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domingo, 2 de abril de 2023

Guiné 61/74 – P24187: (Ex)citações (423): Camaradas que se separaram na Guiné (José Saúde)

1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil OpEsp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.

Camaradas que se separaram na Guiné

Camaradas,

Nesta fase da vida, que já vai longa, há momentos que nos enchem de saudade e, sobretudo, de uma amizade que persiste, não obstante o tempo passado.

No pretérito dia 18 de março, 2023, celebrámos o 50º Aniversário do 1º Curso de 1973 de Operações Especiais/Ranger, em Lamego, tal como havia antes anunciado, sendo que por lá revivemos instantes que jamais esqueceremos. Foi, no fundo, um “folclore” de emoções, tendo em linha de conta os laços que nos unem de uma especialidade que nos terá dado um outro traquejo para enfrentar a guerra Colonial, ou do Ultramar.

Neste encontro, marcado pela excelência entre camaradas e alguns dos seus familiares, revi o camarada Pedro Neves, almoçámos lado a lado, tal como demonstra a fotografia, sendo que o “peso da idade” mui dignamente transformou os nossos corpos.

Aqui vos deixo um texto do meu livro “UM RANGER NA GUERRA COLONIAL – GUINÉ-BISSAU 1973/1974 MEMÓRIAS DE GABU”, Editora Colibri, Lisboa, editor Fernando Mão de Ferro


Camaradas que se separaram na Guiné
Pedro Neves foi para Binta, eu para Gabu


No QG, em Bissau, com o Pedro Neves no dia em que chegámos à Guiné – 2 agosto de 1973

Atesta a lonjura do tempo que o rótulo de uma amizade que teima em permanecer imutável entre dois velhos camaradas de armas, atravessam géneses de uma eternizada amizade e predispõem-se de forma clara a tecer comentários vantajosos entre sexagenários que se conheceram nos verdes de uma juventude irreverente, onde a sua condição militar ditou uma estima que se mantém, e manterá, indestrutível.

Reconheço que durante a minha vida militar travei inúmeros conhecimentos com camaradas e desse rol de personagens com os quais mantive contactos pessoais, nesses velhos tempos, alguns deles existem que permanecem patentes na montra das nossas excêntricas recordações.

Agora, o meu memorial para um justo debate, recai num velho camarada de nome José Pedro Neves. Um amigo com o qual partilhei momentos inolvidáveis por terras de Lamego. Fomos instruendos do 1º curso de 1973 de Operações Especiais/Ranger e instrutores do 2º curso, sendo que ambos demos instrução ao 1º grupo de cadetes, onde tivemos como aspirante Daniel Pereira, um rapaz de Cabo Verde que, tal como eu, fizemos a recruta no CISME, em Tavira.

Ditou a bolinha mágica da fortuna, ou azar, que fossemos contemplados com uma comissão na Guiné. Uma mobilização que, como era suposto, se apresentava como cruel. Tratava-se do princípio de uma nova rota militar e que usurpava maquiavélicas coincidências para dois jovens que não conseguiram ludibriar a malvadez do futuro.

Aconteceu que a ida para terras de além-mar fosse plena de coincidências. Comparecemos ao embarque no aeroporto de Figo Maduro, só que o voo foi suspenso, sendo que a viagem se protelou por vários dias. “Desarmado” e boquiaberto com a situação deparada, o Pedro, um homem de coração enorme, prontificou-se a solucionar a condição de um camarada ranger, entretanto desapossado de um lar para pausadamente aguardar pela ordem de partida.

“É pá, não tenhas problemas, ficas na minha casa”. Uf, que alívio, pensei. E lá fomos a caminho do seu lar. Os pais do Pedro receberam-me com pompa e circunstância, dormi, comi e bebi, passeámos pela capital e nada me faltou nos dias antes do embarque. Obrigado pela hospitalidade e sobretudo sensibilidade!

Partimos então para a ex-província ultramarina no dia 2 de agosto de 1973, no mesmo avião que descolou de Figo Maduro, Lisboa, e partilhámos o mesmo banco da nave, saboreámos a refeição servida a bordo, bebemos o fresco líquido (whisky) de um copo e trocámos ideias sobre a sorte que nos esperava na guerra.

Chegados ao aeroporto de Bissalanca fomos depois conduzidos para as instalações militares do QG, em Bissau. A receção foi cordial. Faltaram as passadeiras vermelhas para receber em apoteose os ilustres mancebos acabadinhos de aterrar em solo africano. Os barracões, como recordam aqueles que por lá passaram, estavam entolhados de camaradas, alguns já velhinhos na guerra e os recentes “piriquitos”. Notava-se, a olhos vistos, que os brilhos das divisas dos novos guerrilheiros impunham ordem numa hierarquia que a plebe muito bem conhecia.

As camaratas, com camas sobrepostas, sugeriam o sentimento de uma desolação profunda sobretudo para os recém-chegados. Procurámos o poiso, acomodámos a nossa bagagem e envidámos esforços no sentido de uma visita ao centro de Bissau. O objetivo era conhecer novas paragens, aliás, tal como sucedeu.

Entretanto fomos informados do horário das refeições que eram servidas no refeitório da messe de sargentos, defronte às nossas esplendidas “residências”, sendo que pelo meio das amenas cavaqueiras lá surgiam as brincadeiras do “piu-piu”. Sons jocosos emitidos pela velhada que parecia estar de partida para a metrópole depois de uma comissão que não lhes terá dado tréguas.

Lembrando essas famosas camaratas no QG, alcunhadas como o Biafra, recordo que eram uma espécie de tudo ao monte e fé em Deus. Algumas das camas eram pomposamente ornamentadas com redes mosquiteiras. A malta de passagem pelas instalações colocava as artimanhas e por lá ficavam. Serviam depois de abrigos para os novos hóspedes. O zumbido agudo noturno dos mosquitos era ensurdecedor. Ali deparamo-nos de pronto com o clamor da primeira batalha.

Chegou a hora da despedida. O Pedro lá partiu rumo a Binta e eu a Nova Lamego, Gabu. Nas minhas novas instalações reencontrei outros dois camaradas que tiraram o curso de Operações Especiais/Ranger comigo em Penude: o Rui Álvares e o Cardoso. Acontece que o Cardoso acabou por demandar para uma outra zona da Guiné, enquanto eu e o Rui permanecemos em Gabu.

Do Cardoso nunca mais tive informações. Perdi-lhe o rasto. Sei que era natural de Moimenta da Beira. Desejo que esta ausência poderá ter um fim em vista se porventura algum camarada que leia este pequeno texto nesta obra me dê alvíssaras desse meu velho amigo. O Cardoso tinha uma estatura baixa. Gostava de reencontrá-lo tal como aconteceu há uns anos com o Rui. Com cabelos brancos, ou com falta deles, como é o meu caso, reconhecer-nos-emos de imediato e lá acontecerá aquele fraterno e apertado abraço.

Interiorizando os contextos de as minhas memórias Gabu, realço a passagem pelas instalações do QG, em Bissau, afirmando convictamente que esse espaço foi visitado, e revisitado, por muitos camaradas que fizeram escala na capital guineense ao longo da sua comissão militar na guerrilha da Guiné.

Curioso era a arquitetura dessas instalações. Mas como a sua utilidade era simplesmente casual, a malta acomodava-se como podia e não refilava com o que lhe era colocado à disposição. Lembram-se, camaradas? Toca a desafiar essas recordações e sacar cá para fora essas velhas lembranças.

Dessas passagens breves pelo QG, recordo que numa das idas para o faustoso resort, encontrei dois amigos de Beja, um o furriel comando de nome Chico Dias, que me levou a provar um prato a que chamavam “ninho de andorinha”; outro o furriel Zé Felício, um rapaz com o qual mantenho uma indestrutível amizade.

Recordo o desafio proposto pelo Chico Dias na prova do ninho de andorinha, uma refeição cujo tempero era feito na base do muito piripiri africano. Escusado será dizer que o sacana do ninho de andorinha levou-nos a refrescar as gargantas com uma boa dose de cervejas. Não me lembro do fim, mas aquilo fez efeito, isso fez.

Experiências comestíveis guineenses que, à época, fazia mover montanhas de prazeres africanos! 
___________ 

Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 

7 DE MARÇO DE 2023 > Guiné 61/74 – P24125: (Ex)citações (422): Os combatentes, Vietname e Portugal (Tony Borié, ex-1.º Cabo Op Cripto)

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Guiné 61/74 – P21366: (Ex)citações (370): Rumo à guerra colonial na Guiné (José Saúde)




Dois "rangers", o Zé Saúde e o Pedro Neves

1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.

José Saúde

Rumo à guerra colonial na Guiné 

Histórias de vida 


Estávamos em finais do mês de julho do ano de 1973. Usufruíamos do facto de ter dado por terminado a instrução ao 1º grupo de cadetes, 2º turno, de futuros rangers em Penude. Seguiu-se, naturalmente, um período de descanso, sabendo, contudo, que o nosso destino passava por uma comissão militar na guerra colonial, sendo que a nossa mobilização tinha como destino o território da Guiné. 

Aconteceu, porém, que nos encontrámos, casualmente, em Lisboa, no Aeroporto de Figo Maduro. Um voo que, e não soubemos o porquê, foi adiado. Eu “desarmado”, pois estava longe de casa, fiquei, desde logo, algo conturbado, o que se justificava. E agora? Pensei! Mas de pronto o meu camarada ranger Pedro Neves, companheiro de muitas endiabradas aventuras por terras de Lamego, logo me confortou: “Levamos a bagagem e vais ficar em minha casa”. E foi assim que, solenemente, alçámos a âncora da salvação e lá partimos rumo ao seu doce lar. 

Uf! Que alívio, pensei. Pelo menos tinha um teto que me abrigasse por uns dias, ou horas. Antes essa disponibilidade do meu camarada Pedro do que regressar à minha terra natal – Aldeia Nova de São Bento – no interior do Baixo Alentejo, uma região que outrora se afirmava como o celeiro da Nação, tendo em linha de conta a quantidade de cereais que por ali se produziam anualmente.   

A casa do Pedro Neves era nos Olivais, um local não muito distante do Aeroporto de Lisboa, e ali me instalei. Claro que a hospitalidade foi “cinco estrelas”. Os pais do Pedro foram enormes. Acarinharam-me como mais um “filho”, comia, bebia, passeávamos pela capital do “império” e dormia na paz dos anjos, mesmo sabendo que a ida para o conflito era irreversível. 

Tanto eu como o Pedro Neves, pensámos que a alteração de horário do voo fosse breve, ou seja, de um ou dois dias, contudo, tal facto não aconteceu. O Pedro, ao que vim a saber, tinha por lá um amigo que orientava as idas dos camaradas mobilizados para a guerra de além-mar e foi-nos, propositadamente, colocando no final da lista de embarque. 

Mas, chegou o dia em que ele próprio, isto é, o nosso ocasional “padrinho”, terá dito ao Pedro que a partir dali já não havia razão alguma que justificasse o adiar do embarque destes jovens militares. “Preparem-se que a viagem está para breve”, avisou. E assim foi. 

A nossa hora chegou e lá partimos – 2 de agosto de 1973 - num avião rumo à guerra colonial da Guiné. Para trás ficava a construção de uma amizade, que ainda perdura, e a imagem dos seus saudosos pais que eternamente recordarei na minha alma pela forma digna, e sobretudo compreensível, como me hospedaram no seu lar.    

Quatro horas, sensivelmente, de voo e lá aterrámos no então Aeroporto de Bissalanca, seguindo-se uma viagem, creio que, e se a memória não me falha, numa carrinha militar, que nos conduziu às instalações do Quartel General (QG), o famigerado “Biafra”, como pomposamente a rapaziada alcunhava o local.  

Ali fomos recebidos como “piriquitos”, sendo que as “bocas da velhada” desde logo entoaram, com enfâse, o famoso desígnio “piu-piu-piu”. Tanto mais que os dourados das divisas não enganavam, seguindo-se uma visita à zona baixa de Bissau, mas só depois de acomodarmos os nossos haveres e procurarmos poisos para descansar, à noite, os nossos corpos. 

Com o bolso “carregado” de notas, visto que previamente havíamos recebido o pré da “embarcação” para comprar todo o fardamento de guerra, sendo que os escudos foram, entretanto, cambiados por “pesos”, eis-nos a devorar uma bela mariscada ao “toque” de umas frescas cervejolas.  

O tempo de estadia no QG foi breve. Ficou, contudo, a certeza da nossa passagem por aquele lugar “solene” e um relativo conhecimento da capital guineense. Pelo menos tivemos a oportunidade em ver os seus usos e costumes, bem como os odores de uma África quiçá inigualável. Aliás, a nossa passagem por Bissau, cidade que nos havia recebido, deu para fazermos um pouco de “ronco”, visto que nos deparámos, de imediato, que num ambiente de guerra, onde o calor imperava, a sôfrega ânsia de ingerir líquidos era algo determinante para todos os camaradas. 

Sim, aquele clima era, para nós, inovador. Neste contexto, seguimos as peugadas de camaradas já feitos ao sistema.  

Chegou a hora de partirmos rumo às nossas unidades. O Pedro foi para Binta e eu para Gabu.  

Um abraço, camaradas,

José Saúde

Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

___________

Nota de M.R.:

Vd. também o poste anterior desta série:

 27 DE AGOSTO DE 2020 > Guiné 61/74 - P21297: (Ex)citações (369): A política de misceginação e o major de artilharia Dimas Lopes de Aguiar, autor do opúsculo "Guiné Portuguesa - Terra de Lenda, de martírio, de estranhas gentes, de bravos feitos e de futuro" (1946) (António Rosinha)

 

sábado, 30 de novembro de 2013

Guiné 63/74 – P12365: Memórias de Gabú (José Saúde) (35): Dois camaradas que se separaram na Guiné. Pedro Neves foi para Binta e eu para Gabu. (José Saúde)

1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos mais uma mensagem desta sua série.


As minhas memórias de Gabu 

Dois camaradas que se separaram na Guiné

Pedro Neves foi para Binta e eu para Gabu

Atesta a lonjura do tempo que o rótulo de uma amizade que teima em permanecer imutável entre dois velhos companheiros de armas, atravessam géneses de uma eternizada camaradagem, e predispõem-se de forma clara a tecer comentários vantajosos entre sexagenários que se conheceram nos verdes de uma juventude irreverente, onde a sua condição militar ditou uma estima que se mantém, e manterá, indestrutível.

Reconheço que durante a minha vida militar travei inúmeros conhecimentos com novos camaradas e desse rol de personagens com os quais mantive contatos pessoais nesses velhos tempos, alguns deles existem que permanecem patentes na montra das nossas excêntricas recordações.

José Pedro Neves é um camarada com o qual me cruzei no curso de Operações Especiais/Ranger em Penude, Lamego, sendo que quis o destino que tivéssemos sido no curso seguinte cabos milicianos do 1º grupo de cadetes e o Daniel, um camarada de Cabo Verde que conheci no CISME, Tavira, o aspirante.

Ditou a bolinha do acaso que a fortuna, com a qual fomos contemplados, nos encaminhasse para uma comissão na Guiné. Uma mobilização que, na altura, se apresentava como cruel. Tratava-se, a meu ver, do princípio de uma nova rota militar e que usurpava maquiavélicas coincidências para dois jovens que não conseguiram ludibriar a malvadez do futuro. E lá fomos.

Partimos então para a ex-província ultramarina, designada por Guiné, no dia 2 de agosto de 1973, no mesmo avião que descolou de Figo Maduro, Lisboa, partilhámos o mesmo banco da nave, saboreámos a refeição servida a bordo, bebemos um copo e trocámos ideias sobre a sorte que nos esperava na guerra de além-mar.

Chegados ao aeroporto de Bissalanca fomos depois conduzidos para as instalações militares do QG, em Bissau. A receção foi cordial. Faltaram as passadeiras vermelhas para receber em apoteose os ilustres mancebos acabadinhos de aterrar em terra africana. Os barracões, como se lembram, estavam entolhados de camaradas, na generalidade já velhinhos na guerra, entre outros, e piriquitos que entretanto haviam aportado em solo guineense. Notava-se que o brilho das divisas dos novos guerrilheiros impunham uma hierarquia na plebe.

As camaratas, com camas sobrepostas, sugeriam desde logo o sentimento de uma desolação profunda sobretudo para os recém chegados. Procurámos o poiso, acomodamos a nossa bagagem e envidámos esforços no sentido de uma visita ao centro de Bissau. O objetivo era conhecer as novas paragens. E assim foi.

Entretanto fomos informados do horário das refeições que eram servidas no refeitório da messe de sargentos de fronte às nossas esplendidas “residências”, sendo que pelo meio das amenas cavaqueiras lá surgiam as brincadeiras do “piu-piu”. Sons jocosos emitidos pela velhada que parecia estar de partida para a metrópole depois de uma comissão que não lhes terá dado tréguas.

Lembrando essas famosas camaratas no QG, recordo que eram uma espécie de tudo ao monte e fé em Deus. Algumas das camas eram pomposamente ornamentadas com redes mosquiteiras. A malta de passagem pelas instalações, colocava a artimanha e por lá ficavam. Serviam depois de abrigos para os novos hóspedes. O zumbido agudo noturno dos mosquitos era ensurdecedor. Ali deparamo-nos de imediato com o clamor da primeira batalha.

Chegou o hora da despedida. O Pedro lá partiu rumo a Binta e eu a Nova Lamego, Gabu. Nas minhas novas instalações reencontrei outros dois camaradas que tiraram o curso de operações especiais/ranger comigo em Penude: o Rui Álvares e o Cardoso. Acontece que o Cardoso acabou por demandar para uma outra zona da Guiné, enquanto eu e o Rui permanecemos em Gabu.

Do Cardoso nunca mais tive informações. Perdi-lhe o rasto. Sei que era natural de Moimenta da Beira. Desejo que esta ausência poderá ter um fim em vista se porventura algum camarada que leia este meu pequeno texto me dê alvíssaras desse meu velho amigo. O Cardoso era, e é, um rapaz de estatura baixa. Gostava de reencontrá-lo tal como aconteceu há dois anos com o Rui. Com cabelos brancos, ou com falta deles como é o meu caso, reconhecemo-nos de imediato e lá veio um longo abraço. Ficou a certeza que nos voltámos a reencontrar e os telefonemas são agora constantes.

Interiorizando os contextos de as minhas memórias Gabu, realço a minha passagem pelas instalações do QG, em Bissau, afirmando convictamente que esse espaço foi visitado, e revisitado, por muitos camaradas que fizeram escala na capital guineense ao longo da sua comissão militar na guerrilha da Guiné, como foi o meu caso.

Curioso era a arquitetura dessas instalações. Mas como a sua utilidade era simplesmente casual, a malta acomodava-se como podia e não refilava com o que lhe era colocado à disposição. Lembram-se, camaradas? Toca a desafiar essas recordações e sacar cá para essas velhas lembranças.

Dessas minhas passagens breves pelo QG, recordo que numa das idas para o faustoso “resort”, encontrei um amigo de Beja, furriel dos comandos de nome Chico Dias, que me levou a provar um prato a que chamavam ninho de andorinha. Sei, e recordo muito bem, que o seu tempero era feito na base do muito gindungo africano. Escusado será dizer que o “sacana” do ninho de andorinha levou-nos a refrescar as gargantas com uma boa dose de cervejas. Não me lembro do fim, mas aquilo fez efeito, isso fez.

Camaradas, coisas dos nossos tempos da Guiné e quando éramos jovens com idade para mover montanhas!

Os putos: Eu e o Pedro Neves no dia da nossa chegada à Guiné

Um abraço camaradas deste alentejano de gema, 
José Saúde 
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 
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Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em: 


segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 – P7507: Parabéns a você (193): José Pedro Neves (ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 4745 (Editores)


1. Completa hoje o seu 59º Aniversário o nosso Camarada José Pedro Neves, que foi Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 4745/73 - Águias de Binta,
Binta, 1973/74:
O pedro Neves com o seu jovial e amigo pai na festa da Natal RANGER em Fátima
O Pedro Neves na festa Anual da Associação de Operações Especiais, com a sua inseparável esposa Ana
Fotos: © Magalhães Ribeiro (2010). Direitos reservados.
2. Em nome do nosso Camarada Luís Graça, colaboradores deste blogue e demais elementos desta tertúlia “tabancal” desejo, que no festejo de mais este aniversário, sejas muito feliz junto da tua querida família e que esta data se repita por muitos, bons e férteis anos, plenos de saúde, felicidade e alegria.
Que por muitos mais e boas décadas, este "aquartelamento" de Camaradas & Amigos te possa enviar mensagens idênticas a esta e às que hoje lerás no “cantinho” reservado aos comentários.Estes são os sinceros e melhores desejos destes teus Amigos e Camaradas, com um grande abraço
fraterno.
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:

20 de Dezembro de 2010 >
Guiné 63/74 – P7476: Parabéns a você (192): José Casimiro Carvalho (ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAV 8350 (Miguel Pessoa & Editores)

sábado, 13 de novembro de 2010

Guiné 63/74 – P7277: Controvérsias (110): O que era ser ranger entre 1960 e 1974? (3) (Pedro Neves, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 4745/73)


1. O nosso Camarada Pedro Neves, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 4745/73 - Águias de Binta,
Binta, 1973/74, enviou-nos, com data de 10 de Novembro de 2010, a seguinte mensagem:

Camaradas,
Depois de ler os textos dos Rangers (uma vez Ranger… Ranger para sempre!) José Gonçalves e Magalhães Ribeiro (Grande Amigo), devo dizer que estou de acordo com o pensamento deles e demais camaradas, sobre o treino operacional que nos era ministrado, em Penude-Lamego e devo esclarecer o seguinte:
- Fui colocado na C.CAÇ. 4745-Águias de BINTA e quando cheguei e me apresentei na mesma, já o I.A.O (Instrução de Adaptação Operacional) tinha acabado, tendo seguido dois dias depois, para Binta, sem conhecer praticamente ninguém, fui colocado no 4º pelotão de combate e como se sabe os pelotões eram formados desde os alferes, furriéis, cabos e soldados, por ordem de classificação, sendo 1º pelotão, os elementos que melhores classificações tiveram durante a especialidade e os restantes pelotões formados pela mesma ordem.
- Fui colocado no 4º pelotão, por duas razões:
1ª- Eu era o furriel mais novo da CCAÇ, porque todos os outros eram do 3º turno e eu era do 4º de 72, apesar da minha nota de fim de curso de Operações Especiais ser superior à dos outros camaradas furriéis.
2ª- Fui colocado no 4º pelotão, com o pedido do Comandante de Companhia, Cap. Capucho, de incutir disciplina no grupo, uma vez que era formado com operacionais com as notas mais baixas da especialidade e citando as palavras dele, era o pelotão dos “básicos”.
3º- Verifiquei ser verdade, porque na primeira saída do meu grupo, iam aos pares, falavam alto, riam e mais parecia que iam para uma romaria.
4º- Falei com o Alf Mil Pimenta e com os Fur Mil Andrade e Rebelo e demonstrei, sem grande alarde, como se deveria actuar no mato. Devo dizer que aceitaram de bom grado tudo o que tinha aprendido no curso de Operações Especiais. Pouco tempo depois, actuávamos como um autêntico grupo de combate e a nossa amizade nunca foi beliscada, por eu ser de Operações Especiais e em cada Cabo e Soldado, tinha um amigo (e ainda tenho).
5º- Devo acrescentar que com dois meses de comissão, o Furriel Andrade foi evacuado, ferido na viatura que rebentou uma mina anti-carro e cujo condutor faleceu, o Furriel Rebelo (já falecido), foi destacado para tomar a responsabilidade das minas e armadilhas de protecção do destacamento, isto já em Polibaque, sector de Mansoa, destacamento de apoio à construção da estrada Jugudul-Babadinca (não havia população junto de nós), o transmissões, 1º Cabo Manteigas, do meu pelotão, ficou a tomar conta do gerador do destacamento, porque era electricista, antes de ir para a “tropa” e o Alf Mil Pimenta esteve durante alguns meses com problemas de saúde, em Bissau, no Hospital Militar. Fiquei sozinho a comandar o meu pelotão e era ao mesmo tempo o homem das transmissões. Assumi sem problemas e só cá para nós, preferia ser eu a andar com o AVP-1 (banana), assim sabia de tudo, em 1ª “mão”.
6º- Devo acrescentar que na CCAÇ 4745, só tínhamos, desde a formação da mesma, o Alf Mil Louro e eu furriel, como graduados de Operações Especiais, sendo o Alf Mil Louro do 1º pelotão e 2º Companhia de Companhia.
7º- Tudo isto para vos transmitir, que assumi sozinho, o que acabei de relatar e independentemente de outros terem, eventualmente feito o mesmo, ou mais e melhor, sem serem de Operações Especiais, entendo que o que aprendi em Penude, me foi bastante útil e é com muito orgulho, que posso gritar: “RANGER… YÁÁÁ!!!”.
Só quem passou por lá, sabe dar o real valor à palavra RANGER e ao seu significado!!!
Cumprimentos a todos os membros do Blogue e em especial aos aniversariantes do mês de Novembro e restantes camaradas.
Um abraço,
Pedro Neves
Fur Mil OpEsp/RANGER da CCAÇ 4745

__________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:

domingo, 27 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5543: Parabéns a você (59): José Pedro Neves, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 4745 (Editores)

1. Dois dias depois da comemoração do nascimento Jesus Cristo, está de parabéns o nosso camarada José Pedro Neves.
A Tabanca deseja ao Pedro um dia muito feliz, na companhia de sua esposa, filhos e demais família, com mais umas prendas a acumular às que recebeu pelo Natal.
Que esta data se renove muitas vezes, até porque estamos em presença de um jovem de 58 anos que não tem propriamente idade para um ex-combatente da Guiné.
Claro que o tempo cura tudo, e não tarda, estaremos a recebê-lo no grandioso grupo de Sexas.

2. Pedro Neves dirigiu-se à Tabanca a primeira vez em Outubro de 2008*, mas só em Dezembro** foi apresentado formalmente à Tabanca.


Aqui fica o registo escrito

Dados militares

Em Lamego:

- 1.º curso de 1973 (Instruendo do 1.º Grupo)
- Instrutor do 2.º curso de 1973 (1.º Grupo de Cadetes)

Guiné
- CCAÇ 4745 (Águias de Binta) - Companhia de Caçadores Independente, formada nos Açores - Ilha Terceira.
- BINTA, GUIDAGE, NEMA, FARIM, MANSOA, JUGUDUL, POLIBAQUE, PORTO-GOLE, BULA, NHAMATE, CAPUNGA, BINAR e outros arredores que já não lembro os nomes.

- Posto - Ex-Fur Mil Op Esp (RANGER)
- Nome - José Pedro Ferreira das Neves (56 anos) (Nome de guerra, Pedro
- Localidade - Lisboa


Mensagem do nosso camarada Pedro Neves, com data de 8 de Dezembro de 2008:

Caros Luis Graça e Carlos Vinhal:

Em primeiro lugar, o meu agradecimento ao Blogue, porque graças ao mesmo já encontrei um camarada da minha equipe, o Raúl do 1.º Curso de 1973, em Lamego e um 1.º Cabo Condutor da minha CCaç 4745, Águias de Binta, o Tomás Carneiro, natural e residente em S. Miguel, nos Açores.

Como devem calcular, só por isso já estou muito grato ao vosso magnifico trabalho e iniciativa de terem criado e dado vida ao nosso Blogue.

Agradeço que façam a minha inscrição no Blogue e em anexo as fotos, actual e do tempo em que éramos mais jovens. A diferença é visivel!!!

Aproveito a ocasião para desejar a todos os camaradas e seus familiares, votos de BOAS FESTAS!

Um abraço
Pedro Neves
ex-Fur Mil Op Esp

3. Pedro Neves deu-nos o prazer da sua presença no nosso último Encontro Nacional, da qual deixamos este testemunho, em que aparece acompanhado de sua esposa Ana Maria e do seu camarada Tomás Carneiro que se deslocou dos Açores propositadamente para se encontrar com ele.


__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 16 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3322: Tabanca Grande (92): José Pedro Neves, ex-Fur Mil da CCAÇ 4745, 1972/74

(**) Vd. poste de 9 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3588: Tabanca Grande (103): Pedro Neves, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 4745, Águias de Binta (Binta, 1972/74)

Vd. último poste da série de 23 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5525: Parabéns a você (58): Albano Costa, o Foto Gui...fões, Gui...daje (Luís Graça)

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Guiné 63/74 - P4805: Parabéns a você (17): Alberto Nascimento da CCAÇ 84 e Tomás Carneiro da CCAÇ 4745 (Os Editores)

Hoje, dia 10 de Agosto de 2009, fazem anos os nossos camaradas:
Alberto Nascimento da CCAÇ 84 e
Tomás Carneiro da CCAÇ 4745/73 - Águias de Binta.



Alberto Nascimento (*), ex-Sold Cond Auto da CCAÇ 84, Bambadinca, 1961/63.


1. Alberto Nascimento dirigia-se assim ao Blogue em 9 de Junho de 2008:

Caro Dr. Luís Graça:

Sou um ex-militar, soldado condutor-auto, que cumpriu dois anos de serviço na então província da Guiné, entre 6/4/61 e 9/4/63, integrado na Companhia de Caçadores 84.

Como não podia deixar de ser, estes dois anos de convivência com as populações das várias etnias com quem tive contacto, mantiveram em mim o desejo de acompanhar, o mais perto possível, a vida daquele país e daquelas gentes tão maltratados antes e depois da independência.

Sou um dos visitantes assíduos do seu blogue Guiné 63/74, na tentativa de identificar alguns lugares por onde passei ou estive destacado, já que a CCAÇ 84, três meses depois de aterrar no aeroporto de Bissalanca, foi literalmente fragmentada e enviada para os mais diversos pontos do território, tendo o meu pelotão tido como último destacamento, entre Novembro de 1962 e 7 ou 8 de Abril de 1963, Bambadinca, sob o Comando de Bafatá
.[...]


2. Ao Alberto Nascimento, toda a Tabanca deseja um dia de aniversário bem passado junto dos seus familiares e amigos. Que nestas páginas, a contagem dos anos de vida deste nosso camarada, se contem por muitos e plenos de saúde.

Aqui ficam umas fotos ao acaso:



Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 84 > 1961 > Eu, à direita com capacete na mão, e o meu camarada e amigo Maximino, de G3 ao ombro

Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 84 > 1962 > Mais uma pose para a fotografia, a G3 sem carregador

Região do Oio > Farim > CCAÇ 84 > 1961 > Eu, num baga-baga, com a G3, a armar-me aos cucos

Fotos: © Alberto Nascimento (2008). Direitos reservados

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Tomás Carneiro (**), ex-1.º Cabo Condutor da CCAÇ 4745 (Águias de Binta), Binta, 1973/74

Recordemos Tomás Carneiro no dia 24 de Junho deste ano, poucos dias depois do nosso IV Encontro em Ortigosa:

Apresento-me, Tomás Carneiro, ex-1.º Cabo Condutor da CCAÇ 4745 - Aguias de Binta

Caros amigos,
Como alguns já sabem quem eu sou, aqui vai um texto.

Eu estive na Guine entre 1973 e 1974. Era Condutor e cheguei à Guiné no dia 8 de Julho de 1973.
[...]


Para quem já não se lembra, Soares Carneiro veio na véspera do nosso IV Encontro, de propósito dos Açores, Ilha de S. Miguel, para se encontrar com um seu antigo camarada de Companhia. Regressou à sua Ilha no dia 21.

O alvo de tão grande manifestação de amizade e dedicação foi o nosso camarada Pedro Neves.

Duas fotografias desse encontro memorável para ambos, já que não se viam desde o regresso da Guiné, há cerca de 35 anos.

Pedro Neves e Tomás Carneiro. Um reencontro proporcionado pela Tabanca Grande. O mundo é tão pequeno quando visto da porta da nossa Caserna.

Nesta foto aparece também a esposa do Pedro, a Ana Maria, que nos confidenciou que ficou feliz por ver a alegria de ambos quando se reencontraram.

Nesta foto, Henrique Matos e Tomás Carneiro. Que os une? Ambos são ilhéus do Arquipélago dos Açores. Dois representantes daquele valente povo insular.

Fotos: © Eduadro Magalhães Ribeiro (2009). Direitos reservados


Para o nosso camarada Carneiro enviamos um abraço tão grande quanto o mar que nos separa.
No barco da amizade vão os nossos votos de longa vida, plena de saúde junto da família e amigos.
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Notas de CV:

(*) Vd. postes de Alberto Nascimento com datas de:

11 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2930: Bambadinca, 1963: Terror em Samba Silate e Poindom (Alberto Nascimento, ex-Sold Cond Auto, CCAÇ 84, 1961/63)

10 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3044: Estórias avulsas (16): Os cães de Bambadinca (Alberto Nascimento, CCAÇ 84, 1961/63)

14 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3059: Memórias dos lugares ( 9): Bambadinca , 1963 (Alberto Nascimento, CCAÇ 84, 1961/63)

7 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3181: História de vida (17): A falsa Mariama, mandinga de Bambadinca, a sua filha, e o seu amigo... (Alberto Nascimento)

16 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3459: Histórias da velhice (1): Eu e o 1º Pelotão da CCAÇ 84 em Farim, em Julho de 1961, em socorro de... Guidaje (Alberto Nascimento)

21 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3492: Controvérsias (9): Eu fui para Farim, em Julho de 1961, com a G3, com o 1º Gr Comb da CCAÇ 84 (Alberto Nascimento)

2 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3964: Nuvens negras sobre Bissau (6): O Nino morreu vítima de si próprio (Alberto Nascimento)

18 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4049: As abelhinhas, nossas amigas (5): As abelhas e a NEP (Alberto Nascimento)

8 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4796: Estórias avulsas (47): O enfermeiro Lomelino (Alberto Nascimento)


(**) Vd. postes de Tomás Carneiro com data de:

22 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4560: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (6): De São Miguel, Açores, com emoção e amizade (Tomás Carneiro, CCAÇ 4745, 1973/74)

28 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4596: Tabanca Grande (156): O açoriano Tomás Carneiro, ex-1º Cabo Cond Auto, CCAÇ 4745 (Binta, 1973/74)

Vd. último poste da série de 4 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4776: Parabéns a você (16): Rui Alexandrino Ferreira, Cor Reformado (Editores)