sábado, 15 de abril de 2023

Guiné 61/74 - P24225: Os nossos seres, saberes e lazeres (568): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (98): Vestígios soltos de dias felizes, custa apagá-los sem haver partilha (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Março de 2023:

Queridos amigos,
Quem se sentir intocável, seja o primeiro a atirar-me uma pedra. Temos todos nós um ambiente de trabalho dentro do computador e sabemos que a sobrecarga de imagens pode ser responsável pela lentidão da nossa máquina, chega sempre uma hora em que temos de aligeirar ficheiros e ganhar espaço para os tempos que se avizinham. Foi o que me sucedeu, no decurso da viagem encontraram-se lembranças, peças soltas, restos de trabalho, instantâneos filhos do acaso. Decidi pôr-lhes uma ordem (por falar com toda a franqueza, uma ordenação totalmente arbitrária, sem preocupações de sincronia), aqui está o produto final, custava-me muito atirar para o éter estas imagens sem as partilhar convosco.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (98):
Vestígios soltos de dias felizes, custa apagá-los sem haver partilha


Mário Beja Santos

Chega o momento em que se impõe fazer desaparecer restos de incursões, imagens difusas, até desemparelhadas de trabalhos que já se publicaram. O busílis é que essas imagens que vamos condenar ao éter ainda irrompem em nós, esplendentes, talvez mesmo luminescentes, tal o poder da recordação. Neste dia e a esta hora, encetei a vassourada, o derradeiro adeus de visitas, de impressões que profundamente me tocaram, de momentos de felicidade. E apetece-me falar delas, é um jeito de convívio, contar a outros o que se viu e que por qualquer razão não se publicou, o que durante muito ou pouco tempo se guardou nesta ou naquela pasta até se tomar a decisão de o infinito adeus.
Estamos na Casa da Cerca – Centro de Arte Contemporânea, no Almada Velho, vai para 30 anos que aqui bato à porta para ver belas exposições, para ser sincero, é a primeira vez que aqui entro depois da pandemia andar diluída, venho em jeito de saudade, e vou ser recompensado por diferentes lembranças. Uma vez emprestei uma aguarela da Ofélia Marques para uma exposição, noutra admirei-me com as obras do pintor Domingos Rego, fui a Azeitão e comprei-lhe uma técnica mista de que não me quero separar, que daqui passou uma exposição espantosa dos desenhos de Carlos Botelho, é melhor calar-me, quem puder venha até cá não só para conhecer este instituto de cultura como um projeto único que dá pelo nome de Chão das Artes, aqui estão os elementos vegetalistas de uso obrigatório em artes plásticas que dão, por exemplo, pelo nome de pintura ou aguarela.
A capela do património que antecedeu a Casa da Cerca é muito simples, o que mais gosto é da ingenuidade desta azulejaria, aqui vos deixo pormenores do Menino na manjedoura e outro alusivo à adoração dos reis magos.

Aqui ficam recordações da exposição da artista Ana Vidigal, tem um belo título “não me peça que lhe dê pormenores”, no essencial está expostas nesta sala sob a custódia de uma escultura de Alberto Carneiro. A folha que me ofereceram para melhor me entender com o que estou a ver informa-me que Ana Vidigal faz livros de artista. “Não são livros de projetos, ou de esboços, nem são livros de ideias. São obras. Cada um deles dá continuidade ao trabalho que a pintora realiza nas suas telas, desenhos ou instalações. O seu processo artístico – igual há mais de 40 anos – passa por uma recolha obsessiva de material que guarda em caixas: espólios de família, heranças de amigos, encontros em feiras de segunda mão – postais, fotografias, revistas, moldes de costura, novelas. Antes de começar uma peça ou série, volta aos seus caixotes, ao seu arquivo.” Na visita, deparo-me com imagens coloniais, e a folha explicativa abre caminho ao que estou a ver: “A guerra colonial tem sido um tema importante no seu trabalho. Define-se como filha da guerra, e as suas consequências continuam a deixar marcas profundas em si e na sociedade. Numa das suas caixas de arquivo encontrou um conjunto grande de postais fotográficos trazidos pelo seu bisavô, para tentar mostrar à família o que viveu e o que encontrou, enquanto esteve estacionado em África durante as guerras da libertação.” Pois aqui ficam lembranças do que vi e senti, num espaço que, museograficamente, tanto me fascinou.
A tarde é invernosa, não me canso de dizer que é da Casa da Cerca que se tem a vista de Lisboa mais linda fora de Lisboa, parece uma vastíssima placa horizontal acima das águas, à esquerda ouve-se o ronrom dos carros sobre a ponte, às vezes o caminhar metálico do comboio, os olhos vão até ao fundo, à procura da foz e da linha imaginária onde começa o Atlântico; à direita, é aquele assombro de imaginar, na imagem fuliginosa, que se está a ver o Terreiro do Paço até àquele cotovelo onde desponta Santa Engrácia, cresce-me o orgulho desta minha terra natal.
A que título guardei esta imagem quase incandescente da Charola? Levo anos de colaboração persistente num jornal de Tomar, O Templário, é mais do que certo e seguro que por ali andei um dia em que se deu este feliz acaso de apanhar esta luz de assombração, até me é lícito pensar que as câmaras desvairam, inventam luzes e formas para com prazimento de quem guarda recordações. A resposta certa não me importa, é a luz da assombração que me deixou empolgado. Assim apareceste, hoje te feneces.
Por falar em assombração, estou no meu retiro no Reguengo Grande, limite do concelho da Lourinhã, quando daqui sair e virar à esquerda entro no Bombarral e até posso subir à Roliça, onde as tropas napoleónicas levaram uma coça que preludiou o seu desaire no Vimeiro. O que para o caso importa foi aquele fim de dia, as cores ígneas encavalitadas nas nuvens, a promessa de um amanhã com calores de veraneio. Promessas leva-as o vento, o que me enche as medidas é a conjugação dos planos, entre o céu e a terra, entre o hoje e o dia seguinte, como espero em Deus que aconteça.
Imagine-se, um dia claro, o desfrute daquele vale que a Susana e o Henrique cultivam, cereais, meloal, legumes para uma boa sopa. É a manhã de um dia claro, tenho o tempo por minha conta, ali me vou sentar, ler não sei o quê, o mais importante é que me sinto aqui tão feliz quanto foi o inesperado de ter encontrado este local que merecia ser cantado por um Ovídio ou um Virgílio, não faço a coisa por menos.
A que título guardei estas duas imagens? Sei que foram para um livro que referenciei no blogue, juro que não me ocorre o título mas sei perfeitamente a razão por que as guardei, são imagens de um povo que conheço e respeito, trazem-se saudades de uma terra que tanto amo, primeiro a galeria de povos e a segunda imagem o vigor do trabalho insano para que a terra frutifique e não haja fome.
Nascia o dia, já estava na Feira da Ladra, numa balaustrada bem perto do que foi o Hospital da Marinha e um dia destes virá ser um condomínio de luxo. Aquele amarelo encadeante da iluminação prendeu-me a atenção, dentro de momentos virá o alvor do dia desta mancha de azul que parece o mar virado do avesso, então feirantes e visitantes entrarão em rebuliço, acabaram as trevas do amanhecer, os candeeiros apagam-se, será um dia febril, gente à procura de vender e gente à procura de comprar. Um saudosa recordação da minha Feira da Ladra.
(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 8 DE ABRIL DE 2023 > Guiné 61/74 - P24209: Os nossos seres, saberes e lazeres (567): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (97): Hoje, quero muito simplesmente dizer ao senhor Gulbenkian que lhe estou grato (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24224: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XXIV: As previsões agoirentas do adivinho Mamadu Candé que nos via, a mim e ao João Bacar Jaló, a viajar num barco para desembarcarmos numa grande cidade e aí a sofrer muitas baixas (... só não nos disse o nome da cidade: Conacri...)



Guiné > s/l > 1ª CCmds Africanos > c. 1970 > Da esquerda para a direita, em pé, os então alferes graduados 'cmds' Saiegh e Sisseco, o major inf Leal de Almeida, o tenente graduado 'cmd' João Bacar Jaló e outro alferes. Em baixo, o ex-fur mil pil Ramos, e o alferes graduado 'cmd Justo Nascimento. Foto reproduzida no livro, pág. 167. A foto é do Jorge Caiano, ex-1º cabo especialista, melec/av (Bissalanca, BA12, 1969/70), a residir desde 1974 no Canadá (Poste P3897). 

Foto (e legenda): © Jorge Caiano (2009). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


1. C
ontinuação da publicação das memórias do Amadu Djaló (Bafatá, 1940-Lisboa, 2015), a partir do manuscrito, digital,  do seu livro 
"Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada) (*).

O seu editor literário, ou "copydesk", o seu camarada e amigo Virgínio Briote,  facultou-nos uma cópia digital; o Amadu, membro da Tabanca Grande, desde 2010, tem cerca de nove dezenas de referências no nosso blogue.

[Floto à direita > O autor, em Bafatá, sua terra natal, por volta de meados de 1966. (Foto reproduzida no livro, na pág. 149) ]

Síntese das partes anteriores:

(i) o autor, nascido em Bafatá, de pais oriundos da Guiné Conacri,  começou a recruta, como voluntário, em 4 de janeiro de 1962, no Centro de Instrução Militar (CIM) de Bolama;

(ii) esteve depois no CICA/BAC, em Bissau, onde tirou a especialidade de soldado condutor autorrodas;

(iii) passou por Bedanda, 4ª CCaç (futura CCAÇ 6), e depois Farim, 1ª CCAÇ (futura CCAÇ 3), como sold cond auto;

(iv) regressou entretanto à CCS/QG, e alistou-se no Gr Cmds "Os Fantasmas", comandado pelo alf mil 'cmd' Maurício Saraiva, de outubro de 1964 a maio de 1965;

(v) em junho de 1965, fez a escola de cabos em Bissau, foi promovido a 1º cabo condutor, em 2 de janeiro de 1966;

(vi) voltou aos Comandos do CTIG, integrando-se desta vez no Gr Cmds "Os Centuriões", do alf mil 'cmd' Luís Rainha e do 1º cabo 'cmd' Júlio Costa Abreu (que vive atualmente em Amesterdão);

(vii)  depois da última saída do Grupo, Op Virgínia, 24/25 de abril de 1966, na fronteira do Senegal, Amadu foi transferido, a seu pedido,  por razões familitares, para Bafatá, sua terra natal, para o BCAV 757; 

(viii) ficou em Bafatá até final de 1969, altura em que foi selecionado para integrar a 1ª CCmds Africanos, que será comandada pelo seu amigo João Bacar Djaló; 

(ix) depois da formação da companhia (que terminou em meados de 1970), o Amadu Djaló, com 30 anos, integra uma das unidades de elite do CTIG; a 1ª CCmds Africanos, em julho, vai para a região de Gabu, Bajocunda e Pirada, fazendo incursões no Senegal e em setembro anda por Paunca: aqui ouve as previsões agoirentas de um adivinho;

(x) em finais de outubro de 1970, começam os preparativos da invasão anfíbia de Conacri (Op Mar Verde, 22 de novembro de 1970), na qual vai participafr

 

Capa do livro do Amadu Bailo Djaló, "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974", Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada.  



Guiné > Região de Gabu > Carta de Paunca (1957) ( Escala 1/50 mil > Posição relativa de Paunca e do rio Xaianga (ou Geba Estreito) que vem do Senegal, atravessando a fronteira no marco 74

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas fa Guiné (2023)



Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um    luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XXIV:  
 

As previsões agoirentas do adivinho Mamadu Candé que nos via, a mim e ao João Bacar Jaló, a viajar num barco para desembarcarmos numa grande cidade e aí a sofrer muitas baixas


Em setembro
 [de 1970] , na última saída da companhia para os lados do rio Xaianga, quando estávamos a regressar a Paunca [1], um guarda da administração civil, de nome Sore Bombeiro, viu-nos passar nas viaturas. Esse homem viveu muitos anos com o capitão João Bacar Jaló, na vila de Catió. Quando me viu, fez-me sinal para eu ir ter com ele.

Mal a coluna entrou no aquartelamento de Paunca, fui procurá-lo e vi-o a falar com um homem também meu conhecido, o adivinho Mamadu Candé.

Quando eu e o capitão João Bacar, em feve
reiro [de 1970] , tínhamos vindo de Bissau para Fá Mandinga, para formarmos a CCmds da Guiné, o capitão Barbosa Henriques  [o instrutor]   deixou-nos em Bambadinca para tratarmos da situação das nossas famílias. E foi nessa ocasião que, em casa de um companheiro de João Bacar, encontrei esse tal homem, o Mamadu Candé, um Homem Grande e adivinho muito respeitado.

Pois, então, em Paunca, quando o encontrei, Mamadu Candé disse-me, solenemente, para eu avisar o capitão João Bacar que fizesse tudo por tudo para que a nossa companhia não fosse deslocada para ocidente de Fá Mandinga. Que nos ajudava a tratar de nos mantermos no leste, que a nossa fama já era grande e que, assim, o leste não seria conquistado. E disse mais: que nas suas previsões nos tinha visto a viajar num barco para desembarcarmos numa grande cidade e que nessa cidade íamos começar a sofrer muitas baixas.

Quando lhe perguntei que cidade era essa, se ficava na Europa ou em África, ele respondeu que não sabia. Eu acho que ele sabia muito bem qual era a cidade, não queria era dizer-nos.

Depois de acabarmos a conversa corri para uma viatura da coluna e seguimos em direcção a Bajocunda e, só à noite, quando chegámos contei a conversa ao João Bacar, mas ele não deu qualquer resposta.

Em finais de outubro de 1970, estava eu e o furriel Talabio a regressar a Fá Mandinga, tive conhecimento que o capitão João Bacar ia estar trinta dias de férias. Chegado o dia, ele e o Talabio foram para Bissau com o major Leal de Almeida, o supervisor da nossa companhia.

Nessa data, dois grupos nossos partiram para o Enxalé[2] e eu fui com um dos grupos. Os outros grupos da companhia ficaram em Fá.

Já no Enxalé, quando estávamos a regressar da primeira saída[3], chegou uma mensagem para recolhermos todas as unidades o mais rapidamente possível. Nem houve tempo para descansar da saída, arrumámos as nossas bagagens e corremos para o porto, para apanhar o barco para o Xime. Aqui chegados entrámos para as viaturas e rumámos para . Depois de pousarmos as armas e os equipamentos seguimos para Bafatá.

Eu, logo de manhã fui ao mercado ver gente conhecida. Havia muito peixe nas bancas e comprei uma cabeça de bicuda, que a minha mulher levou para casa para fazerem uma caldeirada, enquanto fiquei a conversar com os meus amigos.

A certa altura, um soldado chegou ao pé de mim e, fazendo-me a continência, eu era furriel então, disse que queria falar comigo em particular. O que tinha para me dizer era que a companhia estava a ser recolhida, por ordem de Bissau. Perguntei-lhe pelo major Leal de Almeida, ele não sabia a resposta, perguntei-lhe quem tinha dado a ordem e ele também não tinha resposta para dar.

Então, tomei o meu lugar na viatura e dirigi-me para casa. Quando cheguei a comida ainda não estava pronta, mudei outra vez de roupa e despedi-me da família, com grande pena minha e deles. A minha mãe perguntou se eu não esperava pelo almoço e eu respondi que não tinha tempo para esperar, que ia sair com fome. Uma facada no coração da minha mãe, foi o que ela deve ter sentido.

Quando voltei a ver a minha mãe, quase um mês depois, vi-a muito magra. Quando me abraçou, senti o seu coração bater de amor e sentimento que ela tinha por mim. Sei que a minha mãe só comeu à vontade, a partir desse dia. 

Continua: vd. poste P233804 (**).

[Seleção / Revisão e fixação de texto / Parènteses rectos com notas /  Subtítulo / Negritos: LG]
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Notas do autor ou do editor literário (VB):

[1] Nota do editor: desde 26 Julho 1970, guarnecida com a CCaç 2658 e, desde 15 Agosto 1970, com a CArt 11 / CTIG.

[2] Nota do editor: destacamento da CArt 2715.

[3] Nota do editor: 30 Outubro/07 Novembro 1970.
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Notas do editor LG:

(*) Último poste da série > 6 de abril de 2023 > Guiné 61/74 - P24204: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XXIII: Na 1ª CCmds Africanos em 1970: de Fá Mandinga a Bajocunda, Pirada e Senegal, respondendo ao terror do PAIGC

(**) Vd. poste de 22 de novembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23804: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte X: Op Mar Verde, há 52 anos, em 22/11/1970: para Conacri, rapidamente e em força.

Guiné 61/74 - P24223: Parabéns a você (2160): António Pimentel, ex-Alf Mil Rec Inf da CCS/BCAÇ 2851 (Mansabá e Galomaro, 1968/70)

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Nota do editor

Último poste da série de 11 DE ABRIL DE 2023 > Guiné 61/74 - P24217: Parabéns a você (2159): Jorge Picado, ex-Cap Mil, CMDT da CCAÇ 2589/BCAÇ 2885 e da CART 2732 (Mansoa, Mansabá e Teixeira Pinto (CAOP 1), 1970/72)

sexta-feira, 14 de abril de 2023

Guiné 61/74 - P24222: Notas de leitura (1572): "As Voltas do Passado, A Guerra Colonial e as suas Lutas de Libertação", com organização de Miguel Cardina e Bruno Sena Martins, com vasto número de colaboradores; Tinta-da-China, 2018 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Setembro de 2020:

Queridos amigos,
O que há de francamente original nesta investigação, que tem tanto de ambiciosa como de bem sucedida, é um questionamento do passado sem ninguém se curvar a homenagear heróis mas a escrutinar factos, havendo resultados surpreendentes, pois há apropriação indevida de datas ou de cometimentos heróicos, caso dos massacres de Mueda ou do Pidjiguiti. É este permanente questionamento, por vezes profundamente incómodo, que faz desabar mitos ou ajuda-nos a compreender que um acontecimento ao tempo importante, caso da Operação Tridente, nos inícios de 1964, deu pasto a propaganda do PAIGC que avançou centenas e centenas de mortos portugueses, a coisa não tinha pés nem cabeça mas serviu de matéria na imprensa internacional. A evolução da guerra alterou completamente a importância do que tinha ocorrido na Ilha do Como. Estudar o assassinato de Amílcar Cabral também nos leva a compreender que há para ali a crónica de uma morte anunciada, segredos e tensões que ambas as partes em conflito escondiam. Revela-se que a chamada música de intervenção utiliza a figura inspiradora de Cabral para que organizações jovens tragam para a liça iniciativas que permitem gerar políticas públicas, revolucionar as identidades culturais. A celebração da morte do líder fundador é esquecida pelos velhos e reacendida pelos novos que reclamam uma política nova num país à deriva.

Um abraço do
Mário



Momentos marcantes da guerra colonial, lá e cá, todos na sala de espelhos

Mário Beja Santos

O projeto "As Voltas do Passado, A Guerra Colonial e as suas Lutas de Libertação", com organização de Miguel Cardina e Bruno Sena Martins, com vasto número de colaboradores, Tinta-da-China, 2018, é um roteiro indispensável para indagar o papel da memória, o questionamento do testemunho individual, a legislação ou o ato político possuidor de transformação, real ou aparente, as perguntas permanentes de quem mandou assassinar quem… É neste voltar ao passado por onde a guerra com as manifestações anticoloniais mobilizaram combatentes e populações, somos impelidos a regressar ao local e mensurar se aquele facto manteve estabilidade ou caiu no esquecimento, se é digno de evocação celebratória ou gerou indiferença.

Não é, pois, um repositório cronológico da guerra colonial, a metodologia seguida não é essa, escolhem-se marcos miliários em diferentes países, faz-se a sua anatomia ontem e hoje e expõe-se o resultado. A cronologia é a dos acontecimentos, como segue: Massacre de Batepá, São Tomé (1953), início da vaga de prisões de militantes nacionalistas em Angola (1959), Massacre de Pidjiquiti, Bissau (1959), Massacre de Mueda, Moçambique (1960). Indo por aí fora, iremos ler relatos sobre conferências, a ida das tropas portuguesas para os teatros de operações, a criação de forças especiais, a liturgia do 10 de Junho associada às Forças Armadas, o encerramento da Casa dos Estudantes do Império, a crónica de assassinatos, o fim do Exercício Alcora, a independência das ex-colónias.

Há nesta pesquisa um novo elemento disponível: a exposição é caleidoscópica, expõem-se os factos, releva-se o produto final que pode ser mitológico, extraem-se resultados que possibilitam o leitor a querer saber mais. Por exemplo, logo na descrição do Massacre de Batepá, a autora conclui:

“O que aqui se demonstra é que por mais que as políticas de memória de um evento histórico sejam instituídas e ritualizadas pelo Estado e deixem lastro ao longo de décadas e através de gerações, os seus significados mudam, emergindo outras narrações. É desta forma que os são-tomenses procuram inscrever o seu lugar nesta história”.

Também, houve quem se quis apropriar em exclusividade do arranque da luta armada em Angola, identificando a luta política anterior com o encadeado da luta armada. E também se conclui, a este respeito:

“A luta política, antecessora da luta armada, teve como autores os que, independentemente das suas tonalidades político-ideológicas, combateram o poder colonial. Frequentemente divergentes entre si, mas com um denominador comum: a prisão e a tortura como símbolos do arbítrio colonial. Nesse sentido, somos impelidos a considerar que as prisões de 1959/60 podem ser apreendidas como um processo histórico – ainda inacabado – de construção de uma gloriosa memória”.

Continua até agora por demonstrar que foi gente do PAIGC que instigou os trabalhadores do Porto do Pidjiquiti à greve de 3 de agosto de 1959. O gerente da Casa Gouveia foi irredutível, os trabalhadores revoltaram-se, veio a repressão, morreu muita gente, houve prisões, Amílcar Cabral aparece depois para aquela que terá sido a reunião crucial que irá definir quem fica no interior a subverter e quem parte para o exílio. O fundador do PAIGC considerou os acontecimentos como uma lição histórica e com a independência o 3 de Agosto ganhou a dignidade de feriado nacional. Mesmo com a separação da Guiné-Bissau de Cabo Verde, os acontecimentos do Pidjiquiti continuaram a ter lugar relevante na consolidação do PAIGC.

E, posteriormente, as referências mudaram de natureza. 

“Em 1993, uma greve de marinheiros marca o aniversário do massacre. Desde então, o feriado de 3 de agosto é também usado periodicamente pelos sindicatos como um momento de protesto pela falta de pagamento de salários. Durante as celebrações de 2014, enquanto Domingos Simões Pereira desafiava os guineenses para a criação de um museu em honra e memória de todos os resistentes, o secretário-geral da União Nacional dos Trabalhadores da Guiné afirmava que os atrasos nos pagamentos de salários punha em causa a realização dos sonhos dos mártires do Pidjiquiti. Pidjiquiti torna-se assim no símbolo da desilusão com os rumos da política pós-colonial à governação, aos desvios do projeto revolucionário do PAIGC ou à indiferença social”.

Em 16 de junho de 1960 ocorreu o Massacre de Mueda. Houvera detenções, o governador do distrito de Cabo Delgado, Almirante Teixeira da Silva, compareceu a um encontro com as populações, foi agredido por um maconde, chegam viaturas militares que abrem fogo. Quem lá estava fala em 16 mortos, a Frelimo em Argel fala em 150, mais tarde escreve-se que foram 600 mortos. Depois começa o uso feito do massacre. 

“Na cerimónia de Mueda, no dia 16 de junho de 2000, houve, em figurantes, colunas guerrilheiras do tempo da luta armada, isto é, uma representação da própria Frelimo. No passado houvera peça de teatro sobre o massacre, a última vez que foi representada foi em 1995, os atores estavam fartos de ser utilizados para uma cerimónia oficial e depois não receber nada. O próprio Faustino Vanomba tinha representado o seu papel (isto é, o papel que a História oficial lhe dava), em 1987 e 1990, a pedido insistente do administrador. Mas estava triste e dizia que não tinha sido assim".

Falando desta investigação o autor adverte que em todas estas contradições a questão de saber quem tem razão não é o essencial, não se pode é brincar aos heróis. 

“A Frelimo faz parte da História de Moçambique, mas a História de Moçambique nunca se poderá resumir à história deste importante partido. Mueda, 1960, não faz parte da história da Frelimo, nem pode, obviamente, fazer. Esquecê-lo para só transmitir a visão da Frelimo, de legitimidades e poderes que vieram depois, leva ao esquecimento dos homens que fizeram Mueda. Mas são eles os heróis”.

O autor traz também algumas saborosas observações, falando dos arquivos coloniais refere que estes veiculam a narrativa do colonizador, mas têm uma vantagem: não mudam. E termina dizendo que em 2000 perguntou a uma testemunha africana da tragédia de 16 de junho de 1960:
- Houve muitos mortos?
- Sim, muitos! Foram 16!
- Ah! Pensava que eram 600…
- … Sim, depois recebemos orientação de que eram 600.

Um grupo de cabo-verdianos, filiados do PAIGC, foram preparados em Cuba para desembarcar em Cabo Verde, a data prevista era 1967. Eram 31 guerrilheiros, prestaram juramento e comprometeram-se a desembarcar nas ilhas de Santiago e Santo Antão, seriam apoiados pelo governo cubano. O plano foi abortado, os membros do grupo seguiram outra formação militar na URSS, na sequência da qual passaram a intervir no terreno da guerrilha da Guiné, em 1968. 

Na lógica dos acontecimentos subsequentes, alguns deles foram figuras preeminentes na guerrilha, caso de Pedro Pires, Silvino da Luz, Honório Chantre ou Manuel dos Santos. Em 1988, foi institucionalizado em Cabo Verde o Dia das Forças Armadas Revolucionárias do Povo. Em 1991, realizaram-se as primeiras eleições legislativas multipartidárias, o vencedor foi o MPD. A partir de então, dá-se uma mudança profunda de discurso e de atitude, mudaram os símbolos nacionais em Cabo Verde concebidos durante o período da guerra pelo PAIGC. Alterou justamente a bandeira sobre a qual foi feito o juramento dos 31 guerrilheiros, houve debate, a questão parece arrumada. Mas como diz o investigador há que estudar as diferentes narrativas veiculadas que se tentaram impor desde a independência, incluindo os poderes simbólicos, mas surgiu um elemento novo, o MPD não pretende cultivar grande parte desse passado. 

“Na sociedade cabo-verdiana da década de 1990, a maioria da população residente tinha nascido após o período colonial, até aos dias de hoje, a história do país no século XX não consta dos programas do ensino básico e secundário, e a investigação histórica nacional sobre o processo de luta pela obtenção da independência política é ainda incipiente”.

É altíssimo o valor da obra "As Voltas do Passado", é uma seriação de factos que geraram quadros mentais, levaram a decisões políticas irreversíveis mas que ganharam reversibilidade com a mudança de atores, com a chegada de novos ideários políticos, com o cansaço de ritos que se vieram a demonstrar serem vazios ou não corresponderem à realidade. A grande lição deste projeto é que ainda pouco sabemos sobre a guerra colonial e as lutas de libertação e que o legado das mudanças ou das celebrações provoca incómodos. Isto para além de haver ainda silenciamento de amplas vertentes do conflito. É um incentivo para que se continue a estudar para bem da memória de todos.

Obra de consulta obrigatória para todos os interessados no estudo das guerras de África.


Cerimónia de comemoração do 10 de junho, Terreiro do Paço
Os resgatados da Operação Mar Verde
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Nota do editor

Último poste da série de 10 DE ABRIL DE 2023 > Guiné 61/74 - P24215: Notas de leitura (1571): "A Revolta!", por Fausto Duarte; Porto, 1945; O drama do régulo Monjur num belo romance (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24221: S(C)em Comentários (9): Atravessando uma bolanha em... Angola: artigo publicado "Jornal de Angola", de 2/4/2023, ilustrado com foto (pirateada...) do Humberto Reis, tirada no subsetor do Xitole, na margem direita do rio Corubal, no decurso da Op Navalha Polida (2-3 de janeiro de 1970)



Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1  (Bambadinca) > Subsector do Xitole > 2/3 janeiro de 1970 > Forças da CCAÇ 12 (na foto, o 2.º Grupo de Combate, dos furriéis milicianos Humberto Reis e Tony Levezinho). O Humberto vem atrás dos homens da bazuca e do lança-rockets (igual à dos páras). E, mais atrás, os 1.ºs cabos (metropolitanos) Alves e Branco. 

Não apareço na foto mas participei na Op Navalha Polida, em 2 e 3 de janeiro de 1970,  integrado desta vez no 4.º Gr Combate. Como me dizia amavelmente o meu capitão Brito - era um gentleman! - , eu era o peão das nicas, o tapa-buracas, o suplente, o que substituía os camaradas furriéis doentes, convalescentes, desenfiados ou em férias... Não sei por que carga de água é que os psicotécnicos me disseram que eu era bom para apontador de armas pesadas de infantaria. Como a CCAÇ 12 era uma companhia de intervenção, não tendo armas pesadas, eu tornei-me um polivalente, um pau para toda a obra... (LG)

Foto da autoria de Humberto Reis (ex-fur mil op esp, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71). Tem sido imensa e despudoradamente  "pirateada" por aí, nas redes sociais, em livros, etc., sem referência ao autor e ao nosso blogue.

Foto:  © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Fernando de Sousa Ribeiro (que integra a nossa Tabanca Grande desde 11/11/2018; foi alf mil, CCaç 3535 / BCaç 3880, Angola, 1972 / 74; tem 27 referências no nosso blogue): 

Data - 9 abr 2023 17:45
Assunto - Atravessando uma bolanha em... Angola
 
Boa tarde, Luis

Espero que tenhas tido uma boa Páscoa, apesar da morte recente da tua cunhada, que muito lamento.

Há um blog de um jornalista angolano, que por sinal é bastante tendencioso. O jornalista chama-se Luciano Canhanga, usa o pseudónimo Soberano Kanyanga, e o seu blog chama-se "Mesu Majikuka", que significa "Olhos Abertos" em quimbundo. 

Eu visito ocasionalmente o blog dele e, na última espreitadela que fiz, dei de caras com a fotografia do teu grupo de combate atravessando uma bolanha, como se a fotografia tivesse sido feita no Cuando Cubango no tempo da guerra civil angolana!

Aparentemente, a fotografia foi publicada no Jornal de Angola para ilustrar uma crónica do dito jornalista. A crónica também tem muito que se lhe diga, mas não é isso que agora me ocupa. O que me ocupa é o recorte do jornal, que pode ser visto no seguinte post:

http://mesumajikuka.blogspot.com/2023/04/kwitu-kwanavale-e-o-meu-representante.html




Folha de rosto do blogue Mesu Majikuka, e do poste de sábado, abril 08, 2023 > Kwitu Kwanavale e o meu representante. A foto que aqui se reproduz (e que é por sua vez de um artigo publicado pelo autor no "Jornal de Angola", em 2 de abril de 2023) foi tirada na Guiné, em 2 ou 3 de janeiro de 1970: retrata a atravessia de uma lala ou bolanha, de forças da CCAÇ 12, a caminho da península de Galo Corubal - Satecuta, na margem direita do Rio Corubal (Op Navalha Polida). Os créditos fotográficos são de atribuir a Humberto Reis e ao blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2006).

Aposto que não deste consentimento para a publicação da fotografia num jornal diário em Angola.

A sua publicação em Angola engana facilmente os incautos, pois, por um lado, o Cuando Cubango tem vastíssimas áreas alagadiças e, por outro, os uniformes camuflados usados pelas Forças Armadas Angolanas eram (ainda serão?) iguaizinhos aos que nós próprios usávamos. As FAA devem tê-los encomendado às OGFE em Portugal.

Quanto à fotografia propriamente dita, apetecia-me tecer algumas considerações, pois não gosto de alguns aspetos que vejo nela, mas isso agora não vem ao caso. Limito-me a dizer-te que me parece que ela documenta o que não se devia fazer numa situação como aquela.

Desculpa a minha sinceridade e aceita os meus votos de continuação de Boa Páscoa

Fernando de Sousa Ribeiro

2. Comentário de LG:

Obrigado, Fernando, pelo teu cuidado. Já regressei ao Sul, depois de quatro semanas no Norte a que uma parte de mim também pertence. (Aliás, basta ver o blogue A Nossa Quinta de Candoz, de que sou um dos editores.)

Quanto ao uso (e abuso) da tal foto pelo "Jornal de Angola"... Devo começar por esclarecer que: 

(i) a foto não é minha, é do meu amigo, camarada  e vizinho (de Alfragide) Humberto Reis, colaborador permanente do nosso blogue, ex-fur mil op esp, 2.º Gr Comb /  CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71);  

(ii) eu, ex-fur mil arm pes inf, nunca tive pelotão distribuído, mas ao longo da comissáo andei mais com o 4.º Gr Comb e foi com eles que apanhei mais porrada;

(iii) concordo contigo: a malta do 2.º pelotão "fica mal na fotografia", ao atravessar aquela lala ou bolanha, no subsetor do Xitole, no decurso da Op Navalha Polida (2 e 3 de janeiro de 1970): serve para se mostrar o que não se deve fazer, num situação de guerra, uma morteirada em cima da malta e ia tudo ao charco...

Mas adiante: fizeste bem alertar-nos para mais um uso indevido desta foto... Não é o primeiro nem será o último. A foto da autoria de Humberto Reis, tem sido imensa e despudoradamente  "pirateada" por aí, nas redes sociais, em livros, em jornais, etc., sem referência ao autor e ao nosso blogue. 

Pessoalmente, não sei o que fazer mais para além de, mais uma vez, lembrar uma das dez regras básicas do nosso blogue, o respeito pela propriedade intelectual e pelos direitos de autor... É nossa preocupação habitual, na edição dos postes, de fazer a devida atribuição dos créditos fotográficos....

Procuramos cumprir e fazer cumprir o princípio da defesa (e garantia) da propriedade intelectual dos conteúdos aqui inseridos (texto, imagem, vídeo, áudio...). Gostamos de partilhar os nossos conteúdos, mas dentro da mais elementar das regras: qualquer outra utilização desses conteúdos, fora do propósito do blogue (ou da nossa página no Facebook), necessita de autorização prévia dos autores e dos editores (por ex., publicação em livro, jornal ou revista,  programa de televisão),,,

S(c)em (mais) comentários (*)...
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quinta-feira, 13 de abril de 2023

Guiné 61/74 - P24220: Armamento do PAIGC (2): Ainda as viaturas blindadas BRDM-2: em finais de 1973/princípios de 1974, o PAIGC teria apenas 2 viaturas blindadas...



Infografia:  2ª Rep / CCFAG, s/d, citada por Nuno Rubim (2009)

"Viatura blindada BRDM-2, utilizada pelo PAIGC em meados de 1973 no sul da Guiné" (ou serua em Bedanda, em 31/3/1974 ?)

 Desenho e especificações...  "Cópia de um documento emanado pela 2ª Rep / Com-Chefe Guiné sobre os BRDM-2. Também existem no AHM referências ao modelo 1. Há uma carta do A. Cabral para o Pedro Pires (Dez 72) a 'sugerir' a utilização dos blindados nos ataques a alguns dos nossos aquartelamentos fronteiriços no Sul. Na Net encontrarás farta documentação sobre essas viaturas". (*)

Cortesia de Nuno Rubim (2009)


1. Todos os nossos leitores (com destaque para os antigos combatentes da Guiné) têm direito a saber qual o armamento usado na guerra, quer pelas NT quer pelo PAIGC... 

Começámos uma nova série, com o armamento do PAIGC (**). O primeiro poste foi sobre as "polémicas viaturas blindadas BRDM-2" que terão sido usadas em 1974 (sem sucesso, e desastradamente, diga-se de passagem) contra Copá (em 7/1/1974) e contra Bedanda (31/3/1974).

Sobre as BRDM-2 temos uma escassa dezena de referências, a primeira das quais no poste P5630 (**). É desse poste que retiramos a infografia acima publicada, com uma BRDM-2, vista de perfil, e com informação detalhada sobre a estrutura do veículo, que pesava 7,7 toneladas.

Ficha técnica, segundo a Wikipédia (em portugès):

O BRDM-2 (em russo: Боевая Разведывательная Дозорная Машина, ou Boyevaya Razvedyvatelnaya Dozornaya Mashina, traduzido "Veículo de combate de patrulha/reconhecimento") é um blindado anfíbio desenvolvido pela União Soviética. Ele também é reconhecido pelas designações BTR-40PB, BTR-40P-2 e GAZ 41-08. Este veículo foi amplamente exportado e é usado até os dias atuais por quase quarenta países. Ele é uma versão melhorada do BRDM-1, atualizado com armamentos mais avançados e capacidade anfíbia.

Tipo: Blindado de reconhecimento
Local de origem  União Soviética / Rússia
História operacional:  Em serviço: de 1962 ao presente.
Histórico de produção:  Criador V. K. Rubtsov | Fabricante GAZ, em Níjni Novgorod | Período de produção: 1962–1989 | Quantidade produzida: 7 200.
Especificações: Peso 7,7 toneladas |  Comprimento: 5,75 m | Largura: 2,37 m | Altura:2,31 m | Tripulação: 4 | Armamento primário:  Metralhadora pesada KPV de 14,5 mm | Armamento secundário: Metralhadora coaxial: PKT, de 7.62 mm | Velocidade; 100 km/h (na estrada) | 10 km/h (na água).

Outros dados. da Wikipedia (em inglês):  depósito de combustível (gasolima): 290 litros. Raio de ação: 750 km.  De qualquer modo, as blindagens destas viaturas (10 mm, no máximo) protegiam-nas apenas das balas das armas automáticas ligeiras, mas não das metralhadoras pesadas e muito menos do canhão s/r ou do LGFog, para não falar da artilharia. 

2. Segundo o o nosso Serviço de Informações Militares (SIM), no final do ano de 1972, o PAIGCG (com um efetivo de 7 mil combatentes, sendo 4100 do Exército e 2900 das milícias populares), teria já à sua disposição, entre outro material: 

(i) viaturas anfíbias PT-76 e BRT 40-P (designação por que também era conhecida a BRMD-1);

 (ii) viaturas blindadas BTR-152

e (iii) carros de combate T-34 (CECA, 2015, pp. 123/124) (***)

No final de 1973, e segundo a mesma fonte ( SIM), o PAIG disporia dos seguintes meios, embora aguardasse o fornecimento, por parte da URSS, de mais equipamento de guerra  (CECA, 2015, pp. 247/248): 
  • 73 bigrupos;
  • 15 grupos;
  • 13 batarias de artilharia;
  • 9 grupos de foguetões:
  • 2 grupos de artilharia convencional;
  • 10 grupos de artilharioa antiaérea (mísseis Strela);
  • 17 grupos de sapadores;
  • 3 bigrupos de fuzileiros;
  • 2 viaturas blindadas;
  • 1 grupo de canhões sem recuo:
  • 7 grupos especiais de LGFog.

No TO da Guiné, as primeiras viaturas blindadas só aparecem referenciadas  em 31/3/1974, em ataque contra a guarnição e povoação de Bedanda (CECA, 2015, pág. 494/49), não havendo referência à sua utilizaçáo em Copá, subsetor de Bajocunda (7/1/1974), certamente por falha na documentação consultada. (O destacamento de Copá, defendido por escasso número  de militares e milicias seria retirado em 12 fevereiro de 1974.). 

O alf mil António Rodrigues, da CCAÇ 5,  e que estava em Bedanda em 31/3/1974, fala em BTR-152. (Vive hoje em Vila Real, ver aqui o seu comentário, com data de 25/11/2012, ao poste P9375).

Temos  4 dezenas de referências a Copá no nosso blogue. Não há dúvidas de que no ataque a Copá, em 7/1/1974,  o PAIGC utilizou duas viaturas blindadas ("tanques anfíbios", diz o Bobo Keita ou Queita), mas não é possível confirmar que fossem BRDM-2. É mais provável que fosse a versão anterior, a BRMD-1 , dispondo as Guiné-Conacri de 10 viaturas dessas.(****).  

Para estes países (e movimentos, como o PAIGC), pobres, sem divisas para pagar,  a URSS mandava a "sucata" bélica... O "internacionalismo proletário" na época tinha muito de "blá-blá"...  O Marx e o Engels hoje teriam que reescrever o manifesto do partido comunista (1848): "Proletários de todo o mundo, uni-vos"... Sobrou o grande cinismo da(s) ideologia(s), política(s) ou religiosa(s)...
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Notas do editor:



(***) Fonte: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico- Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 6.º Volume - Aspectos da Actividade Operacional: Tomo II - Guiné - Livro III (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2015).

quarta-feira, 12 de abril de 2023

Guiné 61/74 - P24219: Historiografia da presença portuguesa em África (363): Procurar saber um pouco mais sobre a Casa Gouveia (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 26 de Julho de 2022:

Queridos amigos,
Mais vale tarde do que nunca, abre-se finalmente uma janela para se chegar a essa sociedade comercial que era a mais importante da Guiné colonial, a Casa Gouveia. Fazendo uma declaração de interesses, não sei quantos dias e quantas noites estive em Mato de Cão a ver passar em duas direções estas embarcações, por vezes ao nível de comboio, e não poucas vezes sob a custódia de uma embarcação da armada, designadamente do tipo LDM. Bati a várias portas, recebi muita afabilidade e zero resultados. E, imprevistamente, depois de mais uma tentativa junto do Ministério da Economia (não esquecer que a CUF foi nacionalizada em 11 de março de 1975, dando origem à Quimigal, processo da competência daquele departamento ministerial), sou informado de um arquivo no Barreiro que devo contatar um responsável da Fundação Amélia de Mello, por sinal alguém que ensinou na Faculdade de Direito de Bissau e que esteve à frente da gestão dos Armazéns do Povo. Abrem-se as esperanças de vir ver a papelada da Casa Gouveia, há sérias dúvidas quanto à fartura da documentação. Mas saí deste agradável encontro com uns bons quilos de papel e comecei por este belo trabalho de Maria Eugénia Mata. Digo sem prosápia que a sorte algumas vezes favorece os ousados, ou aqueles que não esmorecem.

Um abraço do
Mário



Procurar saber um pouco mais sobre a Casa Gouveia (1)

Mário Beja Santos

Há anos que procuro saber por onde andam os arquivos da Casa Gouveia, a principal empresa comercial da Guiné, associada à CUF. Finalmente abriu-se-me uma porta, há um arquivo no Barreiro, indicaram-me o nome de alguém que durante anos na Guiné estivera na gestão dos Armazéns do Povo, depois da libertação para eles convergiram o património da Casa Gouveia, Sociedade Comercial Ultramarina e Barbosa e Comandita, hoje assunto passado, tal como outros grandes empreendimentos, caiu na água levando ao tempo mais de 5 mil trabalhadores para o desemprego. Recebido com enorme afabilidade na Fundação Amélia de Mello, tenho a promessa de uma viagem ao Barreiro, ver o que há e não há. Entretanto, recebi uns bons quilos de publicações, comecei por este título Globalização em Português, atas do simpósio que se realizou na Academia das Ciências em Lisboa, Princípia, 2021. 

Chamou-me à atenção a comunicação de Maria Eugénia Mata com o título "Casa Gouvêa: Monetarização e Integração da Guiné na Economia Mundial". Vale a pena aqui respigar alguns dados pertinentes que permitem desvelar o poder deste empreendimento.

A investigadora dá inicialmente o quadro da Guiné até 1879, data em que a colónia se desafetou de Cabo Verde. Em jeito de síntese, observa a autora que:
“A colonização portuguesa ofereceu uma língua oficial comum, o português, que originou o crioulo, e uma moeda comum, o real até 1911, e o escudo de 1911 até à independência. Todos estes elementos acentuaram a perda da identidade étnica das populações da Guiné, em favor de uma identidade cultural nova, crioula, sobretudo urbana, não necessariamente apoiante da situação colonial prevalecente". E destaca uma figura que a historiografia ignora, Manuel António Martins, capitão de uma sumaca que fazia a ligação de Lisboa aos Açores e que se fixou como comerciante no final do século XVIII em Cabo Verde. Martins esclarece que o comércio de Bissau neste tempo tinha 400 fogos e 5 mil almas, estava na mão de comerciantes estrangeiros: “a ilha de Bissau tem dois comerciantes, e tudo mais são caixeiros de negociantes estrangeiros que para ali negoceiam, e se forem contemplados nestes números os dois primeiros não se errará muito”.

Escreverá em 1831 um relatório sobre a Guiné e sobre a forma como se deveria reorganizar a colónia. “Uma hipótese era o reforço militar com 300 a 400 homens, e a deportação de 8 mil homens das tribos de Papel (régulos e seus descendentes em redor de Bissau) para Cabo Verde. A alternativa seria a criação de uma companhia com avultado capital para o comércio com a Guiné, para substituir ao longo do rio Nunes as feitorias de diferentes nações que ali operavam, por acordo secreto com o régulo da entrada neste rio. Visionariamente, a companhia (que só veio a ter paralelo com a Casa Gouveia de 1921 em diante) sustentaria financeiramente as despesas locais, diminuindo os gastos públicos, pagando impostos sobre a exportação, que ajudariam a fazenda pública.”

Há, pois, companhias estrangeiras e autora revela que no caso da Guiné duas companhias puderam ser identificadas no Arquivo Histórico do Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria: a The British Caima Timber Estate Wood Company e a Compagnie de la Guinée Portugaise, de Bruxelas, fundada pelo marquês de Livery, que se propunha a atividades agrícolas e comerciais. É neste contexto que são referidos outros comerciantes, caso de António Silva Gouveia, que terá chegado a Bolama em 1879 e um conjunto de casas comerciais, que terão curta ou média existência. O Governo português compreende que tem de dar apoio a iniciativas nacionais, vão geógrafos para mapear as colónias e é neste contexto que aparecem referências à CUF, que tinha por alvo principal a compra de sementes oleaginosas e que trabalhava também com saboarias. Um elemento enviado pelo Governo para identificar o potencial agrícola e comercial da colónia, tenente Manuel César d’Oliveira irá referir o nome da CUF, esta empresa fora fundada em 1865. Importa aqui anotar que a autora falar sempre em Gouvêa, pois é este o nome que consta escrito no seu passaporte do Governo Civil de Lisboa, ele era natural de Pinhel, e aparece profissionalmente como importador-exportador.

Entra agora em cena o BNU, teve contrato em finais de novembro de 1901 para abrir na Guiné uma primeira agência em Bolama, previa-se outra em Bissau, só acontecerá em 1917. Pretendo aqui relevar um dado dos meus trabalhos quando andei no Arquivo Histórico da BNU, a documentação inicial da delegação em Bolama é praticamente inexistente, a explicação que me deram os arquivistas era de que o desempenho do BNU era efetuado pela Casa Gouveia em Bolama. Ainda guardo a expetativa de vir a folhear esta documentação…

A investigadora dá-nos o contexto de conflitos interétnicos que se vivia na Guiné desde a década de 1880, alude às concessões de terras a colonos, à exigência que a esses se vai pôr de apresentar os documentos justificativos da posse desses terrenos. Observa igualmente que, “em 1917, a administração portuguesa tinha em paz apenas o concelho de Bolama e o de Bissau, onde abriu a segunda agência do BNU na Guiné, em 1917. Tudo mais eram circunscrições militares”.

As notas bancárias chegam com o BNU, portanto. Ao princípio, houve imensos problemas, pois os comerciantes estavam habituados a fazer as transações com moedas de prata. E vem uma nota curiosa: “Em 1915, a agência de Bolama pediu à sede para adotarem cores variadas consoante os diferentes valores das notas, para tornar mais fácil o seu uso entre pessoas analfabetas.”

Se a circulação fiduciária se revelava difícil, não menos se revelou a difusão e a adoção do sistema métrico, os comerciantes usavam o palmo e a braçada como medidas para o têxtil. Mas as casas comerciais aceitaram sem nenhuma dificuldade o nome sistema de peso e medidas.

António Silva Gouveia foi eleito deputado à Câmara dos Deputados como representante da Guiné, de 1911 a 1915, e a autora observa que ele ali defendeu menores impostos sobre a exportação do amendoim, reclamou cais acostáveis para Bolama e Bissau e preços que permitissem dar sustentabilidade à economia da Guiné. Seguem-se outros dados importantes:
“Em 1921, militarmente pacificada a Guiné, a sua casa comercial A. S. Gouvêa, de comercialização de coconote, amendoim e óleo de palma, foi transformada numa sociedade. Gouvêa, nascido em 1852, morador na que é hoje a rua Victor Cordon, 19, 2.º andar, em Lisboa, e a Sociedade Geral de Comércio, Indústria e Transportes, Lda., afiliada da Companhia União Fabril, representada por Alfredo da Silva, constituíram a 19 de março de 1921 a A. S. Gouvêa, sociedade por quotas, por tempo indeterminado. Eram objetivos da sociedade a industrialização e o comércio de produtos coloniais, com exceção do negócio bancário.”

A sociedade interessava a Alfredo da Silva pelas matérias-primas. A frota da sociedade assegurava as ligações marítimas para o comércio bilateral de mercadorias e o transporte de passageiros em 3 classes de confortos e de preços, de acordo com a localização dos camarotes. O que os documentos nos dizem é que os navios da sociedade levavam para a Guiné produtos alimentares exportados pela metrópole, como azeite e azeitonas, os diferentes tipos de vinhos, batata, leite em pó e condensado, frutas e frescos e outros elementos dos hábitos alimentares portugueses, como a sardinha, o bacalhau, classificados como géneros de primeira necessidade.

(continua)


Antigo armazém da Casa Gouveia em Bolama
Casa Gouveia em Bissau
Instalações da então Casa Gouveia no Ilhéu do Rei
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Nota do editor

Último poste da série de 5 DE ABRIL DE 2023 > Guiné 61/74 - P24199: Historiografia da presença portuguesa em África (362): Discurso político de Castro Fernandes, Bissau, 1960, Comemorações Henriquinas (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24218: As nossas geografias emocionais (3): Fá Mandinga, o "Bairro da Paz", ao tempo do Pel Rec Daimler 1113 e do BCAÇ 1888 (1966/68)... Nunca foi atacado, uma das coroas de glória do "alfero Cabral"... Nem aqui viveu e trabalhou o outro Cabral, engenheiro agrónomo... Foi aqui que se formou a 1ª CCmds Africanos.

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Fá (Mandinga) > 1968 > Aqui esteve instalado, de agosto a novembro de 1966, o Pel Rec Daimler 1133 (Fá Mandinga e Bambadinca, 1966/68), comandasdo pel alf mil cav Carlos Manuel de Sá Ramalho; estava então adido ao BCAÇ 1888 e depois ao BART 1904.

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Fá (Mandinga) >  1968 >  Outra perspetiva do "Bairro da Paz"... Fotos do álbum do Jaime Machado, ex-alf mil cav, Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, 1968/70) (*)

Fotos (e legendas): © Jaime Machado (2008).Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Fá (Mandinga) > 1968 > CART 2339 (1968/69) > Parada do quartel: o grupo de combate do alf mil Torcato Mendonça (1944-2021), cerimónia do arriar da bandeira... Os "Viriatos" estiveram aqui três meses (de fevereiro a maio de 1968) antes de partirem para Mansambo para ali construirem um quartel, novo, de raiz. (**)

Foto (e legenda): © Torcato Mendonça (2009). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné > Zona Leste > Sector L1 >  Bambadinca > 2.º semestre de 1970 > Velhinhos e periquitos > A rapaziada, à civil, em Santa Helena, nos arredores de Bambadinca, a caminho do bife com batatas fritas da Transmontana e das bajudas de Bafatá. Malta da CCAÇ 12, na sua maioria, e da CCS do BART 2917 (1970/72). Eis a legenda do fotógrafo:

(...) "Passeio dominical à Transmontana, em Bafatá, para ir comer o célebre bife com batatas fritas, pois batatas era um luxo na messe. Reconhecem-se na 2.ª fila da esquerda para a direita: o 1.º não me lembro, o 2.º, de camisola azul, é o Bilocas da Cooperativa de Riba d'Ave, ex-alf mil dos reabastecimentos do BART 2917 [o Abílio Machado, de contabilidade e adminmistração]; o 3.º, fardado, era o alf mil de, julgo, transmissões do BART 2917; e o condutor era o Rocha da CCAÇ 12.

"Na 1.ª fila são todos da CCAÇ 12, a começar pelo José Luís Vieira de Sousa, furriel miliciano, o Zé da Ilha, tocador de viola, baladeiro, hoje mediador de seguros no Funchal; a seguir, o 2.º é o Pedrosa, que era o fur mil mecânico (periquito que foi substituir o nosso 1.º mecânico que era o Joaquim Moreira Gomes, do Porto e que quando cá veio de férias em 69 arranjou uma cunha no Hospital Militar lá no Porto e já não voltou à Guiné); em 3.º temos o Arlindo Teixeira Roda, fur mil, natural dos Pousos-Leiria, mas agora a residir em Setúbal onde dá, ou já deu, aulas (chmávamos-lhe o Tê Rodas); o 4.º é este ilustre vosso servo com 23 ou 24 anos (que saudades!) e vestido de verde, eu que até sou simpatizante, de meia tigela mas sou, do SLB; a seguir em 5.º é o António Manuel Martins Branquinho
 [1947-2103], fur mil. alentejano de Évora (trabalhou no Centro Regional de Segurança Social de Évora); e por último o alf mil José António Gonçalves Rodrigues, já falecido, e que trabalhava no Centro Regional de Segurança Social, aqui em Lisboa na Av Afonso Costa no Areeiro"(...)
 

Guiné >  Região Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Fá Mandinga > 1970 >  Era aqui a sede do Pel Caç Nat 63 e da 1.ª Companhia de Comandos Africanos... Diversos furriéis e alferes da CCAÇ 12 e da CCS / BART 2917, de visita a Fá Mandinga (e possivelmente a caminho de Bafatá para almoçar, em traje domingueiro, em meados de 1970: reconheço do lado direito, o alf Machado (CCS) e o alf Abel Maria Rodrigues (CCAÇ 12). Do lado esquerdo, também à civil, de camisola vermelha, o fur António Branquinho 
[1947-2013] e de camisola verde o fur Humberto Reis, ambos  da CCAÇ 12.

Fotos (e legendas): © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados 
[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > Carta de Bambadinca (1955), escala 1/50 mil (1955) > Posição relativa de Fá Mandinga, a escassa meia dúzia de quilómetros de Bambadinca, na direção de Bafatá. Ficava na margem esquerda do rio Geba Estreito. Foi, durante anos, sede de batalhões e também Centro de Instrução Militar: nele foi formada, por exemplo, a 1.ª CCmds Africanos.


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá >  Setor L1 (Bambadinca) > Carta de Bambadinca (1955) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Nhabijões, Mero e Santa Helena, três tabancas consideradas, desde o início da guerra, como estando "sob duplo controlo", ou seja, com população (maioritariamente balanta) que tinha parentes no "mato" (zona controlada pelo PAIGC) e que recebiam "visitas do mato"...

Em Finete, Missirá e Fá Mandinga havia destacamentos das NT. Entre Bambadinca e Fá Mandinga ficava Ponta Brandão. Havia aqui uma destilaria, de cana de acúcar... Bambadinca era sede de posto administrativo e tinha correios, telégrafo e telefone, além de um posto sanitário ("missão do Sono")... Era, além disso, um importante porto fluvial. Era banhado pelo caprichoso Rio Geba (ou Xaianga), temível em Mato Cão... Até 1968 as LDG da Marinha chegavam até lá... Depois, já em 1969, ficavam-se pelo Xime que passou a ter "porto fluvial" (na realidade, um cais acostável)... De Bambadinca a Bafatá (cerca de 30 km) a estrada era já alcatroada... no tempo da CCAÇ 12  (1969/71).

Infografias: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014).


1. Esta série é dedicada à(s) "Memória(s) dos lugares"... Logo no princípio do nosso blogue, tínhamos, na badana (ou coluna estática) do lado esquerdo uma listagem (com links) de lugares por onde passámos, documentados com fotografias e infografias...

Ia já em 24 topónimos, mas faltavam muitos mais... Começámos a sua recuperação com o topónimo Bafatá, e depois Bambadinca.(***)

As imagens estavam originalmente alojadas na página pessoal do nosso editor, Saúde e Trabalho - Luís Graça, no servidor da ENSP/NOVA. Foi descontinuada, em 2022, com o redesenho da página oficial da instituição. Estamos agora a recuperá-la através das capturas feitas pelo Arquivo.pt, bem como dos ficheiros originais. É uma tarefa morosa e ingrata...

Luís Graça > Subsídios para a história da guerra colonial > Guiné > Antologia, preservada pelo Arquivo.pt

E vamos aproveitar para refrescar e atualizar os nossos álbuns fotográficos, por topónimos da Guiné (se não todos, pelo menos os principais). Afinal, trata-se de não perder  as nossas "geografias emocionais". Muitas das fotos que vamos publicando estão dispersas. São de diferentes autores e anos... É agora a altura de as tentar reunir.


2. Fá Mandinga ficava na margem esquerda do rio Geba Estreito. Durante anos foi sede de batalhão (ou de subunidades de diversas armas: infantaria, cavalaria, artilharia), sucedendo-lhe Bambadinca (como sede do Sector L1). 

E, mais tarde, foi centro de instrução militar: no 1.º semestre de 1970, foi lá que se formou a 1.ª CCmds Africanos, comandada pelo cap graduado 'comando' João Bacar Jaló. Foi de lá  que partiu, a 1.ª CCmds Africanos, para a aquela que viria a ser mais tarde, em 22 de novembro de 1970, a Operação Mar Verde (invasão anfíbia de Conacri). E a seguir à 1.ª, vieram lá formar-se as 2.ª e 3.ª CCmds Africanos, com as quais se constituiu mais tarde o Batalhão de Comandos Africanos.

Também foi sede do Pel Caç Nat 63, ao tempo do  nosso glorioso "alfero Cabral" (1969/70), antes de ser transferido para Missirá em meados de 1970. 

Aparentemente  Fá (Mandinga, havia outra, Balanta, perto de Santa Helena) teve um papel discreto na guerra... Pertencia ao regulado de Badora. Ao que parece, nunca foi atacada ou flagelada, contrariamente a Missirá (que já pertencia ao regulado do Cuor).

Durante muito tempo esteve associada, erradamente, ao nome do engº agrónomo Amílcar Cabral. De facto, a estação agrária experimental de Fá tinha boas instalações, entretanto desafetadas com o início da guerra. Mas Amílcar Cabral nunca ali trabalhou, e muito menos lá viveu. Ele e a sua primeira esposa, portuguesa, Maria Helena Rodrigues, silvicultora, viveram e trabalharam na estação agrária experimental de Pessubé, nas imediações de Bissau, entre setembro de 1952 e março de 1955, como recordou o nosso amigo Pepito, também ele engenheiro agrónomo (1949-2014) (****)

Também houve aqui, em tempos (1947), uma moderna serração mecânica, do empresário Fausto da Silva Teixeira, antigo deportado político.


Guiné - Bissau > Regiáo autónoma de Bissau > Pessubé >2013 >  Fotografia atual da casa onde Cabral e Maria Helena viveram na Granja Experimental de Pessubé, de 400 hectares.  Num notável artigo sobre o Amíllcar Cabral enquanto engenheiro agrónomo na Guiné, o nosso amigo Pepito (1949-2014) escreveu:

(...)  Ele e Maria Helena instalam-se na casa da Granja Experimental do Pessubé, atribuída ao seu diretor, na altura situada muito longe do centro de Bissau, num bairro popular da periferia e numa zona isolada e de difícil acesso. A Granja dispunha de cerca de 400 ha onde existia grande número de essências florestais e um pequeno número avulso de algumas espécies frutícolas, como por exemplo cacaueiros.

Nesta altura, quando começa a exercer a sua profissão, Amílcar está convencido de que o processo de independência decorrerá de forma pacífica, nos moldes como se virá a processar nos outros países africanos, pelo que decide começar a construção do novo edifício conceptual agrícola que iria substituir gradualmente o modelo colonial existente.

A Granja de Pessubé vai ser o ponto de partida, para começar a pôr em prática uma estratégia, em três vertentes principais, que ele considera importantes para o desenvolvimento da agricultura guineense- (...) (****)

Foto (e legenda): © Carlos Schwarz (2013). Todos os direitos reservados, [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Unidades que passaram por Fá Mandinga 

Unidade
Origem
Chegada
Saida
Destino
BCaç  697 -   CCS
RI 15
Jul 64
Abr 66
Fim comissão
CCaç   674
RI 16
Jul 64
Jul 64
Fajonquito
CCav    678
RC 7
Set 64
Jan 65
Ponta do Inglês
Pel Rec  Daimler 809
RC 6
Nov 64
Jan 66
Dulombi
BCaç 1856 - CCaç 1417
RI 1
Set 65
Mai 66
Bajocunda
Pel Mort 1028
RI 2
Set 65
Nov 66
Bambadinca
BCaç 1888 -  CCS
RI 1
Abr 66
Nov 66
Bambadinca
BCav  705 - CCav   702
RC 7
Abr 66
Mai 66
Fim comissão
BCaç 1887 - CCaç 1547
RI 1
Mai 66
Set 66
Bula
Pel Rec Daimler 1133
RC 6
Ago 66
Out 66
Bambadinca
BCaç 1887 - CCaç 1546
RI 1
Out 66
Dez 66
Bissau
BCaç 1888 - CCaç 1551
RI 1
Nov 66
Jan 67
Xitole
BCaç  1894 - CCaç 1589
RI 15
Dez 66
Abr 67
Madina do Boé
CCaç   817
BC 10
Jan 67
Fev 67
Fim comissão
CCaç   818
BC 10
Jan 67
Fev 67
Fim comissão
CArt  1661
RAC
Fev 67
Abr 67
Enxalé
BCaç 1912 – Ccaç 1685
RI 16
Abr 67
Out 67
Fajonquito
CCaç 1426
RI 16
Abr 67
Mai 67
Fim comissão
CCaç 1439
BII 19
Abr 67
Mai 67
Fim comissão
BArt 1913 - CArt 1689
RAP 2
Mai 67
Jul 67
Catió
BArt  1904 - CArt 1646
RAP 2
Ago 67
Jan 68
Xitole
BArt  1904 - CArt 1646
RAP 2
Set 67
Out 69
Fim comissão
BCaç 1933 - CCaç 1790
RI 15
Out 67
Jan 68
Madina do Boé
BCaç 1888 - CCaç 1551
RI 1
Nov 67
Jan 68
Fim comissão
CArt  2338
RAL 3
Jan 68
Abr 68
Nova Lamego
CArt  2339
RAL 3
Fev 68
Mai 68
Mansambo
CCaç 2383
RI 2
Mai 68
Jul 68
Nova Lamego
CArt  2413
RAP 2
Ago 68
Set 68
Xitole
BCaç 2852 - CCaç 2405
RI 2
Dez 68
Dez 68
Galomaro
BCaç 2851 – Ccaç 2403
RI 1
Fev 69
Abr 69
Mansabá
1ª CCmds Africana
CTIG
Jul 69
Jul 69
Bajocunda
1ª  CCmds Africana
CTIG
Set 70
Jul 71
Brá
Pel Caç Nat  52
CTIG
Jan 71
Jul 71
Missirá
2ª CCmds Africana
CTIG
Abr71
Out 71
Brá
3ª CCmds Africana
CTIG
Abr 72
Set 74
Extinção  Unidade
Pel Caç Nat   52
CTIG
Abr 72
Jul 72
Ponte R Unduma
Pel Caç Nat 63
CTIG
Jul 69
Ago 74
Desativada
BArt 3873 - CArt 3493
RAP 2
Dez 73
Jan 74
Bissau

Fonte: José Martins (2014) (com correções do nosso saudoso Jorge Cabral: (i) O Pel Caç Nat 63 foi para lá em julho de 1969; e  (ii) a 1ª CCmds Africanos chegou em fevereiro de 1970.


3. Estranhamente não temos muitas fotos de Fá Mandinga, a não ser as que se salvaram do álbum do Jorge Cabral (1944-2019). Mas temos cerca de 150 referências a este topónimo.

Em contrapartida, temos alguns descrições do aquartelamento. Escolhemos três:

(i) Armandino Alves [1944-2014] , ex-1.º Cabo Aux Enf,
CCAÇ 1589 (1966/68)

(...) Sobre o Aquartelamento de Fá Mandinga, ainda recordo que:

Em Dezembro de 1966, a minha CCAÇ 1589, recebeu guia de marcha para Fá Mandinga.  Embarcámos em Bissau numa LDG em direcção a Bambadinca e daí seguimos em viaturas, pela estrada em terra batida, que estava a ser aberta pelo Batalhão de Engenharia, em direcção a Bafatá [mais tarde alargada e asfaltada, no 2º semestre de 1967].

A certa altura virámos à esquerda e entrámos na picada que nos ia levar a Fá. Era tão estreita que mal lá cabiam uma GMC ou uma Mercedes. Passámos o Aquartelamento de Fá de Cima e começámos uma íngreme descida até Fá de Baixo.

O Aquartelamento era constituído por 4 grandes barracões, dois de cada lado, com uma grande parada no meio. À volta era só capim, que era preciso desbastar para podermos ver mais longe e evitar surpresas “desagradáveis”, embora o pessoal de Fá de Cima nos protegesse pois, devido à sua posição no cimo da colina, viam muito mais longe. Mas, pelo que eu sei, Fá nunca foi atacada.

A partir daqui fizemos várias operações, com outras Companhias que tinham a sua base em Porto Gole. A maior delas foi à mata do Saraoul, durou 10 dias e foi feita a nível de Batalhão.

(...) Pouco tempo depois recebemos guia de marcha para Madina do Boé.

Quanto ao quartel de Fá, lembro-me que o 1.º barracão se situava do lado direito de quem entrava no quartel e servia de caserna dos praças e quartos dos sargentos, e o 2.º destinava-se aos Comandantes e, creio que também, a camarata dos oficiais.

Nas traseiras do 1.º barracão estava instalado o “meu” Posto de Socorros e o reboque com o material de Campanha do SS, que nunca foi usado. O 2.º pavilhão, do lado esquerdo, só estava meio ocupado por nós, pois a outra metade estava vedada com rede e tinha guardado o material, para a fazenda do Amílcar Cabral [informação errónea, já que o eng agr Amilcar Cabral nunca trabalhou aqui, mas sim na Granja de Pessubé, a norte de Bissau (LG)].

Não me lembro onde ficavam a cozinha nem as oficinas auto. (...) (*****)


(ii) Torcato Mendonça  [1944-2021], ex-alf mil art, CART 2338 
(Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69)

(...) Finalmente chegaram. Já a tarde ia alta e Fá Mandinga aí estava. Não parecia um aquartelamento. A entrada tinha a cancela com arame farpado, uma leve protecção para o militar da porta de armas e, enquanto rolavam aquartelamento dentro, iam aparecendo os edifícios adaptados à tropa. 

Coluna parada e ordem para desembarcarem. Deu-se então o reencontro com um alferes e um sargento que, umas semanas antes, por via aérea os tinham precedido a fim de tratarem das burocracias e instalação da Companhia Independente. Tiveram recepção calorosa e a vida, de burocracias e instalação facilitada. Breve formatura, material diverso arrumado e está a tratar da instalação. 

A ele e ao outro alferes indicaram-lhe uma “vivenda”. Já lá estava o outro alferes instalado. A dita vivenda, certamente de algum antigo colaborador de Amílcar Cabral, tinha quartos para os alferes, messe de oficiais e sargentos, cozinha e arrumos e duas ou três casas de banho. Não sabia que aquele quarto, que agora ocupava e onde ia arrumando as suas roupas, livros e demais haveres, seria o primeiro e único quarto onde viveu na Guiné. Nunca mais teve tal luxo. No futuro seria o abrigo, a morança das tabancas ou, se pernoitasse em Bambadinca ou noutra cidade, lá teria o quarto de empréstimo. Houve outros poisos mas são outras vidas… 

Bateram à porta e disse: 
- Entre. 

Abre-se a porta e aparece um africano com um sorriso alvar e franco. 
- Sou o Lali e trabalho aqui para os oficiais. Venho acender o Lion Brand. 
- Vem acender o quê? - disse. 

O Lali ria, mostrava uma caixa e disse: 
- É para os mosquitos fugirem. 

Foi a vez de ele rir. Depois de acender, perguntou se ele precisava de alguma “coisa”. 

- Sente-se aí, que quero fazer umas perguntas. 

De pronto o Lali respondeu: 
- Não posso sentar… 

Olhou-o e compreendeu.
 - Logo falamos então. 

Saiu e dirigiu-se às instalações do Grupo, apanhando o ar, ainda quente, do final da tarde, sentindo aqueles cheiros e sons tão diferentes. Estava tudo a correr bem, conversaram um pouco, viram escalas e serviços e sentia-se, os outros também certamente, deslocado naquele ambiente. Depois do jantar veio até cá fora um pouco e não tardou a regressar ao quarto. Agora é que era e “a dança ia começar”. (...) (**)


(iii) António Eduardo Ferreira (ex-1.º Cabo Condutor Auto,
CART 3493/BART 3873, Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba 
e Bissau, 1972/74) 

(...) Em Fá Mandinga, local onde passámos "uma espécie de férias”, existiam instalações de grandes dimensões em que as telhas que as cobriam, pelo menos algumas, tinha sido fabricadas na então metrópole, na região de Porto de Mós, onde existiam muitas fábricas, o que me tocava ainda mais dada a proximidade da minha terra. 

Existia também no local, um espaço em mau estado com vários motores inoperacionais que noutro tempo ali teriam funcionado para produzir energia. Um pouco mais abaixo, junto à bolanha, havia mais instalações, onde os padeiros da nossa companhia iam fazer o pão. Creio que não estou errado… foi há muito tempo...

Dizia-se que aquelas instalações pertenciam a Amílcar Cabral quando a guerra começou. Mas diziam-se tantas coisas…

Durante o tempo que lá estivemos, para além do pessoal da cozinha e os padeiros, não me lembro que mais alguém tivesse feito qualquer serviço, eu sei que não fiz assim como os outros condutores. Mas o lado psicológico não deixava ninguém tranquilo. A mais pequena coisa... levava a comportamentos nada comuns. 
(...)  (******)
___________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 5 de junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2918: História da Cavalaria em Bambadinca (1): Pel Rec Daimler 1133 (1966/68) adido ao BCAÇ 1888 e ao BART 1904 (Jaime Machado)

(**) Vd. poste de 11 de agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4809: Estórias de Mansambo II (Torcato Mendonça, CART 2339) (12): Fá Mandinga, o único sítio onde tive direito ao luxo de um quarto