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sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Guiné 61/74 - P25987: O nosso álbum de memórias de... Taviráfrica - Parte I: quase todos nós, "tavirenses", temos uma relação de amor-ódio em relação àquela terra e àquele quartel...


Foto nº 1 > Tavira > CISMI > Julho de 1968 > A chegada ao quartel da Atalaia dos novos instruendos do 1º Ciclo do CSM, vindos de todo o país, num comboio ronceiro. Fila do pessoal para receber fardamento. Foto do Fernando Hipólito, gentilmente cedida ao César Dias e ao nosso blogue.

Esta cena podia passar-se também à porta do RI 5, nas Caldas da Rainha. Esta rapaziada, chamada pela Pátria para cumprir o serviço militar obrigatório (em tempo de guerra...), em finais da década de 1960 já tem um outro "look", a começar pelo vestuário... Tem outras habilitações literárias, outra  postura...

Presume-se que as belas cabeleiras, à moda dos "Beatles", já tinham ficado ingloriamente no chão do barbearia lá da terra ou, "in extremis",  de Tavira... Muitos fotam tosquiados à máquina zero, suprema humilhação para um jovem da época!... Não, já não é a mesma malta que parte, de caqui amarelo e mauser, para defender as Índias & as Angolas, uns anos antes ... O velho Portugal onde tínhamos nascido, estava a mudar, lenta mas inexoravelmente. E a nova geração, a nossa geração, nascida no pós-II Guerra Mundial,  já não estava disposta a suportar os mesmos sacrifícios dos seus pais e irmãos mais velhos.


Foto (e legenda). © Fernando Hipólito (2014). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: logue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Foto nº 2 > Tavira > Quartel da Atalaia > CISMI > Parada > Outubro de 1968 >"Os 'galardoados' com a especialidade de atirador de infantaria que tinham acabado a recruta integrados no 6º Pelotão da 3ª Companhia" > Da esquerda para a direita, de pé:

(i) Estrela (1), Fonseca (2), Pereira (3), João (4), Torres (5), Chichorro (6) e Joaquim Fernandes (7) (futuro fur mil, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71);

(ii) Santos (1a), Chora (2a), Salas (3a), Paulo (4a), Loureiro (5a), Saramago (6a)

Foto (e legenda): © Eduardo Francisco Estrela (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Foto nº 3 > Bilhete de identidade militar do César Vieira Dias, sold do CSM nº 197356/68, emitido em 16/7/1968. Ao alto do lado esquerdo,  há um nº, o 847,  escrito a lápis, que deveria  corresponder ao  número interno do CISMI, atribuído ao César Dias na recruta...

Foto (e legenda): © César Dias (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Foto nº 4 > Tavira >  CISMI >  1972 >  António Alves da Cruz,  em farda nº 3, junto às salinas, tendo o antigo Convento das Berrnardas ao fundo....


Foto nº 5 > Tavira > CISMI >  4ª Companhia >  3º Pelotão >  16/6/1972 >  Salinas... O antigo Convento das Bernardas ao fundo... O António Alves Cruz, atirador de infantaria, em farda nº 2


Foto nº 6 > Tavira > CISMI > 4ª Companhia > 3º Pelotão > 16/6/1972 > Salinas... O antigo Convento das Bernardas ao fundo... Um pelotão com 38 elementos...


Fotos (e legendas): © António Alves da Cruz  (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Foto nº 7 > Tavira > CISMI > 1968 > O César Dias, natural de Torres Novas (á esquerda) e o António Branquinho, filho de Évora (à direita)... Ambos foram parar à Guiné... O Branquinho à CCAÇ 2590 (mais tarde, em 18/1/1970, CCAÇ 12) (Contuboel e Bambadinca, 1969/71).

Foto: © César Dias (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Foto nº 8 > Tavira >  CISMI > 1968 > 3ª companhia (instrução de especialiade: Atirador de infantaria) > O Branquinho é o 3º da primeira fila a contar da direita... O Levezinho é o 3º da 2ª segunda, a contar também da direita. Não consigo identificar o Fernando Hipólito.



Foto nº 8A > Tavira >  CISMI> 1968 > 3ª companhia (instrução de especialidade: Atirador de infantaria) > Lado esquerdo do grupo


Foto nº 8B >Tavira > CISMI> 1968 > 3ª companhia (instrução de especialidade: Atirador de infantaria) > Lado direito do grupo > O Branquinho é o 3º da primeira fila a contar da direita... O Levezinho é o 3º da segunda fila, a contar também da direita. "Na foto 8B quase identifico todos, foram meus camaradas na recruta no 7º. Começando á direita o aspirante Coelho que tinha sido nosso também na recruta, depois um desconhecido, depois o Levezinho, depois o Hipólito e mais um desconhecido. Em baixo:à direita o Simões Santos (já falecido), depois o Freitas, depois o Branquinho, e o Quarteira. Estes que identifiquei foram do 7º pelotão da 3a companhia incluindo o Aspirante Coelho que conseguiu granjear a simpatia de todos." (César Dias).

Fotos: © Fernando Hipólito (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Foto nº 9 > Tavira > CISMI > 1968 > Pormenor do jantar do dia  do juramento de bandeira. (1)... O Tony Levezinho, visto de perfil, tendo em frente (lado direito da foto, a olhar para a máquina) o César Dias, que por sua vez tem à sua direita o Fernando Hipólito... Os três tiveram destinos diferentes: o Hipólito foi para Angola, o Levezinho e o Dias para a Guiné, um para Bambadinca e outro para Mansoa


Foto nº 9A >Tavira > CISMI > 1968 > Pormenor do jantar do dia  do juramento de bandeira... (2)
 


Foto nº 10 >Tavira > CISMI > 1968 > 3º Turno > Desfile do juramento de bandeira...  3ª Co,mpanhia (identificou o Humberto Reis)



Foto nº 10A >Tavira > CISMI > 1968 > Desfile do juramento de bandeira... "2º Pelotão da 3ª Companhia do 3º turno de 1968.Eu estou na 3ª fila, em 1º plano, com óculos escuros que usava desde 1965. Alguém consegue identificar mais algum elemento? Agradeço a ajuda" (Comentário de Humberto Reis)


Foto nº 10B >Tavira > CISMI > 1968 > Desfile do juramento de bandeira > "Humberto Reis, deves estar a fazer confusão, na foto nº 10 assinalado a amarelo é o Filipe pois o pelotão que está a desfilar é o 7º, ele também usava óculos." (César Dias)

Fotos (e legendas): © César Dias (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Foto nº 11> Tavira > CISMI > Quartel da Atalaia > 1968 >  "Há 49 anos dava entrada no CISMI - 4.ª companhia. Deixo de lado as coisas menos boas para olhar com ternura o tempo de juventude. Foto: regresso da Semana de Campo. À excepção do cabo miliciano (...) todos os recrutas são naturais de S. Miguel - Açores. 

Da esquerda para a direita: Carlos Alberto Pereira Rangel; José Luís Vasconcelos Botelho; cabo miliciano; Domingues e eu, Carlos Cordeiro [saudoso membro da nossa Tabanca Grande, 1946-2018; fez a sua comissão em Angola, como fur mil at inmf, no Centro de Instrução de Comandos, 1969/71 ].

Fonte: Facebook > Grupo dos Antigos Militares do CIQ-CISMI, Tavira e QG Évora > Carlos Cordeiro > 17 de janeiro de 2017 (com a devida vénia..:)






Foto nº 12 > Guiné > Zona Leste > Setor L1 > CCAÇ 12 (1969/71> c. 1970 > 2º Grupo de Combate > Estrada Bambadinca-Xime > Destacamento da Ponte do Rio Udunduma > Da esquerdapara a direita: oTony (Levezinho) e o Humberto (Reis) sentados na "manjedoura"... Era ali, protegidos da canícula, por uma chapa de zinco, à volta de uma tosca mesa de madeira, entre duas árvores, com vista sobre o espelho de água do rio Udunduma, afluente do Geba..., era ali que tomavámos em conjunto as nossas refeições, escrevíamos as nossas cartas e aerogramas, jogávamos à lerpa, bebíamos um copo, matávamos o tédio e os mosquitos... Já ninguém se lembrava que tudo começara, para os "infantes",  em Tavira ou Caldas da Rainha..

Na imagem, o Tony (Levezinho), à esquerda, segurando uma granada de LGFog de 3.7. À direita, o Humberto Reis, o nosso "ranger"... e fotógrafo. O 2º Gr Comb ficou, cedo, entregue aos dois furriéis, Levezinho e Reis... O alf mil António Carlão, oriundo do CSM, foi destacado... para a equipa de reordenamento de Nhabijões ( a gigantesca tabanca, ou aglomerado de tabancas, de maioria balanta, onde a rapaziada do PAIGC se dava ao luxo de entrar e sair quando lhe apetecia...).

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]-



1. Pediu-me o Humberto Reis algumas fotos de Tavira, e nomeadamente do CISMI, onde ele fez recruta (a especialidade foi tirada em Lamego). O meu vizinho de Alfragide e antigo camarada da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71), e colaborador permanente do nosso blogue (mais: um dos históricos do nosso blogue), passa agora uma boa parte do ano no Algarve. E há dias calhou passar por Tavira e vieram-lhe... as "saudades".


Fiz-lhe uma primeira seleção de fotos (e de postes) sobre Tavira, com destaque para o CISMI (Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria) que funcionava no Quartel de Atalaia. (O CISMI foi criado em 1939 e extinto em 1989.)

Ninguém sabe ao certo quanto sargentos milicianos formou aquele centro de instrução durante a guerra do ultramar / guerra colonial. Muitos e muitos milhares, a maior parte atiradores de infantaria.  Muitos de nós passámos por lá. E quase todos temos uma relação de amor-ódio em relação àquela terra e àquele quartel.

Como em tudo na nossa vida, houve coisas boas e más...Cada um de nós fará o balanço, o deve e o haver... A verdade é que alguns de nós já voltaram lá, em "romagem de saudade", ao "local do crime"... Masoquistas ? Nem por isso,  a Taviráfrica também foi uma aventura... (Por analogia com a "Máfrica", Mafra, EPI, a grande fábrica de oficiais milicianos de infantaria, chamo Taviráfrica a Tavira...).

Para o Humberto (e os demais leitores) fizemos uma primeira seleção dos inúmeros postes que temos no blogue sobre Tavira (n=77) e o CISMI (n=58)...  

Temos muitos "tavirenses" na Tabanca Grande, o quer dizer que Tavira (ou a Taviráfrica) era uma boa porta de entrada para a Guiné.... O nosso convite para revisitar Tavira, o CISMI, o quartel da Atalaia, a carreira de tiro, e os arredores,  é também uma forma de avivar memórias, coisa que só faz bem aos nossos neurónios. 

Todos os comentários serão bem vindos, Será uma pena a malta levar para o outro mundo as lembranças desse tempo e lugar...


Lembranças de Taviráfica, do CISMI e do quartel da Atalaia  -  
Parte I


Listagem de postes: data, númeiro, título, autor(es), link

15 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25746: (De)Caras (301): Quem seria o instruendo nº 821, do 3º turno de 1968, 3ª Companhia de Instrução, Centro de Instrução de Sargentos Milicianos (CISMI), Tavira ? Pergunta ao César Dias, que era o nº 847/3ª, desse turno (Eduardo Estrela, ex-fur mil, CCAÇ 14, Cuntima e Farim, 1969/71)

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2024/07/guine-6174-p25746-decaras-301-quem.html


28 de agosto de 2023 > Guiné 61/74 - P24595: Álbum fotográfico do António Alves da Cruz, ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 4513/72 (Buba, 1973/74) (1): Das salinas de Tavira ao CTIG


https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2023/08/guine-6174-p24595-album-fotografico-do.html

27 de abril de 2021 > Guiné 63/74 – P22145: Estórias avulsas (105): Pequeno almoço às 2 horas da manhã (Joaquim Ascenção, ex-Fur Mil Arm Pes Inf, CCAÇ 3460, Cacheu, 1971/73)

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2021/04/guine-6374-p22145-estorias-avulsas-105.html

31 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21719: (Ex)citações (382): Tavira, CISMI, por quem nenhum de nós morreu de amores... (João Candeias da Silva / Carlos Silva / Luís Graça)

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2020/12/guine-6174-p21719-excitacoes-382-tavira.html


28 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21702: (De)Caras (167): o ten inf Esteves Pinto (1934-2020), que foi instrutor de alguns de nós no CISMI, em Tavira, e que morreu no passado dia 18, com o posto de cor inf ref



14 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20732: Memória dos lugares (402): Tavira, o CISMI, e Cacela A Velha... (Eduardo Estrela, ex-fur mil at inf, CCAÇ 14, Cuntima, 1969/71)


13 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20728: Em busca de... (302): instruendos do CISMI, Tavira, a tirar a especialidade de atiradores de infantaria, 6º Pelotão / 3ª Companhia, outubro de 1968: "Eu, o Torres, o Joaquim Fernandes, o Loureiro e o Saramago fomos todos para o CTIG...mas dos outros gostava de saber do paradeiro"... (Eduardo Francisco Estrela, ex-fur mil at inf, CCAÇ 14, Cuntima, 1969/71; vive em Cacela)

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2020/03/guine-6174-p20724-em-busca-de-302.html

2 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19736: (Ex)citações (352): In illo tempore, o Alferes José Cravidão, no CISMI de Tavira (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil da CCAV 703 / BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66)

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2019/05/guine-6374-p19736-excitacoes-352-in.html

1 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17532: O nosso livro de visitas (191): Américo Santos, ex-Fur Mil TRMS, retratado, enquanto recruta do CSM, em foto publicada no nosso Blogue (Américo Santos, Fur Mil TRMS / César Dias, Fur Mil Sap Inf)

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2017/07/guine-6174-p17532-o-nosso-livro-de.html

25 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13330: In Memoriam (191): António Manuel Martins Branquinho, natural de Évora (1947-2013), ex-fur mil at inf, CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71)... Para que a sua memória não fique na "vala comum do esquecimento"


3 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12673: Manuscrito(s) (Luís Graça) (18): Gostei de voltar a Tavira (Parte I): A estação da CP

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2014/02/guine-6374-p12673-manuscritos-luis.html


24 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12770: CISMI - Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria, Tavira, 1968: Guia do Instruendo (documento, de 21 pp., inumeradas, recolhido por Fernando Hipólito e digitalizado por César Dias) (5) : Quinta e última parte (pp. 19-21): O jornal "Atalaia" , a rádio "CISMI"... e as 29 capelas e igrejas de Tavira

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2014/02/guine-6374-p12770-cismi-centro-de.html


5 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12678: Manuscrito(s) (Luís Graça) (19): Gostei de voltar a Tavira (Parte II): O quartel da Atalaia (ex-CISMI -Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria)


https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2014/02/guine-6374-p12678-manuscritos-luis.html


5 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12678: Manuscrito(s) (Luís Graça) (19): Gostei de voltar a Tavira (Parte II): O quartel da Atalaia (ex-CISMI -Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria)

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2014/02/guine-6374-p12698-manuscritos-luis.html



Tavira > Quartel da Atalaia > Antigo CISMI, hoje RI 1 > 1 de fevereiro de 2014 > Belo exemplar da nossa arquitetura militar, fica situado na Rua Isidoro Pais. Imóvel classificado como de interesse público, segundo o excelente síio da Câmara Municipald e Tavira

 O Quartel da Atalaia, um dos mais antigos do país, foi começado a construir em 1795, sob o reinado de D. Maria I. Mas a sua construção foi entretanto interrompia e só retomada em 1856 devido á conjuntura nacional desfavorável (ida da corte para o Brasil, invasões napoleónicas, revolução liberal de 1820, guerra civuil de 1828-1834, etc.). 

"Com a extinção das Ordens Religiosas, é entregue ao exército o antigo Convento de Nossa Senhora da Graça, que alguns de nós também conheceram. O Quartel da Atalaia, ainda por concluir, serviu ainda de hospital das vítimas de peste de cólera que se abateu sobre a cidade (e grande parte do país, a começar pela capital) em 1833, em plena guerra civil. 

Em boa verdade o edifício só ficará concluído  nos primeiros anos do século XX, sendo  então para lá transferida a guarnição de Tavira. Sofreu alguns alterações funcionais em 1950, 1954 e 1970.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Alguns comentários 

(i) Eduardo Estrela:

Sobre Tavira, e o sítio onde fizemos os fogos, no último trimestre de 1968, escreveu o Eduardo Estrela o seguinte comentário ao poste P20732:

(...) "Bom dia Luís! É uma alegria enorme ouvir falar da nossa terra com tanto carinho e amor. Obrigado pelas tuas palavras elogiosas. Façamos votos que haja coragem de preservar a autenticidade desta parte do Algarve denominada Sotavento.

Seguindo o percurso da EN 125, no sentido Tavira-Vila Real Sto. António, passamos Conceição de Tavira e, cerca de 3 km mais á frente, há uma estrada à direita que vai ter ao sítio do Lacem. Foi neste sítio, local de confluência dos concelhos de Tavira e Vila Real, que fizemos os fogos reais, numa arriba sobranceira á ria e ao mar. Dista de Cacela Velha em linha recta, mais ou menos 1 km.

O fabuloso tasco da Fábrica era do Costa, onde se comiam todas as iguarias da Ria, com a particularidade de saberem divinalmente. O Costa era compadre do meu sogro, pois era padrinho de baptismo duma das minhas cunhadas. 'O mundo é pequeno e a nossa Tabanca... é grande.' (...)

14 de março de 2020 às 13:13


(ii) Manuel Carvalho:

Também andei por Tavira no verão de 67,  3º turno  de Armas Pesadas de Infantaria. Tenho algumas memórias do dia em que fizemos fogo para a ilha de Tavira a partir da costa.O comandante de companhia  era o capitão Madeira, natural de Cabo Verde,  e de Pelotão era o alferes Chumbinho,  exigente mas que nos tratava, com respeito, por "senhor instruendo".

Quando íamos iniciar o fogo de canhão sem recuo 10,6 vimos que estavam na zona dois barcos pequenos com um pescador cada. o Chumbinho disse que resolvia o problema com uma canhoada e resolveu embora um oficial superior que lá estava tivesse dito "não me arranje problemas",

Ainda hoje me rio com a cena dos dois homens a remar cada um para seu lado e nem a recolha do material fizeram. 

Na ilha havia um silvado que foi incendiado com uma granada de fósforo e depois apagado com uma normal que atirou areia para cima do lume.Alguém pôs um burnal velho atrás do canhão para vermos o efeito e vimos que não é lugar para se estar.

Também fui dos que escolheram Armas Pesadas a pensar que ficaria mais resguardado mas tinha uma secção distribuída como qualquer Atirador e muitas vezes o Pelotão todo, é a vida.


(iii) Henrique Cerqueira

Tavira... Já aqui comentei que foi a minha pior experiència de vida militar.

Conto assim um pequeno episódio logo na minha receção a Tavira.

Viemos em 1971 os recentes recrutas das Caldas da Rainha para Tavira tirar a especialidade. Como chegamos a Tavira por volta das 21:00 horas já não havia jantar para a malta e então muito "convenientemente" para o exército foi-nos excecionalmente permitido licença de sair até á meia-noite.

Lá formamos uns grupinhos e fomos aos cafés tentar aconchegar o estômago. Num dos cafés alguém da malta tinha no saco uma lata de salsichas e toca a perguntar ao dono do café se nos podia aquecer a lata e nos fornecer pão para acompanhar.

O dono (que por acaso era um Sargento como em quase todo o comércio da altura estava nas mãos de sargentos ou oficiais do Q.P.)então ele logo disse muito solicitamente que sim senhor e que entendia a nossa causa (falta de dinheiro).

Lá comemos as salsichas e torradas de pão de forma e uns sumitos. No final o tal "simpático dono" debita-nos doze cachorros quentes. Nós reclamamos... e a seguir fomos passar o resto da noite á prisão do quartel e fomos obrigados a pagar os tais cachorros.

O Sargento até era do quartel e por mero acaso também tinha uma tasca quase em frente ao quartel que mais tarde vim a descobrir que alguma comida do refeitório era estrategicamente desviada para os petiscos que lá vendiam aos instruendos ...logo se vê.

Enfim naquela altura a maioria dos civis comerciantes ou não viviam as custas dos instruendos e não tinha pejo nenhum em explorar a malta. Em alguns casos até os pais com filhas casadoiras as enfiavam pelos olhos dentro da malta . Não sei se lembram dos "Casamentos de Parada" tão famosos em Tavira.

Pra juntar á "Festa" a grande maioria dos oficiais e sargentos de instrução em Tavira eram desumanos e desrespeitadores (isto para ser brando nos adjetivos ). Creio que hoje em dia será diferente, mas para mim Tavira nunca mais em termos pessoais.

4 de fevereiro de 2014 às 12:29


(iv) José Marcelino Martins


Saudades de Tavira e do Rio Séqua.

4 de fevereiro de 2014 às 14:41


(v) Luís Graça

Henrique: Obrigado pelo teu comentário... Dois meses e meio, em Tavira, na tropa, em finais de 1968, não dão para viver e guardar na memória grandes peripécias, paixões, amizades, acontecimentos galvanizantes, figuras marcantes, lugares...

A instrução era puxada, e o corpinho ressentia-se...

Lembro-me do meu comandante, o tenente Esteves, um típico militar da época.. lembro-me de ouvir falar do Robles e do Trotil, mas não sei se ainda lá estavam nessa altura...

Lembro-me isso, sim, de um filho da puta de um alferes instrutor, dos vellhinhos, algarvio, que nos humilhava, obrigando-nos a chafurdar na merda da feira do gado, enquanto namorava, à janela,, uma gaja da terra...

Lembro-me do idiota do comandante do RI1 (coronel do tempo da guerra do Solnado...) que nos proibiu a inauguração de uma exposição (documental) sobre a a II Guerra Mundial com o argumento, tonto, de que para guerra já bastava a nossa, lá no ultramar...

Lembro-me da velha e anafada prostituta, andaluza, de olho azul, que morava perto do quartel da Atalaia, e que tirava os três aos infantes...

Lembro-me da amázia (?) de um sorja ou de um tenente qualquer que nos acompanhava nos exercícios de campo, vendendo-nos sandochas e bebibas... Acho que tinha uma carroça... 

Tavira era triste como era triste o meu/nosso país em 1968... Não sei se lá chorei, mas devo ter rangido os dentes, algumas vezes. De raiva...

Dos "casamentos na parada" ouvi falar, mas não sei se era lenda... Nunca assisti a nenhum, ou então nunca liguei... A verdade é que aquelas miúdas, de sangue fenício, romano e bérbere, eram verdadeiros "lança-chamas"...

Concordo com o teu juízo: os nossos instrutores, na tropa, na época, estavam longe de ser as melhores pessoas do mundo... Acho que merecíamos muito mais e melhor, aqueles de nós a quem calhou, na rifa, a fava da Guiné... Alguns eram mesmo uns pobres diabos, sádicos, prepotentes, mesquinhos, fanfarrões, boçais, incultos... que nem para soldados básicos eu os queria na Guiné...

4 de fevereiro de 2014 às 21:44

(vi) Henrique Cerqueira


Camarada Luís Graça: retratas na perfeição tudo aquilo que se passava na altura. E olha que não me queixo da dureza da verdadeira (?) instrução, mas tão somente de pessoas e te digo mais que houve mais cenas de desumanidade praticadas por instrutores nossos.

Uma das muitas que me aconteceu foi por exemplo em plena serra do Caldeirão eu estar com tanta fome que de noite arrisquei uma sortida junto da cozinha de campanha e apanhei uma terrina com patas de galinha e pescoços (penso que aí no sul lhe chamam de pipis?) que eram para as petiscadas dos tipos e vai daí comi aquilo tudo mesmo cru .

Já para não voltar a falar de humilhações praticadas por oficiais milicianos e sargentos durante essas noites de semana de campo. Ainda hoje com 64 anos e bem vacinado contra comportamentos erróneos eu me arrepio todo e ao ler o teu comentário eu me emocionei.

Infelizmente eu associo Tavira as esses comportamentos selváticos que na altura se praticavam em alguns dos quarteis que nos deveriam transformar em Homens preparados para defender o país. Mas não o fizeram e nada ,absolutamente nada me ensinaram que pudesse aproveitar para a vida militar. Ou seja talvez me tenham apurado muito mais o meu instinto de sobrevivência ,daí eu já ter escrito mais que uma vês que na Guiné eu tudo fiz para "viver e sobreviver ".

Quem quiser que entenda como melhor achar. Luís, desculpa lá mas isto hoje deu mesmo para o desabafo. (...)

4 de fevereiro de 2014 às 22:06


PS - Em relação aos casamentos na parada eu penso que era no sentido figurado. Mas na verdade a malta era obrigado a casar por ordem militar e em Tavira quando os paizinhos se iam queixar que as suas "donzelas" tinham sido "desonradas" por este ou aquele instruendo. Aconteceu pelo menos com dois camaradas meus. Daí se dava o nome de "Casamento na parada".

Agora um aparte. As miúdas Algarvias da altura até que eram tentadoras, lá isso eram .

4 de fevereiro de 2014 às 22:15

(vii) César Dias:

Luis, também eu estive 6 meses em Tavira, recruta na 3ª Companhia e na especialidade de Sapador na 2ª Companhia, e pelos vistos estivemos no mesmo turno, com o tal tenente Esteves do qual me recordo como se divertia ao anunciar á sexta feira os cortes nos fins de semana "o militar é a parte válida do povo e como tal não há fim de semana para ninguém". Eu penso que ficámos retidos algumas vezes porque foi nessa altura que Salazar caiu da cadeira. Sobre esse Alferes, lembro-me que era Algarvio e também dava instrução de provas fisicas ao meu pelotão, deves-te lembrar do meu pelotão, pois andavam todos com um estropo de corda ao ombro, fazia parte da farda. Tudo o que referes avivou-me a memória já muito fraca, mas foi a parte de Tavira que conheci. (...)

4 de fevereiro de 2014 às 23:58


(viii) José Manuel Lopes:

Estive em Tavira, 3 meses. Recordo os bons e maus momentos que lá passei, o alferes Luz, algarvio, que nos deu cabo do coiro e do juizo.

Recordo que estive 3 meses sem ver o meu Douro, meus pais e irmãos, no principio com a desculpa que a Régua era muito longe, e quando o comboio lá chegasse estava na hora de apanhar o de regresso.(ainda havia comboios), depois porque aprendi a gostar do Algarve, das sua praias, da agua quente daquele mar, das lindas meninas queimadas pelo sol e até porque melhorei muito o meu ingles aprendido no liceu. Foi bom e há...!? ainda não tinha 20 anos!!!


terça-feira, 9 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25361: Historiografia da Presença Portuguesa em África (417): "Desastre de Bolor ou Bolol" [Carlos Cordeiro, 1946-2018) / Patrício Ribeiro]


Antiga Província Portuguesa da Guiné > Carta Geral (Escala: 1/500 mil) (1961) > Posição relativa de Bolor (1), Bolola (2), Jufunco (3), Varela (4) e Cacheu (5). No Google Map, o topónimo uado é "Bolor" (mas os guineenses hoje dizem "Bolol"... e o povo é quem faz a língua)

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2024)


1. Comentário de Carlos Cordeiro (1946-2018) ao poste P8622 (*)

[O desstre de Bolor ou Bolol] aconteceu em finais (talvez mesmo em dezembro) de 1878. A Guiné era governada por um governador, dependente do governador-geral de Cabo Verde.

Foi uma grande mortandade: falou-se mesmo em cerca de duas centenas de mortos. 

Tudo aconteceu por incompetência das autoridades portuguesas, em especial, do governador, que mandou sair tropas com armas descarregadas e ficou num barco a ver o desenrolar dos acontecimentos. Depois, o barco onde estava,  disparou o canhão (que me desculpe o C. Martins), que, mal assente, tombou e foi parar ao mar, etc.. 

A Câmara dos Deputados tem debates acalorados sobre os acontecimentos, ao longo de várias sessões, bem como sobre a legislação que, em 1879, criou a "província da Guiné portuguesa", tornando o seu governo independente do de Cabo Verde. 

Administrativamente ficou dividida em quatro concelhos: Bolama, Bissau, Cacheu e Bolola. (**)

Três aspectos sempre em destaque nos debates (além de outros, naturalmente):

(i) Que fazer? Expedição punitiva ou reconhecimento da incompetência das autoridades ao terem intervindo numa rixa que não tinha propriamente a ver com os interesses portugueses?

(ii) A falta de informações sobre as realidades ultramarinas e o problema da dificuldade das comunicações.

(iii)  As insuficiências das guarnições militares em todas as "possessões ultramarinas".

Não resisto a transcrever esta passagem de um discurso do deputado Freitas Oliveira, na sessão de 11 de Março de 1879 

(...) "Ouvi fallar das fortalezas da Guiné, como se ali houvesse alguma fortaleza! O que se chamou fortaleza da-Guiné, consiste em um paredão sobre o qual estão dez peças do artilheria, collocadas em sarilhos de madeira, que em dias de grande galla, por occasião das salvas, se voltam de traz para diante, quando disparam, como aconteceu ao rodizio da canhoneira que ultimamente aggravou com o ridículo o desastre dè Bolor". (...)

Só mais uma coisa: fala-se sempre em "Bolor" e não Bolol. No mapa aqui publicado também tem a indicação "Bolor". Deve ter havido alteração do nome.

Um abraço,
Carlos Cordeiro

1 de agosto de 2011 às 03:28


2. Comentário do editor LG:
 
O nosso "correspondente em Bissau" Patrício Ribeiro já em tempos nos tinha mandado fotos destas terras do chão felupe, que poucos de nós conheceram... Chama "Bolor" ao lugar que hoje outros chamam "Bolol"... E lá está o canhão... e vestígios (correntes de ferro) provavelmente do tempo ainda do tráfico de escravos... A rever. (***)



Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Bolor ou Bolo, na foz do rio Cacheu > Velhos canhões... e correntes de ferr

Fotos (e legenda): © Patrício Ribeiro (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
____________  


(***) Vd. poste de 2 de setemnro de 2015 > Guiné 63/74 - P15065: Memória dos lugares (318): em terra dos felupes: Bolor, Rio Cacheu, Djufunco, Varela... (Patrício Ribeiro)

(...) Envio, para recordarem, algumas fotos tiradas no mês de maio [de 2015],  de visita por terra à Tabanca, do antigo Fortim da Ponta de Bolor (...).

Como sabemos, esta tabanca [Bolor, no estuário do Rio Cacheu, na margem direita, e vizinha de Jufunco ou Djufunco e de Bolol,] está cheia de histórias:

(i) afundamento de um barco inglês e morte dos tripulantes;

(ii) morte de mais de 30 militares portugueses, envenenados por flechas e lanças;

(iii) queda de avioneta com dois franceses, que desapareceram; após muitas buscas em terra e nos rios, nunca foram encontrados...

A quem pertencem estas correntes ? 
[vd. foto acima] (...) Foi a pergunta que o nosso amigo Pepito (Carlos Shwarz) fez aos Homens Grandes da tabanca, nunca teve resposta … aquando do almoço nesta tabanca de dezenas de brasileiros descendentes de escravos, em 2010, em Cacheu.

Será que alguém sabe a quem pertence? (...) Fotografei, nesta festa, mais ou menos 5 canhões , do tempo das caravelas, que só neste dia estavam nos largos da tabanca. (...)

(...) [Falta-nos a carta, de 1/50 mil, de Jufunco, lapso nosso ou do nosso "cartógrafo" Humberto Reis...Esta região faz parte do Parque Natural dos Tarrafes do Rio Cacheu, "considerado o 5º maior parque com mancha contínua do ecossistema do mangal em África"...]

quarta-feira, 31 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24357: Historiografia da presença portuguesa em África (370): Da CUF à Casa Gouveia, da Casa Gouveia à CUF: Uma viagem interminável (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 5 de Setembro de 2022:

Queridos amigos,
Caso se procure navegar com os céus brumosos, a documentação é rala e o que encontrei na Sociedade de Geografia de Lisboa não é muito abonatório para o senhor deputado nomeado pela Guiné e que vai aparecer em São Bento em 1911. O saudoso confrade Carlos Cordeiro encontrou o nome e intervenções de Gouveia (delas aqui se faz menção) agora há que ir procurar outras intervenções durante este mandato de 1911 a 1915. Permito-me voltar a pedir a todos que lerem este texto se souberem da existência de mais informações sobre a Casa Gouveia terem a amabilidade de me as transmitirem, a ambição era saber mais sobre Gouveia antes de vir para Guiné, o que fez em África, que benefícios lhe trouxe São Bento, como era o seu mundo de negócios até se criar o tandem Casa Gouveia/CUF, e posteriormente conhecer a evolução dos negócios, até à independência da Guiné. Quem pode ajudar?

Um abraço do
Mário



Da CUF à Casa Gouveia, da Casa Gouveia à CUF:
Uma viagem interminável (3)


Mário Beja Santos

Segundo nos é dado a perceber, não há uma biografia de António da Silva Gouveia, sabe-se que chegou a África no último quartel do século XIX, constituiu empresa e notoriedade nos negócios, será deputado na Assembleia Constituinte, estará em São Bento até 1915, o nosso confrade Carlos Cordeiro (infelizmente já falecido) deixou aqui no blogue intervenções dele, é um domínio que espero mais tarde explorar consultando a documentação online do Parlamento referente à I República (ver as seguintes publicações:
Guiné 63/74 - P7107: Historiografia da presença portuguesa em África (37): António Silva Gouveia, fundador da Casa Gouveia, republicano, representante da colónia na Câmara dos Deputados, na 1.ª legislatura (1911-1915) (Parte I) (Carlos Cordeiro), disponível em: https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2010/10/guine-6374-p7107-historiografia-da.html e ainda Guiné 63/74 - P7109: Historiografia da presença portuguesa em África (38): António Silva Gouveia, fundador da Casa Gouveia, republicano, representante da colónia na Câmara dos Deputados, na 1ª legislatura (1911-1915) (Parte II) (Carlos Cordeiro) disponível em: https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2010/10/guine-6374-p7109-historiografia-da.html.

Portanto, há que escavar até sair pepita. Na biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa há dois documentos onde se fala de António da Silva Gouveia, deputado pela Guiné, há ali referências pouco elogiosas, como o leitor terá oportunidade de acompanhar.

Logo em "A Guiné nas Constituintes ou Misérias de Um Deputado", por Cândido Carlos de Medina, e a propósito em autos-crimes, extraio os seguintes parágrafos:
“Consta-me ouvir dizer a diferentes pessoas se têm praticado em Bolama os abusos e ilegalidades seguintes: para dar uma ideia geral do que era o Tribunal de Bolama, basta dizer que foi público e notório o ter sido denominado Tribunal da Baviera, pois que um dos compartimentos fora transformado em botequim ou cervejaria, onde se praticaram as maiores arbitrariedades tais como soltando criminosos sem mandado e desterrando para São Tomé dentro de três dias um criminoso que pediu recurso verbal.
A Fazenda Nacional foi enormemente desfalcada por assentimento dos magistrados capitão Costa Pereira, dr. Mourão, dr. Delgado de Carvalho e dr. Bernardo Nunes de Garcia a favor dos negociantes António da Silva Gouveia e António José Coelho de Mendonça nos inventários de António Pinto de Mesquita, ex-sócios destes últimos, e do tesoureiro da Província, Nicolau Carlos de Medina.
No inventário de António Pinto de Mesquita, cuja soma em dinheiro era calculada em cinquenta mil reis, foi apenas encontrada uma insignificância junta aos lucros que lhe deviam pertencer na Casa Gouveia & Cª. Este Mesquita tinha entrado para a Sociedade com sete contos e tantos em pesos e como não tinha herdeiros, se não se dessem as irregularidades, toda aquela fortuna entraria nos cofres da Fazenda Nacional. Como este processo envolvia sérias responsabilidades para a Casa Gouveia & Cª, desapareceu (segundo dizem) por combinação dos magistrados dr. Mourão e dr. Bernardo Garcia, que vindo de Cabo Verde para a Guiné, a fim de fazer uma sindicância prevaricou adquirindo grossas somas pela facilidade com que fazia desaparecer os processos no cartório a favor de alguns negociantes, de quem era advogado com procuração.”


Para não cansar o leitor com o relato destas traquibérnias, resta dizer que o nome da Casa Gouveia não aparece muito abonado, desapareceram grossas somas e aponta-se claramente o nome da Casa Gouveia e Mendonça. Mais adiante, Cândido de Medina refere uma escritura falsa feita por um escrivão interino da venda de uma casa de Francisco Rodrigues em Farim à Casa Gouveia & Cª por uma procuração falsa. Esta escritura é falsa, diz Medina, porque a procuração fora feita em papel muito sujo de moscas dois anos e meio depois da morte de Francisco Rodrigues e porque o dito Vasconcelos (o tal escrivão interino) já não estava em exercício quando a fez na Casa Gouveia. Os magistrados nesta denúncia, andam pelas ruas da amargura: “O dr. Mourão, indo a Bissau em serviço judicial, recebeu aí 537 mil reis dos rendimentos das propriedades do casal de Roberto Ribeiro da Cunha para serem depositados em Bolama no respetivo cofre. Pois esse dinheiro foi gasto em Bissau no jogo e em bebidas; e só mais tarde é que ele deu entrada no cofre, devido à amabilidade da Casa Gouveia & Cª que abonou essa quantia.”
E, mais adiante: “A Casa Gouveia & Cª pagou umas multas por infrações de lei dos selos nuns livros comerciais, multas que foram impostas por despacho do juiz Delgado de Carvalho que passou em julgado; pois essa Casa teve a facilidade de requerer e obter com pleno assentimento do representante da Fazenda Nacional a retribuição daquelas multas sem ser por meio de recurso algum.”

Muitas mais vezes António da Silva Gouveia aparece ligado a infrações, irregularidades e fraudes. Há a história de um arrolamento de bens, faz-se um inventário em março de 1896 e pode ler-se: “Havia mais dinheiro em cofre, mas penhorado, não constando que esse dinheiro fosse levantado. Havia uma dívida ao casal de 300 mil reis, devida por Francisco António Manuel Adolfo, conta que foi autorizada a respetiva execução; não consta que a quantia revertesse para o casal. Mais ainda. António da Silva Gouveia arrematou em hasta pública dois prédios do casal e veio a requerer que fosse dispensado de entrar no cofre com a quantia por que arrematou, visto ser credor de maior quantia. Foi-lhe indeferido o pedido e condenado nas custas do incidente.”

Passamos agora para a "Carta Aberta" assinada por Manoel António de Oliveira, dirigida ao deputado Silva Gouveia, ele acabara de receber o folheto de Cândido Carlos de Medina e diz, “prova-se que o senhor é pelo menos, se não o autor, cúmplice ou encobridor de fraudes e roubos feitos, uns à Fazenda Nacional, à Pátria, a nós o povo e outros, a viúvas e órfãos inocentes que hoje se encontram na miséria, enquanto o senhor deputado da Nação portuguesa, da nossa jovem República, negociante em grande escala e representante de bancos e companhias se banqueteia lautamente com o que pertencia a infelizes menores e que se encontram hoje a braços com a mais horrível miséria! E, neste constante subir, mercê de astúcias e embustes de toda a ordem, o senhor será elevado até às altas culminâncias do poder.
Sim, pelo que leio naquele folheto, as escada por onde tanto homem e órfãos remediados desceram à maior das desgraças, prestar-se-á hoje a dar subida ao homem que ontem, embora para fazer os seus arranjos, não tinha política definida e hoje se declara republicano da velha guarda, como se a República que tanto sangue custou, que tanta vida de homens sem mancha alguma engoliu, servisse para fazer subir ao mais alto pedestal criaturas que em público e com provas são acusadas de escândalos ou crimes desta ordem.”


É esta a única documentação existente sobre António da Silva Gouveia e a Casa Gouveia na Guiné no dealbar da I República, Gouveia foi eleito deputado, houve queixas da concorrência, há documentação de Graça Falcão que se julgava merecedor de ter sido escolhido, para este assunto a questão não é relevante, sabe-se que Gouveia em 1912 aderiu ao Partido Republicano Evolucionista, dirigido por António José de Almeida. Vamos continuar a procurar para se tirar o retrato de corpo inteiro deste Gouveia, na década de 1920 entra em negócios com a CUF, e assim aparecerá a mais importante empresa comercial e industrial da Guiné.

(continua)

Imagem de documentação em posse do Arquivo Histórico CUF-Alfredo da Silva
O vapor “Lisboa”, 1916
O rebocador “Estoril”, 1932
Navio a vapor “Costeiro”, 1922
Navio a vapor “Alferrarede”, 1927

Imagens de navios da Sociedade Geral, retiradas do blogue Restos de Colecção, com a devida vénia
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Nota do editor

Último poste da série de 24 DE MAIO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24338: Historiografia da presença portuguesa em África (369): Da CUF à Casa Gouveia, da Casa Gouveia à CUF: Uma viagem interminável (2) (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21719: (Ex)citações (382): Tavira, CISMI, por quem nenhum de nós morreu de amores... (João Candeias da Silva / Carlos Silva / Luís Graça)


Facebook > Grupo dos Antigos Militares do CIQ-CISMI, Tavira e QG Évora > Carlos Cordeiro > 17 de janeiro de 2017

(...) Há 49 anos dava entrada no CISMI - 4.ª companhia. Deixo de lado as coisas menos boas para olhar com ternura o tempo de juventude. Foto: regresso da Semana de Campo. À excepção do cabo miliciano (...) todos os recrutas são naturais de S. Miguel - Açores. Da esquerda para a direita: Carlos Alberto Pereira Rangel; José Luís Vasconcelos Botelho; cabo miliciano; Domingues e eu,  Carlos Cordeiro  [, saudoso membro da nossa Tabanca Grande, 1946-2018]  (...)




Grupo dos Antigos Militares do CIQ-CISMI, Tavira e QG Évora  > Carlos Cordeiro > 9 de março de 2015 

 
(...) CISMI. 1.º turno de 1968 (recruta). Um dos pelotões da 4.ª Companhia (não me lembro o n.º), "foto de família". Regressámos da "visita" às salinas já tarde e não havia muito tempo para vestir a farda n.º 2, tirar a foto e a seguir formar para o almoço. O aspirante (que talvez tivesse feito com que chegássemos tarde de propósito) disse então para vestirmos a parte de cima da farda n.º 2 e ficarmos com as botas e calças como se pode ver pela foto. 

Sou o terceiro a contar da direita na fila do meio [, assinalado com cercadura a amarelo[. Ao meu lado direito está um amigo aqui de S. Miguel,  Açores. De resto, infelizmente, não me lembro do nome de mais ninguém, ainda que todos tenham assinado a foto. O aspirante era bastante reguila, o que era temperado pelo cabo miliciano, excelente pessoa. Oxalá algum camarada se reveja na foto. (...) 
 

1. Comentários do João Candeias e do Carlos Silva ao poste P217092 (*):

(i) João Candeias da Silva [ex-fur mil at inf, de rendição individual, CCAV 3404 (Cabuca, 1972), CCAÇ 12 (Bambadinca, 1973) e CIM Bolama (1973/74)]

CISMI, Tavira. Terceiro turno de 1971.

Depois da recruta no Hotel das Caldas, rumámos a sul até Tavira para fazermos a especialidade de atirador de infantaria.

A viagem longa e demorada foi feita sem paragens em vilas onde pudessemos dar ao dente, a excepção era para fazer xixi no meio do mato.

Em Tavira, no CISMI, destaco 3 personagens:

(a)-Tenente Moleiro, que no primeiro dia aparaceu no campo da feira, conhecido por Atalaia. O pelotão formou e depois do blá, blá da retórica, tirou o quico e disse: "é este o corte de cabelo da companhia;

(b) Caifás, o barbeiro onde nos iríamos apresentar e dizer #corte à tenente Moleiro":

(c) O capitão capelão que dava palestras aos sábado ao fim da manhã no refeitório.

O pessoal estava exausto, sentado e com o queixo apoiado ao cano da G3, não tardava em adormecer. A palestra que alertava para o "respeito" pelas meninas e ameaçava que quando tal não acontecia termimava em casamento na parada. E dava como exemplo o que, na recruta / especialidade, anterior, tinha acontecido.

Depois era ouvi-lo: "tu aí ao fundo levanta-te e castiga-te a ti próprio".... "Sim tu que estavas a dormir"...

A malta como não sabia a quem ele se dirigia, levantavam-se dois ou três. Então dizia: "não és tu, ele sabe quem é". À segunda ou terceira acertava.

A malta que sabia tocar e cantar e fosse "actuar" na missa de domingo tinha tratamento VIP. Também havia outros VIP por serem futebolistas, destaco o Vaqueiro, um dos chamados bebés do Varzim. Havia mais.

A salina era onde os mais tesos eram humilhados por resistirem onde não havia hipótese de vencer. Terminava quando todos estavamos encharcados de água podre e mal cheirosa. O cheiro ficava presente por dias.

Na Guiné, onde fui dos primeiros a chegar por ir em rendição individual, encontrei vários camaradas. Destaco o Penedos, que tocava trompete e em Tavira já tinha um Renault.

João Silva, terceiro turno de 1971, com passagem por Beja, Depósito de Adidos e Guiné.

(ii) Carlos Silva  (ex-Fur Mil Inf,  CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Jumbembem, 1969/71), Régulo da Tabanca dos Melros]

Meus Amigos & Camaradas:

Entrei no dia 8/1/1969 no RI 5 nas Caldas da Rainha e fiquei integrado na 2ª Companhia comandada pelo Ten Bicho Beatriz, Capitão de Abril, infelizmente já falecido, homem de bom trato.

Integrei o 2º Pelotão, comandado pelo Ten Carneiro, também um militar respeitador. Os Cabos Milicianos, um deles era o Moreira que encontrei na Guiné e posteriormente muitas vezes em Lisboa, um tipo porreiro. O outro, cara de mauzão, mas bom rapaz e quem era ele ? Quem era ele ? Todos o conhecem aqui no Blogue, nem mais nem menos, o nosso amigo & camarada o Humberto Reis.

Das Caldas, para além de vários episódios, lembro-me do mais importante, que foi o sismo de 28 ou 29 de Fevereiro de 1969 e da audição em parada das Ordens de Serviço com o final de " O Comandante ... Giacomino Mendes Ferrari "...

Daqui deram-me a guia de marcha para apanhar o comboio e parar em Tavira onde nos esperavam os autocarros de turismo do Exército para nos transportar até ao designado quartel da Atalaia - CISMI onde dei entrada no dia 9/4-/969, 2º Turno, para aí tirar a especialidade de Armas Pesadas, ficando integrado na 2ª Companhia, comandada pelo Cap Viegas, bom homem, que nunca mais ouvi falar dele. talvez o Carlos Alberto Nascimento, se lembre dele.

O pelotão era comandado por um Aspirante Miliciano do qual não me lembro o nome, coadjuvado por dois Cabos Milicianos, sendo um de nome Soromenho, cara de mauzão, o outro não me recordo o nome.

A instrução e aplicação militar, claro, era exercida no campo da Atalaia e para os lados da Conceição de Tavira ou nas encostas do rio Gilão, para os lados da ponte nova EN.

Falam muito do Ten Madeira, do "Trotil", etc., etc, não me lembro deles, pois a nossa convivência era restrita. Lembro-me de um Tenente, do qual não me recordo o nome, um tipo magro e alto, que nos dava as aulas teóricas, nada acessível, militarista, que andava sempre com um pingalim e um outro Ten Coelho Lima, do Norte, indivíduo de bom trato.

Episódios não são muitos, mas recordo-me de uma cena de uma barata que vinha no prato de arroz de um dos camaradas, que percorreu os pratos todos, pois foi passando de prato em prato, porque nenhum de nós era chinês.

Lembro-me também de quando íamos fazer marchas, sempre que íamos para o lado de lá do rio, ao passar junto às esplanadas, ouvíamos a ordem de comando: "Pelotão... olhar... direita" !!! "... para saudar o 2º Comandante, Maj Teixeira que por ali estava sentado acompanhado ...

Nunca mais ouvi falar deste senhor, nem do Comandante do CISMI que não sei quem era. A rapaziada aqui nunca se referiu aos altos Comandos.

Um outro episódio que me recordo, foi termos um castigo colectivo, privação de fim de semana, dado pelo Maj Teixeira, porque lhe foram fazer queixinhas que os instruendos tinham participado numa operação de assalto a um laranjal ... Pudera!, as laranjas do Algarve tinham fama...

Quanto às meninas e aos casamentos, também eram falados, mas não sei se alguém do meu Turno ficou por lá perdido. Creio que apenas houve por lá um episódio relativo à "espanholita" (?)...

A semana de tiro foi normal, fomos com os canhões e morteiros 81 para Cacela fazer fogo para a Ilha de Tavira. Do CISMI fui parar ao RI 10 Aveiro, mas nem aqueci o lugar, fui logo mobilizado para a Guiné, o que não esperava, pois tinha sido bem classificado.

Foi o meu azar, os camaradas maus classificados foram mais tarde mobilizados, mas foram integrados em pelotões de canhões ou de morteiros e não alinhavam para o mato. Encontrei-me com alguns na Guiné, já eu andava por lá há 6 ou 8 meses. Talvez fosse essa a minha vantagem. Bem, Tavira já vai longe.

Abraço para todos com votos de um Bom Ano 2021 com saúde.

(iii) Luís Graça, editor:

Lembram -se do Carlos Alberto Dores Nascimento, 1º cabo miliciano, e monitor do CSM, entre 1967 e 1969 ? Há uns anos, em 9 de setembro de 2010, escreveu-me o seguinte email:

"Alô, Luis. Sou o Carlos Alberto Dores Nascimento, estive em Tavira de Janeiro de 67 a Dezembro de 69. Especialidade de atirador... e por lá fiquei até ao fim como monitor. Conheci o Robles e o Trotil. O Trotil era Óscar. Conheci-os de alferes a capitães.

"Também gostava de encontrar alguns companheiros daquele tempo (,agora somos avós, ) mesmo que tivessem sido 'meus' intruendos. Sei que todos os anos em Outubro fazem lá no quartel um convívio com todos os que passaram por lá. Eu este ano quero ir pois nunca fui. Estou inscrito no Facebook, tenho lá algumas fotos do nosso tempo para ver se há alguém que se identifica.

"Bom, um grande abraço."


De facto, o Nascimento, algarvio, que é natural de Alagoa, e vive em Portimão, é (ou era, em 2014) um dos elementos mais ativos do Grupo (aberto) do Facebook, Grupo dos Antigos Militares do CIQ-CISMI, Tavira e QG Évora.

Segundo o Carlos Nascimento, a 2.ª companhia era "a companhia das várias especialidades",  incluindo a de armas pesadas de infantaria. Ou seja, o ten Esteves Pinto  foi meu comandante de companhia, no CISMI, no último trimestre de 1968.
  

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Guiné 61/74 - P21494: Memoriais Militares (1): Diáspora açoriana na América: contactos de veteranos da guerra do ultramar e da guerra do Vietname (José Câmara, Raynham, Massachusetts)



Capa do livro 

CABRAL, Adalino e DIAS, Eduardo Mayone (org.), "Das guerras africanas à diáspora americana", Rumford, East Providence, Rhode Island, USA: Peregrinação Publications, 2002. Foto da capa: Fur Mil Manuel Adelino Ferreira. Norte de Angola, 1966.




Estados Unidos > Massachusetts > Raynham > 2019O João Crisóstomo (à esquerda) e eu na minha casa


Foto (e legenda): © José Câmara (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do José Cãmara (ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Brá, Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73); tem cerca de 120 referências no nosso blogue; 


Date: quinta, 29/10/2020 à(s) 00:35
Subject: Memoriais Militares (*)
 

Amigo Luís Graça,

Anos atrás,  eu estive no lançamento de um livro escrito pelos Srs Adalino Cabral, um veterano da Guerra do Vietname, e Eduardo Mayone Dias. Sei que têm algumas publicções sobre a Guerra do Vietname. Não tenho os seus contactos, mas quero acreditar que o nosso companheiro Serra Vaz (*) pode conseguir isso com a seguinte informação:

"Adalino Cabral: Emigrou criança para os Estados Unidos, em 1954. É veterano da guerra do Vietname.
Os mesmos autores, ele e o Eduardo Mayone Dias, haviam  anteriormente publicado a obra "Portugueses na guerra do Vietname".

Apurei que o Eduardo Mayone Dias é professor e investigador. natural do continente, vive em Los Angeles; e que o Adalino Cabral é natural da Feteira Grande, Nordeste, S. Miguel.  

Os mesmos autores haviam anteriormente publicado a obra "Portugueses na guerra do Vietname". 

Da nota introdutória do livro, cuja capa acima se reproduz: 

"As guerras de África vimo-las de longe e com diferentes perspectivas. Um de nós, Adalino Cabral, passou parte desses anos ele mesmo no mato, mas no Vietname. O outro, Mayone Dias, andava em 1961 pelo México e depois, até 1974 pela Califórnia. Em ambos os casos as notícias de África só muito esporadicamente nos chegavam (...). O que ambos pretendíamos obter era um relato pessoal da experiência de campanha, as impressões do contacto com o novo ambiente físico e emocional, um possível contraste entre as atitudes de ontem e de hoje" (...)

Com a ajuda do nosso saudoso amigo e camarada, e grande açoriano,  Carlos Cordeiro (1946-2018), sabemos que o livro se baseia, portanto, na recolha de depoimentos de veteranos da Guerra do Ultramar que emigraram para os Estados Unidos. Dos dezassete entrevistados, onze são naturais dos Açores, um estabelecido na Califórnia e os restantes no Massachusetts.

São os seguintes os entrevistados açorianos (nome / ano de nascimento / local, ilha / teatro de operações

- César Serpa  / 1941 / ico da Pedra, S. Miguel / Moçambique. 

- David de Sousa Bairos / 1947 / Sto. Espírito, Sta.Maria / Guiné.

- Fernando Amaral Dutra / 1932 / Madalena, Pico / Guiné; Timor.
 
- Floriano Jorge Resendes de Medeiros / 1950 / Lagoa, S. Miguel / Moçambique.

- Gilberto Manuel de Moura Sousa / 1951 / Vila do Porto, Sta. Maria / Moçambique.

- Horácio Botelho Tavares / 1947 / S. Roque, S. Miguel / Angola.

- Jaime Soares da Costa / 1947 / Santa Maria / Guiné.

- José Natalino Cardoso / 1942 / Ponta Delgada, S. Miguel / Angola.

- Manuel Adelino Ferreira / 1942 / Ribeira das Taínhas, Vila Franca do Campo, S. Miguel / Angola.

- Mário Jorge da Costa Borges / 1946 / Ponta Garça, Vila Franca do Campo, S. Miguel / Moçambique.

- Vasco Manuel Correia de Matos / 1953 /  Serreta, Terceira / Angola.

Eu estive presente no lançamento deste livro no clube Os Amigos da Terceira, Estado de Rhode Island. Se a memória me serve bem, o Sr. José Brites, um grande admirador e impulsionar das coisas portuguesas por estes lados, terá a disponibilidade para servir quem dele se aproximar. Nesse sentido aqui fica o que consegui: 

José Brites
Peregrinacao Publications Inc 
36 Brayton Avenue 
Rumford, RI 02916 - View MapPhone: (401) 435-4897
Web: www.portuguesefoundation.org 
 
 ____________

Nota do editor:

(*) Vd. postes de;