sábado, 19 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21374: (De) Caras (163): A Cilinha veio de helicóptero a Nova Sintra, em março de 1973: na despedida estávamos todos a olhar para o helicanhão... (Carlos Barros)



Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > 2ª CART / BART 6520/72 (1972/74) > 1973 > A visita da Dona Cecília Supico Pinti, a "Cilinha" (Lisboa, 1921 - Cascais, 2011).  O terceiro, a contar da esquerda para a direita, "magricelas e de bigode", era o Carlos Barros.

A popular figura da  presidente do Movimento Nacional Feminino é acompanhada pelo alf mil Figueira, natural de Cabo Verde  (, não visível na foto).  Ela, sempre muita elegante nas suas calças à boca de sino. como então se usavam nesse tempo, blusa preta, um grande colar, óculos escuros, cabelo sobre os ombros, e mala ao ombro... Parece abrir os braços para uma criança da tabanca sobre a qual se debruça um militar, em tronco nu, que lhe dá instruções. Possivelmente a criança iria dar-lhe uma pequena lembrança ou uma flor. 

Espantosamente, nenhum dos militares que a aguardavam, à entrada do destacamento, quase todos em tronco nu, não parecem prestar-lhe qualquer atenção, tendo dirigido a vista para algo que estaria a acontecer por detrás do fotógrafo... O Carlos Barros esclarece agora o "mistério"...
 
Foto (e legenda): © Carlos Barros (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Carlos Barros


1. M
ensagem do Carlos Barros [, um de "Os Mais de Nova Sintra", 2ª C/BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74), membro da Tabanca Grande, nº 815, natural de Esposende]

Date: sábado, 19/09/2020 à(s) 16:00
Subject: A visita da Cilinha a Nova Sintra, 1973

Luís:

Para não adensar o "mistério", pelo contrário, quero "desmistificá-lo, penso que tenho uma explicação sobre os "olhares" dos militares na despedida da Cilinha do MNF. (*)

Ela chegou de helicóptero e vinha um "helicanhão" na sua proteção e estávamos todos a olhar para o Héli que sobrevoava a pista,  daí a razão da nossa observação e admiração pela atuação do helicóptero na vigilância sobre a mata que circundava o destacamento de Nova Sintra.

Ela fez um discurso sobre o valor e coragem dos nossos soldados, fazendo a "apologia" da Guerra Colonial e não o combate ou crítica à mesma, o que era natural já que o regime assim o exigia.

Estávamos quase todos em tronco nu porque fazia muito calor e o Comandante Interino Alferes Figueira deixava-nos à vontade... O tempo era de guerra e o "rigor da farda" era e tinha de ser "esquecido"... (**)

Um abraço
Carlos Barros

PS - A Cilinha usava aquele estilo de cabelo na sua visita a Nova Sintra. A Segurança, por outro lado,  estava garantida e era dentro do destacamento, perto da pista, que ela foi recebida.


2. Pedido de esclarecimento do editor Luís Graça, em 12/9/2020:

Carlos: Esclarece lá o "mistério" desta foto... Ninguém olha para a Cilinha...Isto deve ter acontecido em março de 1973... Confirma. Um ano depois, em março de 1974,  ela está estava de visita a Nhala...

Mantenhas. Luís
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Guiné 61/74 - P21373: Os nossos seres, saberes e lazeres (411): No Alto Minho, lancei âncora na Ribeira Lima (7) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Abril de 2020:

Queridos amigos,
Digamos que foi uma visita colateral, os Arcos, em rigor, não faziam parte do universo do meu saudoso amigo Carlos Miguel de Abreu de Lima de Araújo, a cuja memória estou neste peregrinar. Mas que grande surpresa, que património, que paisagens, que casario, que velhos aldeamentos, até apetecia, houvesse mais tempo, regressar ao Núcleo dos Espigueiros do Soajo, quanto gostaria de pôr os pés no Núcleo do Mosteiro de Ermelo, a lição recebida é de que é indispensável vir com mais tempo, fica sempre uma grande deceção passar como cão por vinha vindimada nestes rincões onde se fundou a nossa nacionalidade, há vestígios da Pré-História, há cultura castreja, há vestígios do início da Idade Média, ruínas de estruturas defensivas. A vila dos Arcos tem templos esplendorosos, como aqui se procura ilustrar, e o ponto alto da visita foi o que se nos deparou do Centro Interpretativo do Barroco, sediado na Igreja do Espírito Santo, uma riqueza que iremos mostrar na etapa seguinte.

Um abraço do
Mário


No Alto Minho, lancei âncora na Ribeira Lima (7)

Mário Beja Santos

Desta vez é de vez, vou a Arcos de Valdevez, a terra e seu concelho rarissimamente vinham à baila nas minhas conversas com o meu saudoso amigo Carlos Miguel de Abreu de Lima de Araújo, mas um amigo comum, Luís Saraiva de Meneses, era dos Arcos e tinha oferecido uma tela a óleo com a casa de família que estava no corredor da entrada da casa do Carlos Miguel, desconhecendo o local da mesma, decretei que a ida aos Arcos tinha o poder simbólico quanto baste. Antes porém, fui bater à porta em Ponte de Lima do escritório de Manuel da Silva Fernandes, um camarada da Guiné, alguém que combateu em Gadamael e resolveu passar a escrito a sua vivência. Já conhecia a sua obra, por portas e travessas, saí do seu local de trabalho com esta lembrança, nós, os camaradas da Guiné, somos mesmo assim.

Preparei-me para a visita aos Arcos, tenho sempre à mão o livro Alto Minho, de Carlos Ferreira de Almeida. No capítulo dedicado a Arcos e Soajo, vejamos a referência histórica: “Valdevez poder-se-á considerar até ao século XII como cabeça da Ribeira-Lima, tal a sua importância estratégica. Era uma região nevrálgica de apoio a uma linha desde Monção a Lindoso, a da fronteira com a Galiza tantas vezes pressionada por Leão. Era a retaguarda dos castelos de Monção, de Melgaço e de Castro Laboreiro. A refrega do Encontro de Valdevez, entre D. Afonso Henriques e D. Afonso VII de Leão, acontecida aqui, perto da Portela do Extremo, bem o elucida”. E chegamos aos Arcos, eram assim descritos como o autor os viu nesses anos de 1980: “Engloba duas freguesias, S. Salvador e S. Paio, que o rio (Minho) separa mas a ponte une. Na margem direita do Vez temos S. Salvador dos Arcos, a mais urbanizada. Tem um importante património artístico constituído por um bom conjunto de igrejas de rico recheio, sobretudo em talha, e meia dúzia de excelentes casas, dos séculos XVII, XVIII e XIX, testemunho das potencialidades das confrarias, da nobreza e da burguesia locais”. E depois enuncia a Capela da Praça ou a Capela da Conceição, arte gótica e seguidamente a Igreja da Lapa, com belíssimo altar. Nossa Senhora da Lapa é a mais esplendorosa igreja dos Arcos, atribui-se o seu traçado a André Soares, mestre bracarense. Tem planta centrada coberta por alta cúpula. No seu interior, três aparatosos altares de cuidada talha rococó. Era poderosa a confraria que encomendou estas obras, e enorme a devoção a Nossa Senhora da Lapa, de origem beirã. Não confundir a Igreja da Lapa com o Santuário de Nossa Senhora da Lapa, em Sernancelhe.


Altar da Igreja da Lapa

Pormenor do altar

A Capela da Praça é um edifício de grande severidade, gótico rural, deve-se ao abade João Domingues que destinou o templo para sua capela funerária, nos princípios do século XV.



Dois pormenores do interior da Capela da Praça

Houvesse tempo e percorria-se os Arcos a pente fino, como o professor Ferreira de Almeida sugere no seu livro Alto Minho: Igreja da Misericórdia, os Cruzeiros, a Igreja de S. Paio. Contempla-se uma raridade, o pelourinho, do início do século XVI, até 1700 esteve colocado no centro da Praça Municipal, andou em bolandas, aqui está desde 1998. A autoria é de João Lopes, a sua singularidade é óbvia: pilar torso e roca cónica, apresentante um fuste robusto enrolado por três colunelos, colmatado por um capitel em forma de taça. Que beleza!


Que o leitor me perdoe, encaminhei-me, depois de ter andado às voltas do Pelourinho para outro importante templo, a Igreja do Espírito Santo, onde funciona o Centro Interpretativo Barroco. Abriremos o próximo episódio com esta visita, obra de uma outra importante Confraria que pôs de pé esta igreja de tradição maneirista com exterior remodelado no século XIX. Cresce a convicção de que é imperativo retornar a estas paragens, ficam para ver as casas solarengas, percorrer o concelho e avançar para o Soajo, são as casas, são as pontes, os mosteiros, as igrejas e capelas, é um património formidável, fica para a próxima. Vou amesendar e aliviar as fraquezas do corpo, ponho-me a olhar a ponte que liga as duas margens da vila dos Arcos, uma construção de truz datada do século XIX, substituiu uma ponte medieval. É pena não restarem quaisquer elementos arquitetónicos da anterior construção, só referências: tinha quatro arcos de volta redonda e uma estrutura marcadamente românica. Já agora, vamos dar um salto até aqui perto, ao Paço de Giela.


O Paço de Giela assenta num pequeno outeiro na outra margem do rio Vez, é monumento nacional: é um exemplar único de habitação de nobre em meio rural, há à sua volta elementos construtivos que vão desde o século XIV até ao século XVIII. Trata-se de um pequeno castelo rural a quem competia a defesa da fronteira desde os inícios da Idade Média pelo menos até meados do século XI. Foi sobre estas estruturas, entretanto destruídas e abandonadas, que em meados do século XIV se construiu a atual torre, adossada à torre está um edifício habitacional de dois pisos. No final do século XX, o Paço foi adquirido pela autarquia e em 2014 deu-se início à valorização e requalificação do conjunto edificado do Paço de Giela. É indispensável visitá-lo, vir aos Arcos e não desfrutar deste rico património é como ir a Roma e não ver o Papa. Finda a visita, regressamos ao Centro Interpretativo do Barroco. É magnificente, impõe-se uma visita cuidadosa, fica para o próximo episódio.


O Paço da Giela, antes e depois

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21350: Os nossos seres, saberes e lazeres (410): No Alto Minho, lancei âncora na Ribeira Lima (6) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P21372: (Ex)citações (371): eu, computodependente me confesso: a notícia da minha "deserção"... foi, afinal, um bocado exagerada... (Valdemar Queiroz)



Lisboa > 20 de junho de 2019 > Quatro Lacraus, da esquerda para a direita. Renato Monteiro, Abílio Duarte, Valdemar Queiroz e Manuel Macias, todos ex-fur mil da CART 2479 / CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70), mais conhecidos como "Os Lacraus".


Foto (e legenda): © Abílio Duarte (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Comentário do "Lacrau" Valdemar Queiroz (*):

Uff!!! 'té qu'enfim|

Já tenho o meu computador arranjado, tal como eu  estava com falta d'ar, teve que levar uma ventoinha nova.

Foram 15 dias de nervoso miudinho, tratava-se duma... computodependência. No meu caso, com a minha doença e, agora, com os cuidados covid, mais dificilmente saía de casa.

O computador para mim é como estar a conversar com os amigos no café, ler jornais, visitar exposições, ir ao cinema ou ao teatro, entrar à conversa com a rapaziada da Guiné aqui no blogue e principalmente comunicar com os meus netos que vivem na Neerlândia.

Dediquei-me à leitura, relendo a "Viagem a Portugal", de José Saramago, por não aguentar os atestados de estupidez dos programas televisivos da SICi e TVI de manhã, casos de polícia e tal, à tarde casos de doenças e tal,  com promoções das medicare privadas que tratam de tudo não se sabendo o que se paga por tudo tratado.

É um autêntico abuso da paciência das pessoas, que levam de manhã com os crimes do 'estava completamente morto' e à tarde com a doença da mulher que abusava do 'coiso'.

Podiam ter a ideia, que aparece no livro do Saramago, nas manhãs dos crimes e tal desvendarem a história do soldado transmontano José Jorge e nas tardes de doenças e tal visitarem a aldeia minhota de Covide,  sabendo se por causa disso têm mais ou menos convidados.

[Abílio] Duarte, exactamente. 
Não me recordo bem se a pequena [, a Cilinha,] nos foi visitar, mas tenho uma ideia daquela "quem é do Benfica?"  e depois oferecia uma bola de futebol.

Está a passar o tempo das sardinhadas e ainda não foi desta que fomos atacar umas aqui prós meus lados.

Ab., saúde da boa e nada de confiança ao bicharoco.

Valdemar Queiroz 

17 de setembro de 2020 às 03:08

 2. Comentário do editor LG:

Valdemar, entendo a tua "felicidade" e partilho-a... Podes crer que já estava a ficar preocupado com o teu estranho e prolongado silêncio... 

Pensei cá com os meus botões: 

"De duas uma, ou o rapaz teve ordem de soltura e foi apanhar o ar fresco do campo, ou então foi 'co(n)vidado' e nesse caso está amarrado a um dessas terríveis máquinas a que chamamos ventiladores, lá nos cuidados intensivos do hospital mais próximo, de que Deus nos livre!"...

Hipótese ainda mais fantasmagórica e inverosímel: sonhei que estavas em Paunca, e que tinhas sido apanhado à unha!... Mas também havia bocas da reação a dizer que tinhas desertado, com armas e bagagens... Afinal, dali ao Senegal era um saltinho, um passeio turístico...

Confesso que não ganhei para o susto... Afinal, foi apenas a "ventoinha" do teu computador que bifou!...  Nada que não se remendeie... embora, no teu caso, sair à rua é uma operação  complicada...

Bolas, já estava a ver os malditos dos jagudis à volta do telhado da tua morança!... É que os gajos cheiram a desgraça a quilómetros de distância.  

Bem vindo a bordo, de novo, camarada!...  E vê lá se ainda vais a tempo de saborear a última  sardinhada do ano, com os bons amigos e camaradas Abílio Duarte, Manuel Macias e Renato Monteiro (**)... Mesmo com os devidos cuidados que devemos todos ter, já que somos todos de maior ou menor risco...

PS - E a propósito da Cilinha... Também não me lembro de a "Senhora" visitar a nossa tropa-macaca da CCAÇ 12... Também não admira, nunca estávamos no quartel, o nosso poiso era o mato... Tambem nunca nos ofereceu nenhum conjunto musical... A nossa música era outra... Nem sequer uma "chicha", para as futeboladas. 


3. Resposta do Valdemar Queiroz:

Luís, obrigado pela preocupação. 

Fosga-se com essa lembrança dos jagudis, julgo que nem esses querem alguma coisa connosco: este é um daqueles que aguentou a guerra na Guiné, pensarão os passarões lá do alto da sua coca.

Foram uns dias lixados, já que estou muito habituado ao uso do computador para tratar dos mais diversos assuntos devido às dificuldades de me deslocar a qualquer lado. (***)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 16 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21364: Memórias cruzadas na região de Gabu: dia de luto para o EREC 8840/72, na visita de Cecíiia Supinco Pinto a Canquelifá em 6 de Março de 1974 (Jorge Araújo)

(**) Vd, poste de 28 de junho de  2019 > Guiné 61/74 - P19924: Convívios (903): Velhos Lacraus, da CART 2479 / CART 11, juntam-se para comer uma sardinhada e recordar: Abílio Duarte, Manuel Macias, Renato Monteiro e Valdemar Queiroz... O Duarte e o Monteiro não se viam há 30 anos...

Guiné 61/74 - P21371: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (7): os craques da bola...



Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra >  2ª CART / BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74) > Equipa de futebol dos graduados...

Foto (e legenda): © Carlos Barros (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mais uma pequena, pequeníssima,  história do Carlos Barros [, um de "Os Mais de Nova Sintra", 2ª C/BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74), os últimos a ocupar o aquartelamento de Nova Sintra antes da sua transferência para o PAIGC em 17/7/1974; membro da Tabanca Grande nº 815; vive em Esposende, é professor reformado];


Nos tempos livres, no Destacamento de Nova Sintra, respirava-se futebol.

A Equipa de Condutores/mecânicos era a mais "forte" mas os Graduados conseguiam vencer essa equipa... Bem, nem sempre...

Almeida, grande goleador! Os furriéis Elias, Barros, Mendonça, S. Gonçalves,...eram os craques...

Hoje valiam milhões e milhões... de cêntimos!

A fotografia da equipa de futebol é do ano de 1973 (, não tenho registo do mês...) onde se disputavam jogos, sempre renhidos,  de futebol, entre grupos de combate e os célebres jogos entre Condutores e Graduados, com resultados imprevisíveis mas sempre com "Fair Play".

Chegamos a disputar jogos de voleibol e tínhamos um campo de voleibol, muito improvisado, mas dava para entreter...

Carlos Barros
Nova Sintra 1972/74
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Nota do editor:
 
Último poste da série > 14 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21358: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (6): a evaporação das cervejas

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21370: (De) Caras (162): Maria Helena Spínola, esposa do gen Spínola, também pertencia ao MNF e chegou a fazer visitas ao mato, caso de Jolmete, em 11 de maio de 1969, juntamente com a Cecília Supico Pinto (Manuel Carvalho)



Foto nº 1 > O gen Spínola falando à tropa... Atrás de si, tem a sua esposa, Maria Helena, de saia branca, camuflado e botas da tropa; e à sua direita, a Cecília Supinco Pinto, de blusa amarela e saia-calça castanha.


Foto nº 2 > A senhora Supico Pinto a falar ao pessoal no refeitório... A  dona Helena Spinola está sentada à direita, e tem a seu lado outra senhora, de óculos escuros, que toma notas, e  que não sabemos identificar.


Foto nº 3 > A senhora Supico Pinto a falar ao pessoal no refeitório... Helena Spinola está de pé  à direita, visivelmente sorridente. 



Foto nº 4A >  Na messe. Da direita para a esquerda: sentada, uma senhora do MNF cujo nome não sabemos; a  seguir, de pé, o nosso cap Barbeitos a falar com a esposa do general Spínola; e depois, sentada, está a Cilinha Supico Pinto, como era conhecida e tratada naqueles tempos.



Foto nº 4B > Na messe... Maria Helena Spínola, vista de perfil, sentada, a falar com o comandante da CCAÇ 2366. 


Foto nº 4 > Na messe: à esquerda, de camuflado, parece ser  o major  Passos Ramos, que cerca de um ano mais tarde viria a ser cruelmente assassinado pelo PAIGC naquela zona.

Guiné > Região de Cacheu > Jolmete > CCAÇ 2366 / BCAÇ 2845, Jolmete, 1968/70) > 11 de maio de 1969 > Visita do gen Spínola e de uma delegação do Movimento Nacional Feminino, composta por 3 semhoras. incluindo a Cecília Supinco Pinto e a Maria Helena Spínola. No mesmo dia, a Cilinha visitou o Olossato.

Fotos (e legendas): © Manuel Carvalho  (2013). Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Escreveu o Manuel Carvalho (ex-Fur Mil Armas Pesadas Inf,  CCAÇ 2366 / BCAÇ 2845, Jolmete, 1968/70) (*)

(...) Tenho cinco fotos com a Cecília Supico Pinto, não sei se são todas da mesma visita, porque duas tem indicação de meados de Maio de 1969 e as outras não tem data. 

Da comitiva fazem parte o Sr. General Spínola e o então cap Almeida Bruno que na altura o acompanhava sempre e numa foto na messe julgo que está, de camuflado o Maj Passos Ramos, que cerca de um ano mais tarde viria a ser cruelmente assassinado pelo PAIGC naquela zona.

Está também a esposa do Sr. General Spínola e uma Senhora do MNF que não sei identificar.

Para além desta visita a Jolmete penso que houve uma outra em fins de 68 ou princípio de 69 mas não tenho a certeza. Como sempre foram distribuídos uns maços de cigarros,  uns isqueiros e umas palavrinhas para atenuar a crise. (...)


2. Comentário do editor LG:

Esta mulher, a Cecília Supico Pinto, já a caminho dos 50, vestia-se com elegância, cuidava da sua figura, andava sempre bem penteada, sabia a importância que tinha, no mato, naquelas circunstâncias, um "toque de feminilidade"...

Reparem, que ela nunca aparece (ou pelo menos até agora, nas fotos que temos publicado) vestida de "camuflado"!... Provavelmente vestia camuflado quando se integrava numa "coluna auto" (deve ter feito algumas, pelo que  deduzo do livro com a sua biografia, da autoria de Sílvia Espírito Santos;  e inclusivamente terá tido treino de G3...).

A esposa do gen Spínola, que devia ser uma simpatia e era uma senhora muito elegante, é a primeira vez que aparece, em fotos publicadas no blogue, integrada numa comitiva do MNF.

Maria Helena Martin Monteiro de Barros Spínola (1913 - 2002), com ascendência alemã, filha de um general e casada com um general, devia estar ainda mais familiarizada com o meio castrense do que a Cilinha, Ambas não tinham filhos. (**)

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(**)  Último poste da série > 17 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21365: (De)Caras (128): Cecília Supico Pinto e o MNF: entrevista realizada em 16/7/2005, aos 84 anos, no Hospital de Santa Maria em Lisboa, onde se encontrava internada, pelo cor inf Manuel Amaro Bernardo, da revista "Combatente": " A guerra em Angola estava ganha. A Guiné era um problema. Em Moçambique, o problema era também complicado"...

Guiné 61/74 - P21369: Esboços para um romance - II (Mário Beja Santos): Rua do Eclipse (19): A funda que arremessa para o fundo da memória

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Setembro de 2020:

Queridos amigos,
Annette Cantinaux, a paixão do Paulo Guilherme, é muito mais do que uma fiel depositária das memórias do antigo combatente. Estuda, inteira-se sobre aquele meio e aquelas populações, procura livros nas bibliotecas e livrarias belgas sobre aquela luta de libertação. Paulo dá respostas, neste texto faz uma súmula dos primeiros cinco meses. Esconde-lhe muitas coisas, as dores que sente no joelho direito, que obrigarão a intervenção cirúrgica em março; as dermatites recorrentes, tornou-se um cliente da pomada Fenergan, tem os pés inchados, até ulcerados. O sono alterou-se completamente, daí ter aprendido a dormir numa cadeira, todos os minutos de descanso contam. Vive em formação contínua com os seus Caçadores Nativos e Milícias, é forçado a praticar justiça em conivência com o régulo, aprendeu a trabalhar com um Morteiro 81, já levou um moribundo às costas e dentro em breve irá meter uma massa encefálica numa caixa de sapatos. Sempre que passa pela messe de oficiais em Bambadinca rouba jornais há três ou quatro meses, é um pretexto para pôr toda a gente a ler em Missirá e Finete. Já conhece as principais etnias da Guiné, sabe o que é uma lala, um cipó, um poilão. Comprou mesmo uma indumentária muçulmana para se juntar ao Ramadão, teve uma acesa discussão religiosa com o almani, Lânsana Soncó, mostrou como o Alcorão dispensa que quem combate pratique jejum.
Annette Cantinaux está deslumbrada por se integrar neste romance onde curiosamente a ficção é mínima.

Um abraço do
Mário


Esboços para um romance – II (Mário Beja Santos):
Rua do Eclipse (19): A funda que arremessa para o fundo da memória


Mário Beja Santos

Mon amoureuse, fico feliz por saber que o teu filho vai trabalhar em boas condições numa organização não-governamental de proteção aos imigrantes. Ainda não tenho data marcada para a minha viagem, vê se podes sensibilizar os teus filhos para passares o Natal comigo, se vieres antes de 16 de dezembro conseguirás preços mais abordáveis, regressarias a 3 ou 4 de janeiro, creio que este período é coincidente com a falta de reuniões organizadas pela Comissão Europeia. Estou muitíssimo entusiasmado por voltares a Lisboa, desta vez por minha causa e pela nossa felicidade, entre Lisboa e Bruxelas iremos descobrir onde deitar a âncora. Seguiu uma carta volumosa, conforme me tinhas pedido, fiz uma síntese dos primeiros cinco meses da minha vida na Guiné. É bastante sumário, mas estão aí os aspetos capitais de acordo com o que a memória retém, do que ficou das fotografias e dos aerogramas.

A minha chegada a Bissau e a partida num barco civil do porto do Pidjiquiti para Bambadinca. O logo ter percebido existir o imperativo das seguranças na região de Mato de Cão à navegabilidade do Geba, passarão a ser patrulhamentos quase à escala diária e casos haverá em que está a chegar uma patrulha a Missirá e prontamente segue outra para o mesmo destino. Chego ao Cuor e cai-me a alma aos pés, não é só a pobreza e as condições deploráveis em que vivem os militares e civis, vive-se em condições degradantes e altamente inseguras. Havia que encontrar respostas para melhorar tudo, até as artes da culinária, o balneário era primitivo, não havia sanitários, os abrigos tinham palmeiras podres, a escola não funcionava, não havia visitas regulares ao médico. Surgiram confrontos com o furriel mais antigo, sobretudo quando ele verificou que eu não me limitaria a fazer colunas de reabastecimento a Bambadinca ou patrulhas a Mato de Cão, passei a ir com alguma frequência a Finete, a vedação de arame farpado estava praticamente caída e as valas imprestráveis. Novo confronto com o comandante da milícia local, um Soncó vaidosão e pretensioso, encontrei felizmente dois sargentos de mão-cheia, ainda não sei que estão a nascer amizades para toda a vida, Fodé Dahaba e Bacari Soncó, em escassos meses encontram-se provas físicas da presença de colunas do PAIGC nos mesmos caminhos que nós percorremos. Três meses depois de estar no Cuor, já percorri quatro quintos do território, o quinto sobrante é onde estão as populações em locais que dão pelo nome de Madina e Belel, quase tudo mata hermética. Estou a ser oficial averiguante de um processo tétrico, uma granada incendiária deixada em Finete, ao tempo da presença de um pelotão de caçadores, num atrelado, uma criança curiosa retirou a cavilha, tem as costas e as pernas retalhadas. O insólito bateu à porta, uma noite entrou quartel adentro um soldado que fora apanhado perto de Mansoa, escapuliu-se, terá andado vários dias a correr pelas matas, descobriu a nossa estrada, nunca saberemos porque é que não foi baleado pelas sentinelas. Passei a receber com a maior das regularidades bilhetinhos com inúmeros pedidos, um deles chega-me a 20 de dezembro, o soldado Mamadu Camará terá ditado a um escriba este conteúdo: “Agradecia-lhe o obséquio por amor de tudo o que é mais sagrado neste mundo e especialmente a sua excelentíssima esposa. O pedido é o seguinte: como o meu alferes disse que tenho de ir gozar licença no mês de janeiro, gostaria de ir mas peço a vossa excelência para me ajudar, pois tenho alguns colegas que me devem dinheiro desde o ano passado e até agora não me pagaram, e para ir gozar licença preciso deste dinheiro comigo para os meus assuntos particulares que tenho de realizar na minha terra. A razão é essa que quero para que o meu senhor alferes lhes faça desconto no fim do mês, é uma importância de 900 escudos”. Chamado a esclarecer os devedores, apurou-se que ele tinha uns bons calotes pregados a outros entre Missirá, Finete e Bambadinca. Já sei o que são flagelações, já sei fazer autos de abate, em Bambadinca pediram-me para ir pondo nos meus autos de abate mantas, capacetes, lençóis, panos de tenda, botas de lona, até tesouras de corta-arame. Ainda não conheço as consequências de tantos abates apocalíticos, só mais tarde há-de chegar um helicóptero com um coronel responsável pelo inquérito, não tive rebuço de contar-lhe a verdade, será tudo arquivado. Encontrei professor, vou conseguindo cimento, chapas onduladas para os telhados dos abrigos, consegui um atrelado, fui integrado em duas operações, ambas na região do Xime, ninguém me explicou coisíssima nenhuma daquelas marchas infernais onde os guias não atinaram com qualquer objetivo.

Cherno Suane
Chegou um novo batalhão, relaciono-me muito bem com os Comandos e os meus camaradas. Um soldado autopropôs-se ser meu guarda-costas, de nome Ieró Baldé, revelou-se estimável e cordial, aproveitando as suas férias apresentou-se outro, um soldado do pelotão de Caçadores Nativos, de nome Cherno Suane, ele virá para Portugal em 1992, temos uma amizade fraterna. O régulo Malan Soncó pediu-me para eu intermediar um desejo dos Mandingas, dar novamente vida à tabanca de Canturé, não obterei acolhimento por parte dos meus superiores. Haverá também flagelação a Finete, felizmente sem consequências. Entre alguns melhoramentos, idas diárias a Mato de Cão, com a escola a funcionar, com colunas a lavar civis a Bambadinca, pois instituiu-se a visita semanal ao posto de enfermagem onde o médico dá consulta, foi uma iniciativa que calou fundo na população, dá-se o episódio que já te contei, tem o título “O Presépio de Chicri”, sou incapaz de pôr em palavras o sofrimento vivido por matar e por quase ter visto morrer o Paulo Ribeiro de Semedo naquela horrível marcha à procura de um helicóptero bendito me pedia insistentemente que lhe desse um tiro de misericórdia. Tudo em cima do Natal, fez-se festa a pensar na população de Missirá, guardei numa folha que não desapareceu um poema alusivo ao Natal de Tomaz Kin, nome literário do professor Monteiro Grilo:
“Não seja esta noite, agora e sempre,
Igual às outras noites.
Não seja esta noite, agora e sempre,
Igual às outras noites.
Tumba de carne viva em ódio amortalhada,
Anunciando sangue e pranto e morte.
Não seja esta noite, agora e sempre,
Igual às outras noites.”


Annette, também pude sobreviver graças à música que trouxe de Lisboa e às centenas de livros que guardo dentro da minha morança. Começo a conhecer a história deste povo, a guerrilha chegou cedo ao Cuor, o régulo Malan repudiou todos os convites do PAIGC. Sei que nesse ano de 1963 houve um massacre em Gambaná, dizem-me ter morrido bastante gente indefesa arrebanhada pelo PAIGC, mas não consegui apurar quem massacrou quem. Chegou um novo furriel, de nome Casanova, é hábil a aproveitar equipamentos antigos, traz tudo para Missirá, velhas casas abandonadas entre Finete e Mato de Cão. Contenho-me agora quando é necessário falar de uma descoberta horrível, o ressentimento que existe entre guineenses e cabo-verdianos. Não te quero incomodar mais com episódios dolorosos, muitos deles incompreensíveis para uma belga, do que pode levar gente habitando o mesmo solo a estarem envolvidos numa guerra de libertação da componente da guerra civil aparece habilmente camuflada.
Vou telefonar esta noite, só penso em ti, só penso na tua companhia, agora e sempre, tenho aqui a tua fotografia a meu lado, é a compensação que me alivia da distância a que estamos sujeitos, não sei por quanto tempo. Mas um dia estaremos sempre juntos, é esse o teu e o meu sonho. Gosto da maneira como tu dizes “besinhos”, encanta-me. Querias dizer “beijinhos” mas prefiro que digas “besinhos”, é mais terno e é mais teu, meu amor adorável. Teu, Paulo.

(continua)

Casal guineense sénior sentados à porta da morança

Junto da ponte de Sansão, já reconstruida, da esquerda para a direita: Mamadu Camará, Usumane Baldé, Serifo Candé, Seco Seidi, Domingos da Silva, Tunca Sanhá e Nhaga Maque

A festa do fanado em Bambadinca, 1968

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Nota do editor

Último poste da série de 11 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21348: Esboços para um romance - II (Mário Beja Santos): Rua do Eclipse (18): A funda que arremessa para o fundo da memória

Guiné 61/74 - P21368: Fotos à procura de... uma legenda (130): Da Tabanca da Lapónia à Tabanca do Atira-te ao Mar, Porto das Barcas, Atalaia, Lourinhã: Melancolia(s)... (Fotos: José Belo e Luís Graça)


Foto nº 1 > s(l, s/d > Enquanto o vento sopra (forte!) lá fora... Para apreciadores de fotos “melancólicas”, retiradas de arquivos a enterrar...  Imagem (e legenda) enviada pelo Jose Belo, em 16/09/2020, às 10:19... 



Foto nº 2 > Lourinhã > Porto das Barcas > Tabanca do Atira-te ao Mar > 8 de setembro de 2010 > 19h47 > Para as traineiras das sardinhas são horas de demandar o porto de Peniche, a escassas 7 milhas náuticas.e descarregar o pescado... Daqui, do primeiro andar do palacete dos "Duques do Cadaval", já cheguei a contar 17 traineiras ao anoitecer... No Mar do Cerro, como dizem os pescadores da minha terra (que não se dedicam à pesca da sardinha, mas à pesca do alto).

Aproxima-se o fim do verão, os dias já são mais curtos e a faina da sardinha também em breve chegará ao fim, neste ano da desgraça de 2020...  Este tempo dá-me uma melancolia danada... Faz mal ver estes pôr do sol de fim de verão...

Foto (e legenda): © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados. (Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21367: In Memoriam (371): Luís Rosa (1939-2020), ex-alf mil, CART 640 (Sangonhá, 1964/66), natural de Alcobaça... Passa a integrar a nossa Tabaca Grande, sob o n.º 718. Missa do 7.º dia, na Igreja de São de Deus, Pr. de Londres, Lisboa, amanhã, dia 18, às 19h00



Luís Rosa  (Alcobaça, 1939 - Lisboa, 2020): foi alf mil, CART 640 (Sangonhá, 1964/66)

1. Mensagem de Luis Rosa, dirgida aos editores do blogue:

Data - 16 set 2020, 08:39
Assunto - In Memoriam 




É com imenso pesar que comunicamos o falecimento de Luis Manuel da Silva Rosa, no passado dia 12 de Setembro, casado com Maria Celeste Nogueira dos Santos Silva Rosa, pai de Luis Rosa, Gonçalo Rosa e Gabriela Rosa.

As exéquias fúnebres realizaram-se dia 14 de Setembro, segunda feira, pelas 14:00 horas no cemitério de Aljubarrota (Alcobaça), de acordo com sua vontade.

Em nome de minha Mãe e meus irmãos, informo que a Missa de sétimo dia terá lugar em Lisboa, na igreja de São João de Deus, Praça de Londres, na próxima sexta-feira, dia 18 de Setembro.

Pelas limitações impostas pela pandemia actual, as cerimónias terão formato em conformidade.

Luís Rosa
 

2. In memoriam, Luís Rosa (1939-2020), escrito pelo filho, Luís Rosa:
 




Guiné > Região de Tombali > Sangonhá > CCAÇ 1477 (1965/67) > O Dacosta (ou "Jacinto") junto ao monumento da CART 640 ["Quartel ocupado e construído pela CART 640, desde 21/5/1964. (CART 640 / RAP2... Há uma outra foto, no nosso blogue, com um monumento semelhante, mas de Cacoca, "quartel ocupado e construído desde 24/6/1964 pela CART 640"].



Guiné > Região de Tombali > Sangonhá > CCAÇ 1477 (1965/67) > c. 1966 > "Benvindos a Sangonhá",,, Fotos do álnum do 1º cabo cripto, CCAÇ 1477 (Sangonha e Guileje, 1965/67)... (**) do José Parente Dacostam, ex-


Fotos (e legendas): © José Parente Dacosta (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


3. C
omentário do José Eduardo Oliveira (JERO); amigo, conterrâneo e contemporâneo (no CTIG) do Luís Rosa (***)

Duas notas:

Ao Beja Santos; Excelente recensão. Parabéns.

Ao Luís Rosa:  Que grande prazer encontrar o teu novo livro num blogue como o "nosso". Se bem te conheço, vais-te juntar brevemente à nossa Tabanca Grande. Recebi hoje o teu livro, que tiveste a gentileza de me enviar.Vou obviamente recordar os velhos de tempos da Guiné em que trocávamos aerogramas semana sim semana não para recordar Alcobaça e Aljubarrota.

Um grande abraço.
J. Eduardo Oliveira
CCaç 675 /Binta/ 1964-66.

PS - Já agora aproveito para recomendar aos "utentes" do nosso blogue os outros livros do Luís Rosa. Quem ler um dos seus livros ficará fascinado com a força da sua narração e com a informação fundamentada até ao pormenor. Depois me dirão.

19 de dezembro de 2009 às 19:03

4. Comentário do editor LG:

Mais uma terrível notícia, mais um camarada nosso que chegou ao fim da sua "picada da vida". Não nos conhecíamos pessoalmente, mas relembro aqui o comentário do JERO, já com mais de 10 anos, saudando o Luís Rosa, pelo seu livro "Memórias dos Dias sem Fim", e convidando-o a integrar a nossa Tabanca Grande. 

O Luís Rosa foi alferes miliciano da CART  640 (Sangonhá, 1964/66).  Certamente por razões da sua atarefada vida profissional e académica, o Luís Rosa não respondeu ao convite do JERO. E foi pena, porquanto não tínhamos na altura (nem até hoje) nenhum representante da CART  640. 

O Luís Rosa tinha já, no entanto, algumas referências no nosso blogue, na sequência das notas de leitura, subscritas pelo Beja Santos, relativamente ao seu livro de 2009, "Memórias dos Dias sem Fim", que fico agora com vontade de ler. Dele só conhecia um trabalho, mais académico, e mais antigo, "Sociologia de empresa : mudança e conflito"  (Lisboa : Presença, 1992, 242 pp.; coleção "Biblioteca de gestão moderna", 57).

Pelo seu currículo, vejo que tínhamos afnidades, interessando-nos por  áreas académcias como a gestão do comportamento organizacional, a sociologia do trabalho e das organizações, etc.

O Luís Rosa é um autor multifacetado, com obra que vai da ficção ao  romance histórico e do ensaio  à poesia.

Tenho hoje pena de não o ter conhecido pessoalmente. Sob minha proposta, homenageamos este nosso ilustre camarada, integrando-o, a título póstumo, na nossa Tabanca Grande, no lugar nº 818. Em meu nome, dos demais editores e colaboradores permanentes do blogue, apresento ao filho, Luís Rosa e demais família, amigos e camaradas da CART 640 os nossos sentimentos de solidariedade na dor pela sua perda. Mas a sua memória será aqui recordada por todos nós, antigos camaradas de armas.

PS - Peço ao filho, Luís Rosa, que aceite este pequeno gesto de homenagem da nossa parte e, se possível, partilhe connosco algumas fotos da álbum do pai, enquanto alferes miliciano da CART  640, que esteve em Sangonhá, região de Tombali, sul da Guiné, em 1964/66. (Sobre Sangonhá temos mais de 4 dezenas de referências no nosso blogue.) 

__________

(**) Vd. poste de 22 de dezembro de  2017 > Guiné 61/74 - P18125: Tabanca Grande (455): José Parente Dacosta, ou 'José Jacinto', ex-1º cabo cripto, CCAÇ 1477 (Sangonha e Guileje, 1965/67)... Natural da Covilhã, vive em Dijon, França... Passa a ser o nosso grã-tabanqueiro nº 764.

Guiné 61/74 – P21366: (Ex)citações (370): Rumo à guerra colonial na Guiné (José Saúde)




Dois "rangers", o Zé Saúde e o Pedro Neves

1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.

José Saúde

Rumo à guerra colonial na Guiné 

Histórias de vida 


Estávamos em finais do mês de julho do ano de 1973. Usufruíamos do facto de ter dado por terminado a instrução ao 1º grupo de cadetes, 2º turno, de futuros rangers em Penude. Seguiu-se, naturalmente, um período de descanso, sabendo, contudo, que o nosso destino passava por uma comissão militar na guerra colonial, sendo que a nossa mobilização tinha como destino o território da Guiné. 

Aconteceu, porém, que nos encontrámos, casualmente, em Lisboa, no Aeroporto de Figo Maduro. Um voo que, e não soubemos o porquê, foi adiado. Eu “desarmado”, pois estava longe de casa, fiquei, desde logo, algo conturbado, o que se justificava. E agora? Pensei! Mas de pronto o meu camarada ranger Pedro Neves, companheiro de muitas endiabradas aventuras por terras de Lamego, logo me confortou: “Levamos a bagagem e vais ficar em minha casa”. E foi assim que, solenemente, alçámos a âncora da salvação e lá partimos rumo ao seu doce lar. 

Uf! Que alívio, pensei. Pelo menos tinha um teto que me abrigasse por uns dias, ou horas. Antes essa disponibilidade do meu camarada Pedro do que regressar à minha terra natal – Aldeia Nova de São Bento – no interior do Baixo Alentejo, uma região que outrora se afirmava como o celeiro da Nação, tendo em linha de conta a quantidade de cereais que por ali se produziam anualmente.   

A casa do Pedro Neves era nos Olivais, um local não muito distante do Aeroporto de Lisboa, e ali me instalei. Claro que a hospitalidade foi “cinco estrelas”. Os pais do Pedro foram enormes. Acarinharam-me como mais um “filho”, comia, bebia, passeávamos pela capital do “império” e dormia na paz dos anjos, mesmo sabendo que a ida para o conflito era irreversível. 

Tanto eu como o Pedro Neves, pensámos que a alteração de horário do voo fosse breve, ou seja, de um ou dois dias, contudo, tal facto não aconteceu. O Pedro, ao que vim a saber, tinha por lá um amigo que orientava as idas dos camaradas mobilizados para a guerra de além-mar e foi-nos, propositadamente, colocando no final da lista de embarque. 

Mas, chegou o dia em que ele próprio, isto é, o nosso ocasional “padrinho”, terá dito ao Pedro que a partir dali já não havia razão alguma que justificasse o adiar do embarque destes jovens militares. “Preparem-se que a viagem está para breve”, avisou. E assim foi. 

A nossa hora chegou e lá partimos – 2 de agosto de 1973 - num avião rumo à guerra colonial da Guiné. Para trás ficava a construção de uma amizade, que ainda perdura, e a imagem dos seus saudosos pais que eternamente recordarei na minha alma pela forma digna, e sobretudo compreensível, como me hospedaram no seu lar.    

Quatro horas, sensivelmente, de voo e lá aterrámos no então Aeroporto de Bissalanca, seguindo-se uma viagem, creio que, e se a memória não me falha, numa carrinha militar, que nos conduziu às instalações do Quartel General (QG), o famigerado “Biafra”, como pomposamente a rapaziada alcunhava o local.  

Ali fomos recebidos como “piriquitos”, sendo que as “bocas da velhada” desde logo entoaram, com enfâse, o famoso desígnio “piu-piu-piu”. Tanto mais que os dourados das divisas não enganavam, seguindo-se uma visita à zona baixa de Bissau, mas só depois de acomodarmos os nossos haveres e procurarmos poisos para descansar, à noite, os nossos corpos. 

Com o bolso “carregado” de notas, visto que previamente havíamos recebido o pré da “embarcação” para comprar todo o fardamento de guerra, sendo que os escudos foram, entretanto, cambiados por “pesos”, eis-nos a devorar uma bela mariscada ao “toque” de umas frescas cervejolas.  

O tempo de estadia no QG foi breve. Ficou, contudo, a certeza da nossa passagem por aquele lugar “solene” e um relativo conhecimento da capital guineense. Pelo menos tivemos a oportunidade em ver os seus usos e costumes, bem como os odores de uma África quiçá inigualável. Aliás, a nossa passagem por Bissau, cidade que nos havia recebido, deu para fazermos um pouco de “ronco”, visto que nos deparámos, de imediato, que num ambiente de guerra, onde o calor imperava, a sôfrega ânsia de ingerir líquidos era algo determinante para todos os camaradas. 

Sim, aquele clima era, para nós, inovador. Neste contexto, seguimos as peugadas de camaradas já feitos ao sistema.  

Chegou a hora de partirmos rumo às nossas unidades. O Pedro foi para Binta e eu para Gabu.  

Um abraço, camaradas,

José Saúde

Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

___________

Nota de M.R.:

Vd. também o poste anterior desta série:

 27 DE AGOSTO DE 2020 > Guiné 61/74 - P21297: (Ex)citações (369): A política de misceginação e o major de artilharia Dimas Lopes de Aguiar, autor do opúsculo "Guiné Portuguesa - Terra de Lenda, de martírio, de estranhas gentes, de bravos feitos e de futuro" (1946) (António Rosinha)

 

Guiné 61/74 - P21365: (De)Caras (161): Cecília Supico Pinto e o MNF: entrevista realizada em 16/7/2005, aos 84 anos, no Hospital de Santa Maria em Lisboa, onde se encontrava internada, pelo cor inf Manuel Amaro Bernardo, da revista "Combatente": " A guerra em Angola estava ganha. A Guiné era um problema. Em Moçambique, o problema era também complicado"...




Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Meados de Maio de 1969 >  Parada do quartel de Bambadinca: visita da presidente do Movimento Nacional Feminino, Cecília Supico Pinto (1921-2011), mais conhecida por Cilinha... 

Todas as guerras têm a sua Pasionaria... A Cilinha terá sido a nossa, a da "guerra do ultramar" ... Infantilizava os combatentes tratando-os por "os seus meninos"... Em entrevista ao Expresso, de 18/2/2008, aos 86 anos, não esconde, antes pelo contrário, que tinha uma relação de grande intimidade e cumplicidade com Salazar. E dá a entender que havia gente do Estado Novo mas também comandantes militares, no mato,  que a odiavam... Talvez pelo seu excessivo protagonismo e acesso privilegiado a Salazar (que ela tratava como "príncipe" e nunca como "ditador").  Amiga do seu amigo, era capaz de interceder junto de Salazar em caso de "excessos da PIDE" (que ela diz que detestava, tal como a censura), de que foram vítimas por exemplo o casal Sousa Tavares (o advogado Francisco Sousa Tavares, "o Tareco", e a a poetisa Sophia de Mello Breyner Andresen).

A promiscuidade com o regime, a par do elitismo e classismo da direcção  do MNF, acabou por retirar-lhe credibilidade e aceitação social. Durante a guerra colonial, foi um mulher do regime, poderosa, colunável: a RTP dava-lhe honras de telejornal, as suas partidas para África eram tratadas quase como viagens de Estado...
 
Como seria natural, a lider do Movimento  branqueou o regime e a guerra, dando provas de dissonância cognitiva ... Apesar da sua frontalidade e até coragem... 

Terá dado apenas duas entrevistas à Comunicação Social no pós-25 de Abril: ao Expresso, em 2008, e à revista Combatente, em 2005, cujo  teor abaixo se reproduz, por cortesia do cor inf ref Manuel Amaro Bernardo. 

Quanto às  fotos do José Carlos Lopes, que acima reproduzimos,  são absolutamente notáveis...  A primeira é mesmo uma  foto de antologia, (O José Carlos Lopes, do meu tempo de Bambadica, foi fur mil amanuense do conselho adminitrativo da CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70). (LG)




Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Maio de 1969 > Ponte do Rio Udunduma, afluente do Rio Geba, na estrada Xime-Bambadinca > Possivelmente no(s) dia(s) seguinte(s) ao ataque (em força) ao quartel de Bambadinca, em 28 de maio de 1969,, já ddepois da visita da Cilinha. Nessa noite, esta ponte, vital para as comunicações com todo o leste da província, foi objeto do "trabalho" dos sapadores do PAIGC... Os estragos, embora visíveis, não abalaram a sua estrutura. Era uma bela ponte, em cimento armado, construída no início dos anos 50. Esta foto é "histórica". O José Carlos Lopes posou aqui para... a "posteridade", talvez na véspera de eu passar aqui  em 2/6/1969, a caminho de Contuboel... (LG)


Fotos: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. (Editação e e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Do nosso leitor e camarada cor inf ref Manuel Amaral Bernardo (n. Faro, 1939; tem 4 comissões de serviço, no ultramar, em Angola e Moçambique; é autor do livro, entre outros, «Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros; Guiné 1970-1980»,  Lisboa, Editora Prefácio, 2007, 410 pp.; tem mais de uma dezena e meia de referências no nosso blogue)

Data - 15 set 2020 16:45

Assnto - Cecília Supico Pinto

Caro Prof.:

Como no site têm falado na Cilinha, para o caso de querer lá postar, junto em anexo.
Boa saúde
Ab M B

2. Entrevista com Cecília Supico Pinto, para a revista "Combatente", em  16/7/2005 (*)

por Cor Manuel Bernardo


De seu nome completo Cecília Maria de Castro Pereira de Carvalho Supico Pinto, era mulher de Luís Supico Pinto, antigo ministro da Economia e Presidente da Câmara Corporativa. É Sócia de Honra da Liga dos Combatentes, para que foi eleita, por aclamação, na reunião da Assembleia Geral de 21 de Junho de 1971.


P.: Na sua qualidade de ex-Presidente do Movimento Nacional Feminino [, MNF], extinto em 25 de Abril de 1974, prestou um depoimento a José Freire Antunes, que foi incluído em "A Guerra de África", vol. I (1995). Gostaria de aprofundar alguns assuntos nele abordados, tal como colocar-lhe outras questões. Uma das inovações lançadas em 1961 foi a dos aerogramas. Pode clarificar melhor a concretização desta ideia?

R.: De facto lançámos essa ideia e conseguimos concretizá-la apesar das dificuldades surgidas. Ainda recentemente fui visitada pelo General Oliveira Pinto, que me ofereceu um livro sobre esse tema, resultante de um trabalho que levou a efeito. Nele lá vem referido que foi o MNF a fazer todas a edições dos aerogramas. Conseguimos a isenção da franquia postal, mas também nos disseram que tal apenas podia ir para a frente se fossemos nós a tomar conta do desenvolvimento desse projecto. 

Na altura tínhamos somente mil e quinhentos escudos em caixa ], o equivalente, a preços de hoje, em 16/9/2020, a 663,63 €...]  , mas, através da venda de publicidade nos próprios aerogramas, conseguimos editar milhões de exemplares. Vendíamos às famílias a vinte centavos [, nove cênti,os, hoje], sendo grátis para os militares. Nessa época arcámos com toda a responsabilidade e as despesas inerentes. 


E não vieram a receber subsídios do Estado para esse efeito?

Apenas cerca de quatro anos antes de 1974, face ao alargamento das três frentes de guerra, é que passámos a receber subsídios do Ministério da Defesa Nacional, assim como apoio jurídico e de contabilidade. 

A Administração Militar passou cerca de seis meses no Movimento a verificar toda a nossa documentação administrativa. Deste modo, quando acabou, o MNF tinha todas as suas contas em ordem. 

Nos primeiros anos o SPM (Serviço Postal Militar) funcionava mal, dentro de uma grande balbúrdia, onde nós ajudávamos no serviço, com várias senhoras. A certa altura colocaram lá o Major Tavares, que conseguiu dar eficiência ao serviço. Depois, ele queixava-se que nunca mais ia para o Ultramar, pois o MNF não o libertava. De facto, nós com o receio de que tudo voltasse à confusão anterior, fazíamos com que ele não seguisse para o Ultramar quando foi mobilizado. Ficou assim "demorado" por algum tempo.


Quais eram a vossas principais preocupações?

Uma das principais era o facto dos Serviços Sociais das Forças Armadas não funcionarem devidamente. Acabámos por sermos nós a empenharmo-nos nas soluções de determinadas questões. 

Uma delas era a subvenção de família, que estava prevista numa lei que não era executada. Ela estipulava que os pais dos militares mobilizados, com mais de 60 anos, tinham direito a esta subvenção. No entanto a lei não era cumprida por desconhecimento das Unidades Militares. Chegou a realizar-se uma reunião, no Governo Militar de Lisboa, com uma nossa delegada, para esclarecer a maneira como a lei devia ser interpretada.


O vosso Movimento nasceu em 1961 ligado às "vicentinas", uma obra da Igreja Católica.

Sim. Ligámo-nos às "vicentinas" cuja presidente nacional era a D. Maria da Glória Barros e Castro. Era uma obra fantástica espalhada por todo o território nacional. Foi essa a principal razão da nossa ligação e cooperação, com a finalidade de conseguirmos chegar a todas as regiões. 

Como sabe, o MNF nasceu oficialmente em Junho de 1961, quando levámos a efeito uma sessão pública na Sociedade de Geografia, com a difusão do nosso programa através da RTP e de outros órgão de Comunicação Social.


No entanto, na parte final da guerra, houve uma evolução negativa da parte de alguns sectores d Igreja em relação ao Ultramar...

Claro que nessas ocasiões acabam por surgir alguns elementos oposicionistas. No entanto, sempre tivemos óptimas relações com os elementos da Igreja, nomeadamente com os capelães militares que prestavam com eficiência o seu serviço de assistência religiosa nas Forças Armadas. Eram uns grandes "pedinchões", como nós dizíamos. Mas era tudo em defesa da melhoria das condições de vida dos militares no mato. 

Recordo que chegámos a espalhar por grande parte das cantinas e bares das três frentes de guerra aqueles jogos de bola com bonecos, os designados "matraquilhos", que eram muito apreciados. Isto além de livros, revistas e material didáctico.


Editaram também a revista "Presença"?

Sim. Começou sendo directora a Luísa Manoel de Vilhena, em meados da década de sessenta. Era uma boa revista, muito bem paginada e com bons colaboradores. 

Mais tarde editámos igualmente a "Guerrilha", um jornal mensal, que teve como directores o Martinho Simões e, depois, o Mário Matos e Lemos.


Uma das vossas preocupações foi também resolver o problema das trasladações dos militares falecidos no Ultramar...

Claro. Inicialmente tínhamos a preocupação de fotografar as campas onde eles eram enterrados para enviar às famílias e, em Angola, chegou a existir um movimento das senhoras locais para manterem as campas com flores. 

Recordo ainda que havia uma lei em relação à Guiné, em que o militar, antes de seguir para lá, tinha que assinar um documento onde afirmava que, em caso de morte, a família tinha que se ocupar da trasladação do corpo para o Continente. Telefonei ao Ministro da Defesa, General Luz Cunha e disse­-lhe: “Eu tenho aqui um documento que diz isto e eu não posso acreditar que seja verdade.” Respondeu-me: “Mande-me imediatamente esse papel!” Assim foi e nunca mais tal sucedeu.


A partir de 1967 o Exército passou a ocupar-se das trasladações para o Continente.

Sim e foi devido à pressão que fizemos nesse sentido. Nós estávamos sempre de "olho aberto". De tal modo que o Dr. Franco Nogueira afirmava que a verdadeira oposição no País éramos nós, porque chamávamos a atenção para tudo o que estava errado. E é verdade. 

Outro aspecto que também corrigimos foi o caso da vacina contra a febre amarela, que era aplicada na altura do embarque, o que era contra-producedente. Tinha que passar algum tempo para depois fazer marchar os militares para o seu destino.


Nos seus contactos pessoais com o Professor Salazar, não se apercebeu das razões por que ele nunca quis ir ao U1tramar?

Não sei porquê, já que ele tinha a paixão do Ultramar. Cheguei a dizer-lhe: “Olhe, Sr. Dr., se eu fosse a si, fazia assim, Portugal com a capital em Luanda”. Riu-se e disse. “Tenho que ir lá...; tenho todo o interesse em lá ir.”


Mas tinha receio de andar de avião...

Ele não gostava. Foi uma vez de avião, com uma senhora muito amiga, conhecida desde miúdos, que era a Geny Aragão Teixeira, mais tarde esposa do Prof. Francisco Leite Pinto, que foi Ministro da Educação Nacional. Ocorreu num 28 de Maio, em que fomos todos a Braga. Depois ela perguntou-lhe: “Então que tal?”. Resposta dele: “Foi o que fiz toda a vida, não fumar e apertar o cinto...”


Não notou uma grande diferença entre a liderança de Salazar e a de Marcello Caetano?

Claro! Julgo que o segundo não esteve à altura do que o País precisava dele, naquela época.


E a sua opinião sobre o General António de Spínola?

Foi um valente guerreiro, patriota e um bom militar em Angola e na Guiné. Nada mais do que isso. Como escritor e político deixou muito a desejar...

Para terminar poderá fazer um ponto de situação em relação à guerra no Ultramar, em 1974?

A guerra em Angola estava ganha. A Guiné era um problema e sendo ela perdida, seria muito complicado para o resto. 

Também acho que faltavam muitos meios nas Unidades, incluindo o armamento. A Guiné foi grave. A minha "Guinezinha" como eu costumo dizer, tão pobrezinha... Olhe que tenho a camisola amarela de zonas de intervenção visitadas. Cheguei a ir umas quatro vezes a Madina do Boé, a Buruntuma, a Nova Lamego e a muitas outras zonas de combate. Nunca virei a cara e posso andar em qualquer sítio de cabeça bem levantada. Muitas vezes ia à frente das colunas e cheguei inclusivamente a "picar" a estrada.

Sobre Moçambique, que era muito grande, o problema era também complicado... De qualquer maneira devia ter-se enveredado por outros rumos. Por exemplo, por que não se fizeram novos Brasis? 

Depois do 25 de Abril e durante muito tempo recebia cartas de naturais desses países, onde me diziam que gostariam de receber de volta os portugueses. O que sucedeu foi o pior que poderia ter acontecido. Foi uma tristeza. E até uma vergonha. 


Sabe que também havia muitos oficiais descontentes com a maneira como foi tratado, pelo regime, o caso da Índia...

Sim e não só. Havia também o problema das mulheres dos oficiais que faziam comissões seguidas, assim como o caso dos brancos lá residentes, que não se portaram da melhor maneira. Eu assisti a muitos desses problemas e tentava apaziguar dentro das minhas possibilidades. Mas já era uma situação demasiado complicada...


(*) Entrevista realizada em 16-7-2005, no Hospital de Santa Maria em Lisboa, onde se encontrava internada, pelo Coronel Manuel Amaro Bernardo


2. Nota do cor Manuel Bernardo dobre o falecimento de Cecília Supico Pinto (1921-2011): 


Caros combatentes:

Sobre esta Senhora, quero referir que apenas a conheci em Julho de 2005, quando fui encarregado pela revista Combatente,  da Liga dos Combatentes, de a entrevistar quando estava com baixa no Hospital de St. Maria. 

Além de ter sido publicada nessa revista, também faria parte do conteúdo do livro "A Mulher Portuguesa na Guerra (...)", editado por aquela Liga em 2008.

Desse texto realço alguns pontos importantes, nomeadamente em relação às suas diligências sobre a solução de problemas dos combatentes.

Sobre os aerogramas afirmou: 

"De facto foi o MNF a fazer todas as edições dos aerogramas. Conseguimos a isenção da franquia postal, mas também nos disseram que tal apenas podia ir para a frente se fossemos nós a tomar conta do desenvolvimento desse projecto. Nessa altura tínhamos apenas mil e quinhentos escudos em caixa, mas, através da venda de publicidade nos próprios aerogramas, conseguimos editar milhões de exemplares. Vendíamos ás famílias a vinte centavos, sendo grátis para os militares. Nessa época arcámos com toda a responsabilidade e as despesas inerentes."

Sobre as trasladações dos militares falecidos afirmou:

"(...) Recordo que havia uma lei em relação à Guiné, em que o militar, antes de seguir para lá, tinha que assinar um documento onde afirmava que, em caso de morte, a família tinha que se ocupar da trasladação do corpo para o Continente. Telefonei ao Ministro Silva Cunha e disse-lhe: «Eu tenho aqui um documento que diz isto e eu não posso acreditar que seja verdade». Respondeu-me «Mande imediatamente esse papel!». Assim foi, e nunca mais tal sucedeu. (...)"

Sobre as suas idas à Guiné, disse:

 "(...) Cheguei a ir umas quatro vezes a Madina do Boé, a Buruntuma, a Nova Lamego e a muitas outras zonas de combate. Nunca virei a cara e posso andar em qualquer sítio de cabeça bem levantada. (...)"

Cecília Supico Pinto ainda deu mais uma entrevista em 2008,que foi publicada na revista do Expresso, em 16 de Fevereiro.

Com estes destaques pretendi, nesta sua despedida, homenagear o grande esforço despendido por esta Senhora no apoio aos combatentes do Ultramar

Que descanse em paz!

Cor Manuel Bernardo
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Nota do editor: