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segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27333: Notas de leitura (1853): "Os Có Boys (Nos Trilhos da Memória)", de Luís da Cruz Ferreira, ex-1º cabo aux enf, 2ª C/BART 6521/72 (Có,1972/74) - Parte IV: de Figo Maduro a Bissalanca "by air", e depois de LDG até Bolama para a estopada da IAO (Luís Graça)




Guiné > Zona Oeste >  Região do Cacheu , Có > 2ª C/BART 6521/72 (1972/74) > Messe da caserna do 2º pelotão. O autor em primeiro plano à direita. (Foto, com devida vénia, retirada da pág. 135 e reeditada por LG).



Crachá da 2ª C/BART 6521/72 (Có, 1972/74)


Capa do livro 

1. Continuando a leitura do livro do Luís da Cruz Ferreira, "Os Có Boys" (edição de autor, 2025, il., 184 pp,) 
(ISBN 978-989 -33.7982-0) (*). (Revisão / fixação de texto:  J. Pinto de Carvalho.)


Com a especialidade de auxiliar de enfermeiro feita em Coimbra, no RSS (Regimento de Serviços de Saúde) (jan/mai 1972), o Luís é mobilizado para a Guiné, indo formar batalhão, o BART 6521/72, no RAL 5,  Penafiel (jun / set 1972). 

No seu livro de memórias (elaborado sem recurso a fontes em papel), ele começa por perguntar como se formara aquele batalhão. 

O Luís, chegado a Penafiel, com mais dois camaradas que vieram com ele do quartel da Carregueira, Sintra,  não conhecia mais ninguém. Os três, munidos da respetiva "guia de marcha", acabavam de se apresentar de manhã no RAL 5, a unidade mobilizadora do seu batalhão. 

Chegaram às 3h00 da manhã. Tinham saído da Carregueira  às 11h00 do dia anterior, num dia de junho de 1972. Claro, aproveitaram para pôr o sono em dia, até ao toque de alvorada.  A cama foi improvisada: foram as pedras da calçada, com o saco da roupa a servir de travesseiro.

(pág. 39)


Achámos piada ao termo da gíria de caserna, "atiruense", forma engraçada mas irónica de designar, afinal,  a grande maioria dos militares que iam para o CTIG. Em 1969/71, eram também conhecidos como "amanuenses de gatilho",  enfim a derradeira especialidade que o diabo quereria ter ali, naquele "cu de Judas", a Guiné (hoje, Guiné-Bissau). 

Por outro lado, repare-se na observação sobre o médico e os quatro auxiliares de enfermeiro que em princípio deveriam seguir na 2ª C/BART 6521/72. 

 Médico não havia, e dos quatro 1ºs cabos da secção sanitária só seguia o Luis e o Faleiro. A solução "ad hoc" encontrada,  mais tarde, chegados a Có, foi fazer dois auxiliares de enfermeiro, "de aviário", à pressa, para suprir as faltas. 

Enfim, mais um exemplo do "desenrascanço" à portuguesa (pág. 40).

Estava-se, de resto, numa época em que já ninguém  ligava à qualidade, mas à quantidade. Um país pequeno, com menos de 9 milhões de habitantes e forte emigração (um milhão e meio de portugueses, sobretudo jovens, vão sair de Portugal no período da guerra colonial, entre 1960 e 1975), e que já de si tinha fraca capacidade de recrutamento.

E a prova estava ali, o Luís vai conhecer os seus novos camaradas, os militares da 2ª C/BART  6521/72. Verifica que só tem um militar profissional, em 160 homens: é um graduado do QP (Quadro Permanente), o 1º srgt  António José do Ó, e que era de todos obviamente o mais velho (e respeitado, acrescente-se). 

Era o único, afinal, "que sabia das coisas da tropa" (pág. 42).

A maioria dos militares eram jovens, na casa dos 21/22/23 anos. O capitão nem sequer era do QP, era um miliciano,  com mais cinco ou seis anos do que os restantes. Todos, ao fim ao cabo, iam mal preparados (e por certo contrariados) para aquela guerra e aquele território, do capitão aos quatro alferes, dos furriéis aos cabos. 

Foram de autocarro, de noite, a caminho do aeroporto militar de Figo Maduro, em Lisboa. Para o autor, só podia ser intencional, por parte do exército, a opção pela viagem de noite.  Quase furtiva. "Iam acabrunhados nos seus bancos. antevendo as posições futuras nos seus abrigos de guerra na Guiné" (pág. 43).  Fizeram uma pausa em Pombal, na bomba de gasolina, para a malta se "aliviar". (Ainda não se falava em "áreas de serviço", e a estrada nacional nº 1 era um pesadelo.)

Foi a primeira viagem de avião que o autor fez na vida. Aqueles de nós que foram de barco para a Guiné,  não sabem, naturalmente, "o que perderam"... Em meia dúzia de linhas,  o Luís descreve, com um leve toque de ironia,  o ambiente que viveu nesse já longínquo dia 22 de setembro de 1973, por sinal uma sexta-feira.  Nem sequer iam de camuflado, levavam o uniforme de passeio, mais cinzento e discreto.

(pág. 449

O saco ou mala de viagem não podia ultrapassar os 25 kg. Lá teve que se desembaraçar de alguns livros, uma navalha de marinheiro e uma faca de mato. Em contrapartida, teve a sorte de viajar junto à janela. E, por pouco tempo embora,  conseguir desviar o seu pensamento, o "de que estava a caminho do mais perigoso palco de guerra que o nosso governo nos conseguira arranjar"  (pág. 45).

A meio da viagem , os passageiros especiais daquele Boeing 707 recebem ordens para despirem "o blusão de burel", que serviria para o próximo "desafortunado"  ou iria parar à Feira da Ladra.

A bordo teve direito a um copo de água.

A título de curiosidade, ficamos a saber que os dois Boeing 707 dos TAM, encomendados em 1970 e entregues em finais de 1971, "transportaram nos 3 anos seguintes cerca de 318 mil passageiros do Exército (78%), Marinha (7%) e Força Aérea (15%), além de muitas toneladas de carga. sem que tenham falhado uma missão". Uma história exemplar, os TAM, ao que parece.

Mas o Luís é sincero, quando  escreve, fazendo o resumo dessa viagem, nos TAM, que o pôs no mesmo dia à porta da guerra;

(...) "Gostei da sensação que senti quando o Boeing, de bico empinado, começou a ganhar altitude. (...) Gostei de me sentir por cima das nuvens (...). A viagem decorreu dentro daquilo que julgo ser normal; por mim, não tenho nada a assinalar e gostei tanto que estava prontinho para no mesmo avião fazer a viagem de regresso!" (...) (pág. 45).

Julgo que o Luís interpretava bem o estado de espírito dos restantes passageiros. Ia a "guerra do ultramar" no seu 11º ano...

Na chegada a Bissalanca, e com a abertura das portas da aeronave, o Luís não levou a tempo a dar-se conta de que estava nos trópicos: "entrou um bafo de tal modo quente que, de imediato, começámos a transpirar e a sentir o incómodo que nos iria acompnhar ao longo de dois anos - o tempo que durou a nossa comissão de serviço na Guiné" (pág. 46).

Além desta sensação de calor e humidade extremos,  que todos experimentámos à chegada a Bissau, o Luís dá conta de uma segunda experiência sensorial, "a intensidade dos odores da terra que resulta  das fortes chuvadas sobre os solos sobreaquecidos" (pág. 46).

Foi tudo muito rápido. e já temos os recém-chegados a caminho do Cumeré,  a 30 km a sudeste de Bissalanca. Com o batalhão completo, lá seguiriam,  três dias depois, em LDG, a caminho de Bolama para mais um período de instrução e de adaptação, a IAO (Instrução de Aperfeiçoamento Operacional)... Enfim, estações do calvário por que todos (ou quase todos) tivemos que passar.

Sentado no chão da LDG, em cima dos seus pertences, o Luís faz um trocadilho que diz muito do estado de espírito daqueles jovens a caminho de um futuro incerto, e longe de pensar que a guerra teria um fim um ano e meio depois:

 (...) "saboreando as primeiras gotas de um fel que nenhum de nós na metrópole saboreara, ante os sonhos justos e devidos de mel que os jovens  (...) de 20 anos esperavam "(pág. 47).

Quatro horas de depois, de noite, "em mar chão e a maré cheia" (pág.47),  chegam a Bolama através do grande canal do Geba.

Vale a pena acompanhar a leitura deste livrinho, singelo e serôdio, mas nem por isso menos interessante (pela capacidade de ajudar a reavivar as nossas próprias memórias da tropa e da guerrra: "Os Có Boys: nos trilhos da memória".

(Continua)


Luís da Cruz Ferreira (n. 1950, Benedita, Alcobaça). 
É membro da Magnífica Tabanca da Linha. 
E esperemos que aceite o nosso convite para se sentar, connosco,
à sombra do poilão da Tabanca Grande

  • nasceu em 2 de março de 1950, mas só  foi registado  seis meses depois, em 4 de outubro;
  • de alcunha o "Beatle", quando jovem;
  • profissionalmente já estava ligado à restauração, antes de ir para a tropa,  tendo trabalhado em diversos estabelecimentos conhecidos da Linha, e nomeadamente em Cascais, a começar pelo famoso  Muchaxo (Guincho).
  • foi trabalhador-estudante;
  • na tropa e na guerra, foi 1º cabo aux enf, tendo sido mobilizado para o CTIG, integrado na 2ª C /BART 6521/72 (Có 1972/74);
  • o  batalhão estava sediado no Pelundo; regressaram a  casa já em finais de agosto de 1974;

(Seleção, revisão / fixação de texto: LG)

_______________

Nota do editor LG:

(*) Último poste da série > 17 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27326: Notas de leitura (1852): "Ecos Coloniais", coordenação de Ana Guardião, Miguel Bandeira Jerónimo e Paulo Peixoto; edição Tinta-da-China 2022 (2) (Mário Beja Santos)



terça-feira, 14 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27315: P27259: Notas de leitura (1851): "Os Có Boys (Nos Trilhos da Memória)", de Luís da Cruz Ferreira, ex-1º cabo aux enf, 2ª C/BART 6521/72 (Có,1972/74) - Parte III: de Leiria a Coimbra, e da Carregueira a Penafiel, a caminho do CTIG (Luís Graça)



Crachá da 2ª C/BART 6521/72 (Có, 1972/74)


Luís da Cruz Ferreira (n. 1950, Benedita, Alcobaça)


1. Continuando a leitura do livro do Luís da Cruz Ferreira, "Os Có Boys" (edição de autor, 2025, il., 184 pp,) 
(ISBN 978-989 -33.7982-0) (*).

Oriundo co contingente geral, vamos encontrá-lo na recruta, no RI 7, Leiria, 4º turno de 1971 (out/dez 1971).

Fará depois a especialidade de auxilitar de enfermeiro, em Coimbra, no RSS (Regimento de Serviços de Saúde) (jan/mai 1972)

Irá de seguida  formar batalhão, o BART 6521/72, no RAL 5,  Penafiel (jun / set 1972). 

Daí partirá, de autocarro, em 22 de setembro de 1972, de noite, para o aeroporto militar de Figo Maduro,em Lisboa.  Embarcará num Boeing 707 para Bissau, onde chega no dia 26/9/1972 (uma pequena divergència quanto à data de chegada ao CTIG).

O exército levava quase um ano a formar um militar que depois seguia para o ultramar (Angola, Guiné ou Moçambique), em rendição individual, ou integrado num contingente. 

As suas observações críticas  (mesmo que "anedóticas"...) sobre o quotidiano da tropa naquela época merecem, só por si, uma nota de leitura à parte. O livro foi destinado, antes de mais, aos camaradas da sua subunidade,  tendo sido publicado (a 1ª edição) para comemorar, em 2/8/2024,  os 50 anos do regresso da 2ª C/BART 6521/72 (Có, 1972/74).

Com 11 anos de guerra, em Angola e 9 na Guiné e em Moçambique, o serviço militar obrigatório era vista, pelos jovens portugueses de então, como um tempo completamente perdido das suas vidas, que se podia prolongar por 3 ou mais anos. Muitos desses jovens já tinham saído das suas famílias, trabalhando ou continuando a estudar fora das suas terras.

A qualidade da instrução militar (recruta e especialidade) ressentia-se da necessidade, sobretudo do Exército, em mobilizar e preparar rapidamente dezenas de milhares de jovens para um conflito de longa duração, a milhares de quilómetros de casa e  de baixa popularidade. Técnica, tática, física e culturalmente, os militares portugueses iam mal preparados para  uma guerra dita de contra-guerrilha (ou "contra-subversão"), num terreno difícil, de clima tropical.



Capa do livro 


2.  Luís da Cruz Ferreira é natural da Benedita, Alcobaça. Nasceu em 2 de março de 1950, mas só  foi registado  seis meses depois, em 4 de outubro. 

De alcunha o "Beatle", quando jovem, profissionalmente já estava ligado à restauração, tendo trabalhado em diversos estabelecimentos conhecidos da Linha, e nomeadamente em Cascais, a começar pelo famoso  Muchaxo (Guincho).

Na tropa e na guerra, foi 1º cabo aux enf, tendo sido mobilizado para o CTIG, integrado na 2ª C /BART 6521/72 (Có 1972/74). O batalhão estava sediado no Pelundo. Também foram dos últimos soldados do Império, tendo regressado a casa já em finais de  agosto de 1974. 

Antes da suas relativamente tranquilas  "peripécias" da Guiné (onde acabará pro ser sobretudo professor do Posto Escolar Militar nº 20, em Có), vamo ver o que ele nos conta sobre o seu tempo de recruta e instrução de especialidade, bem como de formação de batalhão. (Em Bolama, o batalhão haveria ainda de fazer, durante mais de um mês, a sua IAO -  Instrução de Aperfeiçoamento Operacional, antes de ser colocado na zona oeste,  Sector 07, com sede em Pelundo e abrangendo os subsectores de Có, Jolmete e Pelundo.)

Comecemos pela distribuição do fardamento no RI 7, em Leiria;
 

Fonte: Luís da Cruz Ferreira, "Os Có Boys" (edição de autor, 2025), pág. 9.


Num quartel gigantesco (que albergaria, segundo autor,  c. 1500 homens, um regimento), ficou aboletado  numa caserna para 30 recrutas, com camas duplas, em beliche. Tocou-lhe o 1º andar. Tinha direito a um cacifo com o respetivo cadeado. 

Em Leiria, um quarto dos recrutas do contingente geral eram cooptados para o CSM (Curso de Sargentos Milicianos). Com três disciplinas que lhe faltavam para acabar o 5º ano do liceu,  o jovem recruta, com 21 anos e 6 meses de idade (ou só 21 anos, segundo o registo civil), tinha algumas esperanças de ser um dos "eleitos"... Não o foi, alegadamente por não ter nenhuma "cunha",  revoltou-se mas depressa se resignou, a viver naquele espaço "onde tudo quanto mexia, (...) era de cor verde" (pág. 11).

Visto por um "extraterrestre", aquele era um espaço de segregação, destinado apenas a homens,  "onde não havia mulheres" (pág. 11), e onde esses homens,  com postos hierárquicos bem diferenciados, tinham de se saudar uns aos outros, quando se cruzavam:



Fonte: Luís da Cruz Ferreira, "Os Có Boys" (edição de autor, 2025), pág. 11


Lembra os instrutores (cabos milicianos, furriéis, aspirantes...) que o tratavam com uma inesperada e desnecessária "rudeza". A instrução era dada "em passo de corrida". E havia a ideia de que um homem só era homem depois de ter ido à tropa, e de ter suportado, ci,m sucesso,  muitas privações, contrariedades, humilhações, afinal "demonstrações de coragem, destemor e capacidade  de sofrimento, além de muitas outras coisas inúteis" (pág. 11).



Fonte: Luís da Cruz Ferreira, "Os Có Boys" (ediçáo de autor, 2025), pág. 12


Havia "palestras" ou aulas ao ar livre. Mas o mais importante era o "exercício prático", com a omnipresente companhia da inseparável G3. Recorda a "ida à carreiro de tiro de Marrazes", onde cada recruta fez tiro a 100 metros, em várias posições, gastando cada um carregador de 20 balas... 

Equipara o RI 7 a uma "prisão", onde escasseavam os apoios sociais..Com tanta gente, beber um café na cantina, foi coisa que nunca conseguiu, e que muita falta lhe fazia. Estava habituado, na vida civil, a tomar, depois do almoço e do jantar, o seu "Tofa 404 e, mais tarde, o 505 embalado em vácuo" (pág, 13). Tal como era difícil comprar cigarros. Ir à cidade eram 2 km.  Com o tempo ameno, nesse outono de 1971,  ainda chegou a lá ir e ver nas esplanadas algumas meninas da sua terra, Benedita, Alcobaça, que estavam a tirar o curso do magistério primário. Capital de distrito, Leiria também tinha liceu.

Relembra ainda a semana de campo nas "matas de São Pedro de Moel" e "a tenda de quatro panos" que  ele e mais 3 recrutas montaram.  Passou o tempo doente, de amigdalite, na tenda, e de tal maneira que passou a odiar o campismo para o resto da vida.

Depois do juramento de bandeira, na parada do quartel, ficou a saber que lhe tinha calhado em sorte ir para Coimbra "tirar a especialidade de enfermeiro" (pág, 17).

De Coimbra, onde o colchão já era de espuma (em Leiria era de palha...), não guarda boas recordações da tropa, e muito menos do "rancho": tratavam os futuros enfermeiros "como presidiários com algumas precárias pelo meio para lavarmos a roupa que tínhamos bem suja à custa de nos fazerem ajoelhar, chafurdando nas terras enlameadas" (pág. 21).

Os transportes na época eram um pesadelo. Eram escassos, morosos e caros. Pouca gente ainda tinha carro. Aprendeu a andar à boleia, na estrada nacional nº 1. O célebre restaurante "O Bigodes", aberto 24 horas por dia, era paragem obrigatória, quer de camionistas quer dos militares que andavam à boleia. (Ainda hoje existe, IC2 / N 1 Km 81, 2475-034 Benedita),.

Um dia apanhou boleia até à Figueira da Foz, onde chegou às cinco da manhã. O comboio para Coimbra era só às sete. Com medo de chegar tarde à formatura, teve de ir de táxi, viagem que lhe custou uma pequena fortuna, 150 $00, o equivalente a 10 jantares (ou a 42 euros, a preços de hoje).

Comia-se tão mal no quartel, que era um antigo convento (e depois instalaçpes do RI 12 e, a oartir de 1965, do Regtimento do), que o Luís e um colega decidiram fazer, mesmo sem estarem desarranchados, as suas refeições por conta própria.

Quanto ao que aprendeu em Coimbra, 
entre janeiro e maio de 1972, foi muito pouco. E também ali não se falava do "conflito do ultramar"...



Fonte: Luís da Cruz Ferreira, "Os Có Boys" (edição de autor, 2025), pág. 25


Passou ainda pelo Hospital Militar Principal (HMP) na Estrela, em Lisboa, e pelo quartel da Carregueira. Ainda conseguiu fazer mais um disciplina do 5º ano, o inglês, faltando-lhe agora duas: fisico-químicas e matemática.

É pena que, passado mais de meio século, sobre o seu tempo de instrução de especialidade, em Coimbre e depois no HMP, à Estrela, haja poucas referências ao que ali aprendeu. Diz-nos apenas que foi pura perda de tempo. Mesmo assim, da sua passagem pelo "serviço de cirurgia plástica" do HMP, diz-nos que "através de observação, aprendi alguma coisa, não muito" (pag. 27).

Sabemos que o curso de especialidade para 1º cabo auxiliar de enfermeiro,   ministrado apenas em Coimbra, no Regimento do Serviço de Saúde (criado em 1965, poara responder às necessidades de pessoal sanitário nos 3 teatros de operaçóes. Os futuros furriéis enfermeiros, esses, tiravam a especialidade em Lisboa, no antigo quartel de Campo de Ourique,  onde  funciona a Escola do Serviço de Saúde Militar, a ESSM). 

O conteúdo era sobretudo prático,  devendo compreer matérias como: (i) noções básicas de anatomia e fisiologia; (ii) higiene e profilaxia de doenças tropicais (paludismo, disenterias, infecções cutâneas); (iiii) técnicas de enfermagem geral (curativos, injeções, soros, etc.); (iv) socorrismo em combate (estancar hemorragias, imobilizações, transporte de feridos, reanimação); (v) administração de medicamentos de rotina (quinino, cloroquina, antibióticos comuns); (vi) evacuação sanitária e triagem.

Portanto, o Luís deve ter recebido uma formação intermédia entre o socorrista civil e o enfermeiro profissional, com forte ênfase na autonomia e na  improvisação em condições adversas (recorde-se  que, na Guiné, tanto o furriel enfermeiro como o alferes médico, ambos milicianos, raramente saíam para o mato, sendo cada vez afetos, no tempo do gen António Spínola, aos serviços de saúde da província, prestando cuidados primários (e secundários) não só aos militares como à população civil.) (Os casos mais graves careciam de evacuação para o HM 241, em Bissau.)




Guiné > Zona Leste > Região de Gabu >  Nova Lamego > 1973 > CCS/ BART 6523 (Nova Lamego, 1973/1974)  > O 1.º cabo aux enf Alfredo Dinis, a "tratar de graves queimaduras do Filipe, resultantes da explosão de um gerador de energia, no quartel".

Foto do álbum de Alfredo Dinis (já falecido) – P6060, com a devida vénia. Ver, também, "Memórias de Gabú (José Saúde): Recordando o saudoso enfermeiro Dinis" – P14106.


E entramos na reta final, que foi o RAL 5, em Penafiel, distrito do Porto, onde se foi juntar ao BART 6521/72, que estava em formação. De Penafiel até tem boas recordações, mas não dos transportes para lá se chegar na época. Eram 3 enfermeiros que sairam da Carregueira com destino  a Penafiel:

(i) "por  volta das 11 horas meteram-nos numa camioneta de carga que era utilizada para fazer a ligação  entre o quartel e a estação do Cacém e lá nos largaram" (pág. 34);

(ii) em Braço de Prata, informaram-nos que tinham um comboio-correio para o Porto às 15h00, mas parava em todas as estações e apeadeiros;

(iii) chegaram ao Porto, Campanhã, seis horas e meia depois, às 21h3o;
 
(iv) foram dar um giro pelos arredores e "comer um bom bife com batas fritas a um preço acessível", mas acabando por perder o comboio da meia-noite;

(v) apanharam o das 2h00, chegaram a Penafiel às 3h00;

(vi) extremamente cansados, pousaram os sacos no chão, a servir de almofada,  e assim se ajeitaram para retemperar as forças, só despertando ao toque do corneteiro a anunciar a alvorada.

A manhã começaria com a azáfama própria de um quartel de mobilização de tropas para o ultramar. Nesse mesmo dia conheceu o seu futuro comandante, um jovem capitão miliciano, bem como o alferes, também miliciano, do seu pelotão.  Ficou então a saber que "pertencia ao 2º pelotão da 2ª companhia do Batalhão de Artilharia nº 6521" (pág. 38) (**).

(Continua)

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sábado, 27 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27259: Notas de leitura (1842): "Os Có Boys (Nos Trilhos da Memória)", de Luís da Cruz Ferreira, ex-1º cabo aux enf, 2ª C/BART 6521/72 (Có,1972/74) - Parte I: Apresentação sumária (Luís Graça)


 






Crachá dos "Có Boys" > Divisa: "Quatro Chapos e Bolinha Baixa"...


1. Chegou-me às mãos, por intermédio do Joaquim Pinto de Carvalho, este livrinho, de 184 pp., edição de autor, 2ª ed. revista e aumentada, e que foi expressamente feito para comemorar, em 2/8/2024,  os 50 anos do regresso da 2ª C/BART 6521/72 (Có, 1972/74). 

Prometo fazer uma recensão da obra, que de 2024 para 2025 foi aumentada e melhorada, integrando preciosos comentários dos seus camaradas.

Para já quero fazer a sua apresentação sumária. E dar os parabéns ao Luís da Cruz Ferreira ( de alcunha, o "Beatle", antes da tropa"), natural da Benedita, Alcobaça.  Teve o posto de 1º cabo aux enf, mas também foi "barman" e depois professor do Posto Escolar Militar nº 20, na tabanca de Có, onde a companhia estava sediada.

"Os Có Boys" é o nome de guerra da companhia. Já de si, um achado. Mas atente-se na sua divisa: "Quatro Chapos e Bolinha Baixa"... Nada mais pícaro e irreverente (face ao RDM)!

É mais uma camarada que se sentiu na obrigação de cumprir a nobre função de "guardião da memória".  Vou convidá-lo a integrar as fileiras da Tabanca Grande. 

Não temos nenhum representante desta subunidade, embora o José Joaquim Martins Morgado, ex-sold cond auto, já tenha 2 referências no nosso blogue, e também está convidado para se juntar ao Luís. É  ele quem nos tem trazido notícias dos convívios dos "Có Boys".

O livro faz parte de um projeto autobiográfico mais vasto. Como diz o autor, é uma pré-publicação do livro que há de sair com a sua história de vida, e está é apenas a  parte que corresponde à tropa e à guerra ( 3 anos de vida). Para já cumpre a função de um roteiro de memórias desse  tempo.

Não tem um índice, mas podemos listar alguns dos principais tópicos abordados:

  • Serviço militar obrigatório, RI 7, Leiria  (pp. 7/18)
  • Coimbra: Regimento do Serviço de Saúde (pp. 18/27)
  • Hospital Militar Principal (pp. 27/34)
  • Penafiel: formação do BART 6521/72 e partida para o CTIG  (pp. 34/45)
  • Bissau e Bolama: chegada e IAO (pp. 45/59)
  • Có: as primeiras impressões, o quartel e a sobreposição (pp. 59/73)
  • A coluna de Teixeira Pinto: o batismo de fogo (pp. 73/85)
  • A rendição da CCAÇ 3308, os "velhinhos" (pp. 86/100)
  • De enfermeiro a "barman" (pp. 100/108)
  • De "barman" a professor (pp. 109/126)
  • Marcelino da Mata, uma referência (pp. 126/132)
  • Rancho, levantamento de rancho, ataque à messe, prepotências (pp. 133/152)
  • Um senhor negro vestido com uma "thobe" branco (pp. 153/156)
  • O ataque à coluna de Có + diversos apontamentos  (pp. 156/162) 
  • O 25 de Abril  que veio da Metrópole (pp.162/174)
  • O regresso a casa (pp. 174/179)
  • 50 anos depois (pp. 180/184).
O autor garante que escreveu esta parte da sua "brochura", de memória, sem ter tirado notas de nada... É "obra", tiro-lhe o quico!... Há quem, quando se pergunta sobre esse passado, responda: " Guiné ?Varreu-se-me tudo da memória?"... Não são casos de amnésia, mas de denegação... 

(Continua)
_______________

Nota do editor LG:

Último poste da série > 25 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27254: Notas de leitura (1840): "O capelão militar na guerra colonial", de Bártolo Paiva Pereira, capelão, major ref - Parte I: Apresentação sumária (Luís Graça)

quarta-feira, 23 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26716: Facebook...ando (74): Manuel Ribeiro de Faria, ex-cap inf, cmdt da CCAÇ 3414 (Sare Bacar, Cumeré, Brá, 1971/73), a subunidade a que pertenceu o nosso saudoso amigo e camarada Joaquim Peixoto (1947-2018)




Joaquim Peixoto (1949-2018), ex-fur mil arm pes inf, 
CCAÇ 3414 (Sare Bacar, 1971/73)


1. Há muito que não falamos aqui do Joaquim Peixoto (Penafiel, 1949-Porto, 2018): 

(i) foi ur mil arm pes inf, MA, CCAÇ 3414 (Sare Bacar e Bafatá, 1971/73); 

(ii) professor do 1º ciclo,  reformado, vivia em Penafiel, e era casado com a Margarida Peixoto, também ela professora do ensino básico, reformada;

(iii) e ambos membros da nossa Tabanca Grande, para além de amigos da Quinta de Candoz;


Joaquim e Margarida.
Monte Real, 2010.
Foto de Manuel Carmelita
(iv) a morte, sempre traiçoeira, levou-o sem poder completar os 70 anos;

(v) era uma figura muito querida na sua terra, e ,muito querida também de todos nós (e em especial. da Tabanca de Matosinhos e de "O Bando do Café Progresso");

(vi) o casal participou ainda por diversas vezes dos Encontros Nacionais da Tabanca Grande, em Ortigosa e  Monte Real;

(vii) o Peixoto integrou a Tabanca Grande em 11/7/2009;  

(viii) tem cerca de meia centena de referências no nosso blogue. A CCAÇ 3414, por sua vez, tem 22 referências.

Infelizmente mais nenhum "falcão de Sare Bacar" apareceu aqui com a vontade expressa de preencher o lugar vazio deixado pelo  Joaquim Peixoto que "da lei da morte já se libertou". 

É verdade que o grosso da companhia era malta dos Açores (que só se reencontrou pela primeira vez em 2012, na Ilha Terceira). 

A CCAÇ 3414 foi mobilizada pelo BII 17, Angra do Heroísmo. E foi comandada pelo cap inf Manuel José Marques Ribeiro de Faria, hoje cor inf ref.


2. Há quinze dias passámos na A4, em Penafiel, a caminho de Candoz,  e lembrámo-nos dos nossos amigos Joaquim e Margarida Peixoto. 

Por outro lado, há dias deparei-me com a página do Facebook do cor inf ref Manuel Ribeiro de Faria que, de resto, é amigo do Facebook da Tabanca Grande (temos 22 amigos em comum). 

Com a devida vénia, recuperei algumas das fotos do seu álbum, com destaque para a sua passagem pelo CTIG (onde foi alferes ou tenente em Có, em 1968/69, e depois capitão, em 1971/73, em Sare Bacar).  Tem um brilhante currículo militar, tendo servido o Exército Português até 2008.

Gostaria que ele se juntasse ao blogue da Tabanca Grande. Tenho o nº 902, sob o nosso  fraterno poilão, no caso de ele aceitar o meu convite para se juntar ao blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.

Recordo aqui um dos seus postes, com data de 24 de dezembro de 2019, 06:55


Natal !... Este é o meu septuagésimo sexto!...

Temos de concordar que já vou tendo alguma experiência...

Vi e vivi muitos tipos de Natal, Natais europeus, Natais africanos, até asiáticos [em Goa, na Índia (1947/48/49)], uns em clima de paz, outros até de guerra, os primeiros em que se esperava a prenda (raramente "as prendas") posta no sapatinho pelo Menino Jesus que viria a ser substituído por um Pai Natal. Alguém deve ter pensado que era exploração infantil... E mais, não é que já há também uma Mãe Natal? (Elas estão a tomar conta disto)...

De todos os Natais que vivi, tiveram especial significado aqueles passados no calor da Guiné, em 1971 e 72, em noites de vigília (de prevenção, esperando um possível ataque, já que o PAIGC tinha essas tentações), visitando vários núcleos de defesa (postos de combate) onde os meus soldados, os meus "Falcões" açorianos, com pequenas celebrações lembravam a data, as famílias distantes, mas onde tinham uma pequena lembrança para o seu Capitão (ainda guardo algumas delas), pequenas e singelas no tamanho, enormes, descomunais, no significado.

Nesta época passam-me pela memória todos os meus Amigos (isto, segundo as regras que eu aprendi, inclui as Amigas) e desejo-lhes o melhor deste mundo contido na tradicional mensagem "Feliz Natal e um Bom Ano Novo"...
Peço-lhes, em troca, um momento de reflexão para todos aqueles a quem a Noite de Natal não é tão abençoada como aquela que mereciam, sobretudo as crianças que, por esse Mundo fora, não têm Ceia de Natal e não sabem sequer, muitas delas, se terão algo para se alimentarem no dia seguinte.

Assim, como militar que sou e serei sempre, envergo o meu melhor uniforme para, em sinal de respeito, desejar a todos os meus Amigos um Feliz Natal.



Cor inf ref Manuel Faria Ribeiro (n. 1943) 



Angola > 1959 > O jovem Ribeiro de Faria, Comandante de Bandeira
 na Milícia da Mocidade Portuguesa  



Academia Militar > 1965 (lapso, deve ser 1963) > 
Aluno-cadete, 1º ano, ao lado de sua mãe




Guiné > Zona leste >  Região de Bafatá > Sector L1  > Susetor de Sare Bacar >
 Sare Bacar> 1973 > Cap inf, cmdt da CCAÇ 3414 (1971/73)



Angola > Março de 1996 a Setembro de 1997, ao serviço como Chefe do Estado Maior da UNAVEM III (United Nations Angola Verification Mission), depois MONUA (Mission d'Observation des Nations Unies Angola).



Guiné > Zona Oeste > Có >  1968 > "Aquartelamento de Có, ainda muito "piriquito"(era assim que eram chamados os inexperientes recém-chegados), ainda cheio de ideias. Procedimento que sempre adoptei, quando saía para uma operação, levava perto a mim um apontador de metralhadora MG-42, um apontador de Morteiro 60 mm, um apontador de Lança Granadas-Foguete e um Radio-telegrafista.

"Eu (o comandante), levar as fitas de carregamento da metralhadora, armado em Pancho Villa, era uma fantasia que a experiência cedo corrigiu... Eu estava lá para comandar, avaliar a situação, dar as ordens e coordenar a acções ou reacções adequadas, e não para terefas que não eram nem deviam ser da minha competência.

"Os ensinamentos que colhi, muito me serviram e ajudaram na posterior preparação da minha Companhia de Caçadores Independente 3414 com que voltei à Guiné". (Julgamos que em Có o  Manuel Ribeiro de Faria devia alferes ou tenente.)
 


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > CIM Contuboel > "Nasceu em 11 de Abril de 1910, em Estremoz, António de Spínola. Recordo esta figura notável não de honrarias palacianas, mas das operações nas bolanhas da Guiné, onde pude, de muito perto e com muita honra, servir sob as suas ordens. Captei esta imagem em 1972 quando, em Contuboel, Spínola presidia à cerimónia de encerramento de um Curso de Formação de Milícias que eu dirigia."

Fotos (e legendas): : © Manuel Ribeiro de Faria (2025). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


3. O
 cor inf ref Manuel Ribeiro de Faria, filho e neto de militares, nasceu em 1943,  viveu em Goa,  em Moçambique e em Angola. O pai, Manuel Ribeiro  de Faria (por sua vez nascido em 1915,  Inhambane, Moçambique) morreu com o posto de tenente-general, segundo apurámos da sua página do Facebook.

Em 1954 vivia em Angola, começando a frequentar o Colégio Alexandre Herculano - Nova Lisboa, hoje Huambo, e voltaria a Angola em 1996 como Chefe do Estado Maior da UNAVEM III. 

Fez duas comissões de serviço no CTIG.  Deve ser do curso de 1963 na Academia Militar. Segundo a sua página no Facebook, nasceu em Mafra e mora em Oeiras. A sua última função no Exército foi a de diretor do Museu Militar. Interessa-me particularmente pela história militar.
 

4. Ficha de unidade > Companhia de Caçadores n.º 3414

Identificação: CCaç 3414

Unidade Mob: BII 17 - Angra do Heroísmo

Crndt: Cap Inf Manuel José Marques Ribeiro de Faria

Divisa: "Antes Morrer Livres Que em Paz Sujeitos"

Partida: Embarque em 23Jun71; desembarque em 02Jul71 | Regresso: Embarque em 23Set73

Síntese da Actividade Operacional

Após realização da IAO, de 5 a 31ju171, no CIM, em Bolama, seguiu em 5ag071 para Sare Bacar, a fim de efectuar o treino operacional e a sobreposição com a CCaç 2636. 

Em 27Ag071, assumiu a responsabilidade do subsector de Sare Bacar, com pelotões destacados em Sora e Sare Aliú Sene, ficando integrada no dispositivo e manobra do BArt 2920 e depois do BCaç 3884.

Em 18mai73, foi rendida no subsector de Sare Bacar pela CCaç 4147/72 e seguiu, em 20,ai73, para Cumeré, tendo reforçado o dispositivo do COP 8, de 4jun73 a 5jul73.

Em 5jul73, substituindo a CCaç 3518, assumiu a responsabilidade do subsector de Brá, ficando na dependência do COMBIS, com vista a garantir a segurança e protecção das instalações e das populações da área. No período efectuou ainda escoltas a colunas de reabastecimento a Farim, Binta, Guidage e Mansabá.

Em 25set73, foi substituída no subsector de Brá pela CCaç 3477, a fim de
efectuar o embarque de regresso.

Observações - Tem História da Unidade (Caixa n." 96 - 2ª Div/4ª  Sec, do AHM).

Fonte: Excerto de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 405.

(Seleção, revisão / fixação de texto: LG)
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quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Guiné 61/74 - P25893: Verão de 2024: Nós por cá todos bem (8): Mensagem enviada ao Blogue pelo ex-Alf Mil Rogério Parreira do BENG 447 (Guiné, 1968/70)

1. Mensagem do ex-Alf Mil Rogério Parreira do BENG 447 (1968/70), enviada ao Blogue através do Formulário de Contactos em 24 de Agosto de 2024:

Caros amigos e ex-combatentes milicianos da Guiné,

Prestei serviço no BENG 447 como alferes miliciano no período entre finais de 1968 e final de 1970, tendo dirigido a construção da estrada Bula - Có - Pelundo em associação com as Obras Públicas da Guiné, chefiadas pelo encarregado geral Teixeira, no primeiro ano da comissão e chefiando as Oficinas de Máquinas de Terraplanagem do BENG 447 durante o segundo ano de comissão, durante o qual percorri quase toda a Guiné, por terra, mar e ar, na atribuição de equipamentos de engenharia para apoio de obras em diversos aquartelamentos.
Itinerário Bula-Có-Pelundo
Infogravura ©Luís Graça & Camaradas da Guiné

Guardo em particular as memórias de todos os bons companheiros com quem me cruzei nessa época e deixo aqui uma pequena homenagem a todos eles.
Um grande abraço a todos.

Cumprimentos,
Rogério Parreira

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Nota do editor

Último post da série de 29 de agosto de 2024 > Guiné 61/74 - P25891: Verão de 2024: Nós por cá todos bem (7): ... E vamos lá estar, no Porto, na Casa da Música: Orquestra Médica Ibérica, Concerto solidário, dia 8 de setembro, domingo, às 18h00

terça-feira, 6 de agosto de 2024

Guiné 61/74 - P25814: Convívios (1005): Almoço/Convívio do pessoal da 2.ª CART / BART 6521/72 (Có, 1972/74), a levar a efeito no próximo dia 25 de Agosto no Restaurante Mosteiro do Leitão, na Batalha (José Morgado)

1. Mensagem do nosso camarada José Morgado, via Formulário de Contacto, com data de 5 de Agosto de 2024, com a notícia do almoço/convívio da 2.ª CART / BART 6521, (Có, 1972/74), na Batalha, no dia 25 de Agosto próximo:

2.ª CART do BART 6521

Na procura de alguns tresmalhados da minha Companhia - "Os Có Boys", (Có, 72/74) - 2.ª CART do BART 6521, vamos reunir as tropas num almoço de confraternização no Restaurante Mosteiro do Leitão, na Batalha, do próximo dia 25 de Agosto.

Para membros que não tenham conhecimento,
Contacto: 934 755 427

Saudações a todos Ex-Combatentes.

Cumprimentos,
José Morgado

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Nota do editor

Último post da série de 28 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25695: Convívios (1004): Almoço/Convívio dos antigos militares da CCAÇ 1494 / BCAÇ 1876, a levar a efeito no próximo dia 27 de Julho de 2024 em Leça da Palmeira/Matosinhos

domingo, 11 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24387: História da CCAÇ 2402 (Có, Mansabá e Olossato, 1968/70) (Coordenação: Raul Albino, 1945-2020) - Textos avulsos - Parte III: O segredo do comandante dos "Lynces de Có". cap inf Mário Vargas Cardoso

 

Guiné > Região do Cacheu > Pelundo > Có > CCAÇ 2402 (1968/70) >A tabanca de Có, incendiada, na sequência do segundo ataque ao aquartelamento, em 12 de Outubro de 1968. O brig António Spínola observando os destroços nas zonas atingidas, ladeado à sua direita pelo seu ajudante de campo, cap cav Almeida Bruno, e à sua esquerda, o cmdt da CCAÇ 2402, Vargas Cardoso.(»)

Foto (e legenda): © Raul Albino (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1.  O nosso saudoso camarada e amigo Raul Albino (1945-2020), ex-alf mil at inf, MA, CCAÇ 2402 (Có, Mansabá e Olossato, 1968/70), publicou ainda em vida dois volumes com a história da sua unidade. 

O Raul Albino com a ajuda do fotógrafo Maurício Esparteiro, ex-1º cabo,  concebeu e realizou uma ideia original: um livro da CCAÇ 2402 onde todos e cada e um são gente... Do capitão ao soldado básico, toda a gente teve lá a sua foto, o seu espaço (**)... 

Além disso, cada um dos camaradas da CCAÇ 2402 podia ter uma versão única e original do livro, com registos exclusivos sobre a sua pessoa... Com uma pontinha de orgulho, o Raul e o Maurício mostraram-me, no encontro em Pombal, em 2007,  um exemplar do seu livro: cada exemplar saíu da tipografia a 8 euros, sendo vendido a 10 euros, para cobrir as quebras e as borlas ...

No II Volume, que continuou a ter  a coordenação fotográfica do Maurício Esparteiro, o Raul contou ainda com a participação especial do ex-cmdt da companhia, Vargas Cardoso, e do ex-fur mil SAM, João Bonifácio (que vove hoje no Canadá).  

Hoje publicamos mais uma pequena história (***) do Mário Vargas Cardoso (1935-2023), ex-cor inf ref, que há dias nos deixou,  e e, que fez uma confidência: terá sico em Có que o "periquito" do brigadeiro António Spínola, inspirando-ase no exemplo  dos "Lynces de Có", que se reuniam regulamente com os "homens grandes" e restante população local, decidiu criar os famosos "Congressos do Povo".

No nosso blogue, o Raul Albino também já havia publicado, no devido tempo, 18 postes com episódios da história da CCAÇ 2402 (*).

Mário Vargas Cardoso (1935-2023)


Spínola: "Ó Vargas, deste-me uma ideia: vamos lá fazer essas reuniões de Có mas a nível de toda a Guiné, e chamar-lhe Congressos do Povo"

por Vargas Cardoso

Uma das atividades dos "Lynces de Cõ" em que fomos originais, e que muito contribuiram  para o êxito no cumprimento da nossa missão, foram as reuniões no domingo logo pela manhã.

(...) Pela manhã dos domingos, ao içar da Bandeira Nacional, o comandante da CCAÇ 2402 dava indicação a todos os "homens grandes", chefes da tabanca (...) para comparecerem no quartel, e, às crianças da escola primária, para virem ao quartel também, juntando-se todos próximo do mastro da bandeira.

(...) À hora indicada, formava-se o pessoal de guarda; ao lado as crianças da escola, e o Vargas com os "homens grandes" atrás da formatura.

A bandeira era içada, o corneteiro tocava, os "homens grandes" descobriam a cabeça, e os miúdos da escola, algum tempo depois, já cantavm o hino nacional.

Após a cerimónia, o comandante com os "homens grandes" iam para o refeitório, onde se servia um pequeno almoço, café e pão com marmelada, aos chefes da tabanca. Depois com os oficiais e sargentos com funções de "governar" na nossa área, decorria uma reunião, onde os chefes da tabanca colocavam os pedidos de ajuda que precisavam: transporte de mancarra ou coconte para Bissau, apoio sanitário, escola, proteção para colheitas, etc. 

O nosso furriel Coelho, ou depois o Vieira (salvo erro), tinha a função da atividade psicossocial, tomavam nota dos pedidos e depois era a nossa vez de pedir a colaboração das populações. Por exemplo:  tantos homens para capinar; na 3ª feira, 40 galinhas; noutro dia, outro produto que nos fizesse falta. etc.

(...) Logo em outubro de 1968, já depois do ataque a Có (*). nós estávamos numa dessas reuniões quando chegou o héli com o nosso general Spínola [na aitura ainda brigadeiro]  (****), o qual convidei para assistir ao que estávamos a fazer.

Nunca vos contei o que agora  resolvo tirar do segredo da História. Como sabem, quando ia Bissau, normalmente o nosso "Homem Grande", convidava-me para almoçar no palácio do Governo com outros oficiais de passagem por Bissau. (...)

Depois dessa visita o gen Spínola disse-me um dia: "Ó Vargas, deste-me uma ideia. Vamos fazer essas reuniões que tu fazes lá em Cõ, mas com toda a Guiné. Vou-lhes chamar Congressos do Povo". (...)

[Seleção / Revisão e fixação de texto / Subtítulo / Negritos / Parèntses retos: LG]

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Notas do editor

(*) Vd. poste de 31 de julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2016: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (6): O grande ataque a Có, em 12 de Outubro de 1968

(**) Vd. postes de:

23 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1105: Como escrever um livro de memórias de guerra 'à la carte' (Raul Albino, CCAÇ 2402)

4 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1246: O meu livro Memórias de Campanha da CCAÇ 2402 (Raul Albino)


6 de junho de 2023 > Guiné 61/74 - P24372: História da CCAÇ 2402 (Có, Mansabá e Olossato, 1968/70) (Coordenação: Raul Albino, 1945-2020) - Textos avulsos - Parte II: A imaginação que era preciso ter para se comer "atacadores da PM com estilhaços"!... Trocando carne do restaurante "Solar dos 10", em Bissau, por produtos locais de Có (camarão, ostras, tomate...) (Mário Vargas Cardoso, 1935-2023) 

(****) António Sebastião Ribeiro de Spínola, então brigadeiro, assumiu as finções de Governador e Comandante-Chefe da Guiné, em 24 de maio de 1968, em substituição do gen Arnaldo Schulz. Foi promovido a general em 4 de julho de 1969. Cessou funções em 27 de agosto de 1973.

O I Congresso do Povo da Guiné realizou-se em 1970. O IV em 1973... Baseava-se em cinco princípios: (i) direito absoluto de justiça social; (ii) respeito pelas nossas instituições tradicionais africanas; (iii) desenvolvimento económico e social;   (iv) participação ativa das gentes da Guiné, progressivamente mais elevada,  na administração dos seus própios interesses; (v) restabelecimento da Paz.