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terça-feira, 29 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P13066: Crónicas higiénicas (Veríssimo Ferreira) (6): Pretendem atrofiar-me a memória?

Anúncio do sabão Lifebuoy, 1902.. Fonte:
Wikipedia. Imagem do domínio público.
1. Em mensagem do dia 18 de Abril de 2014, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil da CCAÇ 1422/BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, Pelundo e Bissau, 1965/67) enviou-nos mais uma Crónica Higiénica.

Desta feita para, com toda a legitimidade, deixar aqui a sua indignação face às afirmações reproduzidas no nosso blogue, pelo camarada Manuel Vitorino (jornalista e ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4518/73, Cancolim, 1973/74) que no mínimo tiram do sério qualquer ex-combatente que viu morrer a seu lado um companheiro de armas.
Por vezes, também nós editores, falo por mim, discordamos daquilo que nos aparece para publicação, mas é nossa obrigação manter distância e reagir, se for o caso, em local apropriado.


CRÓNICAS HIGIÉNICAS

6 - PRETENDEM ATROFIAR-ME A MEMÓRIA? Esqueçam

Até se me saltou a tampa, senão vejam bem, que no post 12955 aqui no n/blogue se afirma:

- "A MINHA COMPETIÇÃO FOI OUTRA"
- "A GUERRA DA GUINÉ SÓ PODIA SER GANHA PELO PAIGC"
- "...UMA COLUNA DE «TEMÍVEIS GUERRILHEIROS DO PAIGC ULTRAPASSOU O ARAME FARPADO E VEIO FRATERNALMENTE AO NOSSO ENCONTRO"

E EU? EU, que sei ler, comecei a ferver... a ferver... a ferver.

Mas muito calmamente, vamos lá ao contraditório:

- "COMPETIÇÃO" significa disputa.
E então o camarada estava a competir ou a lutar, cumprindo o seu dever enquanto militar integrado no Exército, que lhe ensinou e pagou, para defender a Pátria?

- "SÓ PODIA SER GANHA PELO PAIGC"
Não consigo chegar a tal conclusão, nem tão pouco a admito, embora a tenha ouvido já algumas vezes, e ouvido o contrário por muitas mais. Ou será que eu e os que pensamos que a guerra podia ser ganha por nós PORTUGUESES, somos heróis, e aqueles que pensam o contrário são cobardes?

Estou convencido que uns e outros coexistiram em quaisquer dos casos, mas só que os heróis, não renegam...
NÃO COMPETIAM MAS LUTARAM...
SOFRERAM...
VIRAM AMIGOS A DESAPARECER...
COMBATERAM POR SI E PELOS SEUS, PARA SE DEFENDEREM, que essa era a sua missão.

Mas aquela: "UMA COLUNA DE TEMÍVEIS GUERRILHEIROS, etc etc etc... fez-me rir e lastimar o autor destas opiniões que o sendo, mereceriam o meu desprezo mas que aqui postadas como afirmações sem nexo, apenas repudio com nojo.

Brincamos ou quê?

Provavelmente o autor deste post 12955 nunca ouviu falar do FUR.MIL Higino Arrozeiro, da minha CCAÇ 1422, que foi morto ali na estrada que liga K3 a Mansabá, por mina colocada pelos "temíveis guerrilheiros" como lhes chama e "com quem trocou a farda e os emblemas tal e qual como acontece nos jogos de futebol"
- Provavelmente o autor deste post 12955 nunca ouviu falar do Cap Corte Real, CMDT da minha CCAÇ 1422, morto ali na estrada que liga o K3 a Farim, por mina colocada pelos "temíveis guerrilheiros", como lhes chama, e "com quem trocou a farda e os emblemas, tal e qual como acontece nos jogos de futebol"
- Provavelmente o autor deste post 12955 nunca ouviu falar daqueles sete infelizes, incluindo três majores, bárbaramente assassinados e que pacificamente, desarmados, iam para um encontro pretensamente amigável com os "temíveis guerrilheiros" e que foram liquidados a sangue frio e à catanada pelos mesmos "temíveis guerrilheiros, como lhes chama e com quem trocou a farda e o emblema, tal e qual como acontece nos jogos de futebol"

É EM SITUAÇÕES DESTAS que lastimo ser educado e não saber escrever asneirame, pois que me apetece mesmo espetar aqui meia dúzia daquelas do mais ordinário que sei. 
Fiel aos meus princípios, não o farei mas... Espero que o autor deste post 12955, que esteve a beber cervejas talvez até com os causadores dos assassinatos que atrás menciono, e de tantos mais outros amigos e por quem choro cada dia, pois que o autor, repito, medite... e que a luz o ilumine. 

Chega de dor... chega de gozarem com a tropa... chega de provocações.

Veríssimo Ferreira
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Nota do editor

Último poste da série de 16 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12844: Crónicas higiénicas (Veríssimo Ferreira) (5): Contrastes e coincidências

domingo, 16 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12844: Crónicas higiénicas (Veríssimo Ferreira) (5): Contrastes e coincidências

Anúncio do sabão Lifebuoy, 1902.. Fonte:
Wikipedia. Imagem do domínio público.


1. Em mensagem do dia 12 de Março de 2014, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil da CCAÇ 1422/BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, Pelundo e Bissau, 1965/67) enviou-nos a sua habitual Crónica  Higiénica para publicação.






CRÓNICAS HIGIÉNICAS

5 - CONTRASTES E COINCIDÊNCIAS

P12790
Numa foto está escrito: "três mil soldados para uma piscina".
Claro que fiquei a pensar: Em Bafatá? Paraíso para onde só alguns iam combater... a boa comida... o sossego... o cinema? Mas como três mil? Não será exagero... tanta gente a descansar, ou melhor 12% então, de toda a população militar da Guiné concentrada num só local?

Alembrei-me do tempo que andei lá nos matos (Agosto/65,Julho/66) e da forma primitiva como vivemos, em Bissorã, Mansabá, Manhau, K3, Biribão e respondido a emboscadas várias nas matas, nos caminhos e até no próprio aquartelamento, valendo-nos nessa altura, a artilharia de Farim.

E que bom teria sido se tivéssemos, nós os 150 da CCAÇ 1422 nem que fosse um tanque de lavar roupa, para não termos de ir ao rio gastar granadas para afugentar os crocodilos e banhar-nos em meia-hora, que depois eles voltavam.

P12787
Aqui o contraste... o horror e não a piscina. Esta foi a guerra que conheci.

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"Meus amigos", tal como diz a canção "A ternura dos 40"... "o importante é o sorriso".
Façam-no, descontraiam, recordem, sintam saudades, que isso sim é sinal de que ainda estamos vivos, sentimos, amamos e sofremos. E nem se preocupem se o dinheiro chega e se os impostos vão aumentar. Preocupemo-nos sim com o próximo jogo de futebol qu'o resto nada vale.

E como diz o PR, vamos demorar 21 anos a ser novamente PORTUGAL. Não comento ladrões, que roubam para sustentar a mulher estrabeculosa e os filhos que não comem o suficiente nas cantinas escolares, não comento políticos, nem futebóis, mas comento, por me dizer respeito, esta questão do 21.

É que, vejam bem a perseguição: nasci a 21, casei a 21, cheguei à nossa Guiné a 21, sai de lá a 21 e agora mais o 21 para finalmente deixar a pata protectora das gentes boas que desinteressadamente nos ajudam a pagar mais impostos... nos retiram subsídios.... Sensibilizado me sinto por termos tão bons dirigentes... confesso, pois que se em vez de 21 fossem 22, estragavam-me a mnemónica.

Mais do que tudo até lhes agradeço... pois que me fazem lembrar o tempo que andei de G3 com bipé, capacete na tola, quatro ou cinco cartucheiras cheias no cinto, cantil com whisky Vat 69, três ou quatro granadas de morteiro 60 no torso, mais duas ou três defensivas nos bolsos do camuflado. Mas sei que valeu a pena ter combatido para a construção dum Mundo melhor... ah pois valeu, e como gostaria de voltar aos meus vinte e pouco anos, talvez não os deixasse gozarem assim tanto com o povo que tanto defendem, mas aporcalham porque sabem que já não há revoluções que lhes façam frente.

Mas também morrem e que a morte seja, antes, cheia de sofrimento idêntico ao que estão a provocar. Nesse dia e se calhar até invocarão os Deuses, cujas teorias desrespeitam.

P12817
Caro camarada d'armas, permite-me que te cumprimente pelo desassombro.
Há verdades incómodas para alguns, mas mal de nós se tivermos de desistir ou de pôr por escrito o que sabemos. "Ver para crer" foi dantes e perdoar até será uma coisa boa, mas a verdade é que os crimes ainda não esqueceram e como tal ainda não prescreveram.

Há camaradas brancos e bloguistas que ficaram instalados na Guiné após a "descolonização exemplar" e que por força das pressões posteriores dos mandantes, a tiveram que abandonar devido a perseguições e ameaças. Também o mesmo aconteceu com Angola e deixemo-nos de ser ingénuos.
A que chamarão a isso os puristas? Não foi racismo? E quando a UPA começou a matar brancos em Angola (1961) não foi racismo?

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Hoje 11 de Março e para dar continuidade a essa treta da fisioterapia, enquanto esperava lendo o que já havia lido, fui ouvindo um senhor que procurava estabelecer diálogo, fosse com quem fosse e ali estivesse a aguardar a sua vez e até com quem de novo chegasse.

Olhei-o, vi que precisava de alguém para desabafar e decidi sentar-me ao seu lado. Esteve em Madina do Boé, algum tempo em Nova Lamego, fez um mês de férias em Bissau, foi aos bairros pobres e durante o dia, ouvir a música... ver os pretinhos a dançar e só não se atreveu a ir de noite, pois que se dizia ser perigoso.
Fez a especialidade em Tavira, na mesma altura que eu... foi para Lamego na mesma altura que eu... foi no Niassa... no mesmo dia que eu...
Dói-lhe o corpo todo e gostaria de voltar a ser novo... tal como eu.

Chamaram-me para as massagens... e eu não fui.
Chamaram-no... e ele foi.

Nada falei... apenas ouvi e prometi que na 5.ª feira cá estaremos de novo.
Nem nos "apresentámos"...nem fiquei a saber o seu nome. Vim para casa tremendo e a pensar que afinal estamos mesmo sem ninguém que nos oiça.
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Nota do editor

Último poste da série de 9 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12813: Crónicas higiénicas (Veríssimo Ferreira) (4): Semanas para esquecer

domingo, 9 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12813: Crónicas higiénicas (Veríssimo Ferreira) (4): Semanas para esquecer

Anúncio do sabão Lifebuoy, 1902.. Fonte:
Wikipedia. Imagem do domínio público.


1. Em mensagem do dia 4 de Março de 2014, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, Pelundo e Bissau, 1965/67) enviou-nos a sua habitual Crónica (semanal) Higiénica para publicação.





CRÓNICAS HIGIÉNICAS

4 - SEMANAS PARA ESQUECER

As duas últimas foram tramadas: amigos que nos deixaram sem mais nem ontem e que me fizeram pensar quão mais bera devo ser, considerando o dito "só morrem os bons".
PAZ LÁ ONDE ESTEJAM.

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Mas o blogue continuou cheio de adesões, pleno de colaborações, muitas fotos e mais histórias vividas.

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E no P12733, "O que fazer deste blogue", é sugerida uma ideia no sentido de criarmos algo para que possamos usufruir os merecidos cuidados que nunca tivemos por parte dos governantes cá da terra e até colaborar para que não continuemos esquecidos. Mas... e há sempre a porra dum "mas" eu disposto que estou a entrar nessa, devo contudo lembrar, que já muitas petições foram feitas não só por parte das Ligas... das Associações... dos blogues dos Combatentes, e também individualmente, por centenas, entre os quais me incluo e hoje mesmo 1 de Março, até protestamos ao vivo.

Será talvez, através da alteração do voto, que alguma coisa se conseguirá, considerando que botar o "X" nos habituais não tem resultado apesar de que quem o fez, o fez por acreditar no que dizem os seus mentores mentirosos compulsivos. Nanja eu que até democrata sou e aceito os resultados expressos nas urnas, mas desde que o Sporting deu aquela abada dos sete a um, ao Benfica, deixei-me de politiquices e de futebol e só me tenho dado bem.
Até esse dia fui adepto de vários partidos (nunca militante)... aos dezasseis aninhos era da esquerda, com todos os pobrezinhos que trabalhávamos lá na moagem da minha terra e em 1967, após o regresso vivo da nossa Guiné, até delegado sindical dos Bancários me atrevi a ser e continuei, apesar de me terem avisado:
- É pá se queres "subir" na vida, deixa-te disso agora... espera mais seis anos... aguarda pelo vinte e cinco do quatro de 1974, que aí sim valerá a pena. Vão haver "ocupações", os patrões deixarão de o ser, a Banca será nacionalizada e então sim: "quem tiver olho é rei".

E estava certo sim senhor, não totalmente pois que apesar de tudo, subi o que havia de subir, o que prova que os, trabalho e honradez, também tinham algum valor. Mas lá que vivi em liberdade, vivi sim senhor e durante catorze anos seguidos, mais propriamente, trabalhei na Avenida da Liberdade, junto aos Restauradores, como "caixa" do meu Banco e até fui considerado o melhor de todos, podem crer.

Aceito a democracia (que remédio...) mas aceito melhor a Fisioterapia. Nesta, passam-me a mão pelo lombo e as dores vão passando, naquela passam-me a mão pela carteira e dói... dói... dói cada vez mais. Penso até que nunca mais haverá lenitivo que resolva a situação. Daí que e como atrás digo, penso não valer a pena continuarmos a querer que nos olhem doutra forma, pois que eles mesmos (os deputados) têm plena consciência de quem somos, do que nos é devido e o que ambicionamos. Só que essas boas gentes decerto... filhos e enteados doutros que já por lá estiveram e se reformaram no máximo com doze anos de trabalho insano e também os das juventudes partidárias, não querem que existamos e em boa verdade, dentro de quinze ou vinte anos NÃO HAVERÁ MAIS COMBATENTES menos tempo do que Portugal pagará as dívidas contraídas por eles e os seus partidos.

Soluções em vez de críticas? Claro que as tenho, mesmo analfabruto que sou, mas os poderes oligárquicos que são, não aceitarão... era só o que faltava.
Olhando para aqueles excelentíssimos que fazem leis a seu favor, não vejo lá ninguém que nos represente. E então porque não poderá haver pelo menos um antigo Combatente no para lamento Parlamento? Em boa verdade há lá um, qu'até esteve na Guiné, mas as atitudes que tem tomado, mais parece ser contra nós.

Repito a ideia, que a coisa só se resolverá, com consciência de votar em quem mereça. Anarquia por anarquia... mentira por mentira... mais vale dar um pontapé nos fundilhos de quem muito nos tem prometido e melhor humilhado.
Tenho dito.

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Guiné > Bissorã > 1969: Quartel utilizado pela CCAÇ 13, localizado no centro de Bissorã 
Foto: © Carlos Fortunato (2005)

P12774: O Henrique Cerqueira, que pisou a Bissorã por onde passei uma semana e deixei pacificada, fala-nos daquela pequena dificuldade no atravessamento da fronteira. Também nós tínhamos uma, a d'Elvas, e aquilo era igual. Por isso fizémos outra em terra batida, em Sto. António das Areias, ali perto de Marvão e aquilo era sempre a aviar. Portugueses para lá, Espanhóis para cá e toda a gente sabia como fazer.
Quantas pastas de dentes Colgate bem como Whiskye "Dyc", "caraméis" licores, perfumes o que mais pudéssemos por ali passaram. Havia mais ou menos um acordo entre as autoridades dos dois países, para não chatearem e cumpriam.

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P12763: Esfalfou-se este marmelo a escrever para quê? Ó pá se queres um conselho... desiste. Vá lá vá... que mesmo assim tiveste um comentário, o que significa que ainda tens um leitor (decerto teu amigo... só pode) e a melhor forma de lhe agradeceres é... não mais o incomodares.
Vai por mim... enrola a caneta no saco e dedica-te à pesca. Vai pró teu monte... vai

Veríssimo Ferreira,
Fur. Mil. da CCAÇ 1422,
Guiné 65/67,
Mansabá, Pelundo, K3, Bissau.
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Nota do editor

Último poste da série de 3 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12789: Crónicas higiénicas (Veríssimo Ferreira) (3): Esquecer? Nunca

segunda-feira, 3 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12789: Crónicas higiénicas (Veríssimo Ferreira) (3): Esquecer? Nunca

Anúncio do sabão Lifebuoy, 1902.. Fonte:
Wikipedia. Imagem do domínio público.


1. Em mensagem do dia 24 de Fevereiro de 2014, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3 e Bissau, 1965/67) enviou-nos a segunda Crónica Higiénica para publicação.





CRÓNICAS HIGIÉNICAS

3 - ESQUECER? NUNCA

Post 12694 do nosso Blogue

Guiné-Bissau > Região do Oio > Mansabá > Dia nº 12 da viagem > 16 de abril de 2006 > Mullher com 2 dentes de ouro...
Foto (e legenda): © Hugo Costa (2006). Todos os direitos reservados.

Pois eu estou nos 82% dos que não voltaram à nossa Guiné e dos 83 que gostariam de voltar, mas calma que ainda não é tarde.
Deve ser uma emoção das grandes reviver os locais por onde andei bem como grande será a tristeza ao lembrar-me, dos amigos que deixaram de estar comigo, assassinados que foram por terroristas bárbaros e cruéis. Terroristas bárbaros e cruéis sim, e se dúvidas houvessem, basta que leiam o que se passou naquele conselho de guerra, como lhe chamaram os facínoras que o subscreveram e que tão bem está documentado no P12704 - O massacre do chão manjaco. (Transcrição do nosso camarada Jorge Picado, que em boa hora descobriu esta preciosidade) e espreitem também o P12732.

Afinal e infelizmente estávamos certos alguns de nós, quando denunciávamos o que seriam os amílcares do PAIGC e que tão bem foram recebidos em Portugal, com casa, água e lavadeira privadas, pagas pelo Estado, ou seja por nós os que nada recebemos, nem um pouco de consideração e até combatemos pelo País. E não me venha com as tretas costumadas... que não sabiam, etc., etc.
E para aqueles que ainda acreditavam na bondade dessa gente, vejam o horror que aconteceu com os nossos camaradas apunhalados e cortados com catanas... a sangue frio ali entre o Pelundo e Jolmete, para onde foram de boa fé e desarmados.
Este triste episódio demonstra àqueles que ainda tinham dúvidas, que cobardes combatemos. Guerra será sempre guerra de matas ou morres, mas isto premeditado que foi, é mais que selvajaria e bestialidade.

Continuo é sem perceber, mas lá chegarei, do porquê de termos dado asilo a monstros destes em vez de os termos aprisionado e colocado perante a justiça. Dos presentes naquela reunião, em Conacry, pelo menos um morreu da mesma forma como aplaudiu a dos nossos.
Ao que se diz e enquanto PR, usou do mesmo banho de sangue, até com os seus correligionários

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Tavira, Quartel da Atalaia > 2014 > Edifício onde esteve instalado o CISMI, até ser desactivado em 31/12/1975 
© Luís Graça (2014)

TAVIRA tem merecido (aqui no nosso Blogue) justas e merecidas homenagens, sejam escritas ou em fotos e também alguns comentários negativos contra a preparação militar de quem por ali passou e não gostou.
Para estes últimos sempre digo e não haveria necessidade de o fazer, que tudo fazia parte dum processo para preparar homens, como atiradores de Infantaria, que vieram a ser. Sem essas duríssimas etapas, física e mental, talvez não tivéssemos aguentado aquilo por que passámos lá na nossa Guiné. E sei do que falo, pois que também ajudei a treinar quatro pelotões, um de cada vez dado que só saí da Metrópole já com 21 meses e tudo o que havia de ser feito foi-o de maneira a não prejudicar ninguém mas "explorando" os limites humanamente exigíveis para que pudessem sobreviver às duras missões que se avizinhavam.

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Lamego
Foto: Pais&Filhos, com a devida vénia

E vai daí e pois tal como a Tavira, também Mafra, Lamego e Tancos, locais onde aprendi a arte da guerra, são por mim visitados regularmente e sempre com agrado, bem como Abrantes e Tomar, onde partilhei tal aprendizagem. Ontem mesmo almocei no Ti Chico, restaurante que serve o melhor peixe fresco e mantendo-me cá por baixo neste Reino dos Algarves, ali voltarei ainda esta semana, e com a conta não me preocupo que a despesa para mim e para uma das minhas "espósias" é sempre 17 euros, quer coma também pudim flin ou mousse ainda mornos, feitos diariamente... quer beba ou não aguardente de medronho (qu'o whikey "cá tem").

E se mais não for, passarei e espreitarei pela janela do quartel, onde do outro lado dormia.
E podem crer que saio revigorado desta visita da saudade.

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P12737 sobre as opiniões de altos membros das Forças Armadas.
Aqui não percebo a dúvida existente. Todos nós acompanhámos o que foi dito após o vinte e cinco do quatro por algumas personalidades (foram meia dúzia... mas foram) que em vez de respeitarem a Instituição Militar a que pertenciam, se atropelaram com verdades inverdades, esquecendo a ética... mas procurando subir, agradando à classe política dominante.
Tenho em meu poder uma gravação duma emissão de uma TV, onde estiveram reunidos alguns da esquerda e da direita. Está presente um senhor General, que perante um vídeo da própria TV, diz às tantas, mais ou menos isto: "Este que vai falando, se fosse no meu tempo e com a voz fininha" etc etc... dando a entender que nem tropa poderia ter sido.

E eu aplaudo-o. MAS QUE HÁ POR AÍ E CADA VEZ MAIS, MUITOS DE VOZ FININHA A PRECISAR DUM ENXERTO... Há.
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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12763: Crónicas higiénicas (Veríssimo Ferreira) (2): Os ursos, lobos, raposas e até os peçonhentos

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12763: Crónicas higiénicas (Veríssimo Ferreira) (2): Os ursos, lobos, raposas e até os peçonhentos

Anúncio do sabão Lifebuoy, 1902.. Fonte:
Wikipedia. Imagem do domínio público.



1. Em mensagem do dia 13 de Fevereiro de 2014, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3 e Bissau, 1965/67) enviou-nos a segunda Crónica Higiénica para publicação.



CRÓNICAS HIGIÉNICAS

2 - OS URSOS, LOBOS, RAPOSAS E ATÉ OS PEÇONHENTOS

No National Geographic está a dar um programa sobre os ursos a alimentarem-se com salmões. Luta pela vida portanto, com a qual concordo e agora... uma ursa luta com outra para salvar duas suas crias, bem lindas por acaso.

Dou-me a pensar: qu'é qu'isto tem a ver com a GUINÉ, sobre a qual irias escrever?

Tudo... respondi-me.
Tem que ver pois, que lá, lutei para sobreviver com e pelos camaradas de guerra, bem como também eles igualmente o fizeram por mim... para que nos salvássemos fisicamente... mas... mentalmente desesperávamos cada dia e eu... desesperado continuo.

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Estou a ler o nosso blog agora... e num post é descrita a morte dum lobo (e a condenação para o facto) cujo corpo até foi passeado por uma aldeia mas acrescenta-se a seguir que este não atacava crianças, só comia umas cabras para se alimentar. Cabras essas, que e obviamente, tão necessárias seriam também para a subsistência dos seus donos.

Questiono-me: mas afinal se era um predador, como fazer? E se não atacava crianças, devia-se ao simples facto de que também não as deixavam sós e sei do que falo porque na minha terra também os havia (os lobos), bem como raposas e ginetes que de noite arrebanhavam as galinhas que eram o nosso sustento, naqueles tempos difíceis dos anos 50 e 60.
A solução era fazer-se-lhes uma espera nocturna e acabar com tais bichos a tiro.

Tive e amansei, uma de cada das três feras citadas atrás, recolhidas, por abandonadas quando acabadas de nascer e com quem dividi o pouco leite (1/4 de litro) que a minha mãe adquiria a quem o andava a vender de porta em porta, e sempre vos digo... domesticados que foram, sempre que viam os referidos galináceos, ficavam bravos como própria era a sua natureza. Aliás eu, ainda hoje e tal como ontem, quando os vejo, sejam eles patos... perdizes... faisões ou franguinhas, só penso em canja e nas brasas para os assar e nas outras para se sentarem à mesa comigo.

É aqui que sinto mais as saudades do Pelundo, onde estive um mês a viver na tabanca do Ti Vicente. Ele, homem grande da zona, fazia questão de presentear diariamente a minha Secção de morteiros 60, com uma refeição de barulhentas (enquanto vivas) fracas, servidas grelhadinhas ou de chabéu e tudo preparado pelas bajudas suas filhas.

Continuemos:
Desse tempo de menino e moço saudável, ficou-me muita recordação e até dos nojentos alacraus, como lhes chamávamos, me esqueço.
Eram presença constante quer dentro das botas que o meu pai sacudia antes das calçar e donde de quando em vez, um saltava cá para fora.
Bonito era, mas pouco tempo tinha antes de ser esmagado.

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Algarve, Manta Rota 7/2/2014 

Saí agora da piscina (é coberta, aquecida), soube das chuvas que caiem lá pela capital que o foi dum Império e alembrei-ma daquelas torrenciais que suportávamos de Maio a Outubro.


Aquilo sim era chover, tanta e tão quente.
Lá no meu K3, toda a CCAÇ 1422 aproveitava e em vez de ir ao rio, que chuveiros no aquartelamento "cá tem", banhava-se dessa forma usando o Lifebuoy... nem nos limpávamos que cinco minutos passados e se permanecêssemos na suite, debaixo de telha (telha não... qu'é coisa de pobre)... debaixo sim, das madeiras tropicais dos tectos, que eram os cibes) secávamos, excepto os pés que continuavam no molho. Mas o remédio era colocá-los em cima da cama e enquanto víamos a televisão, que não tínhamos... e mesmo o rádio ouvia-se mal.
E os trovões!!!
Ao princípio nem descortinávamos se eram as bombardas de Dio... os canhões de Navarone ou se os obuses de Farim. A verdade vinha à tona ao vermos os poilões rachados ao meio.
Daí que agora se oiça muito por aí: (e somos muitos) "Raios os partam" (quando se fala de políticos entenda-se).

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Post 12701 do nosso Blog: Ora cá está um rapaz que gosto de ler, embora a princípio e quando ele escreveu "OS MELHORES 40 MESES DA MINHA VIDA", o título me parecesse desajustado. 

Porquê "os melhores etc... etc" se para todos nós, ir à tropa e depois combater, apenas nos trouxe angústias e desilusões?
Compreendi contudo e após leitura atenta, qual era o seu ponto de vista. O rapaz escreve bem, embora se notem alguns pontapés no Português, moderados que têm sido decerto pelas ajudas do seu distinto Editor, que também vai beneficiando os textos, apensando fotos adequadas às situações.


Agora com este novo título, "Crónicas Higiénicas" e parecendo ter abandonado a mordacidade habitual, vou aguardar mais uns episódios para em definitivo me pronunciar.

Noto porém e contudo, alguma melhoria na utilização gramatical e ao que sei, tem-se vindo a cultivar, lendo as obras primas mundiais, Astérix e Tim-Tim. Do mesmo autor (Senhor de, Veríssimo Ferreira) aconselho-vos também a consultar outras porcarias que tem vindo a escrevinhar, tais como "O PÓS-GUINÉ 65/67", "OS LOCAIS POR ONDE PASSEI" e por fim "FRAGMENTOS DE MEMÓRIAS".
(Blogue: Luís Graça & Camaradas da Guiné).

Veríssimo Ferreira
11/02/2014
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Nota do editor

Vd. primeiro poste da série de 9 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12701: Crónicas higiénicas (Veríssimo Ferreira) (1): A raiva que vai cá por dentro

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12701: Crónicas higiénicas (Veríssimo Ferreira) (1): A raiva que vai cá por dentro

1. Em mensagem do dia 5 de Fevereiro de 2014, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3 e Bissau, 1965/67) enviou-nos a sua primeira Crónica Higiénica.


CRÓNICAS HIGIÉNICAS

1 - A RAIVA QUE VAI CÁ POR DENTRO

Já vai sendo hábito ficar piurso e contra tudo o que aparece escrito, dando loas aos IN's que fui obrigado a combater na Guiné. Daí que e a propósito da "A minha homenagem a alguns dirigentes do PAIGC", dum nosso distinto escritor num post que foi há dias publicado no nosso blogue, manifeste aqui e mais uma vez meu desacordo quanto ao facto de se elogiarem tipos que ajudaram a matar tantos dos nossos.

O camarada fala assim porque e também como diz, só conheceu Bissau, não esteve ao lado de vivos agora, mortos daí a segundos, não apanhou pedaços de corpos dos nossos. Mas entendo que a história tem de ser contada, só que e à semelhança do que agora acontece quando me aparecem notícias (onde falam, falam falam ...de política ...de futebol) quer nos jornais, quer nas TV's e até no face, mudo de canal e não vejo não senhor.
É que não sou 100% de rancores nem de vinganças... sou apenas 98%, mas enervar-me, não vou nessa. Podem não me tratar bem (mas gosto) só que quando me tratam mal... afino com'ó caraças.

Nesta provecta idade dos 71 anos (faço 72 a 21 de Fevereiro - tomem nota, colectem-se e mandem a prenda), não estou disposto a aturar madurezas, NÃO SENHOR.

Continuando: a bestialidade terrorista de que falei na crónica anterior, foi uma das formas que tivemos de combater pois que "semeavam" minas por tudo o que era sítio, onde pensavam que os militares Portugueses, viessem a passar e nem se preocupavam se matavam soldados, sargentos ou oficiais. Dizia o IN, que não estava a combater o Povo. E então se não éramos Povo, éramos o quê?
Se tinham tantos apoios doutros países, porque não avançar por aí politicamente? Esta de "terroristas bons" nunca me passaria pela cabeça, mas tal como o ditado abaixo, direi: deixa andar porque:
"MUCHOS PERROS MATAN A UNA LIEBRE. PERO LA FECUNDIDAD DE LAS LIEBRES ES SUPERIOR A TODOS LOS ESFUERZOS DE LOS PERROS" - (sic, Hans Hellmut Kirst, no livro OS LOBOS)

Pois é... também sei castelhano, olaré!
Este é o inicio duma fantástica história, que continua a fazer-me gostar de ler. Está roto, está sublinhado, quando o comprei passei oito horas seguidas e avidamente desejoso de conhecer o final... para além das mais trinta ou mais vezes que o tenho vindo a visitar e sempre ali encontro novos motivos para o considerar o melhor dos melhores.
No fundo trata-se duma história passada numa pequena aldeia alemã e nos palhaços que apoiaram a ascensão, auge e queda do nazismo.

E por falar em nazis: "DESPACHÁMOS MILHARES".

Pôssaras, pôssaras !!! Mais uma informação apensa no nosso blogue. Foi em 1968, diz com foto e tudo.

Está provado que não foi verdade, mas sendo-o fiquei tão triste que tropas assim destemidas, não tenham lá estado de Agosto de 1965 a Abril de 1967, pois que estes sim e não eu como tenho afirmado, teriam pacificado tudo e mais alguma coisa.

A este propósito deixem-me que recorde com muita saudade, um locutor da Emissora Nacional, cujo nome se me passou, dado o meu alzheimeirado estado, que ouvia todas as manhãs às oito e que começava assim: "Alô gaivotas do Tollan" e que tinha também um programa à noite onde partia discos mas antes dizia: "Este disco não é intocável mas também não é inquebrável" ...Logo a seguir ouvíamos o ruído do escaqueirar do dito.

O que quero dizer é: Que pena não podermos "partir" este ... Cá para mim começo e desconfiar que e perante tantos mortos e só com um pelotão, o gajo que escreveu esta coisa mal cheirosa, deve ser um dos carniceiros de Treblinka (ter-se-á enganado e trocou os nomes das terras) e que escapou às malhas dos caçadores israelitas.

Mas lá, que me fartei de rir... fartei.

Veríssimo Ferreira,
3 de Fevereiro de 2014