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terça-feira, 12 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14601: Blogoterapia (269): O meu pai é o meu herói (Cristina Silva, filha do Jacinto Cristina, o "padeiro da ponte Caium", ex-sold CCAÇ 3546. Piche, 1972/74)





C. 1973: A Cristina, com 2 anos e picos,  e a mãe, Goreti... Rezavam todos os dias pelo regresso do pai e marido... Em baixo, a Cristina folheando o álbum fotográfico do pai, Jacinto Cristina, na altura destacado na Ponte de Caium, subsetor de Piche, Zona leste da Guiné (CCAÇ 3546, 1972/74)... A Cristina já era nascida quando o pai foi mobilizado para a Guiné. O Jacinto Cristina, dono de uma panificação em Figueira de Cavaleiros, Ferreira do Alentejo, reformou-se por invalidez, em 2011, aos 62 anos. Foi em Caium que aprendeu a arte de fazer "casqueiro"...

Fotos: © Jacinto Cristina (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Da nossa amiga Cristina Silva, engenheira e empresária, a viver no Funchal, comentário ao poste P14589 (*)


O meu pai é o meu herói, o meu orgulho e a inspiração para as batalhas que tenho travado na vida!

Ainda guardo nos segredos do meu coração a oração que a minha mãe me ensinou pois, juntas, rezávamos todas as noites pelo meu pai... Testemunho o olhar terno da minha mãe... e a sua determinação... As "encomendas" e as cartas que, religiosamente, enviava para a Guiné! Grande heroína, ela própria! 

As marcas ficaram para sempre nos nossos corações. Devo-lhes tudo o que sou! A todos os Camaradas da Guiné e ao meu amigo Luis, especialmente, um grande abraço! Cristina Silva. (**)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 9 de maio 2015 > Guiné 63/74 - P14589: A bianda nossa de cada dia (3): o melhor casqueiro da zona leste, amassado e cozido em forno a lenha pelo Jacinto Cristina e pelo Manuel Sobral, no destacamento da ponte Caium... Mas nem só de pão viviam os homens do 3º Gr Comb, os "fantasmas do leste", da CCAÇ 3546 (Piche, 1972/74)

(**) Último poste da série > 2 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14556: Blogoterapia (268): Vitórias (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo CAR do BCAÇ 3872)

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14598: A bianda nossa de cada dia (5): Se a vida era boa em Lisboa, em Bissau nem tudo era mau... Do arroz de todas cores ao vinho verde alvarinho "Palácio da Brejoeira"... (Hélder Sousa)



Guiné > Bissau > c. 1970/72 > O Hélder de Sousa, na avenida marginal, junto ao cais.

Foto do álbum de Hélder de Sousa, ex-fur mil de trms TSF (Piche e Bissau, 1970/72), ribatejano, engenheiro técnico, residente em Setúbal, membro da Tabanca Grande desde abril de 2007 e nosso colaborador permanente.

Foto: © Hélder de Sousa (2007). Todos os direitos reservados




Guiné > Zona leste >  Piche  > março de  1971 >>  Da esquerda para a direita, Centeno, Hélder e Herlander

Foto: © Hélder de Sousa (2012). Todos os direitos reservados

1. Texto de Hélder Sousa, recuoerado a partir de comentários ao poste P14574 (*)

Caros camaradas

Isto das comidas e bebidas tem que se lhe diga!

No que diz respeito à bebida e relativamente ao vinho, tenho pouca recordação. Lembro-me que durante o CSM [, Curso de Sargentos Milicianos,] em Santarém o que se bebia era pouco menos que intragável, eu que até sou de uma região, Cartaxo, onde o vinho sabia a vinho, pelo menos o que chegava à mesa de casa e aquando dos petiscos com os amigos.

Não sei se era por saber mesmo ou por sugestão do que se dizia, lá no Destacamento da EPC {[, Escola Prática de Cavalaria,] aquela zurrapa sabia a cânfora...

Na Guiné, devo dividir a 'coisa' em três partes: (i) nas refeições na Messe de Sargentos do QG [, Quartel General,]; (ii) durante a permanência em Piche;  e (iii) em Bissau, nos estabelecimentos civis.
Da primeira parte não guardo memória.
Ródulo do Alvarimho Palácio
da Brejoeira. Cortesia do sítio
Garrafeira Nacional
De Piche, em termos de Messe também não me lembro como era. Sei que cá fora, no Tufico, bebia cerveja. Mas no Quartel lembro-me bem de "estrear" Alvarinho "Palácio da Brejoeira". Nunca tinha bebido (para mim 'vinho verde' era Casal Garcia e similares) e isso foi possível porque um dos Capitães era uma pessoa de gostos refinados (até mandou vir, a suas custas, um aparelho de ar condicionado que mandou montar no quarto) fez com que fossem fornecidas algumas caixas e como uma delas de "partiu" lá tivemos a sorte (eu, o vaguemestre cúmplice e mais uns dois ou três esforçados companheiros) de experimentar esse vinho. E gostei!

Já nos diversos estabelecimentos civis, para além da cerveja, em termos de vinho a diversificação foi a característica principal: no "Solar do 10", quando jantava do lado mais requintado e maioritariamente ocupado pelos senhores Oficiais da Marinha, para acompanhar o "steak" à inglesa ia uma garrafa de "FR" velho, se a refeição era do lado da esplanada interior, a acompanhar a "Açorda à Santa Teresinha" ia um "Dão" (não dava nada, tinha que pagar!).

No restaurante do Pelicano optava mais geralmente por "Grão Vasco".

Quando ficava pelo "Oásis" e me deliciava com umas excelentes alheiras, 'bati' todas as 'monocastas' brancas que por lá havia até as esgotar: "Fernão Pires", "Tália", "Boal", "Trincadeira", etc... 

Portanto, em termos de bebida, melhor dizendo, em termos de vinho.... não me queixei!

O Hélder Sousa em Piche...
Quanto à comida.....

Em termos de Guiné, também divido isso em partes: (i) a comida na Messe de Sargentos do QG; (ii) os tempos de Piche; e (iii) as refeições nos espaços civis, podendo-se acrescentar as 'petiscadas'.

Da Messe confesso que algumas vezes não me pareceu mal de todo mas o que mais 'retive para memória' foi os diferentes tipos de arroz: o "vermelho" quando pretendia ser de tomate, o "verde" quando misturado com verduras, o "alaranjado" quando de cenoura, o "amarelo", quando de açafrão ou caril e ainda havia o "branco". O que o acompanhava era irrelevante.

Em Piche, fazia-se o que se podia, em função dos fornecimentos. Não posso dizer que desgostei. Comi razoavelmente bem, tendo em conta as circunstâncias.

E ainda houve tempo para se experimentar pratos novos, como por exemplo as "almôndegas de mancarra ao suor", as quais eram uma espécie de carne picada mas que não sendo muita era enrolada e recheada com pedaços de mancarra e que antes de irem para a confecção eram passados pelo suor do corpo do cozinheiro negro. Muito bom!

Petiscos eram bastantes e em função do que os fornecimentos proporcionavam. Comi um leitão (já um bocadinho crescido...) com arroz no bucho, em casa do Chefe de Posto e arranjado pelo homem da Casa Gouveia que "soube pela vida". Coisas proporcionadas pelo meu amigo vaguemestre Herlander, que tinha estado comigo em Santarém.

Na 'vida civil' de Bissau e arredores, enquanto havia 'patacão', não falando em ostras e camarões ou iscas às tirinhas no Zé D'Amura, fui variando e experimentando diversos locais e pratos, lembrando-me agora assim de repente, para além dos já citados "Solar do 10", "Pelicano" e "Oásis", também a "Meta", o "Sporting de Bissau", umas duas vezes o "Grande Hotel", etc.

Em resumo, dum modo geral, tendo em atenção o tipo de funções e ocupações funcionais que me tocaram, não tenho grandes razões de queixa quanto à alimentação, pois sempre que não era boa foi-se arranjando alternativas.

Hélder S.
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Notas do editor:

Vd. postes da série:

11 de maio de  2015 > Guiné 63/74 - P14595: A bianda nossa de cada dia (4): Os nossos "chefs gourmet", lá no mato.. A fome aguçava o engenho... (Jorge Rosales / Manuel Serôdio / Vasco Pires)

9 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14589: A bianda nossa de cada dia (3): o melhor casqueiro da zona leste, amassado e cozido em forno a lenha pelo Jacinto Cristina e pelo Manuel Sobral, no destacamento da ponte Caium... Mas nem só de pão viviam os homens do 3º Gr Comb, os "fantasmas do leste", da CCAÇ 3546 (Piche, 1972/74)

7 de maio de 2015 >  Guiné 63/74 - P14584: A bianda nossa de cada dia (2): homenagem ao nosso cozinheiro Manuel, hoje empresário de restauração (Abílio Duarte, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Nova Lamego, Paunca, 1969/1970)

5 de maio de 2015 Guiné 63/74 - P14574: A bianda nossa de cada dia (1): histórias do pão e do vinho... precisam-se!

Guiné 63/74 - P14595: A bianda nossa de cada dia (4): Os nossos "chefs gourmet", lá no mato.. A fome aguçava o engenho... (Jorge Rosales / Manuel Serôdio / Vasco Pires)


Jorge Rosales,  alf mil da 1ª CCaç Indígena, Porto Gole, 1964/66, e  atual "régulo" da Tabanca da Linha



 Manuel Serôdio . camarada da diáspora lusitana, vive em Rennes, Bretanha, França; ex-fur mil CCAÇ 1787 / BCAÇ 1932, Empada, Buba, Bissau, Quinhamel, 1967/68



Vasco Pires, o primeiro à esquerda, de óculos escuros, no final da comissão, em Ingoré, região do Cacheu,  1972; ex-allf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72; bairradino até à medula, é outro camarada da diáspora lusitana: vive no Brasil esde 1972



1. Mensagens de 5 do corrente  de  três queridos camaradas nossos, a propósito do tema "A bianda nossa de cada dia":



(i) Manuel Seròdio

A guerra não se fazia sem eles, e quando se regressava à "base" a seguir a uns dias de mato e às famosas rações de combate, comer um "pitéu" cozinhado nessas cozinhas de 5 estrelas era uma satisfação para as barrigas esfomeadas.

(ii) Vasco Pires

Pois ém  Luis, Esse negócio da bianda era um caso sério. Exceto alguns poucos meses de "férias" em Ingoré, passei a maior parte da comissão em Gadamael. O abastecimento era por via marítima, de dois em dois meses,  se não me falha a memória, aí quando a Lancha (LDM/LDP) não vinha, aí a memória também "patina", as coisas ficavam difíceis, apesar da improvisação do pessoal do rancho..

Em Gadamael, existiam pescadores e caçadores, contudo em quantidades insuficientes para abastecer a tropa.

Desde, logo após a minha chegada, eu e os Furrieis, fomos viver na Tabanca. Numa dessas crises, o Furriel Oliveira, cozinheiro e "gourmet, avant la lettre", montou, junto com o meu ordenança, Cabo Apontador da guarnição local, um sofisticado esquema logístico, para interceptar durante a madrugada, pescadores e caçadores, com o fim de adquirir as preciosas proteínas animais, Ter guarnição local tinha algumas vantagens.

Para manter os "canhões troando ",os operadores precisavam de proteína.

Forte abraço
Vasco Pires
Ex-soldado de Artilharia

(iii) Jorge Rosales


Luís:

Em Porto Gole, 30 homens, o problema da "bianda" estava entregue ao Furriel Victor Gregório da "556". A comida e o pão, era ele,que orientava tudo, em como bom caçador, tudo corria bem...

Na minha memória,recordo-me que uma vez o barco não entregou farinha e fermento, e aí é que foi um problema, porque faltava o casqueiro!!!

Fomos buscar ao Geba, pequenas pedras, que serviram para acompanhar o molho.

Este grupo, tinha o Alface, sargento do quadro, que com o seu "saber", safava sempre nos dias mais dificeis, Aí aprendi, ou refinei, o espirito de equipe, que resolve tudo.

sábado, 9 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14589: A bianda nossa de cada dia (3): o melhor casqueiro da zona leste, amassado e cozido em forno a lenha pelo Jacinto Cristina e pelo Manuel Sobral, no destacamento da ponte Caium... Mas nem só de pão viviam os homens do 3º Gr Comb, os "fantasmas do leste", da CCAÇ 3546 (Piche, 1972/74)


Foto nº 1 A


Footo nº 1 


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4

Foto nº 5


Foto nº 6


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Setor de Piche > CCAÇ 3546 (1972/74) > Destacamento da Ponte de Caium, guarnecido pelo 3º grupo de combate, "Os fantasmas do leste".(*)


Fotos: © Jacinto Cristina (2010). Todos  Todos os direitos reservados. [EDição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. A ponte, a padaria e o padeiro... O forno foi construído na parte inferior da ponte... Como o espaço era acanhado, tudo se aproveitava... O forno e a cozinha ficavam do lado esquerdo, no sentido Piche-Buruntuma... 

De costas, em tronco nu, vê-se o Manuel da Conceição Sobral (que vive hoje em Cercal do Alentejo, Santiago do Cacém), e era o ajudante de padeiro  (Foto nº 1). O Jacinto Cristina, o padeiro, está a enfornar (Foto nº 1A)...

No destacamento da ponte de Caium estava um grupo de combate, à época pertencente à CCAÇ 3546 (Piche, 1972/74). O Sobral e o Cristina  faziam reforço das 4 às 6 da manhã. Por volta das 5h/5h30, um deles ia amassar a farinha (12 kg / dia)... O outro ficava de reforço até às 6. Depois das seis, até às 8h/8h30, ficavam os dois a trabalhar. Às 9h já havia pão fresco... 

Todos os dias coziam. Tinham um stock de farinha que dava para um mês. Faziam uma média de 30 pães de 400 gramas, por dia. Como bons tugas, os camaradas que defendiam a ponte, adoravam pão!... O resto do dia os padeiros descansavam, ou jogavam à bola, ou brincavam no rio, quando levava água...

O Sobral era o apontador do morteiro 81 e o Cristina o municiador. Portanto, uma parelha completa! Também havia um morteiro 10,7,  ao cuidado do Pinto e do Algés. O 81 ficava do lado direito, à saída da ponte, no sentido de Buruntuma. O 10,7 ficava no lado esquerdo, junto ao paiol, também no sentido de Buruntuma... Mais à frente estava o 1º cabo Torrão, apontador da HK 21 (irá morrer em 14 de Junho de 1973). Também havia o morteiro 60 e a bazuca 8,9.

O Cristina (eu trato-o sempre por Jacinto, pai da minha querida amiga engª Cristina Silva e sogro do meu querido amigo, dr. Rui Silva) tornou-se de tal maneira imprescindível (por causa do "pão nosso de cada dia") que, além de municiador (e apontador, quando necessário) do morteiro 81, ficou na ponte de Caium 14 meses (em rigor, 13, se descontarmos o glorioso mês de férias, em abril de 1973, em que veio a casa para estar com a mulher e a filha; com ele, de férias, vieram também  o Pinto, o Charlot e o Algés; no avião da TAP, uma alegria!...Já não se lembra de quanto pagou... "Seis contos, para aí", diz-me ele).

Diziam que era o melhor casqueiro da Zona Leste... Na foto nº 2  o Jacinto está varrer e a limpar o forno... Na foto nº 3, está a fazer um petisco, ou não fosse ele um alentejano dos quatro costados... Na foto nº 4, está a barbear-se... Mesmo com o metro quadrado mais caro da Guiné, nas "suites" da Ponte Caium não faltava nada... O chuveiro era um bidão de 200 litros, furado...

Terrível foi aquele período de um mês (entre meados de maio e junho de 1973) em que o destacamento esteve sem reabastecimentos, sem farinha, sem pão... Por que a fome era negra, meteram-se a caminho de Piche, a 14 de junho de 1973, tendo sofrido uma brutal emboscada, em que morreram o 1º cabo apontador de metralhadora David Fernandes Torrão, e os soldados atiradores Carlos Alberto Graça Gonçalves ("Charlot"), Hermínio Esteves Fernandes e José Maria dos Santos... 

Disse-me o Jacinto Cristina (que ficou na ponte a tomar conta do seu morteiro 81), que os corpos foram cortados em quatro, com rajadas de Kalash... O bigrupo do PAIGC (onde foram referenciados  cubanos) levou cinco armas (incluindo a do furriel que foi projectado com o impacto do RPG7, juntamente com o sold cond auto Rocha, o Florimundo ).

Uns meses antes, em 19 de Fevereiro de 1973, tinha morrido o fur mil op esp Amândio de Morais Cardoso, na sequência da desmontagem de uma armadilha de caça. Essa cena passou-se debaixo dos olhos do Cristina que se salvou, ao pressentir o perigo.

Na foto nº 5, vê-se o tabuleiro da ponte por onde passava a estrada Piche-Buruntuma,,, A padaria ficava em segundo plano do lado esquerdo... A foto deve ter sido tirada no dia dos anos do Sobral, em março de 1973, a avaliar pelos dois cabritos que estão junto ao "burrinho" (o Unimog 411)... Tinham sido comprados na tabanca fula, que ficava a nordeste da ponte, a 3 km, e onde residiam as lavadeiras...

Soldado atirador, o Cristina era, como já dissemos, municiador do morteiro 81. Mas, uma vez que Piche ficava longe e era preciso fazer pão todos os dias,  aprendeu a arte de padeiro (que depois seria o seu ganha-pão, em Figueira de Cavaleiros, Ferreira do Alentejo, onde vive, hoje já refiormado; durante anos, teve um negócio próprio na  área da panificação; passei várias vezes pela casa e padaria, e trazia para Lisboa o seu pão feito na hora;  pude, pois, comprovar  que o seu "casqueiro" era, de facto, o melhor da região).

Como se percebe pelas fotografias, as estruturas da ponte foram aproveitadas ao milímetro...

Na foto nº 6 (s/d, tirada na  época seca, em 1973), o destacamento é visto da margem esquerda do Rio Caium, a sul da estrada, no sentido Buruntuma-Piche. Segundo o Carlos Alexandre (, de alcunha,  "Peniche"), ao  examinar melhor uma imagem destas  que lhe mandei, com maior resolução, vê que  à entrada do tabuleiro, estão dois camaradas que parecem ser o Cristina e o Sobral.

Um novo troço da estrada Piche-Buruntuma estava então em construção, a cargo da Tecnil. De Nova Lamego a Piche já se ia, há muito,  em estrada asfaltada. Daí talvez este desvio, contornando a ponte e atravessando. O desvio  é visível (parcialmente, em primeiro plano)  na foto nº 6.

Na época seca, o rio Caium ficava seco (ou reduzia-se a um pequeno charco à volta da ponte). Este rio é um afluente do Rio Coli, que fica a sul da estrada Nova Lamego-Piche-Buruntuma e serve de linha fronteiriça entre a Guiné-Bissau e a Guiné-Conacri.

2. Quem passou por aqui, entre Piche e Buruntuma, dificilmente acredita que um homem pudesse aguentar mais do que um mês, dois meses, neste Bu...rako. Recorde-se aqui a opinião, autorizada, do nosso camarada Luís Borrega (que infelizmdente, já nos deixou, em agosto de 2013, ficando vazio o  seu lugar à sombra do nosso poilão):

"Se houvesse um ranking para os maiores BURACOS da Guiné, Ponte Caium estaria certamente no TOP TEN, e provavelmente dentro dos 10, muito à cabeça (...) . O destacamento tinha que ser rendido a cada três semanas, (só em teoria), pela necessidade de géneros, mas também porque psicologicamente era o máximo de tempo que (...) podia aguentar. No entanto só éramos rendidos mês e meio ou dois meses depois. Numa das vezes estivemos 15 dias a sobreviver só com latas de atum, café e pão confeccionado sem fermento. Podem imaginar a qualidade desta panificação. Não havia mais nada no depósito de géneros. Era o meu grupo de combate que estava lá nessa altura. Foi um bocado complicado lidar com a situação, especialmente acalmar a guarnição" (...).

Houve quem vivessse e  sobrevivesse na Ponte Caium, comendo o pão que o Cristina e o Sobral amassaram e cozaram, sempre com dedicação e carinho... Mas também lembrando aos camaradas  que defendiam a ponte e aos transeuntes, que "nem só do pão vive o homem (**),,,




Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Ponte Caium > Ao lado de um memorial aos mortos do 3º Gr Comb da  CCAÇ 3546 (1972/74) ("Honra e Glória: Fur Mil Cardoso, 1º Cabo Torrão, Sold Gonçalves, Fernandes, Santos, Sold AP Dani Silva. 3º Gr Comb, Fantasmas do Leste,. Guiné- 72/74"; ainda existia em 2010, no tabuleiro da ponte esta base "Nem só de pão vive o home. Guiné, 1972-1974".


Foto: © Eduardo Campos (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.




Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Setor de Piche > Carta de Piche > Localização (assinalada a amarelo) da Ponte do Rio Caium, na estrada Piche (a sudoeste)-Buruntuma (nordeste, junto à fronteira com a Guiné-Conacri), sensivelmente a meio entre as duas localidades. O Rio Caium corre para sul, sendo um afluente do Rio Coli (que separa os dois países, num largo troco da fronteira leste).

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14584: A bianda nossa de cada dia (2): homenagem ao nosso cozinheiro Manuel, hoje empresário de restauração (Abílio Duarte, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Nova Lamego, Paunca, 1969/1970)

1. Mensagem do Abílio Duarte [, ex-fur mil,CART 11, Nova Lamego, Paunca, 1969/1970,]

Data: 5 de maio de 2015 às 14:39

Assunto: A bianda nossa de cada dia...

Luís, é verdade o que afirmas (*). A minha CART 11, esteve muito tempo sem instalações próprias. Só quando chegamos a Nova Lamego, é que nos deram um quartel, chamado o Quartel de Baixo, junto á Administração do Concelho. Foi quando o nosso cozinheiro Manuel ficou responsável, pela messe e refeitório que era só para brancos, pois os fulas iam comer á tabanca.

No entanto não quero deixar de recordar os tempos que passei em Pirada e Quenquelifá, onde permaneci por vários períodos, a qualidade da alimentação, e em especial o pão, que era feito naquelas unidades, de grande qualidade.

Assim o meu bem haja para todos aqueles, que apesar de não saírem do arame farpado e das valas, lutavam para nos darem algum conforto, quando regressavámos do mato.

PS - militar, a quem me referia, o Manuel cozinheiro, está na foto anexa, de camisa com um copo de tinto na mão. Pessoa que muito estimo ao longo destes anos, que tem convivido connosco nos nossos, almoços, e que se tornou industrial de Restauração.

A malta da CART 11 , sabe quem é. Mais uma vez , agradeço a existência deste blogue, para poder,os recordar o nosso passado.


Nelas > Canas de Senhorim > 31 de maio de 2014 > 24º convívio da CART 2479 / CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/71) > Nesta foto, à esquerda, o nosso Chef Michelin 5 Estrelas, o nosso ex-cozinheiro Manuel, hoje empresário de restauração: ao centro o Leonel cripto, e um condutor, de quem agora não recordo, o nome pelo que peço as minhas desculpas.
Foto (e legenda): © Abílio Duarte  (2014). Todos os direitos reservados.
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