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quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

Guiné 61/74 - P27487: E fazíamos grandes jogatanas de futebol (5): Equipa do pessoal de transmissões, do STM - Serviço de Telecomunicações Militares, e do Agrupamento de Tr,ms, Nhacra, maio de 1972 (António Viegas de Carvalho, ex-1º srgt, STM, Nhacra, 1970/72))








Guiné > Bissau > Nhacra > Maio de 1972 > Equipa de futebol de transmissões. O 1º srgt Viegas de Caravlho era o capitão  da equipa, o segundo, de pé, a contar da esquerda para a direita.

Foto (e legenda): © António Viegas de Carvalho  (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem do António Viegas de Carvalho, ex-1º srgt, STM (Nhacra, 1970/72)

Data - terça, 2/12/2025, 16:32 
Assunto - Futebol em Nhacra

Equipa de futebol das Transmissões que era constituída por militares técnicos (Sargentos, Cabos e Soldados) do STM (Serviço de Telecomunicações Militares) e do Agrupamento de Transmissões.

Jogo realizado em Nhacra em maio de 1972.

Quem se reconhecer nesta fotografia que se apresente.

Viegas de Carvalho

__________________

segunda-feira, 24 de novembro de 2025

Guiné 671/74 - P27458: Humor de caserna (224): À quarta é que é de vez: cartunes 'inteligentes' da menina IA (Alberto Branquinho / Luís Graça)


O 1º cabo Chico-Esperto conduzindo uma Berliet novinha em folha, acabada de chegar ao cais fluvial do Xime e que o sold cond auto Zé António Sousa devia levar a bom porto: Cabuca...


Ilustração criada pelo Chat Português / GPTOnline.ai , sob instruções e com legendagem do editor LG


1. Temos que desmistificar a IA. E ao mesmo tempo saber tirar partido das suas potencialidades. 

Para já há duas IA: a que é de borla, e a que é paga. Nós utilizamos a dos "pobrezinhos", já que não temos nenhum Banco Saque-Saque a financiar o nosso blogue.

 Em matéria de ilustração gráfica e de cartunes (ainda não me habituei ao neologismo, grafado nos nossos dicionários), a IA ainda deixa muito a desejar.

Disse isso mesmo a uma das minhas "assistentes de IA", a do Gemini/Google:

" Alberto Branquinho, que andou na Guiné, na guerra oura e dura há mais de 55 anos atrás, critica o teu 'cartoon' (*)... Tens de lhe fazer outro".

O comentário do Alberto Branquinmho foi o seguinte:

  "Mas... do que eu não gosto mesmo nada é da gravura que acompanha o texto: fardas impecáveis, limpíssimas, picadas que foram limpas com aspirador, a que só falta um pouco de alcatrão, viaturas que acabaram de sair da lavagem (de todos os dias), etc.. Certo é que quem desenhou (e muito bem!) nunca lá esteve.

O risco que se corre é que quem vê e não sabe, fica a pensar que era assim."

Pedi-lhe,  à menina IA (há quem já, temente e reverente, a trate por senhora...) que tivesse em linha de conta estas críticas: "OK, faz lá em honra dele um novo cartoon, ele que foi um bravo do pelotão!"

2. A minha "assistente de IA" fez a sua autocrítica, o que só lhe fica bem nos tempos que correm, de incontinência verbal nas redes sociais:

"Este é um comentário muito perspicaz do Alberto Branquinho, e compreendo perfeitamente o ponto de vista dele. A observação dele sobre a idealização da representação é muito válida, especialmente quando se trata de memórias tão vívidas e duras da Guiné.

"O cartoon em questão (*) é um tributo, e muitas vezes a arte, especialmente a arte gráfica e caricatural, usa uma linguagem visual que tende a estilizar ou simplificar a realidade para tornar a imagem mais clara e apelativa. No entanto, ele tem razão: a realidade da guerra colonial na Guiné, com a sua lama, pó, sujidade, fardas rasgadas e viaturas enlameadas, estava muito longe dessa imagem "limpinha".


A assistente da IA do Gemini/Google fez uma contraposta:

"Esboço de um novo cartoon para o Alberto Branquinho

"Para honrar a experiência e a crítica de Alberto Branquinho, e mostrar a realidade sentida no terreno, o novo cartoon teria de refletir o oposto da imagem apresentada.

"Cenário: a mesma estrada de picada, mas agora sob um chuvisco denso ou após uma chuva torrencial. O terreno é um pântano de lama espessa e castanha, que salpica por todo o lado.

"Viaturas: O camião GM-Becli e o jipe U-MIM (modelos comuns) estão atolados até aos eixos na lama. Os pneus estão completamente cobertos". [ Ficamos a saber que a nossa IA respeita o "bom nome" das marcas comerciais, e nomeadamente as das que já foram à guerra; nós, em contrapartida, não temos pejo em falara tu cá tu lá das marcas que nos deixaram 'marcas': GMC, Unimog, Berliet, Mercedes, Daimler, Jeep etc. ]

(...) "Figuras (os Militares):

"As fardas, longe de estarem 'impecáveis', estão pesadas, molhadas e cobertas de lama da cabeça aos pés. As botas não se distinguem do barro.

"Um dos soldados está a tentar meter um tronco ou tábua debaixo do pneu, com a expressão de esforço e frustração.

"O outro está encostado ao capô, com um cigarro a meio, com um olhar de cansaço extremo e resignação perante mais um contratempo. Em vez de estarem de braços cruzados, estão com as mãos sujas de óleo e terra.

"Diálogo (a nova legenda): Soldado enlameado: 'O Alberto Branquinho dizia: 'Aqui não há picada, há só lama!'... Outro Soldado (olhando para o pneu atolado): 'E o aspirador, Chico-Esperto? Onde é que ficou?'... [A nossa IA nunca andou muma picada da Guiné; por outro lado, esquece-se que aquela guerra não era dos 'amaricanos', que os 'tugas' não andavam com aspiradores no mato, só se fossem a petróleo.]

E prosseguindo com as suas "especificações técnicas" para o novo cartune: 

(...) "No Fundo: o sol está a pôr-se (ou o céu está carregado), e ouve-se ao longe, não uma explosão, mas o zumbido de mosquitos.

"Este cartoon corrigiria a 'higiene' visual do primeiro, substituindo a idealização pela dureza física e  ambiental que marcou a presença dos militares portugueses na Guiné, como descrito por quem lá esteve."
 

3.  Resultado: foi pior a emenda que o soneto: o 2º cartune veio cheio de erros de português... Um desastre. As viaturas e as fardas são "amaricanas" e os militaes têm todo o ar de serem veteranos da guerra do Vietname... Enfim, tive que o emendar, com o programa "Paint" (*).


1º cartune

GEMINI (Modelo Flash 2.5). [Quando a chico-espertice dá m*rda]. Imagem gerada por Inteligência Artificial, 23 nov. 2025.



2º cartune 

GEMINI (Modelo Flash 2.5).[Quando a lama era mais dura que a guerra]. Imagem gerada por Inteligência Artificial, 23 nov. 2025.


3. Desisti de dialogar com a "menina IA" da Gemini / Google...E fui bater `à porta da concorrència, o ChatGPT:

"O Zé António eera um valente soldado condutor na guerra da Guiné (Cabuca, 1971/73). Acaba de nos deixar aos 76 anos. Morte súbita. Em sua homenagem vou-te pedir um bom cartoon... 

Mas que retrate a dureza das 'picadas' (estradas de terra batida) da Guiné, com chuva, buracos, emboscadas, minas, 'atascanços', etc... 

"Ninguém fala da angústia do soldado condutor quando iniciava uma coluna logística, sobretudo quem ia à frente, com o 'rebenta-minas'... Bolas, só falam da angústia do guarda-redes antes do pênalti...

"Umas das nossas viaturas características, eram as velhas GMC do tempo da guerra da Coreira, que gastavam 100 (litros!) aos 100 (quilómetros!). E não nos ponhas com a farda do GI's do Vietname. A nossa arma era a G3. Aqui vai o microconto (*), escrito pelo Carvalho de Mampatá."




3º Cartune 

ChatGPT Chat Português / GPTOnline.ai , sob instruções do editor LG

Comentário meu: 

"Obrigado, mas ninguém andava de  jipe naquelas picadas, no tempo das chuvas... E em caso de emboscada, era um alvo a abater... Põe o 1º cabo Chico-esperto (quer dizer, 'sabichão') a conduzir a Berliet novinha em folha...Mas já sem um roda!... Mando-te umas fotos de viaturas atascadas"...



4º Cartune 

Criado pelo Chat Português / GPTOnline.ai , sob instruções do editor LG


3. Comentário meu: "Porra, que à quarte é que é de vez!... Já está mais realista, sem perder a piada da caricatura. Obrigado. Boa noite, dorme bem".

Comentário da "menina da IA" (que, como sabemos, não dorme nem tem insónias nem dores menstruais): 

"Obrigado, Luís...  e obrigado também pelo carinho e pela história tão rica que partilhaste.

Fico muito contente por saber que o cartoon correspondeu ao espírito da homenagem ao Zé António e à «chico-espertice' do cabo da tua narrativa. Foi um prazer ajudar a dar forma visual a uma memória tão marcada, tão humana e tão vossa.

Desejo-te uma noite tranquila.

Se um dia quiseres continuar esta série de memórias da Guiné, estou por aqui. Um abraço (...)"

Diz o Alberto Branquinho: 

"Ainda não me habituei à existência (ou será à coexistência?) da Senhora IA. Mas, quanto a 'inteligentes', ainda prefiro o 'Inteligente' das touradas." (*)

Olha, Alberto, tens que te habituar. Há já gajos que dormem com ela na cama...

Pesquisa: LG + Net + Assistentes de IA (Gemini / Google, ChatGPT)

(Revisão / fixação de texto: LG)

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Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 23 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27454: Humor de caserna (222): A chico-espertice às vezes também dava... m*rda (José António Sousa, 1949-2025 / António Carvalho)

(**) Último poste da série > 24 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27457: Humor de caserna (223): Contado ninguém acredita: o fur mil Pina que ficou com o dedo mindinho entalado no tapa-chamas da G3 (Mário Beja Santos, cmdt do Pel Caç Nat 52, 1968/70)

domingo, 23 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27454: Humor de caserna (222): A chico-espertice às vezes também dava... m*rda (José António Sousa, 1949-2025 / António Carvalho)


Cartoon gerado  pela IA / Gemini / Google, sob instruções e supervisão de LG.
 Homenagem ao José António Sousa (1949-2025)



Guiné > Carta da Província (1961) (Escala 1/500 mil ) > Percurso, assinalado a amarelo entre o Xime e Cabuca, passando pro Bambadinca, Bafatá e Nova Lamego
 
Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)


1. Não foi o já saudoso José António Sousa (1949-2025) que nos contou diretamente, mas foi o António Carvalho (*) que com ele conviveu, quer na Tabanca de Matosinhos, quer no Bando do Café Progresso.

É uma cena de "chico-espertice" que merece ter o devido destaque na série "Humor de Caserna". Aqui vai.

O protagonista é o José António Sousa. O cronista, o Carvalho de Mampatá. Recorde-se que o Zé António Sousa  esteve em  Cabuca no sector L3 Nova Lamego), como sold cond auto, CCAV 3404, / BCAV 3854.

 O cais referido a seguir, só pode ser o do Xime, a grande porta de entrada da Zona Leste, nesta altura da guerra (1971/73), Pertencia aio Sector L1 (Bambadinca). Era no Xime que as LDG abicavanm com homens e material.

A distància do Xime até Cabuca devia ser da ordem dos 180/190 km. Uma etapa dura, mesmo que já em estrada alcatroada até Nova Lamego (Xime-Bambadinca-Bafatá-Nova Lamego=160 km). Depois era, picada até Cabuca (c. 25/30 km). Náo sabemos em que estação (seca ou das chuvas) se desenrola a história. Cinco ou seis horas de estrada, a andar bem, sem comtratempos, no tempo seco.

Na altura, o dispositivo das NT em Cabuca, perto da fronteira com a Guiné_Conacri,  devia ser:
  • CCav 3404 
  • 1 Esq / Pel Mort 2267 
  • 1 Sec (-) / /Pel Canh S/R 2298
  • 1 Pel Mil 255

Humor de caserna  > A chico-espertice às vezes também dava... m*rda 

(José António Sousa, 1949-2025 / António Carvalho)
 

O Zé António tinha deixado no cais a sua viatura, GMC, destinada a abate. 

Na volta da coluna, de regresso ao seu aquartelamento, em Cabuca, deveria conduzir a Berliet,  novinha em folha, acabada de chegar de Bissau. 

Era essa a sua intenção, mas o 1º Cabo, puxando das divisas, impôs-se, nestes modos: 

– Quem vai estrear a Berliet sou eu... Tu levas o Unimog que eu trouxe.

O Zé António, naquela maneira de levar tudo a brincar, perguntou-lhe o motivo pelo qual não era ele próprio a conduzir a viatura acabada de chegar, uma vez que a mesma lhe estava destinada. O 1º Cabo,  lacónica e autoritariamente, respondeu-lhe: 

–  Porque eu sou cabo ...

O Zé António, rendido ao peso das divisas, assentiu, sob um sorriso
malandro:

– Então, se és cabo, leva-a.

Passados alguns quilómetros a Berliet, novinha em folha,  pisou uma mina. Por sorte o nosso 1º Cabo apenas sofreu ferimentos sem grande gravidade.

Foi uma maneira de te homenagear, meu amigo Zé António.

Carvalho de Mampatá



2. Comentário do editor LG:

Uma história "edificante", António, e muioto ao gosto dos "bandalhos" (a irreverente tertúlia, que é o Bando do Café Progresso, de  que ambios faziam/fazem parte; o Zé António continuará a ser lembrado como um dos "bandalhis")...

Na tropa e na guerra, e na vida em geral, todos conhecemos esses "chicos-espertos"... A "chico-espertice" é, de há muito, uma forma peculiar de ser e de estar do "tuga"... Conheci alguns na Guiné, e em "cenas" com consequências bem mais trágicas do que as que tu relatas... 

Mas é uma boa homenagem ao nosso saudoso Zé António. Que era uma homem discreto, sensato, competente,que amava a vida, bem como os seus amigos e camaradas.  E que amava a Guiné e a sua gente. Ao ponto de lá ter voltade, em romagem de saudagem...Gostava do seu Porto,  da sua Foz do Douro, do fado... e da "mulher negra" (tem uma coleção fabulosa de rostos femininos na sua página do Facebook!)

Frequentava as "tardes de fado", ao domingo, das "Caves São João", R. de Cimo de Vila 109, Porto,  um dos locais do roteiro do "fado vadio". Como frequentava a Tabanca de Matosinhos e o Bando do Café Progresso e a Tabanca dos Melros.

(Revisão / fixação de texto, título: LG)
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Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 21 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27448: In Memoriam (562): José António Sousa (1949-2025), ex-sold cond auto, CCAV 3404/BCAV 3854 (Cabuca, 1971/73): o funeral é hoje, dia 21, às 16h00, no cemitério da Foz do Douro, Porto

(**) Último poste da série > 10 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27407: Humor de caserna (221): O brigadeiro António Spínola para o comandante, "apanhado do clima", do destacamento da Ponta do Inglês, c. 3º trimestre de 1968: "Não tenho a certeza de ter aterrado...no sítio certo!"

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27319: Os nossos enfermeiros (20): os furriéis milicianos enfermeiros tiravam a especialidade em Lisboa, os 1ºs cabos auxiliares de enfermeiro e os soldados maqueiros, em Coimba (Manuel Amaro / José Teixeira / António Carvalho)


Imagem do sítio oficial da atual ESSM -Escola de Serviço de Saúde Militar (reproduzida com a devida vénia...). 

Trata-se de "um estabelecimento de ensino superior, integrado na rede do ensino superior politécnico", criado em 2 de Agosto de 1979 pelo decreto-lei nº 266/79. A ESSM está colocada na dependência directa do Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA). 

É herdeira da Escola de Enfermagem da Armada e da Escola do Serviço de Saúde do Exército, entretanto extintas. 

"O ensino nesta escola abrange essencialmente três áreas distintas, dependentes de uma direcção de ensino: a enfermagem, os cursos de tecnologias de saúde e os cursos de saúde militar (...) Os cursos de saúde militar não são conferentes de grau académico e envolvem diversas áreas de formação, nomeadamente socorrismo, emergência médica e patologia de adição (alcoolismo e toxicodependência)."

No passado, nos 60/70, os camaradas furriéis enfermeiros, membros da Tabanca Grande, passaram por aqui, o antigo quartel de Campo de Ourique: o Manuel Amaro, o António Carvalho, o Adriano Moreira, o Manuel Barros Castro, o Manuel Figuinhas, o falecido José Eduardo Oliveira (Jero), etc. , são alguns nomes de grão-tabanqueiros, que me vêm à memória (**)...



1. Um dúvida do nosso editor LG: a formação (instrução de especialidade) dos nossos furriéis enfermeiros, 1ºs cabos auxiliares de enfermeiros, e soldados maqueiros (ou de primeiros socorros) era só feita no RSS (Regimento do Serviço de Saúde, criado em 1965), em  Coimbra, ou também nos hospitais militares de Lisboa, Coimbra e Porto ?

Isto vem a propósito da nota de leitura do livro do Luís da Cruz Ferreira, que foi 1º cabo aux enf, 2ª / BART 6521/72 (Có, 1972/74) e  que fez a especialidade no RSS de Coimba, de janeiro a maio de 1972, e que depois "estagiou" no serviço de cirurgia plástica do HMP, à Estrela, em Lisboa. Já foram produzidos alguns comentários que muito agradecemos (*):


(i) Manuel Amaro, ex-fur mil enf, CCAÇ 2615 / BCAÇ 28922, Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala, 1969/71]


Sobre os Cursos dos Enfermeiros militares, eu tive o "azar" de fazer os dois cursos. O de auxiliar no RSS (Regimento do Serviço de Saúde), em Coimbra, no verão de 1967 (onde fui camarada do Zé Teixeira).

 Fiz depois o estágio no Hospital da Estrela, em Lisboa (Serviço de Neurocirurgia).

Andei, entretanto, um ano a "marcar passo" entre Tavira e Évora, em conflito com o exército. Como eu tinha razão, em julho de 1968 iniciei o Curso de Sargento Enfermeiro, em Lisboa, no Hospital da Estrela.

Sobre a matéria dos cursos não tenho documentos mas foi suficiente para o que nos era exigido na Guiné.

Mais, cada Batalhão de Infantaria tinha, ou deveria ter, quatro sargentos enfermeiros (um por companhia), nove cabos auxiliares de enfermeiro (três por companhia operacional), e, creio que quatro maqueiros (na CCS).

(ii) José Teixeira, ex-1º cabo aux enf, CCAÇ 2381, "Os Maiorais" ( Buba, Quebo, Mampatá, Empada, 1968/70)


O RSS. em Coimbra não era assim tão mau, no que respeita à alimentação no tempo em que por lá andei em 1967. 

No que respeita a instrução para enfermeiro, lamentavelmente era assim, ou pior.

Um pelotão com mais de quarenta homens em que 50% vinham do CSM por chumbo forçado dado o excesso do ano anterior em que por necessidade chamaram para o CSM mancebos com o 2º ano. Descontentes e ressabiados, encontraram pela frente um médico que praticamente nunca apareceu no pelotão, um cabo RD enfermeiro, que era bom rapaz e mais nada, dava anatomia do corpo humano a gente que sabia mais que ele. 

Havia gente com o liceu completo, com o curso comercial, com o curso industrial e até professores primários. Um outro cabo RD para a instrução militar, que era amigo e nos deixava sempre à vontade. Os raides eram fantásticos, pois quando nos mandava voltar à esquerda, voltávamos à direita para irmos ver as garotas do liceu; quando nos mandava correr, os da frente corriam mesmo e os detrás faziam que corriam e.  quando ele resmungava, os detrás começavam a correr e os da frente paravam. 

Como as coisas não corriam bem colocaram lá um sargento já velho que tinha vindo de África, mas nada melhorou. Entretanto o cabo RD enfermeiro foi promovido e desapareceu. O sargento vindo da tropa macaca sabia ainda menos: " uma síndrome era um conjunto de sintomas e um sintoma era um conjunto de síndromes", assim se explicava o homem.

O meu Estágio foi no HMP - Porto numa enfermaria de medicina interna, onde havia um 1º sargento que cumpria rigorosamente o seu horário e não incomodava ninguém. Os doentes até nem eram graves. O restante pessoal eram cabos enfermeiros do contingente geral e havia dois cabos milicianos, que aguardavam a convocação para África, que não se incomodaram comigo. Dávamo-nos todos muito bem. 

Sei que aprendi a dar injeções e praticamente mais nada. Acompanhava os médicos na visita aos doentes de medicina, e apenas assisti a uma operação em ortopedia, feita no posto de serviço da enfermaria 8 (ortopedia). Não havia formação específica para estagiários. Andei por lá, cerca de dois meses e fui dado como pronto.

De notar que os cabos enfermeiros com destino aos serviços hospitalares fizeram o mesmo curso que eu, bem como os maqueiros. Os destinados a ser enfermeiros hospitalares, creio que tinham mais um mês de estágio e os maqueiros não os vi em estágio.

A verdadeira aprendizagem foi no terreno.

(iii) António Carvalho (ou "Carvalho de Mampatá"), ex-fur mil enf, CART 6250/72 (Mampatá, 1972/74)
 

No que concerne aos cabos milicianos saídos da recruta, eles tiravam a especialidade unicamente em instalações anexas à Basílica da Estrela em Lisboa, posteriormente estagiavam durante seis meses num dos hospitais das diferentes regiões militares. Isto acontecia nos anos setenta.


2. Comentário do editor LG:

Pegando na História da Unidade do BCAÇ 4612/72 (Mansoa, 1972/74), constata-se que tinha capelão, mas não tinha médico quando chegou ao CTIG em 28/9/72 (o comando e a CCS) (com regresso a 27/9/1974).
  • a CCS evava um furriel enfermeiro,  dois 1ºs cabos aux enf, e dois sold maqueiros;
  • a 1ª C/BCAÇ 4612/71 levava um fur mil enf, dois 1ºs cabos aux enf;
  • a 2ª Companhia  não tinha, originalmente, nem fur enf nem 1ºs cabos aux enf.
  • a 3ª tinha um fur enf, e um 1º cabo aux enf.

Este batalhão vinha, pois,  desfalcado de pessoal sanitário. Pelos complementos e recomplementos, qwue constam da história da unidade, vê-se que o pessoal de saúde teria maior taxa de turnover ou rotação... ou então havia já, na metróp0ole, escassez deste pessoal... 

Um batalhão, a que eu estive adido (de julho de 1969 a maio ou junho de 1970), o BCaç 2852 (Bambadinca, 1968/70), parecia ter o quadro orgânico completo: 

  •  a  CCS tinha 3 médicos (mas eu só conheci um; também não tinha capelão);
  •  dispunha de um fur enf + um 1º cabo aux enf +  2 sold maqueiros (e ainda  um 1º cabo de análise e depósito de águas);
  • das companhias de quadrícula, a CCAÇ 2404, CCAÇ 2405 e CCAÇ 2406, verifico, pela história da unidade, que todas estavam dotadas de um fur enf + três 1ºs cabos aux enf.;
  • os soldados maqueiros só existiam nas CCS.

Quanto ao Regimento do Serviço de Saúde (RSS), sabemos que foi criado em 1965,  com base no antigo Regimento de Infantaria nº 12 (RI 12), e que absorveu as missões dos então extintos 1º e 2º grupos de companhias de saúde. Estava-se em plena guerra do ultramar, e era preciso responder às crescentes necessidades de pessoal sanitário.

Durante o resto da guerra colonial o RSS aprontou e enviou para Angola, Guiné Portuguesa e Moçambique diversas unidades sanitárias, a maioria delas sendo destacamentos de inspeção de alimentos, de inspeção de águas e cirúrgicos. Também formou auxiliares de enfermagem e maqueiros.

O RSS foi extinto em 1975, deixando de existir qualquer unidade mobilizadora do Serviço de Saúde no Exército Português.

(Revisão / fixação de texto: LG)

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(**) Último poste da série > 28 de março de 2024 > Guiné 61/74 - P25314: Os Nossos Enfermeiros (19) : Negócios Imobiliários em Mampatá (António de Carvalho, ex-Fur Mil Enf.º)

quarta-feira, 7 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26775: Os nossos enfermeiros (20): Era preciso ser doido para se ser especialista na ciência & arte de montar e desmontar minas e armadilhas... O caso do nosso Vilas Boas (António Carvalho, ex-fur mil enf, CART 6520/72, Mampatá, 1972/74)




Guiné > Região de Tombali > Mampatã > CART 6520/72 (1972/74) > O Vilas Boas à esquerda, no meio um militar do Pel Caç Nat 68 , à direita eu próprio

Foto (e legenda): © António Carvalho (2025).  Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blog Luís Graça & Camaradas da Guiné]



O António Carvalho, mais conhecido como Carvalho de Mampatá, foi fur mil enf, CART 6250/72, Mampatá, 1972/74); integra a Tabanca Grande desde 13/9/2008; tem cerca de referências no blogue; tem publicado algumas das suas histórias na série "Os nossos enfermeiros" (*); é autor do livro de memórias "Um Caminho de Quatro Passos" (Rio Tinto: Lugar da Palavra Editora, 218 pp., ISBN: 978-989-731-187-1); tem em mãos uym segundo livro, de ficção histórica, centrado sobre a figura de um "brasileiro de torna-viagem"; mora em Medas, Gondomar, de que foi autarca (presidente da junta de freguesai)  há uns largos anos atrás

 

1. Mensagem de  António Carvalho

Data . Quinta, 1/05/2025, 17:35 

Assunto - Vilas Boas

Na sequência do meu encontro de ontem, na Tabanca de Matosinhos, com o Lopes da Régua, o Pinto de Famalicão, o Polónia e o Miranda Lopes do Porto, e o Vilas Boas de Braga, achei de algum interesse mandar-te esta estória que saiu por lá, da boca do próprio (Vilas Boas). Se entenderes podes torná-la pública no nosso blogue.

Carvalho de Mampatá


Os nossos enfermeiros (20) > Era preciso ser doido para se ser especialista na arte de montar e desmontar minas e armadilhas... O caso do nosso Vilas Boas

por António Carvalho


Estávamos na estação seca, no ano quente da guerra, em 1973. Havíamos de apoiar a
engenharia militar nos trabalhos de abertura e pavimentação da estrada entre Aldeia Formosa e Nhacobá, com passagem por Áfia, Mampatá, Ieroiel, Colibuia e Cumbidjã. Connosco, na protecção a esses trabalhos, estiveram ainda a CCaç 18, a Companhia de Cavalaria 8351, grupos do Batalhão 3852 e, mais tarde do 4514. 

Quanto mais a estrada se estendia, maior era a área sob a nossa protecção e sob a pressão do IN. Nas extensas áreas terraplanadas fácil era montar minas. Montavam-nas eles e nós também, segundo as estratégias concebidas pelos quadros especializados. 

Na minha companhia, CArt 6250 (1972/1974), o mais entendido na arte de as instalar e levantar era o Vilas Boas, fur mil Minas e Armadilhas. Levantava muitas, as que ele próprio instalava e as do IN. 

Tornou-se tão célebre nessa arte perigosa de neutralizar e levantar minas que um dia, no Café Bento, numa mesa de pessoal em trânsito por Bissau, se falava num gajo maluco que levantava minas a torto e a direito, lá para os lados de Aldeia Formosa. O que não sabiam os palradores era que o sujeito objecto daquela conversação estava ali mesmo, numa mesa ao lado. Por certo, algo envaidecido por ser o alvo daquele conclave de gente da guerra, levantou-se e puxou dos galões : 

− Pois não sabem que é esse gajo ? Sou eu próprio.

Não crendo nele, por terem preconcebido na sua mente, um militar avalentado, nunca um
finguelas de corpo como o que se arvorava em herói perante eles, riram-se de chacota. O
nosso Vilas Boas, natural e residente em Braga, aborrecido por não o tomarem a sério,
levantou-se e foi-se embora, não se esquecendo de os mandar abaixo de Braga.

Já não via o Vilas Boas há 30 anos, mas tive a sorte de o reencontrar no antigo Milho Rei, em
Matosinhos, na quarta-feira , dia 30, onde convivemos com mais quatro combatentes da nossa companhia. O rapaz contou-nos coisas do arco da velha, entre elas vai esta pérola.

Num dado momento, em 1973, o rapaz, saltava de um lado para o outro, numa área
terraplanada onde ele próprio tinha instalado algumas minas, na zona de Colibuia. Perante a
estupefacção e desespero do nosso Capitão, Luis Marcelino, arredado dez ou vinte metros, ele insistia que as minas que ali colocara, tinham detonado todas, não carecendo por isso de ser removidas.

Querendo comprová-lo arremessou a pica para longe e continuou a calcar a terra, aos saltos. 

O nosso Capitão, ajuizado, resolveu, logo que chegou a Mampatá, marcar-lhe uma consulta de psiquiatria, no Hospital Militar de Bissau. E o rapaz lá foi para Bissau passar uns dias merecidos de férias. 

Será que aquela dança (perigosa), avistada pelo nosso Capitão, arrepiado, não foi mais do que uma artimanha do Vilas Boas para se livrar das agruras do mato ?

Carvalho de Mampatá
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Nota

Último poste da série > 28 de março de 2024 > Guiné 61/74 - P25314: Os Nossos Enfermeiros (19) : Negócios Imobiliários em Mampatá (António de Carvalho, ex-Fur Mil Enf.º)

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26148: Agenda cultural (867): Joaquim Costa lançou, em Gondomar, o seu livro "Crónicas de Paz e Guerra", no passado dia 9: uma casa cheia de amigos, colegas e camaradas


Foto nº 1 > Três Tigres do Cumbijã: oo centro, o Joaquim Costa; à esquerda, o João Melo, ex-1º cabo cripto, das CCAV 8351 (Cumbijá, 1973/74); à direita, o Mendes  (que veio de propósito da zona onde vive, na Serra da Estrela); um quarto Tigre, o Gouveia, não ficou nesta foto...


Fotpo nº 2 > Mesa: da esquerda para a direita, (1) João Melo, (ii) o autor, Joaquim Costa; (iii) Manuel Maria, apresentador; e  (iv) Teresa Couceiro, responsável pela Biblioteca Municipal de Gondomar.


Foto nº 3 > O autor, usando da palavra


Fotpo nº 4 >   à direiuta, João Carlos Brito, professor, bibliotecário e escritor, em representação da Editora: Lugar da Palavra. com sede em Rio Tinto, Gondomar.



Foto nº 5 > Aspeto da assistênicia: na segunda fila, logo na ponta esquerda, o "Carvalho de Mampatá"; 


Foto nº 6 >  Os netos ("alfacinhas") do autor, muito compenetrados da sua tarefa de vender o livro do avô. (Para efeitos legais, são fotografados com a autorização dos pais...)


Foto nº 7 > O João Melo e o Joaquim Costa na sessão de autógrafos


Foto nº 8 > Na fila para os autógrafos, colegas do prof Joaquim Costa,  diretor da escola secundária de Gondomar durante mais de 20 anos,

Gondomar > Biblioteca Municipal > 9 de novembro de 2024 > Sessão de apresentção do livro "Crónicas de Paz e Guerra" ( Rio Tinto, Lugar da Palavra Editora, 2024, 221 pp.)

Fotos (e legendas): © Joaquim Costa (2024). Todos os direitos reservados Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




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O "Tigre" Joaquim Costa
Joaquim Costa  - Breve CV:

(i) ex-fur mil at arm pes inf, CCAV 8351, "Tigres do Cumbijã" (Cumbijã, 1972/74); 

(ii) membro da Tabanca Grande desde 30/1/2021, com mais de 7 dezenas de referências no blogue;

 (iii) engenheiro técnico (ISEP - Instituto Superior de Engenharia do Porto);

(iv) foi professor do ensino secundário, tendo-se reformado como diretor da escola secundária de Gondomar: 

(v) minhoto, de Vila Nova de Famalicão, vive em Rio Tinto, Gondomar, e adora o Alentejo;

 (vi) tem página no Facebook;  

 (vii) acabou de lançar o seu livro "Crónicas de Paz e Guerra", no passado dia 9, sábado, às 15:00 na Biblioteca Municipal de Gondomar (*)


1. Mensagem do Joaquim Costa:

Data - 12 nov 2024, 12:02
Assunto - Apresentação do livro, "Crónicas de paz e guerra"


Olá,  Luís!

Aqui vai uma pequena reportagem sobre a apresentação do meu livro, "Crónicas da Paz e Guerra",- que teve lugar na Biblioteca Municipal de Gondomar.

Estamos habituados a ver na apresentação de livros de ex combatentes uma plateia de camaradas que participaram na guerra colonial, nas três frentes, todos com aparelhos auditivos e com auxiliares de locomoção. Fico feliz, como se pode ver nas fotos, por, para além de um ou outro combatente, esta estar repleta de muita juventude.

Contudo foi uma honra ter na plateia, como se vê na foto, o nosso grande amigo Carvalho de Mampatá e a sua esposa; os tigres Gouveia, Mendes e Melo e suas esposas; o nosso grande amigo Francisco Batista,  bem como um camarada periquito do BCAÇ 4513. Sei que estou a correr o risco de me esquecer de alguém, pelo facto peço desculpa.

Constituição da mesa:

  • Dr. Manuel Maria – professor, escritor (publicou um romance: “Checa Pior que Turra" sobre a sua comissão na então província de Moçambique);
  • Dr. João Carlos Brito – Professor, escritor e editor.
  • Dr.ª Teresa Couceiro – Responsável pela Biblioteca Municipal de Gondomar.
  • João Melo – Cripto da Companhia dos Tígres do Cumbijão. Homem bom, já com várias viagens solidárias ao Cumbijã, fazendo-se acompanhar com contentores de materiais escolares e outros.
  • Joaquim Costa – O autor, também conhecido pelo "Furriel Pequenina de Cumbijã"



2
. Mensagem do António Carvalho, o "Carva
lho de Mampatá" (ex-fur mil enf CART 6250/72, Mampatá, 1972/74),

Data - sábado, 9/11/2024, 21:41  

Meu caro Luís

Estive hoje na Biblioteca Municipal de Gondomar para assistir à apresentação do livro "Crónicas de Paz e de Guerra" de autoria do nosso Joaquim Costa, Furriel Pequenina de Cumbijã. 

Foi uma tarde bem passada. Para além dele, falando só de combatentes, estavam três camaradas dos Tigres e um camarada do Batalhão 4513,  de Aldeia Formosa. 

Com o Joaquim Costa, tão afreimado a autografar o seu excelente livro, não deu para falar muito, mas o mesmo não aconteceu com o outro pessoal, com quem passei um bom tempo a partilhar vivências das nossas vidas sofridas por terras de Tombalí e Quínara. 

O Melo, Cripto dos Tigres, esteve na mesa para falar do segundo e do terceiro capítulos do livro, numa pequena mas sentida abordagem dos tempos da tropa e da guerra. 

A propósito de tropa e guerra, coisas bem distintas para nós que passámos por ambas as fases, ainda há quem pense que são a mesma coisa. Digo isto porque alguém bem intencionado mas desconhecedor, achou que aqueles capítulos bem poderiam fundir-se num só. Não acho.

É certo que há familiares meus que me dizem, aquando de mais um encontro com tabanqueiros: " lá vais tu para mais um encontro com os tropas". Respondo até à exaustão : não é com tropas, é com combatentes que foram mordidos por mil mosquitos, calcaram o mesmo chão sob sol escaldante, ouviram gritos e viram moribundos e mortos.

Voltando ao livro, apresentado numa sala cheia, sobretudo de colegas professores, foi lida a tua excelente mensagem que mereceu o apreço dos presentes expresso numa grande ovação.

Saúde para ti e obrigado pela tua dedicação a todos os combatentes.

Um grande abraço

Carvalho de Mampatá


3.  Mensagem do nosso editor LG, para ser lido na sala como "
Saudação ao antigo combatente, 'tigre do Cumbijã', professor, escritor e grão-tabanqueiro Joaquim Costa":

O Joaquim pertence a uma geração que não pode dizer: "Cheguei, vi e venci"...

Tudo o que conquistou (tudo o que conquistámos) foi com "sangue suor e lágrimas"...  A expressão pode estar estafada e conotada. Mas continua a ser apropriada para caracterizar a nossa geração.

Uns chamaram-na "geração dos "baby-boomers", nascidos com o final da II Grande Guerra, em famílias grandes (e em geral pobres ou remediadas); outros pintam-nos com outras cores, caso do escritor e antigo combatente Carlos Matos Gomes, num grande livro autobiográfico recente: "Geração D", a que nasceu com a Ditadura, fez a guerra colonial e restabeleceu, em Portugal, a Democracia.

O Joaquim é uma rapaz da nossa colheita e a sua história de vida exemplifica muito bem o que foi o trajeto de todos nós: a paz, a liberdade, a democracia, a equidade ou igualdade de oportunidades,o direto à saúde, à educação, à cultura, ao trabalho decente, seguro e saudável, etc., etc,...Tudo isso foi tirado a pulso, foi conquistado com inteligência emocional, luta, coragem, paixão, resiliência, amor e... humor!

Acho que esta é também a chave para a leitura deste seu belo livro (agora revisto, melhorado e aumentado),  "Crónicas de paz e guerra".

A nossa Tabanca Grande tem muito orgulho por ele se sentar, connosco, à sombra do nosso simbólico poilão, acolhedor e fraterno. E por partilhar connosco, em livro, no blogue, no facebook, o melhor das suas histórias e memórias da guerra e da paz.

Neste dia de festa, tenho a pena de não poder estar covosco, mas saúdo todos os que, familiares, vizinhos, amigos, colegas, camaradas, quiseram ajudar o Joaquim a ter uma tarde mais luminosa, na terra, Gondomar, que ele, minhoto, também adotou como sua. E, da minha parte, desejo-lhe tudo de bom, a começar pela saúde... Porque ele merece tudo.

Obrigado, Joaquim, e até ao próximo... livro! (**)

Luís Graça.

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Notas do edit0r:

(*) Vd. postes de:


31 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26098: Lembrete (48): Biblioteca Municipal de Gondomar, sábado, dia 9 de novembro de 2024, lançamento do livro "Crónicas de Paz e Guerra" (2014, 221 pp.; posfácio de Mário Beja Santos)

(**) Último poste da série > 10 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26136: Agenda cultural (866): Convite para o lançamento do livro "Viagem de um Capitão de Abril", da autoria de Aniceto Afonso, a levar a efeito no próximo dia 12 de Novembro de 2024, pelas 18h00, na Associação 25 de Abril, Rua da Misericórdia, 95 - Lisboa. Apresentação a cargo de Lídia Jorge

sexta-feira, 28 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25697: (In)citações (268): Desertar ou cumprir a missão ao serviço da Pátria, mesmo sabendo que o regime, irracional e anacronicamente, entendia o colonialismo como um processo moral e legal? (António Carvalho, ex-Fur Mil Enfermeiro)

Porta de Armas do Quartel da Serra do Pilar
Foto: © António Tavares, ex-Fur Mil SAM

1. Mensagem do nosso camarada António Carvalho (ex-Fur Mil Enfermeiro da CART 6250/72, (Mampatá, 1972/74), com data de 27 de Junho de 2024:

Estávamos ali reunidos em formatura na parada do quartel da Serra do Pilar, para a despedida da praxe.
Dentro de breves minutos entraríamos nos autocarros que nos deixariam no aeroporto de Figo Maduro, em Lisboa. Só um camarada faltou à chamada, por ter resolvido desertar, como no decurso desse mesmo dia vim a confirmar.

Não sei o que cada um dos presentes pensou da sua atitude, sei que eu próprio me interroguei se não o deveria ter imitado. E da interrogação fui evoluindo para a certeza de que se estava a cumprir uma missão ao serviço da Pátria, essa missão era um erro do regime que irracional e anacronicamente entendia o colonialismo como um processo moral e legal.

Ao longo do cumprimento da minha missão no sul da Guiné, durante penosos 26 meses, fui compreendendo que, para além da injustiça de um povo governar outro sem prévio acordo do governado, a guerra, mesmo que fosse legítima, era cada vez mais insustentável e conduzia a um morticínio inútil de jovens de pouco mais de vinte anos e sequelas físicas e mentais em muitos outros.

O ano de 1973, quando o PAIGC passou a ter a capacidade para praticamente neutralizar a nossa Força Aérea, tornou-se decisivo para convencer os Capitães de Abril a evoluírem da sua feição corporativa para um movimento revolucionário capaz de derrubar o regime. Pena foi que não houvesse condições políticas para o fazerem antes de 1974.

Nesse mesmo dia 27 de Junho de 1972 chegámos a Bissau, para ainda na madrugada do dia 28 sermos despejados na ilha de Bolama. O resto fica por contar.

Estou muito grato aos Capitães de Abril, sobretudo por terem terminado com a guerra.

Carvalho de Mampatá

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Nota do editor

Último post da série de 24 DE JUNHO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25678: (In)citações (267): Compensações às colónias (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo CAR)

terça-feira, 28 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25574: Convívios (1000): Grande Encontro de Rapazes de Mampatá na Quinta Senhora da Graça, Santa Marta de Penaguião (António Carvalho, ex-Fru Mil Enf.º)

Quinta Senhora da Graça > Grande Encontro de rapazes de Mampatá


1. Mensagem do nosso camarada António Carvalho (ex-Fur Mil Enfermeiro da CART 6250/72, (Mampatá, 1972/74), com data de 27 de Maio de 2024:

Hoje encontramo-nos aqui, neste lugar próprio de emoções amizades eternas.

É a Quinta da Senhora da Graça, morança de um dos rapazes de Mampatá.

Quisemo-nos rever e revisitar sítios e momentos de trabalhos dolorosos mas também de horas de rapaziadas nos intervalos da guerra.

Estiveram o Miranda Lopes, o Polónia, o Zé Pedro, o Farinha, o anfitrião Zé Manel, e eu próprio, todos da primeira fornada de Mampatá. E ainda o grande combatente de Mampatá, de uma fornada anterior, Cancela.

Fez-nos bem este este dia na capital do Douro, no meio de paisagens deslumbrantes. Alguns não se viam há mais de quarenta anos, mas olharam-se como se a idade não tivesse passado por eles.

Um grande abraço para todos os combatentes.
António Carvalho
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Nota do editor

Último post da série de 28 de Maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25572: Convívios (999): "Bambadinquenses" de 1968/71 (CCS/BCAÇ 2852, CCAÇ 12) reuniram-se no passado dia 25, em Vila Nogueira de Azeitão