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domingo, 24 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26187: Cem pesos, manga de patacão, pessoal! (8): uma viagem, de avioneta, nos TAGP, de São Domingos a Bissau, em 22/2/69, custava 224 escudos (ou "pesos"), o equivalente hoje a 70 euros (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)


Guiné > Bissau > TAGP (Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa) > Cópia de bilhete de passagem, de S. Domingos para Bissau > 22 de fevereiro de 1969 > Avião: Dornier > Passageiro: Virgílio Teixeira > Valor pago: 224$00. Foto do álbum de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM; CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e S. Domingos, 1967/69).


Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Patacão (em crioulo), massa, graveto, grana, carcanhol, guita, milho, maçaroca, cheta, caroço, arame, arjã, cacau, pastel, vil metal, tusto, cobres, prata, lecas, nota preta, pilim, massa, papel, aquilo-com-que-compram-os-melões... enfim, dinheiro! (como é prolixa, polissémica, rica, ao menos, a nossa língua).
 
Ora cá está um tema sobre o qual toda a gente, leia-se os antigos combatentes, pode aqui falar. E temos  de resto falado, embora de maneira avulsa... E muito irregularmente. O que valia o dinheiro  no nosso tempo, o que recebíamos, o que gastávamos, e em quê...

Reorganizámos os postes sobre o patacão, uniformizando os títulos, de acordo com a série, que já existia no início do blogue, "Cem pesos, manga de patacão pessoal"... 

São já uns tantos postes, os publicados, que merecem ser relidos, revisitados, citados comentados, acrescentados (*).

Por este precioso documemto, acima reproduzido,  que o Virgílio Teixeira guardou (foto de bilhete de viagem nos TAGP, de  São Domingos para Bissau, em linha reta é uma distância muitoenor do que os cerca de 125 km por estrada), ficamos a saber  que uma voltinha de Dornier (para apanhar o avião da TAP em Bissalanca, para a Metrópole) custava 224 escudos. 

A preços de hoje,  224 escudos (do BNU) seriam 78 euros... Como se tratava de "pesos" da Guiné, teríamos que aplicar a taxa de desvalorização de 10% (praticada no comércio de Bissau de então, 100 pesos valiam 90 escudos da metrópole). 

Portanto, grosso modo, eram 70 euros o bilhete de avioneta... 

224 escudos ou " pesos" era caro...Eram 10 dias do "per diem" de um militar (24,5 escudos por dia  para a alimentação).

O que se comprava mais com 224 escudos da Guiné em 1969 ?  Duas garrafas de uísque velho...Dez almoços em Bafatá (bife com batas fritas e ovo a c cavalo).

Era, enfim, o equivalente, mais ou menos, a   quanto se podia perder ou ganhar numa noite de lerpa (200 / 300 escudos em média, disse aqui o Humberto Reis, há 18 anos atrás). Ou a 90 maços de cigarros SG Filtro! (**).

Em suma, cem pesos já eram manga de patacão, pessoal !...

___________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 1 de outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8845: Cem pesos, manga de patacão, pessoal! (7): Os produtos e as marcas que não havia em Lisboa... ou eram "proibitivos" - Parte VI (Magalhães Ribeiro/José Colaço)

(**) Vde. poste3 de 28 de julho de 2005 > Guiné 63/74 - P129: Cem pesos, manga de patacão, pessoal ! (1): quanto se gastava e em quê... (Luís Graça / Humberto Reis / A. Marques Lopes / Luís Carvalhido / Sousa de Castro)

terça-feira, 31 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22499: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XV: Férias em julho/agosto de 1973... e o teste da cerveja


Foto nº 1 > Guiné > Meados de 1973 > Não é uma  Dornier, uma DO –27.  mas um Cessna CR-GBE... Foi numa aeronave destas que o Joaquim Costa deixou Aldeia Formosa, "com a adrenalina (boa) nos limites a caminho de férias"...  
Mas esta foto não é dele, nem dos seus companheiros de viagem que alugaram uma avioneta civil para chegar a Bissau a tempo de apanharem o avião da TAP e poderem gozar a tão merecida de licença de férias na Metrópole. 

Esta foto é do  Luís Nascimento, aqui  o mais alto, o segundo a contar da esquerda, membro da nossa Tabanca, ex-1º cabo cripto, CCAÇ 2533 (Canjambari, 1969/71).A avioneta era TAGP - Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa (voos internos), mas cada um dos 3 viajantes transportam já um saco de viajem de mão, oferta da TAP. No núcleo museológico da Tabanca dos Melros, pode ver-se um exemplar deste saco, oferta do nosso camarada Carlos Silva.

Foto (e legenda) : © Luís Nascimento (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > c. 1972/4 > Imagem do Cessna, vermelho, pilotado pelo Comandante Pombo, dos Transportes Aéreos Civis da Guiné (TAGP) em que o nosso camarada Álvaro Basto fez várias viagens entre o Xitole e Bissau, nos anos da sua comissão (1972/74). Se calhar foi na mesma aeronave ecom o mesmo mítico piloto, que o Joaquim Costa viajou até Bissau para apanhar o avião da TAP.

Foto (e legenda): © Álvaro Basto (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Joaquim Costa, ontem e hoje. Natural de V. N. Famalicão,
vive em Fânzeres, Gondomar, perto da Tabanca dos Melros.
É engenheiro técnico reformado.


Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) (*)

Parte XV - Férias... e o teste da cerveja


Passado pouco tempo depois de todos estes acontecimentos extraordinários (a entrada em Nhacobá, a morte de um soldado e o ferimento grave de um camarada alferes, queda de Guileje, etc, …) chegou a minha vez de gozar as tão esperadas férias.

No dia anterior à partida para Bissau, com a ansiedade nos limites, procuro a minha “mala de cartão”, que trouxe de casa, para analisar o estado da minha roupa de civil. Ao retirá-la debaixo da cama de ferro, fico na mão apenas com a pega. Reparo que a mala praticamente desapareceu, assim como a roupa e outros haveres. Estava tudo podre da humidade. Dado o pouco tempo que estaria em Bissau já tinha assumido que teria de viajar com a roupa militar. Felizmente houve tempo e lá consegui comprar umas calças e uma camisa.

A pressa de partir era muita, pelo que não dava para esperar pela coluna Aldeia Formosa - Buba, e o avião da TAP tinha dia e hora marcada, pelo que, com colegas de outras companhias, “fizemos uma perninha” e alugamos uma avioneta civil, dos TAGP,  para nos levar de Aldeia Formosa a Bissau.

Viagem inesquecível, dada a loucura do piloto tudo fazendo para nos colocar em pânico com manobras estilo campeonato mundial da “Red Bull Air Race”, argumentando, contudo, que tais manobras, visavam apenas evitar veleidades ao IN em nos atingir com a sua nova arma: o míssel terra-ar Strela. (**)



Já dentro do avião da TAP constatei que afinal havia hospedeiras (bem giras e simpáticas...) e tratamento VIP com direito a uma malinha muito “catita”  (, parecida com a da foto acima, cortesia do Núcleo Muselógico da Tabanca dos Melros; foto: LG) e whisky de borla.

A chegada ao Porto, já que em Lisboa apanhei logo avião para a Invicta (sempre ouvi dizer que o melhor de Lisboa era a autoestrada para o Porto, embora para mim continuem a ser os pasteis de Belém), foi uma sensação que jamais conseguirei descrever: poucas horas depois de sair daquele inferno encontro um país sereno, despreocupado, falando de futebol, jornais sem uma única referência ao que se estava a passar em África.

Mergulhei nesta nova realidade, aproveitando ao máximo estes 30 dias, tropeçando aqui e ali no processo de reaprender a viver na dita civilização.

Na primeira noite em casa, depois de um dia bem passado com amigos, deitei-me cedo com a sensação de me deitar numa nuvem protegido por anjos celestiais... e sem rede mosquiteira: - Dorme, “meu anjo”, que hoje com toda a certeza não haverá flagelação nem ataque ao arame e nós estamos aqui para te proteger…

À meia noite, já em sono profundo, ouço rebentamentos muito perto, dou um salto na cama e estilhaço o candeeiro de mesinha de cabeceira à procura da minha G3. Havia festa numa aldeia perto com o tradicional fogo de artifício à meia noite. A minha mãe vem ver o que se passava, muito preocupada, enquanto eu já refeito, tentava acalmá-la inventando uma desculpa esfarrapada para os estilhaços do candeeiro no chão. Não obstante aquele aparato, foi uma sensação tão agradável saber que afinal estava em casa, em segurança, com a proteção dos meus anjos celestiais. Dormi como um justo.

No Minho, durante o Verão, todos os fins de semana há festa, pelo que lá me fui adaptando... tendo partido só mais um candeeiro...

Fui reaprendendo a viver na dita civilização e a matar saudades da maravilhosa gastronomia Minhota (fazendo esquecer o arroz com estilhaços e as rações de combate) : Bom cozido à portuguesa (feito pela minha santa mãe); boas feijoadas (na tasca da Sara Barracoa,  em Famalicão); uns rojões à minhota (no Tanoeiro, em Famalição); bom cabrito à Serra D’Arga e o “Pica no chão” (em Viana); uns magníficos rojões com arroz de sarrabulho (na magnífica Vila mais antiga de Portugal - Ponte de Lima); um Polvo assado na Brasa (na Bagoeira, em Barcelos). intercalado com um bom bife com batas fritas onde calhava...

A praia: o picadeiro da Póvoa de Varzim, cheio de emigrantes falando francês (mas os palavrões eram em português!), onde visitei, a seu pedido, a casa do nosso colega e amigo alferes de artilharia (o homem do fogo amigo) levando-lhe um “miminho” da mamã.

Ainda deu tempo para uma incursão pelo alto Minho: Viana, a bela Caminha, Cerveira (terra adotiva do escultor José Rodrigues e um dos fundadores da Biemal em 1978), e a maravilhosa praia do Moledo (muito frequentada pelas elites, como Vitorino de Almeida, o grande percursor dos festivais de verão, como o mítico festival de Vilar de Mouros e mais recentemente de Durão Barroso, ainda à procura, com uma lupa, das armas de destruição maciça no Iraque).

Esta incursão pelo Alto Minho terminou (aliás, era o objetivo principal), num baile de garagem junto à praia do Cabedelo , em Darque, Viana do Castelo, local onde nasceu (em 1974) a discoteca mais badalada no país e em Espanha - a mítica Luziamar.

Depois do regresso da Guiné fiz de Viana a minha segunda casa (comprando um andar no edifício mais mediático do país – o Prédio do Coutinho), onde a ida ao Luziamar era obrigatório. Esta mítica discoteca, hoje em ruínas, faz parte das minhas boas memórias.

Umas incursões à Invicta: rever amigos nos míticos cafés da cidade (o Estrela, o Piolho, o Magestic, o Ceuta…), cinema (relembrando as sessões duplas do tempo de estudante - uma “Coboyada” para o “macho” e um romance para a “garína”), um magnifico fino, com um pratinho de bolachas salgadas na antiga fábrica da cerveja e no final do dia umas tripas no restaurante Abadia ou na Casa Aleixo (Ramiro, o seu último proprietário, foi do meu pelotão nas Caldas da Rainha, fazendo também o caminho das pedras da Guiné, bem retratado na sua correspondência de guerra exposta nas paredes do restaurante), uma referência da cidade que não resistiu à pandemia. Felizmente o Abadia ainda existe e recomenda-se.

E, ainda, assistir a um jogo de futebol no estádio das Antas, descarregando todo o stress de guerra.

O meu grande problema surgia sempre que pedia uma cerveja, a primeira porção do líquido era lançado ao chão (gesto “pavloviano”) para certificar se esta estava em bom estado (obrigatório na Guiné este teste,  dado que grande parte das cervejas chegavam já estragadas - se fizesse espuma estava boa,  se não fizesse estava estragada). Lá me desculpava ao proprietário com a chegada recente da Guiné, que nunca convenci. Embora gostasse de beber cerveja da garrafa, comecei a intercalar com finos para evitar problemas.

Quando estava já a habituar-me a esta nova vida (já não me perturbava os fogos de artifício e já não deitava cerveja para o chão, já não assustava os meus amigos com saídas inopinadas da mesa de um café após um foguete), chegou a hora do regresso à Guiné.

O meu conselho aos camaradas que estavam a preparar-se para também partirem de férias era: não façam isso! É muito doloroso, mesmo, mesmo muito doloroso o regresso, sabendo o que nos espera, muito diferente da primeira partida. Sem sucesso, claro!

Continua...
___________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 25 de agosto de 2021 > Guiné 61/74 - P22482: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XIV: " Bora lá... para a nova casa, Nhacobá" (Op Balanço Final)

(**) Em mail que nos enviou ontem, às 16h47, esclarecendo algumas dúvidas do nosso editor, o Joaquim Costa escreveu:

"Luís, obrigado pela ajuda. Tens toda a razão. Obviamente a avioneta era dos TAGP e só podia ser um Cessna.

"Quanto ao piloto sei que era alguém muito conhecido na altura, com uma grande pedrada, pelo que, de acordo com o que me dizes só pode ser o Pombo.

"A foto da malinha claro que não é a da época mas foi a que encontrei mais aproximada.

"Quanto às minhas férias foram em 1973, no mês de Julho/Agosto (?). 

"(,,,) Uma vez mais obrigado pelo toque profissional que sempre dás aos meus postes.

"Um grande abraço e até ao dia 11 de Setembro, na Tabanca dos Melros." (...)

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Guiné 61/74 - P19518: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LXIII: O adeus a São Domingos, 50 anos depois (22/2/1969 - 22/2/2019)... E o meu voo no avião da TAP B707, em 28/2/1968, a caminho de férias na metrópole...


Fto nº 3 > Guiné > Região de Cacheu > São Domi ngos > 22 de fevereiro de 1969 > Local e cena de ‘fuga’. Pista de São Domingos.  Pista, cobertura de passageiros, torre de controlo, avião Dornier dos TAGP, o Jeep que me transportou, o Jeep do Comandante, o Jeep do administrador de Posto, outras viaturas, e personagens do filme.



Foto nº 3> Detalhe


Foto nº 4 >  Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > 22 de fevereiro de 1969 > A avioneta DO – Dornier dos TAGP, levanta voo em ‘fuga’. Local, São Domingos. Pista, o avião a levantar, o Jeep do administrador, o povo da terra.


Foto nº 4 A > Detalhe 


Foto nº 5 >  Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > 22 de fevereiro de 1969 > Uma vista aérea do aquartelamento. Pode ver-se a Pista, as instalações do Comando e CCS, as instalações da CART1744, a última vista geral que eu foquei, ambígua, nostálgica, com muito stress.


Foto nº 2 >   Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > 22 de fevereiro de 1969 >O Bilhete Nº 26372, na Dornier dos TAGP para o voo de São Domingos-Bissau. Bilhete de passageiro, custo 224$00, de S. Domingos para Bissau.
.



Foto nº 1 > Nota do QG-CTIG, com ordens de Extinção dos Conselhos Administrativos dos Batalhões de Reforço, com data de 16-11-68 e Prazo para cumprimento até 31-12-68.


Foto nº 6>  Guiné > Bissalanca > 28 de fevereiro de 1969 > Local e cena da ‘fuga’. Local, Bissau (Bissalanca). Na placa da pista pode ver-se um avião da TAP, Boeing 707, e Sala de Embarque.


Foto nº 7 > O Avião TAP B707, algures ao largo do Senegal, nos céus de África, em 28 de fevereiro de 1969. Pode ver-se a Asa do Avião, o Mar azul a terra de areia branca, talvez, costa do Senegal.


Foto nº 8 > O Avião TAP B707, algures ao largo da Mauritânia, nos céus de África, em 28 de fevereiro de 1969. Pode ver-se a Asa do Avião, em baixo o Mar azul e a terra sem fim, de areia branca, talvez, costa da Mauritânia ou Marrocos.


Foto nº 9 >  Foto Aérea, algures em território e nos céus de Portugal, em 28 de fevereiro de 1969. Pode ver-se a asa do avião da TAP B707, porções de terra firme e mar ou rio.


Foto nº 10 > Foto aérea, na aterragem em Lisboa, sem indícios de terramoto, em 28 de fevereiro de 1969. Presumo tratar-se da margem sul de Lisboa, talvez Lisnave, Barreiro, ou outro local. Céus de Portugal, Lisboa, em dia de terramoto, sem sinais dele, 13 horas




Foto nº 10A > Detalhe

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

TEMA 008 - O ADEUS A SÃO DOMINGOS EM 22 FEVEREIRO DE 1969
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1. Mensagem do Virgílio Teixeira:

Data - quinta, 14/02, 13:18 (há 8 dias)
Assunto - Tema 008: o adeus a Dão Domingos em 22 de fevereiro de 1969

Caro mano e amigo Luís,

Conforme já te tinha falado, estou a enviar com 8 dias de antecedência, este Poste dos 50 anos da minha Fuga, isto é, o Adeus a uma terra que me reteve lá tanto tempo, a olhar para o boneco, para a lua, para o rio, a pista, o por do sol, os aviões, ou as minhas viagens no Sintex para Cacheu, Susana, Varela, e finalmente os meus desenfianços de avião para Bissau, e assim perdi algumas flagelações ao quartel, que parece tanto gostar.

Isto tem uma continuação, fiz uma história disto, mas é longa, tem de se dividir em 2 ou 3 partes, se achares por bem. Pode não interessar para muitos, mas estamos a falar aqui das nossas histórias e angústias, não é?

 Um abraço, Virgilio Teixeira


2. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) (*)


 TEMA 008 – O ADEUS A SÃO DOMINGOS  – 50 ANOS DEPOIS  >  22 FEVEREIRO DE 1969 – 22 FEVEREIRO DE 2019.

O TITULO ORIGINAL SERIA: A MINHA FUGA DE SÃO DOMINGOS,

MAS...

Li o primeiro comentário do Luís Graça, muito real e certíssimo, dizendo:

‘A malta não fugia, desenfiava-se'...

Claro que esta história não é de fuga ou deserção, como tantos o fizeram, trata-se de ter conseguido com alguma astúcia e muita determinação, "Desenfiar-me"  para vir passar férias no final de Fevereiro de 1969, era uma obsessão minha, tenho de admitir, não conseguia viver com isto na minha mente. E mais ainda, ultrapasso as minhas expectativas, quando me apercebo que me estão a bloquear por maldade e pura inveja. Eu estou com a documentação em ordem, tudo está "Autorizado", eu tenho o direito às ‘minhas férias’, e não vejo razão nenhuma de especial para me ‘tentar bloquear’ a minha partida.

Pensei melhor e até já tinha feito outro texto, mudando as palavras-chave

– «Fugir», por iutra mais soft, ‘Desenfiar’

Que podem vir a ser mal interpretadas, mas estou hoje com a consciência bem tranquila que fiz tudo o que tinha de ser feito, na minha missão na Guiné, e ultrapassei largamente aquilo que me era exigido em todas as circunstâncias, nunca FUGI a nada, nunca corri para um Abrigo, e em vez disso, tirava fotografias, e "vi muita coisa vergonhosa'....

A minha missão e função foram cumpridas totalmente sem a ajuda de ninguém, não tinha paralelo com outras funções de outras especialidades.

Fugir, sim, no sentido de ultrapassar as barreiras da burocracia e autoritarismo, nisso eu era realmente bem forte, e não me faltam exemplos na carreira militar.

Tenho bastante orgulho em tudo aquilo que fiz no TO do CTIG, e é isso que hoje move comigo e com a minha maneira de ser e estar na vida. Lamento que outros não possam concordar, mas não estou aqui a confessar-me nem a pedir desculpas, e não posso mudar nada agora do que foi feito.

Agora faço mais uma alteração e o título passa a ser de «O Adeus a São Domingos», porque realmente foi um Adeus definitivo, porque nunca mais lá voltei.

Em, 24-09-2018, Virgílio Teixeira

Legendado novamente,

Em, 2019-02-13, Virgílio Teixeira
_____________

Já antes em 20 de Setembro de 2018, tinha escrito ao Luís Graça o seguinte:

Caro Amigo e Camarada Luís Graça:

Fizeste-me o desafio de escrever a história da minha "fuga" de S. Domingos, contrariando todas as ordens do Comando do Batalhão.

Escrevi, melhor dizendo, passei do meu livro - não editado - esta passagem fabulosa da minha estadia na Guiné. Não é uma fábula, já estava tudo escrito, apenas fui fazendo alguns arranjos, pois já tinha quase 10 anos sobre o dia em que escrevi isto, alterei datas e locais, pois fui consultando mais elementos que agora sei melhor e com mais pormenor. Não quer dizer que tudo esteja exacto, mas são contos reais. Para mim tudo isto foi muito importante esta aventura, que me poderia ter custado muito caro, mas saiu tudo bem.

Julgo que é extensa, mas o meu poder de síntese é muito escasso, já retirei muitos pormenores, mas não posso reduzir mais. Podes dar uma olhada para ver se tem narrações a mais, ou desajustadas, fica ao critério do editor.

As fotos, umas são das datas, outras são aproximações da realidade, nada de ficção nem invenções. É claro que as fotos na pista e a DO a levantar voo, são outras cenas, mas é uma aproximação muito real ao cenário do crime.

Espero que apreciem, porque nem tudo foi um mar de rosas para mim, e outros da minha especialidade, embora não me queixe disso. Eu arrisquei muito, mas não estou em nada arrependido. Cumpri na totalidade a minha função, e a missão que o Estado me confiou.
Obrigado,

Virgílio Teixeira,

Em, 2018-09-20

(No dia em que embarquei para a Guiné, a bordo de um DC6 em Figo Maduro, faz 51 anos neste dia 20-09-2018, na hora em que escrevo, estava precisamente na Ilha do Sal, em Cabo Verde, onde pernoitei. No dia seguinte, 21-09-1967, pelas 09:00 horas da manhã, desembarquei em Bissau).

Legendado novamente,

Em, 2019-02-11, Virgílio Teixeira


CTIG - Guiné 1967/69 - Álbum de Temas:

T008 – O ADEUS A SÃO DOMINGOS – 50 ANOS DEPOIS > PARTE I

- SINOPSE:

Este tema que já o escrevi várias vezes, na tentativa de o tornar mais simples, pequeno e não chato de ler, nunca consegui essa façanha, e assim parto para o mais simples possível, ficando para outros capítulos a verdadeira história completa.

Vou eliminar os nomes das personagens, nesta fase, para não chocar ninguém.

No fundo estava eu em São Domingos (SD) em meados de Fevereiro de 1969, pronto para vir de férias à metrópole, ao Porto, já estava cheio daquela terra onde nada se passava.

Já tinha tudo pronto, autorização do novo Comandante de Batalhão, acabado de chegar no início de Janeiro de 1969, o bilhete comprado nos TAGP para o dia 22 de Fevereiro de 1969, e tinha já bilhete que me custou 224$00, e já tinha reservado o lugar na TAP para o voo de 28 do mesmo mês.

– O Comandante tenta travar a minha saída:

Logo bem cedo pela manhã, vou ao Gabinete do Comandante, e como era normal, vou tentar dar-lhe o golpe, assinar a Guia de Marcha para Bissau, com fundamento de entregar as contas na Chefia de Contabilidade, e depois estava lá escrito, que seguia de férias para a Metrópole.

Depois de uma espera ansiosa do dia, eis que acordo manhã cedo, e vou ao comandante para ter o visto final para embarcar na avioneta que iria chegar. O comandante não se lembrava de nada, não me queria deixar sair, disse que tinha de lá ficar, pois não havia ninguém para me substituir nas minhas funções. Eu mostrei que já tinha a sua autorização, mas ele insiste que não posso ir, é o início de uma luta feroz com ele, pois eu não me deixava ficar, tinha de ir a todo o custo. Ele lá se convenceu e assinou a Guia de Marcha, vou logo de jeep directo para a pista, ou campo de aviação, e já se começa a ouvir o barulho do motor da avioneta dos TAGP.

Eu não consigo agora coordenar as ideias do que se passou, mas sei que ele ficou muito apreensivo e disse-me como é que vou de férias sem autorização. Mostrei e disse: O meu comandante já autorizou e mostrei-lhe a Ordem de Serviço.

O Comandante levanta-se da cadeira e disse que não era possível, pois tinha visto que os CA tinham de acabar em menos de um mês, e eu nunca poderia ir. Não assinou. Vou dizer que os ‘ditos’ me caíram ao chão, entrei em pânico. Expliquei que tinha tudo marcado, o avião dos TAGP já estava aí a chegar, já paguei a viagem na TAP, e tenho direito às férias. Mas não sei como, ele bufou por todos os poros e assinou, vociferando quando baste.

Meti-me num Jeep direito à pista, já ouvia o roncar da avioneta a pairar no ar, era uma Cessna de 2 lugares, e chego ao ponto de embarque. Sei que se gerou logo grande alarido, pois muita gente ficou de imediato a saber, e naturalmente o Major adjunto de operações lhe deve ter dito, se ele for quem vai apresentar as contas do Batalhão e cumprir as ordens do QG?

O filme de suspense começou e vai prolongar-se por muito tempo, minutos que parecem séculos. Eu não via mais nada a não ser o momento de sair dali e ir de férias, fosse a qualquer custo, mas tinha de ir embora.

A avioneta parou na pista envolta num manto de poeirada, numa manhã quente e o sol a pino em cima da cabeça. Sai um passageiro, o piloto fica no cockpit, atira com a mala do correio, o que vai logo entreter muita gente, que se vai amontoando, não só pelo correio mas para ver a cena do ‘desenfianço’. O Piloto ainda manda o pessoal tirar umas caixas de mercadorias e alimentos frescos, o que já era normal.

Esta na hora de eu entrar, mas olho para trás, num último Adeus, e vejo um Jeep a alta velocidade, deixando um rasto de poeira vermelha atrás dele, e que parou ao meu lado, era o nosso 1º comandante, X. Ele vem logo para cima de mim, e disse mais uma vez com voz ameaçadora que eu não posso ir, tenho de ficar, pelas razões já expostas, que estou a desobedecer às ordens, e ameaçando que se me ausento, vai processar-me disciplinarmente, não sei como, mas poderia até mandar deter-me à força, não faço ideia.

Eu insisto dizendo que, ‘tenho tudo assinado pelo meu comandante’, por isso, agora já é tarde, eu sei que estou legal com o documento assinado, mas ele se quiser manda cancelar tudo e até pode impedir-me sem razão nenhuma a minha saída. Discute-se a quente, o piloto não sai do seu lugar, os motores nunca pararam, ele assiste à conversa, isto é à discussão, pois metia gritos do comandante.

Lembro que as avionetas civis, quando aterravam, largavam o pessoal e encomendas, correio normalmente, e não deixam parar o motor, para o caso de uma eventualidade ter de largar sem aviso prévio. Eu estou já a despedir-me de alguns companheiros mais chegados e que sabiam desta saída, mas ouço um barulho de um Jeep, a poeirada que largava atrás de si, e vem directo ao avião ter comigo, continuando a dizer que não podia ir, apesar de ter acabado de assinar a Guia de Marcha.

Esta discussão leva uma eternidade de minutos, mas o piloto apercebe-se que eu tinha razão, e manda então o recado final:
-  O passageiro ou entra, ou sai, eu vou levantar voo agora mesmo.

Ele já me tinha agarrado no braço, e eu já tinha um pé dentro do avião, outro de fora. E, nessa ocasião tomo a maior decisão da minha vida como militar, livro-me das ‘garras’ do comandante, entro no avião e fecho a porta, o piloto levanta voo a caminho de Bissau, deixa uma nuvem de pó que quase não dava para ver aquela cabeça de ‘Melão’ do comandante a gesticular com os braços, só faltou mesmo, ele mandar abrir fogo sobre a Avioneta, com toda a artilharia ligeira e pesada.

Olho para trás lá de cima aquela paisagem desoladora que já tinha vista muitas vezes antes, o nosso ‘Acampamento’ tipo ‘Forte Álamo’ do Texas, e vejo o pessoal em terra a olhar para o ar, fico com uma nostalgia indescritível, pois tinha a sensação que já não voltava mais para aquele sítio.

Torna-se quase impossível descrever este cenário, que até hoje me comove, por causa de tanta maldade, e porque sabia que não voltaria mais para aquele local e ficar às ordens mais uns meses daquela brutal parelha, o Major e o Coronel. Faço as últimas fotografias daquela terra que deixava para trás, ao fim de tantos meses, prisioneiro. Em pouco tempo deixei de ver o quartel, pensei que era a última vez que ia ver aquela terra – São Domingos. E foi mesmo.

Consegui sair dali, e passado pouco mais de uma hora já estamos a aterrar em Bissau, nem uma hora foi preciso, pouco falei com o piloto, nem me lembro da cara dele, eu estava lívido de raiva, e comecei a ficar aterrorizado, a pensar no que ele poderia fazer dali por diante até chegar o dia do avião da TAP.

Fui direito ao Grande Hotel de Bissau, onde normalmente ficava e instalo-me ali, em vez de ir para a porcaria da caserna do Biafra para o meio daquela malta já “apanhada” e dos mosquitos, e ficar bem longe dos olhares militares. E assim foi, nunca mais voltei àquela terra, a São Domingos, por razões de mudanças e estratégia militar, da qual falarei mais tarde.

Esta foi a cena para mim mais marcante na minha estadia na Guiné, embora ainda não tinha terminado, faltava muito para entrar no avião da TAP.

Depois foi uma longa espera até ao meu voo, senti os minutos a passar e foram 6 dias de espera, chega o dia, vou ao QG carimbar o passaporte, vou para o aeroporto, o Boeing levanta voo, já ninguém me apanha, e chego na manhã do dia 28 de Fevereiro de 1969, no dia do terramoto, para mim nem o cheguei a cheirar.

Ao fim de 30 dias, regresso à Guiné, conforme previa já me tinham mandado tudo para Bissau, fiquei instalado no Quartel do 600 e aí acabei a minha tarefa e a minha comissão.

E conforme tinha dito, nunca mais voltei a São Domingos, ficou lá tudo o que era pessoal, roupas, malas, as minhas lembranças, a minha G3, a minha motorizada Honda, os meus caixões cheios de garrafas de bebidas brancas estrangeiras, os meus companheiros e amigos mais chegados, isto é 12 meses da minha vida na Guiné.

É por isso que sempre digo:
- Nunca me despedi de São Domingos, nem das pessoas de que mais gostava.

… Fim da I Parte

II – As Legendas das fotos:

Não tenho fotos específicas destas cenas e desta fuga ainda dentro da pista, mas vou colocar alguma já editada, para suportar com Postes este Tema, quase surreal, kafkiano, que mais se parece ao estilo do famoso livro do ‘Papillon’, ou do filme ‘Casablanca’.

Tirei algumas ainda a sobrevoar São Domingos  e depois na saída de Bissau, nos céus de África, e a chegada aérea à zona de Portugal, até Lisboa.

Podemos considerar como os locais e aparelhos do ‘crime de fuga’, as seguintes fotos:

F01 – Nota do QG- CTIG, com ordens de Extinção dos Conselhos Administrativos dos Batalhões de Reforço, com data de 16-11-68 e Prazo para cumprimento até 31-12-68.

F02 – O Bilhete Nº 26372, na Dornier dos TAGP para o voo de São Domingos-Bissau. Bilhete de passageiro, custo 224$00, de S. Domingos para Bissau, em 22 Fevereiro 69.

F03 – Local e cena de ‘fuga’. Pista de São Domingos, em 22-Fev-69. Pista, cobertura de passageiros, torre de controlo, avião Dornier dos TAGP, o Jeep que me transportou, o Jeep do Comandante, o Jeep do administrador de Posto, outras viaturas, e personagens do filme. Local, São Domingos, 22 de Fevereiro de 1969

F04 – A avioneta DO – Dornier dos TAGP, levanta voo em ‘fuga’. Local, São Domingos, 22-02-69. Pista, o avião a levantar, o Jeep do administrador, o povo da terra.

F05 – Uma vista aérea do aquartelamento. Local, São Domingos, 22 Fevereiro de 1969. Pode ver-se a Pista, as instalações do Comando e CCS, as instalações da CART1744, a última vista geral que eu foquei, ambígua, nostálgica, com muito stress.

F06 – Local e cena da ‘fuga’. Local, Bissau (Bissalanca), em 28-02-69 Na placa da pista pode ver-se um avião da TAP, Boeing 707, e Sala de Embarque.

F07 – O Avião TAP B707, algures ao largo do Senegal, nos céus de África, em 28-02-69. Pode ver-se a Asa do Avião, o Mar azul a terra de areia branca, talvez, costa do Senegal.

F08 - O Avião TAP B707, algures ao largo da Mauritânia, nos céus de África, em 28-02-69. Pode ver-se a Asa do Avião, em baixo o Mar azul e a terra sem fim, de areia branca, talvez, costa da Mauritânia ou Marrocos.

F09 – Foto Aérea, algures em território e nos céus de Portugal, em 28-02-1969. Pode ver-se a asa do avião da TAP B707, porções de terra firme e mar ou rio.

F10 – Foto aérea, na aterragem em Lisboa, sem indícios de terramoto, em 28-02-69. Presumo tratar-se da margem sul de Lisboa, talvez Lisnave, Barreiro, ou outro local. Céus de Portugal, Lisboa, em dia de terramoto, sem sinais dele, 13 Horas


«Propriedade, Autoria, Reserva e Direitos, de Virgílio Teixeira, Ex-alferes Miliciano do SAM – Chefe do Conselho Administrativo do BCAÇ 1933/RI15/Tomar, Guiné 67/69, Nova Lamego, Bissau e São Domingos, de 21SET67 a 04AGO69».

- NOTA FINAL DO AUTOR:

# As legendas das fotos em cada um dos Temas dos meus álbuns, não são factos cientificamente históricos, por isso podem conter inexactidões, omissões e erros, até grosseiros. Podem ocorrer datas não coincidentes com cada foto, motivos descritos não exactos, locais indicados diferentes do real, acontecimentos e factos não totalmente certos, e outros lapsos não premeditados. Os relatos estão a ser feitos, 50 anos depois dos acontecimentos, com material esquecido no baú das memórias passadas, e o autor baseia-se essencialmente na sua ainda razoável capacidade de memória, em especial a memória visual, mas também com recurso a outras ajudas como a História da Unidade do seu Batalhão, e demais documentos escritos em seu poder. Estas fotos são legendadas de acordo com aquilo que sei, ou julgo que sei, daquilo que presenciei com os meus olhos, e as minhas opiniões, longe de serem ‘Juízos de Valor’ são o meu olhar sobre os acontecimentos, e a forma peculiar de me exprimir.#

Em, 2019-02-14
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Nota do editor:

Último psote da série > 18 de fevereiro de  2019 > Guiné 61/74 - P19503: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LXII: Memórias do Gabu (I)

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19133: FAP (112): Há aviões... e aviões, há o Cessna 152 e o Dornier, DO 27 (E. Esteves de Oliveira)


Foto nº 1 > Cessna 152


Foto nº 2 > Dornier [DO] 27

Fotos (e legendas): © E. Esteves de Oliveira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de E. Esteves de Oliveira, nosso camarada e leitor:

Data: domingo, 9/09/2018 à(s) 21:14

Assunto: HÁ AVIÕES... E AVIÕES

Camarigueiro Luís Graça,

Um alfa-bravo para começar.

Para continuar: nem de propósito, esta tarde estive com os meus netos na BA 1, Granja do Marquês, e, chegado a casa, abri o blog da Tabanca Grande - agradável surpresa! O álbum de fotografias do Virgílio Teixeira: Guiné e aviões, que bela combinação. (*)

Mas o bichinho crítico que vive escondido algures no meu bestunto disparou o alarme na foto nº 8: a avioneta na pista de Nova Lamego não é um Dornier 27, é um Cessna 152.


Foto nº 8 > Nova Lamego, novembro de 1967 > Avioneta civil, dos TAGP, uma Dornier, de 2 passageiros, aterrando em Nova Lamego. (Estas aeronaves faziam voos privados, normalmente para levar ou trazer passageiros, que se deslocam de, ou para, Bissau. A população civil está presente.) (*)

Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/ BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)

Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

As diferenças são várias, para lá dos fabricantes e modelos: em cima, na foto nº1 , Cessna, e na foto nº 2,  o Dornier.

Ambos são mono-motores de asa alta e ficamos por aí de parecenças. O Cessna 152 tem dois lugares (piloto e passageiro), trem de aterragem triciclo; o Dornier 27, bem maior e robusto, pode transportar seis passageiros (incluindo o piloto) e tem trem de aterragem convencional. (**)

A memória, por vezes, prega-nos partidas, sobretudo com o avançar da idade. A velhice é uma chatice, não a recomendo a ninguém... (***)

E. Esteves de Oliveira

Ex-oficial miliciano de Infantaria, Guiné 1963-65, Angola 1965-66, Moçambique 1966.

P.S. - Os meus textos são redigidos em profundo desacordo e intencional desrespeito pelo Aborto Ortopédico - perdão! - Acordo Ortográfico.

Visitem o meu blog http://asopadospobres.aboutlisboa.com/ s.f.f. É de borla, não tem anúncios nem muitos links, ainda funciona a vapor... 


2. Comentário do editor LG:

Obrigado, caro camarada e leitor Esteves de Oliveira. Vamos corrigir, se o Virgílio oTeixeira concordar, também me parecia que era um Cessna. No meu tempo (1969/71), acho que os TAGP não tinham Dornier, apenas Cessna. A DO 27 era-nos mais familiar,. trazia-nos o correio e víveres, fazia evacuações, além de servir de PCV (Posto de Comando Volante) (o que era "irritante" para os "infantes", quando no mato, em operações...).

Vejo que o camarada Esteves de Oliveira acompanha com maior ou menor regularidade o nosso blogue e já tem feito mais comentários. È uma pena não estar "formalmente" integrado na nossa Tabanca Grande, o mesmo é dizer, poder estar sentado à sombra do nosso mágico e fraterno poilão... Para mais conheceu a Guiné nos anos de chumbo (1963/65), além dos TO de Angola e Moçambique... O convite fica feito: só precisamos das 2 fotos da praxe... Até um dia destes!


3. Resposta do Virgílio Teixeira, com data de... 18 de setembro último (*):

(...) O camarada E.Esteves de Oliveira, disse:

'agradável surpresa! O álbum de fotografias do Virgílio Teixeira: Guiné e aviões, que bela combinação.'
Obrigado, espero que gostem, embora nalgumas eu estou muito ridículo, mas é do clima.

Já percebi que não é uma DO 27, mas sim um Cessna. Se é 152 isso não é da minha lavra.
Viajei pelo menos 4 vezes neste, ou noutro Cessna dos TAGP, como único passageiro.

A última e derradeira, em finais de Fevereiro de 1969, tenho uma história para contar de arrepiar os cabelos - os meus - que vou um dia fazer um Tema, que, não tendo fotos, pode servir mesmo esta deste Cessna, pois era igual. Tenho o Bilhete para Postar, lembrei-me agora. Talvez para Postar no dia em que faz 50 anos, falta pouco.

Resumo: Tinha um novo Comandante de Batalhão, mau, ele assinou a Guia de Marcha para eu ir de férias, comprei o bilhete, o Cessna chega com o piloto civil, eu quando ouvi o ruido do motor, toca a correr para a pista, ele descarrega o correio e outras coisas, talvez tenha deixado algum passageiro, vejo um jipe em grande velocidade na minha direcção, a poeira que ele deixava atrás, e parou junto ao Cessna. O Piloto normalmente não desligava sequer o motor, o comandante, resumindo, não queria que eu fosse, apesar de ter assinado a Guia de Marcha. Os minutos que se passaram são daqueles filmes de suspense, ele quase me agarra para eu não entrar, tenho um pé dentro e outro fora, os minutos parecem uma eternidade, a poeirada das hélices nem deixavam ver, o Piloto dá o último aviso, se não entra vou descolar, dou um salto para dentro do avião e deixo o comandante e outros de boca aberta, chegamos a Bissau. Só quando o avião da TAP estava no ar, tive a certeza que já ninguém me apanhava, até lá, nem vos conto, os dias de pavor, à espera de receber uma ordem para me apresentar novamente em São Domingos, quando eu queria era ir para junto da minha namorada, lá cheguei a Lisboa, na manhã do dia do seu grande Terramoto.
Foi a última e derradeira viagem de SD para Bissau, depois nunca mais lá voltei. Voltarei um dia a estas pequenas aventuras, esta vale muito para mim, e por deixar aquele Lavrador - o Papaias - com um grande melão...

Quanto ao 'Desacordo Ortográfico', estamos quites.

Virgílio Teixeira

... E hoje voltou a confirmar, em email que nos acaba de mandar:

A Foto nº 8 é de um Cessna dos TAGP, bem como a Foto nº 23 e a Foto nº 26 (é duplicada de Foto nº 23). Neste Poste a única avioneta DO27 é a Foto nº 33 com o meu amigo Emanuel Lima Leite.
E está bem, eu andei nestes Cessna 2 a 3 vezes, com bilhete pago. As asas do DO27 são diferentes.
Como não sou especialista, e por cautela, já ressalvei no texto, qualquer erro ou omissão da minha parte.
Não vejo nenhum problema em corrigir, agora vejo melhor.
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(***) Último poste da série > 14 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18922: FAP (111): A Força Aérea Portuguesa e os incendios florestais (José Nico, TGen PilAv Ref / Mário Santos, ex-1.º Cabo Especialista MMA da BA 12)

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P19003: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XLII: Pistas e aeronaves (ii): Nova Lamego, 1º trimestre de 1968


Foto nº 21 > Nova Lamego, 1º trimestre de 1968 >  Nas asas de um caça T6, pormenores do cockpit do piloto e ajudante.


Foto nº 21 A > Nova Lamego, 1º trimestre de 1968 >  Nas asas de um caça T6, pormenores do cockpit do piloto e ajudante (dertalhe)


Foto nº22 > Nova Lamego, 1º trimestre de 1968 > Na placa 3 Caças T6 estacionados em Nova Lamego. Vista de trás, pode ler-se os números dos aparelhos, 1702,1791,1723.


oto nº 22 A  > Nova Lamego, 1º trimestre de 1968 > Na placa 3 Caças T6 estacionados em Nova Lamego. Vista de trás, pode ler-se os números dos aparelhos, 1702,1791,1723.


Foto nº 26 > Nova Lamego, 1º trimestre de 1968 > VirgílioTeixeira e, por detrás, o caça-bombardeiro T6, na pista de Nova Lamego.



F23 – Avioneta Dornier [, ou Cessna ?]  dos TAGP [, Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa,] descarregando pessoal e correio, na pista de Nova Lamego. Virgílio Teixeira, em grande plabo, à direita.


F23A – Avioneta Dornier [, ou Cessna ?]  dos TAGP [, Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa,] descarregando pessoal e correio, na pista de Nova Lamego. Virgílio Teixeira, em grande plabo, à direita (detalhe)


F24 – Nova Lamego, 1º trimestre de 1968 > Dakota estacionado na pista de Nova Lamego. Carregando pessoal com destino a Bissau


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/ BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) >1

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Virgílio Teixeira (*), ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, set 1967/ ago 69); natural do Porto, vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado; tem já cerca de 80 referências no nosso blogue.


Guiné 1967/69 - Álbum de Temas:

T201 – PISTAS E AERONAVES NA GUINÉ

A) O SECTOR DE NOVA LAMEGO – L3 (Parte II)

Legenda:

F21 – Nas asas de um caça-bombardeiro T6, pormenores do cockpit do piloto e ajudante. Nova Lamego, 1º Trimestre de 1968. [Foto não enviada, por lapso, ou repetida: vd, foto nº 25]

F22 – Na placa 3 Caças T6 estacionados em Nova Lamego. Vista de trás, pode ler-se os números dos aparelhos, 1702,1791,1723. Ao fundo um Heli e pormenor do espaço reservado com cobertura, chamado, aerogare. Nova Lamego, 1º Trimestre de 1968.

F23 – Avioneta Dornier dos TAGP, descarregando pessoal e correio, na pista de Nova Lamego. Algum pessoal procede a pequenas reparações e verificações do estado da DO. NL, 1º.Trim/68.

F24 – Dakota estacionado na pista de NL. Carregando pessoal com destino a Bissau. Este pessoal a entrar faz parte de um conjunto musical que foi dar espectáculo em Nova Lamego, por alturas do Ano Novo de 67/68. Nova Lamego, 1º Trim/68.

F25 – Nova foto nas asas de um caça T6, vendo o Cockpit. NL, 1º Trim/68.

F26 – Foto imagem do autor e do caça-bombardeiro  T6, na pista de Nova Lamego. 1º. Trimestre de 1968.

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Nota do editor:

Últino poste da série > 9 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P18999: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XLII: Pistas e aeronaves (i): Nova Lamego, outubro e novembro de 1967

terça-feira, 11 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17567: Inquérito 'on line' (121): O aerograma ?... "Era rápido mas não seguro" (José Brás)... "Acabou por justificar a existência do Movimento Nacional Feminino" (António J. Pereira da Costa)... "A malta chegava a solidarizar-se e fretar a avioneta civil para trazer o correio" (Henrique Cerqueira)



Foto nº1


Foto nº 2


Guiné > Região do Oio > Farim > Canjambari > CCAÇ 2533 (1969/71) >

Foto nº 1 > Viagem de avioneta civil, até Bissau, para gozo de licença de férias na Metrópole. O Luís Nascimento é o mais alto, o segundo a contar da esquerda Não se consegue distinguir o logo do saco de viagem: se era o logo da TAP - Transportes Aéreos Portugueses, se era o da TAGP - Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa (voos internos). Mas devia ser da TAP, vi um exemplra, no  sábado passado no núcleo museológico da Tabanca dos Melros, oferta do nosso camarada Carlos Silva.

Recorde-se que a 2 de setembro de 1965 foi criado o serviço autónomo Transportes Aéreos da Guiné (TAG), visando a exploração dos transportes aéreos de passageiros, carga e correio naquela província ultramarina. Na realidade foi a criação da primeira companhia aérea da Guiné. O seu nome será posteriormente alterado para Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa (TAGP).

Foto nº 2 > Aqueles que se podiam dar ao luxo de uma escapadela até Bissau, ou gozar um mês de licença para férias (em Bissau ou na Metrópole), esqueciam,  por uns tempos, a dura e obscura vida no mato... Dura e obscura mesmo para um 1º cabo cripto, que mal podia ser sair do quartel e não era operacional... Na foto, o Luís Nascimento na "esplanada (sic) do centro cripto", escrevendo uma carta ou mais provavelmente um aerograma... O correio era tão importante que houve companhias que, em caso de atrasos excessivos, chegaram a fretar as avionetas dos TAGP... (*)

Fotos (e legendas) : © Luís Nascimento (2013). Todos os direitos reservados. [Edição  e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mais comentários sobre o SPM e o areograma (**)


(i) José Brás


Em Medjo, eram semanas! Ir de Medjo a Guiledje não era coisa que apetecesse, sobretudo quando o DO27 voava à vertical de Medjo abanando a asas. A mensagem dele nessa manobra não era lida apenas pela nossa tropa. o complexo de Salancaur ficava a "meia dúzia de passos" e havia ainda Xim-idari e outras aldeias no Corredor ainda mais perto de nós. Não conto aqui uma maluqueira de "uma vez", porque...

Quanto a mim o aerograma era tão rápido e tão seguro como o outro correio e, dadas as circunstância, sempre o achei rápido mas não seguro

7 de julho de 2017 às 08:27


(ii) António J. Pereira da Costa 


O Mê-Nê-Fê [Movimento Nacional feminino] aparece muitas vezes ligado aos aerogramas.
Contudo, se o respectivo transporte era uma "oferta" - justa e lógica - da TAP aos soldados de Portugal, a produção e distribuição dos aerogramas poderia ter sido feita por outra entidade, nomeadamente pela cadeia logística do Exército.

A rede do Mê-Nê-Fê era pouco densa, pelo que os aerogramas eram distribuídos pelas Juntas de Freguesia e entidades similares.

A "distribuição" de aerogramas era um maneira do Mê-Nê-Fê se sentir útil...

7 de julho de 2017 às 09:34


Havia a experiência da I Guerra Muidial em que o correio não funcionou assim tão bem... e com más consequências.Além disso o governo do tempo,  num dos seus (raros) momentos de lucidez,  descobriu que, sendo o correio um dos grandes sustentáculos do moral das tropas, se não o principal, não quis comprar uma fonte de revolta que não lhe daria popularidade.

E, no fundo, não era uma coisa que onerasse a guerra que era preciso embaratecer, especialmente através das PPP do tempo, a maioria delas retribuídas em género e não em dinheiro.

O Mê-Nê-Fê... associava-se,  justificava a sua existência.


8 de julho de 2017 às 09:57


(iii) Henrique Cerqueira

Na verdade até que o SPM funcionava muito benzinho , talvez melhor (olhando ás condições na época) que hoje,  pelo menos aqui na minha zona.(refiro-me à distribuição dos CTT ).

Reconheço também que o Estado da altura preocupava-se que não faltasse certos apoios "morais" e materiais aos militares destacados nas guerras do ultramar.

Dou o exemplo: tabaquinho, cerveja,whisky, comprimidos LM e o correio... Fosse de avião (DO 27) ou por coluna militar, o correio era das coisas mais indispensáveis em qualquer aquartelamento. Poderia haver fominha de certos alimentos,mas o correio não podia faltar nem que para isso a malta se solidarizasse e fretasse avioneta civil [dos TAGP]] .Era assim que funcionava na minha companhia do Biambe em 1972.

Assim sendo e com todas as condicionantes da altura o SPM era um bom serviço prestado às nossas tropas.

7 de julho de 2017 às 10:12 

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Notas do editor:

(**) Último poste da série > 10 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17565: Inquérito 'on line' (120): Mesmo com ficha na PIDE/DGS, nunca me inibi de escrever cartas e aerogramas, sem autocensura nem receio de represálias... E foram mais de 300!... Contei, a quem gostava, tudo o que acontecia no CTIG no meu tempo (António Graça de Abreu, ex-alf mil, CAOP 1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74)

segunda-feira, 28 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15910: Fotos do álbum da minha mãe, "Honra e Glória" (Abílio Duarte, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Nova Lamego e Paunca, 1969/70) - Parte III



Foto nº 1 > De Piche, para Bafatá, num Cessna dos TAGP


Foto nº 2 > Dentro do Cessna


Foto nº 3 > Vista aérea de Piche [" (...) Era um quartel novo, com razoáveis instalações para a CCS e para mais duas companhias operacionais. Tinha água canalizada e gerador elétrico, As instalações do quartel incluíam trincheiras, base de fogos do morteiro 81, três peças 11,4 e as habituais casernas, messe, cozinha e posto de socorros, tudo rodeado por arame farpado, com a respetiva Porta de Armas" (...) , Mendes Paulo, maj cav, 1932-2006]


Foto nº 3A > Vista aérea de Piche: pormenor do espaldão do obus, valas e abrigos


Foto nº 4 > Vista aérea de Piche: outro ângulo


Foto nº 5 > Vista aérea de Nova Lamego, com as instalações militares em primeiro plano. O traçado da vila tem mão de urbanista português, foi feito a régua e esquadro, como Bissau, Bafatá, etc.


Foto nº 6 > Vista aérea do Rio Geba


Foto nº 7 > Uma tabanca à beira da estrada Nova Lamego - Bafatá


Foto nº 8 > Mais uma vista aérea do Rio Geba,  nas proximidades de Bafatá

 Fotos (e legendas): © Abílio Duarte (2016). Todos os direitos reservados.

1. Continuação da publicação de fotos do Abílio Duarte [, ex-fur mil, CART 2479,  mais tarde CART 11 e,  finalmente, já depois do regresso à Metrópole do Duarte, CCAÇ 11, a famosa companhia de “Os Lacraus de Paunca”, (Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70)] (*).

Trata-se do "álbum que a minha saudosa mãe criou com fotos que eu lhe enviava". Desta vez são fotos tiradas num viagem de Cessna, dos TAGB, quando o Abílio Duarte foi de Piche a Bafatá para fazer o exame de condução automóvel. "As várias vistas aéreas que aparecem nesta reportagem foram tiradas neste avião". O Cessna, a caminho de Bafatá, sobrevoava Nova Lamego.

Eis como como o já falecido major de cavalaria  João Luiz Mendes Paulo (1932-2006) descrevia Piche deste tempo, no seu livro "Elefante Dundum" (citado por Beja Santos) (**)

(...) "Era um quartel novo, com razoáveis instalações para a CCS e para mais duas companhias operacionais. Tinha água canalizada e gerador elétrico, era bem melhor que Nambuangongo [, Angola].

O primeiro ataque foi para nos testar. Vieram pela pista de aviação com morteiros 82, RPG-7, metralhadoras pesadas e as inevitáveis Kalash e PPSH. Apesar de todas as recomendações anteriores, foi um festival de fogo de artifício.

As instalações do quartel incluíam trincheiras, base de fogos do morteiro 81, três peças 11,4 e as habituais casernas, messe, cozinha e posto de socorros, tudo rodeado por arame farpado, com a respetiva Porta de Armas.

A povoação de Piche envolvia o quartel do lado Sul e todo o perímetro da povoação era protegido por abrigos enterrados, 13 ao todo, em ligação com as trincheiras, com holofotes, metralhadoras e contacto via telefone e rádio para o posto de comando.

Em caso de ataque, só os tais abrigos da periferia abriam fogo, quando atacados diretamente ou à ordem, para alvos já referenciados”.

2. Comentário adicional do fotógrafo:

(,..) "A minha ida a Bafatá foi em meados de 1970 (, em abril), a minha Companhia estava a fazer reforço, em Piche, e recebi uma informação da nossa sede, em Nova Lamego, onde fazia a respetiva instrução automóvel, como a maioria da malta, de que tinha exame numa quarta-feira seguinte.

Falei com o Cap Pinto, e ele disse-me que não estava prevista nenhuma coluna a Gabú. A minha sorte foi ter aparecido, na segunda-feira anterior ao exame, a tal avioneta. O capitão fez o favor de me ajudar,  ao pedir boleia para mim.

  
Vista aérea de Bafatá: ao centro (1) , a avenida principal e igreja [, em frente, o edifício da administração colonial e, mais acima, o hospital local]..   
Foto de Humberto Reis (2006).




Quando cheguei a Bafatá, fui à messe do Esquadrão de Cavalaria, onde encontrei um colega também, do BNU, chamado Pascoal, que me arranjou comida e dormida, pois só vim novamente para Nova Lamego e depois Piche, quase uma semana depois.

O exame correu-me bem, fiz o ponto de embraiagem naquela calçada larga alcatroada, que vinha cá de baixo do rio, e que agora, pelas fotos atuais. é só buracos. Quanto às legendas, estão bem, que, como vocês dizem, na Guiné é quase tudo igual. Mais uma vez agradeço a vossa  disponibilidade, caros editores" (...).
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30 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14418: Notas de leitura (698): “Elefante Dundum – Missão, testemunho e reconhecimento”, por João Luíz Mendes Paulo, edição de autor, 2006 (1) (Mário Beja Santos)

Vd, também  27 de março de  2013 >  Guiné 63/74 - P11324: Álbum fotográfico de Abílio Duarte (fur mil art da CART 2479, mais tarde CART 11/ CCAÇ 11, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70) (Parte IX): Piche, vista aérea... E as valas onde se "despistou" o nosso camarada e amigo comum Renato Monteiro...