Mostrar mensagens com a etiqueta destacamentos. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta destacamentos. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 4 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25337: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (37): HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: Ataques ao Quartel do Olossato e Nhacra



"A MINHA IDA À GUERRA"

João Moreira


ATAQUES AO QUARTEL DO OLOSSATO

1970/MAIO/12 ÀS 19h05
Duração: 15 minutos
Armas usadas:
- Morteiro 82
- Canhão sem recuo
Local do ataque: Missirá e Fajonquito
Consequências:
1 mulher ferida. Morreu em consequência dos ferimentos.
OBS: - Eu estava de Sargento de Dia.


1970/AGOSTO/23 ÀS 17h00
Duração: 10 minutos
Armas usadas: Morteiro 82
Consequências:
- 1 ferido grave da população
- 1 ferido ligeiro da povoação
Tivemos o apoio de 2 FIATS
OBS: - Estava de férias na Metrópole


1970/OUTUBRO/28 ÀS 18h55
Armas usadas: - Morteiro 82
Local do ataque: Zona do Fajonquito?
Não teve consequências
OBS: - Estava no destacamento do Maqué


1970/DEZEMBRO/30 ÀS 20h00
Armas usadas: 4 foguetões de 122 mm
Local do ataque: Veio da direcção do Fajonquito? - Talvez Manaca ou Iarom
Sem consequências: 3 foguetões caíram antes da pista e o 4.º foguetão caiu além da tabanca
OBS:
- Estava no destacamento do Maqué
- Enganaram-se por um dia, a passagem de ano seria na noite seguinte.


1971/ABRIL/07 ÀS 20h00
Armas usadas:
- Morteiro 82
- Canhão sem recuo
- RPG - Lança granadas foguete
Força atacante: bigrupo com cerca de 45 elementos
Local do ataque: Missirá
OBS:
- Estava de Oficial de Dia por falta do alferes.
- Comandei o meu Grupo de Combate durante vários meses.


1971/MAIO/07 ÀS 17h00
(Hora do jogo de futebol)
Armas usadas: morteiro 82 (5 granadas)
Força atacante: 15 elementos, mais ou menos
Local do ataque: Cansambo
Sem consequências: As granadas não chegaram ao quartel.
OBS: - Não estava no quartel, tinha saído em patrulhamento.


ATAQUE AO QUARTEL DE NHACRA

1971/JUNHO/09 ÀS 20h00
Local do ataque: Estrada de Nhacra para Cumeré.
Armas usadas:
- Armas ligeiras
- LGF
- Morteiro
Sem consequências

(continua)

_______________

Nota do editor

Último poste da série de 28 DE MARÇO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25313: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (36): HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: Capítulo III - Baixas sofridas, Punições, Louvores e Condecorações - Agosto de 1971 a Fevereiro de 1972

quinta-feira, 11 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21067: Álbum fotográfico de José Carvalho (1): A CCAÇ 2753 (1970/72) e os Destacamentos Provisórios

1. Mensagem do nosso camarada José Carvalho, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2753 (Brá, Bironque, Madina Fula, Saliquinhedim e Mansabá, 1970/72), com data de 1 de Junho de 2020:

Caros Editores,
Cumprindo a intenção manifestada, quando da minha inscrição na TG,[1] de enviar umas fotografias, aqui vai uma resumida descrição da vida da CCAÇ 2753, nos Destacamentos Provisórios, de apoio à construção da estrada Mansabá – Farim, acompanhada de fotografias.
É quase um atrevimento descrever o que no seu notável estilo de escrita, já foi abordado pelo nosso amigo Vítor Junqueira, mas deixo a quem de direito, decidir da sua divulgação.
Ao Carlos Vinhal, que conheceu estes cenários, as minhas saudações e agradecimento também pelo trabalho desenvolvido, na sua envolvência da Tabanca Grande.

Ao vosso dispor, para todos um abraço do,
José Carvalho


A CCAÇ 2753 (1970-1972) e os Destacamentos Provisórios

A CCAÇ 2753 formada no BI 17, Angra do Heroísmo, constituída maioritariamente por açorianos, com representantes da totalidade das Ilhas, partiu em Maio de 1970, para Lisboa.

Sediada no Regimento de Infantaria 1 - Amadora, em 25 de Maio, onde acontece a concentração de todo efectivo inicial da Companhia. Fazendo parte daquela unidade, foi incorporada nos seus efectivos, nas cerimónias do 10 de Junho, no Terreiro do Paço.

A 15 de Junho inicia-se o IAO, na zona de Caneças, alcançando um grupo da companhia, folgadamente o primeiro lugar no campeonato de tiro de combate, da escola de recrutas de 1970, da Região Militar de Lisboa.

No final de Junho a companhia fica a aguardar embarque, na 9.ª Bateria do 3.º Grupo Misto da RAAF no Pragal, o que aconteceu no dia 8 de Agosto, a bordo do N/T Carvalho Araújo.

A companhia chega a Bissau a 17 de Agosto, depois de uma agradável escala em Cabo Verde.

Os primeiros dois dias a ração de combate e dormidas em camas metálicas sem colchões. A recepção foi fraca, mas longe se adivinhava, o que viria mais tarde…

Colocada depois no COMBIS, com excelentes instalações, foi dada à companhia a missão de patrulhamento terrestre, fluvial e ainda rusgas de modo a evitar infiltrações do IN na Ilha de Bissau.

Depois de cerca de três meses de bonança, adivinhava-se a tormenta…

No dia 30 de Novembro um primeiro pelotão da Companhia, deixa a região de Bissau e conhece uma nova realidade, chegando ao Bironque, o primeiro dos dois Destacamentos que iríamos conhecer.[2]

A 7 de Dezembro, o Comandante da Companhia, Cap Mil Art João da Rocha Cupido, assume o comando daquele Destacamento Temporário, que em meados de Dezembro, aloja os operacionais da CCAÇ 2753 e ainda alguns elementos sapadores - BCAÇ 2885 e dum ESQ MORT 81, após a retirada da CCAÇ 17.

Estrada Mansabá-Farim - O troço entre o Bironque e o K3 foi asfaltado no tempo da CART 2732 e da CCAÇ 2753. Localização dos destacamentos de Bironque e Madina Fula e, na margem esquerda do rio de Farim (Cacheu), em frente a Farim, o aquartelamento do K3 (Saliquinhedim)
© Infografia Luís Graça & Camaradas da Guiné - Carta da Província da Guiné, 1:500.000

Os efectivos militares presentes, tinham como missão, montar a segurança dos trabalhadores (centenas) e as máquinas envolvidos na construção da nova estrada Mansabá – Farim.

A reabertura desta rodovia, constituía um importante óbice à movimentação estratégica do IN na área do Morés, aonde concentrou um importante contingente de combatentes, calculado na época, em 4 a 6 bigrupos e ainda outros efectivos representativos nas áreas de Canjaja, Biribão, Queré e Maqué.

Foto 1 - Bironque - A “enfermaria”, algumas tendas, uma máquina no abrigo e uma das barracas cobertas por vegetação

Foto 2 - Bironque – Espaldão do morteiro 81 e tenda

Foto 3 - Bironque – Telheiro cozinha e os bidões das lavagens

Foto 4 - Bironque – Messe de oficiais depois de uma flagelação, em que o fogareiro a petróleo, do Alf Mil Junqueira, que no momento cozinhava uma galinha “turra”, explodiu.

Decorrido cerca de mês e meio, o Destacamento do Bironque, foi abandonado e os efectivos militares, ocuparam o novo destacamento de Madina Fula, situado a cerca de 5 Km a norte.

O segundo local nada de novo ou de mais confortável proporcionou, pois o modelo era o mesmo, com a agravante de ser mais afastado de Mansabá e por consequência pior nas situações de necessidade de auxílio.

Estes destacamentos tinham uma área de cerca de um hectare, de forma quadrilátera, localizados em zona pré-desmatada, contíguos à nova via e delimitados por barreiras de terra deslocada e acumulada na periferia. Esta terra era retirada de vários pontos do interior, resultante da abertura de valas de grandes dimensões, destinados a proporcionar estacionamentos/abrigo às máquinas pesadas, envolvidas na construção da estrada.

As barreiras tinham uma altura de dois a três metros e a sua crista teria cerca de dois metros de largura, onde eram escavados covas para protecção das tropas, postos de sentinela e colocação de armas pesadas. Nesta crista, estavam também colocados vários holofotes, que permitiam iluminar as imediações do destacamento, numa distância de cerca de 50 metros.

No interior deste espaço, além dos referidos buracos destinados às máquinas, situados na zona central, a periferia era segmentada por barreiras de terra com cerca de 1,5 m de altura, com área reduzida, onde eram colocadas, as tendas cónicas de lona com capacidade de alojamento para vários homens e um número apreciável de pequenas barracas feitas de ramos e folhagem de árvores.

Existia um gerador, que fornecia energia para a iluminação periférica, para um telheiro apelidado de cozinha, para uma roulotte “enfermaria” e mais uma dezena de lâmpadas espalhadas, entre as quais para as “messes” dos sargentos e oficiais.

Havia um espaldão para o morteiro 81, sendo as munições colocadas em bidões colocados na horizontal e cobertos de terra.

Na entrada do destacamento havia uns cavalos de frisa, não havendo qualquer vedação de arame farpado. Recordo-me que em alguns locais, foram colocadas armadilhas, em que caíram alguns animais selvagens. O abastecimento de água era feito diariamente a partir de Mansabá em pequenos atrelados-cisternas destinado à precária higiene das tropas, reduzida confecção de alimentos, lavagem de roupa, panelas, pratos, etc. Havia uns bidões colocados em cima de uma armação de paus e que debitavam uns borrifos, para o duche!

A lavagem dos utensílios de cozinha era feita segundo as mais exigentes normas de higiene. Existiam cinco meios bidões, com água, numerados de 1 a 5, começando a imersão das louças sujas no bidão 1 e depois sucessivamente nos restantes até sair do bidão 5, em perfeitas condições de adequada utilização…

Cada militar dispunha de um colchão pneumático, com esvaziamento automático ao fim de poucas horas. Muitos dormiam nos buracos, na crista das barreiras, envoltos em panos de tenda e com a G3, colada ao corpo.

A alimentação disponibilizada era ração de combate, intervalada, com cavala de conserva com batata cozida ou esparguete, dia sim, dia sim! Havia quem descobrisse umas iguarias selvagens e variasse um pouco a dieta. No tocante a líquidos menos mau… coca-cola, cerveja, vinho, whisky!

Vivíamos sempre em coabitação com um pó vermelho, principalmente durante o período de trabalho na estrada, que até o esparguete no prato, ficava enriquecido com este “ketchup”, se não deglutido rapidamente.

Em relação às condições de vida da CCAÇ 2753 durante estes três meses, talvez houvesse igual, até talvez pior, mas para muito mau bastava!

O relacionamento com o IN era verdadeiramente íntimo, pois raro terá sido o dia ou noite que por flagelações, emboscadas, minas, não houvesse “festa”.

Foto 5 - Madina Fula

Foto 6 - Madina Fula ao fim de um dia de trabalhos, coluna dos trabalhadores regressando a Mansabá, com segurança de helicóptero (ponto minúsculo no horizonte)

Foto 7 - Um felídeo, que tropeçou numa das armadilhas NT, nas imediações do destacamento

Foto 8 - Trabalhos na abertura da estrada

Foto 9 - Damas… só as do tabuleiro de jogos improvisado numa barrica pintada. Eu e o Vítor Junqueira no Bironque, dias antes do Natal de 1970

No início de Março deixámos Madina Fula, que foi aterrado e substituímos a 27.ª Companhia de Comandos, nas instalações “muitas estrelas” do K3, que até eram visíveis do interior das casernas… mas mesmo assim foi um dia inesquecível, julgo que para toda a companhia.
____________

Notas do editor

[1] - Vd. poste de 25 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20900: Tabanca Grande (493): José Carvalho, natural do Bombarral, com amigos na Lourinhã, ex-alf mil inf, CCAÇ 2753, "Os Barões do K3" (Bissau, Bironque, Madina Fula, Saliquinhedim / K3 e Mansába, 1970/72): senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar n.º 807

[2] - Vd. poste de 10 DE ABRIL DE 2009 > Guiné 63/74 - P4168: Os Bu...rakos em que vivemos (4): Acampamentos de apoio à construção da estrada Mansabá/Farim (César Dias)

domingo, 25 de setembro de 2011

Guiné 63/74 - P8819: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (44): Destacamento de Mato Dingal, umas instalações seguras

1. Mensagem do nosso camarada Luís Faria (ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72), com data de 21 de Setembro de 2011 com mais uma viagem à volta das suas memórias:

Olá Vinhal, um abraço
“Viagem à volta das minhas memórias” transporta-me destas vez a tempos vividos com certa tranquilidade e facilidade, em que e talvez por esse facto, a grande parte das lembranças que retenho são “flashes” intermitentes e sem sequência, não me permitindo com o mínimo de rigor situá-los em tempo e espaço ou enquadrá-los numa acção.
Talvez a 24 deste mês aquando da nossa reunião anual, surja alguma luz.

Um abraço a todos
Luís Faria

Viagem à volta das minhas memórias (44)

Destacamentos: Mato Dingal

Enquanto a passagem dos dias ia avançando morosamente, aproximando-me da partida para um mesito de descanso no “Puto”, recebo ordem para substituir em Mato Dingal o Alf Mil Gaspar que, creio foi de férias. Este era o primeiro destacamento que se encontrava na estrada asfaltada Bula – João Landim e onde estava estacionado o 4.º GCOMB.

Pequeno, aberto e simpático, confinava praticamente com o asfalto e se bem me recordo, atravessando-o entrava-se na tabanca habitada por uma população que rondaria as mil e duzentas almas, ao que lembro ordeira, fiel e prazenteira, talvez a que nos inspirava menos desconfiança.

Mato Dingal – neste buraco julgo que iria ser instalada a base do monumento

Aviso de “instalações seguras”

Se em Augusto Barros a vida não era má, por estas bandas era bem melhor. Eram tempos descansados, sem sobressaltos de especial e a proximidade e facilidade de chegar a Bula parecia-me fazer o tempo acelerar um pouco. Idas a Augusto Barros seriam as indispensáveis para abastecimento de géneros e poucas mais.

Não houve qualquer dificuldade em assumir de novo e temporariamente o comando do pessoal daquele destacamento. Rapaziada e eu conhecíamo-nos bem e entrosávamo-nos melhor! Daí tudo sair facilitado e não haver incidentes ou questiúnculas e a disciplina e segurança necessárias eram, digamos assim, adaptadas automaticamente.

Bons dias por lá passei e em boas companhias.

Exercer e promover a “psícola” era mais para os Furriéis Fontinha e Chaves (Obelix). Ao que recordo a tabanca era deles?! Nesse aspecto e pela minha parte como responsável pelo destacamento, resguardava-me um tanto, não me fragilizando para o caso de ter de exercer a autoridade que detinha, num qualquer diferendo que houvesse com a População. Que lembre só tive um, por causa de um leitão. Deu-me até umas dores de cabeça com o Comando, Coronel “dez para o meio-dia” que quase ficou com a cabeça no “meio-dia certo”, de tanto barafustar comigo.

Por aquelas bandas tive a oportunidade der usufruir de experiencias novas, talvez até inovadoras, de que recordo três:


A “Vagomestria”

Já não sei se inerente ao cargo se por moto próprio, assumir a função de Vagomestre foi uma delas, interessante e motivadora, que ainda hoje nos encontros é por vezes evocada com bocas “foleiras” e risos do tipo: - “Oh Faria… até ao dia vinte tirava-se a barriga de misérias, mas depois… era só “bianda” com “bianda”…! (claro que o vernáculo vem a seguir). “Perdoai-lhes deus (menor) pois não sabem o que dizem”!!!

Na verdade foi mais ou menos assim naqueles um ou dois meses (já não posso precisar) que por lá passei. Comia-se bastante bem em variedade, quantidade e qualidade, esta devida ao Cozinheiro que era espectacular. Só nos últimos dias do mês, com o “patacão “ dos frescos tão esgotado que nem dava para o meu maço de tabaco, contratualizado comigo mesmo, é que se comia “à quartel” !? (modo de dizer, sem ofensas nem juízos de valor).

Pois…, logo de início avisei o pessoal que se ia comer à maneira e que aquela trabalheira toda teria que dar para um maço de tabaco (Português Suave sem filtro) diário.

Já não estou certo se o “desvio”aconteceu ou não …talvez sim (?!) mas o que é facto e ao que sei, comia-se quase como num hotel, chegando a vir por vezes pessoal de outro destacamento ( João Landim) e até de Bula, saborear o repasto, à borla é claro.

Tenho ideia de fazerem parte da ementa o bacalhau com todos (inclusive meia lata de vagens para cada um) , leitão assado no forno; frango assado ou frito (meio para cada), bife com ovo, peixe frito e cozido… de sobremesas recordo as meias latas de fruta em calda para cada boca… acompanhamento de saladas …

Todos esses “pesos” que recebíamos para gerir em “frescos”, eram gastos em abastecimentos na tabanca, em Bula e Bissau. Julgo que seria normal, esperado e até incentivado, que boa parte deles fosse também utilizado em abastecimentos na Companhia. Claro que isso seria mais prático, mais cómodo e daria menos dor de cabeça ou trabalho. Mas connosco, não acontecia!

Quem não achava muita piada era o nosso Primeiro, já que era eu e só eu que escolhia o que queria dos produtos disponíveis da Companhia e não abdicava nem de um “peso” da dotação para o que se chamava “frescos”. Olhado de “ladegos” quando lá ia, era um “exemplo a não seguir”.


A minha “Obra prima”

Descobrir a “propensão“ para as “Artes plásticas” (?!), foi outra experiencia de excepção que me entusiasmou e que resolvi exercer em benefício estético visual das instalações (?!), do equilíbrio emocional (?!) e em prol da “coltura” um tanto ausente (?!)!

Correndo o risco de acabar por ser vaiado ou mesmo escorraçado por “elites” cépticas, tinha que meter cabeça e mãos ao trabalho.

Desde logo foi imperioso um pouco de tranquilidade e paz de espírito, que permitiu à sensibilidade criativa (?!) “atonar ”. Depois não foi fácil escolher e conseguir os materiais necessários à execução que se adaptassem e permitissem a livre expressão da Alma, convertida ao momento pelas mãos e perspectiva visual!?!

Tempo depois e muita concentração, uma obra que recordo acaba por ver a luz do dia. Prima para mim, nela usei toda a sensibilidade a par de muito e delicado manuseamento, compensado é certo pelo deleite que se usufruía consoante se ia mirando e sentindo. Era para mim, realmente prima !?! Prima de primeira, é bom não haver confusões. Nada de “Quanto mais prima, mais se lhe arrima!”

Como à altura não a queimaram nem houve críticos quezilentos ou desfavoráveis, quiçá por receio de represálias, por lá ficou em todo o seu esplendor à entrada da messe, ofertada e ao serviço da “coltura”, digo eu!? Resta-me a imagem que vou postar, para eventual deleite de quem a vier a mirar e sentir! É de nota o posicionamento do confortável “sofá”, de molde a melhor permitir que o apreciador se deixasse levar pelo sonho.



Obra Prima - “Procópio a cachimbar na canícula” (será o nome?)

Bem, mas nem só nas artes (Culinária e Plástica) se viveram novas experiencias, também no Desporto aconteceu, de modo efémero, é certo.


O jogo de “cacimbados”

À falta de “matrecos” e bilhar, só a bola constava no cardápio do desporto. Assim, uma “mente brilhante” gastou-se – depois deve ter-se agastado (não lembro) – na invenção de um jogo que permitisse campeonatos rápidos e musculados e ao mesmo tempo direccionado ao apaziguamento subtil da acção de quaisquer vapores etílicos acumulados anteriormente. Assim nasceu um jogo, viril e nada entediante, uma espécie caseira de “Air hóquei” (se bem lhe chamo), em que os instrumentos do jogo eram a mesa da messe, uma lata de coca – cola, os punhos dos adversários.

Com em todos os jogos, o objectivo era… ganhar. Creio que o tempo de jogo era definido (e pouco) e quem perdia (talvez uma cervejola) era o “atleta que sofresse mais golos ou desistisse antes de acabado o tempo. Assim podia acontecer que quem marcasse mais golos… perdesse. A coisa estava bem engendrada e como se poderá perceber, até final do tempo a vitória era uma incógnita, já que a resistência física e psicológica era crucial ao desempenho.

Assim, nos topos da mesa da messe (distanciados talvez uns dois metros passantes) abancavam os dois adversários e para os espectadores, caso houvesse, não havia lugares sentados! Tirada a sorte para ver quem abria a jogatana, uma lata de “Coca-Cola” cheia era-lhe colocada à frente e com uma murraça o jogador tentava que a “bola” saísse pelo topo da mesa contrário, onde também a murro (só eram permitidos murros) o adversário tentava defender, mandando-a de volta para o outro, agora a defender e assim sucessivamente até surgir o golo. Posta a “bola” de novo em campo, o flagelo continuava.

Como se compreenderá, os nós dos dedos é que sofriam ao aguentar o impacto da massa aumentada pela velocidade que a “bola“ atingia …enfim! Como pelos vistos não havia suficientes cacimbados masoquistas, este potencial belíssimo campeonato foi na verdade efémero.

Luís Faria

(Texto e Fotos: Luís Faria)
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 12 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8546: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (43): Augusto Barros - Apontamentos

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P7033: Álbum fotográfico de Jacinto Cristina, o padeiro da Ponte Caium, 3º Gr Comb da CCAÇ 3546, 1972/74 (1): O melhor pão da zona leste...


O Jacinto Cristina: foto da época em que esteve na Ponte de Caium, 3º Gr Comb da CCAÇ 3546 (Piche e Caium, 1972/74)... O 1º ano foi passado em Piche e o resto do tempo em Caium


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (1972/74) > Destacamento da Ponte de Caium > A padaria e o padeiro... O forno foi construído na parte inferior da ponte... Como o espaço era pouco, tudo se aproveitava... O forno (e a cozinha) ficava do lado esquerdo, no sentido Piche-Buruntuma...  De costas, em tronco nu, vê-se o Manuel da Conceição Sobral (que vive hoje em Cercal do Alentejo, Santiago do Cacém). Os dois faziam reforço das 4 às 6. Por volta das 5h/5h30, um deles ia amassar a farinha (12 kg /dia)... O outro ficava de reforço até às 6. Depois das seis, até às 8h/8h30, ficavam os dois a trabalhar. Às 9h já havia pão fresco... Todos os dias coziam. Tinham um stock de farinha que dava para um mês. Faziam uma média de 30 pães de 400 gramas, por dia. O resto do dia descansava. O Sobral era o apontador do morteiro 81  e o Jacinto o municiador. Também havia um morteiro 10,7,. ao cuidado do Pinto e do Algés. O 81 ficava do lado direito, à saída da ponte, no sentido de Buruntuma. O 10,7 ficava no lado esquerdo, junto ao paiol, também no sentido de Buruntuma... Mais à frente estava o 1º Cabo Torrão, apontador da HK 21 (irá morrer em 14 de Junho de 1973).  também havia o morteiro 60 e a bazuca.



O Jacinto tornou-se de tal maneira imprescindível (por causa do "pão nosso de cada dia") que, além de municiador (e apontador, quando necessário) do morteiro 81, ficou na ponte de Caium 14 meses (13, se descontarmos o mês de férias, em Abril de 1973,  em que veio a casa para estar com a mulher e a filha)... "Vieram de férias o Jacinto, o Pinto, o Charlot e o Algés... No avião da TAP... Já não se lembro de quanto pagou... Seis contos, para aí, diz-me ele".


Diziam que era o melhor pão da Zona Leste... Aqui o Jacinto está varrer e a limpar o forno... Fatal foi aquele terrível período de um mês (entre meados de Maio e Junho de 1973) em que o destacamento esteve sem reabastecimentos, sem farinha, sem pão... Meteram-se a caminho de Piche, a 14 de Junho de 1973, tendo sofrido uma brutal emboscada, em que morreram os camaradas: 1º Cabo Ap. Metralhadora David Fernandes Torrão, Sold At Carlos Alberto Graça Gonçalves (Charlot), Sold At Hermínio Esteves Fernandes e Sold At José Maria dos Santos... Disse-me o Jacinto (que ficou na ponte a tomar conta do seu 81), que os corpos foram cortados em quatro, com rajadas de Kalash... e o PAIGC levaram cinco armas (incluindo a do Furriel Mil , que foi projectado com o impacto do RPG7, juntamente com o Sold Cond Auto Rocha).

Uns meses antes, em 19 de Fevereiro de 1973,  tinha morrido o Fur Mil Op Esp Amândio de Morais Cardoso, na sequência da desmonmtagem de uma armadilha de caça.  Essa cena passou-se debaixo dos olhos do Jacinto que se salvou, ao pressentir o perigo.


Destacamento da Ponte Caium > O Sabino na cozinha a preparar um petisco... 

Destacamento da Ponte > Os aposentos... As camas eram em beliche, como se pode ver na foto... Este abrigo era o mais pequeno: tinha quatro camas, era o mais pequeno... Ao aldo era o depósito de géneros (que roubou espaço ao abrigo). Aqui o Jacinto, com o Pinto, o apontador do 10.7... Havia quatro abrigos, dois em cada lado,  os outros eram todos maiores (6 / 8 camas). Os abrigos eram ladeados por fiadas de bidões cheios de terra.



Destacamento da Ponte  Caium > Um aspecto dos pilares da ponte... O Cristina,  mais um camarada,  na hora do recreio (ele não se recorde do nome)... Ali no rio Caium, naquela improvisada jangada, poderiam dar largas à sua imaginação de marinheiros e aventureiros... Na época seca, o rio levava pouca água... Era um afluente do Rio Coli. O abastecimento de água era feito mais longe, de Unimog, com segurança


Destacamento da Ponte Caium >  Mesmo com o metro quadrado mais caro da Guiné, nas "suites" não faltava nada... O chuveiro era um bidão de 200 litros, furado...


Destacamento da Ponte Caium > O tabuleiro superior, com duas fiadas de abrigos (2 de cada lado), feitos com bidões cheios de areias, troncos de palmeira, cimento e chapa de zinco, desenhadas para alojar 30 homens... Na foto, o Cristina , de reforço, de manhãzinha... Este posto fica no início da ponte, no sentido Piche-Buruntuma... E acreditem que pelo meio passavam (passaram) centenas e centenas de viaturas, militares e civis, além de chaimites e obuses...  


Guiné > Zona Leste >  Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (1972/74) > Destacamento da ponte sobre o Rio Caium, onde o Jacinto Cristina esteve mais de metade da sua comissão (cerca de 14 meses)... Na foto, a padaria ficava em segundo plano do lado esquerdo... Deve ter sido tirada no dia dos anos do Sobral, em Março de 1973, a avaliar pelos dois cabritos (comprados na tabanca fula, que ficava a nordeste da ponte, a 3 km, e onde residiam as lavadeiras)... Quem passou por aqui, entre Piche e Buruntuma,  dificilmente acredita que um homem pudesse aguentar mais do que um mês, dois meses, neste Bu...rako. Soldado atirador, o Jacinto ficou municiador do morteiro 81 e como era preciso fazer pão todos os dias, aprendeu a arte de padeiro (que depois seria  o seu ganha-pão, em  Ferreira do Alentejo,  onde vive). Como se percebe pelas fotografias, as estruturas da ponte foram aproveitadas ao milímetro...

Fotos: © Jacinto Cristina (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados

1. O Jacinto Cristina, alentejano, industrial de panificação (termo mais pomposo do que padeira, trabalhador por conta própria), em Figueira de Cavaleiros, Ferreira do Alentejo, começa por ser meu amigo, embora de há coisa de um ano... Vim a descobrir que entretanto foi nosso camarada, tendo pertencido à CCAÇ 3546 (Piche e Caium, 1972/74). Sou amigo, de longa data, da sua filha Cristina (que é engenheira) e do genro, Rui Silva (que é médico), vivendo o casal na Madeira.

Numa das últimas visitas que fiz à família, em Ferreira do Alentejo (onde o jacinto vive, com a esposa), o nosso camarada emprestou-me um dos seus preciosos álbuns fotográficos, onde tem o essencial do registo da sua passagem pelo leste da Guiné. Fiz uma selecção de fotos e digitalizei-as. Amanhã vou devolver-lhe o álbum (e trazer um dos seus deliciosos pães). A caminho de Serpa, vou lá jantar com ele, a esposa, a neta (a "nossa princesa"), a Cristina e o Rui (casal que, além do mais, nunca perde uma meia-maratona, desta vez  a
11ª Meia Maratona do  Centenário, que parte da Ponte Vasco da Gama). 

Levo comigo duas fotos do monumento construído na Ponte de Caium, já depois do regresso do Jacinto, e na base do qual se pode ler: "Nem só de pão vive o homem"... As fotos foram tiradas em Abril de 2010 pelo Eduardo Campos (**) que fez questão de mas entregar, em Monte Real, em 26 de Junho passado, para as fazer chegar às mãos do Jacinto que ele não conhece, a não ser do blogue... Um gesto de grande camaradagem que me sensibilizou muito e que vai emocionar o Jacinto.

Entretanto aqui fica o primeiro poste da série Álbum fotográfico de Jacinto Cristina... Vou pedir ao Jacinto que me ajude a "legendar" as fotos dos restantes três postes que vou publicar este fim de semana...


[Fotos digitalizadas, editadas  e legendadas por L.G.]
_______________

Notas de L.G.:

(*) Vd. postes anteriores:


segunda-feira, 27 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4252: Os Bu...rakos em que vivemos (7): Destacamento de Rio Caium (Luís Borrega)

1. Mensagem de Luís Borrega, ex-Fur Mil Cav MA da CCAV 2749/BCAV 2922, Piche, 1970/72, com data de 22 de Abril de 2009:

Caríssimos LG,VB e CV
Aí vai alguns considerandos sobre a Ponte Caium
Alfa Bravo
Luís Borrega


Destacamento da ponte de Rio Caium visto da margem direita do Rio Caium

DESTACAMENTO DE RIO CAIUM

UM BU... RAKÃO


Na perspectiva do Gen Almeida Bruno, Colónia Balnear de Férias para os “BANDOS ARMADOS” da CCav2749/BCav 2922 (PICHE 1970/1972)

Se houvesse um ranking para os maiores BURACOS da Guiné, Ponte Caium estaria certamente no TOP TEN, e provavelmente dentro dos 10, muito à cabeça.

O Destacamento de Ponte Caium, em conjunto com o Destacamento de Cambor (na estrada Piche-Canquelifá) pertenciam à CCav 2749.

Ponte Caium tinha que ser rendido a cada três semanas, (só em teoria), pela necessidade de géneros, mas também porque psicologicamente era o máximo de tempo que o Destacamento podia aguentar.

No entanto só éramos rendidos mês e meio ou dois meses depois. Numa das vezes estivemos 15 dias a sobreviver só com latas de atum, café e pão confeccionado sem fermento. Podem imaginar a qualidade desta panificação. Não havia mais nada no depósito de géneros. Era o meu grupo de combate que estava lá nessa altura. Foi um bocado complicado lidar com a situação, especialmente acalmar a guarnição.

Para o comandante do BCav 2922 (Ten Cor Raúl Augusto Paixão Ribeiro), não era prioritário ir reabastecer-nos. Tivemos de esperar pela coluna de reabastecimento a Buruntuma, para recebermos os géneros necessários à manutenção do Destacamento.

E como era o Destacamento da Ponte de Rio Caium?

Era uma ponte estreita em pedra e cimento com 59 metros de comprimento sobre o Rio Caium, na estrada Piche – Buruntuma. Estava situada a 17,5 km de Piche, a 3,5 Km do Destacamento de Camajabá (pertença da CCav 2747 sediada em Buruntuma) e a l8,5 Kms de Buruntuma.

O aquartelamento estava instalado no tabuleiro da ponte. Dois abrigos à entrada e dois abrigos à saída. Estes eram feitos de bidões de gasóleo de 200 litros, cheios de terra, uns em cima dos outros, cobertos com troncos e cimento por cima. Ao meio do tabuleiro a cozinha, o depósito de géneros e o refeitório. Eram uns barracos, cujo telhado eram chapas de zinco. Havia ainda um nicho com uma santa e do lado esquerdo (sentido Buruntuma) estava o forno.

Como armamento pesado tínhamos um Canhão S/recuo montado num jeep e um morteiro 81 mm num espaldão apropriado. O restante do armamento era HK21 e RPG 7 apreendidos ao IN

Dilagramas, morteiro de 60 mm e G3 distribuídas pelo Grupo de Combate.

Para nos reabastecermos de água (para beber, cozinha e banhos) tínhamos que nos deslocar a 2 km do aquartelamento, a um poço cavado no chão, com um Unimog a rebocar um atrelado carregado com barris de vinho (50 litros) vazios, que eram cheios com latas de dobrada liofilizada, adaptadas para o efeito.

Como era de difícil solução a localização de um heliporto, foi decidido superiormente, manter sobre a estrada, uma superfície regada com óleo queimado, para a aterragem de helicópteros.

Como se pode imaginar, nas horas de lazer o tempo era preenchido a jogar cartas, ler, escrever à família. Quase todos os dias tínhamos saída à agua, patrulhamento às áreas em redor, etc.

Os dias e as noites eram passados nos limites do espaço, do tempo, na expectativa dum ataque – e quando este começasse, já estaríamos cercados por todos os lados, porque ali não havia milícias, nem tabanca, nem pista de aviação ou possibilidade de retirada (só saltando o parapeito da ponte e atirarmo-nos ao rio uns bons metros mais abaixo).

A desvantagem da área diminuta tinha contrapartidas benéficas: era mais difícil ao PAIGC acertar com os morteiros e a nossa artilharia tinha mais à vontade nos tiros de retaliação, nos limites do alcance das peças de 11,4 instaladas em Piche.

Se o General Almeida Bruno tivesse sobrevoado o Destacamento a bordo dum Alloette ou numa DO 27, certamente teria pensado que ali estaria alojada a “Colónia Balnear de Férias” do BCav 2922 para premiar os seus “Bandos Armados”.

Ali tínhamos praia fluvial (não era aconselhável ir a banhos por causa dos Crocs), caça grossa (aos Crocodilos e a outras espécies cinegéticas)e pesca.

Pensaria de certeza que a boa vida que levava em Bissau, na messe de oficiais e também no Palácio do Governador (onde deve ter almoçado e jantado bastantes vezes) era inferior à vida que os “BANDOS ARMADOS” levavam na sua Colónia Balnear de Ponte Caium (cercada do tão falado arame farpado).

No dia 27 de Junho de 1971, pelas 22,00 h, um grupo IN estimado em 30 elementos, flagelou o Destacamento com morteiros 61 mm, RPG 2 e RPG 7 e com armas automáticas ligeiras (Kalash e PPSH vulgo costureirinhas) causando um ferido às NT. A rápida e certeira retaliação obrigou o IN a retirar deixando rastos de sangue, indicando terem tido baixas.

Nesse ataque, apesar de ter um vasto palmarés de ataques e emboscadas, não estava presente junto do meu Grupo de Combate (3.º GC/CCav 2749), não me lembro concretamente do motivo, mas pela data só poderia ter ido render algum graduado por motivo de férias no Destacamento de Cambor (situado na estrada Piche-Canquelifá) ou estar envolvido nalguma operação de minagem nas margens do Rio Corubal em conjunto com os sapadores da CCS/BCav.

Caros Camarigos LG, CV e VB

Espero que o Corpinho esteja Jametum.

Em resposta à solicitação do Luís Graça, para falarmos dos BU… RACOS da Guiné estou a enviar uma estória acerca de um desses Bu… racos.

Espero que informaticamente façam o tratamento adequado.

Manga di Saúde
Alfa Bravo
Luís Borrega
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 19 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4215: O mundo é pequeno e o nosso blogue... é grande (7): Luís Borrega, visitante um milhão (Luís Borrega)

Vd. último poste da série de 19 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4211: Os Bu...rakos em que vivemos (6): Banjara, CART 1690 (Parte II): Lugar de morte (A. Marques Lopes / Alfredo Reis)

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4168: Os Bu...rakos em que vivemos (4): Acampamentos de apoio à construção da estrada Mansabá/Farim (César Dias)

1. Mensagem de César Dias, ex-Fur Mil Sap da CCS do BCAÇ 2885, Mansoa, 1969/71, com data de 6 de Abril de 2004:

Carlos,
Como estás no comando da Tabanca, e porque este bu...rako te é familiar, se vires de interesse, podes publicar.

César Dias


Destacamento do Bironque

Foi neste buraco que vários bandos se esconderam, CART 2732, CCAÇ 2753, Pel Sap do BCAÇ 2885 e outros que nos revezaram, daqui partiam e voltavam dia e noite, para levar a bom termo a estrada Mansabá - (K3)Farim, apesar das minas, das flagelações etc. Mas não me espantaria nada se aparecesse um Sr. General a dizer que como parque de campismo até não estava mal.

Foi mais um desabafo
Um abraço para todos

César Dias
BCAÇ2885

Fotos promocionais do Parque de Campismo de Bironque






Boa estrada de acesso, feito à custa de muito sangue, suor e lágrimas, porque as minas não pouparam civis e militares e as emboscadas eram o pão nosso de cada dia.

Fotos: © César Dias e Carlos Vinhal (2009). Direitos reservados
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 7 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4153: Os Bu... rakos em que vivemos (3): Acampamentos de apoio à construção da estrada T.Pinto/Cacheu (Jorge Picado/José Câmara)

domingo, 18 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2276: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) - Anexo I: Destacamento da Ponte Balana

Guiné <> CCAÇ 2317 (1968/69) > O pequeno destacamento de Ponte Balana, foi um bastião na defesa de uma ponte que a engenharia militar recuperaria, mas que também acabaria por ruir

Foto 422 > Aproveitando os restos da antiga ponte, davam-se belos mergulhos para banhos retemperadores



Foto 419 > Ponte Balana: Uma visão do destacamento

Foto 420 > Um aspecto interior de Ponte Balana

Foto 421 > Uma vista da entrada contrária à ponte

Guiné > Região de Tombali > Gandembel / Balana >CCAÇ 2317 (1968/69) >

Foto 423 > A retirada de Gandembel, deixa para a posterioridade, este facto pungente, ainda que nenhum documento oficial o revele: 372 ataques e flagelações ao aquartelamento...

Nota de L.G.: Na parede, o seguinte grafito: 17-1-68. [CCAÇ] 2317, A Velhice de Gandembel. 372 ataques. É Pouco ? É!...

Fotos e legendas: © Idálio Reis (2007). Direitos reservados (1).
_________

Nota dos editores:

(1) Idálio Reis, engenheiro agrónomo, reformado, foi Alf Mil da CCAÇ 2317, BCAÇ 2835, Gandembel e Ponte Balana 1968/69)
Vd. post de 10 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2172: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/69) (Idálio Reis) (11): Em Buba e depois no Gabu, fomos gente feliz... sem lágrimas (Fim)

sábado, 14 de julho de 2007

Guiné 63/74 - P1951: Álbum das Glórias (17): A tabanca de Cutia (César Dias)

Guiné > Região do Óio > Mansoa > Cutia > Tabanca > c. 1970 > Foto enviada pelo César Vieira Dias, ex Furriel Miliciano Sapador, CCS / BCAÇ 2885, um batalhão que esteve em Mansoa e Mansabá desde Maio de 1969 a Março de 1971 (1) .
Não sei se Cutia era um reordenamento: a avaliar pela foto, parece-me bem que sim, os cibes cortados, em primeiro plano; o desenho europeu, colonial, rectangular, das casas; os arruamentos feitos a régua e esquadro; a falta de árvores seculares entre as moranças... De qualquer modo, há semore algo de mágico quando paramos para olhar o quotidiano da vida das pacíficas gentes da Guiné, sejam eles balantas, fulas ou mandingas (não conheci outras etnias)... Apesar da guerra, a vida continua(va)...
Por outro lado, o que é fantástico nesta tertúlia é a prontidão de resposta dos seus membros, a sua sensibilidade e a sua solidariedade... Não há ftos de Cutia, um buraco que ninguém sabe onde fica ? Um camarada responde de pronto: - Eh, eu estive lá, passei por lá, tenho uma chapa, memórias, recordações...
O meu muito obrigado ao César pelas suas fotos de Cutia, em meu nome, em nome do Aires Ferreira e do Mário de Oliveira. Em nome também dos anónimos habitántes de Cutia. Este também o seu Álbum das Glórias.
Foto: © César Vieira Dias / Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.



1. Mensagem do César Dias:
Camarada Aires Ferreira (1):

É verdade, o Luís Graça tem razão, essa foto do fortim de Cutia era minha, caso não tenhas nenhuma aí vai mais uma, esta da tabanca.

Um abraço

César Dias

2. Segunda mensagem do César Dias, a esclarecer melhor a foto, o seu conteúdo e contexto:


Olá Luis

Apreciei bastante a homenagem que fizeste às gentes daquele lugar, Cutia. Gostaria no entanto de dizer que as duas fotos que enviei, mostram a totalidade da aldeia em 1970, 4 ou 5 tabancas de cada lado na estrada Mansoa / Mansabá, e ao fundo o fortim que alojava a guarnição.

Este destacamento era bastante frequentado pelas gentes das armas pesadas, obuses 14, oriundos de Mansoa e Bissau. Foram deslocados até lá para flagelarem a mata do Morés, integrados em operações nesta zona.

O nosso co-editor Carlos Vinhal passou muitas vezes por este lugar, recordá-lo-á concerteza.

Foi só mais uma achega.

Um abraço
César Dias

Mansoa 69/71 (2)

_____________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 30 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1472: Sobrevivente do BCAÇ 2885 (Mansoa e Mansabá) (César Dias)

(2) Vd. post de 12 de Julho de 2007: Guiné 63/74 - P1946: Estórias de Mansoa (2): um capelão em apuros na estrada de Cutia (Aires Ferreira)

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Guiné 63/74 - P1912: Um buraco chamado Mato Cão (Nuno Almeida, ex-mecânico de heli / Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 52)

Guiné > Região Leste > Sector L1 > Bambadinca > Mato Cão > Pel Caç Nat 52 > 1973 > O novo destacamento do Mato Cão, no tempo em que o Pel Caç Nat 52 era comandado pelo Alf Mil Joaquim Mexia Alves (1972/73). No tempo do Beja Santos (1968/70), a segurança às embarcações que passagem pelo Geba Estreito, em Mato Cão, era assegurado por diversas forças, que estavam sob o comando do batalhão sedeado em Bambadinca, desde a CCAÇ 12 até aos Pel Caç Nat (52, 53, 54, 63). O Joaquim Mexia Alves sucedeu ao Wahnon Reis e ao Beja Santos no comando do Pel Caç Nat 52. Visto do ar, o destacamento era um buraco, como tantos outros, onde flutuava a bandeira verde-rubra (se é que tinha pau da bandeira!)

Foto: © Joaquim Mexia Alves (2006). Direitos reservados.


1. Mensagem de Nuno Almeida, ex-mecânico de helicópteros, a quem agradeço este depoimento e convido para aderir à nossa tertúlia (LG):

Camarada Mexia Alves:

Estava a ler o blogue do Luís Graça e vi a sua referência a Mato Cão (1), o que me fez recordar um episódio, não sei se passado, também, consigo e que passo a relatar:

Fui mecânico de helicópteros da FAP e cumpri o ano 1972 na Guiné. Um dia, creio que no Verão de 1972, fui com um heli fazer o que, creio, se chamava o Comando de Sector (levar o Coronel de Bambadinca a visitar os aquartelamentos)(2).

Fomos visitando vários locais e, quando sinto o piloto fazer manobra para proceder a uma aterragem, fico em estado de choque, pois não se vislumbrava nada no terreno que indicasse haver ali alguém ou algo minimamente capaz de albergar seres humanos. Inicialmente temi que o piloto tivesse detectado alguma falha no aparelho e fosse aterrar para que eu verificasse a condição do mesmo e poder continuar a voar. Mas quando aterramos (num espaço de mato desbravado e completamente inóspito), e a intensa poeira, levantada pelas pás do heli, começa a assentar, vejo surgirem, de buracos cavados no chão, homens em estado de higiene e aspecto físico degradantes (pelo menos aos olhos dum militar que dormia em Bissau e tinha água corrente para se lavar a seu bel prazer).

Chocou-me, e ao piloto também, a situação sub-humana em que esses homens estavam a viver.

A sua reacção, ao verem o Coronel, foi a de parecer que o queriam linchar, tal era a sua revolta pelo que estavam a ser obrigados a suportar.

Quando regressámos a Bambadinca, o piloto foi ao bar e comprou dois pacotes de tabaco Marlboro, escreveu neles algo que creio foi: "com a amizade da Força Aérea", e quando passámos à vertical de Mato Cão largámos esses pacotes, querendo demonstrar a nossa solidariedade para com quem tão maltratado estava a ser.

Mais tarde, em Novembro de 1972, fui ferido, ao proceder a uma evacuação, na mata de Choquemone, em Bula, e aí melhor me apercebi das privações e sobressaltos que, a todo o momento, uma geração de jovens, na casa dos 20 anos, foi obrigada a suportar, adquirindo mazelas físicas e, principalmente, psicológicas, que ainda hoje perduram, e que muitos teimam em não aceitar que existem e estão latentes no nosso dia-a-dia.

Abraços, do ex-1º cabo FAP Nuno Almeida (o Poeta)

2. Resposta do Joaquim Mexia Alves > Ex- Alf Mil Op Esp, esteve na Guiné, entre Dezembro de 1971 e e Dezembro de 1973, tendo pertencido à CART 3492 (Xitole), ao Pel Caç Nat 52 (Mato Cão / Rio Udunduma) e à CCAÇ 15 (Mansoa); nunca esteve sedeado em Bambadinca, mas sim no Rio Udunduma e no Mato Cão, destacamentos do Sector L1 (Bambadinca); ia de vez em quando à sede do Batalhão (BART 3873, 1972/74), a que estava adida a CCAÇ 12, nessa altura comandada pelo Cap Op Esp Xavier Bordalo.

Caro Nuno Almeida:

Obrigado pela tua mensagem. No Verão de 1972 ainda não tinha chegado ao Mato Cão, pois apenas lá assentei arraiais no começo de Novembro desse ano.

Lembro-me nessa altura de uma visita do Comandante ao Mato Cão num helicóptero e que não o recebemos propriamente de braços abertos, mas poderá ter sido outra visita, o que já me parece muito, duas visitas em tão curto espaço de tempo.

Posso estar enganado e ter sido mais tarde, mas julgo que foi antes do Natal. Para o caso não tem importância.

Realmente, aos olhos de quem estava em Bissau, a situação era terrível, mas tomávamos banho (!!!), era de lata de pessego em calda, junto ao rio Geba, que era o que se podia arranjar.

Não tinhamos luz e realmente estávamos enfiados no chão, embora fizéssemos uma vida normal.

Ainda não pertences à tertúlia deste blogue? Se não pertences, e como dou conhecimento destes mails ao Luis Graça, nosso comandante, poderás contactá-lo via correio eletrónico e passar a fazer parte do blogue dando-nos a conhecer a tua experiência, que pelo que leio deve ser muito rica.

Ah, aqui tratamo-nos por tu.

Mais uma vez, obrigado pela mensagem e um abraço forte do
Joaquim Mexia Alves
____________

Notas de L.G.:

(1) Vd. alguns posts com referências ao Mato Cão (para além da série Operação Macaréu à Vista, da autoria de Beja Santos):

25 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1875: Estórias avulsas (6): Há coisas na guerra que só se podem fazer com 'boa educação' (Joaquim Mexia Alves)

27 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1787: Embaixador Manuel Amante (Cabo Verde): Por esse Rio Geba acima...

7 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1056: Estórias avulsas (1): Mato Cão: um cozinheiro 'apanhado' (Joaquim Mexia Alves)

(2) Possivelmente tenente-coronel... Bambadinca, sede do sector L1 da Zona Leste, tinha o comando e a CCS do BART 3873 (1972/74).