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domingo, 26 de fevereiro de 2023

Guiné 61/74 - P24098: Tabanca Grande (545): Corrigindo um lamentável lapso nosso, o José António Paradela (1937-2023) fica connosco, no lugar nº 872... pelo seu contributo para a memória da "Faina Maior"... Parafraseando o capitão Valdemar Aveiro, podemos perguntar: "daqui a uma geração, quem se vai lembrar disto, a guerra do ultramar / guerra colonial e a outra guerra, a da pesca do bacalhau"?!

 

Ílhavo > Costa Nova > 21 de agosto de 2012 > Ao centro, eu e o Zé António Paradela, arquiteto; e à nossa esquerda, a Alice Carneiro e a Matilde Henriques (esposa do Zé António); à nossa direita, o Jorge Picado e o Jorge Paradela, o caçula do casal Zé António & Matilde. A foto foi tirada pelo filho mais velho, o Marco Henriques Paradela, que na altura andava na "tropa do bacalhau", sob as ordens do capitão Valdemar Aveiro, seu padrinho,  o "último dos lobos do mar", escritor, com dez livros sobre a frota branca e a pesca na Terra Nova. 

Foto (e legenda): © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



José António Paradela (Ílhavo, 1937 - Aveiro, 2023): arquitecto e escritor

Foto (e legenda): © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Fotos do álbum de Ábio de Lápara (José Paradela), página pessoal no Facebook (com a devida vénia...)


Ábio de Lápara (pseudónimo literário de José António Boia Paradela): Biblioteca de Ílhavo, 26/11/ 2017. O autor a autografar o seu último livro, "Santinhas de Apegar: Textos Poéticos" (2017, ed. de autor, 125 pp. + II inumeradas). Foto de Etelvina Almeida, cortesia da página do Facebook do autor.

1. Por uma razão que não consigo descortinar, mas que só pode ser "por falha técnica ou erro humano" (como se diz quando cai um avião ou descarrila um comboio), o meu querido amigo José António Paradela (1937-2023) não foi formalmente registado como membro da Tabanca Grande, logo em 2007, como devia ter sido.  Sempre o considerei como tal, ao longo dos muitos anos de existência que já leva o nosso blogue, mas a verdade é  que o seu nome não conta(va) na lista alfabética dos membros da nossa tertúlia...   

O concelho de Ílhavo (com cerca de 25 mil habitantes, em 1960, tem hoje perto de 40 mil) teve 10 mortos na guerra do ultramar/ guerra colonial, três dos quais na Guiné, outros três em Angola e os restantes em Moçambique (segundo o portal UTW - Dos Veteranos da Guerra do Ultramar). 

Não era, em rigor, uma terra de "infantes", mas sim de marinheiros, pescadores e capitães (da frota de pesca e da marinha mercante). Mas há exceções, como o Jorge Picado, que lá foi parar à Guiné, aos 32 anos,  já como capitão miliciano de artilharia (*)... 

Não sabemos quantos mancebos de Ílhavo, aptos para o serviço militar, seguiram a opção da pesca do bacalhau ou se alistaram na marinha de guerra, no período em que decorreu a guerra do ultramar / guerra colonal (1961 / 74)..

O nosso Zé António andou embarcado, como "moço, na "frota branca" (**) e depois cumpriu o serviço militar na Marinha, sem ter passado pelo ultramar. A guerra em Angola começou em 1961 e ele ingressou logo n0 ano letivo de 1960/61, na Escola Superior de Belas Artes onde fez o seu curso de arquitetura (concluído em 1967, com um a bolsa de cinco anos da Fundação Calouste Gulbenkian).

Justifica-se a sua entrada na Tabanca Grande pela sua partilha de memórias da pesca do bacalhau que eu considero o "outro lado da guerra" (**)... Tenho pena de não dado conta do lapso, com ele ainda em vida, faço agora a  necessária correçao, dois dias depois do corpo do eu amigo descer à terra, no cemitério da sua terra natal... A título póstumo, fica na lugar nº 872, à sombra do nosso simbólico, fraterno e sagrado poilão (***).


2. O seu primeiro texto, publicado no nosso blogue, data de 2007 (***). Tratou-se da apresentação, em Aveiro, em setembro de 2007, do livro do capitão Valdemar Aveiro, “Histórias Desconhecidas dos  Grandes Trabalhadores do Mar" (imagem da capa acima,  4ª ed, Âncora Editora, 2016, 228 pp.)


Texto de José António Paradela, arquitecto

“…E dentro de uma geração quem é que se lembrará disto? A menos que fique escrito, tudo se perderá no nada.” (Valdemar Aveiro)

Li novamente o teu livro e gostei ainda mais.

Isto só me acontece com certos livros, mas nem sempre pelos mesmos motivos.
Estava a lê-lo e a recordar-me de Alain Gerbault (À la Porsuite du Soleil), e de Hemingway (O Velho e o Mar), mas sobretudo de Melville (Moby Dick).

O barco de que falas já não é de madeira, nem os cabos são de cânhamo, e a baleia tem agora a dimensão dos labirínticos campos de gelo flutuante.

Mas o alento que te atravessa a alma é da mesma natureza, agora consubstanciado na caça ao cardume viscoso e fugaz sob o gelo.

Contudo esse argumento é para ti um apelo, um desafio à aventura, à vitória da descoberta, granjeada num segundo fôlego, ou mesmo num terceiro, quando os outros já ficavam abaixo da linha do horizonte, confundidos com a névoa.

Descobriste e ensaiaste os mapas do comportamento da manta gelada para evitares o seu abraço fatal. Mobilizaste os marinheiros – os rapazes, como lhe chamas 
 , para o festim opulento corporizado na sacada de peixe de braço dado com o navio, esse saco-prenúncio do pão para os que em terra esperavam.

Não foste, e ainda bem, o capitão Ahab de Melville, ou o Santiago do Hemingway, mas a associação é inevitável. É a vontade em estado puro, de maratonas diariamente repetidas, no afã de levares à terra a mensagem da vitória: Ganhámos!

Como há 2500 anos na Grécia. Os homens mudam pouco!

Estamos perante um livro de prodigioso apelo à memória. À memória do tempo vivido por entre aventuras e histórias que por vezes assume um tom narrativo confessional, para reconstituir um passado feito de retratos minuciosos de seres que existiram (existem) e que marcaram o teu trajecto, quase sempre sobre as águas que do planeta são ainda a parte incógnita. Não falo dos peixes e da sua geografia, mas dos homens que as habitam, estes de quem tu falas.

São histórias assumidas conscientemente como um ajuste de contas contigo mesmo e com aqueles que contigo andaram ou te cruzaram a rota.

O que afirmas na singularidade e sinceridade da tua escrita, é o tempo em que viveste outro tempo, marcado pelos amigos, ou mesmo por aqueles que contigo se confrontaram, e a falta que isso agora te faz.

Paciência, meu amigo, isso é a vida, que faz de cada um de nós uma narrativa única, marcada pela força dos companheiros de aventura e que dentro de nós se arvoram ainda como cínicos que ficaram para nos invectivar e evocar esse tempo de esperanças, amores e desilusões. Um tempo de outrora, mas também de hoje, por dentro de nós.

Este livro é o livro que faltava… Falo do assunto que coloquei como frontispício deste texto.

A história com H grande tem sempre os seus sacerdotes, que vasculham bibliotecas e alinham factos inventando elos de ligação quando necessário. É útil mas insuficiente.

Walter Benjamim, desconfiado da historiografia oficial, incitava a “escovar a história a contra pelo”. Para ele o perigo estava no esquecimento, no silenciamento da memória: “Toda a imagem do passado… corre o risco de desaparecer com cada instante presente que nela não se reconheceu”.

O teu livro, os teus livros, que para mim podiam ser juntos num único, escovam a história a contra pelo.

Haverá quem faça a história oficial da Faina Maior, mas é necessário buscarmos o que nela foi esquecido ou abafado, isto é, o que não existe nos arquivos: Os vestígios que o tempo sufocou, as personagens e os episódios que foram ou não chegaram a ser mesmo colocados nas notas de rodapé dos historiadores oficiais.

O teu livro tem também esse mérito: não deixa silenciar, e regista de modo vivíssimo e rigoroso as ligações orgânicas dos homens – com nome e tudo, aos seus instrumentos e às suas palavras. (Podes acrescentar no glossário: “camisolinha interior = copo de bagaço”).

A compreensão histórica de determinados contextos sociais passa muito por aqui: Pelas ligações orgânicas, e pelos copos… Lembro-me de Pessoa, e sobretudo de Mussorsky, ardido no álcool, a legar-nos música imortal. Hoje, que a Internet comporta e transporta milhões de histórias, podemos ser levados a pensar que o problema não existe, esquecendo que alguém terá de as contar.

E é este acto de contar, que acompanha os humanos desde os primórdios, este incontornável filtro da inteligência e do coração, que constitui a pedra filosofal capaz de transformar uma narrativa banal numa obra de arte viva e perene como tu fizeste para nosso encanto.

Não contaste apenas histórias de uma vida, não personalizaste o navio como já vi, ou o peixe como Hemingway. Contextualizaste um mundo de relações humanas entre o povo flutuante e errático da pesca do Atlântico Norte, cuja aventura cairia minorada se a não contasses.

Ainda que esta seja apenas a tua versão dos factos, ela não deixa de ser menos verdade. Como dizia um combatente da guerra civil espanhola ao relatar a sua experiência:

“… no sé yo cuanto le puede importar a usted ésto que le estou diciendo, no sé si esto le puede importar a alguièn, porque estas cosas no las cuentan los libros, esto no sale nunca en la historia, pero sabe lo que lo digo? Esta es mi verdad”.

Um abraço do teu mano Zé

(Negritos: editor LG)

3. Comentário do editor LG:

Relembro aqui que o capitão Valdemar Aveiro (que eu voltei a abraçar anteontem, no funeral do nosso  "mano" comum) (****),  é um velho lobo do mar, natural de Ílhavo, terra que tem dado, a Portugal, ao longo da sua história, grandes marinheiros, pescadores e capitães... 

Nascido em 1934, passou 35 anos da sua vida na pesca do arrasto do bacalhau, a bordo, e capitaneando grandes lugres. Hoje (ainda hoje, vai fazer 90 no próximo ano!), está em terra, com funções de gestão em empresa do sector piscatório ao mesmo tempo que vai passando e repassando para o papel as suas memórias... e divulgando os seus livros, o meso é dizer partilhando memórias que pertencem ao nosso património imaterial.

Em 2004 saiu o seu primeiro livro, Figuras e Factos do Passado: Recordações da Pesca do Bacalhau, numa edição infelizmente nada profissional da Câmara Municipal de Aveiro. Quando o conheci, através do Zé António Paradela, ele teve a gentileza de me oferecer um exemplar desse seu primeiro livro, autografado.

Foi uma revelação, para mim, essas histórias - épicas, dramáticas, picarescas, burlescas, mas sempre humaníssimas - dos nossos marinheiros e pescadores da Terra Nova. Fiquei de lhe fazer uma recensão crítica que nunca chegou a aparecer, à luz do dia, no nosso  blogue, do que me penitencio... (mas ainda vamos a tempo).

Por outro lado, sempre me intrigou o facto de, durante a guerra colonial, se poder optar pela dura pesca do bacalhau como alternativa à tropa e à guerra... O capitão Aveiro, como é carinhosa e respeitosamente conhecido,  terá recebido - imagino eu -  alguns pedidos para aceitar a bordo mancebos que se queriam livrar da Guiné, Angola ou Moçambique, admitindo que a pesca  não fosse a sua prineira opção...

Ao repescar esta belíssima apresentação que o seu mano José António Paradela - e meu velho amigo - fez do seu livro, na altura (2007) em 2.ª edição, Histórias desconhecidas dos grandes trabalhadores do mar, estou a homenagear duplamente dois homens de eleição, dois "ílhavos" que muito honram a sua terra.

Pegando na inspiradíssima dica do Zé António, também eu direi que - à semelhança dos nossos velhos lobos do mar que hoje morrem em terra! - compete-nos também a nós, que fizemos a guerra colonial, "escovar a história a contra pêlo"... 

Temos tentado fazê-lo, ao longo destes anos t0d0s, fazendo jus ao lema do nosso blogue, "Camarada, não deixes que sejam os outros a contar a tua história!"... O mesmo é dizer:  é importante que se faça a História com H grande da guerra do ultramar / guerra colonial, mas não menos importante é escrever e salguardar as memórias de quem a fez, de um lado e do outro, afinal a história com h pequeno,,,

O capitão Valdemar Aveiro, como como todos os mareantes, é um execelente contador de histórias. Tem, além do talento, a grande vantagem da vivência e da autenticidade... Que ele e o Zé António  sejam também  exemplos inspiradores para todos nós, amigos e camaradas da Guiné, os antigos combatentes que, enquanto geração, estão a desaparecer todos os dias...  

(Negritos: editor LG)



Alguns dos bravos marinheiros e pescadores que embarcam no "Lousado" em abril de 1955. Na segunda fila, ao centro, o terceiro a contar da esquerda, é o nosso autor, com 17 anos...

Foto (e legenda): © José António Paradela (2015). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


4. Poema "O Verde" (equivalente ao nosso "periquito"):

O Verde (#)

No dia em que, “verde”, me puseram entre tábuas
De um catafalco a que chamaram bote
E me disseram: Salta, esquece as mágoas…
Senti, looongo, na garganta um garrote!

Primaveril, meu coração bateu mais forte,
Ao cair na onda junto ao costado,
E remei, como quem enxota a morte,
De dentro do meu “fato oleado”.

“Senta-te, Zé, e rema enquanto a força durar!
Tens pão e peixe, e tens também café quente!
Segue-me quando o meu búzio roncar…”

Disse o “maduro”, comovido, ao ver-me imberbe,
Estendendo as linhas na corrente,
Junto à fria palidez do terrível icebergue.

(#) Pescador bacalhoeiro embarcado pela primeira vez

In: Ábio de Lápara -"Santinhas de Apegar: Textos Poéticos"  (20127, ed. de autor), pág. 75.  
__________

Notas do editor:


(**) Vd. poste de 24 de novembro de  2007 > Guiné 63/74 - P2300: Bibliografia (12): Memórias de outra tropa, de outra guerra, a da pesca do bacalhau: escovar a história a contra pêlo (José António Boia Paradela)

(***) Último poste da série > 20 de fevereiro de 2023 > Guiné 61/74 - P24082: Tabanca Grande (544): Mário Arada Pinheiro, cor inf ref, que, além de 2º cmdt do BCAÇ 2930 (Catió, 1971/73), esteve na 2ª Rep, no QG/CCFAG, e foi comandante-geral de milícias, substituindo o major Carlos Fabião... Senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 871.

(****) Vd. poste de 24 de fevereiro de 2023 > Guiné 61/74 - P24093: In Memoriam (472): José António Paradela (Ílhavo, 1937 - Aveiro, 2023): pequena homenagem póstuma lida ontem, na igreja matriz de Ílhavo (Luís Graça)

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21313: Agenda cultural (753): Arte urbana: mural, da autoria do artista plástico cabo-verdiano, António Conceição, de homenagem às mulheres da seca do bacalhau, e aos demais ofícios da Faina Maior... Gafanha da Nazaré,Ílhavo, agosto de 2020 (Ana Aveiro / Valdemar Aveiro)








 


 





Ilhavo > Gafanha da Nazaré > Viaduto de acesso ao acesso ao Cais Bacalhoeiro > Agosto de 2020 > Mural do artista de origem cabo-verdiana, natural do Mindelo, António Conceição, 50 anos de idade,  que se licenciou em Belas Artes na Universidade do Porto em 2005. 

Homenagem aos ofícios da Faina Maior, a pesca do bacalhau, e dos seus antigos ofícios, com destaque para as ,mulheres, trabalhadoras da seca do bacalhau, mas também os pescadores, as peixeiras, os marinheiros.... Entre os "lobos" da Terra Nova, destaca-se o nosso amigo Capitão Aveiro, o Valdemar Aveiro, que é uma lenda viva desta epopeia, além de escritor de grande talento .(E continua a trabalhar, no setor,  aos 85 anos, agora na área da gestão!),

Destaque também, no mesmo pilar, para a escritora ribatejana Maria Lamas (Torres Novas, 1893 - Lisboa, 1983), autora de "As Mulheres do Meu País" (1947-1950).

Transcrição de uma das obras do Capitão Aveiro: "A vida dos homens da Pesca do Bacalhau é uma vivência de excessos pela negativa. Vivendo quarentenas prolongadas entre dois desertos infinitos - Céu e Mar - para eles um Oásis é sempr eum Porto e a Mulher é a Miragem suprema".

Fotos: © Ana Aveiro (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

 


Valdemar Aveiro, um dos últimos capitães da Faina Maior. 
Justa homenagem do artista António Conceição.


1. O Valdemar Aveiro, ou capitão Aveiro, como é carinhosamente conhecido e tratado na sua terra, é nosso amigo, meu e do arquitecto  José António Paradela. Tem uma dezena de referências no nosso blogue, ligadas à sua atividade como escritor e às suas memórias da pesca do bacalhau. Tem seis livros publicados na Âncora Editora. Acaba de nos mandar estas fotos, tiradas pela neta ou filha Ana Aveiro.

Por sua vez, temos 30 referências, no nosso blogue, à pesca do bacalhau que, para nós, está também associada à guerra colonial. Par muitos jovens  a Faina Maior foi uma não menos dolorosa alernativa à "guerra do ultramar".

De facto, não é demais recordar que  desde 1927, do tempo da Ditadura Militar (que antecedeu o Estafo Novo), havia legislação que veio promulgar medidas de incentivo ao desenvolvimento da pesca do bacalhau, e nomeadamente facilitar (e tornar mais atrativo) o recrutamento do pessoal (vd. Diário do Governo, 1.ª série, Decreto n.º 13441, de 8 de Abril de 1927).

Uma dessas medidas era justamente "a dispensa do serviço militar aos pescadores e marinheiros que tivessem cumprido um mínimo de seis campanhas de pesca consecutivas na frota nacional bacalhoeira". Frota heróica, diga-se de passagem!...A pesca do bacalhau é conhecida também como a Faina Maior.

Havia ainda a possibilidade de os mancebos apurados para o serviço militar beneficiarem de "adiamento até aos 26 anos"... Além disso, "a falta à junta de recrutamento podia ser relevada desde que os faltosos fizessem prova de que estavam embarcados"...

Conclusão; a pesca do bacalhau na Terra Nova e na Groenlândia, durante todo o Estado Novo, era um verdadeiro "desígnio nacional"...

O que este mural do artista António Conceição nos conta é, citando "O Ilhavense" ["Arte urbana está a ajudar a retratar antigos ofícios ligados à pesca do bacalhau", por Afonso Ré Lau, 30 de abril de 202'] , "um pouco da história não só das trabalhadoras das secas, mas de várias profissões ligadas à pesca do bacalhau" [dos pescadores aos marinheiros, passando pelas peixeiras].

(...) "O desafio de homenagear as mulheres que trabalhavam nas antigas secas partiu do empresário Leonardo Aires, da Frigoríficos da Ermida, empresa da Gafanha da Nazaré que se dedica à transformação e comercialização de bacalhau desfiado. O convite veio no seguimento de outra obra que António levara a cabo na fachada nascente do edifício-sede daquela empresa, mesmo ao lado do local onde surge, agora, este novo mural. " (...)

(...) "o que concerne a este mural de homenagem às mulheres que trabalhavam nas antigas secas de bacalhau, há um ponto prévio que António faz questão de esclarecer: 'Não fiz uma interpretação à luz de grande parte dos relatos que chegaram aos dias de hoje. Este é o meu olhar sobre o passado e é uma tentativa assumida de ‘fazer uma lavagem’ àquilo que parecia ser uma realidade muito triste, uma tentativa de corrigir essa noção de sofrimento e desgaste que nos transmitiram'.  

"Segundo o raciocínio deste criador, 'ao relatar tempos difíceis, o ser humano tem sempre tendência para choramingar e pintar cenários mais dramáticos do que a realidade'. 'Mas imaginem estas mulheres em grupo. Era uma alegria fantástica! Era impossível andarem todas consternadas', repara António. 'Para levarem a vida que levavam, aquelas mulheres tinham de ter muita força. Mas essa não era uma força de sofrimento, mas sim coragem e ânimo', acredita.

"Assim sendo, 'as mulheres aqui retratadas transpiram energia, juventude e até alguma bizarria – umas parece que estão a brincar, outras mais concentradas no trabalho. Quis criar essa combinação expressiva entre elas', conclui." (...)

(...) "Ao recuperar a memória destas mulheres e do seu ofício, António está a retratar um objeto cultural e patrimonial profundamente ligado à história pessoal de muitas das pessoas que por ali passam diariamente. Esta proximidade afetiva com a comunidade faz com que a obra se eleve, adquira um simbolismo especial e estimule uma participação cívica curiosa" (...)

(...) "Já nos anos de 1990, António pintava murais ligados à pesca artesanal, em Cabo Verde. Todavia, esta é a primeira vez que trabalha o tema da faina maior. Para conceber estes retratos, António fez pesquisa no Museu Marítimo, visitou antigas secas, mas também teve em conta a comunidade, as pessoas, os herdeiros diretos desta cultura e tradição. No fim, já não tem dúvidas, o imaginário da pesca do bacalhau 'é fascinante' " (...)

2. Nota biográfica sobre o capitão  Aveiro:

(i) Valdemar Aveiro nasceu em Dezembro de 1934, em Ílhavo, no seio de uma família
de pescadores;

(ii)  aos 15 anos concorreu à Escola Profissional de Pesca, ganhou uma bolsa de estudo que lhe deu acesso ao liceu e, posteriormente, à Escola Náutica, onde concluiu o Curso de Pilotagem;

(iii) embarcou como moço a bordo do lugre-motor Viriato para fazer uma viagem à pesca do bacalhau no sentido de suportar as despesas da sua formação;

(iv) em 1957 embarcou como praticante de piloto no navio Santa Mafalda, da Empresa de Pesca de Aveiro, sendo promovido no ano seguinte a piloto, a bordo do mesmo navio;

(v) pssou a oficial imediato, do navio Santa Joana, em 1960;

(vi) foi emigrante no Canadá, até que  em 1966 voltou à Faina Maior, embarcando no navio São Gonçalinho;

(vii)  no ano seguinte passou para um navio moderno, Santa Isabel, comandado pelo capitão David Calão;

(viii) assumiu, em 1970, o comando do mais velho arrastão português, Santa Joana, e, dois anos depois, foi convidado para comandar o navio Coimbra, então em construção nos Estaleiros de S. Jacinto;

(ix)  retirou-se por doença em 1988;

(x) após a sua recuperação, foi convidado a colaborar com a administração da Empresa de Pescas S. Jacinto, SA, sendo, desde 1991, membro do seu conselho de administração.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20671: Agenda cultural (745): lançamento de mais um livro de um dos nossos últimos "lobos do mar", o capitão Valdemar Aveiro: "Apelos do Passado: Recordações da Pesca do Bacalhau"... Apresentação da obra: prof Álvaro Garrido. Local e data: Museu Marítimo de Ílhavo, 6 de março, 21h30.


Ficha técnica:
Apelos do Passado - Recordações da Pesca do Bacalhau
ISBN 978 972 780 714 7
Edição: 1.ª Edição - Fevereiro de 2020
Páginas: 98
Formato: 15x23cm
Preço de capa: €11,00


O autor: Valdemar Aveiro

Valdemar Aveiro nasceu em Dezembro de 1934, em Ílhavo, no seio de uma família de pescadores.

Terminada a instrução primária, começou a trabalhar como aprendiz de barbeiro, passados 10 meses empregou-se numa oficina de serralharia civil e, mais tarde, na construção civil.

Aos 15 anos concorreu à Escola Profissional de Pesca, ganhou uma bolsa de estudo que lhe deu acesso ao liceu e, posteriormente, à Escola Náutica, onde concluiu o Curso de Pilotagem. Embarcou como moço a bordo do lugre-motor Viriato para fazer uma viagem à pesca do bacalhau no sentido de suportar as despesas da sua formação.

Em 1957 embarcou como praticante de piloto no navio Santa Mafalda, da Empresa de Pesca de Aveiro, sendo promovido no ano seguinte a piloto, a bordo do mesmo navio. Passou a oficial imediato, do navio Santa Joana, em 1960.

Emigrou para o Canadá, em Abril de 1964, na persecução de se licenciar em Medicina, um sonho que não logrou cumprir, tendo regressado a Portugal no ano seguinte. Em 1966 embarcou no navio São Gonçalinho e no ano seguinte passou para um navio moderno, Santa Isabel, comandado pelo capitão David Calão.

Assumiu, em 1970, o comando do mais velho arrastão português, Santa Joana, e, dois anos depois, foi convidado para comandar o navio Coimbra, então em construção nos Estaleiros de S. Jacinto.

Retirou-se por doença em 1988.

Após a sua recuperação, foi convidado a colaborar com a administração da Empresa de Pescas S. Jacinto, SA, sendo, desde 1991, membro do seu conselho de administração.


Fonte: Âncora Editora >Autores > Valdemar Aveiro

O Valdemar Aveiro,ou capitão Aveiro,  como é carinhosamente conhecido e tratado,  é nosso amigo, meu e do José António Paradela. Tem cerca de uma dezena de referências no nosso blogue,ligadas à sua atividade como escritor e às suas memórias da pesca do bacalhau. Tem seis livros publicados na Âncora Editora.

Temos, por sua vez, 30 referências, no nosso blogue,  à pesca do bacalhau. (*)

Recorde-se que, e como aqui escrevemos em tempos (**), "já desde 1927, do tempo da Ditadura Militar, havia legislação que veio promulgar medidas de incentivo ao desenvolvimento da pesca do bacalhau, e nomeadamente facilitar (e tornar mais atrativo) o recrutamento do pessoal (vd. Diário do Governo, 1.ª série, Decreto n.º 13441, de 8 de Abril de 1927). "

Uma dessas medidas era justamente "a dispensa do serviço militar aos pescadores e marinheiros que tivessem cumprido um mínimo de seis campanhas de pesca consecutivas na frota nacional bacalhoeira". Frota heróica, diga-se de passagem!...

Havia ainda a possibilidade de os mancebos apurados para o serviço militar  beneficiarem de "adiamento até aos 26 anos"...  Além disso, "a falta à junta de recrutamento podia ser relevada desde que os faltosos fizessem prova de que estavam embarcados"...

Conclusão; a pesca do bacalhau na Terra Nova e na Groenlândia, durante todo o  Estado Novo,  era um verdadeiro "desígnio nacional"...
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Notas do editor:


quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Guiné 61/74 - P18923: Agenda cultural (646): Conferência "História da Pesca do Bacalhau na Terra Nova", sexta-feira, 24 de agosto, às 20H00, no Ateneo Ferrolan, Madalena, Ferrol, província da Corunha, Galiza, Espanha (Capitão Aveiro)


1. Do nosso amigo Capitão Aveiro (Valdemar Aveiro, da Costa Nova, Ílhavo), receebemos o seguinte convite, que divulganos com o todo o gosto:

El Ateneo Ferrolán, la Editorial Áncora de Lisboa y Aetinape te invitan a conocer la apasionante aventura de la pesca del bacalao en los mares de Terranova"

Estimado amigo y compañero:

Te invitamos a la Conferencia-Proyeccion-Colóquio "Historia de la pesca del bacalao en Terranova", organizada por la Asociación Española de Titulados Náutico-Pesquera (AETINAPE) y la Editorial Âncora, de Lisboa, con la colaboración del Ateneo Ferrolán y el cantautor Manolo Bacallao, que fue tripulante en los caladeros de Terranova.

Su autor es una persona entrañable, Valdemar Aveiro, capitán portugués que se jubiló al mando del bou "Coimbra", buque insignia de la pesca portuguesa. A sus 84 años conserva la ilusión y la inteligencia de relatar la dura vida de la pesca del bacalao. 

Valdemar es un gran erudito en la historia de estas pesquerías, con siete libros publicados por la Editorial Áncora de Lisboa. Es una persona culta, empática, profesional, con una gran dignidad, lo que le hizo cosechar importantes y profundas amistades con muchos profesionales gallegos y vascos que también se dedicaban a esta pesquería.

No exageramos si después de conocer su obra y mantener varias conversaciones con él reconocemos que estamos probablemente ante una de las personas con mayores conocimientos históricos de la pesca del bacalao que él maneja a través de datos históricos desde el siglo VIII.


Cabe recordar la gran importancia del puerto de Ferrol en las épocas doradas del bacalao, ya que la PYSBE (una de las grandes empresas pesqueras de la época) tenía aquí una de sus factorías más importantes y parte de su flota operaba desde Ferrol, que con A Coruña, Vigo y Pasajes, fue uno de los puertos y comarcas de referencia.

En el evento, participará también el editor Antonio Baptista Lópes.

Durante este evento, se proyectará un vídeo con números premios internacionales sobre la pesca del bacalao en Terranova con doris (embarcaciones que se transportaban en los grandes barcos bacaladeros y desde las que se pescaba con anzuelo)

Por todo ello, te rogamos que nos honres con tu asistencia a este acto y que hagas extensiva esta invitación a las personas que consideres oportuno.

La entrada es libre

CONFERENCIA-PROYECCIÓN-COLOQUIO DE VALDEMAR AVEIRO

HISTORIA DE LA PESCA DEL BACALAO EN TERRANOVA

DÍA: VIERNES, 24 DE AGOSTO

HORA: 20:00


LUGAR: ATENEO FERROLÁN (Magdalena 202-204-Ferrol)

Este acto estará presentado por el presidente de AETINAPE, José Manuel Muñiz Ríos.

[O convite é da responsabilidade dos organizadores do evento. Fixação e revisão de texto: LG. Sobre a pesca do bacalhau, que chegou a ser  "alternativa" à guerra do ultramar / guerra colonial, para alguns jovens da nossa geração, temos cerca de 3 dezenas de referências no nosso blogue] 
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Nota do editor:

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18364: Agenda cultural (630): Seminário "Nos Mares da Memória", 4ª feira, dia 7 de março, às 15h00, em Paço de Arcos, Escola Superior Náutica Infante D. Henrique... Aberto a todos os que se interessam pela história dos portugueses nos mares da Terra Nova e da Gronelândia.





1. Convite para a participação no seminário "Nos Mares da Memória", 3ª edição, a realizar no próximo dia 7 de março, 4ª feira, às 15h00.

Local: Escola Superior Náutica Infante D. Henrique (ENIDH), em Paço de Arcos, 
Av. Engenheiro Bonneville Franco (9,39 km).

Programa: apresentação de 2 obras editadas pela Fundação Gil Eanes;:

(i) "Os navios da pesca à linha", do canadiano Jean Pierre Andrieux;

(ii) "Heróis que o tempo não  apaga - Um conto real de vida", do nosso amigo capitão Valdemar Aveiro;

e ainda a projeção do documentário “Nos Mares da Memória - estórias de uma faina maior...", um filme de Rui Bela, com guião de Senos da Fonseca,

Aberto a todos os que se interessam pela história dos portugueses nos mares da Terra Nova e da Gronelândia.

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Nota do editor:


quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Guiné 61/74 - P17646: Agenda cultural (577): "Heróis que o tempo não apaga", palestra de capitão Aveiro, o escritor Valdemar Aveiro, Clube de Vela da Costa Nova (CVCN), Costa Nova do Prado, Ílhavo, 18 de agosto de 2017, às 21h30


Palestra baseada no livro do ilhavense Valdemar Aveiro, mais conhecido por Capitão Aveiro, "Heróis que o tempo não apaga: um conto real de vida", obra que acaba de ser editada, em maio último, pela Fundação Gil Eanes, com sede em Viana do Castelo.

São histórias e memórias da faina diária a bordo de um lugre bacalhoeiro, contadas na primeira pessoa do singular, por quem viveu de perto esta nossa odisseia coletiva, a pesca do bacalhau à linha.

Apresentação a cargo de Artur Aguiar.

Local, data e hora: Clube de Vela Costa Nova (CVCN), av José Estevão, Costa Nova do Prado, Ílhavo, tele 234 369 300... No dia 18 de agosto de 2017, às 21h30.

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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de julho de 2017 >  Guiné 61/74 - P17627: Agenda cultural (576): Montemor o Novo, Biblioteca Municipal, Clube de Leitura, ciclo temático "A guerra colonial", 2ª sessão: "África na Literatura Portuguesa - Um tema de uma geração", por Carlos Matos Gomes, 4 de agosto, às 18h00. Entrada livre, aberta e incentivada à participação de todos/as.

terça-feira, 13 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17460: Recortes de imprensa (88): O nosso amigo capitão Valdemar Aveiro, em Vigo, Galiza, defendendo os pergaminhos da história da pesca do bacalhau ("Faro de Vigo", 10.06.2017)



Espanha > Galiza > Vigo > Club Faro de Vigo >Auditório Municipal e Areak > 9 de junho de 2017 > O capitão Valdemar Aveiro, à direita, com José Manuel Muñiz. presidente da Asociación de Titulados Náutico-Pesqueros (AETINAPE).


 Foto: Marta G. Brea. Fonte: Faro de Vigo, 10.06.2017 ( Com a devida vénia,,,)

Valdemar Aveiro > 
"Los políticos están destruyendo las flotas pesqueras"

Faro de Vigo | Ágatha De Santos Vigo 10.06.2017 | 03:03

(...) "Los caladeros están llenos de pescado y sin embargo, hay quienes continúan diciéndonos que tenemos que tener cuidado con lo que pescamos porque vamos a quedarnos sin recursos pesqueros". Así de contundente se mostró el invitado de ayer del Club FARO, Valdemar Aveiro, capitán portugués especialista en la pesca del bacalao, que repasó la historia de esta pesquería y habló de su presente y también de su futuro, uno futuro que no augura nada bueno.


"Los políticos y la Unión Europea están destruyendo las flotas (pesqueras) y aún dicen que tenemos que tener mucho cuidado con las cuotas si no queremos quedarnos sin pescado. Y no puedo entender que digan esto cuando hay tanta gente en paro", afirmó durante su intervención en el Auditorio Municipal do Areal, que fue presentada por José Manuel Muñiz, presidente de la Asociación de Titulados Náutico-Pesqueros (AETINAPE)."

El invitado del Club FARO aseguró que esta advertencia sobre la escasez de recursos marinos es falsa. Es más, según Aveiro los caladeros de pescado están llenos. "Hay tal cantidad de pescado que se están comiendo a sus crías", advirtió el capitán de pesca portugués, de 83 años, que añadió que esto supone un serio problema para el medio marino. "Quienes siguen empeñados en que creamos que no hay suficiente pescado, nos dicen también que hay un problema con el pescado pequeño, que no hay. Y no hay porque los peces grandes se están comiendo a los pequeñitos", insistió.

Tampoco es cierto, añadió, que el problema de la escasez aludida se deba a los ciclos de reproducción de los peces. No al menos en el caso del bacalao. "Es falso que el bacalao solo se reproduzca una vez al año. Además, la hembra del bacalao pone entre siete y ocho millones de huevos, aunque no sobreviven todos, por supuesto", explicó.

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O jornalista lembra que o conferencista se matriclou co mo moço aos 15 anos, num barco de pesca de bacalhau tradicional, o duro sistema de pesca tradiconal português, baseado na pesca à ,linha com os "dóris", e que aos 21 anos se diplomou como capitão da marinha mercante. 

Dedicou toda uma vida à pesca do bacalhau na Terra Nova e na Groenlândia, tendo-se reformado como capitão do navio "Coimbra" [, foto à esquerda, de Valdemar Aveiro], o campeão da frota de pesca bacalhoeira portuguesa. 

Mantendo.-se ainda no ativo como gestor, é também um reputado e vigoroso cronista da história da pesca do bacalhau na segunda metade do século passado. É já autor de cinco livros sobre este setor piscatório que, durante anos e anos, foi fundamental para a economia não só portuguesa como também para a economia das regiões galega e basca.

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(...) Durante los años que pasó embarcado, siempre dedicado a la pesca de arrastre, también ha sido testigo de naufragios, como el del "Santa Mónica". Aún así, continúo embarcado. Tampoco la dureza del oficio le disuadió para quedarse en tierra. "Hablar de la pesca del bacalao es hablar de una saga heroica", dijo refiriéndose a los cientos de marineros que hicieron de esta pesca su modo de vida.

A esto, se sumaría después las reducciones en el número de capturas de la Unión Europa. "Las cuotas miserables nos han perjudicado a todos", aseguró. Y por último, las plataformas petrolíferas, que limitan también la zona pesquera.

La política pesquera no ha beneficiado precisamente a las flotas pesqueras, ni a la gallega ni a la portuguesa. "No sé cuántos barcos tenía la flota española. Sé que era una de las más importantes del mundo. La portuguesa es mucho más pequeña, pero llegó a tener 77 barcos de pesca. Hoy no tenemos más de once, y no todos son portugueses, sino holandeses", dijo el ponente, que añadió que hoy en día nada de sorprende.

El conferenciante estuvo hace tres días en el Parlamento portugués precisamente para hablar sobre la situación de la flota pesquera portuguesa como experto en la materia. (...)

terça-feira, 9 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17337: Agenda cultural (560): Apresentação da coleção "Recordações da Pesca do Bacalhau" (5 vols., Âncora Editora; autor: comandante Valdemar Aveiro, capitão Aveiro, uma lenda viva da epopeia da Terra Nova): Escola Superior Náutica Infante D. Henrique, Paço de Arcos, Oeiras, 17 de maio, 4ª feira, 15h00




1. Convite da Escola Superior Náutica Infante D, Henrique e Âncora Editora, que nos chega através de um amigo comum,  o arquiteto José António Paradela, natural de Ílhavo e apaixonado pelas coisa do mar e da pesca:


No próximo dia 17 de maio, pelas 15 horas, será apresentado na sala 0.27 a coleção de livros "Recordações da Pesca do Bacalhau" da autoria do Cte. Valdemar Aveiro. 

A apresentação das obras será efetuada pelo Sr. Cte de Mar e Guerra Augusto Alves Salgado[, doutor em História dos Descobrimentos, professor na Escola Naval].


2. Sobre o autor, Valdemar Aveiro, o mítico capitão Aveiro [. foto à esquerda, cortesia da Âncora Editora]

(i) nasceu em dezembro de 1934, em Ílhavo, no seio de uma família de pescadores;

(ii) terminada a instrução primária, começou a trabalhar como aprendiz de barbeiro, passados 10 meses empregou-se numa oficina de serralharia civil e, mais tarde, na construção civil;

(iii) aos 15 anos concorreu à Escola Profissional de Pesca, ganhou uma bolsa de estudo que lhe deu acesso ao liceu e, posteriormente, à Escola Náutica, onde concluiu o Curso de Pilotagem;

(iv) embarcou como moço a bordo do lugre-motor Viriato para fazer uma viagem à pesca do bacalhau no sentido de suportar as despesas da sua formação;

(v) em 1957 embarcou como praticante de piloto no navio Santa Mafalda, da Empresa de Pesca de Aveiro, sendo promovido no ano seguinte a piloto, a bordo do mesmo navio, e em 1960 passou a oficial imediato do navio Santa Joana;

(vi) emigrou para o Canadá, em Abril de 1964, na persecução de se licenciar em Medicina, um sonho que não logrou cumprir, tendo regressado a Portugal no ano seguinte;

(vii) em 1966 embarcou no navio São Gonçalo e no ano seguinte passou para um navio moderno, Santa Isabel, comandado pelo capitão David Calão;

(viii) assumiu, em 1970, o comando do mais velho arrastão português, Santa Joana, e, dois anos depois, foi convidado para comandar o navio Coimbra, então em construção nos Estaleiros de S. Jacinto, tendo-se retirado por doença em 1988;

(ix) depois de recuperado, foi convidado a colaborar com a administração da Empresa de Pescas S. Jacinto, SA, sendo, desde 1991, membro do seu conselho de administração.

Livros publicados na Âncora Editora:

80 Graus Norte - Recordações da Pesca do Bacalhau

Ecos do Grande Norte – Recordações da Pesca do Bacalhau

Histórias Desconhecidas dos Grandes Trabalhadores do Mar - Recordações da Pesca do Bacalhau

Nómadas do Oceano - Recordações da Pesca do Bacalhau

Fonte: Âncora Editora

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Nota do editor: 

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12730: Notas de leitura (564): "Murmúrios do vento", da autoria do capitão Valdemar Aveiro, 3º livro de uma trilogia sobre a epopeia da pesca do bacalhau, que chegou a ser alternativa à guerra colonial (Prefácio de José António Paradela, arq) (Parte II)



1. Continuação da publicação do prefácio do José António Paradela ao livro de Valdemar Aveiro, "Murmúrios do vento: recordações da pesca do bacalhau" [ Lisboa: Editorial Futura, 2012, 223 pp + fotos; capa: Sofia Ferreira de Lima, Âncora Editora; reproduzida à direita, com a devida vénia].


Prefácio, por José António Paradela, Arquiteto

[por cortesia do prefaciador e do autor da obra, meus amigos de Ílhavo]

(...)

Tive oportunidade de apresentar o segundo livro com um texto até hoje inédito e que me parece fazer todo o sentido deixá-lo aqui, porque este livro é apenas a cúpula do edifício que o autor agora deu por acabado.  Não vai pois a História ficar roubada da sua versão relatada na primeira pessoa. Daí a importância destes livros.

“Caro Valdemar:

Passados quase 50 anos, talvez, como muitos de nós, eu tivesse matéria para contar algumas histórias, mas falta-me o engenho e sobretudo a tua aguda memória, capaz de gravar imagens a fogo no leito do tempo.

Leio novamente as tuas histórias e gosto sempre mais.  Isto só me acontece com certos livros, mas nem sempre pelos mesmos motivos.  Estou a lê-las e a recordar-me de Alain Gerbault ( À la Porsuite du Soleil ), e de Hemingway (O Velho e o Mar), mas sobretudo de Melville de(Moby Dick).


O barco de que falas, o teu Coimbra, já não é de madeira, nem os cabos são de cânhamo, e a baleia tem agora a dimensão dos labirínticos campos de gelo flutuante.  Mas o alento que te atravessa a alma é da mesma natureza, agora consubstanciado na caça ao cardume viscoso e fugaz sob o gelo.

Estas circunstâncias são para ti um apelo, um desafio à aventura, à vitória da descoberta, granjeada num segundo fôlego, ou mesmo num terceiro, quando os outros já ficavam abaixo da linha do horizonte, confundidos com a névoa.




Um das fotos que ilustra o livro: o navio "Coimbra", arrastão da Empresa de Pesca de S. Jacinto. Foi o último navio que o Valdemar Aveiro comandou, antes de se reformar da vida do mar. Continua, contudo ligado a esta empresa armadora, agora como administrador. Nasceu em Ílhavo, e vai fazer 80 anos no próximo mês de dezembro. (Reproduzido do livro, com a devida vénia...).

Descobriste e ensaiaste os mapas do comportamento da manta gelada, para evitares o seu abraço fatal. Mobilizaste os marinheiros – os rapazes, como lhe chamas, para o festim opulento corporizado na sacada de peixe de braço dado com o navio, esse saco-prenúncio do pão para os que em terra esperavam.

Não foste, e ainda bem, o capitão Ahab de Melville, ou o Santiago do Hemingway, mas a associação é inevitável.  Trata-se de vontade em estado puro, de maratonas diariamente repetidas, no afã de levares à terra a mensagem da vitória: Ganhámos! Como há 2500 anos na Grécia. Os homens mudam pouco!

Estamos perante um livro de prodigioso apelo à memória.

À memória do tempo vivido por entre aventuras e histórias, que por vezes assume um tom narrativo confessional, para reconstituir um passado feito de retratos minuciosos de seres que existiram (muitos existem ainda felizmente) e que marcaram o teu trajeto, quase sempre sobre as águas, que do planeta são ainda a parte incógnita.

Não falo dos peixes e da sua geografia, mas dos homens que as habitaram, estes de quem tu falas e que agora convocas a sair do esquecimento.  São histórias assumidas conscientemente como um ajuste de contas contigo mesmo e com aqueles que contigo andaram ou te cruzaram a rota.

O que afirmas, na singularidade e sinceridade da tua escrita, é o tempo em que viveste outro tempo, marcado pelos amigos, ou mesmo por aqueles que contigo se confrontaram. E também a falta que isso agora te faz. 


Outra das fotos que ilustra o livro: (Reproduzida aqui com a devida vénia...).



Paciência, meu amigo, isso é a vida, que faz de cada um de nós uma narrativa única, marcada pela força dos companheiros de aventura e que dentro de nós se arvoram ainda como cínicos que ficaram para nos invectivar e evocar esse tempo de esperanças, amores e desilusões.


Cap Valdemar Aveiro

Um tempo de outrora, mas também de hoje, porque está dentro de nós.

Este livro é o livro que faltava…  

Falo do assunto que coloquei como frontispício deste texto: O esquecimento.  A História com agá grande tem sempre os seus sacerdotes, que vasculham bibliotecas e alinham factos inventando elos de ligação quando necessário. É útil mas insuficiente.

Walter Benjamim, filósofo maldito agora recuperado, desconfiado da historiografia oficial, incitava a “escovar a história a contra pelo”. Para ele o perigo estava no esquecimento, no silenciamento da memória.  Dizia ele: “Toda a imagem do passado… corre o risco de desaparecer com cada instante presente que nela não se reconheceu”.

O teu livro, os teus livros melhor dizendo, porque para mim podiam ser juntos num único, escovam a história a contra pelo.  Haverá quem faça a “história oficial” da Faina Maior, mas é necessário buscarmos o que nela foi esquecido ou abafado, isto é, o que não existe nos arquivos. Os vestígios que o tempo sufocou, as personagens e os episódios que foram ou não chegaram a ser mesmo, colocados nas notas de rodapé dos historiadores oficiais.

O teu livro tem também esse mérito: não deixa silenciar, e regista de modo vivíssimo e rigoroso as ligações orgânicas dos homens – com nome e tudo como tu fazes questão de escrever – aos seus instrumentos e às suas palavras, essas que te obrigaram a fazer um glossário. (Podes acrescentar nesse glossário: “camisolinha interior = copo de bagaço”).

A compreensão histórica de determinados contextos sociais passa obrigatoriamente por aqui:

Pelas ligações estabelecidas entre os homens e os seus instrumentos (em que a linguagem é seguramente o mais importante), e até pelos copos, naturalmente… Lembro-me de Pessoa, e sobretudo de Mussorsky, ardido no álcool, a legar-nos música imortal.

Hoje, que a Internet comporta e transporta milhões de histórias, podemos ser levados a pensar que o problema já não existe, esquecendo que alguém terá de as contar.  Só que não basta contá-las.  E é neste ato de contar, que acompanha os humanos desde os primórdios, neste incontornável filtro da inteligência e do “coração”, que reside a pedra filosofal capaz de transformar uma narrativa banal numa obra de arte viva e perene como tu fizeste para nosso encanto.

Não relataste apenas histórias de uma vida, não personalizaste o navio como já vi, fazendo-o arfar como um animal no esforço da corrida. Ou, como em Hemingway, plasmando no peixe a ansiedade do homem.  Contextualizaste um mundo de relações humanas entre o povo flutuante e errático da pesca do Atlântico Norte, cuja aventura cairia minorada se a não contasses.  E o modo como o fizeste entra pelos domínios da grande arte de narrar.

Para terminar, porque o importante mesmo é ler os teus livros, dir-te-ei que – ainda que esta seja apenas a tua versão dos factos – ela não deixa de ser menos verdadeira.  E é uma parte fundamental da História, doa a quem doer...

Como dizia um combatente da guerra civil espanhola ao relatar a sua experiência:  “… no sé yo cuanto le puede importar a usted ésto que le estou diciendo, no sé si esto le puede importar a alguièn, porque estas cosas no las cuentan los libros, esto no sale nunca en la historia, pero sabe lo que lo digo? Esta es mi verdad”.


Esta é a tua verdade, e através dela resgataste do esquecimento, todos os que convocaste, e através deles todos os outros.

Muitos recuarão ao centro de onde partia o tempo, onde os minutos eram iguais à eternidade, ali, onde os teus livros, de páginas já amareladas continuarão a ensinar aos homens o que foi aquela vida!“

Julho de 2012

José António Paradela, arquiteto

[, natural de Ílhavo; foto à direita; Costa Nova,
agosto de 2007; foto de L.G.]






Dedicatória ao autor, antigo comandante do navio Coimbra aos pescadores e marinheiros que com ele trabalharam ao longo de uma vida

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domingo, 16 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12725: Notas de leitura (563): "Murmúrios do vento", da autoria do cap Valdemar Aveiro, o 3º livro de um trilogia sobre a epopeia da pesca do bacalhau, que chegou a ser alternativa à guerra colonial (Prefácio de José António Paradela, arq) (Parte I)


Capa do livro de Valdemar Aveiro: "Murmúrios do vento: recordações da pesca do bacalhau" [ Lisboa: Editorial Futura, 2012, 223 pp + fotos; capa: Sofia Ferreira de Lima, Âncora Editora; reproduzida com a devida vénia].




Dedicatória autografada ao editor do blogue,  Luís Graça






Nota biográfica sobre o autor, o capitão Valdemar Aveiro, nascido em 1934, em Ílhavo.  Cortesia do autor e do editor.


Índice da obra



PREFÁCIO, por José António Paradela, Arquiteto [natural de Ílhavo, e meu grande amigo]

[por cortesia do prefaciador e do autor da obra, meus amigos de Ílhavo]


“…E dentro de uma geração quem é que se lembrará disto?  A menos que fique escrito, tudo se perderá no nada.”  (Valdemar Aveiro)


Esta reflexão, respigada do autor, confronta-nos por um lado com o risco de esquecimento da História, reagindo saudavelmente por outro, a essa entropia; à mudez que muitas vezes se segue às vivências cuja violência assume uma dimensão desmedida.

Não é por acaso que só agora, ao fim de mais de três décadas, haja na sociedade portuguesa coragem para contar as histórias que se passaram na segunda metade do século vinte, por aqueles que efetivamente as viveram.  Sejam as da guerra colonial, sejam as dessa outra guerra que foi a não menos violenta, porque psicologicamente castradora, da pesca do bacalhau que, ironicamente, chegou a ser alternativa legal à guerra de África. 

[Negritos e sublinhados de L.G. Vd. este tópico, a pesca do bacalhau como alternativa à guerra colonial, vd. aqui o respetivo marcador.]

Na verdade quando os acontecimentos superam a capacidade de assimilação do ser humano, este têm de se proteger criando mecanismos de defesa contra o excesso de estímulos de sinal negativo, gerados pelas condições adversas que obrigatoriamente têm de enfrentar.  No caso de alguns acontecimentos traumáticos, esse escudo de proteção é porém insuficiente, e deixa marcas profundas que impossibilitam qualquer verbalização.

Tive em casa um exemplo disso: Gostando de escrever histórias nos últimos anos da sua vida, o meu pai nunca relatou, salvo um ou outro episódio da juventude, os mais amargos momentos que passou ao longo de uma vida de 50 anos no mar, embarcado em navios por vezes decrépitos, onde esteve em risco de naufragar várias vezes.

Mas felizmente, não é esse o caso do Capitão Valdemar Aveiro, que publica agora o seu terceiro livro (*), o último de um tríptico magistral, contado quase sempre na primeira pessoa, composto de tábuas pintadas de saborosa e colorida literatura.  Essas tábuas são narrativas que formam, sem dúvida, o mais completo políptico sobre a gesta incomensurável da pesca do bacalhau escrita até hoje por quem, na verdade, a viveu. 

Outros o têm feito, mas quase sempre como espectadores privilegiados, como Bernardo Santareno, ou Alan Villiers, por exemplo.

Os narradores gostam de começar as histórias com uma descrição das circunstâncias em que foram informados dos factos, a menos que essas histórias se refiram a experiências autobiográficas.  É isso que acontece nestes livros de Valdemar Aveiro, permitindo-lhe imprimir a sua marca nas narrativas, como o oleiro na argila do vaso, recheando-as com um cunho de verdade, de saudade, de solidariedade... falando em tons sempre adequados à natureza de cada estória.

Este, é o seu Terceiro Livro, como diz o autor, mas é nele que se encontra o alfa e o ómega desta soberba trilogia:  No começo, o retrato do autor enquanto jovem, abrindo as pétalas da vida no despontar da manhã que o traria até estas estórias.  No final, a homenagem serena e plena de gratidão àqueles em cujos ombros soube apoiar-se, e que o ajudaram a crescer nos princípios da verticalidade que lhe permitiram estar naquela vida, maior entre os maiores, enfrentando temporais de inveja e mesquinhez, mais traiçoeiros que a ventania no oceano, notavelmente relatadas neste último episódio.

Neste livro, e no espaço intermédio entre a primeira e a última narrativas, outros episódios se vêm somar ao acervo contido nos livros anteriores, pejados da mesma graça, e aguçada escrita, abundante de termos por vezes estranhos, apelando à consulta do glossário.

(Continua) (**)

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