo a seguir ao milho e ao vinho,  a batata era o produto mais representativo na nossa casa de lavoura, em termos de volume e de rendimento. 


Desde a década de quarenta até à minha adolescência uma parte significativa do trabalho era dedicado ao cultivo deste tubérculo que, semeado entre março e abril, não carecia de rega, adaptando-se assim muito bem aos nossos terrenos onde a água não abundava. 

O meu avô e mais tarde o meu pai deram uma especial atenção ao incremento desta cultura e terão sido, durante duas ou três décadas, os maiores produtores de batata da freguesia. 

Em quase metade dos nossos campos, bem estrumados, semeávamo-las, ficando os restantes, aqueles que podiam ser regados, dedicados ao milho e feijão consociado. Depois de se ter coberto o terreno com uma boa camada de estrume, lavrava-se e gradava-se com os bois. 

O trabalho de que mais gostava, aí pelos meus oito ou nove anos, era de me sentar na grade, agarrado com uma das mãos a uma das travessas enquanto que, com a outra munida de uma vara, tangia os bois à ordem do meu pai ou de um irmão mais velho que os guiava à soga. 

Não me dói a consciência por , com o meu peso, exigir aos bois aquele esforço suplementar, porque, se não fosse eu a desfrutar daquele prazer, um calhau grande seria lá posto na minha vez para fazer os dentes da grade penetrar bastante na leiva.

Encontrando-se a terra bem desfeita logo se começava a semeadura. Numa ponta do campo, aproveitando a sombra de alguma árvore, à minha mãe cabia sempre o trabalho de partir as batatas de semente, o que ela fazia com uma rapidez impressionante, tendo ainda o cuidado de deixar um só galeiro para cada bocado. 

A minha avó materna também ajudava algumas vezes bem como a minha tia Quina, mas ficavam-se por um terço do despacho da minha mãe. O meu avô dirigia as operações dos homens da enxada, enquanto o meu pai já andava a lavrar outro campo. 

Havia normalmente dois ou três homens a abrir regos e meu avô, sabendo da capacidade e vontade de cada um, mandava sempre o mais lento começar no primeiro rego, deixando o último para o trabalhador melhor, forçando deste modo os mais lentos a andar da perna, antes que o mais rápido esbarrasse com ele, o que seria uma vergonha para o atropelado. 

A mim, como a qualquer um dos meus irmãos, a partir dos sete ou oito anos, estribados por uma varinha de vinte e cinco centímetros, cabia-nos a tarefa de dispor as batatas nos sulcos que os adultos iam abrindo.

Naquele tempo não se usavam herbicidas, por isso logo que as primeiras ervas daninhas afloravam à superfície recorria-se ao trabalho de mulheres que vinham fazer a sacha removendo toda a vegetação nociva. 

Entretanto era preciso pulverizar os batatais com calda bordalesa e inseticida de modo a erradicar-se o míldio e o escaravelho. Julho e agosto eram os meses da colheita e do armazenamento numa loja fresca e escura. 

Tínhamos batatas em barda e, como a produção excedia largamente o consumo, vendíamo-las para as mercearias da freguesia e até para o Porto onde as fazíamos chegar por barco rabão.

Os campos de batatas ficavam disponíveis para nova cultura , a partir de agosto, semeando-se então, nabos, em quase todos eles, no mês de setembro, logo que, na mudança do vento, se adivinhava a ocorrência das primeiras chuvadas outonais, aproveitando-se a generosa estrumação de que tinham beneficiado. 

cultura do nabal era também muito rentável, até aos anos sessenta, quando vinham diariamente meia dúzia de mulheres da outra margem do rio, comprar grandes quantidades de nabos que carregavam em gigos bem acogulados, destinados à alimentação humana e à engorda de porcos.

O AZEITE , O ÓLEO  DOURADO


Na agricultura de auto-suficiência tudo o que fosse importante para a alimentação havia de ser produzido numa casa de lavoura. 


Mas a oliveira não gosta dos ares marítimos do litoral nem dos nevoeiros, por isso dificilmente alguma casa de lavoura das Medas, por maior que fosse, produzia meia pipa de azeite [talvez cerca de 200 litros]. em anos bons, sendo que, na rigorosa gestão da nossa casa, era imperativo guardá-lo, dos anos melhores para os minguados. 

Entre novembro e dezembro  era a altura de se colher a azeitona nas oliveiras invariavelmente plantadas no bordo dos campos, para não ensombrarem as outras culturas. O povo dizia que eram aneiras, por isso nunca acreditava que a um ano farto pudesse suceder outro igual e tratava-as como parentes pobres da agricultura, sem grandes cuidados,  deixando que as copas se desenvolvessem na vertical, sempre com o propósito de  evitar que se apoderassem do solo com a sua sombra.

A colheita era quase toda feita através de escadas de pinho com passais de oliveira que os rapazes ou homens feitos escalavam, de canistrel na mão, para chegarem até onde fosse possível. Nalguns casos era mesmo imperioso varejar os ramos mais altos.

 Ultimamente estendíamos, debaixo de algumas oliveiras, um panal feito de serapilheira para a recolha da azeitona que varejávamos do chão e de cima das escadas. 

A azeitona colhida mais cedo e sempre à mão era para curtir em talhas de barro almudeiras, e era também nestas talhas grandes que se guardava o azeite, esse preciosíssimo óleo que era servido à mesa muito moderadamente e quase só em batatas cozidas, quando não fossem acompanhadas de carne gorda.

Na culinária a gordura que se usava mais frequentemente era o pingue de porco, branco como a neve, guardado em pequenas talhas para o ano. (...)

© António Carvalho (2021)

(Seleção, revisão e fixação de texto, negritos, para publicação deste poste: LG) (Com a devida vénia...)




Capa do livro do  António Carvalho - Um Caminho de Quatro Passos. Rio Tinto: Lugar da Palavra Editora, 218 pp., ISBN: 978-989-731-187-1.

O livro (se não estiver já esgotado) pode ser adquirido, ao preço de 15,00 euros (portes incluídos, no território nacional ou estrangeiro) | Contactos do autor: António Carvalho, Medas, Gondomar | Email: ascarvalho7274@gmail.com | Telemóvel: 919 401 036
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Notas do editor:


17 de fevereiro de 2022 > Guiné 61/74 - P23005: Notas de leitura (1420): "Um caminho de quatro passos", de António Carvalho (2021, 219 pp.): apontamentos etnográficos para o retrato da nossa geração, de antigos combatentes - Parte III (Luís Graça): uma excursão a Lisboa, de 4 dias, em 1959

(**) Último poste da série : 13 de outubro de 2023 > Guiné 61/74 - P24752: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (8): "Se tens galinha pedrês, não a mates nem a dês" (Luís Graça)

sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24588: Tabanca Grande (552): António João Alves Cruz, ex-fur mil, 1ª CCAÇ/BCAÇ 4513/72 (Bolama, Aldeia Formosa, Nhala e Buba, mar1973 / set1974); senta-se sob o nosso poilão no lugar nº 880

António Joáo Alves Cruz, ex-fur mil, 1ª CCAÇ/BCAÇ 4513/72 (Bolama, Aldeia Formosa, Nhala e Buba, mar1973 / set1974)


António João Alves da Cruz: foto atual: "alfacinha",  vive em Almada, trabalhou na Lisnave

Foto nº 1

Foto nº 2


Foto nº 3

1. Mensagem do novo membro da Tabanca Grande, nº 880, António Alves da Cruz:

Data: quarta, 23/08/2023, 17:29
Assunto - Pedido de ingresso no Blogue Luis Graça & camaradas da Guiné

Caro amigo, estes são os meus dados;
  • Nome completo: António João Alves da Cruz
  • Data de nasdcimento: 01-03-1951
  • Naturalidade: Belém -Lisboa
  • Posto: Furriel Miliciano
  • Recruta e especialidade (Atirador) tiradas em Tavira. 
  • Fui dar instrução para Elvas (BC 8) onde fui mobilizado para o CTIG,  indo  formar batalhão (o BCAÇ 4513/72) em Tomar. 
  • Parti para a Guiné no dia 16-03-73.
Agradeço a possibilidade de poder fazer parte do vosso blogue. Anexo as duas fotos da praxe.

Um forte abraço.

2. Resposta do editor LG, no mesmo dia, 23/08/2023,  às 20:23:

Obrigado, camarada. Tudo OK. Vou publicar... És recebido de braços abertos. E já viste com certeza o poste (*):

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2023/08/guione-6174-p24581-facebookando-33.html

Um alfabravo, Luís


3. Nova mensagem do novo membro da Tabanca Grande, com data de hoje, às 17h20:


Caro amigo Luís

Publiquei no Face as fotos porque no blogue não vi a minha inscrição. A partir de agora vão por email. Pode publicar onde quiser os slides são meus não tem problema algum. Em breve enviarei "slides" sobre a nossa saída em setembro de 1974.

Legenda:
  • Foto nº 1: saída de Buba para operação em Ponta Nova;
  • Foto nº 2: a malta  bordo da LDM: o terceiro camarada que está na conversa é o ex furriel Oliveira da 1ª Companhia do BCAÇ 4513 que faz parte do blogue;
  • Foto nº 3: Depois do "festival".  chegada a Buba nas LDM (uma delas, a 113).
Abraço


4. Comentário do editor LG:

Obrigado, camarada. A nossa regra nº 1 é tratarmo-nos por tu, como camaradas que fomos e continuamos a ser... Felizmente que já não vivemos no sistema de "apartheid" que ainda conhecemos na tropa e na guerra: "clero, nobreza e povo"... 

Ficaste apresentado  à Tabanca Grande: ficas sentado à sombra do nosso poilão, no lugar nº 880.

 Diz-me de tens "slides" suficientes para abrirmos uma série só tua, do género "Álbum fotográfico do António Alves da Cruz"... Ou preferes ser tratado por António João Cruz?... Se tiveres umas vinte ou trinta fotos, devidamente digitalizadas (e com boa resoluçao, quanto maior melhor...) podemos ir publicando regularmente... Digamos, semana a semana... 

Estas que me mandaste, da saída em LDM para uma operação em Ponta Nova,  parecem-me bem, mas têm fraca resolução (entre 41 kb, 49 kb, 191 kb)... O ideal é digitalizares as fotos com maior resolução: por exemplo, 300, 500 kb, 1Mb ou até mais... (Assim posso editá-las melhor, recortá-las, etc.)... 

Os créditos fotográficos serão sempre teus!...

Um abraço, António. 
Luís Graça.

PS 1 - Temos um editor em Almada, o Jorge Araújo (tem passado largas temporadas nos Emiratos Árabes Unidos; é do teu tempo).

PS2 - Continua a usar este meio (o email) para fazeres chegar as tuas coisas até mim (que passo a ser o teu editor)... Mas podes sempre publicar no nosso Facebook... Como sabes, quem é "amigo" do nosso Facebook, não é automaticamente membro da Tabanca Grande, até por que a maioria dos "amigos" do Face não são ex-combatentes da Guiné...

5. As nossas dez regras de convívio (que temos o dever de transmitir a todos os novos membros da Tabanca Grande, e recordar aos antigos):

(i) respeito uns pelos outros, pelas vivências, valores, sentimentos, memórias e opiniões uns dos outros (hoje e ontem);

(ii) manifestação serena mas franca dos nossos pontos de vista, mesmo quando discordamos, saudavelmente, uns dos outros (o mesmo é dizer: que evitaremos as picardias, as polémicas acaloradas, os insultos, a insinuação, a maledicência, a violência verbal, a difamação, os juízos de intenção, etc.);

(iii) socialização/partilha da informação e do conhecimento sobre a história da guerra do Ultramar, guerra colonial ou luta de libertação (como cada um preferir);

(iv) carinho e amizade pelo nossos dois povos, o povo guineense e o povo português (sem esquecer o povo cabo-verdiano!);

(v) respeito pelo inimigo de ontem, o PAIGC, por um lado, e as Forças Armadas Portuguesas, por outro;

(vi) recusa da responsabilidade colectiva (dos portugueses, dos guineenses, dos fulas, dos balantas, etc.), mas também recusa da tentação de julgar (e muito menos de criminalizar) os comportamentos dos combatentes, de um lado e de outro;

(vii) não-intromissão, por parte dos portugueses, na vida política interna da actual República da Guiné-Bissau (um jovem país em construção), salvaguardando sempre o direito de opinião de cada um de nós, como seres livres e cidadãos (portugueses, europeus e do mundo);

(viii) respeito acima de tudo pela verdade dos factos;

(ix) liberdade de expressão (entre nós não há dogmas nem tabus); mas também direito ao bom nome;

(x) respeito pela propriedade intelectual, pelos direitos de autor... mas também pela língua (portuguesa) que nos serve de traço de união, a todos nós, lusófonos.

PS - Defendemos e garantimos a propriedade intelectual dos conteúdos inseridos: texto, imagem, vídeo, áudio...). Em contrapartida, uma vez editados, não poderão ser eliminados, tanto por decisão do autor como do editor do blogue, mesmo que o autor decida deixar de fazer parte da Tabanca Grande.

Qualquer outra utilização desses conteúdos, fora do propósito do blogue,  necessita de autorização prévia dos ediores e dos autores (por ex., publicação em livro ou jornal,    programa de rádio ou televisão).

Luís Graça & Camaradas da Guiné
31 de Maio de 2006, revisto em 25 de agosto  de 2023
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6. Primeiros comentários de camaradas que te saúdam (*):

(i) António Carvalho:

Tenho andado arredado deste precioso e bem nosso blog, mas tive agora a sorte de, ao abri-lo, deparar com mais um camarada que andou pelos meus lados e por certo se cruzou comigo, quanto mais não fosse, num encosto ao balcão do bar de Mampatá, ou numa passagem pela enfermaria em busca de qualquer mesinho.

Um grande abraço para o Luís, para o Cruz do 4513 e para todos os combatentes.

Carvalho de Mampatá
~

(ii) António Murta:

Olá, camarada António J. Alves da Cruz.

Confesso que já não me recordo do teu rosto nem do teu nome (nem de outros mais recentes!), mas desde Tomar, desde a viagem no Uíge, passagem por Bolama e da permanência na mesma área da Guiné, por certo que nos cruzámos muitas vezes. Eras um dos meus vizinhos de Buba, onde eu ia tantas vezes.

Foi um prazer e uma agradável surpresa ver mais um contemporâneo a juntar-se à Tabanca Grande.

Sejas bem vindo. Se tiveres fotografias envia-as porque eu (e não só) iria gostar muito. E histórias também.

Grande abraço do António Murta, de Nhala.



(**) Último poste da série > 31 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24522: Tabanca Grande (  ): cor inf ref Cunha Ribeiro (Gondomar, 1926 - Porto, 2023), antigo 2º cmdt, BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), fica simbolicamente inumado, à sombra do nosso poilão, no lugar n.º 879