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quarta-feira, 17 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11850: Efemérides (135): No dia 13 de Julho de 2013, a Senhora da Hora homenageou os seus combatentes da Guerra do Ultramar (Carlos Vinhal)


(Foto: Tv Senhora da Hora, com a devida vénia)


1. No passado sábado, dia 13 de Julho de 2013, na Senhora da Hora, Concelho de Matosinhos, foi prestada homenagem aos Combatentes do Ultramar, naturais da freguesia, caídos em campanha, aos que entretanto faleceram e aos que ainda vivos lutam pelo direito ao reconhecimento do sacrifício exigido pela Pátria num dos períodos mais complicados da sua HistóriaPara o efeito foi descerrada uma lápide colocada numa das rotunda da cidade, a que foi dado o nome de Rotunda do Combatente.

O programa começou pelas 11h45 com o hastear da Bandeira Nacional no Edifício da Junta de Freguesia da Senhora da Hora.
(Foto enviada ao Blogue pela Liga dos Combatentes)

Seguidamente os presentes deslocaram-se para a confluência das Ruas do Sobreiro, Estação Velha e 4 Caminhos, onde foi construída recentemente um rotunda, agora designada como Rotunda do Combatente.

Ao acto assistiram largas dezenas de pessoas que contou também com a presença das autoridades civis e militares representativas do Concelho: Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, Dr. Guilherme Pinto; Presidente da Junta de Freguesia da Senhora da Hora, senhor Valentim Campos; Presidente do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes, TCor Armando Costa e CMDT Vítor Manuel Martins dos Santos, Comandante da Zona Marítima do Norte. Entre a assistência destacavam-se os ex-combatentes, alguns deles ostentando a sua boina.

Primeiro momento, o da Bênção do Memorial, a cargo do Senhor Padre Amaro Gonçalo.
(Foto: Tv Senhora da Hora, com a devida vénia)

Momento em que foi de depositada uma coroa de flores na base do Memorial, a cargo do senhor Major Art.ª Ref Simões Duarte, ex-combatente da Guiné.
(Foto: Tv Senhora da Hora, com a devida vénia)

Sentida homenagem aos nossos camaradas senhorenses que não voltaram, com o Toque aos Mortos, executado pelo Terno de Clarins presente.
(Foto enviada ao Blogue pela Liga dos Combatentes)

O ex-combatente José Augusto, que na Senhora da Hora muito tem lutado em favor dos seus camaradas, declamou dois poemas, um deles, o conhecido "O Menino de sua Mãe" de Fernando Pessoa. 
(Foto: Tv Senhora da Hora, com a devida vénia)

Porventura o momento mais tocante da cerimónia foi proporcionado pelo nosso camarada e tertuliano do Blogue, Fernando Santos, que leu o poema de sua autoria, "Desespero".
(Foto: Tv Senhora da Hora, com a devida vénia)

Com a devida vénia à Tv Senhora da Hora

O senhor TCor Armando Costa, Presidente do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes no uso da palavra.
(Foto: José Fernando Santos Ribeiro)

O Presidente da Junta de Freguesia da Senhora da Hora, senhor Valentim Campos falando aos presentes
(Foto: José Fernando Santos Ribeiro)

De acordo com a ordem protocolar, encerrou as alocuções o senhor Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, Dr. Guilherme Pinto.
(Foto: José Fernando Santos Ribeiro)

O programa foi encerrado com a actuação do Grupo Coral da Senhora da Hora que interpretou o Hino Nacional, acompanhado pelo público que emoldurava a rotunda.
Bonito de ver a Bandeira Portuguesa que se manteve naquela janela durante todo o cerimonial
(Foto: Tv Senhora da Hora, com a devida vénia)


Duas perspectivas da Rotunda do Combatente com os assistentes em seu redor
Fotos: Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 1 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11782: Efemérides (134): Monumento aos Combatentes do Ultramar em Olhão, foi inaugurado no passado dia 16 de Junho (Henrique Matos)

domingo, 12 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P6977: Ser solidário (87): Sarau Cultural integrado na Campanha de Angariação de Fundos (Fernando S. Santos & José M. Rodrigues)


O nosso Camarada Fernando Silva Santos (ex-Soldado Informações e Operações de Artilharia, BAA 3434, Bissau, 1971/73), enviou-nos mais um apelo solidarizando-se com a campanha lançada pelo nosso camarada José Martins Rodrigues (ex-1.º Cabo Enf.º da CART 2716/BART 2917, Xitole, Corubal, Bafatá e Bambadinca, 1970/72):
Tabanca Pequena - Sarau Cultural
Caros Amigos/as:
O meu abraço para vocês!
Incluo o texto do meu camarada e amigo José Rodrigues, o qual tem como fim em vista a Divulgação deste Evento.
A Causa é nobre!
Se tiverem oportunidade de, Solidariamente, estarem connosco nesta Ajuda ao povo carenciado da Guiné, o qual, tem dificuldades na obtenção de água potável, por favor, inscrevam-se para participarem neste "Sarau Cultural".
Se divulgarem pela vossa "rede de contactos, pessoais e na Internet, bem assim como nas redes sociais" já estão a Ajudar a "Tabanca Pequena!".
Muito obrigado e um abraço.
Do amigo certo,
Fernando Santos
Sold InfOp Art da BAA 3434

Caros Amigo:

A Tabanca Pequena – Grupo de Amigos da Guiné vai realizar um Sarau Cultural integrado na Campanha de Angariação de Fundos, que visa apoiar a abertura de poços de água potável e do fornecimento de sementes ás populações guineenses com graves carências nesses domínios.

Junto informação relativa ao evento. Gostaria de poder contar com a vossa presença e, do vosso apoio na divulgação desta acção de solidariedade.
Um abraço solidário e de Amizade.
José Rodrigues
1.º Cabo Enf.º da CART 2716/BART 2917


CAMPANHA DE ANGARIAÇÃO DE FUNDOS
A TABANCA PEQUENA - Grupo de Amigos da Guiné-Bissau em parceria com CIVAS -Centro de Infância, Velhice e Acção Social - Senhora da Hora e LIONS CLUBE DA SENHORA DA HORA, vão promover um SARAU CULTURAL com o objectivo de angariação de fundos para a Campanha de Abertura de Poços de água potável em Tabancas (aldeias) do interior daquele País, onde as populações se deslocam 2/3 Km para obterem água (imprópria para consumo).

- Estamos a financiar a abertura de outro poço em Medjo. Faltam-nos cerca de 2.000 € para o apetrechar com o equipamento necessário.

- Em resultado de campanhas anteriores já funciona em pleno um poço na Tabanca de Amindara.

ACÇÃO –
Almoço seguido de Sarau Cultural.Fados de Coimbra – Conjunto do Choupal até à Lapa
Fado pela voz de - Francisca Silva
Momentos de poesia –
Antigos combatentes
DATA: 25 de Setembro

PREÇO:
15.00 € (mínimo)
LOCAL - Instalações do CIVAS à Av. Fabril do Norte, 717 – Senhora da Hora

DIVULGA . DIVULGA . DIVULGA . DIVULGA . DIVULGA . DIVULGA . DIVULGA . DIVULGA
FAZ A TUA INSCRIÇÃOATÉ AO DIA: 20 DE SETEMBRO

e-mail: tabancapequena@gmail.comTelm: 966238626 - Zé Teixeira
........967409449 - Zé Rodrigues

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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:

11 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6970: Ser solidário (86): Solidariedade no Cachéu (Sousa de Castro)
Vd. também sobre esta campanha o poste em:

5 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6939: Ser solidário (84): Sarau cultural para angariação de fundos a favor da Guiné-Bissau (José Teixeira / José Rodrigues)

terça-feira, 2 de março de 2010

Guiné 63/74 - P5919: Blogoterapia (146): E tu, quem és? Já se passaram muitos anos (Fernando Santos)

Texto Fernando Silva Santos* (ex-Soldado Informações e Operações de Artilharia, BAA 3434, Bissau, 1971/73), enviado pelo nosso camarada Jaime Machado em mensagem de 1 de Março de 2010.


E tu, quem és?
Já se passaram muitos anos...


Abril ainda baila nos corações nostálgicos de quem ainda tão novo, foi embalado nas ondas do Atlântico ao encontro daquela terra vermelha com sabor africano.

Era um tempo de saltimbancos e de biscates silenciosos, de andorinhas e de melros que cantavam ao fim da tarde nos jardins das casas burguesas. Mas era, igualmente, um tempo de mar e de traineiras, um tempo operário e clandestino, com a Fábrica das Redes, a Algarve Exportadora, a Oliveira & Ferreirinhas e tantas, tantas outras empresas do nosso Matosinhos a verem partir os seus colaboradores para a guerra colonial.

O destino era África e as colónias portuguesas.

Naquele tempo, era muito difícil explicar aos rapazes jovens o “porquê” de terem de combater numa extensão territorial muito diferente do solo que os vira nascer. Era um tempo diferente. Um bocado à imagem da submissão instituída e da divisão por sexos, com escolas para meninas e escolas para meninos. Era um tempo em que os rapazes jogavam à bola na rua, em renhidas peladinhas do “muda aos seis e acaba aos doze” e, as meninas, faziam casinhas de brincar para desenvolverem a sua capacidade para a procriação, para no futuro cuidarem da casa, do maridinho, dos filhos e desenvolverem o modelo de mulher como um dia o sonhou Filipa de Vilhena.

Mas nesse tempo dos nossos vinte anos, existia uma coisa muito bonita que era o “respeitinho!”

Naquela altura, nos transportes públicos, as pessoas levantavam-se dos seus lugares, para o oferecerem a uma mulher grávida ou a uma pessoa mais velha que, entretanto, viajava de pé.

E hoje?

Naquela altura, os pais eram mesmo “Encarregados de Educação” e os professores eram respeitados nas escolas e nas salas de aulas.

E hoje?

Naquela altura a utopia vestia-se de vários encantos. Até o puritanismo era diferente; aliás, não era senão uma forma de enganar desejos ocultos e assentes, na maioria das vezes, nos tabus impostos pela política dominante.

E estávamos na década de sessenta e depois, apareceu a década de setenta do século passado!...

Foi um tempo de Coimbra, de Maio, de uma Seara Nova e dos Movimentos estudantis. Foi, igualmente, um tempo de Miller Guerra, de Sá Carneiro, de Francisco Balsemão e de outros liberais que, na então Assembleia Nacional, representavam a mudança que Abril mais tarde protagonizou.

E nós, éramos jovens.

A maioria de nós, éramos mesmo muito jovens.

Passei muitos anos que tinha jurado a mim mesmo nunca mais falar disso. Nem à minha mulher, nem aos meus filhos, nem aos meus amigos. Percebo agora que fiz mal. Devia ter contado a toda a gente para que toda a gente soubesse o que foi a Guerra e em especial a Guerra na Guiné-Bissau.

Hoje, numa espécie de catarse, tento recuperar o tempo perdido e sempre que posso, confraternizo com os camaradas que estiveram, igualmente, naquele território africano.

Graças à persistência e convivência destes camaradas, que há tempos se juntam num almoço em Matosinhos, com o fim de sedimentarem camaradagens e amizades antigas, foi criada recentemente, uma Associação, para ajuda ao povo guineense. E quando a causa é Solidariedade, todas as acções são bem vindas.

Amanhã, Sábado dia 6 de Março, aqui num Restaurante em Matosinhos, um grupo considerável de matosinhenses que têm em comum, um dia terem sido mobilizados para a Guiné-Bissau, vão confraternizar num almoço de camaradagem e de saudade e perante proeminentes barriguinhas e névoa em alguns cabelos, vão recordar a generosidade esbelta da sua juventude e perguntar ao camarada do lado:

- E tu, quem és?

- Em que zona da Guiné estiveste?

E perante o desfilar das recordações vai ser bonito ouvir balbuciado nos lábios destes combatentes, novamente, a palavra “Pátria”.

f.silvasantos@netcabo.pt

OBS:- Este texto de Fernando Santos, que é colunista do Jornal de Matosinhos, vai ser publicado no próximo dia 5 de Março neste periódico.
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 22 de Novembro de 2009 Guiné 63/74 - P5318: Blogoterapia (130): A guerra exisitu!... (Fernando Santos)

Vd. último poste da série de 20 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5852: Blogoterapia (145): Considera que Portugal valoriza os seus ex-combatentes? (Carlos Cordeiro)

domingo, 22 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5318: Blogoterapia (130): A guerra exisitu!... (Fernando Santos)

1. Mensagem de Fernando Silva Santos, ex-Soldado IO Art.ª da BAA 3434, Bissau, 1971/73, com data de 16 de Novembro de 2009, reencaminhada para a Tabanca Grande pelo nosso camarada Jaime Machado:

Camaradas:
Se tiverem algum interesse neste artigo, podem divulgá-lo, inclusivé para publicação no Blogue.
[...]

Abraços,
Fernando Santos
BAA 3434 "As Avezinhas" - Guiné 1971/73

Jaime Machado e Fernando Santos, na Tabanca de Matosinhos.
Foto retirada do site da Tabanca de Matosinhos, com a devida vénia



A Guerra Existiu!...
“Os que morreram, viajaram envoltos na Bandeira da Honra, com a legenda: Portugal!...”

Foi há 36 anos. Já lá vai muito tempo!...

De repente, apetece-me escrever que a Liberdade, hoje, ainda não é como o ar que respiramos. Não sendo anómala nem rara é uma causa muito preciosa que todos temos de manter e dela falar!... É que o silêncio, não é só a ausência das palavras. Também é o adormecimento das causas, a camuflagem dos valores e tantas vezes a renúncia imposta às memórias que não deveriam sumir na poeira dos tempos!...

A Guerra Existiu!...

E há 36 anos, no dia 26 de Maio de 1971, no cais de Alcântara em Lisboa, a bordo do navio “Angra do Heroísmo”, uma Bateria de soldados, especializados em anti-aérea, partiu rumo à Guiné. Era a Bateria Anti-Aérea 3434, baptizada com o nome dos “Avezinhas”.

Também nessa altura, era um tempo de Maio. Um Maio já prestes a despedir-se de maduro, vestido de incerteza e de mistério por tudo aquilo que haveria de acontecer no futuro das madrugadas nascentes, no seio daquela terra africana, no coração do seu Paiol e dos bafos vermelhos que acariciavam o rosto de rapazes na casa dos vinte e poucos anos de idade!...

Na altura, o serviço militar era obrigatório.

Que o digam as centenas de matosinhenses que foram mobilizados para as nossas ex-colónias ultramarinas.

Mas é acerca da Bateria Anti-Aérea 3434 – os “Avezinhas” – que eu gostaria de escrever esta semana. Até porque neste contingente militar, foram incorporados alguns camaradas de armas, patrícios meus, que ainda hoje, felizmente, vivem e habitam no nosso concelho.

E se é verdade que as pessoas reagem a estímulos exteriores, o encontro convívio e de saudade, que tive com os “Avezinhas”, no passado Sábado, motivou-me a comungar com os meus caros amigos leitores, alguns testemunhos de vida que marcaram, indelevelmente, os meus 21/23 anos!... Foram tempos já distantes, em que os horizontes para a minha pequena adultês pareciam quebrados e o medo existia escondido nos nossos olhares que se cruzavam com os olhares côncavos e famintos das crianças nativas vestidas de inocência!

No passado Sábado, no Santuário do Sameiro, em Penafiel, os “Avezinhas” tiveram o seu encontro de ex-militares que fizeram parte daquela incorporação. Evocamos – alguns de nós já com o babado estatuto de avós – o nosso tempo de juventude passado a combater na ex–colónia da Guiné. Rezamos pelos camaradas já falecidos e relembramo-nos de alguma da nossa actuação, ainda que involuntária, no palco das operações do teatro da guerra.

Nesse encontro estavam camaradas de Matosinhos e que, curiosamente, lêem o Jornal de Matosinhos!

Prometi-lhes que escreveria uma crónica a referir a guerra colonial para que, a juventude matosinhense não se esquecesse que os seus pais e os seus avós, provavelmente, passaram por essas acerbas provações! Não podemos branquear esta parte da História recente de Portugal.

A Guerra Existiu!

O papel dos soldados portugueses, como embaixadores da política do Estado Novo, terminou no dia em que a bandeira portuguesa foi arreada dos palácios dos Governadores das respectivas colónias e de todos os edifícios públicos.

Hoje, passados estes anos, a pergunta continua escondida acutilantemente, na mente de muitos ex-combatentes:

- Valeu a pena?!...

Claro que valeu a pena, digo eu!...

A História é feita de tudo isto. De dicotomias. De contradições. Neste caminhar inexorável, vivemos amores e lavramos desamores; semeamos amizades e criamos ódios inóspitos; fomos o “eu” e fomos o “outro” num caminhar intermédio e subterrâneo; embrutecemos e tornamo-nos sensíveis transportando na nossa formação constante o cheiro das tabancas e a melodia da mata verde que moldaram para sempre o nosso sentir e a nossa personalidade. Anjos ou Demónios, francamente não sei, nesta catarse ainda por inventar…

O que sei, é que nesse dia de final de Maio de 1971, quando os “Avezinhas” chegaram à Guiné, ao desembarcarem no cais do Geba, em Bissau, sentiram um sol intenso, vermelho, a confundir-se com o vermelho de uma terra jamais vista!... Depois, em coluna militar, lá fomos, com destino ao primeiro aquartelamento situado no Cumeré. Pelos estradas – algumas de terra batida – camaradas de guerra prestes a regressarem à metrópole, saudavam-nos num ritual e praxe guerreira: “Piu…Piu…Piu. Salta Pira…”, ou então, numa música mais estridente e sádica do que motivadora, cantavam gozões e intimidatórios:

Piriquito vai pró mato, olé, olé… que a velhice vai p’ra Bissau, olé, olé!...”.

Nessa altura, os nossos olhares virgens de maçaricos, admirados, penetravam naquele mundo novo, feito de mulheres negras com os seios caídos de uma nudez sensual, jovem e hirta que da berma dos caminhos nos acenavam, ou então, pelas “mulheres grandes” de pele ressequida, as quais, nos olhavam sentenciadoras, como quem já adivinhava o nosso futuro!...

Chegados ao Cumeré, a nossa primeira reacção foi perguntar:

- Aqui já aconteceram ataques?!...

A resposta surgiu motivadora e a vida lá continuava num ritmo de adaptação às novas gentes, ao novo clima e às novas mentalidades. Como recordo os dias decepcionantes do “lerpanso” do correio. Nem uma carta. Nem um aerograma. Nada! Só as carícias cantadas em crioulo pelas bajudas nativas.”Parte um peso, pessoal!...” E lá recebiam o “patacão!...”

No dia 9 de Junho de 1971 (faz amanhã 36 anos), o “inimigo” – de propósito entre aspas – brindou-nos com o seu “baptismo de fogo!...”

Era uma quarta–feira!... A noite espreitava do poente. A G3 era a nossa companheira, num artifício de fogo tricotado, belo e trágico!... Não víamos nada!... Só fogo reluzente e o ribombar das granadas e dos obuses!... Disparávamos ao encontro do vácuo!...

Era a Guerra!... Os “Avezinhas” tinham chegado somente há nove dias à Guiné!...

Nesse ataque, no dia 9 de Junho de 1971, morreu um camarada. Outros ficaram marcados no corpo e no espírito para toda a sua vida…

Eu sou testemunha que a Guerra Existiu!...

f.silvasantos@netcabo.pt



Fotos da Guiné-Bissau de autoria Fernando Inácio © Direitos Reservados, com a devida vénia


2. Comentário de CV:

Caro Fernando. Não costumo fazer comentários aos textos dos camaradas. Quem sou eu para isso?

No entanto é um prazer publicar prosa ou verso com qualidade. Foi o caso deste teu trabalho.

Sei que tens participado nos almoços dos ex-combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos, porque tenho registo da tua presença. Não por isto, mas também, estou a convidar-te a colaborares neste Blogue, que como sabes tem a missão de fazer um registo de histórias dos ex-combatentes da Guiné. Nesta Caserna virtual têm lugar militares do Quadro Permanente ou Milicianos; oficiais, sargentos e praças; licenciados ou não. Tudo em pé de igualdade, porque o que nos une é aquele pequeno país de terra vermelha e ar sufocante, e tudo o que por lá passámos.

Envia-nos os teus elementos militares como: posto, locais por onde andou a tua Unidade, data de ida e regresso, e uma foto actual e uma antiga, tipo passe em JPEG. Manda-nos também mais um dos teus textos e eu faço a tua apresentação formal à tertúlia. Teremos muito prazer em receber-te nossa Tabanca Grande.

O endereço electrónico do nosso Blogue é: luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com

Obrigado por esta tua colaboração que espero seja a primeira de muitas.
Recebe um abraço do camarada
Carlos Vinhal
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Vd. último poste da série de 18 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5294: Blogoterapia (129): A guerra que Portugal não ganhou (José Teixeira)