sábado, 3 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9134: Porto de Abrigo (Carlos Rios) (5): A atribuição de Cruz de Guerra e apresentação de quadros diversos

1. Finalizamos hoje a apresentação de "Porto de Abrigo", as memórias passadas a escrito pelo nosso camarada Carlos Luís Martins Rios, ex-Fur Mil da CCAÇ 1420/BCAÇ 1857, Mansoa e Bissorã, 1965/66.


PORTO DE ABRIGO - V

Medalha da Cruz de Guerra

A Cruz de Guerra foi criada pelo Decreto n.º 2870, de 30 de Novembro de 1916, para premiar actos e feitos de bravura praticados em campanha. Esta condecoração recebeu notoriedade durante a I Guerra Mundial e durante a Guerra Colonial Portuguesa. Divide-se em 1ª, 2ª, 3ª e 4ª classe, por ordem decrescente de importância.

A Cruz de Guerra, levemente inspirada na Croix de Guerre francesa (principalmente nas cores da fita de suspensão), teve, ao longo da sua história, três tipos ou modelos diferentes, respectivamente legislados em 1916, 1946 e 1971.

O desenho desta medalha (desde 1971) na sua 1.ª Classe, é o seguinte:
- Relativamente ao anverso, ou face, é uma cruz templária, em ouro, tendo sobreposto, ao centro, um Emblema Nacional.
- O reverso tem, ao centro, um círculo carregado de duas espadas antigas passadas em aspa, cercadas de duas vergônteas de louro, frutadas e atadas nos topos proximais com um laço.
- A fita de suspensão é de seda ondeada, com fundo vermelho, cortado longitudinalmente por cinco filetes verdes de 0,0015 m de largura e equidistantes entre si e das margens da fita; largura de 0,03 m; comprimento necessário para que seja de 0,09 m a distância do topo superior da fita ao bordo inferior da condecoração, por forma a obter o alinhamento inferior das diferentes insígnias; ao centro, uma miniatura da cruz de guerra, cercada de duas vergônteas de louro, tudo de ouro.

Durante a Guerra Colonial Portuguesa, foram entregues as seguintes medalhas da Cruz de Guerra:

- Exército: 2634
- Armada: 68
- Força Aérea: 273

OBS: - Texto e imagens retirados da Wikipédia, com a devida vénia.


Que mentira!
Que iniquidade!


Esta condecoração que me foi aposta ao peito por um dos mais altos dignitários da nação naquele dia de Portugal, passado algum tempo perdeu a cor do Ouro. Seria mesmo ouro aquela medalha que lá está para casa com uma cor parecida com o aço?

Acima de tudo
Os homens passam.
As instituições ficam e podem sempre melhorar.
Que viva Portugal

FUR. MIL. DE INFANTARIA
CARLOS LUÍS MARTINS RIOS

Condecorado com a Cruz de Guerra de 1ª classe, porque tendo tomado parte em numerosas acções de combate, como comandante da Secção do Grupo de Combate Especial, para o qual se ofereceu, se revelou um graduado com excelentes qualidades de Comando e de combatente. Marchando normalmente a sua secção na testa das forças empenhadas, exposto portanto a maiores perigos, soube o Furriel Rios incutir-lhes confiança, pelo ardor combativo que demonstrou nas acções de fogo, pelo exemplo que constantemente lhes deu e pelo entusiasmo com que cumpria as missões que lhe foram dadas, mesmo nas situações mais críticas. É digna de realce a acção deste militar em diversas operações nomeadamente «Ferro», «Estopim» e «Espetro».
Tomou parte na operação «Ferro» voluntariamente, pois encontrava-se inferiorizado fisicamente e accionou uma armadilha durante a progressão para o objectivo o que em nada contribuiu para alterar o optimismo com que sempre encarou as acções de combate.
Detectadas as nossas tropas nas proximidades do objectivo, lançou-se o Furriel Rios, de rompante, com a sua Secção sobre a base inimiga onde elementos blindados abrigados reagiam ao assalto, com volumoso fogo de armas automáticas e bazucas, desalojando-os e pondo-os em debandada, com baixas. Destruído o objectivo e já no regresso ao Aquartelamento, foi a cauda da força flagelada com volumoso fogo, quando atravessava um descampado. Acorreu prontamente o Furriel Rios à retaguarda incentivando a reacção das nossas tropas, e conseguiu que a parte do Grupo flagelado manobrasse com rapidez sobre o inimigo, que perante a ameaça de envolvimento debandou, furtando-se ao contacto. Mostrou assim serena energia debaixo de fogo, coragem, sangue-frio e desprezo pelo perigo.
Durante a operação «Espectro», em que tomou parte também voluntariamente, foi o Furriel Rios vitima da sua dedicação e espírito de combatividade ao ser gravemente ferido à queima-roupa quando tentava capturar um elemento inimigo que avistara em fuga, elemento esse que explorado convenientemente certamente contribuiria para um melhor cumprimento da missão. Pelos motivos apontados, considera-se o Furriel Rios como um militar voluntarioso, abnegado, corajoso e cumpridor dos seus deveres, pelo que se tornou digno da maior consideração pela parte dos seus superiores e admirado pelos seus subordinados, constituindo assim um exemplo vivo do Soldado Português.



Apresentação de quadros diversos



Para que as gerações futuras repudiem as guerras e não esqueçam!
Em Carnaxide, 11 de Março de 2011
Carlos Rios

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Nota de CV:

Vd. postes da série de:

23 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9082: Porto de Abrigo (Carlos Rios) (1): Dedicatória, início da vida militar e viagem para a Guiné

26 de Novembro de 2011> Guiné 63/74 - P9097: Porto de Abrigo (Carlos Rios) (2): A nossa estada em Fulacunda

29 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9112: Porto de Abrigo (Carlos Rios) (3): A nossa estada em Bissorã e Mansoa, e as baixas em combate
e
1 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9124: Porto de Abrigo (Carlos Rios) (4): Troca de mensagens

Guiné 63/74 - P9133: Agenda cultural (174): Museu da Marinha, 10 de Dezembro, sábado, às 11 h: Cinquenta anos da invasão de Goa: a acção da Armada: conferência do Cmdt Rodrigues Pereira




1. Breve nota curricular sobre o orador, o Capitão-de-Mar-e-Guerra José António RODRIGUES PEREIRA, actual Director do Museu de Marinha

(i) O Comandante Rodrigues Pereira nasceu em Lisboa em 7 de Junho de 1948 e entrou para a Escola Naval, como Cadete, em 1 de Setembro de 1966;~


(ii) Foi promovido ao actual posto em 27 de Julho de 1999, tendo passado à situação de Reserva, por limite de idade, em 7 de Junho de 2005;

(iii) Especializou-se em Electrotecnia em 1971-72, frequentou o segundo Curso Geral Naval de Guerra do ano lectivo de 1981-82 e o curso conducente ao Mestrado em Estratégia no ISCSP/UTL nos anos lectivos de 1988-90; (...)

(iv) Prestou serviço em diversas unidades navais, algumas em zona de conflito, salientando-se os embarques nos NRP Porto Santo e Boavista nos Açores (1970-71), NRP Jacinto Cândido em Moçambique (1973-75), NRP Afonso Cerqueira em Timor (1975-76), NRP Comandante Hermenegildo Capelo (1977-78), imediato dos NE Vega (1984-85), NE Polar (1985-86), e do NRP São Miguel durante a 1ª Guerra do Golfo (1990-91), participando nas operações de embargo ao Iraque decretadas pela Organização das Nações Unidas; desempenhou os cargos de comandante dos NRP Zaire (1979-82) e NE Polar (1986-88);

(v) Foi professor efectivo da Escola Naval, da cadeira de História Naval, de 1982 a 1990, regendo ainda as cadeiras de Ciências Sócio-Militares (Liderança) e de Organização;

(vi) Desde muito novo que se dedica à investigação de temas relacionados com a história marítima e a navegação; (…) 

(vii) Proferiu diversas conferências sobre temas de História e Estratégia em diferentes instituições e organismos no país e no estrangeiro; tem publicados mais de meia centena de trabalhos sobre aquelas matérias, alguns em publicações estrangeiras;

(viii) Publicou os livros: (a)Wenceslau de Moraes, o Marinheiro e a Armada do Seu Tempo, Fortalezas Marítimas da Figueira da Foz, (b) Campanhas Navais Portuguesas (2 volumes) 1793-1807 e 1808-1823; (c)) Portugal no Mar, Nove Séculos de História, e ainda (d) volume da História da Marinha Portuguesa: Viagens e Operações Navais (1139-1499); 

(ix) Membro efectivo da Classe de História Marítima da Academia de Marinha e membro da Comissão de Estudos Corte-Real e da Secção de História da Sociedade de Geografia de Lisboa; membro do Conselho Consultivo da Comissão Portuguesa de História Militar; foi o representante da Marinha na Comissão organizadora dos 200 Anos das Invasões Francesas;

(x) É professor da Escola Naval no curso de pós-graduação em História Marítima e da Universidade Autónoma de Lisboa na pós-graduação em Arqueologia Náutica; é ainda conferencista convidado do Instituto de Estudos Superiores Militares; (...)

(xi) O comandante Rodrigues Pereira é Director do Museu de Marinha desde 7 de Fevereiro de 2006. 

Fonte: Sítio da Câmara Municipal de Aveiro

Guiné 63/74 - P9132: Blogoterapia (193): Porque somos um país de marinheiros, congratulemo-nos com a recuperação dos pescadores das Caxinas (Henrique Cerqueira)

1. Porque todos os portugueses, mesmo aqueles que nunca viram o mar, terão no seu sangue resquícios de antigos marinheiros, porque nós ex-combatentes fomos transportados nos porões de navios que sulcaram as águas dos oceanos a caminho de África e da Ásia, não é despropositado publicar esta mensagem, vinda de um camarada que de algum modo se sentiu tocado pelo final feliz de uma desgraça anunciada.

Marginal de Leça
Foto: Carlos Vinhal

2. Mensagem do nosso camarada Henrique Cerqueira (ex-Fur Mil da 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, 1972/74), com data de 2 de Dezembro de 2011:

Caro Camarada Carlos Vinhal
Hoje é um dia de grande felicidade tanto para mim como, creio eu, para todos os portugueses.
Não sei camarada Vinhal se é ou não motivo para ser publicado mas na realidade eu tinha mesmo que expressar esta alegria para além do meu círculo familiar.
Vamos então ao assunto que origina tão grande alegria.

Todos ouvimos e lemos as notícias em relação ao desaparecimento dos nossos pescadores das Caxinas. Ora hoje mesmo temos a feliz noticia de que todos foram salvos após longa e, de certeza, angustiante espera em pleno mar alto.

Tenho andado angustiado e revoltado com toda esta polémica dos cortes aprovados do Orçamento de Estado, pois que de uma forma ou outra todos seremos afectados e vilipendiados dos nossos bens que tanto nos custou amealhar, no entanto quando surgiram as noticias do desaparecimento destes trabalhadores do mar todas as minhas angústias e raivas passaram para segundo plano.

Hoje quando estava a almoçar fui atingido com a felicidade de saber do salvamento dos nossos pescadores, daí eu resolver escrever estas letras para de certo modo homenagear estes camaradas que foram salvos, suas famílias e assim como todos os pescadores do nosso país.

Não tenho familiares na faina da pesca, mas trabalhei vinte e quatro anos em Matosinhos com ex-pescadores e familiares de alguns ainda no activo. Sempre vivi de perto as suas angústias e tristezas.

Camarada Vinhal, se achares que não vale a pena publicar, estou de pleno acordo, pois só pelo facto de escrever estas linhas, considero que prestei uma singela homenagem a esses Homens do Mar.

Um abraço para todos os tertulianos e um especial para ti que também és um homem ligado ao Mar.
Henrique Cerqueira
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 18 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9060: Blogoterapia (192): Em dia dos meus anos, na medieva Ucanha, lembrando tantos e bons amigos, incluindo o malogrado soldado Napoleão, da minha companhia, a CART 6250, Mampatá, 1972/74 (José Manuel Lopes)

Guiné 63/74 - P9131: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (39): A poesia e a liberdade: Conferência de António Graça de Abreu, 2ª feira, 5 de dezembro, às 18h30, na BMRR, Lisboa





1. Mensagem do nosso camarada e amigo António Graça Abreu, com data de 1 de Dezembro:


Assunto - Ciclo Conferênci​as "A Poesia e a Liberdade" na BMRR


 Luís, caríssimo: Podes dar divulgação da minha conferência entre o nosso pessoal ?
 Agradeço muito. (...) Forte abraço amigo,


António Graça de Abreu


2. Anúncio do PEN Club Português:


Prezados Consócios,


No final de uma série de conferências que constituíram um verdadeiro exercício de prática poética em numerosas modulações de assinalável qualidade, temos o prazer de anunciar a última intervenção, que nos apresentará esse verdadeiro Outro linguístico e poético, a
descobrir pela mão de quem conhece profundamente a cultura e literatura
chinesas.


Contamos com a vossa presença!


Saudações muito cordiais,


A Direcção do PEN


Conferência: "Traduzir os poetas da China, tradução, reinvenção e fascínios"


Local: Biblioteca Museu República e Resistência


CMLX | DMC | DAC | Divisão de Rede de Bibliotecas
Rua Alberto de Sousa,
nº 10A - 1600-002 Lisboa
Telefone: 21 7802760
http://blx.cm-lisboa.pt 


3. O nosso querido camarada e amigo António Graça de Abreu (AGA) [, aqui na foto à esquerda com a esposa, a dra. Hai Yan ] gostaria, mais uma vez, de poder contactar com a presença dos amigos e camaradas da Guiné na sua conferência, no Biblioteca Museu República e Resistência (BRRR)...A entrada é livre. 


O nosso AGA é um conhecido sinófilo: ele auto-intitula-se "sínico mas não cínico", e tem vindo a traduzir alguns dos maiores poetas clássicos chineses. 


Permitam-me que destaque, entre outros,  o seu livro, publicado pelo Instituto Cultural de Macau,  Poemas de Li Bai - tradução, prefácio e notas de António Graça de Abreu, 2ª edição (revista e aumentada), 1999. (1ª edição, 1990). Este trabalho mereceu-lhe o Grande Prémio de Tradução da Associação Portuguesa de Tradutores e do Pen Club, 1991.



Teve a gentileza de me oferecer um exemplar autografado desta 2ª edição, com as seguintes simpáticas palavras: "Ao Luís Graça, estes poemas de paz de um homem e chinês do Séc. VIII que, como nós, também conheceu a guerra. A Afmiração, a amizade do António Graça de Abreu, Estoril, Fev. 2010"...


Para que não se diga que estas coisas não têm nada a ver connosco... e com a nossa Guiné, aqui vai um dos poemas, deste poeta maior, universal, em cuja poesia a guerra, a liberdade, a solidão e o amor são referências muito fortes...


Para além da Grande Muralha


Ele monta um cavalo branco  junto ao Fortim Dourado,
ela vagueia em sonhos entre nuvens e areias do deserto.
Insustentável tristeza ao pensar
no guerreiro amado, lá longe na fronteira.
Pirilampos, voando ao acaso, invadem sua janela,
lenta, a Lua atravessa o céu, sobre os seus aposentos.
Esfarrapam-se as folhas de paulóvnia verde,
rebentaram, secaram os ramos de vime tenro.
Todos os dias, em segredo, ela chora,
embora saiba que todas as lágrimas são inúteis.


Li Bai


In: Poemas de Li Bai, 2ª ed., 1999, p.  257. (trad. de António Graça de Abreu).


4. Sublime: Todos os dias, em segredo, ela chora,/ embora saiba que todas as lágrimas são inúteis. Isto é poesia, meus amigos,  com 14 séculos em cima (neste cantinho à beira mar plantado, no Séc. VIII, já andavam por cá os mouros, com os seus guerreiros mas também com os seus poetas)...


Acrescenta o nosso AGA, em rodapé, no supracitado livro, a seguinte nota erudita:


"O tema da mulher que aguarda, triste, o regresso do seu amado que partiu para a guerra com os bárbaros do Norte, surge com frequência na poesia de Li Bai e de outros poetas da dinastia Tang [618-906]. Com aspectos diferentes encontramo-lo na nossa poesia medieval quando o fossado, as expedições guerreiras contra os mouros, levavam os soldados  para longe das suas companheiras".
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Nota do editor:

Último poste da série > 13 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9037: Os nossos Seres, Saberes e Lazeres (38): Palavras de um senhor defunto, um livro de Mário Serra de Oliveira (5)

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9130: Se bem me lembro... O baú de memórias do José Ferraz (12): Os azares de um Primeiro, periquito, que apanhou a Flor do Congo, na sua primeira viagem a África...

1. Outra história do Zé Ferraz, português radicado nos EUA desde 1970 (vive atualmente em Austin, Texas), ex-Fur Mil Op Esp, CART 1746 (Xime, 1969; CCS/QG, Bissau, 1969/70)(*)


Durante os fins de semana trabalho dois turnos por dia,  sábados e domingos,  16 horas respectivamente, num centro de reabilitação (para homens) a que clinicamente se chama aqui Men's Intensive Residential Treatment,  com uma duração  de 28/30 dias por paciente. Portanto tenho tempo para me entreter.

O Blogue ajuda-me psicologicamente a distanciar-me emocionalmente destes doentes e evitar as chamas Transfer and countertransfer issues... E é evidente que, à medida que me embrenho a ler os postes,  a minha memória acorda e é um ver se te avias...

Lembrei-me hoje de outra anedota nos meus tempos do QG-CTIG...

Apareceu na messe de sargentos  um Primeiro,  periquito,  recém chegado de Lisboa. Aparentemente ninguém conhecia; nem os outros Primeiros porquanto este pobre tipo tinha passado a maior para do seu serviço na Guarda Nacional Republicana que eu detestava por experiências passadas quando nós,  como estudantes,  nos anos 60,  fazíamos manifestações contra a ditadura do Salas... Enfim essa e outra história...

Ora bem,  o nosso Primeiro nunca tinha estado em África e muito menos com a nossa malta... Era como um camelo a olhar para um palácio...

Um dia, à conversa,  ele pergunta-me, em tom de confidência:
- Ó nosso Furriel, eu tenho um problema e não sei o que fazer...
- Ó meu Primeiro - disse-lhe eu - conte-me lá o que se passa a ver se eu o posso ajudar...

Diz-me ele:
- É que nestes últimos dias me apareceu esta merda nos sovacos e nas virilhas que me dá muita comichão e cheira mal,  há tres dias que não tomo banho...
- Ó meu Primeiro - respondi-lhe eu - o que o senhor apanhou é o que nos chamamos a Flor do Congo... É uma micose...
_ E, o nosso Furriel,  isso é perigoso?...
- Muito! - disse eu...
E agora pergunta o Primeiro:
- O que é que eu faço ?...
- Bom - disse-lheu - a Flor do Congo é um fungo e o que o senhor precisa é de lavar o corpo todo com água pura... Por exemplo,  o senhor compra o sabão encarnado e, como estamos na época da chuva,  quando estiver chover bem,  o primeiro ensaboa o seu corpo com o sabão e depois deixa que a chuva lave o corpo....

Passados uns dias aí estava o Primeiro,  nu em pelota,  fora do seu quarto,  na rua que passava em frente da messe de sargentos e ia para a messe de oficiais,  a lavar o corpo com o sabão encarnado e a malta na messe,  todos a rir...
- Ó Furriel como é que eu lavo a rego do cu ?... - Dizia-lhe eu:
- Meu Primeiro,  dobre-se prá frente,  ponha-se de cu pró ar e deixe que chuva lhe lave o cu ...

Mais gargalhas e o Primeiro nem se quer se deu conta .... Nisto, era noite, aí vem um carro, dá a curva e os farois batem no cu branquinho do Primeiro,  periquito ...
Mais gargalhas... O problema,  ouvimos mais tarde,  foi que a esposa de um oficial era passageira nessa viatura e aparentemente ficou mal impressionada com a brancura do cu do Primeiro e,  possivelmente o resto que viu,  porque o Primeiro não se perturbou com nada,  o que ele queria era ver-se livre da comichão...
Um forte abraço, Zé.
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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 1 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9123: Se bem me lembro... O baú de memórias do José Ferraz (11): Uma cena do Júlio, em combate: Furriel, os meus t... ?!

Guiné 63/74 - P9129: O nosso fad...ário (4): O Fado da Orion (J. Pardete Ferreira, ex-Alf Mil Médico, 1969/71)

1. Há tempos o nosso camarada   J. Pardete Ferreira, (ex- Alf Mil Med, CAOP, Teixeira Pinto; HM241, Bissau, 1969/71) mandou-nos a letra do Fado da Orion. Já foi publicada no poste P8966, na secção Blogpoesia (*)... Mas hoje queremos recuperá-la para a secção O nosso fad...ário (**).

E esperamos um dia poder ouvi-la cantar por um dos nossos fadistas, num dos nossos encontros ou até, quem sabe, numa "grande noite do fado dedicada à Guiné"...


Uma explicação é devida pelo autor da letra:


(...) " O Fado da Orion foi escrito em Homenagem ao Comandante Faria dos Santos. A LFG [Orion] passou mais de um ano acostada ao molhe do Pidjigiti porque tinha cedido à [LFG] Batarda um dos motores. Quando o recebeu de volta ou ele foi substituído por um novo, já não posso precisar, fez uma viagem experimental e de contrabando 'a acreditar nos praticantes da má-língua' e de seguida foi o navio almirante da ida a Conacri [, Op Mar Verde, em 22 de Novembro de 1970,]  sob o Comando de Faria dos Santos, mais tarde Comandante do porto e, em seguida, Governador Civil de Aveiro. Poeta e grande amigo, recebia a jantar (e bem) um pequeno número de amigos na torre, onde, no final, a poesia expulsava o álcool. Ele foi, igualmente, a nossa chave de acesso à Base Naval de Bissau onde, às quintas-feiras,  havia jantar melhorado e aberto a convidados" (...)



Guiné > Região de Tombali > Rio Cacine > 1971 ou 1972 > A LFG Orion é (ou era, uma vez que já não existe) como a Nau Catrineta: tem (tinha) “muito que contar”, do Cacheu a Cacine, passando por Conacri… Dois camaradas nossos, o Manuel Lema Santos (como 2º Ten RN, e o Pedro Lauret  (como 2º Ten) foram seus Imediatos  embora em épocas (1966/69 e 1971/73, respetivamente)…

Nesta foto vemos o actual comandante reformado, Pedro Lauret, em 1971 ou 1972, então oficial imediato do NRP Orion (1971/73), na ponta do navio, a navegar no Rio Cacine, tendo a seu lado o comandante Rita, com quem ele faria a primeira metade da sua comissão na Guiné. "Um grande homem, um grande comandante" (PL)… 

O 1º Ten  José Manuel Baptista Coelho Rita foi comandante do NRP [, Navio da República Portugesa,] Orion, de 7/12/1970 a 15/10/1972, tendo substituído o 1º Ten Alberto Augusto Faria dos Santos (que comandou a Orion, de 6/12/1968 a 7/12/1970) (Fonte: Wikipédia > NRP Oríon).

Mas nem só o Pardete Ferreira matava a fome e a sede no bar da Orion... Também o nosso amigo e camarada Paulo Santiago já aqui contou, em 2006, como se tornou habitué da Orion sempre que ía a Bissau (***)...

Foto: © Pedro Lauret (2006) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

2. Fado da Orion


Letra: José Pardete Ferreira 

["1ª parte e Refrão escritos em Bissau em Novembro de 1970. 2ª parte escrita em Setúbal na madrugada de 15 de Dezembro de 1997. Para ser cantado com a Música do Fado do Cacilheiro, do Maestro Carlos Dias"].

Adapt do Fado do Cacilheiro

[Letra : Paulo Fonseca (****); música: Carlos Dias]

[Há várias criações deste fado - do José Viana ao Antónioo Mourão, do Tristão da Silva ao Nuno da Câmara Pereira, ... Talvez a mais conhecida seja a do Zé Viana, justamente imortalizado como o Zé Cacilheiro. Veja-se aqui um vídeo, de 1966, que passou na RTP Memória, e está disponível aqui, no YouTube]



Tristes noites de Bissau,
Neste clima tão mau,
Passá-las não há maneira,
Sem comer arroz, galinha.
Ou então ir à Marinha
Aos jantares da quinta-feira!


Às vezes um Comandante,
Bom amigo, bem falante,
Obriga uma pessoa,
Com uma grande bebedeira,
Pensar que o Ilhéu do Rei
Fica em frente de Lisboa.


Refrão

Ser marinheiro
De LFG no estaleiro,
Sem motores nem cantineiro,
Junto ao cais sem navegar,
E esperando,
A comissão foi passando,
Ai!, os amigos engrossando,
Com o Geba a embalar.


Quando vinha dessa Terra
E voltava à minha Serra,
Nem eu queria acreditar !
Virei-me ainda p'ra ver,
O meu Adeus lhe lançar
E também lhe agradecer:


Com meu suor derramado
No teu chão, tão maltratado,
Deixo-te votos amigos
E, também, as minhas preces,
'squecendo rancores antigos,
Por ti, Guiné, que mereces.


Refrão...
____________________

Notas do editor:
 
(*) Vd. poste de 30 de Outubvro de 2011 > Guiné 63/74 - P8966: Blogpoesia (163): Fado da 'Orion' (José Pardete Ferreira)

(**) Último poste da série > 1 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9122: O nosso fad...ário (3): Fado Sangue, suor e lágrimas (Manuel Moreira, CART 1746, Ponta do Inglês e Xime, 1968/69)

(****) Letra de Paulo Fonseca, recuperada aqui (com a devida vénia):

Fado do Cacilheiro

Quando eu era rapazote,
Levei comigo no bote
Uma varina atrevida,
Manobrei e gostei dela
E lá me atraquei a ela
P’ró resto da minha vida.

Às vezes a uma pessoa
A idade não perdoa,
Faz bater o coração
Mas tenho grande vaidade
Em viver a mocidade
Dentro desta geração.


Refrão

Sou marinheiro
Deste velho cacilheiro,
Dedicado companheiro.Pequeno berço do povo,
E, navegando,
A idade vai chegando,
Ai…
O cabelo branqueando,
Mas o Tejo é sempre novo.

Todos moram numa rua
Mas eu cá não os invejo,
O meu bairro é sobre as águas
Que cantam as suas mágoas
E a minha rua é o Tejo.

Certa noite de luar
Vinha eu a navegar
E, de pé junto da proa,
Eu vi ou então sonhei
Que os braços do Cristo-Rei
Estavam a abraçar Lisboa.

Refrão

A que chamam sempre sua,

Guiné 63/74 - P9128: Notas de leitura (307): Dois Anos de Guiné - Diário da Companhia de Caçadores 675, por Fur Mil Oliveira (4) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Novembro de 2011:

Queridos amigos,
Cumpri o gostoso dever de pôr em recensão o diário de JERO, primeiro volume.
Devo esta honra ao confrade Belmiro Tavares que me passou para as mãos o seu exemplar. É indubitavelmente um documento histórico, no mínimo uma cópia devia ir para o Arquivo Histórico-Militar, talvez mesmo para a Biblioteca do Exército.
Naquele tempo ninguém imprimia em tipografias documentação classificada como secreta e que aparece neste volume com a chancela de “Confidencial”.
Perguntei ao Belmiro Tavares por onde andava o segundo volume. Não terá sido escrito, o JERO guardou apontamentos que estão na base do seu livro de que aqui já se fez referência “Golpe de Mão(s)”.
Sinto-me honrado por este serviço prestado ao blogue e à literatura da guerra da Guiné.

Um abraço do
Mário


Um documento histórico, o diário da CCAÇ 675, o diário de JERO (4)

Beja Santos

O diário de JERO, como vimos anteriormente, iniciou-se em Maio de 1964, quando a CCAÇ 675 partiu de Évora para embarcar. No seu precioso documento, nunca se percebe as motivações que o levaram a compendiar os seus apontamentos pessoais e o seu olhar sobre o historial da Companhia. No final deste primeiro volume ele anota minuciosamente citações e referências elogiosas (foram muito abundantes), textos de relatórios, louvores, com especial destaque para o louvor dado à Companhia pelo Comandante Militar em Julho de 1965 e que tem o seguinte teor: “A CCAÇ 675, pela notável eficiência, entusiasmo e bravura como tem cumprido a sua missão. Tendo entrado em sector numa fase em que o IN, fortemente moralizado e aguerrido, se considerava absolutamente senhor da situação, conseguiu mercê do ritmo impressionante e forte determinação em que actuou, modificar completamente o aspecto operacional da sua zona de responsabilidade. Batendo contínua e sistematicamente todas as regiões do sector, procurando infatigavelmente o contacto com o IN, destruindo-lhe as suas bases, instalações e reabastecimentos, fazendo nomadizações prolongadas, etc., desorganizou-o e desmoralizou-o e este foi a pouco e pouco perdendo a iniciativa que passou toda praticamente para as NT (…) Como consequência lógica da sua brilhante actuação adquiriu enorme prestígio e inspirou confiança às populações, de princípio, devido à actividade inimiga, se tinham refugiado no mato e no país vizinho e que principalmente a partir de Março de 1965 começaram a apresentar-se às NT. É digno de maior elogio a organização, método, esforço e carinho, com que quase só à custa dos seus meios e disponibilidades materiais, tem procurado criar condições de vida aos nativos apresentados”.

Espírito atento, caracteriza perfis, conta anedotas, explora o humor na guerra, regista as baixas e o material perdido. Mas também os actos de bravura, como descreve no final do ano de 1964, vale a pena transcrever o que ele anotou: “Foi notável e a todos os títulos digna de louvor a acção do 1.º Cabo indígena n.º 8/64-A, Manuel Gonçalves, que embora ligeiramente ferido e combalido, pois seguia na viatura sob a qual rebentou a mina, respondeu rapidamente ao fogo inimigo. Sendo projectado do Unimog onde seguia, não largou a sua metralhadora Madsen, abrindo fogo logo que caiu no chão. Também o Soldado indígena Mamadu Bangorá se portou valentemente demonstrando uma coragem e sangue frio dignos do maior elogio, pois conseguiu em circunstâncias particularmente difíceis e com risco da própria vida, retirar todos os seus camaradas feridos do local do rebentamento da mina. Depois de transportar os feridos para um local mais seguro, teve a preocupação de voltar junto da viatura que ardia e que podia explodir de um momento para o outro, para recolher todo o material de guerra disperso pelo chão, evitando assim que pudesse ficar nas mãos do inimigo. É também digno dos maiores elogios o comportamento do 1.º Cabo 2231/63, Craveiro, que embora imobilizado por ferimentos graves, não deixou de comandar os seus camaradas, recomendando-lhes serenidade. Apesar de ser dos feridos de maior gravidade, nunca soltou um queixume, pedindo para que os restantes camaradas fossem primeiramente tratados, revelando assim um espírito de sacrifício e abnegação aliado a um sentimento de cumprir, verdadeiramente excepcionais”.

Estamos em Março, JERO regista ao pormenor os acontecimentos do dia 21, a festa da CCAÇ 675, foi enorme a alegria da população, quer a de Guidage quer a de Binta, esse júbilo fazia apagar muito sofrimento. Em 24, há uma batida na região de Faer, verificaram com alguma surpresa que a bolanha de Alabato estava cultivada, na progressão, junto de capim queimado encontrar um caminho, cedo começou a reacção do inimigo que foi rechaçado, prosseguem em quadrado, indiferentes ao tiroteio, houve a registar quatro acções de fogo em curto espaço de tempo, foram destruídas nesta acção quatro casas de mato recentemente abandonadas. Em 31 de Março vem no diário: “Binta repovoou-se lenta mas firmemente e a sua tabanca, há longos meses abandonados e invadida pelos tentáculos da floresta próxima, sofreu uma “aragem de limpeza” que lhe dá um aspecto rejuvenescido ao fim de poucos dias. Brancos e negros, trabalham lado a lado entusiasticamente. A população de Binta cifrava-se em 170 indivíduos”.

Há a registar no dia 10 de Março o rebentamento de uma mina no cruzamento da estrada Bigene-Guidage, o Unimog ficou inutilizado. Dias antes, na região de Ujeque, um grupo inimigo foi emboscado pelo Grupo de Combate da guarnição de Guidage tendo sido abatidos dois inimigos e capturada mais uma pistola-metralhadora Thompson. O inimigo não dorme, depois de uma segunda visita que a CCAÇ 675 faz a Sambuiá, onde houve novamente destruição de casas de mato e se procedeu à apreensão de algum armamento e documentos, no dia 11, uma coluna que se dirigia a Guidage, teve no Cufeu uma mina comandada, houve uma explosão violentíssima, resultou um ferido sem gravidade.

Estamos a caminho de um ano de comissão. JERO elabora o retrato de algumas das figuras mais curiosas da Companhia, destaque para o soldado atirador número 2226/63, António Machado de seu nome, mais conhecido por Nhaca. Ele regista: “O seu retrato físico descreve-se com meia dúzia de palavras: alto, muito magro, rosto ossudo de traços mongóis (também lhe chamam Chu-en-Lai por causa disso), óculos na ponta do nariz, cabelo liso pouco assente, e umas longas pernas, muito finas e algo tortas”. Ao que parece, o Machado era cliente assíduo da enfermaria, mordido pela curiosidade, passou de doente profissional a curioso de enfermagem, quis praticar como ajudante de enfermeiro. No posto de socorros, em Guidage, repetia com frequência aos nativos que era o enfermeiro Machado, passou a ser conhecido pelo doutor e por troca de uma injecção os doentes do Senegal traziam-lhe uma galinha. Acontece que um dia até se esqueceu de uma agulha intramuscular e foi a correr atrás da bajuda, levantou-lhe o pano desabridamente e tirou-lhe a agulha.

Nesse mês de Maio saiu um número especial de “O Sabre” com artigos do capitão Tomé Pinto, do alferes Belmiro Tavares, do soldado Perfeito. Todos convergem para o mesmo ponto: missão cumprida. Agora já não se esconde que a tropa acusa o esforço desenvolvido depois de um ano de Guiné. Embora com elevado moral e um nível sanitário razoável, já se fazem actualmente com dificuldade patrulhamentos apeados superiores a 15km, quando inicialmente se faziam 30 a 40km com um certo à vontade, regista JERO que também anota a seguinte observação: tendo sido exposto pelo nosso Comandante de Companhia a necessidade das Praças gozarem períodos de licença semelhantes aos dos quadros, não se conseguiu até agora solução para o problema que seria, além de tudo mais, um justo prémio para aqueles que em todas as circunstâncias correspondem com valentia e generosidade a tudo o que lhes é pedido. Caracterizando o inimigo, esclarece que o seu reduto principal continua a ser a região de Sambuiá, infelizmente não se dera continuidade à acção de 5 de Janeiro passado.

Foi neste local onde durante cerca de um ano - Julho de 64 a Julho de 65 - foi escrito o nosso "Diário".
Já não me lembro da "marca" da máquina de escrever. Sei que o teclado era "hcesar". Ao fundo, decorando a parede, estão uns calções e amuletos diversos de alguém que teve um "mau encontro" com a tropa do "Capitão de Binta". As letras que sumidamente completam a decoração dizem: "Nem com mezinhos se safam".

E este diário termina com uma frase que está em cima da secretária do Comandante de Companhia: “Vitória é sinónimo de vontade”.

Gostei muito do diário de JERO, pela autenticidade e pela camuflagem da escrita. Afinal, as surpresas continuam nesta literatura que durante décadas jazeu nos arquivos dos protagonistas.
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Nota de CV:

Vd. postes da série de:

21 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9071: Notas de leitura (304): Dois Anos de Guiné - Diário da Companhia de Caçadores 675, por Fur Mil Oliveira (1) (Mário Beja Santos)

25 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9094: Notas de leitura (305): Dois Anos de Guiné - Diário da Companhia de Caçadores 675, por Fur Mil Oliveira (2) (Mário Beja Santos)
e
28 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9107: Notas de leitura (306): Dois Anos de Guiné - Diário da Companhia de Caçadores 675, por Fur Mil Oliveira (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P9127: Parabéns a você (347): Herlânder Simões, ex-Fur Mil das CART 2771 e CCAÇ 3477 (Guiné, 1972/74)

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 1 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9121: Parabéns a você (346): Carlos Schwarz da Silva (Pepito), Director Executivo da AD - Acção para o Desenvolvimento da Guiné-Bissau

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9126: Agenda Cultural (173): Prémio Fundação Calouste Gulbenkian, entregue a Julião Soares Sousa, na Academia Portuguesa da História, dia 7 de Dezembro de 2011 pelas 15 horas



1. Mensagem de Julião Soares Sousa(1) dirigida a Mário Beja Santos que por sua vez a reencaminhou para o nosso Blogue:

Acabo de ser distinguido com o prémio Fundação Calouste Gulbenkian, História Moderna e Contemporânea de Portugal, da Academia Portuguesa da História, pelo livro "Amílcar Cabral (1924-1973) Vida e morte de um revolucionário africano" (Nova Vega, 2011).(2)

A cerimónia de entrega do prémio terá lugar no dia 7 de Dezembro, pelas 15 horas, na Academia Portuguesa da História.(3)

Julião Soares Sousa
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Notas de CV:

(1) - Sobre o Doutoramento de Julião Soares Sousa vd. poste de 17 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2447: Julião Soares Sousa, o primeiro guineense a doutorar-se pela Universidade de Coimbra (Carlos Marques Santos)

(2) - Sobre a recensão de Mário Beja Santos ao livro de Julião Soares Sousa "Amílcar Cabral (1924-1973)" vd. postes de:

5 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8508: Notas de leitura (253): Amílcar Cabral – Vida e morte de um revolucionário africano, por Julião Soares Sousa (1) (Mário Beja Santos)

13 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8549: Notas de leitura (256): Amílcar Cabral – Vida e morte de um revolucionário africano, por Julião Soares Sousa (2) (Mário Beja Santos)

19 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8570: Notas de leitura (257): Amílcar Cabral – Vida e morte de um revolucionário africano, por Julião Soares Sousa (3) (Mário Beja Santos)
e
2 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8629: Notas de leitura (261): Amílcar Cabral – Vida e morte de um revolucionário africano, por Julião Soares Sousa (4) (Mário Beja Santos)

Vd. último poste da série de 30 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9115: Agenda Cultural (172): Lançamento do livro A Primeira Derrota de Salazar, de Paulo Aido, dia 1 de Dezembro pelas 17 horas, na Casa de Goa, em Lisboa (Teresa Almeida)

(3) - A Academia Portuguesa da História situa-se no Palácio dos Lilases, na Alameda das Linhas de Torres, 198-200 - Lisboa

Guiné 63/74 - P9125: In Memoriam (98): Daniel Matos (1949-2011): Agradecimentos da família aos camaradas da Guiné (Joana Matos)


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > CCAÇ 3518 (1970/74) > Album fotográfico de Daniel Matos >  Foto 12 > "O autor, junto às águas do Rio Sapo, afluente do Rio Cacine, que banhava Gadamael Porto"...

Foto (e legenda): © Daniel Matos (2010)/ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados





Tardiamente, e sem saber que o Daniel Matos já não está fisicamente entre nós,  outro camarada de Gadamael, o Manuel Vaz, acaba de deixar o seguinte comentário ao poste P7186, de 28/10/2010

"Camarada Daniel Matos: Estive a visionar as fotografias de Gadamael que muito apreciei e tentei fazer um cronograma da estadia das várias Companhias que lá estiveram. Verifiquei que há várias em sobreposição, o que me levantou uma dúvida: - se a partir de determinada altura, havia mais de uma Companhia aquartelada em Gadamael. Quanto ao rio que banha Gadamael, não é o rio Sapo. Este corre mais a sul, junto de Sangonha. Podes confirmar pela Carta Militar. Um abraço, Manuel Vaz".

O rio em questão, afluente do Rio Cacine, parece ser o Rio Queruane (ou Rio Axe), segundo a carta de Cacoca (1960), escala 1/25000. O Rio Sapo corre mais a sul de Gadamael, situando-se a noroeste de Sangonhá... É afluente de um afluente do Rio Cacine, o Rio Unconde. Isto a fazer fé nos nossos cartógrafos, que eram os melhores do mundo... (LG)



1. Comentário, com data de hoje, de Joana Matos, filha do nosso saudoso camarada Daniel Matos (1949-2011), ao poste P9073 (*):

Em meu nome, da minha mãe e dos meus irmãos, quero agradecer as mensagens deixadas via facebook e blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.

Agradecemos ainda o apoio que deram ao meu pai nestes últimos dois e dolorosos anos, mas que lhe deram força para lutar, de forma digna e corajosa, contra a doença de que foi vítima e acabou por lhe tirar a vida.

Acreditamos que não perdeu esta batalha... apenas terminou.

Descansa em paz e um beijo cheio de saudades. 

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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P9124: Porto de Abrigo (Carlos Rios) (4): Troca de mensagens

1. Quarto episódio de "Porto de Abrigo", as memórias passadas a escrito pelo nosso camarada Carlos Luís Martins Rios, ex-Fur Mil da CCAÇ 1420/BCAÇ 1857, Mansoa e Bissorã, 1965/66.


PORTO DE ABRIGO - IV

Mensagens de Manuel Joaquim e Carlos Rios

Manuel Joaquim diz:
20 Janeiro 2010 às 20:44


Meu caro Carlos Rios:
Que surpresa ler as tuas palavras por aqui! A última vez que nos vimos foi quando me entraste pela sala de aula, na Amadora, já lá vão muitos anos. Um grande abraço, meu “velhote coxo e surdo”. Desculpa-me se não te agradar o que vou dizer:

Amigos frequentadores deste blogue, Carlos Rios foi condecorado com a Cruz de Guerra, muito muito merecida! “Coxo e surdo” não é uma expressão irónica, é o resultado dos ferimentos sofridos em combate por um militar exemplar no serviço, na camaradagem, de coragem e humanismo transbordantes! Este fur. mil. da CCaç.1420 representa para mim a coragem, as angústias, os sucessos, mesmo os desastres desta Companhia.

Até sempre, Carlos Rios
Manuel Joaquim, Fur. Milº CCaç.1419


Carlos Rios diz:
1 Agosto 2009 às 10:53

Uma profunda triste saudade me fizeram os nomes dos meu amigos Passeiro e Duarte, também eu estive no K3, em tempos em que se dormia debaixo de cibes e terra, a única construção era a “messe”, pertenci se se lembram à 1420. Esse forno do pão foi feito ou reconstruído pelo amigo Banharia, isso de ter tectos e outros é um luxo. 

Um abraço amigo a todos e as desculpas por algum lapso de memória.

Saudades do velhote coxo e surdo. Notável o empenhamento e dinâmica já na altura do meu querido amigo CABRAL; ele tem ainda fotografias muito mais notáveis.


Carlos Rios diz:
1 Agosto 2009 às 11:10

As minhas desculpas, agora me lembrei penso que estive foi no k10, a caminho de Mansabá indo de Mansoa, reitero e reforço os cumprimentos escrevendo os inconvenientes da saga do hospital militar principal; parece que há preocupação de limpar aquele nojo de “guerra”.


Carlos Rios, diz:
14 Julho 2010 às 15:43

Estas fotografias branqueiam os horrores do que foi realmente a passagem da CCaç 1420, por aqui, senão vejamos:
a) o 1º Comandante de Companhia assim que pôde (1 mês?) evacuou-se para a metrópole.
b) neste período de tempo teve tempo de punir com pena de prisão alguns praças por levantamento de rancho (o cheiro e apresentação da comida era imundo).

Logo a seguir acompanhados de outra Companhia, fizemos uma operação onde perdemos o meu grande amigo, Alf. Mil. Vasco Cardoso e mais 5 praças (entretanto já tinha falecido outro camarada) as tropas regressaram em pequenos grupos a Fulacunda. Que nulidade de Comandante.


Carlos Rios, Fur Mil da CCaç 1420, diz:
14 Julho 2010 às 16:14

Espanto é o sentimento que me assalta, bonitas e saudosas fotografias, mas não posso deixar de sentir a falta de outras que façam sentir o quotidiano da vivência desta terra durante a guerra colonial. As ruas esburacadas, a prisão onde eram torturados os desgraçados que fossem apontados por qualquer outro, o lago do crocodilo que um militar qualquer matou a tiro, alguns elementos da população com a sua corrente de misérias, o desaparecimento de alguns militares, as passeatas do padre para (contactos) com a população. Capturado, fardado um IN, e uma vez chegado ao quartel de Mansoa teve o Sr. Comandante de Sector um gesto heróico (enfiou uma valente bofetada no homem que se encontrava em sentido e com as mãos atadas). Que vilania. Muito mal preparados estavam os homens que nos conduziam. Uns nadas. (Referência a Mansoa)


Carlos Rios, Fur Mil da CCaç 1420, diz:
27 Fevereiro 2011 às 14:39

Obrigado Manuel Joaquim!
As coisas mais lindas, marcantes, e emocionais não podem ser vistas ou tocadas, mas sim sentidas pelo coração. É inenarrável a emoção e alegria com que li o que fizeste o favor de dizer acerca de mim e que necessariamente se torna extensivo a ti próprio e aos nossos queridos e sofredores companheiros a quem endereço um profundo abraço de solidariedade. Pena é que não haja maior participação, onde se possa aquilatar das agruras desta geração. O anexo do hospital Militar (anexo) era um autêntico campo de sofrimentos e humilhações. No prosseguimento desta desumana situação fomos ainda deslocados para o DI (Depósito de Indisponíveis), onde estando em recuperação e tratamento os militares eram englobados nas escalas de serviço. Recordo um dia em que estando de comandante da guarda, já coxo e surdo como sabes, tive que vir a exterior comandando a secção fazer o içar de bandeira. Calcularás o caricato da cena.


Carlos Rios, Fur Mil da CCaç 1420, diz:
23 Fevereiro 2011 às 18:22

Inenarráveis são os sentimentos e emoções que me assaltam ao ver as fotos e ler o expresso por todos os camaradas. Também por aqui passei, vim ser ouvido num auto levantado para descobrir quem seria o culpado pelo desaparecimento do meu querido amigo Alf. Mil. Vasco Sousa Cardoso, quando por um tremendo erro estratégico do comandante da Operação Cap. […] hoje reformado pelo menos como coronel (vicissitudes dos ineptos Comandantes) numa tremenda emboscada toda a coluna se partiu vindo o regresso de diversos grupos a Fulacunda a ser feito durante toda a noite, devo ao meu grande amigo Soleimane Djaló e ao Salu (já falecido) ter regressado já alta noite a Fulacunda. 

O meu amigo fugiu juntamente com cinco praças para o lado errado vindo a ser perseguidos e abatidos durante dois dias, um suicidou-se e apenas um dos elementos foi capturado e trocado através da CVI com prisioneiros do PAIGC.  O Comandante da Operação foi dos primeiros a chegar ao Quartel com o maior troço de tropas. 

Que ignorante eu era destas questões. Não quero deixar de referir que no dia imediato uma Companhia a sério Comandada pelo Cap. Carlos Fabião – (Companhia dos Camelos), a quem rendo a minha homenagem – Um HOMEM – a sério, onde me integrei, pesquisou intensamente a área do incidente mas infrutiferamente. Pequenos episódios tristes demonstrativos da incipiente preparação dos nossos comandantes. Nesta deslocação a Bolama tive a oportunidade de me banhar na praia da Ilha – OFIR se chamava ela. Quando no decorrer da operação que deu azo ao levantamento do auto pelo qual me fizerem ir a Bolama ser ouvido; e sendo elementos do IN detectados em plena picada a caminho de S. João, junto de Nova Sintra (ainda não existia o destacamento nosso, criado a posteriori) estando eu como de costume a testa da coluna, avançámos de rompante metralhando o grupo e provocando dois feridos e capturando a primeira metralhadora PPSH, apanhada no campo de batalha na Guiné. Após o que regressamos ao ponto de encontro marcado pelo comandante de Operação;
Não havia ninguém.


Legenda:

A) - Primeiro morto em combate
B) - Morte do 2.º Sargento Monteiro e Ferimentos graves em diversos camaradas (Raimundo fica estropiado e amputado de dedos de uma mão)
C) - Grave ferimento do Rui (estilhaços nas pernas)
D) - Rios atingido por rajada (fica estropiado)
E) - Desaparecimento (em confrontação directa ) do Alf Mil Vasco Cardoso e mais 5 praças.
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Nota de CV:

Vd. poste da série de 29 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9112: Porto de Abrigo (Carlos Rios) (3): A nossa estada em Bissorã e Mansoa, e as baixas em combate