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quarta-feira, 13 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11246: E as nossas palmas vão para... (6): Patrício Ribeiro, talvez o português que melhor conhece a Guiné profunda... e que está a fazer lá o milagre da energia solar...



Blogue Novas da Guiné-Bissau > 11 de março de 2013 > Água e eletricidade chegam a aldeias isoladas na Guiné-Bissau (reproduzindo uma peça da Agência Lusa, emitida de Bissau, 10/3/2013, fonte aliás que lamentavelmente não vem citada, como devia, e conforme mandam as boas regras )... 

Este blogue, de "informação, sem fins lucrativos e apartidário" (sic), é mantido por alguém, do sexo masculino,  que vive em Lisboa, é autor também do blogue Braga por um canudo, mas que não dá a cara (o que é pena)... É presumivelmente um antigo combatente da guerra colonial, um antigo cooperante ou  mais provavelmente um guineense da diáspora (a avaliar pelos seus seguidores, cerca de 360)... O blogue Novas da Guiné-Bissau tem um milhão de visualizações de páginas, desde 2009, ano em que foi criado...




Guiné > Bijagós > Ilha de Imbone > Orango > Casa da rádio de comunicação > Postal de boas festas, 2012, da empresa do Patrícío Ribeiro, Impar Lda, líder em instalações fotovoltaicas... "Gente isolada pelo mundo, que nós tentamos aproximar"... Foto: Cortesia de Patrício Ribeiro.


1. Mensagem, com data de ontem,  do nosso amigo e camarada Patrício Ribeiro [, português, natural de Águeda, criado e casado em Angola, com família no Huambo, ex-fuzileiro em Angola durante a guerra colonial, a viver na Guiné-Bssau desde 1984, fundador, sócio-gerente e director técnico da firma Impar, Lda.]

Assunto Novas da Guiné ... e os problemas das minhas costas, por tantas picadas..."São tabancas (pequenas aldeias) como as de Culcunhe ou Unfarim, como Sansabato ou Maque, perto de Bissorã, região de Oio, que estão a beneficiar de um projeto concebido pela organização não governamental ADPP (Ajuda ao Desenvolvimento do Povo para Povo), financiado pela União Europeia e concretizado pela Impar, uma empresa da área da energia." [...]

Vd. o resto aqui, no blogue Novas da Guiné-Bissau
 (ou mais abaixo), 


Patricio Ribeiro

IMPAR Lda

Av. Domingos Ramos 43D - C.P. 489 - Bissau ,

Tel / Fax 00 245 3214385, 6623168, 7202645, Guiné Bissau

Tel / Fax 00 351 218966014 Lisboa

www.imparbissau.com

impar_bissau@hotmail.com


2. Atualizo o que em tempos escrevi sobre o Patrício Ribeiro, rapaz hoje com os seus 65 anos, e que merece as nossas palmas, não só como empresário mas como antigo fuzileiro, homem, português, diplomata económico, cidadão do mundo, pai dos tugas, protetor dos jovens cooperantes, amigo do seu amigo, nosso grã-tabanqueiro e sobretudo grande amigo da Guiné e do seu povo...

Africanista, apanhado do clima ?... Hesitei em chamar-lhe 'africanista'... O termo está conotado com o passado da expansão colonial: o homem, o especialista que 'explora' ou 'estuda' África... Um explorador como Serpa Pinto, mas também um antropólogo, um etnólogo, um especialista em 'estudos africanos' (por exemplo, como o Eduardo Costa Dias, do ISCTE, meu amigo, amigo da Guiné-Bissau, igualmente nosso grã-tabanqueiro...).

Por outro lado, o termo também está conotado com nacionlismo panafricano... Amílcar Cabral e Nelson Mandela, por exemplo, são vistos muitas vezes como 'africanistas', 'panafricanistas', homens que têm ou tinham uma certa ideia de África, pós-colonial, continental, independente, desenvolvida, solidária, plurirracial...

Em contrapartida, 'apanhado do clima' é uma expressão, divertida mas ambígua, do nosso calão de caserna, do tempo da guerra colonial (1963/74)... A ironia é óbvia: O Patrício tem uma larga vivência de África, nasceu em Portugal (, é beirão liitoral, de Águeda) mas foi cedo, com a família, para o Huambo, Angola... E lá casou, com uma portuguesa do Huambo... Tem muitíssimos mais anos de África do que de Portugal: regressou  em finais de 1975 ao Puto, mesmo em cima da declaração da independência de Angola, pelo MPLA, veio  como 'retornado' (um termo que felizmente se ouvia cada vez menos, mas que foi reavivado com a série televisiva 'E Depois do Adeus'...), para, passados menos de 10 anos, em 1984, ter voltado a África, neste caso á Guiné, por razões aparentemente profissionais... (Não acredito no 'apelo misterioso' da África profunda, ou existe mesmo ?...).

E lá está ele, há mais de um quarto de século, não se imaginando já capaz de viver e trabalhar noutro sítio do planeta... mas sobrevivendo a tudo o que mata na Guiné e em África, em geral (a sida, o paludismo, a cólera, as infecções nosocomiais, as canoas inhomincas, as armas, o tráfico de droga, a violência, a droga de vida, os golpes de Estado, a ausência de Estado, as picadas mal alcatroadas, o tempo seco, o tempo das chuvas...).

É certo que o Puto não está longe, e sabe (ou sabia) bem ter uma retaguarda segura, à entrada da velha Europa... Apesar de tudo, Portugal é um país milenar, consistente, amigável, maneirinho, ao alcance da mão e... fiável. (Ou era ?)... Ele, Patrício, vem cá de vez em quando 'carregar baterias', revisitar família e amigos, fazer as suas análises de saúde... É bom ter uma retaguarda segura, é bom ter uma Pátria, ou duas ou três... Tiro-lhe o chapéu pela sua longevidade na Guiné, e para mais num período que foi conturbado e amargo...

Espero que ele um dia ainda nos possa contar como, em 1998, ajudou a salvar não sei quantos portugueses e guineenses, apanhados pela guerra civil que se travou à volta do poilão de Bandim... Mas o mais importante é o trabalho que ele faz hoje, como empresário, levando água, luz, calor, comunicação e sobretudo amizade e esperança a muitos guineenses do interior que vivem isolados do mundo... Um Alfa Bravo, camarada!.. Grande abraço, do tamanho da distância de Lisboa a Bissau. E cuida-me dessas costas!... Que Deus, Alá e os bons irãs te protejam sempre!...LG


3. Reprodução com a devida vénia da reportagem da Lusa, de 20/3/2012 (que foi divulgada em diversos órgãos de comunicação portugueses, como por exemplo RTP ou a Visão):

A 120 quilómetros de Bissau, em aldeias quase inacessíveis, decorre uma revolução silenciosa que está a mudar a vida de 15 mil pessoas. Energia solar leva luz a quem nunca teve, leva água perto a quem a tinha longe. 

São tabancas (pequenas aldeias) como as de Culcunhe ou Unfarim, como Sansabato ou Maque, perto de Bissorã, região de Oio, que estão a beneficiar de um projeto concebido pela organização não governamental ADPP (Ajuda ao Desenvolvimento do Povo para Povo), financiado pela União Europeia e concretizado pela Impar, uma empresa da área da energia.

Uma união de esforços que começou em novembro passado e que em quatro anos vai dar qualidade de vida a 24 aldeias de Oio, iluminando pouco a pouco escolas, centros de saúde e centros comunitários, e trazendo água para consumo e para rega através de furos, bombas e torres com depósitos.

É um pequeno painel solar a mudar a vida de pessoas como nenhuma mudança política em Bissau mudará, dando luz para aulas noturnas, para partos à noite, para bombear água, para ver televisão ou carregar telemóveis (para muitos o principal benefício). É por isso que na tabanca de Sansabato o imã Quimo Safé não se cansa de agradecer. "Ficamos contentes com a vossa presença, os mais velhos viram o que vocês trouxeram e não temos palavras para agradecer". Fala para a ADPP, fala para a Impar. "Os homens e as mulheres da tabanca vão sempre recebê-los de braços abertos. Os homens da tabanca não tinham forças para fazer este furo. Se vissem onde as nossas mulheres iam buscar água antes iam ter pena", diz o imã ao lado da torre de água no centro da aldeia onde já só falta montar os painéis solares que vão servir a bomba.

A mesquita já lá tem um e o benefício é visível mas também audível. "Antes gritávamos e ninguém ouvia, agora com o microfone as pessoas já podem ouvir as rezas". E à entrada da aldeia, junto da escola, Braima Camará, responsável de tabanca, diz que o painel permite ter aulas à noite e acabar com o analfabetismo. Todas as noites 20 mulheres e 10 homens têm aulas, das 20:00 às 23:00. "Estamos muito contentes porque antigamente não tínhamos luz mas neste momento a tabanca está feliz, toda a área, a mesquita, o centro de saúde, a escola, todos têm luz", diz Baima Camará.
A distância entre tabancas não é grande mas demora-se horas a percorrê-la, por caminhos que na época das chuvas são ribeiros, quando o isolamento é maior. Ao lado de Sansabato, na aldeia de Maqué a ADPP (na Guiné-Bissau há 30 anos) e a Impar estão a montar bombas para tirar água e fazer um sistema de rega gota a gota, tudo no âmbito do mesmo projeto, chamado "Clube de Agricultores".

Félix Fresnadillo, responsável pela área de energia solar e água da ADPP, explica à Lusa, no meio da horta, que o projeto compreende a eletrificação de 11 escolas, nove mesquitas e sete centros de saúde, além de 48 fontes com bombas alimentas a energia solar, 24 de água para consumo e outras tantas de água para rega. Paralelamente é ensinado aos agricultores novas técnicas de cultivo e a melhor forma de aproveitar a água. E a ADPP, diz Félix, vai também fazer sete centros de produção, para que alguns alimentos sejam processados (descasque de arroz, óleo de palma e de amendoim) e comercializados.

E Félix lembra ainda outra valência do projeto: "nos centros comunitários, local de encontro para jovens e para reuniões, vamos pôr televisões grandes, para que as pessoas possam ver o que se está a passar no mundo". 

É um novo mundo "servido" por Patrício Ribeiro, um português diretor da Impar que há 25 anos instala painéis fotovoltaicos na Guiné-Bissau, mais de 600 instalações até hoje, em aldeias perdidas no país na maior parte dos casos. Deverá ser quem melhor conhece o interior da Guiné-Bissau, arquipélago dos Bijagós incluído.

Em Cawal, junto de uma escola onde o professor Ângelo Gomes agora dá aulas noturnas a 45 alunos, Patrício Ribeiro frisa à Lusa que nas tabancas não havia nenhuma energia e que agora têm lâmpadas que ficam acesas toda a noite e que as mulheres e meninas podem aprender a ler (porque de dia têm de trabalhar). O pequeno painel não precisa de manutenção e permite três horas de aulas por dia. No caso de Cawal está previsto também montar uma televisão com leitor de CD para cursos de alfabetização, explica.

Boné na cabeça e muitos papeis nas mãos, Patrício Ribeiro percorre tabanca a tabanca por caminhos inexistentes, mede terrenos, dá indicações. "Procuramos sempre comprar materiais fabricados na União Europeia e os fabricantes dão 20 anos de garantia", diz. "A Impar já deu luz a muitos milhares de pessoas, estamos em mais de 100 centros de saúde e hospitais, em sítios onde ninguém chega a não ser as populações", garante.
Nas tabancas de Oio, entre Bissorã e Mansabá, é ele, com Félix Fresnadillo, a face visível de uma revolução que só não é mais silenciosa porque dá luz aos microfones das mesquitas. Quimo Safé reza por eles todos os dias.
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Nota do editor:

Último poste da série > 1 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11176: E as Nossas Palmas Vão Para... (5): Daniel Rodrigues, 25 anos, português, fotojornalista, que ganhou o "óscar" da melhor fotografia, na categoria "Vida Quotidiana", do concurso de 2013 da "Word Press Photo", com um belíssima foto de uma jogatana de futebol entre miúdos de Dulombi, março de 2012 (Luís Dias)


quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10833: Mi querido blog, por qué no te callas?! (3): A moral da história, cada um que a tire; e quanto ao mural, cada um que o pinte... Relembrando o velho blogue-fora-nada, com amor, com humor, e votos de festas felizes para tertulianos de ontem e grã-tabanqueiros de hoje... (Luís Graça)



Página do nosso blogue, I Série,ã com o último poste, de 1 de junho de 2006


1. Para quem é "pira"  na Tabanca Grande, convirá aqui dizer que o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné chamava-se,  originalmente, Blogue-Fora-Nada. Nasceu em 8 de outubro de 2003. O primeiro poste publicado, às 15h03, não tinha nada a ver com a Guiné e  intitulava-se Estórias com mural ao fundo - I: Ter ou não ter...e-mail.

Eu, na altura, tinha acabado de redigir e de entregar a minha tese de doutoramento, tinha  ido pela primeira vez a Angola... Precisava de "desopilar", de escrever coisas mais ligeiras, mas não pensei imediatamente nas minhas/nossas memórias da Guiné. É certo que os blogues também estavam na moda... como está hoje o Facebook e outras redes sociais. Aliás, as redes sociais começam com os blogues... Depois de vários "toques e retoques", esta era a apresentação do meu blogue:

blogue-fora-nada. homo socius ergo blogus [sum]. homem social logo blogador. em sociobloguês nos entendemos. o port(ug)al dos (por)tugas. a prova dos blogue-fora-nada. a guerra colonial. a guiné. do chacheu ao boe. de bissau a bambadinca. os cacimbados. o geba. o corubal. os rios. o macaréu da nossa revolta. o humor nosso de cada dia nos dai hoje.lá vamos blogando e rindo. e venham mais cinco (camaradas). e vieram tantos que isto se transformou numa caserna. a maior caserna virtual da Net!

Esta primeira série do nosso blogue vai de 8 de outubro de 2003 a 1 de junho de 2006. Neste espaço de tempo publicaram-se 825 postes, numerados de I a DCCCXXV (Numeração romana, que estopada!)... E, no final, contadas as  cabeças, éramos exatamente 111 os amigos e camarada da Guiné. Tratávamo-nos por "tertulianos", ou sejam, membros de uma tertúlia...  Aqui vai essa lista, já histórica...  Atenção que a lista está ordenada, por ordem alfabética, não por antiguidade...( Aproveito o ensejo para lembrar com saudade o nosso camarada Zé Neto, que a morte levou em 2007):

(1) A. Marques Lopes, 
(2) A. Mendes, 
(3) Abel Maria Rodrigues, 
(4) Afonso M.F. Sousa, 
(5) Aires Ferreira,
(6) Albano Costa
(7) Amaro Samúdio, 
(8) Américo Marques, 
(9) Ana Ferreira, 
(10) Antero F. C. Santos, 
(11) António Baia, 
(12) António Duarte, 
(13) António J. Serradas Pereira, 
(14) António (ou Tony) Levezinho, 
(15) António Rosinha, 
(16) António Santos, 
(17) António Santos Almeida, 
(18) Armindo Batata, 
(19) Artur Ramos, 
(20) Belmiro Vaqueiro, 
(21) Carlos Fortunato, 
(22) Carlos Marques dos Santos, 
(23) Carlos Schwarz (Pepito), 
(24) Carlos Vinhal, 
(25) Carvalhido da Ponte, 
(26) David Guimarães, 
(27) Eduardo Magalhães Ribeiro, 
(28) Ernesto Ribeiro, 
(29) Fernando Chapouto, 
(30) Fernando Franco, 
(31) Fernando Gomes de Carvalho, 
(32) Hernani Acácio Figueiredo, 
(33) Hugo Costa, 
(34) Hugo Moura Ferreira, 
(35) Humberto Reis, 
(36) Idálio Reis, 
(37) J. C. Mussá Biai, 
(38) J. L. Mendes Gomes, 
(39) J. L. Vacas de Carvalho, 
(40) João Carvalho, 
(41) João S. Parreira, 
(42) João Santiago,
(43)  João Tunes,
(44)  João Varanda,
(45)  Joaquim Fernandes,
(46)  Joaquim Guimarães, 
(47) Joaquim Mexia Alves, 
(48) Jorge Cabral, 
(49) Jorge Rijo,
(50)  Jorge Rosmaninho,
(51) Jorge Santos, 
(52) Jorge Tavares, 
(53) José Barreto Pires, 
(54) José Bastos, 
(55) José Casimiro Caravalho, 
(56) José Luís de Sousa, 
(57) José Manuel Samouco, 
(58) José Martins, 
(60) José (ou Zé) Teixeira, 
(61) Júlio Benavente, 
(62) Leopoldo Amado,
(63)  Luis Carvalhido,
(64) Luís Graça
(65) Luís Moreira (V. Castelo),
(66)  Luís Moreira (Lisboa), 
(67) Manuel Carvalhido,
(68)  Manuel Castro, 
(69) Manuel Correia Bastos, 
(70) Manuel Cruz, 
(71) Manuel Domingues, 
(72) Manuel G. Ferreira, 
(73) Manuel Lema Santos, 
(74) Manuel Mata, 
(75) Manuel Melo, 
(76) Manuel Oliveira Pereira, 
(77) Manuel Rebocho, 
(78) Manuela Gonçalves (Nela), 
(79) Mário Armas de Sousa, 
(80) Mário Beja Santos, 
(81) Mário Cruz, 
(82) Mário de Oliveira (Padre), 
(83) Mário Dias (ou Mário Roseira Dias), 
(84) Mário Migueis, 
(85) Martins Julião, 
(86) Maurício Nunes Vieira, 
(87) Nuno Rubim, 
(88) Orlando Figueiredo, 
(89) Paula Salgado, 
(90) Paulo Lage Raposo, 
(91/92) Paulo & Conceição Salgado, 
(93) Paulo Santiago, 
(94) Pedro Lauret, 
(95) Raul Albino, 
(96) Renato Monteiro, 
(97) Rogério Freire, 
(98) Rui Esteves, 
(99) Rui Felício, 
(100) Sadibo Dabo, 
(101) Sérgio Pereira, 
(102) Sousa de Castro, 
(103) Tino (ou Constantino) Neves, 
(104) Tomás Oliveira, 
(105) Torcato Mendonça, 
(106) Victor David, 
(107) Victor Tavares, 
(108) Virgínio Briote, 
(109) Vitor Junqueira, 
(110) Xico Allen, 
(111) Zélia Neno.

Em rigor foi em 1 de junho de 2006 que o Blogue-fora-nada passou a chamar-se simplesmente Luís Graça & Camaradas da Guiné, continuando "a ser o sítio (virtual) onde nos encontramos, sempre que quisermos e pudermos". Era descrito como  "um blogue colectivo que tem por missão ajudar a reconstituir o puzzle da memória da guerra colonial (ou do ultramar, ou de libertação, como queiram) na Guiné, hoje República da Guiné-Bissau, nos anos quentes de 1963 a 1974".

E acrescentava o blogador-mor, nessa altura, ainda sozinho: "É um blogue, em português, para tugas, turras e nharros, sem discriminação de alguma espécie (sexo, idade, nacionalidade, etnia, orientação sexual, estado civil, religião, clube, hobby, lobby, escolaridade, título, profissão, situação na profissão, posto na tropa, estatuto sócio-económico, idiossincrasia, etc.)". 

Mas voltando ao nosso primeiro blogue, foi só em 23 de abril de 2004 que criámos a série Guiné 69/71 e publicamos um primeiro poste: Guiné 69/71 - I: Saudosa(s) madrinha(s) de guerra... Ou seja, seis meses depois... Na realidade, o primeiro poste do Blogue-fora-nada, foi este que a seguir se reproduz...Ao relê-lo, vejo que tem uma inesperada atualidade, por diversas razões, que não vou aqui esmiuçar; em todo o caso, tenho pena que haja ainda muitos camaradas nossos - antigos combatentes - que não chegam até nós por, não por falta de um computador em casa, mas por falta de literacia informárica... Segundo os dados do estudo Bareme Internet da Marktest, em cada 10 lares portugueses há 7,3 lares que têm pelo menos um PC - computador pessoal, com utilização; e em 4 em cada 10 lares têm mais do que uma máquina...O número de lares onde existe computador aumentou três vezes mais, de 1997 (25.8%) para 2012 (73.4%). Em 2003, era de 42,7% e em 2006 de 52,9%. O problema está utilização diferencial do PC em função da idade e da escolaridade: é um domínio onde os mais novos estão muito  mais à vontade do que os mais velhos... E nalguns casos - refiro-me ao nosso blogue - são os filhos e netos que trazem pais e avós, antigos combatentes, até nós... Acho que é um ternura, e deve ficar aqui registado, para que esse exemplo floresça.

Bogue-fora-nada > 8 de outubro de 2004 > Estórias com mural ao fundo - I: Ter ou não ter...e-mail

[por Luís Graça, revisto hoje]

Tenho por (mau) hábito perguntar às pessoas que vou conhecendo "se têm e-mail"... Mas depois de ler a história a seguir, não vou ter mais lata para o fazer: (i) é indelicado; (ii) pode ser embaraçoso; e (iii) até pode dar azar...

Um dia houve alguém que me respondeu, com agressividade mal contida (mas compreensiva):
- Não tenho... e tenho raiva a quem tem ... Ou será que já é obrigatório por lei ?...

Nós, os ex-clérigos (durante séculos o pessoal universitário, incluindo os estudantes, estavam sujeitos ao direito canónico e só com o triunfo do liberalismo é que o reitor de Coimbra passou a ser um leigo!), temos dificuldade em imaginar um mundo sem livros, sem escrita, sem cátedras, sem professores e, agora, sem Internet, sem blogues,  sem Facebook, sem e-mail...

Não sei se é obrigatório ter e-mail (ou se vai sê-lo em breve), mas a verdade é que todos os dias nos ameaçam com a infoexclusão, uma espécie de upgrade das labaredas do inferno. Há muito boa gente que hoje em dia teme ser acusada de infoanalfabeta e pensa que, "pelo sim, pelo não, sempre é bom ter e-mail, não vá o diabo tecê-las"... E quem diz e-mail, diz outras buzzwords horríveis tais como url, password, username, nib...

Já assim pensavam, noutro contexto, os cristão novos de Trancoso que assinalavam, com uma cruz, as suas casas, não fossem os cristãos velhos desconfiar que eles eram judaizantes, logo ignorantes e inimigos da fé cristã (a única, a verdadeira, a dominante)... A cruz era a password e o e-mail daqueles tempos em que os portugas sucumbiram à tentação totalitária...

Por isso, "ter ou não ter e-mail: eis a questão" é uma história com moral... E com mural ao fundo. Bem ao fundo.  Ponderei seriamente se havia de a pôr a circular entre @s car@s ciberamig@s... Há sempre o risco de uma leitura demasiado literal, apologética, direi mesmo...primariamente neoliberal !!! Mas, pensando bem, o que conta são os factos, a narrativa (digna do melhor do Reader's Digest, diga-se de passagem). A moral, cada um que a tire. E quanto ao mural, cada um que o pinte... 

Moralistas e grafiteiros do meu país, divirtam-se! A minha (moral) é apenas a da filosofia baseada na evidência. E quanto ao mural, sempre preferi o branco-da-cal-da-parede. Com aviso, como comvém: (i) pintado de fresco; (ii) por favor não encostar à parede; (iii) é expressamente proibido fuzilar (contra o muro).

Por azar o meu, recebi esta mensagem por e-mail, através de um amigo angolano (J.D.) que, coitado, também ele tem o azar de ter e-mail, o mesmo é dizer, terminação em branco. Mesmo jogando no Euromilhões,  tanto ele como eu temos praticamente 100% de probabilidades de nunca virmos a ser milionários, como o herói desta história.

Dei à história o meu toque pessoal. Vocês usem-na (e socializem-na)... para os devidos efeitos. Não posso evitar eventuais tentativas de branqueamento da história. A história é para se usar e branquear, dizem os historiadores oficiais dos vencedores. Mas esse não é o meu ofício. No fim, não se esqueçam do nosso trato: Ciber-humor com ciber-humor se paga...

Ter ou não ter e-mail: eis a questão!

Um homem respondeu a um anúncio da MicroDura com uma generosa oferta de emprego para desempregados de longa duração. O lugar era para empregado de limpeza. Um adjunto do Gestor dos Recursos Humanos (GRH) entrevistou-o, fez-lhe um teste, tão simples como (i) varrer o chão, (ii) apanhar o lixo e (iii) enfiá-lo num saco...  No fim,  disse-lhe:
- Parabéns, o lugar é seu. Dê-me o seu e-mail para eu lhe poder enviar a ficha. Depois de preenchida e devolvida, aguarde que a MicroDura lhe comunique a data e a hora em que se deverá apresentar ao serviço nos nossos headquarters.

O homem, subitamente embaraçado e nervoso, respondeu que não tinha casa, e muito menos computador, e muito menos ainda Internet, endereço de correio electrónico e essas coisas todas. Era um sem-abrigo.

Aí o valente adjunto do GRH da MicroDura ficou branco como a cal da parede... Por essa é que ele não estava à espera!... Um cidadão norte-americano sem e-mail, o que era uma aberração sociológica, bloguissimamente falando !... O que iria pensar o Mr. Bill Gaitas ?!... Por fim, recompôs-se e disse, de maneira assertiva como tinha aprendido nos cursos da empresa sobre comunicação assertiva::
- Lamento muito, mas se eu o senhor não tem e-mail, isso quer dizer que virtualmente não existe; e, não existindo, não pode ter o privilégio de pertencer ao admirável mundo novo dos colaboradores da MicroDura.

O homem saiu, envergonhado e, pior ainda, mais desesperado e desempregado que nunca. Tinha apenas 10 dólares no bolso. Em vez de ir ao McSandocha’s matar a malvada, resolveu entrar num Bigmarket e comprar uma caixa de 10 quilos de tomate para revenda. Em menos de duas horas vendeu a mercadoria, porta à porta, num dos bairros mais próximos, habitado por negros e porto-riquenhos, tendo assim conseguido duplicar o seu capital. Repetiu a operação mais três vezes e obteve um lucro de 60 dólares. 

No fim do dia, concluiu que podia sobreviver dessa maneira, pelo menos por uns tempos. Passou a trabalhar mais horas por dia. Rapidamente aumentou o seu pecúlio, e em breve comprou a sua primeira carrinha, em segunda mão. Uns meses depois trocou-a por uma camião.

O resto da história é fácil de adivinhar: ao fim de um ano e meio já era dono de uma pequena frota e ao fim de cinco estava milionário, ao tornar-se o principal accionista de uma das maiores cadeias de distribuição alimentar nos Estados Unidos... Como podes imaginar, caro leitor, esta história de sucesso só podia ter acontecido na Terra Prometida e já se tornou um casestudy nos mais famosos cursos de MBA de todo o mundo. E em tempos de crise

Pensando no futuro da sua nova família, o nosso homem resolveu fazer um não menos milionário seguro de vida. Chamou um corretor ao seu escritório e acertou um plano. Quando a reunião estava praticamente concluída, o corretor de seguros pediu-lhe o e-mail para lhe poder enviar rapidamente a proposta de contrato. O homem-que-se-fez-a-si-próprio, afinal um herói americano, respondeu, com a maior naturalidade deste mundo, que simplesmente não tinha nem nunca tivera nem nunca provavelmente viria a ter um endereço de e-mail. O corretor não queria acreditar e comentou, em tom de brincadeira:
- Você não tem e-mail e construiu todo este império!... Imagine até onde poderia ter chegado, se tivesse e-mail!... Quem sabe se não poderia ter chegado inclusive até à Casa Branca!

O homem ponderou as palavras do corretor e respondeu-lhe, com a mais fina das ironias:
- Olhe, se eu tivesse e-mail, ainda hoje andaria, feito cão, a lamber o chão do escritório do Bill Gaitas!!!

Moral da história:

(i) Ter ou não ter e-mail, eis a questão;
(ii)  Se queres ser empregado de limpeza da MicroDura ou doutra grande empresa, procura antes de mais ter um e-mail. 

(iii) Se não tens e-mail, gostas de trabalhar e és empreendedor, ainda podes vir a ser milionário;

(iv) Se por acaso recebeste esta mensagem por e-mail é por que estás mais perto de ser empregado... de limpeza do que ser milionário...

(v) Se és antigo combatente da Guiné, se não tens PC, nem sabes usar a Internet, e queres vir a ser grã-tabanqueiro (leia-se: membro da nossa Tabanca Grande), não tens desculpa: pede ao teu filho ou teu neto que nos mande... um email, em teu nome... para luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com...

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Nota do editor:

Último poste da série > 18 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10822: Mi querido blog, por qué no te callas?! (2): (i) A guerra também é capaz de revelar o que há de mais sublime nos seres humanos (Hilário Peixeiro); (ii) ... E eu estou nesta bela caravana há quase 9 anos (David Guimarães)...

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10175: Historiografia da presença portuguesa em África (42): Missão zoológica na Guiné, 1944/46, chefiada pelo naturalista Fernando Frade (1898-1983) (Parte I)





1.  Chefiada por Fernando Frade, a Missão Zoológica da Guiné decorre entre dezembro de 1944 e maio de 1946. Nesse período a que corresponderam cerca de 300 dias de trabalho de campo, a equipa deu um importante contributo para o conhecimento da fauna terrestre e marítimo-fluvial da província. Andou por sítios que muitos de nós conhecemos como a ilha de Bissau, Enxalé, Cuor, Bambadinca, Bafatá, Contuboel, Xitole,  Buba, Catió, Cacine, Piche, Madina do Boé... 

Um primeiro relatório, com 5 partes, é logo publicado em 1946, como separata dos Anais da Junta de Investigações Coloniais. Não tivemos ainda acesso a essa publicação, os excertos (texto e fotos) que aqui publicamos são possíveis graças à divulgação (e à cortesia) da página lusófona Triplov (leia-se: Triplo Vê), superiormente dirigida e animada por Maria Estela Guedes.


Escritora e crítica literária, Maria Estela Guedes (n. 1947), também bebeu, como nós, a "água do Geba": viveu na Guiné entre 1955 e 1966, para onde foi com os pais, emigrantes ( e sobre esse tempo, de que guarda uma viva e apaixonada memória, escreveu um livrinho de poesia, Chão de Papel, Lisboa: Apenas Livros Editora, 2009, 48 pp.)...


É também investigadora no Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade de Lisboa (CICTSUL). O sítio (ou portal)  é dedicado a Ernesto de Sousa e é uma verdadeira caixa de surpresas, merecendo amiudadas e prolongadas visitas, já que os interesses científicos, estéticos e culturais de Maria Estela Guedes são tão vastos como o mundo e tão profundos como a vida, as artes, as ciências, o esoterismo. É diretora da revista digital TriploV de Artes, Religiões e Ciências.








FRADE, F. Amélia Bacelar, e Bernardo Gonçalves (1946) - Relatório da missão zoológica e contribuições para o conhecimento da fauna da Guiné Portuguesa. Separata dos Anais da Junta de Investigações Coloniais, Lisboa, Vol. I. Trabalhos da Missão Zoológica da Guiné (1-5): 259-416. Fernando Frade. Guiné-Bissau. Zoologia.











A equipa era constituída por: (i) Fernando Frade (professor extraordinário da Faculdade de Ciências de Lisboa), (ii) Amélia Bacelar (naturalista do Museu Bocage) e (iii)  Bernardo Gonçalves (assistente investigador da JIC - Junta de Investigações Coloniais.

  






Fonte: Cortesia do sítio Triplov > Missão Zoológica na Guiné: Fernando Frade, Amélia Bacelar e Bernardo Gonçalves


2. Alguns notas biográficas sobre Fernando Frade Viegas da Costa (1898-1983), recolhidas por L.G.:



(i) Nasceu em Lisboa, em São Mamede, em 27 de abril, e morreu, também em Lisboa, em 15 de abril., à beira de completar os 85 anos;



(ii) Era casado com Amélia Vaz Duarte Bacelar (n. 1890), também sua companheira da aventura científica (integrou, por exemplo, a missão zoológica na Guiné);

(iii) Em 1924, por concurso, Fernando Frade é nomeado naturalista do Museu Bocage; nessa qualidade organizou os catálogos sistemáticos das Aves e dos Mamíferos existentes no Jardim Zoológico de Lisboa.



(iv) Em 1938  é eleito Vereador da Câmara Municipal de Lisboa, ao tempo do presidente Eduardo Rodrigues Carvalho (1930-44) que veio substituir o Duarte Pacheco (, nomeado ministro das Obras Públicas e Comunicações), e o nome ficará para sempre ligado  ao parque florestal de Monsanto.

(v) Chefiou várias missões científicas ao ultramar português;



(vi) Entre 1922 e 1980 publicou publicou centenas de artigos científicos ou de divulgação científica, capítulos de livros e livros, muitas vezes em colaboração  com a sua esposa, Amélia Bacelar;


(vii) Era um cientista da natureza, e sobretudo um zoológo, no sentido amplo em que a revista Garcia de Orta entende a Zoologia, abrangendo os seus diferentes ramos (Mamalogia, Ornitologia, Herpectologia, Ictiologia, Entomologia, Planctonologia, Helmintologia, etc.);


(viii) Foi muito importante o seu contributo para o conhecimento científico da fauna das antigas províncias ultramarinas portuguesas, com destaque para a Guiné, Angola, Moçambique e São Tomé e Príncipe.


(Continua)


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Nota do editor:

Último poste da série > 11 de março de 2011 > Guiné 63/74 - P7925: Historiografia da presença portuguesa em África (41): A Carta de Chamada (A. Rosinha / A. Branquinho / C. Cordeiro / M. Joaquim / J. Amado / A. Guerreiro)

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10169: Os Nossos Regressos (28): Gama Carvalho, 2ª C/BCAV 8323 (Piche, Buruntuma, Piche, 1973/74), autor do blogue Estrada Fora, surpreendido em Figo Maduro pelo ardina que vendia o jornal A Merda, em 11 de setembro de 1974...



Com a devida vénia... Do blogue Estrada Fora,  do nosso camarada Gama Carvalho, que pertenceu 2ª C/ BCAV 8323 (Piche, Buruntuma, Piche, 19773/74)...

[ Recorde-se, a propósito do  BCAV 8323/73:  (i) foi mobilizado pelo RC 3,  (ii) partiu para o TO da Guiné em 22/9/1973, (iii) egressou a 10/9/1974; (iv) steve sediado em Pirada; (v) teve como comandante o ten cor cav Jorge Eduardo Rodrigues y Tenório Correia Matias;:  (vi) dele faziam parte a 1ª C/BCAV 8323 (Bajocunda), a 2ª C/BCAV 8323 (Piche, Buruntuma, Piche) e a 3ª C/BCAV 8323 (Pirada)].

1. Estrada Fora > Quarta-feira, 29 de Junho de 2011 > O mais belo nascer do sol


O regresso à metrópole estava previsto para as 23.00 horas no aeroporto de Bissau. Mas, a meio da tarde desse dia [, 10 de setembro de 1974], eram já muitos os militares a dirigirem-se para o local de embarque. A ânsia da partida manifestava-se por um imenso desassossego, visível nos constantes olhares para o relógio, nas contínuas espreitadelas às pistas e na postura inquieta dos corpos.

Foram 12 meses passados no mato, sob uma enorme pressão psicológica. Lembro bem, em Buruntuma, só me sentia mais calmo e seguro pela calada da noite, pois eram raros os ataques da guerrilha local nesse período de tempo.

Estávamos em meados do mês de Setembro de 1974. A revolução de Abril tinha constituído, para os militares que lutavam nas três frentes de guerra em África, um farol de esperança a iluminar os caminhos do futuro. Com a queda do regime político português, dissiparam-se as dúvidas sobre o final daquele conflito colonial. Pelo que o pensamento fixou-se, a partir daí, no regresso a casa.

À hora marcada, fomos informados que o avião, vindo, propositadamente, de Lisboa, ainda estava a caminho. Só pelas três horas da madrugada levantamos voo para uma viagem que me proporcionou o mais belo espectáculo que assisti, até hoje, nas alturas do firmamento: um magnifico nascer do sol, com raios multicolores, mistura de vermelho vivo com um amarelo rebelde. Na admiração daquele magnifico quadro, senti que uma nova era se iniciava na minha vida. Para trás, deixava um tempo que pretendia esquecer rapidamente.

Todos sabíamos, pelas notícias que nos chegavam de camaradas regressados de férias, que Portugal estava em vertiginosa mudança social e politica. E foi no preciso momento em que desembarquei, no aeroporto militar de Figo Maduro, em Lisboa, que dei conta dessa enorme mudança que o meu país sofreu no tão curto espaço de um ano. O primeiro sinal dessa mudança foi trazido, no cais de desembarque, por um vendedor de jornais que, junto de mim, apregoava: >
- Compre A Merda. Leve A Merda para casa!.

Um pouco incrédulo, fixei-me, por momentos, no ardina e nos jornais que carregava. Constatei, surpreso, que um dos deles tinha esse título tão pouco ortodoxo e impensável há um ano atrás.

A minha perplexidade era do tamanho da diferença de liberdade política e social com o país que tinha deixado: rural, fechado sob si próprio, amargurado pelo destino dos embarcados para o ultramar, pobre e abandonado pelos mais jovens num fluxo emigratório sem precedentes. Tudo isso estava em mudança vertiginosa.

A liberdade trazida pela «Revolução dos Cravos» estava a dar frutos a nível do desenvolvimento social e político e, um pouco mais tardiamente, a nível da economia e finanças.

O jornal «A Merda» mais não era que um apêndice dos excessos que o exercício da liberdade sempre comporta. Sobretudo, após uma asfixia tenebrosa de 40 anos de ditadura!

Mas, de tudo isto, retenho, na minha melhor memória, o mais belo nascer do sol!


2. Comentário de L.G.:

Ainda me recordo, apenas de o ver nas bancas de jornais, não de o ler, do jornal, de combate político, "A Merda", que era conotado com o movimento anarquista em Portugal.  Perdurou na nossa memória mais do que outros como o "Coice de Mula" ou até como a revista (doutrinária) "Ideia", mais séria e intelectual  (onde pontificou o meu confrade João Freire, como diretor, editor e proprietário, nos anos 70/80) ... De referir ainda, segundo José Nuno Matos, outras publicações congéneres que apareceram no pós 25 de abril: o Pasquim (Cascais), o Satanaz (Almada), a Sabotagem, o Rastilho e a Terra Livre (Amesterdão), a Revolta (Leiria), a Acção (Tomar), a Libertação (Pombal) e, mais tarde, o Apoio Mútuo (Évora), A Sementeira (Lisboa), a Lanterna Negra (Lisboa) e o Anarquista (Leiria)...

De qualquer modo, e na esteira do poste do nosso camarada Gama Carvalho, quem não se lembra do célebre refrão dos ardinas de Lisboa que vendiam "A Merda" ?!
- Olh' A Merda!... Compr' A Merda!... Lei' A Merda!... Gand' A Merda!...

Lembro-me também das pichagens nas paredes, algumas das quais resistiram anos e anos a fio à ação dos homens e das intempéries... mas não à nova horda de grafiteiros. Lembro-me, de cor, de uma ou outra palavra de ordem, anarquista, ou de inspiração anarquista, com conteúdo libertário, iconoclasta, sarcástico, corrosivo, subversivo, irónico, pungente ou simplesmente filosófico, ético ou poético.... (Enfim, recorro aqui também ao auxiliar de memória que é a notável amostra, de mais de 500 murais,  do pós 25 de abril, fotografados e tratados pelo Centro de Documentação 25 de Abril)...


Uma ou outra dessas palavras de ordem ainda se vê por aí, tentando em vão interpelar-nos, provocar-nos... Diga-se, en passant, que o anarquismo nunca teve grande implantação histórica em Portugal (contrariamente à Grécia e à Espanha), se excetuarmos a influência do anarcossindicalismo dos finais do séc. XX até aos anos 20 do séc. XX, nalguns polos industrais (e portanto operários) de um país onde o capitalismo da 1ª geração foi atípico, periférico e serôdio... Não confundam, por favor, essas pichagens de humor ácido, corrosivo, com a "cultura grafiteira" das tribos suburbanas do início do séc. XXI... Sinto-me, apesar de tudo, mais confortável com os primeiros do que com os segundos...

- A Anarquia vencerá!
- À portuguesa só conhecemos o cozido!
- Abaixo a Ditadura, viva a Coca-Cola!
- Abaixo as relações sexuais!
- Abaixo os organismos de cúpula, vivam os orgasmos de cópula!
- Apoiamos a justa luta dos bichos da fruta
- As pulgas não sabem nadar, não lavem os cães!
- Greve ao papel higiénico, compremos os jornais.
- Já não há eleições, o Dom Sebastião volta para a semana!
- Junta a tua à nossa merda! [, paródia da palavra de ordem do PCP: "Junta a tua à nossa voz"]
- Na aula de educação sexual teve falta de material
- Não encostem o cu à parede, não!...
- Nem Deus nem Chefe!
- Nem Deus nem Chefes... e muito menos anarcas!
- Nem Deus nem Pátria nem Família nem Chefe nem Governo, Autogestão!
- Nem mais um faroleiro para as Berlengas!
- O trabalho dá preguiça, a preguiça dá trabalho.
- Os nossos sonhos não cabem no nosso mundo.
- Poder aos glutões.
- Putas ao poder, que os filhos já lá estão!


- Se a merda valesse ouro, os pobres nasciam sem cu!
- Se Deus existe, o problema é dele.
- Se o governo é merda, de quem é a culpa? Da merda ou do governo?
- Sejamos realistas, exijamos o impossível!
- Unicidade pró menino e pra menina.
- Viva a dentadura do proletariado!

... Pode ser que, entretanto, alguém se lembre de mais algum!... Hoje fazem-nos apenas sorrir, com um sorriso amarelo ou amarelecido. Perderam toda a carga humorística e até subversiva que podiam ter tido na época, de descompressão política, social, cultural e mental, que foi o 25 de abril e o pós-25 de abril.

[As duas imagens de cima foram tiradas  o Porto, numa das escolas  do IPP - Instituto Politécnico do Porto, em Paranhos, no dia 6 de junho de 2012. LG].
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Nota do editor:

11 de novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9027: Os nossos regressos (27): Faz hoje 44 anos que desembarquei na Estação Ferroviária de Barcelos (José Lima da Silva)

terça-feira, 10 de julho de 2012

Guiné-Bissau - P10138: Fauna & Flora (27): A cobra cuspideira (de seu nome científico Naja nigricollis Reinhardt)

 



A cobra cuspideira, aguarela do pintor português, naturalista, [António] Silva Lino (1911-1984), autor de "Serpentes do Ultramar Português". In: Garcia da Orta - Vol.III, nº 4 (1955), pp. 547-553.


1. Em complemento do poste P10135, da autoria do nosso camarada Augusto S. Santos, 9 de julho de 2012... E para exorcizar a nossa, dos primatas, em geral, e dos hominídeos, em particular, tradicional ofiofobia (medo patológico de serpentes)...

Aqui vão algumas características da cobra cuspideira (nome científico Naja nigricollis Reinhardt, 1843):

(i) Serpente muito robusta, alongada (comprimento: até 220 cm), de cauda comprida;  


(ii) podendo alargar o pescoço, em «capelo», sob a ação das costelas cervicais;

(iii) coloração geral variável: por cima negra, castanha ou olivácea e, por baixo, negra com ou sem faixas transversais amareladas ou róseas;

(iv) dentadura proteroglifodonte: dentes inoculadores sulcados, erécteis, mas não retroversáteis e situando-se na parte anterior do maxilar, sem outros dentes neste osso; 

(v) sinais da mordedura: dois pares de perfurações dilatadas, inoculadoras, ladeando duas filas de picadas, mais finas, dos dentes normais palatino-pterigóides;

(vi) a configuração do sulco dentário e a sua abertura permitem o lançamento do veneno a distância considerável;

(vii) veneno mortal, altamente neurotóxico; quando projetado e atingindo os olhos, produz ulcerações graves;

(viii) habita as regiões de savana,  de preferência às de floresta, manifestando maior atividade noturna;

(ix) é muito perigosa pela sua agressividade, a qual se manifesta, primeiro, pelo erguer da cabeça e parte anterior do corpo, com expansão do «capelo», seguido ou não de lançamento do veneno à distância de alguns metros e, depois, pela perseguição e ataque violento;


(x) reprodução por oviparidade.

(xi) alimentação: principalmente, batráquios.

(xii) distribuição geográfiva: África Intertropical, desde a Mauritânia ao Natal; encontra-se na Guiné-Bissau, em Angola e em Moçambique, donde foi descrita a var. mossambica.


Fonte: Cortesia do sítio Triplov > Serpentes do ultramar português: reprodução de aguarelas do pintor Silva Lino; anotações de Fernando Frade e Sara Manaças. "Garcia da Orta", Lisboa, vol.III, nº 4 (1955), pp. 547-553.  

Triplov é também o sítio da revista (digital) TriploV de Artes, Religiões e Ciências, dirigida por Maria Estela Guedes (n. 1947, Britiande, Lamego), que viveu na Guiné entre 1955 e 1966, poeta, escritora e ensaísta, sendo investigadora no Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade de Lisboa.









Capa da separata dos Anais da Junta de Investigações Coloniais [JIC], Vol 1, Lisboa, 1946, contendo o "Relatório da missão zoológica e contribuições para o conhecimento da fauna da Guiné Portuguesa", por Fernando Frade (professor extraordinário da Faculdade de Ciências de Lisboa), com a colaboração de Amélia Bacelar (naturalista do Museu Bocage) e Bernardo Gonçalves (assistente investigador da JIC). Cortesia de Tripov > Fernando Frade > Missão zoológica da Guiné.

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Nota do editor:

Último poste da série > 6 de agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4786: Fauna & Flora (26): Make Love, Not War, ou as cobras que morreram na guerra a fazer amor (Rui Silva)

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8860: O Nosso Livro de Visitas (117): Samuel Vieira, guineense da diáspora, engenheiro informático no Brasil, elogia o nosso blogue


1. Mensagem de um guineense na diáspora, Samuel Vieira, com data de ontem:

De: Samuel Vieira
v_samuel2003@yahoo.com.br


Data: 4 de Outubro de 2011 18:07


Assunto: Elogiar o vosso trabalho não tem limite para um povo que valoriza sua história!

Prezados,

Sou Samuel Vieira, natural da Guiné-Bissau, residente no Brasil. 

Sou formado em Ciências da Computação (Engenheiro Informático,  em Portugal) e hoje trabalhando como Gerente de Tecnologia de Informação da Motoshop.


Possuo um blogue: http://www.djemberem-samuel.blogspot.com/ onde criei um link para que grande parte dos visitantes do meu blogue pudesse também fazer um passeio pelo vosso blogue:


http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2011/10/guine-6374-p8856-memorias-do-chico.html 

para conhecer histórias fantásticas de alguns guineenses como esta história maravilhosa vista nessa página que é do Cherno Abdulai Baldé - Chico de Fajonquito.


Continuem esse trabalho maravilhoso que encanta os guineenses e faz reviver histórias de personalidades diferentes que passaram ou vivem na Guiné-Bisssau.

Um abraço fraterno,

 Samuel Vieira
(Analista de Sistemas)

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Nota do editor:

Último poste da série > 5 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8739: O Nosso Livro de Visitas (116): Ex-Alf Mil Orlando Silva, CCAÇ 3325 (Os Cobras), Guileje e Nhacra, 1971/72

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Guiné 63/74 - P8289: As mulheres que, afinal, também foram à guerra (6): Mais fotos da rodagem do filme "Quem vai à guerra"...



Clementina Rebanda, casada com umn militar vítima de stresse pós-traumático de guerra a quem o exército infernalizou a vida. num processo verdadeiramente kafkiano... A última parte do filme é dedicado às sequelas de guerra, nomeadamente a nível de saúde mental, de que as mulheres também foram vítimas (e quase sempre silenciosas)...  Esta e outras mulheres de camaradas nossos t tém sido apoiadas e companhadas quer pela ADFA quer   pela Associação Apoiar (Julgo que algumas  delas pertencem ao Grupo de Ajuda Mútua das Mulheres da APOIAR).


 Este tema, já de si complexo (tanto do ponto clínico e epidemiológico, como social), possivelmente deveria merecer um outro documentário,  específico...  O filme Quem Vai à Guerra tem, no entanto, o mérito de dar "visibilidade" a um problema, grave, de saúde que afecta dezenas de milhares de portugueses e suas famíias. "O Stress de Guerra é uma realidade para dezenas de milhar de ex-combatentes da Guerra Colonial e para as suas famílias. Desde 1994 que Associação APOIAR apoia os ex-combatentes que padecem de perturbação de stress pós traumático que adquiriram quando estiveram em combate. Esta doença afecta tanto o ex-combatente como mulheres, filhos e demais familiares. A APOIAR tem um corpo clínico e social que ajuda a tratar e a recuperar para a vida activa as pessoas afectadas com esta doença".





Ana Maria Gomes, cujo papel já não me lembro (embora tenha fixado o seu rosto e a sua voz)...




Rosa Redondo, casada  com um oficial fuzileiro especial, que acompanhou num dos teatros de operações (Angola, se não me engano)... Foi também professora, tendo guardado as fichas dos seus alunos, brancos e negros, com os nomes, as fotos, o aproveitamento escolar bem como o averbamento do que desejavam ser quando fossem grandes... Representa no filme o grupo, claramente minoritário, das mulheres "politizadas"...




Odete Barata cujo papel também já não me lembro (embora tenha  gostado do seu desempenho): possívelmente uma das mulheres que acompannhou o marido no Teatro de Operações... (Preciso de rever o filme, que dedicou bastante espaço às acompanhantes dos militares, bem como às viúvas).




Ercília Pedro, enfermeira pára-quedista (que se casou no ultramar com um dos militares que conheceu em serviço, julgo que da FAP)




Quatro enfermeiras pára-quedistas, da esquerda para a direita, a Cristina Silva e a Rosa Serra (1º plano) e a Maria Arminda Santos e a Natércia Neves (em 2º plano)...  


Em 21 participantes, todas mulheres, oito são ex-enfermeiras pára-quedistas, se bem as contei: além das já citadas, temos ainda a Giselda Pessoa,  a Ercília Pedro, a Aura Teles e a Júlia Lemos...


Julgo que a veterana Zulmira André Pereira (1931-2010) ainda chegou a ser contactada pela realizadora do filme... Infelizmente, a morte levou-a em Setembro de 2010. A sua presença não deixou, porém, de se fazer "sentir" no hall da Culturgest, antes da sessão de ante-estreia do filme...




Fotos da rodagem do filme Quem Vai à Guerra, disponíveis no mural da respectiva página no Facebook (Aqui reproduzidas com a devida vénia...)



1. Ver também aqui o nosso pequeno vídeo (34''), disponível na nossa conta You Tube > Nhabijoes, com a ficha técnica do filme e as palmas  dadas, por centenas de espectadores, no final da sessão de ante-estreia, na Culturgest, Lisboa, dia 13 de Maio último, no âmbito do 8º Festival Internacional de Cinema Independente (Lisboa, 5-15 de Maio de 2011).


Recorde-se que o filme vai estrear, comercialmente, no dia 16 de Junho, em Lisboa, Porto e Aveiro (*).



Página principal da Associação Apoiar.

Além do apoio clíncio e psicossocial às vítimas de stresse pós-traumático de guerra, a Associação publica também o jornal APOIAR que é "a única publicação periódica especializada no stress de guerra em Portugal".  O nº 68, referente a Janeiro/Fevereiro de 2011,  pode ser consultado aqui a em formato PDF




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Nota do editor

(*) Vd. último poste da série > 17 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8287: As mulheres que, afinal, também foram à guerra (5): Filme "Quem Vai à Guerra", de Marta Pessoa, no circuito comercial, em Lisboa, Porto e Aveiro, a partir de 16 de Junho



Vd. também o blogue Quem Vai à Guerra

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8182: O Mundo é Pequeno e a Nossa Tabanca... é Grande (41): Projecto de investigação da Universidadade do Minho ["Narrativas identitárias e memória social: a (re)construção da lusofonia em contextos interculturais" ] selecciona o nosso blogue numa amostra bloguística portuguesa, brasileira e moçambicana

1. O nosso editor (e fundador do blogue) Luís Graça [, foto à esquerda,] recebeu no passado dia 23 de Março a seguinte mensagem da investigadora da Universidade do Minho, Lurdes Macedo:



Data: 15 de Março de 2011 12:00 AMCaro Prof. Luís Graça,
Obrigada pela sua disponibilidade. Terei que ir a Lisboa no início de Abril para entrevistar outros bloguistas. Por isso, organizar-me-ei de modo a entrevistar todos os bloguistas na mesma deslocação. Diga-me, por favor, em que dias da semana e em que horários tem disponibilidade para me conceder a entrevista.

Também gostaria de entrevistar alguns dos colaboradores e seguidores do seu blogue. Estas entrevistas são enviadas por e-mail. Por isso, quando eu o entrevistar, aproveitarei para lhe pedir o contacto de alguns colaboradores e seguidores. Pode ser?

Saudações,

Lurdes Macedo.


3. Tive há dias uma agradável e estimulante conversa, de mais de 3 horas, no meu local de trabalho,  com a Dra Lurdes Macedo,  e já pedi aos restantes editores e colaboradores do blogue para darem o seu OK, no seu caso de virem convidados para serem entrevistados no âmbito deste projecto... Aqui vai o meu mail enviado em 28 do corrente:Caros editores e demais conselheiros/colaboradores permanentes do nosso blogue:

Peço a vossa melhor atenção para este pedido da investigadora e doutoranda Maria de Lurdes de Sousa Macedo, da Universidade do Minho, Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS).



O projecto de investigação "Narrativas identitárias e memória social: a (re)construção da lusofonia em contextos interculturais" (coordenado pela Prof. Rosa Cabecinhas) parece-me interessante, e a equipa idónea. A lusofonia é também uma das nossas bandeiras.Dei-lhe os vossos contactos para poderem eventualmente serem contactados e entrevistados sobre a vossa experiência como antigos combatentes e como membros de nosso blogue bem como sobre a vossa percepção da importância do nosso blogue em termos de contributo para o desenvolvimento da lusofonia... Ele já esteve comigo, aqui em Lisboa, respondi-lhe a uma longa (mas interessante) lista de questões.

Um Alfa Bravo. Divirtam-se: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca é... Grande. Luis

PS - A Dra. Lurdes Macedo mora em Espinho, embora seja de Viseu. 

  
4. Comentário do nosso colaborador permanente Hélder Sousa:


Olá Luís


Esta é mais uma prova de como o nosso Blogue tem sabido ganhar créditos junto de uma ampla camada de 'observadores' que o consideram credível, passível de ser utilizado em investigações, em consultas, em parcerias. Isso deve-se à postura de grande abrangência que tem sabido manter (apesar das dificuldades) e da coerência e constância da sua linha de rumo.


O Blogue dá confiança. O Blogue transmite a ideia de rigor. Não se trata de não falhar a indicação de um dia exato para um determinado acontecimento... O rigor vem da postura da procura de apresentar os factos o mais documentados possível, sempre corrigindo, quando é caso disso e também ilustrando as situações.


Pois que contem connosco. O que interessa é que os depoimentos, as intervenções, sejam 'escorreitas', 'certinhas'. Digo isto porque não nos caberá determinar o sentido das conclusões do estudo, que será certamento o que for (la Palisse não diria melhor...) e podem até chegar a conclusões que nos pareçam desajustadas, mas o que importa é o fundo do que se vier a dizer ou escrever.


Abraço


Hélder
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Nota do editor:


Último poste da série > 12 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8086: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (40): O Domingos encontrou-me!.. Ele era a mascote da CCAÇ 462, Ingoré (1963/65) (J. Marques Ferreira)

terça-feira, 15 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7945: (Ex)citações (133): Editor, precisa-se! (Albino Silva, ex-Sold Maq, CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70,... com saudades da linda vila de Camabatela, Angola)




Blogue do Albino Silva  > Bat Caç 2845 Teixeira Pinto... Ou dos blogues...

O nosso camarada Albino Silva, além de poeta e escritor,  natural da Gandra, Esposende, apresenta-se na blogosfera como tendo como "ocupação: procurar camaradas".... E acerca dele diz mais o seguinte: "Muito jovem ainda, pois tinha apenas 11 anos quando fui para Angola trabalhar, pois foi dentro de um Balcão que comecei a despertar para o trabalho e para a vida. Hoje tenho saudades de Camabatela, aquela Linda Vila que deixei lá no Norte, e até hoje jamais esqueci.

"Já são muitos os anos,  é verdade, mas nem com o tempo esqueci todo o meu passado de menino, daquele Vila de Camabatela que me acolheu e de quem guardo muitas saudades. E por isso vou recordando Camabatela,  sempre que escrevo alguma coisa, com Amor e Dedicação" (...) .


1. Comentário de Albino Silva (Sold Maq, CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70) ao poste P7937 (*):

Sou o Albino Silva, aquele Soldado Maqueiro ali sentado e escrevendo,  com a G 3 a meu lado, no mato sim, e [escrevendo justamente]  um aerograma para uma madrinha de guerra.

Quero dizer ao José Vegar,conselheiro editorial, e colaborador do Expresso, que na Guiné e sempre que podia,  ia desabafando ao escrever fosse para quem fosse.

Cá, por trauma ou nem sei quê, escrevi um livro com a História da Unidade do BCAÇ 2845, e ainda outro, Armados para a Paz. [ Edição de autor, 2010].

O problema é que,  como falam da Guerra Colonial na qual participei, acabaram por ficar na Gaveta já que poucos foram para Camaradas do Batalhão, e editados por mim.

É claro que não são romances, nem ficção, mas relatam uma realidade vivida numa guerra,e por isso sem divulgação, o que me deixa triste já que ninguém mais saberá de sua existência.

Estão aqui na gaveta porque não tenho posses para ir mais longe, pois tenho muito para falar daquele passado triste que não se esgota nas nossas memórias.

Albino Silva
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Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 13 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7937: (Ex)citações (132): "Continuo a ter dúvidas de que as histórias [dos combatentes da guerra colonial] devem ter o livro como destino, mas não tenho dúvida alguma de que estas histórias precisam de um sítio onde fiquem acessíveis para os vindouros" (José Vegar, conselheiro editorial, Expresso, 12/3/2011)