Mostrar mensagens com a etiqueta televisão. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta televisão. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P25013: Facebook...ando (48): No tempo em que passva na televisão o "Natal do Soldado" (A. Marques Lopes, autor de "Cabra Cega", livro de memórias, 2015, 582 pp.)


A. Marques Lopes, 2015. Foto: LG

Com 268 referências no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, o  A. Marques Lopes é um histórico da Tabanca Grande, foi um dos primeiros dez a entrar, em 14 de maio de 2005, já lá vão quase 19 anos... 

Foi, além disso, um dos nossos mais ativos colaboradores, como autor, nos primeiros anos do blogue. Foi alferes miliciano da CART 1690 (Geba, 1967/68) e CCAÇ 3 (Barro, 1968/69), cor DAF reformado... Vive em Matosinhos, embora seja natural de Lisboa. 

Da sua página do Facebook repescámos uma postagem com quase dois anos ( 5 de fevereiro de 2022), sobre o "Natal do Soldado"- Republicamo-la aqui como forma de "prova de vida". Julgamos tratar-se de um excerto  do seu livro de memórias, "Cabra Cega" (2015).  Não o temos aqui à mão para poder confirmar esaa hipótese.  De qualquer modo, aqui vai, com a devida vénia ao autor, e votos de melhor  saúde e melhor ano novo de 2024. 

 
O Natal do Soldado

por A. Marques Lopes


Vi na televisão o “Natal do Soldado” e achei ridícula a repetição do “nós por cá todos bem” e “um ano novo cheio de prosperidades”, até me deu para rir com os que queriam um ano cheio de propriedades. Riram todos lá em casa também. 

O pai garantia que os que regressavam da guerra diziam que não tinham tido lá Natal nenhum, que as gajas do Movimento Nacional Feminino é que vinham com essa treta. 

No Natal, diziam-no os que tinham lá estado, recebiam um maço de cigarros, uma carteira de plástico, das de vinte e cinco tostões, e uma ou duas sandes. Para tanto folclore era ridículo, de facto. Mas essas gajas e os mandões todos andam à grande e à francesa de automóvel, explicava o pai. Pensei que havia de ter tempo para saber se era assim.

O pai, por estar já há muitos anos em Lisboa, perdeu um bocado do sotaque alentejano mas usava as mesmas expressões lá da terra e eu achava-lhe piada por isso.
– Esses filhos dum cabrão deviam era ver esta miséria que a gente come.

E espetava o garfo na massa com grão onde se escondia uma lasca de bacalhau.
Assomaram umas lágrimas aos olhos da mãe.

– A culpa é da guerra, e eu ando apoquentada porque os meus filhos ainda vão lá parar.

O pai ficou sério e baixou a cabeça para meter uma garfada à boca. O irmão não dizia nada, porque sempre que falava era sempre sobre o Tarujense, onde era guarda-redes, ou sobre as partidas de bilhar que disputava no salão do Jardim Cinema. A guerra não lhe dizia nada. Era mais novo dois anos e ainda não lhe dava para pensar nisso.

– Felizmente o Antero já está livre disso.

A irmã não sorriu mas tinha os olhos brilhantes de satisfação. Era verdade que o namorado dela, mais velho que eu uns três anos, já tinha feito a tropa como escriturário no Batalhão de Sapadores de Caminhos de Ferro, em Campo de Ourique. Já saíra sem ir para o Ultramar.

O pai abanou a cabeça.

–  Não sei, rapariga, não sei.

Ela ficou séria e os olhos sem brilho:

– O que é que o pai quer dizer com isso?

– Sabes lá ele se não vai lá parar. Se esta porra continuar vai como os outros. A miséria já existia antes da guerra e a guerra é para a miséria continuar porque interessa aos ricos. Eles é que mandam e querem que ela continue.

A mãe pôs as mãos ao peito.

–  Credo, homem, não digas isso que ainda me afliges mais.

Mas ele não ligou.

– Vocês já são crescidos mas parece que não se lembram da miséria que têm passado desde que nasceram.

– Mas agora estamos melhor, até temos uma casa só para nós.

O meu irmão abrira o bico, mas levou logo.

– Uma casa uma merda. Nem a porra duma retrete temos quando nos vamos agachar. E estás aqui porque tu e os teus irmãos trabalham em vez de andarem na escola, e eu nunca tive férias porque vou no verão trabalhar com tractores lá prós montes daquele cabrão de Ervidel. Se não fosse isso ainda estavas numa parte de casa. (...)




Capa do livro "Cabra-cega: do seminário para a guerra colonial", de João Gaspar Carrasqueira (pseudónimo do nosso camarada A. Marques Lopes) (Lisboa, Chiado Editora, 2015, 582 pp. ISBN: 978-989-51-3510-3, Colecção: Bíos, Género: Biografia).
_______________

domingo, 4 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24366: (De)Caras (196): "Deus deve ter-se esquecido de África": o nosso tabanqueiro nº 643, Jaime Silva, ex-alf mil paraquedista, 1ª CCP / BCP 12 (Angola, 1970/72), num corajoso e sentido depoimento sobre a sua participação na guerra colonial, à Camões TV, Toronto, Canadá



Jaime Bonifácio da Silva (n. 1946, Seixal, Lourinhã), ex-alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970/72), professor de educação física reformado, antigo autarca em Fafe, a residir h0je na sua terra natal. Tem mais de 7 dezenas de referências no nosso blogue. Membro da Tabanca Grande nº 643, desde 31/1/2014


Angola >  Norte - Montes Mil e Vinte > 26 de junho de 1970 > Heli SA-330 Puma na  recuperação do 3º Pel da 1ª CCP /BCP 21 (1970/72)... Nesta operação morreu um soldado do meu pelotão.

Fotos (e legendas): © Jaime Silva (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Um depoimento lúcido, sentido, sereno e corajoso do nosso amigo e camarada Jaime Bonifácio Marques da Silva, natural da Lourinhã, membro da Tabanca do Atira-te ao Mar (... e Não Tenhas Medo!), âà Camões TV, um estação de televisão luso-canadiana, com sede em Toronto, e que emite desde 2016, tendo cerca de 4 milhões de subscritores.

Episódio nº 5 do programa África Nossa - Operações de Intervenção, realizado por Paulo Fajardo. (Foi emitido o passado dia 29 de maio)...

Clicar aqui para ver o vídeo (10' 59'') (reproduzido com a devida vénia):

https://camoestv.com/documentarios/africa-nossa/africa-nossa-ep-05-operacoes-de-intervencao/

 África Nossa – EP 05 – Operações de Intervenção

Africa Nossa
29 Mai 2023

Sinopse:

África Nossa – EP 05 “África Nossa” – Esta é uma série documental realizada por Paulo Fajardo e com a produção da Camões tv MDC. São depoimentos inéditos de ex-combatentes da Guerra Colonial que entre 1961 e 1974, foram mobilizados para o ultramar, em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique.

Mais de 10 mil morreram e 30 mil regressaram feridos. Memórias que se perdem entre silêncios e que ainda hoje causam desconforto. Vamos a mais um depoimento de alguém que esteve nesse teatro de guerra. Uma produção MDC Media Group para a Camões TV, com realização de Paulo Fajardo.

Uma estação de televisão com sede em Toronto, Canadá, com mais de 3,8 mil subscritores. Criada em 2016, é dirigida fundamementalmente á comunidade lusófona.

Our New Channel is available 24h a day, 7 days a week, on Bell Fibe Tv 659 & Rogers Cable 672.

Camões TV Magazine every Sunday from 10am to 12pm on Bell TV 583; Bell Fibe 235 & 1235; Rogers Digital 129 & Rogers Cabo 12; Shawn 646.


www.camoestv.com
YouTube/camoestvofficial

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23741: "Despojos de Guerra" (Série documental de 4 episódios, SIC, 2022): Comentários - Parte V: 4º e último episódio, "Laços de Sangue", hoje, 5ª feira, dia 27, às 20h00, na SIC Notícias, Jornal da Noite


Série documental "Despojos de guerra", 4ª episódio: "Laços de sangue", Fotograma do "trailer" (3' 58''). Um dos entrevistados é o José Maria Indequi, secretário da direção da Associação da Solidariedade dos Filhos e Amigos dos Ex-Combatentes Portugueses na Guiné-Bissau (FIDJU DI TUGA).

1. Sinopse, com a devida vénia, SIC Notícias > 25 out 2022, 12h17;

Chamam “filhos de tuga” aos mestiços nascidos das relações entre militares portugueses e mulheres africanas que foram deixados para trás. Entre a revolta e a esperança, ainda hoje tentam encontrar um nome de pai e descobrir a outra metade da sua identidade, como sucede aos irmãos Elva e José Maria Indequi.

"Despojos de Guerra" revela histórias extraordinárias de espionagem, patriotismo, sobrevivência e romance, tendo como pano de fundo a guerra colonial portuguesa em África (1961 a 1974).

Com recurso a imagens de arquivo extraordinárias e pela primeira vez submetidas a um processo de colorização inédito em Portugal, esta série documental, com assinatura de Sofia Pinto Coelho, vem dar voz a heróis anónimos que relatam agora, na primeira pessoa, as encruzilhadas que enfrentaram em tempo de guerra e de descolonização.

"Despojos de Guerra" é uma coprodução da Blablabla Media com a SIC, com o apoio à inovação audiovisual do ICA – Instituto do Cinema e Audiovisual.

Esta quinta-feira é apresentado o último episódio da série documental "Despojos de Guerra", disponível na plataforma Opto.

Sobre este tema, e sob o descritor "filhos do vento", temos mais de 6 dezenas de referências no nosso blogue. ]

sábado, 22 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23730: "Despojos de Guerra" (Série documental de 4 episódios, SIC, 2022): Comentários - Parte IV: 3.º Episódio, "O Corredor da Morte"...Valeu pela prestação dos nossos "camarigos" Giselda e Miguel Pessoa (Carlos Vinhal / Luís Graça / Hélder Sousa / Morais Silva / Joaquim Mexia Alves / Manuel Resende / António J. Pereira da Costa / Joaquim Costa / Jorge Ferreira)

 

Sic Notícias > Primeiro Jornal > Grande Reportagem > "Despojos de Guerra", 3.º Episódio: O Corredor da Morte (31' ) > 20 de outubro de 2022 > Miguel Pessoa e Giselda Antunes: fotogramas do "trailer" (2' 37'') (Com a devida vénia...) 


1. Seleção de comentários dos nossos leitores (*)

(i) Carlos Vinhal:


"Neste episódio, Giselda revela os processos de salvamento e conta como era recolher soldados feridos em territórios controlados pelas forças inimigas."

Esta expressão não será da autoria da nossa querida Enfermeira Paraquedista Giselda. Uma coisa era um "território" onde o conflito acontecia, outra seria um "território controlado" pelas forças inimigas.

Estas séries documentais são feitas para consumo do grande público, aquele que não esteve "lá", portanto nelas cabe tudo, incluindo imagens que não têm nada a ver com o que "lá" se passou.

Este episódio foi o que mais me interessou particularmente porque nele intervieram duas pessoas que muito prezo e que viveram a guerra nas suas vertentes mais duras. A Giselda porque viu e lidou de perto com o sofrimento e a morte de camaradas combatentes, e o Miguel, ele próprio uma vítima de armas poderosas, numa altura em que a guerra assumia um ponto de não retorno.

Uma coisa ficou por dizer é que o Miguel Pessoa voltou a voar nos céus da Guiné apesar do grande susto que apanhou em Março de 1973, quando o seu Fiat foi derrubado.

Muito obrigado a ambos porque muito lhes devemos enquanto infantes.

21 de outubro de 2022 às 15:15

(ii) Luís Graça:

Carlos, estamos de acordo: há sempre "questões terminológicas" nestes trabalhos de jornalistas que são "leigos" nestas matérias, eles e elas: é uma geração que nem sequer fez a tropa, muito menos pôs os pés na Guiné do nosso tempo... Ainda bem para eles, que são muito mais novos do que nós...

Confesso que dou de barato estes erros ou imprecisões... Mas nós temos a obrigação de pugnar pelo rigor... De qualquer modo, é preciso perceber que o estilo destes programas de "grande reportagem", para mais em televisão, não admitem demasiadas legendas, notas de rodapé e muto menos "explicadores" em voz "off record"... Isto não é uma aula ou uma conferência..., é um programa de televisão.

Se entares em pormenores "demasiado técnicos" (como o uso do napalm, que foi explicitamente falado pelo Miguel, e que precisava de ser "conteztualizado"; ou o funcionamento do míssil Strela), estás feito: o programa não capta a atenção do telespectador... Não te esqueças que estamos em "horário nobre", em competição com outras estações, e a Sic Motícias não é a RTP 2 ou o Canal História...

De qualquer modo, fizeste bem em lembrar que o nosso Miguel Pessoa teve que "voltar para o castigo", depois de recuperação no "resort" do Hospital Militar Principal, em Lisboa... É ele que que nos conta na sua apresentação à Tabanca c Grande, no já longínquo ano de 2009 (ainda escrevíamos todos Strella com dois ll):

(...) "Cumpri a comissão na Guiné no período de 18NOV72 a 14AGO74, com um intervalo passado em Lisboa (entre 7ABR73 e início de AGO73) para recuperar das mazelas sofridas quando da minha ejecção de Fiat G91, depois de atingido por um SAM-7 Strella durante um apoio de fogo ao aquartelamento do Guileje." (...)

21 de outubro de 2022 às 16:08

(iii) Hélder Sousa:

Pois sim senhor, um conjunto de circunstâncias favoráveis permitiram-me ver este episódio.

E, é verdade, também reparei em imprecisões, imagens de outros locais que não a Guiné, expressões menos acertadas ou carecendo de explicação mas, e há sempre um "mas", posso dizer que gostei bastante.

E gostei, logo à cabeça, pela serenidade dos depoimentos dos nossos camaradas e amigos, sem alardes de heroísmo, sem fanfarronices, sem vitimização. Tudo com sobriedade e até, em alguns momentos, com a revelação de situações dramáticas referidas como se "não fosse nada".

Gostei também porque, embora de forma abreviada, ficaram alguns tópicos para que, quem quiser, possa aprofundar e conhecer melhor aqueles tempos, aqueles locais, aquelas situações.

O proverbial humor do Miguel está bem retratado na forma brincalhona como se dirige à Enfermeira Giselda sobre a "temperatura da água" aquando do seu (dela) resgate da DO. A forma com a Giselda relatou o "embate" com a triste realidade com a "dar a mão" ao moribundo é realmente cativante.

Também poderia ser motivo para mais e melhores explicações a advertência/conselho que o Sr. Tenente-Coronel Brito deu ao Miguel de que não estava ali para medalhas mas para ajudar aqueles 40 mil que "lá em baixo" precisavam de ajuda.

Por fim, devo dizer que o "saldo" do episódio é positivo e que deixa margem para continuidade.

21 de outubro de 2022 às 16:56

(iv) Morais Silva:

Independentemente das imprecisões ou erros, o importante foi que a Sofia Pinto Coelho deu à luz um impressivo retrato do sofrimento de muitos e da abnegação, coragem e solidariedade de muitos outros.

Das enfermeiras páras guardo a imagem de prontidão e cuidado com que recolheram os meus feridos e os conduziram para lugar seguro no HM 241 considerado no mato como passaporte para a sobrevivência.

Com os pilotaços, só tenho dívidas, tantas foram as vezes que me apoiaram, eficazmente e sem delongas, quer em evacuações quer em apoio de fogos.

Para a minha camarada Giselda vai um abraço de muita estima e reconhecimento do, agora velho, capitão de Gadamael 1970-72. Para o Miguel Pessoa, meu contemporâneo na AM que não na Guiné, vai um grande abraço e o desejo de muita saúde.

Gostei de vê-los e rever a história incrível de que são protagonistas.

21 de outubro de 2022 às 18:14

(v) Joaquim Mexia Alves:

Valeu pela grande, sincera e emotiva prestação da Giselda e do Miguel, queridos amigos. O resto teve o enviesamento habitual com a profusão de imagens de Amílcar Cabral a contar mentiras e imagens de bombardeamento de napalm em sítios que não são a Guiné e a velha conversa dos territórios libertados e da supremacia aérea

Parabéns à Giselda e ao Miguel pelo seu contributo cheio de sensatez, bom senso, e verdadeiro

21 de outubro de 2022 às 20:25

(vi) Manuel Resende:

Comento só para dar um abraço ao Miguel e Giselda. Gostei muito de vos ver e ouvir. Andava ansioso pelo dia 20.

Não sabia que voltaste a voar para ir ver onde estava a Giselda, no acidente. Pelo menos percebi isso.

Já sabia a tua estória, do Marcelino da Mata a dizer "sou eu, o Marcelino", contado pelo próprio Marcelino, e igual com a tua versão.

Continuação de boa saúde para ambos e a ver se em Janeiro nos encontramos. Abraços,  Miguel e Giselda

21 de outubro de 2022 às 23:54


(vii) António J. Pereira da Costa:

Foi um mau programa de TV e, por ele poderemos avaliar os outros que, se calhar não conhecemos tão bem por se terem passados noutros TO...

Faço coro com o Mexia Alves: "Valeu pela grande, sincera e emotiva prestação da Giselda e do Miguel, queridos amigos".

Estou farto das imprecisões e de tudo do resto de que o Helder Valério fala (imagens de outros locais que não a Guiné, expressões erradas ou carecendo de explicação).

Como se diz às vezes "se não sabes jogar à bola porque não vais aprender? Mas não é assim! Estes "programas" mal feitos não são inocentes...

Enfim é a TV que temos. Que se escuda num trailleur demasiado longo e com numa ficha técnica final que nunca mais acaba. Ainda não entendi porque é que os noticiários têm que durar mais de hora...

Não se esqueçam que são estes "programas" que ainda por cima chegam atrasados vários anos, que vão ficar em arquivo e que futuramente farão fé, perante as "novas gerações eventualmente interessadas".

Já foi aqui perguntado: "O que querem os ex-combatentes?" Várias vezes a resposta foi "Respeito!" Programas construídos assim, passados mais de um ano depois de gravados, não são uma prova de respeito. Não sou adepto de que vale mais assim do que nada. E ficar agradecido - como os pobrezinhos - também não fico.

22 de outubro de 2022 às 11:26

(viii) Joaquim Costa:

Para quem não esteve lá,  “come” tudo como se fosse real e passado na Guiné, nomeadamente a injeção do piloto Pessoa.

Para os ex-combatentes é uma fraude. Como já alguém disse: Merecíamos mais respeito.
Ou melhor, o Pessoa e a Giselda mereciam mais respeito.

Acredito que a reportagem acaba por dar uma imagem aproximada do que foi o "annus horribilis"  de 1973, aproveitando imagens reais mas descontextualizadas. Tivessem o cuidado de visitar o nosso blogue e tudo seria mais real… e mais barato.

Quanto ao facto de dar voz, também, ao outro lado, não obstante sabermos como funciona a propaganda na guerra, ouvir só um lado, não seria sério, nem honesto… nem democrático. Ninguém é detentor de toda a verdade. Já nos basta as Coreias, Chinas, Rússias, etc.

Ficam as excelentes prestações dos nossos Maiores: Giselda e Pessoa. Contudo sou da opinião que é melhor isto que nada
 
22 de outubro de 2022 às 12:13

(ix) Jorge Ferreira:

(membro da Tabanca da Linha e da Tabanca Grande, ex-al mil, 3ª CCAÇ, Nova Lamego, Buruntuma e Blama, 1961/63):

(comemtário no Facebook da Tabanaca Grander)

Magnifico contributo para as actuais gerações se aperceberem do que foram as vicissitudes dos "então" jovens de 60/70.

Faço minha a frase "estas séries documentais são feitas para consumo do grande público".

Grato aos depoimentos dos Camaradas Giselda/Miguel Pessoa.
22 de outubro de 2022 às 12:48
__________

Nota do editor:

(*) Vd. poste de 21 de outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23727: "Despojos de Guerra" (Série documental de 4 episódios, SIC, 2022): Comentários - Parte III: 3.º Episódio, "O Corredor da Morte" ou.... "Uma história de amor improvável em tempos de guerra" (protagonizada por Miguel Pessoa e Giselda Antunes)

sexta-feira, 21 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23727: "Despojos de Guerra" (Série documental de 4 episódios, SIC, 2022): Comentários - Parte III: 3.º Episódio, "O Corredor da Morte" ou.... "Uma história de amor improvável em tempos de guerra" (protagonizada por Miguel Pessoa e Giselda Antunes)



Sic Notícias > Primeiro Jornal > Grande Reportagem > "Despojos de Guerra", 3.º Episódio: O Corredor da Morte  (31' ) > 20 de outubro de 2022 > Miguel Pessoa e Giselda Antunes: fotogramas do "trailer" (2' 37'')  (Com a devida vénia...) (*)


1. Gostei da "prestação" dos nossos "camarigos" Miguel Pessoa e Giselda Antunes (, depois, Pessoa, por casamento com o Miguel)... O mesmo é dizer, tem mérito o trabalho da equipa da jornalista e realizadora Sofia Pinto Coelho, que os entrevistou, no Museu do Ar - Polo de Alverca, há cerca de um ano atrás. (Só agora, devido à pandemia e à guerra da Ucrânia, esta série foi para o ar, devendo ser exibido, no próximo dia 27, o 4.º e último episódio, dedicado ao tema dos "filhos do vento").

O Miguel e a Giselda foram protagonistas de uma história de guerra, já conhecida há muito dos leitores do nosso blogue, mas é bom que fique também  gravada, em programas televisivos como este, e que chegue ao grande público. 

Um dia de gravações é resumido ou condensado em escassos 30 minutos. É o preço que se paga pela produção televisiva, que é caríssima. Podemos apontar alguns erros e falhas na narrativa e na escolha das imagens (à equipa faltou a asssessoria de especialistas em história militar e "air warfare": vejam-se as imagens da rampa fixa de lançamento do Strela, que o PAIGC não chegou a ter durante a guerra; ou o bombardeamento da aviação, com um tipo de avião e de bombas que a FAP não usava no TO da Guiné...). Mas o mais importante é o lugar de honra que, neste episódio, cabe a dois "camadas de armas", que representam algo mais do que eles próprios, 

Para além da sua história pessoal (e ambos passaram por situações muito dramáticas, duas das quais são aqui contadas e reconstituídas), para além dos seus destinos que acabaram por se cruzar, na guerra e no amor), o Miguel e a Giselda representam os nossos bravos pilotos e as nossas não menos corajosas e pioneiras enfermeiras paraquedistas. 

Miguel e Giselda, gostei de vos rever sob os "céus da Guiné", onde vocês deram o vosso  melhor na paz e na guerra. (E continuaram, depois de 1974, a servir a FAP e Portugal.)

Este é o comentário que faço, em cima do joelho, antes de ir para a minha sessão matinal de fisioterapia,  Prometo voltar ao episódio nº 3 da série "Despojos de Guerra", depois de rever o programa, que gravei. E deixo a porta aberto para os valiosos comentários dos nossos leitores..Mas,  por favor, não digam que o jornalismo português não se interessa pela "nossa" guerra... Ou que o trabalho dos jornalistas portuguesas sobre a "nossa" guerra, é sempre mau ou superficial ou trapalhão... Ou que há uma "pobreza franciscana" nos arquivos sobre a "nossa" guerra... Em suma, não digam sempre mal... 

PS1 - Convenhamos: o subtítulo pode  enviesar o sentido da história... De qualquer modo, as televisões, em concorrência feroz pelas audiências, precisam de títulos e subtítulos apelativos: "O corredor da morte" é um deles, mas na reportagem não se explica que raio de "corredor" era este, que passava por Guileje... onde o avião do Miguel foi atingido por um Strela em 25 de março de 1973... 

Quanto ao "subtítulo", "uma história de amor improvável em tempo de guerra", convenhamos, que é mais atrativo... Todo o mundo está cheio das imagens brutais da guerra que nos entra pela casa adentro, nos telejornais... O amor "humaniza" (?) ou "ameniza" a guerra... E, neste caso, também uma história de amor que dava um filme, como alguns de nós aqui já escreveram... Envolvendo dois seres humanos maravilhosos que foram militares, vestiram a mesma farda, honraram a mesma bandeira, e tinham (e continuam a ter)  além disso, mais outras coisas em comum, como muito bem explicou o Miguel: o sentido da lealdade, da solidariedade, da camaradagem... (e, eu já agora acrescento, o bom humor, a fina ironia, bem patente em duas ou três frases que ressaltam da entrevista: por exemplo, quando o "safado" do Miguel perguntou à "pobre" Giselda, que caiu o charco" da ilha do Colmo, em novembro de 1973,  quando o motor da DO-27  parou, e foi resgatada depois pela marinha, "se a água estava morninha"...).

Este episódio vale pela entrevista a estes nossos dois grandes "camarigos": um lisboeta, o Miguel, a outra, transmontana, a Giselda, da terra do grande poeta e contista Miguel Torga, São Martinho de Anta, Sabrosa, Trás os Montes (ou o "Reino Maravilhoso")... Vá lá, Giselda, a jornalista não te trocou o nome (costumam chamar-te Gisela...).

Quanto ao Miguel Pessoa, "lisboeta"... Sei que ele é alfacinha, de gema, nascido na Penha de França. Mas que, aos dois anos, "djubi", foi levado para Portalegre. Tem, pois, na infância e adolescência, a vivência alentejana... Tal como o vinho, aqui o "chão", o "terroir", também importa... Enfim, sesculpem, Miguel e Giselda, estas "inconfidências", mas as vossas histórias de vida também nos "pertencem"...

PS2- Ao rever hoje a gravação que fiz do episódio nº 3 da série "Despojos de Guerra", vejo com agrado que na ficha técnica há o cuidado de citar as fontes utilizadas (imagens e vídeos) e de agradecer às pessoas, individuais e coletivas, que colaboram com a equipa que concebeu e realizou este trabalho. Entre outros nomes, registei: AD - Acção para o Desenvolvimento / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, Virgínio Briote, Ramiro Jesus, Luís Graça... 


2. "Despojos de Guerra",3ª Episódio: O Corredor da Morte  (31') > Sinopse

“Despojos de Guerra” revela histórias extraordinárias de espionagem, patriotismo, sobrevivência e romance tendo como pano de fundo a guerra colonial portuguesa em África (1961 a 1974).

Esta série documental é uma coprodução da Blablabla Media com a SIC, com o apoio à inovação audiovisual do ICA – Instituto do Cinema e Audiovisual, e pode ser vista no Jornal da Noite da SIC e na plataforma OPTO.

No episódio que será exibido durante o Jornal da Noite desta quinta-feira é contada a história de Miguel Pessoa, um dos milhares de portugueses enviados para o continente africano durante a guerra colonial.

O outrora piloto-aviador relata os primeiros momentos vividos em territórios inimigos e as primeiras impressões por ele sentidas. O cheiro, a temperatura e as primeiras palavras que ouviu quando chegou à Guiné-Bissau ainda estão bem presentes na sua memória.

"Você não está aqui para ganhar medalhas nenhumas, está aqui para ajudar os 40 mil indivíduos desgraçados que estão aí abandonados", cita Miguel Pessoa as palavras que lhe foram dirigidas por um tenente, 
assim que aterrou em solo africano. 

[Na realidade, tratava-se do tenente-coronel pilav José Fernando de Almeida Brito, comandante do Grupo Operacional 1201, cujo Fiat G-91 viria também a ser abatido por um Strela três dias depois do do Miguel, em 28 de março de 1973; mas contrariamente ao Miguel, o Almeida Brito, seu comandante, não mais iria regressar à BA 12 para poder contar a história. O jornalista poderia ter pesquisado, com mais atenção, o nosso blogue.  LG].

Conta também a história que viria a mudar a sua vida, quando foi chamado para fazer o apoio de fogo ao aquartelamento de Guileje, no sul da Guiné Bissau [em 25 de março de 1973].

Nessa missão, a aeronave em que o piloto-aviador seguia foi atingido por fogo inimigo, o que o obrigou a ejetar-se do avião. Miguel conseguiu aterrar mas ficou inconsciente…

Quando os dois destinos se cruzam

Giselda Antunes tinha sido destacada para cumprir funções como enfermeira-paraquedista na guerra colonial. Neste episódio, Giselda revela os processos de salvamento e conta como era recolher soldados feridos em territórios controlados pelas forças inimigas. Um dos salvamentos iria mudar a sua vida para sempre.

O seu trajeto viria a cruzar-se com Miguel Pessoa, quando esta teve de socorrê-lo em território inimigo, tal como era sua função. Foi entre disparos e violência que surgiu uma história de amor, que pode conhecer esta quinta-feira no Jornal da Noite.



A Giselda Antunes (depois de 1974, quando se casou, Giselda Pessoa) tem cerca de 90 referências no nosso blogue. O Miguel Pessoa tem 226 referências. 
___________

Nota do editor: 

(*) Vd. postes anteriores;

domingo, 9 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23687: "Despojos de Guerra" (Série documental de 4 episódios, SIC, 2022): Comentários - Parte I - António Rosinha e Valdemar Queiroz: as diferenças entre a guerra de Angola e o "inferno da Guiné"


Cortesia da SIC (2022)

1. "Despojos de guerra": série de 4 episódios, está a passar 
na SIC, durante o mês de outubro. No passado dia 6 
foi a estreia da série, com a exibição do 1º episódio ("A informadora", 51' ).  Publicam-se os primeiros comentários dos nossos leitores, António Rosinha e Valdemar Queiroz.




Sinopse: 

No auge da guerra colonial em Angola, uma comerciante e o marido avisavam a PIDE (polícia política) quando os guerrilheiros iam à sua loja abastecer-se de mantimentos. Sebastiana Valadas revela qual era o seu nome de código, quanto recebiam pelas informações e como prendiam os “turras”. Depois da descolonização, um deles ajustou contas e mandou prendê-la.
 
"Com recurso a imagens de arquivo extraordinárias e pela primeira vez submetidas a um processo de colorização inédito em Portugal", a série documental "Despojos de Guerra" é uma coprodução da Blablabla Media com a SIC, tendo o o apoio à inovação audiovisual do ICA – Instituto do Cinema e Audiovisual. A realização é da jornalista Sofia Pinto Coelho cuja equipa contactou o nosso blogue para cedência de algumas imagens e contactos.
 

Vd, também artigo no Expresso, de 18/2/2022.

Entretanto, apareceram  já, no nosso blogue, alguns comentários sobre a série e este primeiro episódio, que parilhamos com os nossos leitores, na montra grande (*).

(i) Antº Rosinha (**)

Antº Rosinha,
II Encontro Nacional
da Tabanca Grande,
Pombal, 2007.
Foto: LG


Valdemar, esta pequena reportagem sobre a senhora 
comerciante, que atraiçoou o comandante do MPLA  [João Sebastião Arnaldo de Carvalho, "Tetembwa", comandante adjunto da 4ª Região do MPLA] já bem nos finalmentes da nossa guerra [, em 1972] , dá um pouco para entender as enormes diferenças entre o que se passava em Angola durante 13 anos e o inferno da Guiné.

Embora a reportagem vá buscar as lembranças dos massacres 
do Norte com a UPA do 15 de Março de 1961, que foi mesmo e apenas na região dos Bacongos, mas que apesar de esse partido UPA/FNLA ainda hoje apenas continue nas eleições com 1%, continua sempre na nossa memória aqueles massacres, mas que não teve nunca a ver com esta região do Luso, que a senhora da galinha   [Sebastiana Valadas] que estava a mais de 1000 Km.

Também trabalhei nesta região pela Junta de Estradas. A povoação de Cassai Gare, que tem uma estação dos caminhos de ferro de Benguela, é uma região onde nunca houve guerra a sério, ou seja a UNITA andava por ali mas bem controlada pelos Flechas e PIDE, e já quase no fim uma franja do MPLA instalou-se na vizinha Zâmbia, dizia-se que seria a "facção Chipenda". Mas seria em número tão reduzido e com pouco armamento, que não se lhe conheceu qualquer actividade.

De notar que medido no Google Earth, de Cassai Gare até à fronteira mais próxima (Catanga) são 150 km, mas se for para a fronteira da Zâmbia que vai pelo Cazombo,  são mais de 300 Km.

Portanto, esse grupo atraiçoado pela senhora da galinha já demonstrou muita audácia onde dominava a UNITA e mesmo esta não andava muito à vontade porque os Ganguelas não gostavam deles.

Valdemar, vou dar uma informação sobre esses comerciantes que durante os treze anos de guerra em Angola, em todo centro, sul, litoral sudoeste e interior sudeste (Congo à parte) falavam em geral mais que um idioma, que era uma arma de defesa muito importante.

O angolano naquele tempo vivia em tribos muito fechadas umas das outras e falava apenas a sua língua e mal o português.

É o que me cumpre informar sobre o que vi na SIC e o que me lembro há mais de 45 anos, e o que vi no Google Earth, onde se reconhecem as casas dos comerciantes já meio em ruinas.

7 de outubro de 2022 às 00:16


(ii) Valdemar Queirox (foto à esquerda) 
(ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70):

Antº. Rosinha, não dá para comparar a guerra na Guiné e o que se passava na extensa Angola.

A galinha pareceu-me um galo. A senhora tinha naquele lugar, junto da estação, quase a família toda, ficou sozinha mais outra e nunca lhes fizeram mal, nem com um dedo.

Estes comerciantes "colons" eram conhecidos por serem informadores dos dois lados, e tanto uns como outros sabiam disso.

O meu compadre, casado com a madrinha do meu filho, teve durante muitos anos um restaurante no norte de Angola, junto da fronteira com o Congo e zona de implantação da UPA/FNLA. Dizia que camionistas faziam milhares de quilómetros para ir lá comer bife à ...(não me lembro). Tínhamos grandes discussões por ele ser salazarista, mas tinha uma bandeira da FNLA.

A realização da reportagem arranjou a coisa de maneira a não ferir suscetibilidades.

7 de outubro de 2022 às 02:59


(iii) Antº Rosinha;

Valdemar, a Guiné não tinha nenhuma comparação com Angola, no entanto o grande sonho de Cuba e União Soviética era alcançar primeiro Angola e depois África do Sul.

E taticamente, usaram o ponto fraco e mais fácil e mais barato e com menos riscos, a Guiné-Bissau.

E mesmo depois da independência usavam a Guiné e Cabo Verde para apoio logístico para aquela guerra de 28 anos em Angola. Essa, sim, guerra africana a  sério.

Mas essa dos comerciantes, e toma atenção, os camionistas que faziam milhares de quilómetros por um bife. Camionista era uma profissão considerada como se fosse uma especialidade, em Angola, tinham a mesma fama de jogar com pau de dois bicos.

Em geral ser-se Camionista era ser dono do próprio camião e que no Congo da UPA deslocava-se em coluna militar mas no resto de Angola viajava por conta e risco e até contrabando fazia para os países vizinhos com mercadorias sem "guia", vez por outra apanhados pela polícia.

Essas duas actividades, comerciantes e camionistas, tipo caixeiros viajantes,  é que foram no meu entender os grandes colonialistas à portuguesa, contacto total com as etnias porque o resto não passávamos de uns funcionários à espera do tempo passar.

Mas não pensemos que esses comerciantes "do mato" e os camionistas, durante a guerra não estavam conectados com os Governadores de distrito e com a PIDE e com os Chefes de posto.

Essa gente comprovadamente eram aqueles que melhor sabiam utilizar a Psico, a maneira deles, e como sabiam utilizar os idiomas tribais, conseguiam pôr os clientes a fazer-lhe a protecção que precisavam.

E como em 1961 aconteceu com a UPA no Norte o tal terrorismo, que a mulher do galo fala nisso, serviu de lição e dali para a frente tudo ficou de pé a trás.

Eu e centenas de colegas das Estradas, outros de Geologia e Minas, e várias outras missões, também agrónomos, corríamos tudo, mas olho no burro olho no cigano, e onde houvesse comerciantes estacionavamos sempre, e até se pernoitava e pedíamos conselhos.

Essa insignificante reportagem da mulher com o galo, é muitíssimo elucidativa de um dos pormenores que se passavam em Angola.

Quase incompreensível para quem tenha vivido a guerra da Guiné, e até para muitos milhares de portugueses que apenas viveram nas cidades de Angola.

O povo não tinha a mínima fé nos 3 movimentos, 3 sem falar nas facções do MPLA que depois se viu a mortandade do 27 de maio de 1977 entre eles.

Era o povo que nos segurava, 13 anos fabulosos "escandalosamente" que eu vivi.

Evidentemente que enquanto houvesse uma mina na estrada estávamos em guerra.

Mas o mais perigoso para a tropa, onde ficou muita gente,  foi aquelas estradas para pequenas velocidades, mas que os unimog guiados por jovens motoristas largavam-se,  até eu andei aos trambolhões.

7 de outubro de 2022 às 12:09


(iv) Valdemar Queiroz:

Então, quer dizer que aqueles milhares de jovens que morreram na guerra da Guiné, em Angola e Moçambique foi para defesa dos interesses dos EUA, e não teve nada a ver com o barrete salazarado do Portugal de Rio de Onor a Timor ...e quem se lixou foram os mexilhões da costa vicentina?|

7 de outubro de 2022 às 13:44
__________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 6 de outubro de  2022 > Guiné 61/74 - P23677: Agenda cultural (818): "Despojos de guerra", série em quatro episódios, de 40' cada, sobre a guerra colonial: estreia hoje na SIC, no Jornal da Noite

(**) António Rosinha: 

(i) ) beirão, tem mais de 130 referência no nosso blogue;

(ii) é um dos nossos 'mais velhos' e continua ativo, com maior ou menor regularidade, a participar no nosso blogue, como autor e comentador;

(iii) andou por Angola, como topógrafo, nas décadas de 50/60/70, do século passado;

(iv) fez o serviço militar em Angola, sendo fur mil, em 1961/62;

(v) diz que foi 'colon' até 1974 e continua a considerar-se um impenitente 'reacionário' (sic);

(vi) 'retornado', andou por aí (com passagem pelo Brasil, já sem ouro, nem pedras preciosas...), até ir conhecer a 'pátria de Cabral', a Guiné-Bissau, onde foi 'cooperante', tendo trabalhado largos anos (1987/93) como topógrafo da TECNIL, a empresa que abriu todas ou quase todas as estradas que conhecemos na Guiné, antes e depois da 'independência';

(vii) o seu patrão, o dono da TECNIL, era o velho africanista Ramiro Sobral;

(viii) é colunista do nosso blogue com a série 'Caderno de notas de um mais velho'';

(ix) pelo seu bom senso, sabedoria, sensibilidade, perspicácia, cultura e memória africanistas, é merecedor do apreço e elogio de muitos camaradas nossos, é profundamente estimado e respeitado na nossa Tabanca Grande, fazendo gala de ser 'politicamente incorreto' e de 'chamar os bois pelos nomes';

(x) a ele poderá aplicar-se o provérbio africano, há tempos aqui citado pelo Cherno Baldé, o "menino e moço de Fajonquito": "Aquilo que uma criança consegue ver de longe, empoleirado em cima de um poilão, o velho já o sabia, sentado debaixo da árvore a fumar o seu cachimbo". 

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23677: Agenda cultural (818): "Despojos de guerra", série em quatro episódios, de 40' cada, sobre a guerra colonial: estreia hoje na SIC, no Jornal da Noite



1. Press release da produtora Blablabla Media, com data de 3 do corrente:



Despojos de Guerra estreia esta quinta-feira 
no Jornal da Noite da SIC


É já esta quinta-feira, dia 6, que a SIC promete mostrar a guerra colonial portuguesa como nunca a viu: a cores. 

A estreia do primeiro dos quatro episódios da série documental DESPOJOS DE GUERRA terá lugar no Jornal da Noite. 

Assinada por Sofia Pinto Coelho, a mais recente coprodução documental da Blablabla Media revela histórias extraordinárias de espionagem, patriotismo, sobrevivência e romance, dando voz às encruzilhadas que inesperados protagonistas enfrentaram em tempos de guerra e de descolonização. 

Figuras como a de Sebastiana, a informadora — uma anónima comerciante portuguesa que, no auge do conflito em Angola, se viu tornar agente dupla e influenciar o curso da guerra naquele país. 

Disponível na Opto desde o dia 19 de fevereiro, DESPOJOS DE GUERRA destaca-se pelo recurso a imagens de arquivo inéditas e pela primeira vez sujeitas a um processo de colorização.



Cada semana, um novo capítulo (40' ):

A INFORMADORA (Ep. 1 - 6 out) |

 No auge da guerra colonial em Angola, uma comerciante e o marido avisavam a PIDE quando os guerrilheiros iam à sua loja abastecer-se de mantimentos. Sebastiana Valadas revela qual era o seu nome de código, quanto recebiam pelas informações e como prendiam os “turras”. Depois da descolonização, um deles ajustou contas e mandou prendê-la.

Disponível na Opto, em versão alargada

COMBATENTE AFRICANO (Ep. 2 - 13 out) | 

Milhares de africanos combateram ao lado dos portugueses na guerra colonial. Com a descolonização, foram deixados à sua sorte. Alguns foram fuzilados ou perseguidos pelos novos poderes e mesmo para receber tratamentos médicos é-lhes dificultada a vinda a Portugal. Como é possível que não se faça justiça perante estes homens que estiveram na dianteira da guerra, como é o caso do antigo Cabo Luís Silva?

Disponível na Opto, em versão alargada

CORREDOR DA MORTE (Ep. 3 - 20 out) | 

O que significará dar a vida pela pátria? Contrariados ou voluntariosos, foi o que fizeram 800.000 jovens a partir de 1961. A Guiné estava transformada no mais duro e mortífero campo de batalha e foi para lá que foram enviados o piloto-aviador Miguel Pessoa e a enfermeira paraquedista Giselda Antunes.

Disponível na Opto, em versão alargada

LAÇOS DE SANGUE (Ep. 4 - 27 out) | 

Chamam “filhos de tuga” aos mestiços nascidos das relações entre militares portugueses e mulheres africanas que foram deixados para trás. Entre a revolta e a esperança, ainda hoje tentam encontrar um nome de pai e descobrir a outra metade da sua identidade, como sucede aos irmãos Elva e José Maria Indequi.

Disponível na Opto, em versão alargada


Copyright (C) 2022 | |Blablabla Media :b | All rights reserved
__________

Nota do editor:

quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Guiné 61/74 – P23675: Agenda cultural (816): "Despojos de Guerra", mini-série da SIC, a ir para o ar nos próximos dias 6; 13; 20 e 27 de Outubro, no fim do Jornal de Noite. No dia 20, o episódio é dedicado aos nossos camaradas Giselda e Miguel Pessoa, "o casal mais strelado do mundo"




Guiné > Bissalanca > BA12 > 1974 > 26 de março de 1973 > O então ten pilav Miguel Pessoa na pista do aeroporto, em maca, ... À esquerda, a 2.ª srgt enfermeira paraquedista Giselda Antunes (mais tarde, Pessoa).

 No dia anterior, domingo, 25, e em pleno dia, o aquartelamento de Guileje fora duramente atacado durante cerca de hora e meia. Foram usados foguetões 122 mm. A parelha de Fiat G-91 (Miguel Pessoa e António Martins de Matos) que estava de alerta em Bissalanca, nesse dia e hora, veio em apoio de fogo. A aeronave do Miguel Pessoa, que vinha à frente, foi atingida por um Strela, sob os céus de Guileje... Foi o primeiro Fiat G-91, na história da guerra da Guiné, a ser abatido pela nova arma, fornecida pelos soviéticos ao PAIGC, o míssil terra-ar SAM-7 Strela (de resto, já usada e testada na guerra do Vietname)... 

O ten pilav  Miguel Pessoa conseguiu, felizmente, ejectar-se. E a sua posição foi sinalizada pelo seu asa... Vinte quatro horas depois, era resgatado, são e salvo, pelo grupo de operações especiais do Marcelino da Mata e por forças da CCP 123, comandadas pelo malogrado cap paraquedista João Cordeiro).

Foto (e legenda): © Miguel Pessoa (2009). Todos os direitos reservados, (Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)


1. Com a devida vénia ao nosso camarada Miguel Pessoa (Coronel PilAv Ref, ex-Capitão PilAv da BA 12 - Bissalanca, 1972/74) e ao Blogue da Tabanca do Centro, reproduzimos o Poste 1343, ali publicado, que dá conta da emissão de uma mini-série na SIC, intitulada "Despojos de Guerra", com um episódio no dia 20 dedicado ao casal mais strelado do mundo:


“DESPOJOS DE GUERRA” , NA SIC

Meus caros:

Há já mais de um ano a SIC, através do trabalho da jornalista Sofia Pinto Coelho, preparou a apresentação de uma mini-série a que chamou "Despojos de Guerra", com 4 episódios, já prontos há bastantes meses, mas que as vicissitudes do conflito na Ucrânia levaram a adiar a sua exibição até agora.

Referiu-me agora a Sofia Pinto Coelho que esta mini-série vai finalmente ser apresentada, prevendo-se a sua exibição na SIC numa rubrica “Grande Reportagem” integrada no final do Jornal da Noite da SIC (cerca das oito e picos da noite) nas datas abaixo indicadas:

6OUT - Episódio sobre uma informadora da PIDE

13OUT - Episódio sobre um combatente africano DFA (Deficiente das Forças Armadas)

20OUT - Episódio que acharam suficientemente curioso para abordar uma conversa com a Giselda e Miguel Pessoa…

27OUT - Episódio sobre os Filhos do Vento - crianças que nasceram fruto das ligações de militares nossos a mulheres africanas.

Segundo a jornalista, esta apresentação será antecedida de uma promoção prévia no canal SIC - de que não me dei ainda conta; mas, pelos vistos, tendo estado em banho-maria há largos meses, este projecto encontrou finalmente pernas para andar... E, como o primeiro episódio está previsto já para 5.ª feira 6 de Outubro, aqui fica o aviso para quem possa estar interessado em ver.

Abraço
Miguel Pessoa

____________

Nota do editor

Último poste da série de 5 de Outubro de 2022 > Guiné 61/74 – P23673: Agenda cultural (815): Apresentação do meu 11.º livro "Bola de Trapos - Crónicas Desportivas do Baixo Alentejo, 1904 a 2022", Edições Colibri, no próximo dia 11 de Outubro, pelas 19h00, na Bibiloteca Municipal José Saramago, em Beja (José Saúde)

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Guiné 61/74 - P23030: Agenda Cultural (801): Adiada sine die a emissão de "Despojos de guerra", uma série documental da jornalista Sofia Pinto Coelho da SIC (Miguel Pessoa, Coronel PilAv Reformado)



Série docmental "Despojos de guerra", da autoria de Sofia Pinto Coelho, coprodução coprodução SIC | Blablabla Media... Dois fotogramas do "trailer", disponível na plataforma de streaming Opto.Sic.pt... (Reproduzidos com a devida vénia...)


De acordo com a mensagem da Produtora da SIC, Sónia Ricardo, enviada ao nosso camarada Miguel Pessoa em 24 de Fevereiro, devido aos trágicos acontecimentos no Leste Europeu, a emissão da série "Despojos de guerra" foi adiada sine die.

As novas datas serão anunciadas oportunamente
____________

Nota do editor

Vd. poste de 19 DE FEVEREIRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23008: Agenda Cultural (800): "Despojos de guerra", uma série documental da jornalista Sofia Pinto Coelho, que será emitida no Jornal da Noite da SIC nos dias 24 e 28 de fevereiro, 3 e 10 de março... Disponível também, a partir de hoje, na plataforma de streaming Opto.Sic

sábado, 19 de fevereiro de 2022

Guiné 61/74 - P23008: Agenda Cultural (800): "Despojos de guerra", uma série documental da jornalista Sofia Pinto Coelho, que será emitida no Jornal da Noite da SIC nos dias 24 e 28 de fevereiro, 3 e 10 de março... Disponível também, a partir de hoje, na plataforma de streaming Opto.Sic



Série docmental "Despojos de guerra", da autoria de Sofia Pinto Coelho, coprodução coprodução SIC | Blablabla Media... Dois fotogramas do "trailer", disponível na plataforma de streaming Opto.Sic.pt... (Reproduzidos com a devida vénia...)



1. Mensagem, com data de ontem,  de Sónia Ricardo, produtora de informação da SIC, que esteve a trabalhar no projeto documental da jornalista Sofia Pinto Coelho sobre a Guerra Colonial, e que nos solicitou colaboração para poder contactar autores de algumas fotos publicadas no blogue e obter a sua cedência:

Caro Luís,

Regresso ao seu contacto para dar conta de que a série "Despojos de Guerra", uma coprodução SIC | Blablabla Media, vai ser disponibilizada em estreia na nossa plataforma de Streaming OPTO no sábado dia 19 de fevereiro.

Será emitida no Jornal da Noite da SIC nos dias 24 e 28 de fevereiro, 3 e 10 de março. Estas são as datas previstas que, por alguma força da atualidade, podem ser alteradas. Caso tenha conhecimento atempado de alguma alteração das datas previstas, informarei em conformidade.

Mais uma vez, muito obrigada pela colaboração nesta série.

Qualquer questão não hesitem em contactar-me.

Sónia Ricardo

2.  Informação do editor LG:

"Despojos de Guerra" é uma série documental, de Sofia Pinto Coelho, sobre "informadores e combatentes que foram heróis anónimos da guerra colonial". Num dos episódios (talvez o terceiro) é entrevistado o nosso camarada Miguel Pessoa, hoje cor pilav ref, na altura ten pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74. (Tem cerca de 220 referências no nosso blogue.)

Elenco:
Jornalista: Sofia Pinto Coelho
Imagem: Paulo Cepa; Pedro Castanheira
Edição de imagem: Luís Gonçalves
Produção: Sónia Ricardo

domingo, 21 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21929: E os nossos assobios vão para... (3): O moderador e os intervenientes do debate da TVI sobre o Marcelino da Mata... (Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista do STM)

1. Mensagem do nosso camarada  Belarmino Sardinha  (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM, Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau, 1972/74), com data de 18 de Fevereiro de 2021, com um artigo onde expõe o seu ponto de vista ao modo como foi tratada, na TVI, a memória do TCor Marcelino da Mata, recentemente falecido. Recorde-se que o Belarmino Sardinha, membro de longa data da Tabanca Grande, conviveu com muitas personalidades da nossa vida literária e cultural, por ter trabalhado uma vida inteira na Sociedade Portuguesa de Autores,


Sobre Marcelino da Mata e
outros que entretanto vieram a público


Tenho acompanhado minimamente todo o desenrolar do processo sobre a morte de Marcelino da Mata e lamentavelmente tenho lido ou ouvido algumas barbaridades iguais às que se diz terem sido feitas por ele.

Conheci pessoalmente Marcelino da Mata só depois do ano 2000, mas reconheci neste camarada de armas um homem vertical, directo e afável sem fantasmas ou queixumes como não vejo ser o caso dos seus detractores.

Estive na Guiné, na Arma de Transmissões do STM entre 15 de Junho de 1972 e 20 de Julho de 1974. Andei por Mansoa, Aldeia Formosa (Quebo), Bolama e Bissau e inevitavelmente ouvi falar e contar muitas histórias de Marcelino da Mata.

Lembro-me de alguns dos operacionais dizerem “hoje podemos dormir descansados, o Marcelino anda por aqui”, curiosamente não me lembro de nenhum referir que o Marcelino era um assassino ou que era um traidor, como me parece haver alguns depois do 25 de Abril de 1974, por opções e/ou oportunidades políticas.

Sempre foi falado o facto das tropas africanas, em especial os Comandos Africanos terem uma actuação mais radical por onde passavam, é um facto, em especial com as bajudas, mas isso tinha muito que ver com a idade… Não ficaram também lá filhos de militares brancos do continente?

O porquê da gota de água que faz transbordar o copo?

Assisti a uma conversa, não chamo debate e muito menos esclarecimento sobre Marcelino da Mata, na TVI 24 pelas 23H00 do dia 16 do corrente. Reconheço à TVI o papel de ter sido a única que, ao que se me deu saber, lembrar que tinha havido o funeral do militar mais condecorado do Exército Português, logo um militar ao serviço de Portugal. 

Não foi feliz a escolha dos intervenientes, um, honestamente, confessou algum desconhecimento sobre a figura que iam debater, enquanto o outro assumiu-se como um verdadeiro conhecedor da matéria.

Considero o que vi lamentável. Não posso deixar de manifestar aqui a minha opinião sincera e desinteressada sobre os protagonistas.

Conheci Fernando Rosas, sem que com ele privasse, mas conheci-o e tinha por ele, enquanto historiador, alguma admiração e até simpatia, já enquanto político parece-me medíocre. Filiado num partido que lhe proporcionou ser figura pública, parece-me tê-lo levado a voos para os quais não está preparado e ao esgrimir argumentos sem conhecimento e de forma politicamente tendenciosa, torna-se incompetente e suspeito nas suas análises históricas.

Não sei se Fernando Rosas fez o serviço militar, e se o fez, quando e onde. Como político desviou sempre a conversa dizendo que estavam a falar de Marcelino da Mata e dos seus crimes. Como o fazem os políticos, aproveitou-se de uma publicação, no Facebook, feita por um outro camarada que prestou serviço no gabinete jurídico militar em Bissau, Mário Barbot Costa, que na qualidade de escritor assina como Mário Cláudio, para dizer que tinha havido vários processos contra Marcelino da Mata, mas que todos tinham sido arquivados por ordem não se sabe de quem. É estranho não se saber de quem, mas enfim, isso serve para outro tema. Contudo mostrou total desconhecimento e ignorância sobre Marcelino da Mata, aproveitou-se e recorreu a outros para fazer o seu papel político e desenfrear um ataque torpe e mesquinho a quem nunca conheceu.

Sem qualquer pedido ou necessidade de defesa, uma vez mais e em minha opinião, conheci e privei por mais que uma vez com Mário Cláudio por questões profissionais e já fora da instituição militar, não digo que o conheça de forma a poder afirmar o que pensa, mas estou em crer que apenas disse o que disse para não endeusarem Marcelino da Mata, tanto assim que, segundo Fernando Rosas, começou por escrever que respeitava o combatente Marcelino da Mata, referindo depois ter havido processos arquivados. Não li o que escreveu Mário Cláudio.

Na qualidade de historiador e político, de forma séria, competia-lhe fazer um enquadramento histórico sobre as etnias guineenses e o seu relacionamento para depois falar da actuação de Marcelino da Mata. Talvez então pudesse falar sobre o ataque de que foram alvo e barbaramente assassinados três majores e um alferes, quando desarmados se deslocaram ao que seria um encontro com tropas do PAIGC, combinado secretamente e que visava o início de um cessar fogo…

Ribeiro e Castro ainda lembrou o que fizeram a Marcelino da Mata, depois de 25 de Abril de 1974 os esbirros políticos ligados a alguns partidos ditos de esquerda ou extrema esquerda e que em nada eram e foram diferentes dos seus antecessores da PIDE/DGS, mas não obeve qualquer reacção do seu interlocutor nem do moderador que, à deriva e sem mostrar conhecimento dos factos,  deixou navegar sem norte. Nada é comparável? Falamos depois de 25 de Abril de 1974. Talvez só não o tenham morto por receio, pois acredito não lhes faltar vontade e muito menos prazer.

Não quero deixar transparecer que Marcelino da Mata não fez ou não possa ter feito coisas execráveis e não merecesse até punição dentro da instituição que representava. Até para clarificação da posição de Portugal, mas tal como muitos outros processos foram, mesmo hoje em dia, arquivados.

Depois, não podemos e não devemos estar hoje a julgar procedimentos com 40 e muitos anos e fora do seu enquadramento. É verdade que um crime é sempre um crime, mas, como em todos os processos, algumas razões podem ter servido como atenuantes e, neste caso em concreto, a guerra, as etnias, a adrenalina ou calor vivido no momento, mas isso só quem os viveu realmente pode falar, para todos os outros não passa de filme.

Quando 'Nino' Vieira foi assassinado, num passado recente, talvez por ter chegado a presidente da Guiné, correu por aqui muita tinta a lembrar que tinha sido assassinado e falando sobre como ele tinha sido como aguerrido guerrilheiro que lutou pela sua terra e pelo seu povo etc. etc. etc. Ninguém se lhe referiu como assassino e ninguém falou sobre a bárbara forma como ficou retalhado. Isto só para comparação com Marcelino da Mata…

Também, quando Jonas Savimbi foi assassinado e nos foi apresentado como morto fez igualmente correr muita tinta nos nossos jornais, mas o politicamente correcto impede que isso se faça com Marcelino da Mata.

Estas duas notas servem para lembrar que se podia e devia falar sobre história e sobre as formas brutais e bárbaras como lutam entre etnias e até aproveitar para falar sobre temas como a mutilação genital feminina e outras práticas e tradições do povo africano no seu estado puro.

Há quem defenda que os anos passam por nós e nos tornam mais sábios e tolerantes, que os impulsos da juventude são corrigidos pelo passar dos anos etc. etc. etc. Não sei se será o que acontece com todos, a necessidade dos holofotes sobre si, a vaidade, ou outras razões de necessidade levam muitos a não conseguirem estar tranquilos e a obrigarem os outros a deixarem de estar.

Eu, e estou crente que muitos outros que passaram pela Guiné no período da Guerra, estão agradecidos à TVI por lembrar e falar sobre a morte de Marcelino da Mata, só lamento que não tenha sabido escolher melhor os elementos do painel e melhor preparado o moderador. Poderiam ter escolhido melhor as figuras do painel, mantendo as que quisessem, mas procurando outra ou outras figuras com conhecimento da operacionalidade de Marcelino da Mata, como, por exemplo, o Coronel Matos Gomes, igualmente figura pública com obra publicada, operacional em acções conjuntas, conhecedor e por certo, muito mais isento e assertivo nas palavras.

Resta-me desejar que Marcelino da Mata, finalmente, descanse em paz.

Um abraço,
Belarmino Sardinha

____________

Nota do editor

Último poste da série de 16 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20461: E os nossos assobios vão para... (2): A Liga dos Combatentes... O nome do infortunado ex-alf mil pilav Francisco Lopes Manso (1944-1970) ainda não consta do sítio da Liga dos Combatentes... Morreu em 25/7/1970, quando o heli AL III se despenhou nas águas do Rio Mansoa, transportando 4 deputados e um oficial do exército. O seu corpo nunca apareceu (António Martins de Matos / Luís Graça)