Pelo menos eram estas as palavras que começavam o diário, que dizia que era o dia 9 de Março, uma terça-feira, que devia de ser de 1965.
Mais à frente dizia, como sempre em letras, um pouco difíceis de entender, que tinha ficado a trabalhar nas suas tarefas no centro cripto, em lugar de um companheiro que tinha ido para a capital da província, que não sabe se foi em passeio ou doente.
Para o Cifra, estar no centro cripto, executando as suas tarefas ou estar a dormir, era a mesma coisa, pois estava ali preso, naquele aquartelamento em construção.
Diz mais à frente que estava sentado, claro, talvez fumando aquele “três-vintes” sem filtro, (que fazia os dedos amarelos, só de segurar o cigarro entre eles), passando a limpo o texto de uma mensagem que mencionava dois feridos e um morto, que era milícia, durante um ataque, na pequena fortaleza que os militares acabaram de construir em Encheia.
Levanta os olhos, vê na parede um mapa de Portugal continental, que alguém ali pôs e que o Cifra sabia que estava lá, mas nunca tinha reparado assim com tanta atenção, e disse para si: "Quando acabar esta mensagem vou ver aquele mapa melhor".
Assim fez, e estava lá, em letras pequenas num canto, uma pequena história que mencionava “sarracenos”, “fenícios”, “visigodos”, e mais umas dezenas de palavras, que explicava que era a Península Ibérica, e logo aí o Cifra pensou: "É verdade, somos isso tudo e mais, talvez da “bretanha”, “vikings”. Tinha lido essas palavras numa revista do “Século Ilustrado” que traziam umas gajas quase nuas, que tinha roubado na messe dos sargentos, e logo pensou: "Somos oriundos da Península Ibérica, estávamos quase rodeados de mar, somos descendentes de aventureiros, fomos criados em regime de família, portanto os mais idosos diziam o que era bom ou mau, e os mais novos acatavam as ordens, obedeciam, e assim na idade jovem, apresentámo-nos voluntários no quartel para inspecção.
Alguns aprenderam as normas militares que os mais velhos ensinavam, e assim aparecemos num cenário de guerra, com o tal espírito dos nossos antepassados que eram AVENTUREIROS!
E agora o Cifra acrescenta, AVENTUREIROS que se transformaram em COMBATENTES, e o nome de combatente vai acompanhar-nos até morrer, os nossos filhos, netos e bisnetos, todas as futuras gerações vão sempre mencionar, que o pai, o avô, ou bisavô, era COMBATENTE!
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Nota do editor
Último poste da série de 8 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12696: Bom ou mau tempo na bolanha (44): Fomos Combatentes, tratem-nos bem (Tony Borié)