2. O A. Marques Lopes [Aiveca, no livro ] estava a descansar, depois de uma noite passada no "tarrafe do Cacheu à espera que os guerrilheiros passassem" (pág. 491). Chegado às seis da manhã, morto de sono, tirou o camuflado, nem tomou banho, atirou-se para cima da cama...
"O ruidoso girar característico das pás dos helicópteros" (pág. 492), fê-lo saltar da cama, a ele e ao outro alferes, o Rudolfo (nome fictício).
(...) Vestiram os calções e enfiaram as chinelas nos pés (...) Foram para a porta da secretaria. Já lá estavam o cabo escriturário e o primeiro sargento, este todo aprumado:
– Vem aí o nosso general! – anunciou, embevecido. (...)
Os dois alferes "viram com espanto o Caco Baldé a aproximar-se em passo decidido, olhar penetrante e pingalim da ordem". Vinha acompanhado pelo comandante da CCAÇ 3... e "todo emproado no camuflado limpo e brilhante pelo uso em cerimónias, de luvas impecáveis e boina vermelha berrante", o ajudante de campo "com a G3 em prontidão, coronha poisada no quadril" (pág. 492).
(...) O Rudolfo mostrou-se preocupado...
– É, pá, não podemos receber o general em tronco nu, de calções e chinelos.
– Oh, agora, chapéu. Ele está perto e já olhou para nós. Quando aparece assim de repente, o que é que pode esperar ?
O general chegou ao pé deles e o capitão apresentou-os:
– Meu general, estes são comandantes de dois pelotões da minha companhia. Há um que está a montar emboscada num corredor de infiltração e outro está num destacamento. (...)
O Lopes instintivamente ia levantar a mão para bater a pala, mas deu conta que estava "desfardado"...
(...) Mas o Rudolfo não pensou e fez mesmo a continência. Ninguém ligou, nem o general (pág. 493). (...)
O Lopes [ Aiveca, no livro] achou que devia dizer qualquer coisa, pediu desculpa ao general, dizendo-lhe que não estava à espera e tinha passado toda a noite no mato (...).
– Deixa-te disso, pá. Vamos lá que estou com pressa, quero ir falar com o major do COP [que era na altura o Correia de Campos ]. (...)
Depois, entraram na secretaria e falaram da atividade operacional, dass infiltrações do PAIGC a partir do Senegal, da missão do COP, mas também da situação do pessoal e dos problemas de alimentação em Barro.
(...) Toma nota – ia dizendo o general para o [ajudante de campo, o cap cav 'cmd Almeida Bruno, maio 68 / julho 70].
Este, que pusara a G3, tinha agora um pequeno bloco na mão.
O Aiveca esteve tentado a dizer que a carne que tinham, era das vacas que, às vezes– , iam roubar às aldeias fronteiriças do Senegal, ou daquelas que caíam nas armadilhas que montavam nos carreiros e que os elementos do PAIGC traziam para atravessar o Cacheu. Os gajos das tabancas não querium vender vacas. Mas preferou ficar caladinho, o capitão que desbroncasse.
O Caco Baldé ajeitou o monóculo e mudou de conversa.
– Quais são as etnias dos grupos de combate ?
– Meu general, a maior parte são fulas e balantas, mas há de outras etnias, e estão misturados.
– Então vai separá-los, nosso capitão. Fulas num grupo de combate e balantas noutro. Dá mais unidade a cada um e pode criar emulação entre eles. " (pág. 494).
Ninguém disse nada. Não havia nada a dizer porque aquilo foi dito em tom de uma ordem.
– Já alguma vez foram ao Senegal ? – perguntou po general.
O Aiveca riu-se, mas depressa ficou sério. O general e o adjunto olharam para ele como que a pergunhtar qual era a piada. O capitão e o Rudolfo ficaram apreensivos, a interrogar com o olhar se ia falar das vacas roubadas no Senegal. Viu que tinha de dizer alguma coisa.
– Peço desculpa, meu general, mas é que nós nunca fomos ao Senegal.
– Então deixe de se rir, nosso alferes. Comecem a pensar em ir lá (pág. 495)...
E lá abalou a caminho do heli...
3. Conclusão tirada pelo A. Marques Lopes, no poste P47 (**), um dos primeiros que publicámos no blogue, em 6 de junho de 2005:
(..) " – Vocês já foram ao Senegal?
"Eu, e os outros, que não sabíamos o que ele queria, dissemos que não (já tínhamos ido várias vezes a Sano, Sonako e Samine para roubar vacas e queimar casas). E ele disse:
"– Então, têm de pensar em ir lá.
" E lá fomos mais à vontade. O roubar vacas era uma preocupação, pois era a nossa subsistência. Muito raramente, havia um abastecimento feito pelos fuzileiros através do rio Cacheu. Às vezes, vinha uma Dornier trazer o correio e os chamados frescos. A maior parte das vezes comíamos arroz e rações de combate, ou, então, uma dobrada hidratada que saltava da panela assim que aquecia. Só tínhamos carne quando havia vacas. (...) (**)
E foi assim que ele conheceu, ao vivo e a cores, o novo com-chefe e governador da Guiné, que tinha acabado de chegar ao CTIG, e que será promovido à categoria de general apenas um ano depois, em julho de 1969... (Há aqui uma notória dissincronia por parte do A. Marques Lopes ao tratar o Spínola por general em junho de 1968.) (***)
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