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terça-feira, 13 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16484: Contraponto (Alberto Branquinho) (55): Guerra e Charme (sem história de amor lá dentro)

1. Mensagem do nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), datada de 12 de Setembro de 2016 com mais um Contraponto que nos obriga a meditar:


CONTRAPONTO

55 - GUERRA E CHARME (sem história de amor lá dentro)

Pensei escrever assim qualquer coisinha com charme sobre a guerra, a nossa guerra colonial, as nossas guerras coloniais.

Então, coloquei uma folha A4 debaixo do nariz e entalei o lápis entre os dedos. Olhei as profundidades do papel, naquele ponto central onde se cruzam as duas diagonais imaginárias que vão de canto a canto da folha. Fiz força, força, força… mas nada saía.

Então, olhei em volta, à procura da “ideia”. Acabei por fixar-me no espaço da estante onde, bem juntinhos, estão “Os Centuriões”, “Os Mercenários” e “Os Pretorianos” de Jean Lartéguy. Larguei o lápis e puxei os livros. Folheei-os, folheei, folheei, procurando aquela passagem que, há muitos anos (antes da experiência da Guiné), me marcou muito. Não consegui localizá-la. Era assim: em Dien-Bien-Phu, um oficial francês, dentro de um abrigo, ouvia um jornalista que o interrogava e falava largamente sobre guerra. O oficial, saturado da conversa, respondeu-lhe, mais ou menos, isto: 
- A guerra seria aceitável se eu pudesse sair deste abrigo e berrasse: ”A guerra acabou. Os mortos podem levantar-se.”

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Agora, tantos anos passados depois desse escrito de Jean Lartéguy, questiono-me se não terá sido essa afirmação do oficial francês que inspirou o criador do “paintball game”.
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Nota do editor

Poste anterior de 2 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16440: Contraponto (Alberto Branquinho) (54): Literatura da guerra colonial, o que é?

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16440: Contraponto (Alberto Branquinho) (54): Literatura da guerra colonial, o que é?

1. Comentário do dia 1 de Setembro de 2016, do nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), deixado no Poste Guiné 63/74 - P16433: Agenda cultural (489): Amanhã, dia de 1 setembro, estreia nos cinemas o filme, de Ivo M. Ferreira, "Cartas da Guerra", baseado nas cartas de amor e guerra de António Lobo Antunes, ex-alf mil médico, da CART 3313 (Angola, 1971/73), inserido aqui na sua série Contraponto:


CONTRAPONTO

54 - LITERATURA DA GUERRA COLONIAL

A - Deixando de lado toda e qualquer postura política ou ideológica, o que é "literatura da guerra colonial"?

1 - É TODO E QUALQUER ESCRITO SOBRE A GUERRA?
2 - É aquela escrita feita por QUEM SOFREU A GUERRA À DISTÂNCIA?
3 - É aquela escrita feita por QUEM SOFREU A GUERRA NOS ESPAÇOS DE GUERRA?
4 - É aquela escrita feita por QUEM SOFREU COM A GUERRA LONGE DOS ESPAÇOS DE GUERRA?
5 - É aquela escrita feita SOMENTE POR QUEM FEZ A GUERRA?


B - Fazer a guerra

Deixando de lado toda e qualquer postura política ou ideológica

- Uma coisa é FAZER A GUERRA outra coisa é SOFRER COM A GUERRA. Daí que eu diga que as ÚNICAS MULHERES que FIZERAM A GUERRA foram as nossas Enfermeiras para-quedistas "(vide livro "NÓS, Enfermeiras para-quedistas", onde algumas delas relatam algumas das suas experiências de guerra)"; muitas outras mulheres (nesses tempos, mas não todas) sofreram com a guerra, mas não fizeram a guerra.


C - Das respostas às questões em A acima se poderão clarificar os EQUÍVOCOS em atribuir o epíteto de literatura de guerra colonial a uma literatura baseada no "consta que" ou no "ouvi dizer":

- No consultório médico ou no posto de socorros;
- Nas messes de oficiais e espaços anexos (incluindo piscinas);
- No cabeleireiro e em outros espaços civis ou militares;
- Etc. etc.

EVITEMOS, portanto, "modas" e atitudes de "Maria vai com as outras".


D - QUESTÃO FINAL

- Por que é que não se fala, escreve, filma sobre os livros do MELHOR escritor da guerra colonial - Carlos Vale Ferraz - que aborda desde a temática da guerra (vivida e sofrida) pura e simples, desde os riscos e os sofrimentos presentes ao planeamento operacional e, até, temática pícara e herói-cómica?

Saudações
Alberto Branquinho
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Nota do editor

Último poste da série de 5 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14119: Contraponto (Alberto Branquinho) (53): "A Malta das Trincheiras" de André Brun

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14119: Contraponto (Alberto Branquinho) (53): "A Malta das Trincheiras" de André Brun

1. Em mensagem do dia 2 de Janeiro de 2015, o nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), enviou-nos mais um dos seus Contraponto(s).

Boa noite Carlos
Aqui estou, em pleno Ano Novo, ressuscitado, a desejar-te um optimíssimo 2015 e a enviar mais um Contraponto.
Aconselho-te vivamente a leitura do livro de que falo no texto.

Abraço
Alberto Branquinho


CONTRAPONTO

53 - "A MALTA DAS TRINCHEIRAS"

Porque no transacto ano de 2014 se completaram 100 anos sobre o início da I Grande Guerra, a Sociedade Portuguesa de Autores reeditou, em colaboração com a editora “Guerra & Paz”, o livro “A MALTA DAS TRINCHEIRAS” de André Brun, que tem como subtítulo “Migalhas da Grande Guerra”.

Ora, como o subtítulo indica, são textos curtos, com quatro, cinco páginas e sem qualquer sequência narrativa, nos quais o autor transmite variadíssimos aspectos da realidade nua e crua da guerra em que esteve envolvido: as cidades da retaguarda, mais ou menos destruídas, abandonadas pelas populações e ocupadas pelos militares, o avanço das tropas para a 3.ª e 2.ª linhas das trincheiras e, depois, o dia-a-dia e os combates na trincheira da linha da frente.

São pequenas histórias, apontamentos, comentários, análises donde ressaltam, com uma clareza e comunicação incríveis, o sofrimento, a tragédia, o humor, as situações pícaras, a rotina das trincheiras (a abissal diferença entre a noite e o dia, o tempo de sol e o de chuva e neve, com os seus lamaçais), a crítica à retaguarda e às suas burocracias inúteis, que nunca tinham em conta a situação real de quem tinha que sobreviver naquelas condições e conviver com o boche que estava nas trincheiras mesmo em frente.

Através destes pequenos textos André Brun transmite vivamente a realidade das trincheiras, que eu não tinha conseguido apreender desta maneira através da leitura de livros tipo romance, com uma história encadeada (com princípio, meio e fim). É, assim, mais um exemplo (talvez o primeiro em situação de guerra) de como se pode descrever, pintar, ilustrar, transmitir uma realidade de um dado espaço/tempo ou circunstância (acentuando o trágico, surrealista, humano, cómico, pícaro, sarcástico, burlesco), através de pequenas histórias com gente dentro – os militares, mas, também, o drama das populações desalojadas.

Num texto intitulado “O mosqueiro da batalha” há referências sofridas ao 9 de Abril de 1918, dia da batalha de La Lys.

Noutro texto, “O pintor das trincheiras”, fala-nos do famoso pintor Sousa Lopes, que, voluntário e graduado em capitão, foi para as trinchas desenhar, tomar apontamentos, fazer croquis da vida real nas mesmas, dizendo que foi “imediatamente baptizado” pelos soldados como: “Aquele nosso capitão que tira fotografias com um lápis”.

A terminar, transcrevo uma passagem irónica (página 73) que, pelo seu conteúdo, nos diz muito: “À tarde, em três macas rodadas, vamos levá-los ao cemitério, a um daqueles cemitérios de guerra postos à beira das estradas, para que o nosso espírito se não esqueça de que é mais fácil nestas paragens ganhar uma cruz de pau do que uma cruz de guerra”.

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Notas finais:

1 – André Brun escreveu, também, entre outros, “A maluquinha de Arroios” e “A vizinha do lado”, ambos adaptados ao cinema.
2 - A todos aqueles que, aqui neste blogue, falam, por vezes, em “linha da frente” ou em “trincheiras” na Guiné, mais uma vez digo que em qualquer guerra de guerrilha não se combate para conquistar território. Na Guiné não tínhamos, portanto, “linhas da frente” nem “trincheiras”.

Valas não são trincheiras. Estas tinham quilómetros e quilómetros, eram mais altas que um homem, sempre ziguezagueando e, dentro delas, havia tudo aquilo que um quartel necessitava – secretaria, comunicações, dormitórios, algum paiol, etc.. .O texto “A terra de ninguém” começa assim: «Passou-se a segunda linha, B.line, e vai-se descendo pela trincheira de comunicação. Por fim, um entrincheiramento perpendicular. É a primeira linha, aquela para onde nos conduzem as várias setas das tabuletas:”To the front line”». (Convirá referir que o batalhão português de André Brun estava integrado nas tropas inglesas.

Alberto Branquinho
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Notas do editor

(*) Vd. poste de 15 de novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7286: Notas de leitura (171): A Malta das Trincheiras, de André Brun (Arménio Estorninho)

Último poste da série de 13 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13135: Contraponto (Alberto Branquinho) (52): A Guerra (Colonial) no Feminino

terça-feira, 13 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13135: Contraponto (Alberto Branquinho) (52): A Guerra (Colonial) no Feminino

1. Em mensagem de 4 de Maio de 2014, o nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), enviou-nos o seu contraponto número 52, dedicado à "guerra" no feminino.


CONTRAPONTO

52 - A GUERRA (COLONIAL) NO FEMININO

Não há dúvida: foi aquela guerra!! Aquela experiência!!

Trata-se de escritos sobre a “guerra” das mulheres que acompanharam os seus maridos mobilizados para a “guerra em África”. (!!!)

Em Angola e em Moçambique havia muitos locais assim... “guerreiros” (perigosíssimos!), onde as mulheres, com seus maridos, podiam e eram autorizadas a aboletar-se... gozando as delícias dos trópicos. Bem, em alguns casos poderia tratar-se de militares que se deslocavam em missões ao interior efectivamente guerreiro (pára-quedistas, pilotos...), regressando, em breve prazo, para junto das suas consortes (com melhor sorte). Mas a grande parte dessa “guerra no feminino” foi a “guerra santa” da contraparte dessa masculina “santidade”.

Todos sabemos que, na Guiné, era proibida a presença das esposas dos militares, excepto em Bissau e em Bafatá. Recordo-me do caso daquela Senhora, que, roída de saudades do marido-alferes miliciano, atracou a Catió, mas foi remetida à procedência, tendo o marido sido autorizado a acompanhá-la até Bissau.

Vem este arrazoado a propósito de ter encontrado fartas referências à “guerra colonial no feminino” e, então, pensei que seria sobre as peripécias das vidas das “nossas” enfermeiras pára-quedistas em teatro de guerra. Não! Era sobre essoutro (pretenso) lado da lua, que, afinal, quando escrevente, também é considerada “literatura da guerra colonial”, com muitas referências e citações em compilações literárias sobre essa espécie de.

Ficarão para a História... relatando a guerra vista de longe e baseada no diz-se, consta que, ouvi dizer. 
PÓIS!
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Nota do editor

Último poste da série de 22 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12187: Contraponto (Alberto Branquinho) (51): Micoses

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12187: Contraponto (Alberto Branquinho) (51): Micoses

1. Em mensagem de 21 de Outubro de 2013, o nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), enviou-nos o seu contraponto número 51, dedicado às micoses que tanto nos atormentava.


CONTRAPONTO

51 - MICOSES

A coluna auto estava a chegar à sede do Batalhão, vinda de um quartel a sul. Entre nuvens de pó, as viaturas começaram a estacionar lado a lado.

O furriel enfermeiro assomou à porta do Posto Socorros. Viu o furriel Sá, que lhe acenava. Estava a sair da cabina de uma viatura, com dificuldade em descer e colocar os pés no chão.
- Ó Rebelo, preciso falar contigo.

E começou a caminhar, em passos curtos e lentos, na direcção do enfermeiro.

- Eh pá! Que é isso? - Entra.
- Já te mostro lá dentro.

Entraram no Posto. Baixou as calças.
- Olha p’ra isto.
- Ih cum caraças!! Nunca vi uma micose assim.
- É uma greta em cada virilha, mas têm ramificações por aí abaixo até ao cu. Há partes que às vezes deitam sangue.
- O que é que estás a pôr?
- Nada, Rebelo, nada. A gente lá em cima já não tem nada p’ra isto. E tenho, também, no meio dos dedos dos pés. Costumava por Asterol, mas lá já não há nada. Nem pó.
- Tenho aqui um resto de um frasco. Líquido. Levas e aplicas com cuidado, com bolas de algodão por aí abaixo. A pouco e pouco.
- ‘Tá bem.
- E pões uma bola de algodão, molhada, no meio dos dedos. Mas pouco de cada vez.
- ‘Tá bem. Isto é das bolanhas. Do lodo. Arranja-me aí o algodão, que eu fico já com tudo.
- Vocês ainda voltam hoje para baixo?
- Não. A esta hora já não dá. É preciso carregar as viaturas e, depois, voltar a “picar” o caminho todo. Já não dá. Posso dormir aqui?
- Não é preciso. Podes dormir na cama do Barata.
- Barata? - O gajo das Transmissões. Está no mesmo quarto do Azevedo da “ferrugem”. O Barata está em Bissau.
- Porreiro. Então, vou ver se posso tomar um banho, secar tudo bem seco e, depois, começar a pôr isto. Até logo.
- Até logo.

- * -

Quando o furriel mecânico Azevedo foi ao quarto, viu o Sá completamente nu, com a ventoinha ligada e apontada para a entreperna. Com a mão direita puxava o pénis na direcção da barriga, expondo à ventoinha as virilhas e o escroto. E, ele próprio, soprava, soprava sem parar...
Tinha despejado o líquido antimicótico directamente nas virilhas.

O Azevedo ficou, em espanto, a olhar acena.
- Oh! Oh! Que é que estás a fazer?!
- ???
- Que estás a fazer?
- A arrefecer o leite. Não vês?

O Azevedo encolheu os ombros, recolheu o que buscava e saiu.
(- Estão todos “apanhados”!).

A meio da tarde, o furriel Sá, pôs uma toalha à cintura e caminhou, com dificuldade, até à porta. Viu um soldado da sua Companhia e pediu-lhe que fosse ao Posto de Socorros dizer ao furriel enfermeiro para chegar ali.
Já desesperava, sempre com a ventoinha apontada ao meio das pernas, quando ele chegou.
- Que é isso, pá?!

O Sá apontou para a zona do corpo, com ar sofredor.

- Ih pá! Despejaste o frasco em cima! Não foi isso que te disse.
- Era para resolver isto mais depressa e poder voltar amanhã lá para baixo. Parece que a pele está queimada, a estalar e... arde p’ra caraças!
- És marado! És marado de todo! O melhor é deixares estar assim, com as pernas abertas até logo à noite. Não ponhas mais nada, porra!
- E fico assim? Está tudo a arder.
- Vou ver se tenho talco ou outro pó. Já te mando o cabo com o pó e gaze.
- Fazes favor, manda-me, também, pelo gajo, um pão com qualquer coisa e uma cerveja. Depois pago-te.
- Está bem. Só logo à noitinha, antes de dormir, pões pó na gaze e vais pondo em cima da pele, com cuidado, de um lado e do outro. Sem apertar a pele. Suave, muito suavemente. E vais fazendo isso toda a noite, substituindo a gaze de vez em quando. Mas não apertes, caraças! Amanhã de manhã vejo como está isso.

- * - 

 Já tarde, depois do jantar, o furriel Azevedo entrou, cuidadosamente, no quarto, tentando não ser notado. Olhou para a cama onde o Sá estava deitado, mas não dormia. No chão, à volta da cama, viu (assim lhe pareceu) vários panos brancos, pequenos. O Sá segurava dois panos, um em cada mão, que aproximava e afastava, cuidadosamente, das virilhas e do escroto.

Ficou estupefacto:
- Sá, que é que estás a fazer?

O outro, com um esgar de dor e irritado:
- Estou a mudar os cueiros. Não vês?

O Azevedo saiu, entre incomodado e receoso. Num repente, tomou a decisão: falar com o furriel enfermeiro.
Mal o encontrou, gritou-lhe:
- Tira-me aquele gajo do quarto! Não tenho paciência para malucos! Leva-o para o Posto de Socorros e fala com o médico para o mandar para a psiquiatria, para Bissau. No meu quarto, não!
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Nota do editor

Último poste da série de 27 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11876: Contraponto (Alberto Branquinho) (50): A Batalha do Umbigo

sábado, 27 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11876: Contraponto (Alberto Branquinho) (50): A Batalha do Umbigo

1. Em mensagem de 25 de Julho de 2013, o nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, CatióCabeduGandembel e Canquelifá, 1967/69) enviou-nos o seu contraponto número 50.


CONTRAPONTO

50 - A batalha do UMBIGO

Batalha?!
Então, em guerrilha e contra-guerrilha, havia (há) aquelas lutas a que se chama uma “batalha”? Assim, por exemplo, conquistando ou reconquistando terreno, empurrando o inimigo para as suas terras de origem?
Ao que parece... (parece que) sim. Há quem fale de “batalhas” com respeito às suas experiências de contra-guerrilha.

Quando foram transportados para UMBIGO já havia guerra por aquelas bandas, mas eram coisas de outros, coisas sem importância...
Quando saíram do UMBIGO continuou a haver guerra, mas eram coisas menores, porque eles... já não estavam no seu UMBIGO. A sua batalha do UMBIGO é que foi uma verdadeira batalha!
Só eles tiveram guerra!
Eles é que estiveram “na linha da frente da batalha do UMBIGO”!

Mas: em guerrilha e contra-guerrilha há “linha da frente”?

Não interessa, eles sim, eles é que estiveram na frente de batalha do UMBIGO!
Vocês não fazem ideia dos riscos e trabalhos que passaram na batalha do seu UMBIGO! Estavam cercados de inimigos! Por todos os lados (menos pelo lado de cima, porque o inimigo não tinha força aérea...)
A sul havia as matas de Pubisseco, a norte as matas de Peitassa, não esquecendo as outras, embora mais pequenas, situadas a nordeste e a noroeste: as matas de Bissovaco.
Eram matas impenetráveis e só à catanada se conseguia abrir caminho. Bom, bom, teria sido usar napalm, mas nem sempre era possível... ou aconselhável. Tentaram facilitar... essas dificuldades fazendo desmatação. Assim, tiveram guerra e mais guerra. Batalhas!

Por todas essas razões, sentem esta necessidade de escrever, escrever sobre a batalha do UMBIGO para que os outros e as gerações vindouras os louvem (a eles, sim!), os que travaram a batalha do seu UMBIGO!

(Nada mais tem interesse para o entendimento da História do que essas pequeninas coisas.)
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Nota do editor

Último poste da série de 26 DE FEVEREIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11158: Contraponto (Alberto Branquinho) (49): O Spínola que eu... entrevi

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11158: Contraponto (Alberto Branquinho) (49): O Spínola que eu... entrevi

Foto: © Pierre Fargeas / Jorge Félix (2009). Direitos reservados.

1. Em mensagem de 17 de Fevereiro de 2013, o nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69) enviou-nos o seu quadragésimo nono contraponto.


CONTRAPONTO (49)

O SPÍNOLA QUE EU… ENTREVI

Não me pareceu que este texto pudesse ser colocado na série “O Spínola que eu conheci”, porque não o conheci. O que posso dizer é que, por duas vezes, pude entrevê-lo.

A primeira foi durante o período de permanência da minha companhia em Bissau (onde nunca estivera), aguardando o embarque de regresso a Lisboa. Encaminhava-me para a messe em Santa Luzia, quando o vi, ao longe, em frente à messe, entre meia dúzia de oficiais.

A segunda vez foi durante a formatura de despedida das tropas que, no dia seguinte, embarcavam para Lisboa. Que me lembre, na formatura, estava o meu batalhão, outro batalhão e, lá mais à frente, sob a minha direita, tropas da marinha, impecáveis, nas suas fardas brancas.

Eu estava à frente do meu pelotão e tinha a tapar-me a visibilidade sobre um palanquim de madeira (onde estava um microfone) o meu comandante de companhia e, em frente a ele, o coronel que comandava a tropa em formatura. Chegou o ComChefe, acompanhado de um oficial que se colocou mais atrás, sob a sua esquerda. Toque de “Sentido”. A seguir, o coronel fez o cumprimento militar. O ComChefe respondeu, elevando a mão direita, enluvada, mais ou menos à altura do rosto. Toque de “À-vontade”.

Colocaram um microfone em frente ao coronel. Compasso de espera para o acertar à altura adequada. O coronel colocou os óculos e retirou umas folhas de papel do bolso direito das calças. (Aproveitei para espreitar discretamente, ora sobre a direita ora sobre a esquerda.) O coronel começou a ler. Eu não prestava atenção ao que ele dizia, tentando entrever o general, que dava sinais de impaciência. Apurei o ouvido. O coronel falava da arma de Artilharia, da excelência do artilheiro, da história da Artilharia.

O general, que estava cada vez mais impaciente, chegou-se ao microfone do palanquim e ouviu-se, por entre as palavras do coronel, em som nasalado e grave:
- Já chega!

O coronel pareceu não ouvir e continuou a passar folhas e a ler. E o general:
- Schh! Schh!

De cabeça baixa, continuei a procurar entrever o palanquim e o general, olhando por cima do sobrolho e pensando: - Vai haver esturro!

O general, de novo:
- Já chega! Schh!

O coronel continuou. Acabou. Dobrou e guardou as folhas.

Ouviu-se o toque de “Sentido” e, logo a seguir, o coronel fez continência. O general mandou, com um gesto, fazendo oscilar o pingalim sobre o seu lado direito. Então recuou um pouco, ficando, assim, visível, olhou o oficial que o acompanhava e que estava à sua esquerda e, com o pingalim apontando o microfone, disse em voz bem audível, mais ou menos isto:
- Diz lá umas palavras aos rapazes sobre o significado deste acto, que voltam para as famílias, para as mulheres, para os filhos… que era o que o senhor coronel devia ter feito.

Alberto Branquinho
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 5 de Fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11062: Contraponto (Alberto Branquinho) (48): Cuando sali de Cuba...

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11062: Contraponto (Alberto Branquinho) (48): Cuando sali de Cuba...

1. Mensagem do nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 9 de Novembro de 2012:

Olá, Carlos
Há tanto tempo!
Passou o Natal, passou o Ano Novo e, até, passou o Orçamento... quer dizer, está aí e só dentro de dias é que a gente o vai conhecer melhor (sem prazer em conhecê-lo!).

Lembrei-me de falar nesta que vai junta, sobre acção psicológica sobre o IN...
É sobre uma canção (que não é de protesto).

Um abraço
Alberto Branquinho


CONTRAPONTO (47)

Cuando Sali de Cuba (1965), na voz de Luis Aguile

"CUANDO SALI DE CUBA…"

Falávamos, há alguns dias, num grupo de amigos, da canção “Lily Marleen”, das várias versões que a letra teve (para além do original alemão) em inglês - inglês/inglês e inglês/americano (porque não havia entre eles nem há acordo ortográfico…) - e que era, languidamente, ouvida dos dois lados do campo de batalha.

Falou-se, então, também das emissões radiofónicas, que, já no fim da Segunda Grande Guerra, os americanos faziam para desmoralizar as tropas alemãs, onde incluíam essa canção (acção psicológica sobre o IN…), cantada por outra Marleen – Marlen Dietrich, actriz alemã… ao serviço por Hollywood.

Lembrei-me, então, que, no meu tempo de Guiné, se falava de um capitão que, quando o quartel era atacado, colocava no prato do gira-discos (dentro do abrigo?) uma canção cubana que os amplificadores de som, colocados junto ao arame farpado, difundiam para o exterior:

(…)
“Cuando salí de Cuba 
Dejé mi vida dejé mi amor 
Cuando salí de Cuba 
Dejé enterrado mi corazón.”
(…)

Alguém se recorda e pode confirmar?
Dão-se alvíssaras a quem encontrar onde e quem, porque convinha que fosse verdade para, também, termos a nossa história para a História.

Alberto Branquinho
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 11 de Novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10653: Contraponto (Alberto Branquinho) (47): Momento de poesia com Augusto Gil e a "Jovem Lília Abandonada"

domingo, 11 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10653: Contraponto (Alberto Branquinho) (47): Momento de poesia com Augusto Gil e a "Jovem Lília Abandonada"

 
 1. Mensagem do nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 9 de Novembro de 2012:

Caro Carlos Vinhal
Porque me parece oportuno e porque não é da minha autoria, aí vai um "Momento de poesia".

Um abraço.
Alberto Branquinho



CONTRAPONTO (47)
MOMENTO DE POESIA...

"JOVEM LÍLIA ABANDONADA...

Sempre que a vejo a contemplar os céus
com um ar de lírica neurastenia
dá-me a impressão de estar pedindo a Deus
ao menos um alferes de infantaria..."

AUGUSTO GIL (1873-1929)
«O canto da cigarra»


NOTA: O autor deveria ter esclarecido se poderia ser um alferes miliciano (de infantaria, claro!)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 10 de Outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10511: Contraponto (Alberto Branquinho) (46): Banho... de cobra

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Guiné 63/74 - P10511: Contraponto (Alberto Branquinho) (46): Banho... de cobra

1. Mensagem do nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 8 de Outubro de 2012:

Caro Carlos Vinhal
Depois das anunciadas "dentadas" no nosso orçamento destinadas ao outro Orçamento, junto um história onde se fala de uma dentada, que ninguém provou ter, de facto, existido.
Esta história será incluída no livro "CAMBANÇA II".

Com um abraço do
Alberto Branquinho


CONTRAPONTO (46) 

 BANHO… DE COBRA

Ao fim da tarde, o furriel Melo, responsável pelas Transmissões, passou à frente da construção feita, essencialmente, com madeira de caixotes que era designada por “messe de sargentos”. Ao vê-lo passar, com o seu ar levemente efeminado, somente com a toalha presa à cintura e a caixa de plástico com o sabonete dentro, o furriel Adão, sentado num dos pipos cortados a meio, que serviam de cadeira e com uma “basuca” já meia bebida, encarou-o e atirou-lhe:
- Ó caramelo! Vê lá se não gastas a água toda!

O Melo seguiu e não deu resposta. Ia para o duche – um conjunto de dois bidões, assentes em cima de tábuas, a mais ou menos a dois metros do chão, dos quais pendiam cordas – uma para abrir a água, pintada de verde (já debotado) e outra de vermelho, também debotado, para fechar. Por baixo dos bidões havia um cubículo feito de quatro tábuas, sem porta, para dar uma certa intimidade aos banhos.

Àquela hora, em sol poente, havia uma certa obscuridade no interior do cubículo. O pessoal tomava duche com os chinelos calçados para não pisar, descalço, o interior enlameado, devido à dificuldade de escoamento da água.

O Melo aproximou-se da entrada, abriu a pequena caixa plástica que continha o sabonete, encaixou a tampa na parte inferior e segurou-a com a mão esquerda. Retirou a toalha da cintura e, já nu, pendurou-a no prego grande que havia na tábua do lado direito. Mal deu o primeiro passo para o interior e poisou o pé, deu um grande grito de medo e horror e fugiu. Parou a uns metros a olhar, de olhos esbugalhados, a cobra que fugia do espaço dos banhos. Ao dar-se conta de que estava nu num espaço aberto, tapou, com ambas mãos, o pénis e os testículos.

Acorreram alguns soldados, assim como os furriéis que estavam na “messe” próxima. Ainda puderam ver uma cobra grande, com a espessura de um pulso, amarela-esverdeada, que fugia. Foi refugiar-se nos arbustos próximos, espessos, bem regados com as águas de escoamento dos banhos.

O furriel Melo, passados os instantes de espanto, correu para o seu abrigo junto ao Centro de Transmissões, sempre com as mãos protegendo o sexo.

Os soldados correram procurando paus para, cuidadosamente, esquadrinharem os arbustos, tentando localizá-la.

- Mas a cobra era grande?
- Era grande com’ó caraças! Nunca mais acabava de sair de lá de dentro.
- E que é que foi aquele grito?
- Acho que a gaja deu uma dentada na picha ao furriel cripto.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 2 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P9983: Contraponto (Alberto Branquinho) (45): Fogo de rajada com... morteiro

sábado, 2 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P9983: Contraponto (Alberto Branquinho) (45): Fogo de rajada com... morteiro

1. Mensagem do nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 31 de Maio de 2012 com mais um dos seus Contrapontos.

Caro Carlos Vinhal
Junto vai o texto para o CONTRAPONTO (45), que espero incluir no próximo "Última CAMBANÇA".

Um abraço do
Alberto Branquinho


CONTRAPONTO (45)

FOGO DE RAJADA COM… MORTEIRO

No Porto, chamavam “Ver-a-lista” aos homens e rapazes, habitualmente aleijados ou diminuídos mentais, que andavam pelas ruas vendendo lotaria. Por exemplo, alguém que estivesse sentado numa esplanada, ao avistar um vendedor de jogo, chamava:
- Ó Ver-a-lista!

O homem aproximava-se, exibindo a lista da última extracção e, também, o jogo que tinha para vender.

Apresentou-se na Companhia, ainda em formação e antes do embarque, um rapaz cuja cara parecia uma caricatura. Olhos esbugalhados e assustados, nariz estreito, anguloso e projectado para a frente, quase ausência de malares, queixo pontiagudo e com a bochecha direita perfurada por uma fístula. Verificou-se mais tarde que era provocada pela infecção de um dente, que foi tratada. Parecia ter sido arrancado de um quadro de Hieronymus Bosch.

Pois este rapaz, depois da observação sagaz e agressiva, que era habitual no meio militar, passou a ser chamado de “Ver-a-lista”.

Assustado, olhando em volta, chegou-se à porta do espaço onde funcionava a secretaria, parou e grunhiu qualquer coisa. O sargento, que não era propriamente uma pessoa suave e de trato fácil, berrou-lhe:
- Que é que queres, ó rapaz?

Ele estendeu a mão, mostrando os papéis de apresentação. O sargento agarrou neles, olhou-o atentamente e fez-lhe algumas perguntas. Pela postura e pelo aspecto, constatou que devia ter um atraso mental.

- Qual é a tua especialidade?
- Atirador… de… de… morteiro.
- Espera aí.

O sargento bateu na porta ao lado.
- Meu capitão, dá licença?

Entrou. Pouco depois chamou o rapaz, que entrou no gabinete do capitão.
- Então não cumprimentas o nosso capitão?

Ele tropeçou bota contra bota, desequilibrou-se. O sargento amparou-o. O rapaz estendeu a mão para cumprimentar o capitão e o sargento berrou-lhe:
- Cumprimento militar!
- Deixe lá, nosso sargento. Então, ouve lá rapaz. Disseste ao nosso sargento que és atirador de morteiro. É verdade?

O rapaz olhou o sargento com olhos assustados, olhou o capitão, olhou para as botas e, passado algum tempo, voltou a olhar o capitão e respondeu:
- Xim, xenhora!
- Então como é que fazes fogo com o morteiro?

Ele levantou ambas as mãos à altura do ombro direito, como quem segura uma arma e respondeu:
- Tá… ta…rá…tá…tá. PUM!!!
- Está bem. Podes ir embora.

Saiu.
- Nosso sargento, vamos aproveitar o rapaz nos trabalhos de limpezas e outros afins.

(Nesses tempos aconteciam situações semelhantes. Havia que aproveitar todos os homens e, em caso de menos cuidado: “Apurado para todo o serviço militar”).

Depois de passar a curiosidade e, até, espanto pela presença daquele militar bizarro (até a marchar era diferente, pois, para além de não conseguir acertar o passo, marchava como se estivesse a pisar uvas), passou a ser protegido, pelo menos por alguns.

Ao receber o pagamento do pré, olhava espantado o sargento que lhe entregava o dinheiro – então, tinha cama, mesa e… (roupa lavada não, porque era ele que a “lavava”) e ainda lhe pagavam?

- Então, Ver-a-lista, disseram-me que fazes fogo de rajada com o morteiro?
- Xim, xenhora!

Na Guiné, com o decorrer do tempo e com o crescer da agressividade entre os homens, criou um instinto de defesa, principalmente com os que não eram da Companhia.

- Ó Ver-a-lista tu sabes escrever?
- Xei calquer coijita.
- Tu não recebes correio. Não escreves à família?
- Nã, xenhora.
- Queres que eu escreva ou que te ajude?
- Eles xabem munto bem ond’é q’eu estou.

Durante o primeiro ataque ao quartel, alguém lhe berrou:
- Corre pr’ó abrigo, Ver-a-lista!!!
- O quê?!
- Os gajos estão a atacar!
- E ós’póis? O qu’é qu’eu fiz de mal p’ra ter que fugir?

Teve que ser empurrado para dentro.

No final da comissão voltou para a aldeia, em Trás-os-Montes. Também ele estava ainda mais duro, como todos os outros, mas não estava marcado pela guerra. Terá, alguma vez, entendido a realidade dentro da qual viveu durante cerca de dois anos? Estava mais esperto e mais risonho, não só por voltar a casa, mas também devido à taleiga cheia de notas, amarrada à cintura.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 12 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9891: Contraponto (Alberto Branquinho) (44): Se estou grávido ou não, não sei, mas...

sábado, 12 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9891: Contraponto (Alberto Branquinho) (44): Se estou grávido ou não, não sei, mas...

1. Mensagem do nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 7 de Maio de 2012 com mais um "Contraponto".

Olá Carlos, boa tarde.
Boa tarde, com esta chuva? Why not?
Aqui estou a enviar-te um texto escrito há uns dias, que creio deverá ser o 44. Ou não?
Espero inclui-lo no segundo e último livro sobre a experiência da Guiné: "Ultima CAMBANÇA".

Um abraço
Alberto Branquinho


CONTRAPONTO (44)

 GRÁVIDO?

O capitão miliciano, que comandava a Companhia ali aquartelada, acercou-se da mesa feita de tábuas de caixotes onde um alferes jogava à sueca com outros militares. Jogavam de forma agressiva, brandindo as cartas como se fossem armas, numa concentração total.

O capitão miliciano dirigiu-se ao alferes:
- Antunes, não se esqueça que é você a sair hoje à tarde, antes do jantar.

O alferes não deu sinal de ter ouvido nem manifestou o mínimo respeito hierárquico.

- Antunes, estou a falar consigo. É você que tem que sair mais logo, antes do jantar. Avise o seu pessoal.
- Está bem, chefe – disse sem levantar a cabeça. E continuou a jogar.

- Você ouviu o que eu disse ou não?

O alferes olhou-o, segurando uma carta:
- OK, chefe. Já ouvi.

O capitão afastou-se, com aspecto agastado.

Um outro alferes observava, de longe. Quando o capitão se afastava, seguiu-o com o olhar. Então recordou uma cena ocorrida em Mafra quase no período final da instrução, pouco tempo antes de receberem as divisas de aspirante.

Um grupo de cadetes, onde estava incluído, olhava de longe, com sorrisos irónicos, um grupo de militares com mais que trinta anos, cujas calças e camisas denunciavam serem novos na tropa. Toda a roupa era demasiado grande ou lhes assentava mal nos corpos. Para os cadetes, já inseridos na instituição militar, da qual já tinham absorvido os princípios e comportamentos, aqueles militares pareciam extraterrestres, caídos ali na parada da Escola. Um sargento, novo, aprumado, possivelmente motivado pela função que estava a desempenhar, estava a dar-lhes instrução designada “ordem unida”. Formados a três mantinham o mesmo aspecto desalinhado, mal acomodados dentro das fardas. Até as botas pareciam estar demasiado grandes. Se observados de perto, os rostos transmitiam raiva, indisposição e, até, desespero.

Depois de um período de marcha, durante a qual alguns seguiam de passo trocado, o sargento ordenou alto. A seguir: “Direita volver”. Uns quantos “volveram” para a direita, outros para a esquerda, ficando alguns face a face, cada um interrogando o outro com o olhar: “Estarei certo e tu errado?” Então, o sargento disse que se virassem para ele em “À vontade”.

Para os cadetes, que observavam de longe, aquilo era hilariante. As cenas que aqueles “velhadas” estavam a fazer! Passado pouco tempo, o sargento: “Firme! Sen… up!” Encaminhou-se, então, para a direita da formatura e berrou: “P’la direita – perfilar!”.

- Tronco para fora! Barriga para dentro!

Com a mão levantada foi verificando o alinhamento. Depois caminhou um pouco, para o meio da formatura e postou-se em frente de um, detentor de uma portentosa barriga e exclamou:
- Ó meu tenente! Parece que está grávido!

Inesperadamente, veio a resposta numa voz altissonante:
- Se estou grávido ou não, não sei. Mas que me foderam bem fodido, isso é verdade.

(Era um curso de capitães milicianos que começara nesse mesmo dia).
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 9 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9587: Contraponto (Alberto Branquinho) (43): Guerra Colonial - Tarrafal 50 anos Depois

sexta-feira, 9 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9587: Contraponto (Alberto Branquinho) (43): Guerra Colonial - Tarrafal 50 anos Depois

1. Em mensagem do dia 8 de Março de 2012, o nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), enviou-nos mais um "Contraponto", desta feita uma crítica à Exposição sobre a Guerra Colonial levada a efeito pela SPA.

CONTRAPONTO (43)

“GUERRA COLONIAL – TARRAFAL 50 ANOS DEPOIS”

Aconselho uma visita à exposição acima indicada (v. POST 9573* de 7 de Março de 2012) – Sociedade Portuguesa de Autores – Rua Gonçalves Crespo, 62 – Lisboa.
Poderão verificar como se podem “enlatar” 13 – anos de guerra colonial – 13, factos e protagonistas, no espaço de duas paredes mais três terços de parede de uma sala pequena.

Mas, onde a exposição é minimalista (até porque foi montada na e pela SPA) é na mostra da produção literária sobre a guerra colonial e… seus arredores. Para além dos “costumes”… diz nada.

Nada mostra da qualidade e da coragem que houve em publicar e desconhece em absoluto o que foi publicado nos últimos dez/doze anos. Será que a razão está no facto de os autores não serem sócios da SPA?

A mostra de livros está em quatro pequenas vitrinas, no meio da sala (quarenta livros?) e nada mais.
Uma nota simpática – está lá o livro “Vindimas no Capim” do José Brás.
Bastava terem-se socorrido das listagens existentes em “sites” e “blogues” e terem ajuizado da sua qualidade.

Alberto Branquinho
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 7 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9573: Agenda Cultural (187): Inauguração da exposição Guerra Colonial - Tarrafal 50 anos depois - CONVITE

Vd. último poste da série de 7 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9575: Contraponto (Alberto Branquinho) (42): Às voltas com Gandembel

quarta-feira, 7 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9575: Contraponto (Alberto Branquinho) (42): Às voltas com Gandembel

1. Em mensagem do dia 2 de Março de 2012, o nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), enviou-nos mais um "Contraponto", desta vez às voltas com Gandembel.

CONTRAPONTO (42)

ÀS VOLTAS COM GANDEMBEL

A propósito do Post 9552* de 1 de Março de 2012 sobre o livro do Idálio Reis àcerca da sua CCAÇ 2317/Gandembel, aqui venho eu, cheio de ciúmes provocados por afirmações em comentários ao mesmo, sobre ter sido colocada apenas uma Companhia naquele espaço (que, depois de haver construção ou a meio dela, se passou a chamar Gandembel).

As questões, levantadas também nos comentários, poderão resumir-se, afinal, às duas perguntas colocadas pelo Idálio na capa do livro: “Porquê?”/”Para quê”. Não sei se ele aborda as razões/respostas que os “estrategas” poderão ter tido em mente…

Certo é que foi a realidade – a CCAÇ 2317 esteve cerca de OITO MESES sozinha em Gandembel, até ao abandono do aquartelamento.

MAS, convirá lembrar que a construção de Gandembel foi o objectivo da operação “Bola de fogo”. Aí a CCAÇ 2317 não esteve só. A minha CART 1689 (mais velha, com cerca de um ano de Guiné), aproximou-se do local vinda de norte (Aldeia Formosa) e a CCAÇ 2317 vinda de sul. Encontrámo-nos, mais ou menos, no sítio que foi Gandembel. E dormimos juntos.
A primeira noite foi (logo) excitante – pior que o São João no Porto!
Os capitães, na manhã seguinte, decidiram fazer a implantação do quartel um pouco mais a norte, próximo do declive para o Rio Balana, pois sem água…

Durante quase um mês e meio esse espaço foi a nossa casa. A CCAÇ 2317 fazia (fundamentalmente) a construção e a CART 1689 fazia (fundamentalmente) a segurança à construção – patrulhamentos e emboscadas na zona em redor.

A CART 1689 saiu de Gamdembel quarenta dias depois, quando os abrigos de pedra estavam já praticamente prontos, de modo a poderem ser abandonados os tais “buracos de toupeira”, situados mais próximo do arame farpado (quando já havia…).
Portanto, o tais “buracos de toupeira” que o Luís Graça gosta de referir, foram o “habitat” comum das duas Companhias residentes, enquanto viveram em comunhão de mesa e habitação.

Juntas vão três fotos que documentam a existência dos “buracos de toupeira” propriedade privada da CART 1689, no então quase-quartel de Gandembel. Estes abrigos foram fundamentais por causa da diária (e repetida!) chuva de… aço.

Dão-se alvíssaras a quem conseguir descobrir nas fotos este (aqui) escriba. (Ai, o gosto de falar de mim…)

Alberto Branquinho
 




Fotos: © Alberto Branquinho (2012). Todos os direitos reservados
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 1 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9552: Notas de leitura (338): A resposta que me veio pelo correio, quatro anos e meio depois: o livro do Idálio Reis, A CCAÇ 2317, na guerra da Guiné. Gandembel/Ponte Balana (Luís Graça)

Vd. último poste da série de 30 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9118: Contraponto (Alberto Branquinho) (41): (Somos uns) Mal-agradecidos

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Guiné 63/74 - P9118: Contraponto (Alberto Branquinho) (41): (Somos uns) Mal-agradecidos

1. Mensagem do nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 28 de Novembro de 2011:

Olá Carlos, Boa noite!
Junto vai o texto para o Contraponto (41), fresquinho, acabado de sair.

Abraço
Alberto Branquinho


CONTRAPONTO (41)

MAL-AGRADECIDOS!!

Há três dias que olho atentamente o blogue e nem um agradecimento, uma homenagem, um simples escrito!

Sim, porque a pensão atribuída aos antigos combatentes, bem avantajada nos seus cem (sem?) euros ANUAIS, atribuída por Sua Excelência o (então) Ministro da Defesa Sr. Dr. Paulo Portas, com pompa e circunstância (a pensão, claro!), NÃO vai sofrer qualquer corte no Orçamento de Estado para 2012.

Assim foi anunciado e só quem é surdo não ouviu!

Façam já um abaixo-assinado, atento, venerador e obrigado, seus mal-agradecidos! E enviem-no para as redacções de todos os jornais diários de Lisboa e Porto!


Epílogo

Como o Luís escreveu para nós mandarmos letras de fados, eu conheço o “Fado do 31”, mas só me lembro desta passagem:

“ … como ele não há nenhum
tudo baila e tudo canta
o Fado do 31.
Olarilóléla!
Como ele não há nenhum…
(etc., etc..)”
.


(Tenham cuidado com os etc.s!)

Alberto Branquinho
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 27 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8826: Contraponto (Alberto Branquinho) (40): Assim foi o primeiro Encontro da Tabanca de Setúbal

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Guiné 63/74 - P8826: Contraponto (Alberto Branquinho) (40): Assim foi o primeiro Encontro da Tabanca de Setúbal

1. Em mensagem do dia 25 de Setembro de 2011, o nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), mandou-nos o seu Contraponto 40 que narra como só ele sabe o primeiro Encontro da Tabanca de Setúbal.

CONTRAPONTO (40)

Assim foi o Primeiro Encontro da “TABANCA DE SETÚBAL”
(em VI Capítulos e 2 P.S.)


I
A aparição

Tudo aconteceu ao início da tarde de Sábado, dia 24 de Setembro e sem qualquer planeamento e organização. Em Setúbal, claro!
Estava o Zé Diniz (seraficamente!) a almoçar, em profunda meditação transcendental (apesar de acompanhado), olhando o prato, procurando decidir qual das sardinhas atacar, quando ouviu vozes vindas do tecto, chamando: “Zé Diniz… Zé Diniz…”.
Aqui…


II
…entro eu em cena

Já tinha eu passado junto à mesa, a caminho do W.C. e questionei-me:
- É o Zé Diniz… Aqui? Não deve ser. Tão calado, insonorizado, bem comportado. Bem, quando voltar, vejo melhor.

Regressei à sala. Olhei-o. Ele? Absorto, com o som desligado?
- Será mesmo o Zé Diniz, assim em posição OFF?

Espreitando pelo canto do olho e fixando o tecto, ciciei: “Zé Diniz…Zé Diniz…”


III
O reconhecimento

Foi assim que o final do capítulo I se encontrou com o final do capítulo II e houve…


IV
O pulo do Zé Diniz

Ele voltou levemente a cabeça na minha direcção, olhou-me com olhos entre ausentes e interrogativos e – de imediato! – pulou da cadeira e abafou-me com um abraço. Como não pude ver o que fez à faca (que tinha na mão direita) pensei que a tinha espetado nas minhas costas. Alívio… a faca estava em cima da mesa.

Então falámos, falámos: tu? aqui? porquê? etc., etc.. E veio o Hélder Sousa à lembrança. Setúbal, pois!


V
O Hélder

Voltei à mesa onde estava com a minha patroa e ele ficou com a dele, mas íamos olhando olhares de quem estava a falar de coisas. A certa altura diz-me: - Telefonei. Vem aí o Hélder.

Fomos para a porta. Chegou o Hélder. Atarefado. Excitado. Ocupado com assuntos vários. Falou, falou. Falámos, falámos. Por vezes ao mesmo tempo. Recordou. Esteve uns… dez minutos e, contrariado, teve que ir embora.


VI
E foi assim o 1º. Encontro da “Tabanca de Setúbal”.
Foi pouco tempo, mas… salvaram-se algumas sardinhas.

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P.S. 1 – Peço desculpa por este encontro não ter sido exactamente como todos os outros. Nem sequer houve fotos do acontecimento.
P.S. 2 – As minhas desculpas ao Zé Diniz e ao Hélder…

Alberto Branquinho
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8773: Contraponto (Alberto Branquinho) (39): O tempo está embrulhado

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Guiné 63/74 - P8773: Contraponto (Alberto Branquinho) (39): O tempo está embrulhado

1. Em mensagem do dia 12 de Setembro de 2011, o nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), conta-nos este caso de meteorologia empírica:


CONTRAPONTO (39)

O TEMPO ESTÁ EMBRULHADO

Foi há pouco tempo, em meados do último Agosto. Andando por terras algarvias, olhei um velhote que inquiria o céu, olhando o horizonte no sentido sudoeste.

(Parêntesis: digo “um velhote” sem intuito depreciativo, mas “nós” não somos velhotes, pois andamos, continuamente, na demanda da juventude…perdida).

Pois, como estava dizendo, o velhote, ao mesmo tempo que franzia o sobrolho e olhava a formação de nuvens que começava a cobrir o céu do lado sudoeste, disse:
- O tempe está ficande embrulhade.

Esta afirmação fez-me saltar recordações. É que, não sei por que razão, foi integrado na nossa Companhia um rapaz algarvio, desgarrado no meio de nortenhos: tripeiros, minhotos, transmontanos…

Ao aproximar-se a época das chuvas (a primeira que passámos na Guiné), ele, ao acordar, manhã cedo, assomando à porta da caserna, olhou o céu e viu, depois de tanto tempo de céu azul, as primeiras nuvens e concluiu:
- Parece que o tempe está ficande embrulhade.

Assim contaram os que ouviram tal juízo, não entendendo porquê, andando nós sempre a “embrulhar”, agora era o tempo que “embrulhava” também.

Pois, como é óbvio, o rapaz continuou, durante algum tempo, a ver as nuvens serem cada vez mais, depois a chuva a cair sem parar e o azul do céu sem mais aparecer.

E ele passou a repetir, em cada dia:
- O tempe continua embrulhade.

Ora, como sabemos, a chuva continua, ininterruptamente, por meses e meses. E ele repetia:
- O tempe continua embrulhade.

Mas, um dia, alguém das camas mais próximas, irritado, acabou com a análise meteorológica:
- Ó “Tempo Embrulhado” acaba lá com essa merda, que já chateia.

Foi assim que passou a ser conhecido por “Tempo Embrulhado”: - Chama aí o “Tempo Embrulhado”. – Quem disse? - Foi o “Tempo Embrulhado”. O “Tempo Embrulhado” para aqui, o “Tempo Embrulhado” para ali…

E nem mesmo depois da chegada da época seca e do chamado “bom tempo” (!) deixou de haver… “Tempo Embrulhado”.

Alberto Branquinho
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 11 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8659: Contraponto (Alberto Branquinho) (38): As Frentes e os Homens

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Guiné 63/74 - P8659: Contraponto (Alberto Branquinho) (38): As Frentes e os Homens

1. Mensagem do nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 8 de Agosto de 2011:

Caro Carlos Vinhal
Porque verifiquei com a colocação do poste de hoje que estás, ainda, ao serviço neste mês de Agosto, aqui te envio um novo texto a contrapontar.

Um abraço do
Alberto Branquinho


CONTRAPONTO (38)

As “FRENTES” e os “HOMENS”


1 – As “frentes”

Tenho lido aqui, muitas vezes, afirmações idênticas às que seguem:

- “Eu, que estava na linha da frente…”
- “A minha Companhia, que estava na frente de combate…”

Recordo-me ter já feito um comentário a um poste, dizendo que, em guerra de guerrilha, não há frente(s).
Podem ser “aquecidas” ou “arrefecidas” temporariamente certas zonas, a critério e decisão de quem faça a guerrilha, mas certo é que a guerrilha não luta pela conquista e ocupação do terreno e não organiza o mesmo para o defender, de forma a impedir o avanço e sua conquista pela(s) força(s) inimiga(s). Isso acontece em guerra clássica.

Esse equívoco existiu nos primeiros tempos de acções de contra-guerrilha em Angola, quando foi entendido, do lado Português, que, com a “conquista” de determinados espaços ou lugares, usados como bases pela guerrilha, tinha sido conseguida “a vitória contra os terroristas”. Fora “uma” vitória, mas não “a” vitória. À guerrilha não interessa conquistar terreno, como é sabido. (Só para propaganda externa foi usada a expressão “zonas libertadas”).

Assim, essas referências a “linha(s) da frente” não informam devidamente os “leigos” que leiam os postes aqui publicados.

Mas, se não havia “linhas da frente”, não quer dizer que não tenha havido muitas retaguardas…


O nosso "ex-Alfero" Jorge Cabral ladeado por actuais camaradas (versão feminina) do Exército Português
Foto de Mário Fitas, editada e legendada por Carlos Vinhal

2 – Os “homens”

Outras afirmações que, de tempo a tempo, surgem são:

- “Um dos meus homens…”
- “Dei ordem aos meus homens…”

A gente sabe que esta manifestação de comando enche a boca e satisfaz o ego.
Mas, meus senhores, o que eu gostaria (AGORA!), nos tempos que correm (e se pudesse estar na tropa), era dizer umas coisas assim:

- “Uma das minhas mulheres…”
- “Tinha eu todas as minhas mulheres à minha volta…”

E mais não digo.

Alberto Branquinho

(Negritos e itálicos da responsabilidade do editor)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 22 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8591: Contraponto (Alberto Branquinho) (37): Adivinhação... ou as guerras de Bissau (...e afins)

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8591: Contraponto (Alberto Branquinho) (37): Adivinhação... ou as guerras de Bissau (...e afins)

1. Mensagem do nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 20 de Julho de 2011:

Caro Carlos Vinhal
Depois de algum tempo de ausência escritural, eis que hoje "tropecei" no POST 8577 do Belmiro Tavares, que nunca escreve só por escrever (na minha opinião de ledor destas coisas que vão sendo aqui publicadas...) e me causou o texto que vai junto, texto que já há muito andava a bailar na minha cabeça.

Tua justiça ditarás.

Com um abraço (a juntar aos já muitos)
Alberto Branquinho


CONTRAPONTO (37)

ADIVINHAÇÃO… ou as guerras de Bissau (…e afins)

Quem é? Quem são?
Quem serão? Quem poderá ser?

Pretendendo ser notório, falando de guerra, mas que guerra não teve, apesar de, em alguns casos, ter(em) frequentado os “arredores” da guerra.
Que (apesar disso) em forma (e conteúdo) pretende(m) transmitir um certo “quid” guerreiro?

Não importa ter ou não terem tido guerra, porque para se ter (feito) guerra não é necessário ter ido à guerra. Basta imaginar que se fez. Imaginar, conjecturar, argumentar, insinuar e… concluir.
Pelo sim ou caso não. Aqui mesmo.

Não se compreende essa preocupação, porque, de facto (defeito?) o facto de (não) ter(em) feito guerra não é, por si só, uma (des)honra para a família.

Pois, quem (pre)tenderá estar usando agora(!) mais a “espada que a pena”, (melhor dizendo – mais as armas do que outro(s) seu(s) instrumento(s) que serviram de apoio a essoutras), porque, “in illo tempore”, G3, canhão, obus, morteiro, bazuca, metralhadora… não lhes houve? (Talvez pistola…)
Qual será a razão?

Adivinhação:
Quem é? Quem serão?
A questão fica no ar.
Dão-se alvíssaras a quem encontrar.

Alberto Branquinho
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 17 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8437: Contraponto (Alberto Branquinho) (36): A construção e a desconstrução de um Padre

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8437: Contraponto (Alberto Branquinho) (36): A construção e a desconstrução de um Padre

1. Mensagem do nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 13 de Junho de 2011:

Caro Carlos Vinhal
Afogado na ausência de Monte Real e na visualização das respectivas e diversas fotos (incluida a novidade de arranjos PICASA)... sobrevivi.
A prova é que trago, agora, aquilo que, para mim, foi um outro regresso... o do padre capelão do meu Batalhão, que, como óbvio, não é já capelão, mas, também, não é já padre franciscano. Portanto, este escrito é sobre um livro que ele escreveu e cuja leitura desperta muito, muito interesse.

Um abraço
Alberto Branquinho


CONTRAPONTO (36)

"A construção e a desconstrução de um Padre"

O título, assim entre aspas, é mesmo o título de um livro. Da autoria de Horácio Neto Fernandes.

Mas o que tem o livro a ver com o “core business” deste blogue? – perguntarão os críticos, que se vêm já interrogando sobre a existência no blogue de matéria que extravasa a temática do mesmo.
É que, meus senhores e camaradas, o autor do livro é o ex-capelão do meu Batalhão, na Guiné – o BART 1913. Além disso, a sua requisição e mobilização para a Guiné se não foi causa, foi, pelo menos, o CATALISADOR da crise de consciência que levou este ex-padre franciscano a abandonar a vida eclesiástica.

Fui encontrar o Doutor Horácio Fernandes no passado dia 29 de Maio no encontro anual da CCS do BART 1913 em Alfeizerão/Alcobaça. Escusado será dizer que nunca mais o vira desde a minha saída de Bissau, portanto, há quarenta e tantos anos. Se não nos tivessem “re-apresentado”, não nos teríamos reconhecido.

Recordei-lhe que nos conhecemos em Bissau, antes de embarcar para Catió.
Preparava-me para regressar a Catió no Dornier do correio, quando, junto ao avião, o piloto me disse:

- Mandaram-me mais um cliente. É o padre capelão para Catió e tenho indicação de urgência. Vê lá isso. - E afastou-se, com uns papéis na mão.

Quando o capelão se aproximou do avião, gorducho, pouco à-vontade na farda militar, com pele de “periquito”, de olhos esbugalhados, eu disse-lhe que não havia problema – ele iria à frente, ao lado do piloto e eu atrás, sentado em cima dos sacos de correio. Fiquei com a impressão de que não entendeu nada. Entrou no Dornier quando o piloto regressou e lhe disse para entrar.
Agora, ao ler o livro, vejo que não faz qualquer referência ao “passageiro” que viajou na retaguarda…

O livro, que ele me ofereceu, consta de três partes:

Parte I - O contexto onde nasceu um padre
Parte II - A construção de um Padre
Parte III- Como se desconstroi um Padre

É nesta última Parte III que surgem a sua requisição para a Guiné e as experiências que o marcaram fora da actividade religiosa.
Esteve em Catió até Maio de 1969 e completou a comissão em Bambadinca, depois do nosso regresso.

O livro é uma análise longa, arrastada e sofrida do percurso de uma vida, um grito d’alma de quem se questionou por muito tempo. Uma transição causada por uma lenta e sofrida tomada de consciência de ruptura (pág. 125):

"Contudo é mais fácil rasgar cortinas de ferro do que de incenso. O ferro enferruja e perde coesão e o incenso continua a pairar no ar, mesmo depois de queimado".

As últimas páginas do Capítulo 4 da Parte III são, por outro lado, consequência da necessidade de se explicar, embora reconheça, na penúltima página do livro (pág.184), que hoje "Já poucos estranham o facto de um padre sair e casar".

É minha convicção (e parece resultar da leitura do livro) que foi a experiência resultante da requisição do Autor para capelão militar, a sua mobilização e colocação no BART 1913, em Catió, a vivência do clima de guerra, as realidades sociais, políticas e económicas existentes num interior da Guiné, que catalisaram a tomada de consciência de um diferente modo de “olhar” a sociedade e o homem, e, de uma forma lenta, continuada e sofrida, o fizeram percorrer o caminho da ruptura.
Transcrevo da pág. 175 as seguintes passagens (o Autor fala pela boca da personagem Fernando Caboz – ele próprio):

"Reflectindo, agora, chega à conclusão que a sua desconstrução de padre franciscano começou com o abrupto ingresso como capelão militar, começando por deslaçar os vínculos que o prendiam à comunidade.
(…)
Depois do ingresso no exército, esta erosão acentuou-se a cada passo que dava. Francisco pressentia-o, mas não tinha ninguém com quem desabafar."

Para terminar, esclareço que o padre capelão Horácio foi um de dois padres que conheci na Guiné que, recordando-os e fundindo-os, os escrevi no mini-conto “O Padre Aurélio”, incluído no meu livro “Cambança”, já citado aqui no blogue.

Alberto Branquinho

- “Francisco Caboz – A construção e a desconstrução de um Padre”
- Autor – Horácio Neto Fernandes
- Papiro Editora – Porto/Lisboa (Novº. 2009)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 2 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8363: Contraponto (Alberto Branquinho) (35): Teatro do Regresso - 10.º e último Acto - Estou velho com'ó caraças! - ...mas não cai o pano