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quinta-feira, 13 de junho de 2019

Guiné 61/74 - P19887: 15 anos a blogar, desde 23/4/2004 (8): O soldado Machado, de etnia cigana: 'Ó Barrelas, pagas-me uma bejeca ?!'... Uma "estória" bem humorada do Mário Pinto (1945.2019)


Mário Pinto (1945-2019):  além de animador nas redes sociais,  foi também um dos grandes organizadores dos convívios do pessoal da CART 2519, "Os Morcegos de Mampatá", igualmente conhecidos por "Os Coirões de Mampatá", comandados pelo cap art Jacinto Manuel Barrelas... Estiveram em Buba, Aldeia Formosa e Mampatá (1969/71), ao tempo em que era comandante do COP 4 o major Carlos Fabião.

Sobre este oficial superior escreveu o seguinte, em 10/2/2015 na página do Facebook Tabanca de Mampatá - Grupo Público:

 (...) " A primeira vez que o vi, foi no meu desembarque em Buba em meados de Maio de 1969, ainda periquito e desconhecendo aquilo que teria de infrentar apartir daí. Na formatura formal de apresentação em Buba, fiquei a conhecer o então Major Carlos Fabião, comandante do COP4.
Quem, como nós, CART. 2519,  habituados á disciplina militar imposta pelo seu comandante, estranhou, e  de que maneira, a atitude descontraída e informal de Carlos Fabião quando nos recebeu, de calções e camisa com o seu bastão, a dirigir algumas indirectas ao nosso Capitão Barrelas, avisando que no seu sector era tudo mato e não uma parada de qualquer quartel onde os militares teriam de andar sempre aprumados. No seu sector permitia que os mesmos andassem á vontade quanto a bigodes, barba e vestimenta, o que era necessário era que os homens se sentissem á vontade e com espírito guerreiro para enfrentarem as vicitudes que iriam encontrar daí para a frente. Desejou boa sorte a todos e que o nosso destino seria Mampatá e a nossa missão os trabalhos da nova estrada Buba-Aldeia Formosa.
Para mim, que estava habituado à disciplina ferrea do meu comandante de Companhia foi uma lufada de ar fresco este seu discurso... O certo é que o Capitão Barrelas nunca mais foi o mesmo daí em diante, ele próprio com algum espanto meu aderiu à moda do calção, tronco nu e chinela no pé.
Isto a meu ver, só foi possível depois do discurso de boas vindas do comandante do COP4, Major Carlos Fabião" (...) 


"Hoje é dia de coluna, algures na estrada Buba-Aldeia Formosa 1969/71" (Mário Gualter Pinto, 12 de fevereiro de 2012, página do Facebook Tabanca de Mampatá - Greupo Público) (com a devida vénia...). Não temos a certeza se a foto era da autoria do Mário Pinto, administrador da página. De qualquer modo, passa a ser de todos nós...


1. Esta foi a primeira das "estórias do Mário Pinto" (que publicou cerca de 4 dezenas) (*)... Fomos repescá-la para alimentar esta série dos "15 anos a blogar, desde 23/4/2004" (**).  É um dupla homenagem, ao nosso Mário Pinto (1945-2019), que nos acaba de deixar, e também aos nossos camaradas de etnia cigana, que passaram pelo TO da Guiné. Não sabemos quantos foram, nem muito muito os que cumpriram o serviço militar na época. Mas temos o descritor "ciganos" no nosso blogue. A "estória" vale também pelo bom humor de caserna.

No seu blogue, "CART 2519, Os Morcegos de Mampatá", em poste de 23 de agosto de 2009 , o Mário Pinto já tinha deixado esta nota de homenagem ao seu camarada Machado, o "cigano" (que, convém dizê-lo, não é uma "raça", mas quando muito um "grupo étnico": em Portugal e no resto do mundo, não há "raças humanas"; o termo "raça" era ainda usado no nosso tempo, mas sem "conotação racista", tal como o Mário Pinto o usa aqui).

(...) "Quem não se lembra do cigano, José António Pereira Machado, soldadi atirador do 1.º Grupo de Combate ?!

Foi um dos inconformados e controversos soldados que os Morcegos tiveram nas suas fileiras. No mato era um bom combatente, sempre activo e combativo, demonstrava não ter medo do perigo, mas no aquartelamento era problemático e conflituoso.

A sua raça e origem não permitia a convivência com os seus camaradas. Por diversas vezes, tememos a seu abandono, ou seja que o mesmo desertasse, mas o mesmo tornou-se sempre digno dos Coirões.

Por ser uma figura carismática da nossa Companhia, deixo aqui uma pequena citação ao Cigano." (...)


O soldado Machado, de etnia cigana: ' Ó Barrelas, pagas-me uma bejeca ?'

por Mário Pinto


O “Cigano”, como era conhecido o soldado Machado (creio que era mesmo da etnia cigana), foi protagonista de um episódio hilariante, mas muito real, que um dia “atropelou” o que não podia ser “abandalhada” - a rígida Disciplina Militar -, que na tropa se exige (creio que ainda hoje esta se mantém), em relação aos superiores hierárquicos.

Certo dia, o nosso capitão integrou-se num grupo de combate que ia patrulhar a nossa ZA - Zona de Acção, onde ia o nosso camarada Machado. Depois de percorrida já uma vasta área do patrulhamento habitual, e perto dum local por todos considerado de elevado risco, o Machado sai-se com esta:

- Ó meu capitão, à nossa frente estão pegadas do IN.

Isto em pleno mato... O capitão ripostou:

- Ó meu coirão, não sabes o meu nome, eu sou o Barrelas!

O patrulhamento terminou ao findar do dia e procedeu-se ao respectivo regresso ao aquartelamento de Mampatá.

Na cantina, que era comum a todos, praças, sargentos e oficiais, depois do banho, o camarada Machado tem este desplante perante a admiração de todos os presentes:

- Ó Barrelas, não me pagas uma bejeca?!

O capitão, com o seu ar autoritário - de Comandante -, virou-se para o Machado e disse:

- Ó meu coirão, já não me conheces, eu sou o teu capitão Barrelas, por isso deves tratar-me como tal. Quando te dirigires a mim, tratas-me por meu capitão!

O mesmo, atónito com a situação, retorquiu:

- Mas o senhor lá atrás disse-me para o tratar por Barrelas!...

Aqui o capitão riu-se da situação e acabou mesmo por pagar a “bejeca” ao Machado.

 ______________


Último poste da série > 9 de junho de  2019 > Guiné 61/74 - P19874: 15 anos a blogar, desde 23/4/2004 (7): o inferno de Bissá: a morte do balanta Abna Na Onça, capitão de 2ª linha (Abel Rei, ex-1.º cabo at, CART 1661, Fá, Enxalé, Bissá, Porto Gole, 1967/68)

terça-feira, 11 de junho de 2019

Guiné 61/74 - P19883: (In)citações (134): Os Coirões de Mampatá, CART 2519 (1969/71) (Mário Pinto, 1945-2019)




Tabanca de Mampatá



Estrada da morte Buba - Aldeia Formosa


Fotos (e legendas): © Mário Pinto (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Excerto de um poste publicado pelo Mário Gualter Pinto (1945-2019) no seu blogue "CART 2519, Os Morcegos de Mampatá"... 

É uma pequena homenagem da Tabanca Grande ao nosso camarada que deixou ontem a Terra da Alegria (*)




10 de julho de 2009 > Os Coirões

por Mário Pinto


(...) Saudo o nosso cap Jacinto Manuel Barrelas, coirão-mor da nossa Cart 2519, padrinho do nosso cognome "Os Coirões de Mampatá", que todos os anos no nosso convívio anual o despromovemos à classe de Capitão,  sob a sua cumplicidade,  uma vez que o mesmo é coronel na reserva.

O termo "coirão" ficou célebre no nosso convívio pelo mesmo que, cada vez que se dirigia a um suburdinado,  utilizava o termo, por isso ainda hoje utilizamos simbolicamente.

Os coirões formaram a CART 2519,  os "Morcegos de Mampatá", que nos anos 1969/1971 estiveram na Guiné, em Buba, Aldeia Formosa e Mampatá:


  • Nas picadas de Sare de Usso;
  • No corredor de Uane;
  • Na estrada da morte Buba-Aldeia Formosa;
  • Nas operaçoes que fizemos, nomeadamente "Novo Rumo" e "Diamante Azul";
  • Nos ataques que sofremos;
  • Nos roncos que fizemos;
  • Nos mortos e feridos que tivemos;
  • Nas colunas que fizemos;
  • Na obra social que realizámos: duma tabanca sem nada, construimos uma escola, uma enfermaria,um heliporto, uma cantina, uma cozinha,um depósito de géneros, um balneário e outras infra-estruturas do campo militar defensivo.


Estruturámos um corpo de milícias e um pelotão de nativos.

Enfim cumprimos a nossa parte,  por isso nos tornámos célebres e respeitados,  só lamento que alguns que nos deviam respeito,  o não façam e que cada vez que os oiço falar na comunicação social só dizem disparates.

Mário Pinto (**)

[Revisão / fixação de texto: LG]


2. O poeta da CART 2519, Edmundo Santos, ex-fur mil, escreveu os seguintes versinhos a propósito dos "coirões de Mampatá":


OS MORCEGOS
por Edmundo Santos


Aqui não temos parança,
andamos sempre a alinhar,
uns a fazer segurança
e outros a patrulhar.
Só nos resta a esperança
de um dia poder voltar.

Ai!, uma vida pior
do que esta não há,
chamamo-nos os Morcegos,
mas ai, vejam lá,
a malta só nos conhece
pelos Coirões de Mampatá.

Todos os dias há saídas,
com o perigo sempre a rondar,
são poucas as alegrias
e muito para contar,
não há lugar p'ra sossego,
é a vida de um Morcego.

Fonte: CART 2518, Os Morcegos de Mampatá > 29/9/2011


_____________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > Último poste da série > 4 de junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19855: (In)citações (133): Entre maio e dezembro de 1972, na altura em que estive com os "Gringos de Guileje", a situação era relativamente calma, a CCAÇ 3477 era temida e respeitada pelo PAIGC...As coisas alteram-se sobretudo em maio de 1973, ao tempo da CCAV 8350, "Os Piratas de Guileje" (Luís Paiva, ex-fur mil art, 15º Pel Art, Guileje e Gadamael, 1972/74)

(**) Vd, poste de 11 de junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19882: In Memoriam (343): Mário Gualter Rodrigues Pinto (1945-2019), ex-fur mil art, CART 2519 (Buba, Mampatá e Aldeia Formosa, 1969/71)... Era chefe de cozinha, e vivia no Barreiro... O corpo já seguiu para a capela mortuária da igreja do Lavradio, Barreiro, e o seu funeral realiza-se esta tarde pelas 16h15 (Herlânder Simões / Luís Graça)

Guiné 61/74 - P19882: In Memoriam (343): Mário Gualter Rodrigues Pinto (1945-2019), ex-fur mil art, CART 2519 (Buba, Mampatá e Aldeia Formosa, 1969/71)... Era chefe de cozinha, e vivia no Barreiro... O corpo já seguiu para a capela mortuária da igreja do Lavradio, Barreiro, e o seu funeral realiza-se esta tarde pelas 16h15 (Herlânder Simões / Luís Graça)



Tabanca de Mampatá >  23 de dezembro de 2018 · > Recordações: Faz hoje 49 anos que eu e o meu camarada e amigo Furriel Bernardo e mais 5 militares, incluindo dois milicias, fomos feridos, quando procedíamos ao envolvimento do grupo do PAIGC que tinha atacado o aquartelamento da Chamarra. Foi perto do Balana,  o Grupo do .PAIGC encontrou-se frente a frente com o nosso Grupo de Combate quando fazia a retirada do ataque. Felizmente nós  tivemos 7 feridos mas o PAIGC teve mais baixas, incluindo 2 mortos confirmados.....Enfim, são recordações." (Mário Gualter Pinto)

«

Página do Facebook do Mário Gualter Pinto  >  17 de dezembro de 2010 >  S/d: Op Diamante Azul > Sambasó nas imediações de Salancaur,  com população controlada pelo PAIGC. Ao centro, em segundo plano, o alf mil Frade, OE (Operações Especiais), 2.º Comandamte da CArt 2519 ( à direita); o fur Mil Mário Gualter Pinto, CArt. 2519 (à esquerda); o Alf mil  Duarte,  da CArt. 2521, agachado, em  primeiro plano; e, à esquerda, o sélebre sold Machado,  o "Cigano", da CArt 2519.

Fotos do álbum do Mário Pinto (1945-2019)




Uma das últimas foto do Mário Pinto (1945-2019), no dia 19 de março de 2019, "Dia do Pai", com a filha, Clara Pinto: "O meu herói .. o meu melhor amigo .. este é o meu pai .. feliz dia PaPi do meu ❤ ... Gosto tanto de Ti" (Clara Pinto)


A sua neta escreveu este belísismo e comovente texto à memória do avô Mário Pinto (, o "Marinho",  como era tratado carinhosamente no seio da família,), que faleceu ontem de manhã, aos 74 anos:

"Um obrigado não vai chegar para todo o que tu fizeste por mim... A dor que sinto hoje também não cabe em mim... no meu corpo pequeno eu sinto tanta dor... é possível?? Não te vou dizer adeus porque acho que despedidas são fatelas e nós os dois não somos fatelas... Partiste hoje!! Mas nunca vais partir do meu coração!!

Obrigada por estes 14 anos incríveis e obrigada por nunca teres desistido desta batalha!! Afinal um homem da guerra nunca desiste! Estou muito orgulhosa de ti e tenho a certeza que tu estás orgulhoso de mim! 


Eu amo-te, avô! Hoje, amanhã e para sempre!! Todos os super heróis perdem os seus poderes e hoje o meu super herói perdeu os dele... Que a força esteja contigo do outro lado, eu vou estar sempre contigo independentemente de aonde tu estejas, eu vou estar contigo e tu vais estar comigo... Que tu sejas a estrela que mais brilha no meu céu (sim porque tu és só meu, então só podes brilhar no meu céu). Não é um adeus,  apenas um até logo!! Vou antigir todas as minhas metas e no fim vou dedicá-las a ti!!" (Beatriz Pinto Fernandes)



1. Mensagens de ontem, 10 de junho de 2019, do nosso camarada Herlander Simões [ex-fur mil,  passou pelo CTIG entre maio de 72 e janeiro de 74;  destinado à CCAÇ 16 (onde nunca chegou a ser colocado) foi primeiro para os "Duros" de Nova Sintra (CART 2771, onde esteve seis meses) e posteriormente para os "Gringos" de Guileje (CCAÇ 3477, 1971/73), entretanto já sediados em Nhacra]:



(i) 16:53

A pedido da família,  estou a comunicar para conhecimento da nossa Tabanca, o falecimento do nosso camarada Mário Gualter Pinto.

Ainda não sei quando é realizado o funeral pois ainda não está determinado.
Quando tiver mais notícias comunicarei á nossa Tabanca.

Um abraço. Herlander Simões

(ii) 17:32

O corpo do camarada Mário Gualter Pinto vai hoje para a capela da Igreja do Lavradio pelas 17,30 H e o seu funeral realiza-se amanhã, dia 11, e sai da capela pelas 16,15, seguindo para o crematório da Quinta do Conde. (...)


2. Comentário do editor Luís Graça:

Mário Pinto foi fur mil at art da CART 2519 (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71) (, foto à esquerda). Mais do que "morcego de Mampatá", gostava de ser tratado como "coirão"... Foi um bravo "coirão de Mampatá", alcunha coletiva dada pelo comandante da companhia, Jacinto Manuel Barrelas, hoje cor art ref, autor do do livro " Há Sangue na Picada”.

O Mário gostava de partilhar as memórias desse tempo. Tem cerca de meia centena de referências no nosso blogue. O último mail que troquei com ele foi em novembro de 2018. Sabíamos que estava com  graves problemas de saúde.

Entrou para a Tabanca Grande em 24 de julho de 2009 (*), por mão do José Teixeira, outro "bravo de Mampatá". Era um camarada afável e bem disposto. Não convivemos muito, apenas uma ou outra vez, na Tabanca da Linha e creio que também em Monte Real.

Vivia no Barreiro. Amava a vida, a boa comida, o convívio com os amigos e camradas, a sua terra, o rio Tejo, a Guiné, Mampatá... O seu telemóvel, nº 931648953, esse, já não volta a tocar.  Criou  um blogue sobre a sua companhia, a CART 2519, "Os Morcegos de Mampatá", além de uma página no Facebook, Tabanca de Mampatá - Grupo Público. Também tinha a sua página pessoal, em nome de Mário Gualter Pinto. No nosso blogue alimentou uma  notável  série, "Estórias do Mário Pinto", de que se publicaram cerca de 4 dezenas de postes.

Do seu CV militar  e profissional destacamos  o seguinte:

(i) nasceu em 20 de maio de 1945; 

(ii) estudou no liceu Camões, em Lisboa, era da tirma 63;

(iii) fez a recruta na EPC;

(ii) tirou a especialidade na EPA, atirador de Artilharia, CSM. 

(iii) após o CSM é promovido a 1º cabo miliciano:

(iv) foi  colocado no RAL 4 pela EPA - GI para monitor de armamento e transmissões, no COM;

(v) mobilizado para Guiné pelo RAL 3;

(vi) pertenceu à  CART 2519, e tinha o posto de fur mil;

(viii)  na Guiné esteve em: Buba, Aldeia Formosa e Mamaptá,  nos anos de 1969/1971;

(ix)  foi desmobizado e integrou-se na vida civil;

(x) profissionalmente, estava ligado à hotelaria e restauração, era chefe de cozinha: formou-se na Escola Hoteleira de Setúbal;  criou um blogue em fevereiro de 2010 ( e que alimentou até julho desse ano) com o  sugestivo título Tacho ao Lume; nele fazia-se referência e publicidade à "Quinta do Branco, magnifico espaço, situada na Margem Sul do Tejo,  Chão Duro, Moita do Ribatejo,  Chefe Mário. Organização de eventos e carting. Contacto tel 931648953";

(xi) no seu blogue , deixa algumas dezenas de receitas e notas sobre vinhos; deixem-me destacar cinco receitas, relacionadas com os salores do mar: canja de ameijoas; robalo ao sal; arroz de lingueirão; carapaus alimados;  e lulas recheadas...

(xii) trabalhou  no grupo "Só Peso" (com cerca de duas dezenas de restaurantes), onde foi chefe executivo de cozinha.

(xiii) também era um apaixonado pelo estuário do  Tejo e a atividade piscatória ribeirinha, tendo criado o blogue A Ilha do Rato, de que publicou 37 postes entre fevereiro e maio de 2010. (A ilha ou ilhéu do Rato fica no estuário do Tejo, no mar da Palha, frente ao Lavradio, Barreiro; o Mário foi lá pela primeira vez em 1972, com um amigo pescador.)

Para a  família enlutada, os amigos mais próximos e os camaradas da CART 2519 vai a nossa solidariedade na dor...É mais uma grande perda para todos nós. O seu nome vai juntar-se à lista dos camaradas que da lei da morte já se libertaram. Com ele, são 74 os grã-tabanqueiros que já nos deixaram ao longo destes 15 anos da partilha de memórias e de afetos. 

______________

Notas do editor:

sábado, 27 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18259: O cancioneiro da nossa guerra (3): mais quatro letras, ao gosto popular alentejano, do Edmundo Santos, ex-fur mil, CART 2519, Os Morcegos de Mampatá (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71)

CART 2519, Os Morcegos de Mampatá (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71) > A bordo do T/T Uíge que levou o pessoal até Bissau, em maio de 1969: os fur mil  Edmundo Santos, à esquerda, e o Mário Pinto, à direita. Foto do álbum do Mário Pinto, reproduzido aqui com a devida vénia.


Foto: © Mário Pinto (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].




A comissão na Guiné


A comissão na Guiné,
tão custosa e dolorida,
nunca nos faltou a fé
de regressarmos com vida.


Graças à nossa unidade,
transpondo qualquer maré,
não se esquece, na verdade,
a comissão na Guiné.

Deixar a vida civil
foi difícil à partida
entrar numa guerra hostil,
tão custosa e dolorida.

Ter firmeza no andar,
saber onde pôr o pé,
pensar em poder voltar,
nunca nos faltou a fé.

Lutar no mato foi duro,
não havia outra saída,
senão pensar no futuro,
de regressarmos com vida.


Saídos de Bissau, com rumo ao sul


Saídos de Bissau, com rumo ao sul,
embarcámos numa lancha da marinha,
sulcámos águas calmas, céu azul
e chegámos a Buba já noitinha.

Assentou-se arraial nesse quartel
e algum tempo tivemos de ficar,
foi-nos dada a missão e o papel
de fazer segurança e patrulhar.

Depois de Buba, a nossa companhia
foi destacada para ir p´ra Mampatá,
a coluna militar onde seguia,
sofreu vários ataques até lá.

Nesse local estivemos vinte meses
até findar a nossa comissão,
lutámos e sofremos muitas vezes
em nome de um país, de uma nação.

O regresso a Lisboa já não tarda,
deixámos a Guiné, missão cumprida,
é a esperança no futuro que se aguarda
e que nos faz voltar de novo á vida.


Quem me dera que esta guerra

Quem me dera que esta guerra,
Por que estamos a passar,
Pois todo o mal que ela encerra,
Faz-nos sofrer e pensar.
Quem me dera que esta guerra
Pudesse um dia acabar.

Quem me dera não ser alvo
Do perigo que nos espreita,
Procuro estar são e salvo
E de saúde perfeita.
Quem me dera não ser alvo
De apanhar qualquer maleita.

Quem me dera regressar
na posse dos meus sentidos
e o futuro desenhar
em vários tons coloridos.
Quem me dera regressar
p´ra abraçar os entes queridos.
Quem me dera que acabasse
o regime em Portugal
e um governo se instalasse
de salvação nacional.
Quem me dera que acabasse
a guerra colonial.

Quando saímos p'ro mato


Quando saímos p´ro mato,
Há uma tristeza,
É sempre um momento ingrato
E de incerteza,
O perigo espreita
E a malta suspeita
Que haja emboscada.
Devemos estar atentos,
Ver os movimentos
Em toda a picada.

É em Mampatá
que fica o quartel,
dá-nos confiança,
também segurança
e um certo bem estar.

A malta dirá
de modo fiel
que não te esquecemos,
decerto teremos
algo a recordar.

Toda a nossa companhia
foi destemida,
não nos faltou valentia,
logo á partida
não mostrar receio

Talvez fosse o meio,
eficaz e forte,
e reconhecer
p´ra sobreviver
foi preciso sorte



Texto: © Edmundo Santos (2017). Todos os direitos reservados. [ Edição / revisão / fixação de texto: .Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Mário [Gaulter Rodrigues] Pinto:

Data: 18 de novembro de 2017 às 13:45
Assunto: Novos versos alusivos à nossa comissão na Guiné

Caro Luis:

Recebi este e-mail do meu camarada e amigo Edmundo, com  uns versos recentes que fez,  como explica. Uma vez que fala de um telefonema que com ele tiveste, e não sabendo se os mesmos te foram enviados,  aqui os envio com a aprovação do Edmundo.

Um abraço

Mário Pinto
_______________

Mensagem do Edemundo Santos, [novembro de 2017]

Amigo Mário Pinto;

Votos sinceros de melhorias na tua saúde e na da tua esposa. Felizmente eu e a minha mulher cá vamos andando bem.

Estou a escrever-te e a enviar-te uns versos que fiz, antes do almoço que eu e o José Ramos organizámos em Benavente. Um deles foi cantado depois do almoço, para além daqueles dois que tu já fizeste o favor de publicar no Blogue dos Morcegos de Mampatá ( "Fado da Metralha" e " Estou farto deles tirem-me daqui" ).

Há um indivíduo que me telefonou na semana passada, que é o [Luís] Graça,  e me perguntou se eu tinha versos para publicar e eu disse-lhe que tinha feito estes, que te estou a enviar, por ocasião do último almoço em Benavente.

São letras simples que eu adaptei a algumas músicas de fado. Vão em primeira mão e espero que sejam do teu agrado.

Um abraço do Edmundo


2. Nota do editor LG:

Mais um contributo para "o cancioneiro da nossa guerra"...  Já aqui falámos do Edmundo Santos, fur mil da CART 2519, "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosda e Mampatá, 1969/71) (*).  Estive, em novembro último, à fala com ele, através do telemóvel.  Mandou-me, por intermédio  do seu amigo e camarada Mário Pinto, mais uns versos, ao gosto popular alentejano, que ficam bem no "cancioneiro de Mampatá".  Os versos não traziam título. O Edmundo e o Mário têm sido alguns dos dinamizadores dos convívios anuais do pessoal da CART 2519, também conhecidos por "Os Coirões de Mampatá".

Reforço aqui o meu convite para o Edmundo passar a integrar a nossa Tabanca Grande. Lisboeta, reformado, vive em Pedrógão Grande. O nosso obrigado ao Mário Pinto.

 _____________

Nota do editor:

(*) Vd. os dois primeirso postes da nova série:

8 de novembro de  2017> Guiné 61/74 - P17944: O cancioneiro da nossa guerra (2): três letras do Edmundo Santos, ex-fur mil, CART 2519, Os Morcegos de Mampatá (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71): (i) Os Morcegos; (ii) Estou farto deles, tirem-me daqui; (iii) Fado da Metralha

30 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17811: O cancioneiro da nossa guerra (1): "Asssim fui tendo fé, pedindo a Deus que me ajude"... 4 dezenas de quadras populares, do açoriano Eduardo Manuel Simas, ex-sold at inf, CCAÇ 4740, Cufar, 1972/74


quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Guiné 61/74 - P17944: O cancioneiro da nossa guerra (2): três letras do Edmundo Santos, ex-fur mil, CART 2519, Os Morcegos de Mampatá (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71): (i) Os Morcegos; (ii) Estou farto deles, tirem-me daqui; (iii) Fado da Metralha


CART 2519, Os Morcegos de Mampatá (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71) > A bordo do T/T Uíge que levou o pessoal até Bissau, em maio de 1969, : o Edmundo Santos, à esquerda, e o Mário Pinto, à direita.  Foto do álbum do Mário Pinto, reproduzido aqui com a devida vénia.

Foto: © Mário Pinto (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Continuamos a reunir as peças, dispersas pelo blogue, do "cancioneiro da nossa guerra"... De facto,  são já algumas dezenas, entre quadras ao gosto popular,  sonetos, versos decassílabos parodiando os "Lusíadas", textos poéticos livres, poemas, hinos, letras de canções, baladas, fados, etc. (*)

No essencial,  são letras produzidas ao longo da guerra (1961/74), mas também no pós-guerra... e nalguns casos, muito depois do nosso regresso.  Nem todas têm autoria, mas em quase todas elas há um "sentido coletivo", ou procuram interpretar um "sentir coletivo", centrando-se o seu conteúdo nas peripécias da tropa e na guerra, e tendo por cenário a Guiné.

Nem todos estes textos poéticos eram canções (como o "Cancioneiro do Niassa", por exemplo). Uns tinham (ou poderiam ter tido) suporte musical, outros não. Preocupámo-nos sobretudo com a recolha das letras que corriam o risco, isso, sim, de se perderem para sempre... Num caso ou noutro, conseguimos identificar a música que lhe estava associada (, em geral, era parodiada, como acontecia com o "Cancioneiro do Niassa").

Este material poética, independentemente da sua qualidade literária, tem interesse documental, tem um matriz socioantropológica, fala de nós, das nossas vidas na Guiné, fala de uma geração anónima, esquecida, mal tratada, fala de lugares perdidos e achados,  de topónimos estranhos, fala inevitavelmente da trilogia "sangue, suor e lágrimas", fala inevitavelmente da fome e da sede que passámos, mas também fala de coragem, de camaradagem, de saudade, etc.

Continuamos a apelar aos nossos leitores para continuarem a alimentar esta série. Acreditamos que há ainda muitas "canções e outros poemas de guerra" esquecidos no "baú da memória" dos ex-combatentes que fizeram a guerra da Guiné (1961/74)... É trabalho para nós, mas também para os nosso filhos e netos... que, com o gravador de som do telemóvel podem registar letras e músicas que os seus pais e avós ainda se lembram dos tempos da Guiné.

As referências a este tópico já são muitas, no nosso blogue, para cima mesmo de uma centena.


2. Hoje temos o gosto de vos apresentar, pela mão do nosso grã-tabanqueiro Mário Pinto, alguns letras do Edmundo Santos que ficarão para sempre associadas ao "cancioneiro de Mampatá"... 

O Edmundo irá abrir o caminho a outros camaradas, com engenho, jeito, arte e talento para a escrita poética como será o caso do nosso Zé Manuel Lopes, mais conhecido pelo seu pseudónimo literário, Josema.  [O José Manuel de Melo Alves Lopes, ex-fur mil, CART 6250/72, "Os Unidos de Mampatá, Mampatá, 1972/74, é natural da Régua.]

O Mário Pinto e o Edmundo Santos, por sua vez,  eram ambos furriéis da CART 2519, Os Morcegos de Mampatá (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71).

Sobre o poeta, e seu camarada, Edmundo Santos escreveu, em 1 de agosto de 2009,  o Mário [Gaulter Rodrigues] Pinto, na página que ele próprio criou, "CART 2519, Os Morcegos de Mampatá"

(...) "Gostaria de falar do nosso camarada e amigo fu mil  Edmundo [Santos],  do 2.º Grupo de Combate, figura controversa da nossa Companhia.

O Edmundo era natural de Lisboa, do antigo bairro da Picheleira,  oriundo de uma família operária e trabalhadora, pois seu Pai era da CARRIS. Cresceu e aprendeu a contestar o regime vigente, como talvez nenhum de nós o pensasse, fruto da sua educação familiar. Por isso era contestatário permanente mas de uma alma grandiosa (, do tipo despir a camisa para dar ao seu amigo). Por o Edmundo ser o único furriel desponível do 2.º Gr Comb, eu algumas vezes nele fui integrado e vi muitas vezes o seu estado de espírito quanto ao conflito.

O Edmundo tinha sido meu contemporanio na EPA [, Escola Prática de Artilharia,]  e por isso convivímos assiduamente. Quem não se lembra dos seus versos e fados que todos nós,  bem ou mal cantarolávamos nos nossos momentos de ócio:  "De pica na mão lá vai a maralha", o fado da "Metralha" ou o "Adeus, Aldeia", versos e fados da sua autoria, são pecúlios que ficarão sempre na nossa memória." (...)



Cuiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 2519 (1969/71) > Resultado da explosão de uma mina A/C... Apesar da má qualidade da imagem, vê-se do lado direito a viatura sinistrada, uma GMC, e do lado esquerdo um corpo no chão.



Cuiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 2519 (1969/71) > O pesadelo dos fornilhos e das minas anticarro (A/C) e anti-pessoal (A/P), colocadas nas picadas, nos trilhos, nas bermas da estrada... Daí a importância  (e o stresse) da "picagem" do terreno, que era efetuada por uma secção de "picadores" ou "picas" (vocábulo, subs. masc.,  que ainda não vem grafado nos nossos dicionários, com esta aceção, sinómimo de picador, tal como não vem agrafado o vocábulo "pica", subs. fem, que designava a vara que terminava, com um prego ou ponta de aço, e que servia justamente para "picar" o terreno e detetar minas e fornilhos)


Fotos: © Mário Pinto (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



3. Segundo a ficha da unidade, a CART 2519 era uma companhia independente, mobilizada pelo RAL 3, partiu para o CTIG em 7 de maio de 1969 e regressou em 17 de março de 1971. Esteve sediada em Mampatá, e o seu único comandante foi o cap art Jacinto Manuel Barrelas.

Recorde-se por outro lado o que o Mário Pinto,o cronista da CART 2519, escreveu sobre a missão da sua companhia, em Mampatá: 

"A CArt 2519 a que eu pertencia quando se instalou em Mampatá , por volta do fim de agosto de 1969, depois da construção da estrada Buba-Aldeia Formosa, de má memória, recebeu como missão interceptar as colunas do PAIGC no corredor de Missirá que se deslocavam de sul para norte via Nhacobá-Uane-Xitole. Para cumprimento desta missão todos os dias um Grupo de Combate reforçado fazia emboscada no dito corredor em quanto outro Gr Comb patrulhava as imediações perto do corredor."(...).

As companhias do "mato", independentes, metropolitanas ou africanas, adidas aos batalhões ou aos comandos de agrupamento operacional (CAOP, COP), erm "usadas e abusadas" por "eles",  os "senhores da guerra", os oficiais superiores... E muitas eram "sobrecarregadas", em termos de atividade operacional, por compração com as unidades de quadrícula que faziam parte dos batalhões... Em suma, havia filhos e enteados...

Np CTIG, no "mato", o ambiente operacional era de de grande tensão, levando ao fim de meses, à exaustão física e emocional,  e isso está bem retratado nestas três etras do Edmundo Santos que o Mário Pinto recolheu e publicou na sua página e, depois, foram reproduzidos, com a devida vénia no nosso blogue (**).

Espero que ainda haja mais letras destas no "baú" do Edmundo, Santos que, para surpresa minha, se revela um poeta talentoso, com recursos estlílisticos acima da média, sabendo fazer bom uso do humor, da ironia, do sarcasmo... Constou-me que ele continua a fazer poesia, vou ver se lhe telefono e o convido, pessoalmente, para integrar a nossa Tabanca Grande, dando-nos assim a honra de sentar  à sombra do nosso simbólico e sagrado poilão!

Seria interessante também saber, junto do Mário Pinto, que músicas (de canções, baladas ou fados da época) acompanhavam estas letras... Como ele recorda, "eram versos e fados que todos nós, bem ou mal,  cantarolávamos nos nossos momentos de ócio"... O cantar, em grupo, e geralmente de copo na mão, na caserna dos soldados ou nos bar de sargentos (, locais que em geral os oficiais, mesmos os milicianos, não frequentavam fora das "horas de serviço"), ajudava a exorcizar os nossos fantasmas, a "desopilar", a aliviar a tensão...Como diz o povo, "quem canta, seu mal espanta"...

Os ventos (da contestação, da revolta e de esperança) que começavam a soprar na metrópole, com a chamada "primavera marcelista", também chegam à Guiné...a avaliar pela forma e conteúdo destas letras do Edmundo Santos. (LG)

PS - Já falei com o Edmundo Santos, que vive em Lisboa, e que aceitou o meu convite para integrar a nossa Tabanca Grande, Ficou de me dizer, por mail, que músicas de fado eram cantadas com estes versos (em geral, em festas de anos da rapaziada...). Vai-me mandar também mais algumas letras que escreveu mais recentemente, sobre os tempos de Guiné, e que não chegaram a  ser cantadas, com acompanhamento de guitarra e viola, como estava previsto, num dos últimos encontros do pessoal da CART 2519, em 2013,  em Benavente. 


OS MORCEGOS

por Edmundo Santos



Aqui não temos parança,
andamos sempre a alinhar,
uns a fazer segurança
e outros a patrulhar.
Só nos resta a esperança
de um dia poder voltar.

Ai!, uma vida pior
do que esta não há,
chamamo-nos os 
Morcegos,
mas ai, vejam lá,
a malta só nos conhece
pelos 
Coirões de Mampatá.

Todos os dias há saídas,
com o perigo sempre a rondar,
são poucas as alegrias
e muito para contar,
não há lugar p'ra sossego,
é a vida de um 
Morcego.

Fonte: CART 2518 Os Morcegos de Mampatá > 29/9/2011


ESTOU FARTO DELES, TIREM-ME DAQUI!

por Edmundo Santos


Tenho corrido 
manga de estradas,
que em tão má hora eu conheci,
tenho caído em emboscadas,
estou farto deles, tirem-me daqui!

Noites no mato,  debaixo de água,
são realidades que eu já vivi,
tenho a alma cheia de mágoa,
estou farto deles, tirem-me daqui!

Muita fominha tenho passado,
por causa dela me ressenti,
tenho o corpito todo enfezado,
estou farto deles, tirem-me daqui!


Fonte: CART 2518 Os Morcegos de Mampatá >  28/9/2009


FADO DA METRALHA

por Edmundo Santos



De pica na mão,
lá ia a maralha
com toda a metralha,
de olhos no chão;
para não haver falha,
piquem bem o trilho,
tomem atenção;
sou de opinião
que, se houver fornilho,
ai que Deus nos valha!

E, naquela estrada,
junto ao cruzamento,
as dores que me deste,
mais uma emboscada,
no meu pensamento,
nessa mata agreste
e os bombardeiros,
fiéis companheiros,
em qualquer momento
iam atacando
e 
turras matando,
sem dó nem lamento.

Adeus, Mampatá,
quero-te esquecer,
fizeste sofrer
quem andou por cá,
pronto a combater,
ó maldita terra
onde nada há,
e digo-te já
que toda esta guerra
foi dura a valer.


Fonte: CART 2518 Os Morcegos de Mampatá > 25/9/2009

[ Revisão / fixação de texto: L.G.]

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16938: Efemérides (242): Homenagem a Vitor Manuel Parreira Caetano (Mário Pinto, ex-fur mil at art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá", Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71)



1. Mensagem do Mário Pinto [ex-fur mil at art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá", Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71]



Homenagem a Vitor Manuel Parreira Caetano


Camaradas,


Vai decorrer no próximo dia 9 de Abril de 2017, uma homenagem pela Câmara de Beja, no dia do Combatente, ao Sold. Vitor Manuel Parreira Caetano, da minha CART. 2519, falecido em combate.

Junto a comunicação que recebi via e-mail.

Um abraço
Mário Pinto






Proposta de homenagem a Vitor Manuel Parreira Caetano

Na sequência de diligências efectuadas no sentido de dar continuidade ao processo referido informo os interessados que:

1- Em 27 de Agosto de 2014 em reunião da Junta de Freguesia de Beringel e uma vez que não havia registos da doação da sepultura perpétua em que se encontra foi deliberado registar a doação em acta ficando assim regularizada a situação;


2- Em reunião ordinária da mesma Junta de 07/10/2016 foi aprovada por unanimidade a Proposta de Homenagem ao Soldado Vitor M.P. Caetano a realizar em 09 de Abril de 2017, por ocasião das comemorações do Dia Nacional do Combatente .


Nota: a data é por enquanto indicativa mas curiosamente coincide com o Aniversário de nascimento de Homenageado.


O programa será apresentado oportunamente.

Cumprimentos a todos os Ex-Combatentes

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Nota do editor

Último poste desta série:

2 DE DEZEMBRO DE 2016 > Guiné 63/74 - P16792: Efemérides (241): 98º aniversário do Armistício da Grande Guerra: Núcleo de Loures da Liga dos Combatentes, em colaboração com a Câmara Municipal de Loures: homenagem aos combatentes tombados durante a Grande Guerra e da Guerra do Ultramar, em 13/11/2016 (José Martins)

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16783: Inquérito 'on line' (88): A malta fazia alguma batota a nível de pelotão, sobretudo no que dizia respeito aos locais de emboscada... [Mário Pinto, ex-fur mil at art, CART 2519 (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71); e José Manuel Cancela (ex-sold apont metralhadora, CCAÇ 2382, (Bula, Buba, Aldeia Formosa, Nhala, Contabane, Mampatá e Chamarra, 1968/70)]


Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa (Quebo) > ..CART 2519, "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71) > A primeira secção do fur mil at art Mário Pinto.

Foto (e legenda): © Mário Pinto(2009). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Dois comentários ao poste P16780 (*)


(i) Mário Pinto [ex-fur mil at art, 

CART 2519, "Os Morcegos de Mampatá" (Buba,  Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71)]

Não posso confirmar se alguma vez houve batota na ninha companhia, a  CART. 2519,  e se o que vou expor pode ser considerado batota.

No princípio da nossa comissão,  depois da construção da nova estrada Buba-Aldeia Formosa em 1969, fomos colocados em Mampatá e tinhamos como principal missão a contra-penetração do corredor de Missirá. 

Todos os dias um Gr.Com,  reforçado com milicias e uma secção do Pelotão de Caçadores Nativos, deslocava-se para um local previamente determinado afim de emboscar por um período de 24 horas. Ao princípio foi cumprido na integra,  apesar das contrariedades que tinhamos com várias situações que aconteciam ao longo do período que nos era destinado à permanência no local. (necessidades fisiológicas, ansiedades por diversos motivos, mosquitada, calor abundante, saturação, etc.).

Tudo isto e mais algumas coisas não permitiam que a emboscada tivesse sucesso porque,  derivado ao desassossego que se apoderava dos militares emboscados,  permitia ao IN detectar-nos a longa distância e assim abortare a passagem no local ou atacarem-nos, (facto que por acaso nunca aconteceu, não sei porquê). 

Quero dizer com isto que,  uns tempos mais tarde,  começamos por nossa iniciativa a contrariar as ordens da missão. Ficávamos no corredor as primeiras horas e retirávamos para outro local, quando o pessoal começava no desassossego, mas sempre próximos do nosso objectivo, local em que pudessemos controlar a área envolvente ao nosso objectivo. 

Até porque o comandante de operações de Aldeia Formosa, na altura o major Pezarat Correia,  tinha por hábito meter-se numa DO e ir inspeccionar o local onde se encontravam as tropas. ( Eu tinha por hábito dizer que o Major andava a mostrar ao IN onde nós nos encontrávamos emboscados, mas isso é outra história.)

Apesar deste esquema engendrado por nós, conseguimos ter vários êxitos de capturas de material, como consta no nosso historial. O nosso capitão  só veio a saber deste esquema quase no fim da nossa comissão, porque esteve sempre convicto que nós passávamos as 24 horas no local pré estabelecido.



(ii) José Manuel Cancela [ex-soldado apontador de metralhadora, CCAÇ 2382, Bula, Buba, Aldeia Formosa, Nhala, Contabane, Mampatá e Chamarra, 1968/70]

Havia batota a nível de pelotão.

Por mais que uma vez saíamos do Quartel, com chuva e trovão, para irmos emboscar a três
quilómetros.

Passada a pista de aviação,fora do arame farpado, embrenhávamo-nos na mata,e era aí que passavamos o tempo.

Parece-me que todos o faziam, a nível de pelotão.
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segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13728: (Ex)citações (238): Água da Bolanha... quem a não bebeu ?! (Mário Pinto, ex-fur mil at art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá", Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71)

1. Mensagem do Mário Pinto [ex-fur mil at art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá", Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71]

Data: 12 de Outubro de 2014 às 15:46

Assunto: Água da Bolanha quem a não bebeu (*)

Caro Luís Graça

O tema "água da bolanha quem a não bebeu?"  remete para  mais um dos sacrifícios que nós, os ex-combatentes, estávamos sujeitos nas nossas muitas missões pelas matas e bolanhas da Guiné.

No meu sector não era a falta de água que nos afligia, pois existia muita e felizmente em quantidade. o problema é que a maioria dos poços existentes a sul de Mampatá estavam todos minados ou inquinados pelo PAIGC o que limitava o nosso abastecimento quando das nossas deslocações. Era preciso uma atenção redobrada e uma picagem maciça do terreno quando era necessário o seu abastecimento nas nossas missões a sul de Mampatá e não nos podemos esquecer dos famosos comprimidos que nos eram distribuídos para colocar na água inquinada das bolanhas e poços.

Tivemos alguns dissabores na procura do precioso líquido, lembro-me de uma vez o 1.º Cabo Enf Alves que seguia no 4.º Grupo de Combate e que regressava do corredor de Missirã, depois de lá ter permanecido 24 horas ter caído numa mina A/P na nascente de Iroel, já perto de Mampatá, quando procurava abastecer-se devido à sede que apertava.

Eram muitos os perigos que assolavam as NT à procura de saciar a sede, porque dois cantis de água que levávamos à cintura para 24 horas era muito pouco para quem com o calor tórrido da Guiné se desidratava a cada minuto que caminhava sob aquela temperatura de 45º e de uma hostilidade sem piedade para quem não estava habituado àquela intempérie. Nem a rudeza da maioria dos nossos soldados, oriundos do Alentejo e habituados ao sol e ás temperaturas elevadas da sua terra em pleno verão, aguentavam tamanha contrariedade que era a sede.

No mato que eu me lembre fomos sempre deficitários quanto a água excepto no período das chuvas, aí sim havia com fartura ás vezes até em demasia. Existia outra situação que não ajudava nada a nossa necessidade de matar a sede era a ração de combate que nos distribuíam quando saíamos, derivado à sua constituição à base de salgados e doces, o que não admirava a maioria optar por a deixar no aquartelamento e não se alimentar durante a saída.

Uns mais outros nem tanto, mas o certo é que nós todos tivemos a nossa cota parte nas águas das bolanhas.

Um abraço
Mário Pinto (**)
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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 12 de outubro de 2014 > Guiné 63/734 - P13722: Fotos à procura de... uma legenda (38): Estrada Nova Lamego-Bafatá, maio de 1970: Fomos à água... Água das Pedras ou da Bolanha ? (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12569: E fazíamos grandes jogatanas de futebol (4): Futebolices em Mampatá e a CART 2519... (Mário Pinto)


1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a seguinte mensagem.


Camaradas,

Já que estamos numa de futebolices, Mampatá e a CART 2519 não podiam ficar indiferentes ao pontapé na bola que salutarmente se fazia naquela altura por lá.

Ficaram célebres algumas peladinhas que fazíamos com a inclusão do Capitão da Companhia, que aliás era o próprio a incentivar o pessoal para a mesma. Entretanto aproveitavámos a peladinha para lhe aplicar umas valentes caneladas de amizade que levava o mesmo, muitas vezes, a queixar-se e com hematomas nas pernas, tal era a dose.

Chegou-se também a fazer um Campeonato com as Companhias de Aldeia Formosa, respectivamente, CART 2521 e CCAÇ 2616 e CCS do Batalhão, que ficavam a cerca de 7Km de nós.

O nosso Vagumestre e o Fur Mil José Alberto Gonçalves, do Pel Caç Nativos, chegaram mesmo a criar uma escola de djubis de Mampatá onde ensinavam algumas práticas da modalidade.

O Futebol  nem sempre foi uma constante da nossa Companhia, pois nos primeiros tempos a intensidade e o empenhamento na construção da estrada Buba-Aldeia Formosa era tal que a nossa disposição para qualquer coisa era nula. Só mais tarde e depois de nos termos fixado na Tabanca é que criámos condições para a sua prática com o fim de nos recrearmos nos momentos de descanso..... 

Junto algumas fotos desses tempos, com maior predominância sobre as escolas de Jubis de Mampatá.  [Seguem algumas fotos desses bons tempos].








Um abraço a todos
Mário Pinto
Fur Mil At Art da CART 2519 
___________ 

Nota de M.R.: 


Vd. último poste desta série em: 

9 DE JANEIRO DE 2014 > P12561: E fazíamos grandes jogatanas de futebol (3): O 'Jogo da Bola' nos intervalos da guerra: os craques da CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/74) ... (Jorge Araújo, ex-fur mil op esp)

domingo, 8 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12411: O que é que a malta lia, nas horas vagas (11): Noticias e recortes de Jornais da Metrópole e Rádio Bissau (Mario Pinto)

1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a seguinte mensagem.


Camaradas,



Aqui vai a minha contribuição sobre esta matéria respondendo ao solicitado pelo Luís Graça  [, sobre o que é que a malta lia, nas horas vagas].

Em Mampatá no meu tempo, depois da construção da cantina, foi criado pelo meu grande amigo Furriel José Alberto Gonçalves,  do Pelotão de Nativos,  um jornal de parede que logo foi apelidado de Jornal da Caserna. Nele o nosso camarada José Alberto colocava todas as noticias e recortes de Jornais que ele recebia da Metrópole, este era uma das nossas fontes de noticias,  para além da Rádio Bissau que com algum custo se ouvia naquela Tabanca a Sul de Aldeia Formosa.

Também havia quem recebesse, pelo correio, jornais regionais, revistas e livros que passavam de mão em mão para assim à luz dos famosos candeeiros improvisados a petróleo ( Uma bojeca vazia cheia de petróleo e uma torcida de pano colocada através da tampa furada ) e assim passávamos muitas vezes o bocado do fim de tarde quando a noite caia porque nem sempre havia pachorra para jogar ás cartas, dar à língua ou algo semelhante.
O José Alberto, um homem do Norte (Baião) apaixonado pelo Raly e tudo que metesse desporto motorizado e adepto do F.C.Porto, lá ia atualizando quase diariamente o seu jornal de parede que em parte tinha por base o jornal a Bola e o Jornal de Baião, que mais tarde se veio a tornar seu Director.

Um pormenor curioso é que os jornais depois de lidos, tinham uma dupla função, fazia-se uma bola trapeira que era a alegria dos Jubes de Mampatá.

Ainda hoje a malta se lembra com alegria dessas peripécias futebolísticas com a bola trapeira em habilidades e naqueles famosos campeonatos de quem dava mais toques.

Voltando à leitura, tirando alguns eruditos pela mesma como o Alf Borges ou Fur Enf Agostinho, pouca paciência havia para livros porque a nossa mente era absorvida por outras preocupações e realidades sempre presentes no nosso quotidiano.

Junto algumas fotos dos nossos lazeres...





Aproveito para desejar a todos os camaradas um Bom e Feliz Natal.


Um abraço,
Mário Gualter Rodrigues Pinto
Fur Mil At Art da CART 2519
____________ 
Nota de M.R.:

Vd. último poste do mesmo autor em: 

7 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12409: O que é que a malta lia, nas horas vagas (10): Assinava o "Comércio do Funchal" e a "Seara Nova" e tinha os meus livros, alguns do Máximo Gorki, por exemplo (Hélder Sousa, ex- fur mil trms TSF, Piche e Bissau, 1970/72) 

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12194: In Memoriam (164): Faleceu o Jerónimo Jesus da Silva, o "rebenta-minas", sold condutor auto da CART 2519 (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71) (Mário Pinto)


1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a seguinte mensagem:

Camaradas


A minha homenagem a um saudoso camarada Morcego de Mampatá, que ontem, 22 de Outubro, nos deixou.

O JERÓNIMO, “O REBENTA MINAS”,  FALECEU 

Para os que nos lêem e não sabem, o rebenta-minas era a viatura que seguia, regra geral, apenas com o condutor, na frente, a “abrir” caminho para uma coluna motorizada.

Jerónimo Jesus da Silva, Sold Condutor da CART 2519,  OS MORCEGOS DE MAMPATÁ, devido à sua sempre disponibilidade para encabeçar a frente das colunas Buba-Aldeia Formosa com a sua GMC, conhecida pela HÉRCULES, foi baptizado e ficou conhecido pelo rebenta-minas.

O Jerónimo era um Minhoto de gema, natural de Guimarães,  e chegou à CART 2519 em Março de 1969, aquando do início do nosso IAO.

Era um mancebo robusto, bem disposto e sempre pronto para realizar qualquer serviço, ou outra eventualidade.

Na Guiné,  e ainda PIRIQUITO, o Jerónimo revelou-se um militar destemido e voluntarioso e foi na construção da estrada nova Buba-Aldeia Formosa, ao encabeçar as colunas que seguiam diariamente de Mampatá para o local de trabalhos, que ele se tornou célebre e respeitado por todos. 

Indiferente ao temível perigo oferecido pelas traiçoeiras minas, que todos dias sabíamos estarem *a nossa espera, colocadas pelo PAIGC todas as noites na estrada, o Jerónimo não deixava, mesmo assim, de ir com a sua viatura a assegurar o caminho a cada coluna motorizada, expondo-se ao eventual rebentamento de alguma delas, ou às balas do IN, que quase todos os dias fazia uma sortida com flagelação e, ou, emboscada. 

Mais tarde, abandonada a construção da estrada nova, o Jerónimo passou a integrar as colunas de abastecimento que iam à LDG, no cais de Buba, pela estrada velha, carregar os abastecimentos para o nosso Sector, nunca deixando de ser o "REBENTA MINAS".

Questionado, dizia sempre com alguma humildade:
- Alguém tem de ser o primeiro e eu,  como já estou habituado,  não me importo!

Foram várias as vezes que o meu Grupo de Combate picou a estrada à frente da sua GMC, tendo ele sempre afirmado que tinha uma confiança enorme nos camaradas que o precediam na picagem.

Tinha razão, pois foram imensas as minas que levantámos naquela estrada.

A sua Hércules era já sobejamente conhecida por todos, não só por encabeçar as inúmeras colunas, mas pelos zumbidos característicos do seu motor, quando em pleno esforço era submetida na frente das colunas, anunciando assim a sua presença aos que faziam as protecções e os trabalhos.

O Jerónimo Jesus da Silva foi louvado por escrito pelo comando devido à sua extraordinária coragem.

Mais tarde veio a sofrer de stress pós-traumático de guerra, com deficiência e incapacidade 36%, resultante dos traumas provocados pela sua continua voluntariedade em enfrentar o perigo.

À sua enlutada família aqui deixo os meus sentidos pêsames, desejando que o nosso Camarada Jerónimo descanse em paz e que um dia, esteja onde estiver, todos nos juntemos novamente.

Preparação de uma coluna

Distribuição do pessoal militar e civil pelas viaturas

Coluna em marcha picada fora

Evolução ao longo da picada

Uma das minas anticarro

 Viatura após explosão de uma mina

Avaliação dos estragos causados


Endireitamento da viatura
Fotos: © Mário Pinto (2013). Todos os direitos reservados 


Um abraço,
Mário Gualter Rodrigues Pinto
Fur Mil At Art da CART 2519
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: